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Coleção Percy Jackson e os Olimpianos

Marcador 1 E se os deuses do Olimpo estivessem vivos em pleno século XXI? E se eles ainda se apaixonassem por mortais e tivessem filhos que pudessem se tornar heróis?
Segundo a lenda da Antigüidade, a maior parte deles, marcados pelo destino, dificilmente passa da adolescência. Poucos conseguem descobrir sua identidade. Percy
Jackson está para ser expulso do colégio interno... de novo. É a sexta vez que isso acontece. Aos 12 anos, está é apenas uma das ameaças que pairam sobre esse garoto,
além dos efeitos da síndrome do déficit de atenção, da dislexia... e das criaturas fantásticas e deuses do Monte Olimpo, que, últimamente, parecem estar saindo dos
livros de mitologia grega do colégio para a realidade. E, ao que tudo indica, estão aborrecidos com ele. Vários acidentes e revelações inexplicáveis afastam Percy
Jackson de Nova York, sua cidade, e o lançam em um campo de treinamento muito especial, onde é orientado para enfrentar uma missão que envolve humanos diferentes
­ metade deuses, metade homens -, além de seres mitológicos. O raio-mestre de Zeus fora roubado, e é Percy quem deve resgatá-lo. Com a ajuda de novos amigos ­ um
sátiro e a filha de uma deusa ­ Percy tem dez dias para reaver o instrumento de Zeus, que representa a destruição original, e restabelecer a paz no Olimpo. Para
conseguir isso, precisará fazer mais do que capturar um ladrão. Terá de encarar o pai que o abandonou resolver um enigma proposto pelo oráculo e desvendar uma traição
mais ameaçadora que a fúria dos deuses. Marcador 2 Rick Riordan nasceu em 1964, em San Antonio, Texas, Estados Unidos, onde mora com a mulher e dois filhos. Durante
quinze anos ensinou inglês e história em escolas públicas e particulares do São Francisco. Além da série Percy Jackson e os olimpianos, publicou a premiada série
de mistério para adultos Tres Navarre.

Para Haley, que ouviu a história primeiro.

SUMÁRIO: UM ­ sem querer, transformo em pó minha professora de iniciação à Álgebra. DOIS ­ três velhas senhoras tricotam as meias da morte. TRÊS ­ Grover de repente
perde as calças. QUATRO ­ minha mãe me ensina a tourear. CINCO ­ eu jogo pinochle com um cavalo. SEIS ­ minha transformação em senhor supremo do banheiro. SETE ­
meu jantar se esvai em fumaça. OITO ­ nós capturamos uma bandeira. NOVE ­ oferecem-me uma missão. DEZ ­ eu destruo um ônibus. ONZE ­ nossa visita ao empório de anões
de jardim. DOZE ­ um poodle é o nosso conselheiro. TREZE ­ meu mergulho para a morte. QUATORZE ­ eu me torno um fugitivo conhecido. QUINZE ­ um deus compra cheesburgers
para nós. DEZESSEIS ­ a ida de uma zebra para Las Vegas. DEZESSETE ­ vamos comprar camas d'água. DEZOITO ­ Annabeth usa a aula de adestramento. DEZENOVE ­ de certa
forma, descobrimos a verdade. VINTE ­ a luta contra meu parente imbecil. VINTE E UM ­ meu acerto de contas. VINTE E DOIS ­ a profecia se cumpre.

UM ­ Sem querer, transformo em pó minha professora de iniciação à Álgebra.
Olhe, eu não queria ser um meio-sangue. Se você está lendo isto porque acha que pode ser um, meu conselho é o seguinte: feche este livro agora mesmo. Acredite em
qualquer mentira que sua mãe ou seu pai lhe contou sobre seu nascimento, e tente levar uma vida normal. Ser meio-sangue é perigoso. É assustador. Na maioria das
vezes, acaba com a gente de um jeito penoso e detestável. Se você é uma criança normal, que está lendo isto porque acha que é ficção, ótimo. Continue lendo. Eu o
invejo por ser capaz de acreditar que nada disso aconteceu. Mas, se você se reconhecer nestas páginas ­ se sentir alguma coisa emocionante lá dentro -, pare de ler
imediatamente. Você pode ser um de nós. E, uma vez que fica sabendo disso, é apenas uma questão de tempo antes que eles também sintam isso, e venham atrás de você.
Não diga que eu não avisei. Meu nome é Percy Jackson. Tenho doze anos de idade. Até alguns meses atrás, era aluno de um internato, na Academia Yancy, uma escola
particular para crianças problemáticas no norte do estado de Nova York. Se eu sou uma criança problemática? Sim. Pode-se dizer isso. Eu poderia partir de qualquer
ponto da minha vida curta e infeliz para prová-lo, mas as coisas começaram a ir realmente mal no último mês de maio, quando nossa turma do sexto ano fez uma excursão
a Manhattan ­ vinte e oito crianças alucinadas e dois professores em um ônibus escolar amarelo indo para o Metropolitan Museum of Art, a fim de observar velharias
gregas e romanas. Eu sei, parece tortura. A maior parte das excursões da Yancy era mesmo. Mas o sr. Brunner, nosso professor de latim, estava guiando essa excursão,
assim eu tinha esperanças. O sr. Brunner era um sujeito de meia-idade em uma cadeira de rodas motorizada. Tinha o cabelo ralo, uma barba desalinhada e usava um casaco
surrado de tweed que sempre cheirava a café. Talvez você não o achasse legal, mas ele contava histórias e piadas e nos deixava fazer brincadeiras em sala. Também
tinha uma impressionante coleção de armaduras e armas romanas, portanto era o único professor cuja aula não me fazia dormir. Eu esperava que desse tudo certo na
excursão. Pelo menos tinha esperança de não me meter em encrenca dessa vez. Cara, como eu estava errado. Entenda: coisas ruins me acontecem em excursões escolares.
Como na minha escola da quinta série, quando fomos para o campo de batalha de Saratoga, e eu tive aquele acidente com um canhão da Revolução Americana. Eu não estava
apontando para o ônibus da escola, mas é claro que fui expulso do mesmo jeito. E antes disso, na escola da quarta série, quando fizemos um passeio pelos bastidores
do tanque dos tubarões do Mundo Marinho, e eu de, alguma forma, acionei a alavanca errada no passadiço e nossa turma tomou um banho inesperado. E antes disso...
Bem, já dá para você ter uma idéia. Nessa viagem, eu estava determinado a ser bonzinho.

Ao longo de todo o caminho para a cidade agüentei Nancy Bobofit, aquela cleptomaníaca ruiva e sardenta, acertando a nuca do meu melhor amigo, Grover, com pedaços
de sanduíche de manteiga de amendoim com ketchup. Grover era um alvo fácil. Ele era magrelo. Chorava quando ficava frustrado. Devia ter repetido de ano muitas vezes,
porque era o único na sexta série que tinha espinhas e uma barba rala começando a nascer no queixo. E, ainda por cima, era aleijado. Tinha um atestado que o dispensava
da Educação Física pelo resto da vida, porque tinha algum tipo de doença muscular nas pernas. Andava de um jeito engraçado, como se cada passo doesse, mas não se
deixe enganar por isso. Você precisa vê-lo correr quando era dia de enchilada na cantina. De qualquer modo, Nancy Bobofit estava jogando bolinhas de sanduíche que
grudavam no cabelo castanho cacheado dele, e ela sabia que eu não podia revidar, porque já estava sendo observado, sob o risco de ser expulso. O diretor me ameaçara
de morte com uma suspensão na escola (ou seja, sem poder assistir às aulas, mas tendo de comparecer à escola e ficar trancado numa sala fazendo tarefas de casa)
caso alguma coisa ruim, embaraçosa ou até moderadamente divertida acontecesse durante a excursão. - Eu vou matá-la ­ murmurei. Grover tentou me acalmar. - Está tudo
bem. Gosto de manteiga de amendoim. Ele se esquivou de outro pedaço do lanche de Nancy. - Agora chega. - Comecei a levantar, mas Grover me puxou de volta para o
assento. - Você já está sendo observado - ele me lembrou. - Sabe que será culpado se acontecer alguma coisa. Quando me lembro daquilo, preferia ter acertado Nancy
Bobofit no ato. A suspensão na escola não teria sido nada em comparação com a encrenca que eu estava prestes a me meter. O sr. Brunner guiou o passeio pelo museu.
Ele foi na frente em sua cadeira de rodas, conduzindo-nos pelas grandes galerias cheias de ecos, passando por estátuas de mármore e caixas de vidro repletas de cerâmica
preta e laranja muito velha. Eu ficava alucinado só de pensar que aquelas coisas tinham sobrevividos por dois mil, três mil anos. Ele nos reuniu em volta de uma
coluna de pedra com quatro metros de altura e uma grande esfinge no topo, e começou a explicar que aquilo era um marco tumular, uma estela, feita para uma menina
mais ou menos da nossa idade. Contou-nos sobre as inscrições laterais. Estava tentando ouvir o que ele tinha a dizer, porque era um pouco interessante, mas todos
ao meu redor estavam falando, e cada vez que eu dizia para calarem a boca, a outra professora que nos acompanhava, a sra. Dodds, me olhava de cara feia. A sra. Dudds
era aquela professorinha de matemática da Geórgia que sempre usava um casaco de couro preto, apesar de ter cinqüenta anos de idade. Parecia má o bastante para entrar
com uma moto Harley bem dentro do seu armário. Tinha chegado em Yancy no meio do ano, quando nossa última professora de matemática teve um colapso nervoso. Desde
o primeiro dia, a sra. Dodds adorou Nancy Bobofit e concluiu que eu tinha sido gerado pelo diabo. Ela me apontava o dedo torto e dizia: Agora, meu bem, com a maior
doçura, e eu sabia que ia ficar detido depois da aula por um mês. Certa vez, depois que ela me fez apagar as respostas em antigos livros de exercícios de matemática
até meia-noite, disse a Grover que achava que a sra. Dodds não era gente. Ele olhou para mim, muito sério, e disse:

- Você está certíssimo. O sr. Brunner continuou falando sobre arte funerária grega. Finalmente, Nancy Bobofit, abafando o riso, falou algo sobre o sujeito pelado
na estela, e eu me virei e disse: - Quer calar a boca? Saiu mais alto do que eu pretendia. O grupo inteiro deu risada. O Sr. Brunner interrompeu seu história. -
Sr. Jackson - disse ele -, fez algum comentário? Meu rosto estava completamente vermelho. Eu disse: - Não, senhor. O sr. Brunner apontou para uma das figuras na
estela. - Talvez possa nos dizer o que esta figura representa. Olhei para a imagem entalhada e senti uma onda de alívio, porque de fato a reconhecera. - É Cronos
comendo os filhos, certo? - Sim ­ disse o sr. Brunner, e obviamente não estava satisfeito. ­ E ele fez isso porque... - Bem... - eu quebrei a cabeça para me lembrar.
- Cronos era o deus-rei e... - Rei? - perguntou o sr. Brunner. - Titã - eu me corrigi. - E... ele não confiava nos filhos, que eram os deuses. Então, hum, Cronos
os comeu, certo? Mas sua esposa escondeu o bebê Zeus e deu a Cronos uma pedra para comer no lugar dele. E depois, quando Zeus cresceu, ele enganou o pai, Cronos,
e o fez vomitar seus irmãos e irmãs. - Eca! - disse uma das meninas atrás de mim. - ...e então houve aquela grande briga entre os deuses e os titãs - continuei -,
e os deuses venceram. Algumas risadinhas do grupo. Atrás de mim, Nancy Bobofit murmurou para uma amiga: - Como se fôssemos usar isso na vida real. Como se fossem
falar nas nossas entrevistas de emprego: Por favor explique por que Cronos comeu seus filhos. - E por que, Sr. Jackson - disse o sr. Brunner -, parafraseando a excelente
pergunta da Srta. Bobofit, isso importa na vida real? - Se ferrou ­ murmurou Grover. - Cala a boca - chiou Nancy, a cara ainda mais vermelha que seu cabelo. Pelo
menos Nancy também foi enquadrada. O sr. Brunner era o único que a pegava dizendo algo errado. Tinha ouvidos de radar. Pensei na pergunta dele, e encolhi os ombros.

- Não sei, senhor. - Entendo. - O sr. Brunner pareceu desapontado. - Bem, meio ponto, Sr. Jackson. Zeus, na verdade, deu a Cronos uma mistura de mostarda e vinho,
o que o fez vomitar as outras cinco crianças, que, é claro, sendo deuses imortais, estavam vivendo e crescendo sem serem digeridas no estômago do titã. Os deuses
derrotaram o pai deles, cortando-no em pedaços com sua própria foice e espalharam os restos no Tártaro, a parte mais escura do Mundo Inferior. E com esse alegre
comentário, é hora do almoço. Sra. Dodds, quer nos levar de volta para fora? A turma foi retirada, as meninas segurando a barriga, os garotos empurrando uns aos
outros e agindo como bobões. Grover e eu estávamos prestes a segui-los quando o sr. Brunner disse: - Sr. Jackson. Eu sabia o que vinha a seguir. Disse a Grover para
ir andando. Então me voltei para o professor. - Senhor? O sr. Brunner tinha aquele olhar que não deixa a gente ir embora - olhos castanhos intensos que poderiam
ter mil anos de idade e já ter visto de tudo. - Você precisa aprender a responder à minha pergunta - disse ele. - Sobre os titãs? - Sobre a vida real. E como seus
estudos se aplicam a ela. - Ah. - O que você aprende comigo - disse ele - é de uma importância vital. Espero que trate o assunto como tal. De você, aceitarei apenas
o melhor, Percy Jackson. Eu queria ficar zangado, aquele sujeito me pressionava demais. Quer dizer, claro, era legal em dias de torneio, quando ele vestia uma armadura
romana, bradava Olé! e nos desafiava, ponta de espada contra o giz a correr para o quadro-negro e citar pelo nome cada pessoa grega ou romana que já viveu, o nome
de sua mãe e que deuses cultuavam. Mas o sr. Brunner esperava que eu fosse tão bom quanto todos os outros a despeito do fato de que tenho dislexia e transtorno do
déficit de atenção, e de que nunca na vida tirei uma nota acima de C-. Não - ele não esperava que eu fosse tão bom quanto; ele esperava que eu fosse melhor. E eu
simplesmente não podia aprender todos aqueles nomes e fatos, e muito menos escrevê-los direito. Murmurei alguma coisa sobre me esforçar mais, enquanto o sr. Brunner
lançava um olhar longo e triste para a estela, como se tivesse estado no funeral daquela menina. Ele me disse para sair e comer meu lanche. A turma se reuniu nos
degraus da frente do museu, de onde podíamos assistir ao trânsito de pedestres pela Quinta Avenida. Acima de nós, uma imensa tempestade estava se formando, com as
nuvens mais escuras que eu já tinha visto sobre a cidade. Imaginei que talvez fosse o aquecimento global ou qualquer coisa assim, porque o tempo em todo o estado
de Nova York estava esquisito desde o Natal. Tivemos nevascas pesadas, inundações, incêndios nas florestas causados por raios. Eu não teria ficado surpreso se fosse
um furacão chegando.

Ninguém mais pareceu notar. Alguns dos garotos estavam jogando biscoitos para os pombos. Nancy Bobofit tentava afanar alguma coisa da bolsa de uma senhora e, é claro,
a sra. Dodds não via nada. Grover e eu nos sentamos na beirada do chafariz, longe dos outros. Pensamos que, se fizéssemos isso, talvez ninguém descobrisse que éramos
daquela escola - a escola para esquisitões lesados que não davam certo em nenhum outro lugar. - Detenção? - perguntou Grover. - Não - disse eu. - Não do Brunner.
Eu só gostaria que ele às vezes me desse um tempo. Quer dizer, não sou um gênio. Grover não disse nada por algum tempo. Então, quando achei que ele ia me brindar
com algum comentário filosófico profundo para me fazer sentir melhor, ele disse: - Posso comer sua maçã? Eu não estava com muito apetite, então a entreguei a ele.
Observei os táxis que passavam descendo a Quinta Avenida e pensei no apartamento de minha mãe, na área residencial próxima ao lugar onde estávamos sentados. Eu não
a via desde o Natal. Tive muita vontade de pular em um táxi e ir para casa. Ela me abraçaria e ficaria contente de me ver, mas também ficaria desapontada. Imediatamente
me mandaria de volta para Yancy e me lembraria que preciso me esforçar mais, ainda que aquela fosse minha sexta escola em seis anos e que, provavelmente, eu seria
chutado para fora de novo. Não conseguiria suportar o olhar triste que ela me lançaria. O sr. Brunner estacionou a cadeira de rodas na base da rampa para deficientes.
Comia aipo enquanto lia um romance. Um guarda-chuva vermelho estava enfiado nas costas da cadeira, fazendo-a parecer uma mesa de café motorizada. Eu estava prestes
a desembrulhar meu sanduíche quando Nancy Bobofit apareceu diante de mim com as amigas feiosas - imagino que tivesse se cansado de roubar dos turistas - e deixou
seu lanche, já comido pela metade, cair no colo de Grover. - Oops. - Ela arreganhou um sorriso para mim, com os dentes tortos. As sardas eram alaranjadas, como se
alguém tivesse pintado o rosto dela com um spray de Cheetos líquido. Tentei ficar calmo. O orientador da escola me dissera um milhão de vezes: "Conte até dez, controle
seu gênio." Mas estava tão furioso que me deu um branco. Uma onda rugia nos meus ouvidos. Não me lembro de ter tocado nela, mas quando dei por mim Nancy estava sentada
com o traseiro no chafariz, berrando: - Percy me empurrou! A sra. Dodds se materializou ao nosso lado. Algumas das crianças estavam sussurrando: - Você viu... -
...a água... - ...parece que a agarrou... Eu não sabia do que elas estavam falando. Tudo o que sabia era que estava encrencado outra vez. Assim que se certificou
de que a pobre Nancy estava bem, prometendo dar-lhe uma blusa nova na loja de presentes do museu etc. e tal, a sra. Dodds se voltou para mim. Havia um fogo triunfante
em seus olhos, como se eu tivesse feito algo pelo que ela esperara o semestre inteiro: - Agora, meu bem...

- Eu sei - resmunguei. - Um mês apagando livros de exercícios. Não foi a coisa certa para dizer. - Venha comigo - disse a sra. Dodds. - Espere! - guinchou Grover.
- Fui eu. Eu a empurrei. Olhei para ele perplexo. Não podia acreditar que estivesse tentando me proteger. Ele morria de medo da sra. Dodds. Ela lançou um olhar tão
furioso que fez o queixo penugento dele tremer. - Acho que não, sr. Underwood - disse ela. - Mas... - Você... vai... ficar... aqui. Grover me olhou desesperadamente,
- Tudo bem, cara - disse a ele. - Obrigado por tentar. - Meu bem - latiu a sra. Dodds para mim. - Agora. Nancy Bobofit deu um sorriso falso. Lancei-lhe meu melhor
olhar de "vou acabar com a sua raça". Então me virei para enfrentar a sra. Dodds, mas ela não estava lá. Estava postada à entrada do museu, lá no alto dos degraus,
gesticulando impaciente para mim. Como ela chegou lá tão depressa? Tenho milhares de momentos desse tipo - meu cérebro adormece ou algo assim e, quando me dou conta,
vejo que perdi alguma coisa, como se uma peça do quebra-cabeça desaparecesse e me deixasse olhando para o espaço vazio atrás dela. O orientador da escola me disse
que isso era parte do transtorno do déficit de atenção, era meu cérebro que interpretava tudo errado. Eu não tinha tanta certeza. Fui atrás da sra. Dodds. No meio
da escadaria, olhei para Grover lá atrás. Ele parecia pálido, movendo os olhos entre mim e o sr. Brunner, como se quisesse que o sr. Brunner reparasse no que estava
acontecendo, mas o professor estava absorto em seu romance. Voltei a olhar para cima. A sra. Dodds desaparecera de novo. Estava agora dentro do edifício, no fim
do hall de entrada. Certo, pensei. Ela vai me fazer comprar uma blusa nova para Nancy na loja de presentes. Mas aparentemente não era esse o plano. Eu a segui museu
adentro. Quando finalmente a alcancei, estávamos de volta à seção greco-romana. A não ser por nós, a galeria estava vazia. A sra. Dodds estava postada de braços
cruzados na frente de um grande friso de mármore com os deuses gregos. Ela fazia um mulo estranho com a garganta, como um rosnado.

Mesmo sem o ruído, eu teria ficado nervoso. É esquisito estar sozinho com uma professora, especialmente a sra. Dodds. Algo no modo como ela olhava para o friso,
como se quisesse pulverizá-lo... - Você está nos criando problemas, meu bem - disse ela. Fiz o que era seguro. Disse: - Sim, senhora. Ela ajeitou os punhos de seu
casaco de couro. - Você achou mesmo que ia se safar desta? A expressão em seus olhos era mais que furiosa. Era perversa. Ela é uma professora, pensei, nervoso. Não
é provável que vá me machucar. Eu disse: - Eu... eu vou me esforçar mais, senhora. Um trovão sacudiu o edifício. - Nós não somos bobos, Percy Jackson - disse a sra.
Dodds. - Seria apenas uma questão de tempo até que o descobríssemos Confesse, e você sentirá menos dor. Eu não sabia do que ela estava falando. Tudo o que pude pensar
foi que os professores haviam descoberto o estoque ilegal de doces que eu estava vendendo no meu dormitório. Ou talvez tivessem descoberto que eu pegara meu trabalho
sobre Tom Sawyer na Internet sem ter nem lido o livro, e agora iam retirar minha nota. Ou pior, iam me obrigar a ler o livro. - E então? - exigiu. - Senhora, eu
não... - O seu tempo se esgotou - sibilou ela. Então algo muito estranho aconteceu. Os olhos dela começaram a brilhar como carvão de churrasco. Os dedos se esticaram,
transformando-se em garras. O casaco se fundiu em grandes asas de couro. Ela não era humana. Era uma bruxa má e enrugada, com asas e garras de morcego e com uma
boca repleta de presas amareladas - e estava prestes a me fazer em pedaços. Então as coisas ficaram ainda mais esquisitas. O sr. Brunner, que estava na frente do
museu um minuto antes, foi com a cadeira de rodas até o vão da porta da galeria, segurando uma caneta. - Olá, Percy! - gritou ele, e lançou a caneta pelo ar. A sra.
Dodds deu um bote para cima de mim. Com um gemido agudo, eu me esquivei e senti as garras cortando o ar ao lado do meu ouvido. Agarrei a caneta esferográfica no
alto, mas quando ela atingiu minha mão já não era mais uma caneta. Era uma espada - a espada de bronze do sr. Brunner, que ele sempre usava em dias de torneio. A
sra. Dodds virou-se na minha direção com uma expressão assassina nos olhos. Meus joelhos ficaram bambos. As mãos tremiam tanto que quase deixei a espada cair. Ela
rosnou: - Morra, meu bem! E voou para cima de mim.

Um terror absoluto percorreu meu corpo. Fiz a única coisa que me ocorreu naturalmente: desferi um golpe com a espada. A lâmina de metal atingiu o ombro dela e passou
direto por seu corpo, como se ela fosse feita de água: Zaz! A sra. Dodds era um castelo de areia debaixo de um ventilador. Ela explodiu em areia amarela, reduziu-se
a pó, sem deixar nada do cheiro de enxofre, um grito estridente que foi sumindo e um calafrio de maldade no ar, como se aqueles olhos vermelhos incandescentes ainda
estivessem me olhando. Eu estava sozinho. Havia uma caneta esferográfica na minha mão. O sr. Brunner não estava lá. Não havia ninguém lá além de mim. Minhas mãos
ainda estavam tremendo. Meu lanche devia estar contaminado com cogumelos mágicos ou coisa assim. Será que eu havia imaginado tudo aquilo? Voltei para o lado de fora.
Tinha começado a chover. Grover estava sentado junto ao chafariz com um mapa do museu formando uma tenda em cima de sua cabeça. Nancy Bobofit ainda estava lá, encharcada
do banho no chafariz, resmungando para as amigas feiosas. Quando me viu, disse: - Espero que a sra. Kerr tenha chicoteado seu traseiro. - Quem? - respondi. - Nossa
professora. Dãã! Eu pisquei. Não tínhamos nenhuma professora chamada sra. Kerr. Perguntei a Nancy de quem ela estava falando. Ela simplesmente revirou os olhos e
me deu as costas. Perguntei a Grover onde estava a sra. Dodds. - Quem? - respondeu ele. Mas Grover primeiro fez uma pausa, e não olhou para mim, portanto, pensei
que estivesse me gozando. - Não tem graça, cara - disse a ele. - Isso é sério. Um trovão estourou no alto. Vi o sr. Brunner sentado embaixo do guarda-chuva vermelho,
lendo seu livro, como se nunca tivesse se mexido. Fui até ele. Ele ergueu os olhos, um pouco distraído. - Ah, é a minha caneta. Por favor, traga seu próprio instrumento
de escrita no futuro, sr. Jackson. Entreguei a caneta ao sr. Brunner. Não tinha notado que ainda a estava segurando. - Senhor - disse eu -, onde está a sra. Dodds?
Ele olhou para mim com a expressão vazia. - Quem? - A outra professora que nos acompanhava. A sra. Dodds. Professora de iniciação à álgebra.

Ele franziu a testa e se inclinou para a frente, parecendo ligeiramente preocupado. - Percy, não há nenhuma sra. Dodds nesta excursão. Até onde sei, nunca houve
uma sra. Dodds na Academia Yancy. Está se sentindo bem?

DOIS ­ Três velhas senhoras tricotam as meias da morte.
Eu estava acostumado a uma ou outra experiência esquisita, mas normalmente elas passavam depressa. Aquela alucinação 24 horas por dia e sete dias por semana era
mais do que podia encarar. Durante o resto do ano escolar o campus inteiro parecia me pregando algum tipo de peça. Os alunos agiam como se estivessem completa e
totalmente convencidos de que a sra. Kerr - uma loira alegre que eu nunca tinha visto na vida até o momento em que ela entrou no nosso ônibus no fim da excursão
- era nossa professora de iniciação à álgebra desde o Natal. De vez em quando eu soltava uma referência à sra. Dodds para cima de alguém, só para ver se conseguia
fazê-los titubear, mas eles me olhavam como se eu fosse louco. Acabei quase acreditando neles: a sra. Dodds nunca tinha existido. Quase. Mas Grover não conseguiu
me enganar. Quando eu mencionava o nome Dodds ele hesitava, depois alegava que ela não existia. Mas eu sabia que ele estava mentindo. Alguma coisa estava acontecendo.
Alguma coisa havia acontecido no museu. Eu não tinha muito tempo para pensar no assunto durante o dia, mas, à noite, visões da sra. Dodds com garras e asas de couro
me faziam acordar suando frio. O tempo maluco continuou, o que não ajudava meu humor. Certa noite, uma tempestade de raios arrebentou a janela do meu dormitório.
Alguns dias depois, o maior tornado jamais visto no vale do Hudson tocou o chão a apenas trinta quilômetros da Academia Yancy. Um dos eventos correntes que aprendemos
na aula de estudos sociais era o número inusitado de pequenos aviões que caíram em súbitos vendavais no Atlântico naquele ano. Comecei a me sentir mal-humorado e
irritado a maior parte do tempo. Minhas notas caíram de D para F. Entrei em mais atritos com Nancy Bobofit e suas amigas. Era posto para fora da sala e tinha de
ficar no corredor em quase todas as aulas. Finalmente, quando nosso professor de inglês, o sr. Nicoll, me perguntou pela milionésima vez por que eu tinha tanta preguiça
de estudar para as provas de ortografia, eu explodi. Chamei-o de velho dipsomaníaco. Não sabia direito o que aquilo queria dizer, mas soou bem. O diretor mandou
uma carta para minha mãe na semana seguinte, tornando oficial: eu não seria convidado a voltar para a Academia Yancy no ano seguinte. Ótimo, disse a mim mesmo. Simplesmente
ótimo. Eu estava com saudades de casa. Queria ficar com minha mãe no nosso pequeno apartamento no Upper East Side, mesmo que tivesse de freqüentar uma escola pública
e aturar meu padrasto detestável e seus jogos de pôquer estúpidos. E no entanto... havia coisas em Yancy de que eu sentiria falta. A vista da minha janela para os
bosques, o rio Hudson a distância, o cheiro dos pinheiros. Sentiria falta de Grover, que tinha sido bom amigo, mesmo com seu jeito meio estranho. Fiquei pensando
como ele iria sobreviver ao próximo ano sem mim. Também sentiria falta da aula de latim - os dias malucos de torneio do sr. Brunner e sua confiança em que eu poderia
me sair bem. Quando a semana de exames foi se aproximando, latim era a única prova para a qual eu estudava. Não tinha me esquecido que o sr. Brunner falara, sobre
essa matéria ser questão de vida ou morte para mim. Não sabia muito bem por quê, mas acreditar nele.

Na noite anterior ao meu exame final, fiquei tão frustrado que joguei o Guia Cambridge de mitologia grega do outro lado do dormitório. As palavras tinham começado
a flutuar para fora da página, dando voltas na minha cabeça, as letras fazendo manobras radicais como se estivessem andando de skate. Não havia jeito de eu me lembrar
da diferença entre Quíron e Caronte, ou Polidectes e Polideuces. E conjugar aqueles verbos latinos? Nem pensar. Fiquei indo de um lado para outro no quarto, com
a sensação de que havia formigas andando por dentro da minha camisa. Lembrei a expressão séria do sr. Brunner, de seus olhos de mil anos. De você, aceitarei apenas
o melhor, Percy Jackson. Respirei fundo. Peguei o livro de mitologia. Eu nunca havia pedido ajuda a um professor antes. Se falasse com o sr. Brunner, quem sabe ele
me daria algumas dicas. Poderia, pelo menos, pedir desculpas pelo grande F que ia tirar na prova. Não queria sair da Academia Yancy deixando-o pensar que eu não
tinha me esforçado. Desci a escada para os gabinetes dos professores. A maioria estava vazia e escura, mas a porta do sr. Brunner estava entreaberta e a luz que
vinha da sua janela se estendia ao longo do piso do corredor. Eu estava a três passos da maçaneta da porta quando ouvi vozes dentro da sala.. O sr. Brunner tinha
feito uma pergunta. Uma voz que, sem sombra de dúvida, era a de Grover disse: "...preocupado, senhor." Eu gelei. Normalmente não sou bisbilhoteiro, mas desafio alguém
a não tentar ouvir quando seu melhor amigo está falando sobre você com um adulto. Cheguei um pouquinho mais perto. - ...sozinho nesse verão - Grover estava dizendo.
- Quer dizer, uma benevolente na escola! Agora que sabemos com certeza, e eles também sabem... - Só vamos piorar as coisas se o apressarmos - disse o sr. Brunner.
- Precisamos que o menino amadureça mais. - Mas ele pode não ter tempo. O prazo final do solstício de verão... - Terá de ser resolvido sem ele, Grover. Deixe-o desfrutar
sua ignorância enquanto ainda pode. - Senhor, ele a viu... - Imaginação dele - insistiu o sr. Brunner. - A Névoa sobre os alunos e a equipe será suficiente para
convencê-lo disso. - Senhor, eu... eu não posso fracassar nas minhas tarefas de novo. - A voz de Grover estava embargada de emoção. ­ Sabe o que isso significaria.
- Você não fracassou, Grover - disse o sr. Brunner gentilmente. - Eu deveria tê-la visto como ela era. Agora vamos apenas nos preocupar em manter Percy vivo até
o próximo outono... O livro de mitologia caiu da minha mão e bateu no chão com um ruído surdo. O sr. Brunner silenciou. Com o coração disparado, peguei o livro e
voltei pelo corredor.

Uma sombra deslizou pelo vidro iluminado da porta da porta de Brunner, a sombra de algo muito mais alto do que meu professor de cadeira de rodas, segurando alguma
coisa suspeitamente parecida com o arco de um arqueiro. Abri a porta mais próxima e me esgueirei para dentro. Alguns segundos depois ouvi um lento clop-clop-clop,
como, blocos de madeira abafados, depois um som como o de um animal farejando bem na frente da minha porta. Um grande vulto escuro parou diante do vidro e depois
seguiu adiante. Uma gota de suor escorreu por meu pescoço. Em algum lugar no corredor, o sr. Brunner falou. - Nada - murmurou ele. - Meus nervos não andam to bons
desde o solstício de inverno. - Nem os meus - disse Grover. - Mas eu podia ter jurado... -Volte para o dormitório - disse-lhe o sr. Brunner. - tem um longo dia de
provas amanhã. - Nem me lembre. As luzes se apagaram na sala do sr. Brunner. Aguardei no escuro pelo que pareceu uma eternidade. Por fim, me esgueirei para o corredor
e subi de volta para o dormitório. Grover estava deitado na cama, estudando as anotações para a prova de latim como se tivesse estado lá a noite inteira. - Ei! -
disse ele, com olhar de sono. - Vai estar preparado para a prova? Não respondi. - Está com uma cara horrível. - Ele franziu a testa. -Tudo bem? - Só estou cansado.
Virei-me para que ele não pudesse perceber minha expressão e comecei a me preparar para dormir. Não entendi o que tinha ouvido lá embaixo. Queria acreditar que havia
imaginado aquilo tudo. Mas uma coisa estava clara: Grover e o sr. Brunner estavam falando de mim pelas costas. Achavam que eu corria algum tipo de perigo. Na tarde
seguinte, quando estava saindo da prova de latim de três horas, atordoado com todos os nomes gregos e romanos que tinha escrito errado, o sr. Brunner me chamou de
volta. Por um momento, fiquei preocupado achando que ele descobrira minha bisbilhotice na noite anterior, mas não parecia ser esse o problema. - Percy - disse ele.
- Não fique desanimado por deixar Yancy. É... é para o seu bem. Seu tom era gentil, mas ainda assim as palavras me deixaram sem graça. Embora ele estivesse falando
baixo, os que terminavam a prova podiam ouvir. Nancy Bobofit me lançou um sorriso falso e, fez pequenos movimentos de beijo com os lábios. Eu murmurei:

- Está bem, senhor. - Quer dizer... - O sr. Brunner andou com a cadeira para trás e para frente, como se não tivesse certeza do que falar. - Este não é o lugar certo
para você. Era apenas uma questão de tempo. Meus olhos ardiam. Ali estava meu professor favorito, na frente da classe, me dizendo que eu não era capaz. Depois de
falar o ano todo que acreditava em mim, agora me dizia que eu estava destinado a ser expulso. - Certo - disse eu, tremendo. - Não, não - disse o sr. Brunner. - Ah,
que droga. O que eu estava tentando dizer... é que você não é normal, Percy. Não é nada ser... - Obrigado - soltei. - Muito obrigado, senhor, por me lembrar. - Percy...
Mas eu já tinha ido. No último dia de aulas, enfiei minhas roupas na mala. Os outros garotos estavam fazendo piadas, falando sobre os planos para as férias. Um deles
ia fazer trilha na Suíça. Outro faria um cruzeiro de um mês pelo Caribe. Eram delinqüentes juvenis como eu, mas delinqüentes juvenis ricos. Os papais eram executivos,
embaixadores ou celebridades. Eu era um joãoninguém, de uma família de joões-ninguém. Eles me perguntaram o que ia fazer no verão, e eu disse que voltaria para a
cidade. O que não lhes contei foi que ia arranjar um trabalho de verão passeando com cachorros ou vendendo assinaturas de revistas, e passar o tempo livre pensando
em onde iria estudar no outono. - Ah - disse um dos garotos. - Legal. Eles voltaram à conversa como se eu não existisse. A única pessoa de quem tinha medo de me
despedir era Grover, mas do jeito como as coisas aconteceram, eu nem precisei. Ele havia comprado uma passagem para Manhattan no mesmo onibus Greyhound que eu, então
lá estávamos nós, juntos outra vez, indo para a cidade. Durante toda a viagem de ônibus, Grover olhava nervoso para o corredor, observando os outros passageiros.
Ocorreu-me que ele sempre agia de modo nervoso e inquieto quando saíamos de Yancy, como se esperasse que algo ruim fosse acontecer. Antes, eu achava que ele tinha
medo de que o provocassem. Mas não havia ninguém para fazer isso no Greyhound. Finalmente, não pude mais agüentar. - Procurando Benevolentes? Grover quase pulou
do assento. - O que... o que você quer dizer? Confessei ter ouvido a conversa dele com o sr. Brunner na noite anterior ao dia da prova. O olho de Grover estremeceu.
- Quanto você ouviu?

- Ah... não muito. O que é o prazo final do solstício de verão? Ele se esquivou. - Olhe Percy... Eu só estava preocupado com você, entende? Quer dizer, tendo alucinações
com professoras de matemática demoníacas... - Grover... - E eu estava dizendo ao sr. Brunner que talvez você estivesse muito estressado, ou coisa assim, porque não
havia uma pessoa chamada sra. Dodds e... - Grover, você mente muito mal mesmo. As orelhas dele ficaram cor-de-rosa. Do bolso da camisa, ele pescou um cartão de visitas
encardido. - Pegue isto, certo? Para o caso de você precisar de mim este verão. O cartão tinha uma escrita floreada, que era um terror para os meus olhos disléxicos,
mas por fim consegui identificar coisa como: Grover Underwood Guardião Colina meio Sangue Long Island, Nova York (800) 009 -0009 - O que é Colina Meio... - Não fale
alto! -- ganiu. -- É meu, ah... endereço de verão. Meu coração desabou. Grover tinha uma casa de veraneio. Eu nunca imaginara que a família dele poderia ser tão
rica quanto as dos outros em Yancy. - Certo - falei, mal-humorado. - Tá, se eu quiser uma visita à sua mansão. Ele assentiu. - Ou... ou se você precisar de mim.
- Por que iria precisar de você? Saiu mais rude do que eu pretendia. Grover ficou com a cara toda vermelha. - Olhe, Percy, a verdade é que eu... eu tenho, de certo
modo, que proteger você. Olhei fixamente para ele. Durante o ano inteiro me meti em brigas para manter os valentões longe dele. Perdi o sono temendo que, sem mim,
ele fosse apanhar no ano que vem. E ali estava Grover agindo como se fosse ele a me defender. - Grover ­ disse eu -, do que exatamente você está me protegendo?

Houve um tremendo barulho de algo sendo triturado embaixo dos nossos pés. Uma fumaça preta saiu do painel e o ônibus inteiro foi tomado por um cheiro de ovo podre.
O motorista praguejou e levou o Greyhound com dificuldade até o acostamento. Depois de alguns minutos fazendo alguns sons metálicos no compartimento do motor, o
motorista anunciou que teríamos de descer. Grover e eu saímos em fila com todos os outros. Estávamos em um trecho de estrada rural - um lugar que a gente nem notaria
se não tivesse enguiçado lá. Do nosso lado da estrada não havia nada além de bordos e lixo jogado pelos carros que passavam. Do outro lado, depois de atravessar
quatro pistas de asfalto que refletiam uma claridade trêmula com o calor da tarde, havia uma banca de frutas como as de antigamente. As coisas à venda pareciam realmente
boas: caixas transbordando de cerejas e maçãs vermelhas como sangue, nozes e damascos, jarros de sidra dentro de uma tina com pés em forma de patas, cheias de gelo.
Não havia fregueses, só três velhas senhoras sentadas em cadeiras de balanço à sombra de um bordo, tricotando o maior par de meias que eu já tinha visto. Quer dizer,
aquelas meias eram do tamanho de suéteres, mas eram obviamente meias. A senhora da direita tricotava uma delas. A da esquerda a outra. A do meio segurava uma enorme
cesta de lã azul brilhante. As três mulheres pareciam muito velhas, com o rosto pálido e enrugado como fruta seca, cabelo prateado preso atrás com lenço branco,
braços ossudos espetados para fora de vestidos de algodão pálido. A coisa mais esquisita era que elas pareciam olhar diretamente para mim. Encarei Grover para comentar
isso e vi que seu rosto tinha ficado branco. O nariz tremia. - Grover? - disse eu. - Ei, cara... - Diga que elas não estão olhando para você. Estão, não é? - Estão.
Esquisito, não? Você acha que aquelas meias serviriam em mim? - Não tem graça, Percy. Não tem graça nenhuma. A velha do meio pegou uma tesoura imensa - dourada e
prateada, de lâminas longas, como uma tosquiadeira. Ouvi Grover tomar fôlego. - Vamos entrar no ônibus - ele me disse. - Venha. - O quê? - disse eu. - Lá dentro
está fazendo quinhentos graus. - Venha! - Ele forçou a porta e subiu, mas eu fiquei embaixo. Do outro lado da estrada, as velhas ainda olhavam para mim. A do meio
cortou o fio de lã, e posso jurar que ouvi aquele ruído cruzar as quatro pistas de trânsito. As duas amigas dela enrolaram as meias azuis e me fizeram imaginar para
quem seria aquilo - o Pé Grande ou o Godzilla. Na traseira do ônibus, o motorista arrancou um grande pedaço de metal fumegante do compartimento do motor. O ônibus
estremeceu e o motor voltou à vida, roncando. Os passageiros aplaudiram. - Tudo em ordem! - gritou o motorista. Ele bateu no ônibus com o chapéu. - Todo mundo para
dentro! Quando já estávamos a caminho, comecei a me sentir como se tivesse pego uma gripe. Grover não parecia muito melhor. Estava tremendo e batendo os dentes.

- Grover? - Sim? - O que me diz? Ele enxugou a manga da camisa. - Percy, o que você viu lá atrás, na banca de frutas? - Você quer dizer, aquelas velhas? O que há
com elas, cara? Elas não são com... a sra. Dodds, são? A expressão dele era difícil de interpretar, mas tive a sensação de que as velhas da banca de frutas eram
algo muito, muito pior do que a sra. Dodds. Grover disse: -Só me diga o que você viu. - A do meio pegou uma tesoura e cortou o fio. Ele fechou os olhos e fez um
gesto com os dedos parecido com o sinal-da-cruz, mas não era isso. Era outra coisa, algo um tanto... mais antigo. Ele disse: - Você a viu cortar o fio? -Sim. E daí?
- Mas mesmo enquanto dizia isso, já sabia que era algo importante. - Isso não está acontecendo - murmurou Grover. Ele começou a morder o dedão. - Não quero que seja
como na última vez. - Que última vez? - Sempre na sexta série. Eles nunca passam da sexta. - Grover - disse eu, porque ele estava realmente começando a me assustar
-, do que você está falando? - Deixe que eu vá com você da estação do ônibus até sua casa. Prometa. Aquele me pareceu um pedido estranho, mas prometi. - É uma superstição
ou coisa assim? ­ perguntei. Nenhuma resposta. - Grover... aquele corte no fio. Significa que alguém vai morrer? Ele olhou para mim com tristeza, como se já estivesse
escolhendo o tipo de flores que eu gostaria de ter em meu caixão.

TRÊS ­ Grover de repente perde as calças.

Hora da confissão: descartei Grover assim que chegamos ao terminal rodoviário. Eu sei, eu sei. Foi rude. Mas Grover estava me deixando fora de mim, me olhando como
se eu fosse um homem morto, murmurando: por que sempre tem de ser na sexta série? Sempre que Grover ficava nervoso, sua bexiga entrava em ação, portanto não fiquei
surpreso quando, assim que descemos do ônibus, ele me fez prometer que o esperaria e foi direto para o banheiro. Em vez de esperar, peguei minha mala, saí discretamente
e tomei o primeiro taxi saindo do Centro. - Cento e quatro Leste com a Primeira Avenida ­ disse ao motorista. ***** Uma palavra sobre a minha mãe, antes que você
a conheça. Seu nome é Sally Jackson e ela é a melhor pessoa do mundo, o que apenas prova minha teoria de que as melhores pessoas são as mais azaradas. Os pais dela
morreram em um desastre de avião quando estava com cinco anos, e ela foi criada por um tio que não lhe dava muita bola. Queria ser escritora, assim passou o curso
de ensino médio trabalhando e economizando dinheiro para pagar uma faculdade com um bom programa de oficinas literárias. Então o tio teve câncer e ela precisou abandonar
a escola no último ano para cuidar dele. Depois que ele morreu, ela ficou sem dinheiro nenhum, sem família e sem diploma. A única coisa boa que lhe aconteceu foi
conhecer meu pai. Não tenho nenhuma lembrança dele, apenas essa espécie de sensação calorosa, talvez o mais leve resquício de seu sorriso. Minha mãe não gosta de
falar sobre ele porque isso a deixa triste. Ela não tem fotografias. Veja bem, eles não eram casados. Ela me contou que ele era rico e influente, e o relacionamento
deles era um segredo. Então um dia ele zarpou pelo Atlântico em alguma jornada e nunca mais voltou. Perdido no mar, minha mãe me contou. Não morto. Perdido no mar.
Ela vivia de trabalhos esporádicos, estudava à noite para tirar o diploma de ensino médio e me criou sozinha. Nunca se queixava ou ficava zangada. Nem uma só vez.
Mas eu sabia que não era uma criança fácil. Acabou se casando com Gabe Ugliano, que foi simpático nos primeiros trinta segundos em que o conhecemos e depois mostrou
quem realmente era, um imbecil de marca maior. Quando eu era pequeno apelidei-o de Gabe Cheiroso. Sinto muito, mas é a verdade. O cara fedia a pizza de alho embolorada
enrolada num calção de ginástica. Em nosso fogo cruzado, tornávamos a vida da minha mãe bem difícil. O modo como Gabe Cheiroso a tratava, o jeito como ele e eu nos
relacionávamos... bem, um bom exemplo é minha chegada em casa. Entrei em nosso pequeno apartamento, esperando que minha mãe já tivesse voltado do trabalho. Em vez
disso, Gabe Cheiroso estava na sala de estar, jogando pôquer com seus cupinchas. Na televisão, o canal de esportes estava no voluma máximo. Havia batatinhas e latas
de cerveja espalhadas pelo tapete. Mal erguendo os olhos, ele disse com o cigarro na boca: - Então você está em casa. - Onde está a minha mãe? - Trabalhando ­ disse
ele. ­ Você tem alguma grana?

E foi isso. Nada de Bem-vindo ao lar. Bom ver você. O que fez nos últimos seis meses? Gabe tinha engordado. Parecia uma morsa sem tromba com roupas de brechó. Tinha
uns três fios de cabelo na cabeça, todos penteados por cima da careca, como se isso o deixasse bonito ou coisa assim. Era gerente do Hipermercado de Eletrônica,
no Queens, mas passava a maior parte do tempo em casa. Não sei por que ainda não tinha sido demitido. Ele só fica recebendo o pagamento, gastando o dinheiro em charutos
que me dão náuseas e em cervejas, é claro. Sempre cerveja. Toda vez que eu estava em casa ele esperava que eu lhe fornecesse fundos para jogar. Chamava isso de nosso
Segredo de Homem. Isto é, se eu contasse para minha mãe, ele me quebrava a cara. - Não tenho grana nenhuma ­ falei. Ele ergue uma sobrancelha oleosa. Gabe era capaz
de farejar dinheiro como um cão de caça, o que era surpreendente, já que seu prórpio cheiro deveria encobrir qualquer outro. - Você pegou um taxi no terminal de
ônibus ­ disse ele. ­ Provavelmente pagou com uma nota de vinte. Recebeu seis ou sete dólares de troco. Alguém que espera viver embaixo deste teto deveria ser capaz
de se sustentar. Estou certo, Eddie? Eddie, o síndico do prédio, olhou para mim com uma ponta de solidariedade. - Vamos, Gabe ­ disse ele. ­ O garoto acabou de chegar.
- Estou certo? ­ repetiu Gabe. Eddie fez uma careta para sua tigela de pretzels. Os outros dois caras soltaram juntos seus gases. - Tudo bem ­ disse eu. ­ Tirei
um maço de dólares do bolso e joguei o dinheiro em cima da mesa. ­ Tomara que você perca. - Seu boletim chegou, Geninho! ­ gritou ele às minhas costas. ­ Eu não
ficaria tão metido! Bati a porta do meu quarto, que na verdade não era meu. Durante os meses de aulas era a sala de estudos de Gabe. Ele não estudava coisa nenhuma
lá, exceto revistas de automóveis, mas adorava socar as minhas coisas no armário, largar as botas enlameadas no peitoril da janela e fazer o possível para deixar
o lugar com cheiro de sua colônia detestável, charutos e cerveja choca. Larguei a mala em cima da cama. Lar doce lar. O cheiro de Gabe era quase pior que os pesadelos
com a sra. Dodds ou o som da tesoura daquela velha enrugada cortando o fio de lã. Mas assim que pensei naquilo, minhas pernas bambearam. Lembrei-me da expressão
de pânico de Grover ­ como ele me fez prometer que não iria para casa sem ele. Um calafrio repentino me percorreu. Era como se alguém ­ alguma coisa ­ estivesse
procurando por mim naquele momento, talvez subindo pesadamente a escada, com garras compridas e horrendas crescendo. Então ouvi a voz da minha mãe. - Percy? Ela
abriu a porta do quarto e meus medos se foram. A simples entrada de minha mãe no quarto já consegue me fazer sentir bem. Seus olhos brilham e mudam de cor com luz.
O sorriso é quente como uma manta. Ela tem alguns poucos fios grisalhos misturados com os longos cabelos castanhos, mas nunca penso nela como uma pessoa velha. Quando
me olha, é como

se estivesse vendo todas as coisas boas em mim, nenhuma das ruins. Nunca a ouvi levantar a voz ou dizer uma palavra indelicada para ninguém, nem mesmo para mim ou
Gabe. - Ah, Percy. - Ela me abraçou apertado. - Eu não acredito. Você cresceu desde o Natal! O uniforme vermelho, branco e azul, da Doce América, tinha cheiro das
melhores coisas do mundo: chocolate, alcaçuz e tudo o mais que ela vendia na doceria da Grande Estação Central. Tinha levado para mim um belo saco de amostras grátis,
como sempre fazia quando eu ia para casa. Sentamos juntos na beirada da cama. Enquanto eu atacava os doces de mirtilo, ela passava a mão no meu cabelo e queria saber
tudo o que eu não havia escrito nas cartas. Nada mencionou sobre o fato de eu ter sido expulso. Não parecia se importar com isso. Mas eu estava ok? Seu menininho
estava bem? Eu disse a ela que estava me sufocando, pedi que desse um tempo e tal, mas, secretamente, estava feliz demais em vê-la. Do outro cômodo, Gabe berrou:
- Ei, Sally! Que tal um pouco de pasta de feijão, hein? Eu rangi os dentes. Minha mãe é a mulher mais gentil do mundo. Deveria ter se casado com um milionário, não
com um imbecil como Gabe. Por ela, tentei parecer otimista em relação aos meus últimos dias na Academia Yancy. Disse-lhe que não estava muito chateado com a expulsão.
Dessa vez, conseguira durar quase o ano inteiro. Eu havia feito novos amigos. Tinha me saído muito bem em latim. E, honestamente, as brigas não tinham sido tão ruins
com disera o diretor. Eu tinha gostado da Academia Yancy. De verdade. Enfeitei tanto os acontecimentos do ano que quase convenci a mim mesmo. Comecei a ficar com
a voz embargada só de pensar em Grover e no sr. Brunner. Até Nancy Bobofit de repente não pareceu assim tão má. Até aquela excursão ao museu... - O quê? - perguntou
minha mãe. Seus olhos puxaram pela minha consciência, tentando arrancar os segredos. - Alguma coisa assustou você? - Não, mamãe. Eu me senti mal por mentir, queria
contar a ela sobre a sra. Dodds e as três velhas com o fio de lã, mas achei que aqui ia parecer bobagem. Ela apertou os lábios. Sabia que eu estava escondendo alguma
coisa, mas não quis me pressionar. - Tenho uma surpresa para você - disse ela. - Nós vamos à praia. Meus olhos se arregalaram. - Montauk? - Três noites... no mesmo
chalé. - Quando? Ela sorriu. - Assim que eu me trocar. Mal pude acreditar. Minha mãe e eu não tínhamos ido a Montauk nos últimos dois verões porque Gabe dissera
que não h a v i a dinheiro suficiente.

Gabe apareceu no vão da porta e rosnou. - Pasta de feijão, Sally. Você não ouviu? Tive vontade de dar-lhe um soco, mas meus olhos encontraram os de minha mãe e entendi
que ela estava me oferecendo um acordo: ser gentil com Gabe só um pouquinho. Só até ela estar pronta para ir para Montauk. Então sairíamos dali. - Eu já estava a
caminho, meu bem ­ disse ela a Gabe. ­ Estávamos só conversando sobre a viagem. Os olhos de Gabe se apertaram. - A viagem? Você quer dizer que estava falando disso
a sério? - Eu sabia - murmurei. - Ele não vai nos deixar ir. - É claro que vai - disse minha mãe calmamente. - Seu padrasto só está preocupado com o dinheiro. É
tudo. Além disso - acrescentou -, Gabriel não terá de se contentar com pasta de feijão. Vou fazer para ele uma pasta de sete camadas suficiente para todo o fim de
semana. Guacamole. Creme azedo. Serviço completo. Gabe amanciou um pouco. - Então esse dinheiro para viagem... vai sair do seu orçamento para roupas, certo? - Sim,
meu bem - disse minha mão. - E você não vai com meu carro para nenhum lugar, só vai usar na ida e na volta. - Seremos muito cuidadosos. Gabe coçou seu queixo duplo.
- Talvez se você andar logo com essa pasta de sete camadas... E talvez se o garoto pedir desculpas por interromper meu jogo de pôquer... Talvez se eu chutar você
no seu ponto sensível, pensei. E fizer você cantar com voz de soprano por uma semana. Mas os olhos da minha mãe me advertiram para não deixá-lo zangado. Por que
ela aturava aquele cara? Eu quis gritar. Por que ela se importava com o que ele pensava? - Desculpe - murmurei. - Sinto muito ter interrompido seu importantíssimo
jogo de pôquer. Por favor, volte a ele agora mesmo. Os olhos de Gabe se estreitaram. O cérebro minúsculo provavelmente estava tentando detectar o sarcasmo na minha
frase. - Está bem, seja lá o que for - convenceu-se. E voltou para o jogo. - Obrigada, Percy - disse minha mãe. - Depois que chegarmos a Montauk, vamos conversar
sobre.. o que quer que você tenha se esquecido de me contar, certo? Por um momento, pensei ter visto ansiedade nos olhos dela - o mesmo medo que vira em Grover na
viagem de ônibus -, como se minha mãe também tivesse sentindo um estranho calafrio no ar. Mas então o sorriso dela voltou e concluí que devia estar enganado. Ela
despenteou meu cabelo e foi

fazer a pasta de sete camadas para Gabe. ***** Uma hora depois estávamos prontos para partir. Gabe interrompeu o jogo de pôquer por tempo suficiente para me observar
arrastando as malas da minha mãe para o carro. Ficou se queixando e se lamentando por ficar sem a comida dela - e mais importante, sem seu Camaro 78 - durante todo
o fim de semana. - Nem um arranhão nesse carro, Geninho - advertiu-me quando eu estava carregando a última mala. nem um arranhãozinho. Como se eu fosse dirigir aos
doze anos. Mas isso não importa para Gabe. Se alguma gaivota fizesse cocô na pintura, ele arranjaria um jeito de me culpar. Observando-o voltar em seu passo desajeitado
para o prédio, fiquei tão zangado que fiz uma coisa que não consigo explicar. Quando Gabe chegou à porta de entrada, fiz um gesto com a mão que tinha visto Grover
fazer no ônibus, uma espécie de gesto para afastar o mal, a mão em garra sobre o coração e depois um movimento de empurrar na direção de Gabe. A porta de tela bateu
tão forte que o acertou no traseiro e o mandou voando até a escada, como se tivesse sido disparado por um canhão. Talvez tenha sido apenas o vento, ou algum acidente
maluco com as dobradiças, mas não fiquei lá tempo suficiente para descobrir. Entrei no Camaro e disse para minha mãe pisar fundo. ***** Nosso chalé alugado ficava
na margem sul, lá na ponta de Long Island. Era uma pequena cabana de cor clara com cortinas desbotadas, quase enterrada nas dunas. Havia sempre areia nos lençóis
e aranhas nos armários, e na maior parte do tempo o mar estava gelado demais para nadar. Eu adorava o lugar. Íamos lá desde que eu era bebê. Minha mãe ia ainda havia
mais tempo. Ela nunca disse exatamente, mas eu sabia por que a praia era especial. Era o lugar onde conhecera meu pai. À medida que nos aproximávamos de Montauk,
ela parecia ir ficando mais jovem, os anos de preocupação e trabalho desaparecendo do rosto. Os olhos ficavam da cor do mar. Chegamos lá ao pôr-do-sol, abrimos todas
as janelas do chalé e passamos por nossa rotina de limpeza. Caminhamos pela praia, demos salgadinhos de milho às gaivotas e mascamos jujubas azuis, caramelos azuis
e todas as outras amostras grátis que minha mãe levara do trabalho. Acho que eu deveria explicar a comida azul. Veja bem, Gabe uma vez disse à minha mãe que isso
não existia. Eles tiveram uma discussão, que pareceu uma coisinha de nada na época. Mas, desde então, minha mãe fez tudo o que era possível comer em azul. Ela assava
bolos de aniversários azuis. Batia vitaminas com mirtilos azuis. Comprava tortilhas de milho azul e levava para casa balas azuis da loja. Isso - junto com o fato
de conservar o nome de solteira, Jackson, em vez de se chamar sra. Ugliano - era prova de que ela não tinha sido totalmente domada por Gabe. Tinha uma inclinação
para rebeldia, como eu. Quando escureceu, acendemos uma fogueira. Assamos o cachorro-quente e marshmallows. Minha mãe contou histórias sobre quando ela era criança,
antes de os pais morrerem no acidente de avião. Contoume sobre os livros que queria escrever um dia, quando tivesse dinheiro suficiente para largar a doceria. Finalmente,
reuni coragem para perguntar sobre o que sempre me vinha à cabeça quando íamos a Montauk ­ meu pai. Os olhos dela ficaram cheios d'água. Imaginei que iria me contar
as mesmas coisas de sempre, mas nunca me cansava de ouvi-las.

- Ele era gentil, Percy ­ disse ela. ­ Alto, bonito e forte. Mas gentil também. Você tem o cabelo dele, você sabe, e os olhos verdes. Mamãe pegou uma jujuba azul
do saco de doces. - Gostaria que ele pudesse vê-lo, Percy. Ficaria muito orgulhoso. Eu me perguntei como ela podia dizer aquilo. O que havia de tão bom a meu respeito?
Um menino disléxico, hiperativo, com um boletim D+, expulso da escola pela sexta vez em seis anos. - Que idade eu tinha? - perguntei. - Quer dizer... quando ele
se foi? Ela olhou para as chamas. - Ele só ficou comigo por um verão, Percy. Bem aqui nesta praia. Neste chalé. - Mas... ele me conheceu quando eu era bebê. - Não,
meu bem. Ele sabia que eu estava esperando um bebê, mas nunca o viu. Teve de partir antes de você nascer. Tentei conciliar o fato de que eu parecia me lembrar de...
alguma coisa sobre meu pai. Uma sensação calorosa. Um sorriso. Sempre presumira que ele havia me visto quando bebê. Minha mãe nunca dissera exatamente isso, mas
ainda assim eu achava que tinha acontecido. Saber agora que ele nunca me viu... Fiquei com raiva do meu pai. Talvez fosse uma bobagem, mas eu me ressenti por ele
ter partido naquela viagem oceânica, por não ter tido coragem para se casar com minha mãe. Ela nos deixara e agora estávamos presos ao gabe Cheiroso. - Você vai
me mandar embora de novo? - perguntei a ela. - para outro internato? Ela puxou um marshmallow do fogo. - Eu não sei, meu bem. - Sua voz soou muito séria. - Acho...
acho que teremos de fazer alguma coisa. - Por quê você não me quer me ver por perto? - Eu me arrependi das palavras assim que elas saíram. Os olhos de minha mãe
ficaram marejados. Ela pegou minha mão e apertou com força. - Ah, Percy, não. Eu... eu preciso, meu bem. Para seu próprio bem. Eu tenho de mandar você para longe.
Suas palavras me lembraram o que o sr. Brunner tinha dito - que era melhor para mim deixar Yancy. - Porque eu não sou normal? - disse eu. - Você diz isso como se
fosse uma coisa ruim, Percy. Mas não se dá conta do quanto você é importante. Pensei que Yancy seria bastante longe. Pensei que você finalmente estaria em segurança.
- Em segurança por quê? Os olhos dela encontraram os meus, e me veio uma enxurrada de lembranças - todas esquisitas, assustadoras que sempre aconteciam, algumas
que eu tentara esquecer. Na terceira série, um homem de capa de chuva preta me seguiu no recreio. Quando os professores ameaçaram chamar a polícia, ele foi embora
resmungando, mas ninguém acreditou em mim quando contei que, embaixo do chapéu de aba larga, o homem tinha um olho só, bem no meio da testa.

Antes disso - uma lembrança realmente antiga. Eu estava na pré-escola, e uma professora acidentalmente me pôs para dormir em um berço para dentro do qual uma cobra
se arrastara. Minha mãe gritou quando foi me buscar e me encontrou brincando com uma cobra flácida cheia de escamas, que eu de algum modo conseguira estrangular
até a morte com as minhas mãos gordinhas de bebê. Em cada uma das escolas, algo de horripilante acontecera, algo perigoso, e fui forçado a sair. Eu sabia que devia
contar à minha mãe sobre as velhas na banca de frutas e a sra. Dodds no museu de arte, sobre a estranha alucinação em que eu havia transformado a professora de matemática
em pó com uma espada. Mas não consegui me forçar a contar. Tinha a sensação esquisita de que a notícia iria acabar com nossa viagem a Montauk, e isso eu não queria.
- Tentei manter você tão perto de mim quanto pude - falou minha mãe. - Eles me disseram que isso era um erro. Mas só havia uma outra opção, Percy... o lugar para
onde seu pai queria mandá-lo. E eu simplesmente... simplesmente não poderia agüentar ter de fazer isso. - Meu pai queria que eu fosse para uma escola especial? -
Não uma escola - disse ela suavemente. - Um acampamento de verão. Minha cabeça estava girando. Por que meu pai - que nem sequer ficara por perto tempo suficiente
para me ver nascer - teria falado com minha mãe sobre um acampamento de verão? E, se isso era tão importante, por que ela nunca mencionara antes? - Desculpe, Percy
- continuou ela ao ver a expressão em meus olhos. - mas não posso falar sobre isso. Eu... eu não podia mandar você para aquele lugar. Significaria dizer adeus a
você para sempre. - Para sempre? Mas se é apenas um acampamento de verão... Ela se voltou para o fogo, e eu percebi pela sua expressão que, se fizesse mais perguntas,
ela começaria a chorar. ***** Naquela noite eu tive um sonho muito real. Havia uma tempestade na praia, e dois belos animais, um cavalo branco e uma águia dourada,
estavam tentando matar uma ao outro à beira-mar. A águia mergulhou e fez um talho no focinho do cavalo com suas garras enormes. O cavalo empinou e escoiceou as asas
da águia. Enquanto eles lutavam, o chão retumbou e uma voz monstruosa riu em algum lugar embaixo da terra, incitando os animais a lutarem arduamente. Corri até eles,
sabendo que tinha de impedir que se matassem, mas eu corria em câmera lenta. Sabia que iria chegar tarde demais. Vi a águia mergulhar, o bico apontado para os grandes
olhos do cavalo, e gritei: Não! Acordei assustado. Do lado de fora, havia realmente uma tempestade, o tipo de tempestade que racha árvores e derruba casas. Não havia
nenhum cavalo nem águia na praia, somente relâmpagos que criavam uma falsa luz do dia e ondas de seis metros golpeando as dunas como artilharia. Com o trovão seguinte,
minha mãe acordou. Ela sentou na cama, os olhos arregalados, e disse: - Furacão. Eu sabia que aquilo era loucura. Nunca houve furacões em Long Island tão cedo no
verão. Mas o oceano parecia ter esquecido isso. Por cima dos rugidos do vento, ouvi um bramido distante, um som furioso, torturado, que fez meus cabelos se arrepiarem.

Depois um ruído muito mais próximo, como de malhos na areia. Uma voz desesperada - alguém gritando, esmurrando a porta do nosso chalé. Minha mãe pulou da cama de
camisola e abriu a porta de um safanão. Grover estava lá, emoldurado no vão da porta contra um fundo de chuva torrencial. Mas ele não era... ele não era exatamente
o Grover. - Procurei a noite toda - arquejou ele. - O que você estava pensando? Minha mãe olhou para mim aterrorizada - não com medo de Grover, mas da razão de sua
chegada. - Percy - disse ela, gritando para se fazer ouvir mais alto que a chuva. - O que aconteceu na escola? O que você não me contou? Fiquei paralisado olhando
para Grover. Não conseguia entender o que estava vendo. - O Zeu kai alloi theoi! - gritou ele. - Está bem atrás de mim! Você não contou a ela? Eu estava chocado
demais para registrar que ele acabara de praguejar em grego antigo, e eu tinha entendido perfeitamente. Estava chocado demais para me perguntar como Grover chegara
ali sozinho no meio da noite. Porque Grover não estava usando calças - e onde deveriam estar as pernas dele... Onde deveriam estar as pernas dele... Minha mãe olhou
para mim com expressão severa e falou em um tom que jamais usara antes: - Percy. Conte-me agora! Eu gaguejei algo sobre velhas senhoras na banca de frutas e a sra.
Dodds, e minha mãe ficou olhando para mim, o rosto mortalmente pálido aos clarões dos relâmpagos. - Vão para o carro. Vocês dois. Vão! Grover correu para o Camaro
- mas ele não estava exatamente correndo. Estava trotando, sacudindo seu traseiro peludo, e de repente sua história sobre um distúrbio muscular nas pernas fez sentido
para mim. Entendi como ele podia correr tão depressa e ainda assim mancar quando andava. Porque onde deveriam estar seus pés não havia pés. Havia cascos fendidos.

QUATRO ­ Minha mãe me ensina a tourear.
Arrancamos noite adentro por estradas rurais escuras. O vento golpeava o Camaro. A chuva açoitava o pêra-brisa. Eu não sabia como minha mãe conseguia ver alguma
coisa, mas ela mantinha o pé no acelerador. Toda vez que um relâmpago produzia um clarão, eu olhava para Grover sentado ao meu lado no banco de trás e me perguntava
se tinha ficado louco ou se ele estava usando algum tipo de calça felpuda. Mas não, o cheiro era o mesmo que eu lembrava das excursões do jardim-de-infância para
o zoológico infantil ­ lanolina, como o de lã. O cheiro de um animal molhado de estábulo. Tudo o que pude dizer foi: - Então, você e minha mãe... se conhecem? Os
olhos de Grover moveram-se rapidamente para o espelho retrovisor, embora não houvesse carro nenhum atrás de nós. - Não exatamente ­ disse El. ­ Quer dizer, nunca
nos encontramos pessoalmente. Mas ela sabia que eu estava observando você. - Observando, a mim? - Estava de olho em você. Cuidando que estivesse bem. Mas eu não
estava fingindo ser seu amigo ­ acrescentou apressadamente. ­ Eu sou seu amigo. - Ahn... o que é você, exatamente? - Isso não importa neste momento. - Não importa?
Da cintura para baixo, o meu melhor amigo é um burro... Grover soltou um agudo e gutural: - Bééééé! Eu já o tinha ouvido fazer aquele som antes, mas sempre achei
que era um riso nervoso. Agora me dava conta de que era mais um berro irritado. - Bode! - exclamou. - O quê? - Eu sou um bode da cintura para baixo. - Você acaba
de dizer que isso não importa. - Béééé! Alguns sátiros poderiam pisoteá-lo por causa de tamanho insulto! - Opa. Espere. Sátiros. Você quer dizer como... os mitos
do sr. Brunner? - Aquelas velhas na banca de frutas eram um mito, Percy? A sra. Dodds era um mito? - Então você admite que havia uma sra. Dodds! - É claro. - Então
por que...

- Quanto menos você soubesse, menos monstros atrairia - disse Grover, como se aquilo fosse perfeitamente óbvio. - Nós pusemos a Névoa diante dos olhos humanos. Tínhamos
esperanças de que você achasse que a Benevolente era uma alucinação. Mas não adiantou. Você começou a perceber quem você é. - Quem eu... espere um minuto, o que
você quer dizer? O estranho rugido ergueu-se novamente em algum lugar atrás de nós, mais perto do que antes. O que quer que estivesse nos perseguindo ainda estava
na nossa cola. - Percy - disse minha mãe -, há muito a explicar e não temos tempo suficiente. Precisamos pôr você em segurança. - Em segurança como? Quem está atrás
de mim? - Ah, nada demais - disse Grover, obviamente ainda ofendido com o comentário sobre o burro. - Apenas o Senhor dos Mortos e alguns dos seus asseclas mais
sedentos de sangue. - Grover! - Desculpe sra. Jackson. Poderia dirigir mais depressa, por favor? Tentei envolver minha mente no que estava acontecendo, mas não consegui.
Sabia que aquilo não era um sonho. Eu não tinha imaginação. Jamais poderia sonhar algo tão estranho. Minha mãe fez uma curva fechada para a esquerda. Desviamos para
uma estrada mais estreita, passando com velocidade por casas de fazendas às escuras, colinas cobertas de árvores e placas que diziam COLHA SEUS PRÓPRIOS MORANGOS
sobre cercas brancas. - Aonde estamos indo? - perguntei. - Para o acampamento de verão de que falei. - A voz de minha mãe estava tensa; por mim, ela estava tentando
não parecer assustada. - O lugar para onde seu pai queria mandá-lo. - O lugar para onde você não queria que eu fosse. - Por favor, querido - implorou ela. - Isso
já é bem difícil. Tente entender. Você está em perigo. - Porque umas velhas senhoras cortaram um fio de lã. - Aquilo não eram velhas senhoras - disse Grover. - Eram
as Parcas. Você sabe o que significa... o fato de elas aparecerem na sua frente? Elas só fazem isso quando você está prestes a... quando alguém está prestes a morrer.
- Epa! Você disse você. - Não, eu não disse. Eu disse, alguém. - Você quis dizer você. Ou seja, eu. - Eu quis dizer você como quem diz alguém. Não você, Percy, mas
você, qualquer um. - Meninos! - disse minha mãe. Ela puxou o volante com força para a direita e eu tive um vislumbre de um vulto do qual ela se desviara uma forma
escura e ondulada, agora perdida na tempestade atrás de nós. - O que foi aquilo? - perguntei.

- Estamos quase lá - disse minha mãe ignorando a pergunta. - Mais um quilômetro e meio. Por favor. Por favor. Por favor. Eu não sabia onde era lá, porém me vi inclinando-me
para a frente na expectativa, querendo que chegássemos logo. Do lado de fora, nada além de chuva e escuridão - o tipo de campos vazios que a gente vê quando vai
para o extremo de Long Island. Pensei na sra. Dodds e no momento em que ela se transformou naquela coisa com dentes pontiagudos e asas de couro. Meus membros ficaram
amortecidos de choque retardado. Ela realmente não era humana. E pretendia me matar. Então pensei no sr. Brunner... e na espada que ele jogara para mim. Antes que
eu pudesse perguntar a Grover sobre aquilo, os cabelos de minha nunca se arrepiaram. Houve um clarão ofuscante, um Bum! De fazer bater o queixo, e o carro explodiu.
Lembro-me de ter me sentido sem peso, como se estivesse sendo esmagado, frito e lavado com uma mangueira, tudo ao mesmo tempo. Descolei minha testa do encosto do
assento do motorista e disse: - Ai. - Percy! - gritou minha mãe. - Estou bem... Tentei sair do estupor. Eu não estava morto,o carro não explodira de verdade. Tínhamos
caído em uma vala. As portas do lado do motorista estavam enfiadas na lama. O teto se abrira como uma casca de ovo e a chuva se derramava para dentro. Relâmpago.
Era a única explicação. Tínhamos voado pelos ares, para fora da estrada. Ao meu lado no assento traseiro havia uma grande massa informe e imóvel. - Grover! Ele estava
caído de lado, com sangue escorrendo do canto da boca. Sacudi seu quadril peludo, pensando: Não! Mesmo que você seja metade animal de quintal, ainda é meu melhor
amigo, e não quero que morra! Então ele gemeu: - Comida - e eu soube que havia esperança. - Percy - disse minha mãe -, temos de... - Ela titubeou. Olhei para trás.
Num clarão de relâmpago, através do pára-brisa traseiro salpicado de lama, vi um vulto andando pesadamente na nossa direção no acostamento da estrada. Aquela visão
fez minha pele formigar. Era a silhueta de um sujeito enorme, como um jogador de futebol americano. Parecia estar segurando uma manta por cima da cabeça. A metade
superior dele era volumosa e indistinta. As mãos erguidas davam a impressão de que ele tinha chifres. Engoli em seco. - Quem é... - Percy - disse minha mãe, extremamente
séria. - saia do carro. Ela se jogou contra a porta do lado do motorista. Estava emperrada na lama. Tentei a minha. Emperrada também. Desesperadamente, ergui os
olhos para o buraco no teto. Poderia ser uma saída, mas as bordas estavam chiando e fumegando.

- Saia pelo lado do passageiro! - disse minha mãe. - Percy, você tem de correr. Está vendo aquela árvore grande? - O quê? Outro clarão de relâmpago e pelo buraco
fumegante no teto eu vi a arvore a que ela se referia: um enorme pinheiro, do tamanho de uma arvore de Natal da Casa Branca, no topo da colina mais próxima. - Aquele
é o limite da propriedade - disse minha mãe. - Passe daquela colina verá uma grande casa de fazenda no fundo do vale. Corra e não olhe para trás. Grite por ajuda.
Não pare enquanto não chegar à porta. - Mamãe, você também vem. O rosto dela estava pálido, os olhos tristes como quando ela olhava para o oceano. - Não! - gritei.
- Você vem comigo. Ajude-me a carregar o Grover. - Comida! - gemeu Grover, um pouco mais alto. O homem com a manta na cabeça continuou indo em nossa direção, grunhindo
e bufando. Quando ele chegou mais perto, percebi que não podia estar segurando uma manta acima da cabeça porque as mãos enormes e carnudas - balançavam ao seu lado.
Não havia manta nenhuma. O que queria dizer que a massa volumosa e indistinta que era grande demais para ser sua cabeça... era a sua cabeça. E as pontas que pareciam
chifres... - Ele não nos quer - disse minha mãe. - Ele quer você. Além disso, não posso ultrapassar o limite da propriedade. - Mas... - Não temos tempo, Percy. Vá.
Por favor. Então fiquei zangado - zangado com a minha mãe, com Grover, o bode, com a coisa chifruda que se movia pesadamente em nossa direção, de modo lento e calculado
como... como um touro. Passei por cima de Grover e empurrei a porta, que se abriu para chuva. - Nós vamos juntos. Venha, mãe. - Eu já disse que... - Mamãe! Eu não
vou abandonar você. Ajuda aqui com Grover. Não esperei pela resposta dela. Eu me arrastei para fora do carro, puxando Grover comigo. Ele era surpreendentemente leve,
mas eu não poderia tê-lo carregado para muito longe se minha mãe não tivesse ido me ajudar. Juntos, pusemos os braços de Grover em nossos ombros e começamos a subir
a colina aos tropeções, com o capim molhado na altura de cintura. Ao olhar relance para trás, tive minha primeira visão clara do monstro. Tinha, fácil, mais de dois
metros, e os braços e pernas pareciam algo saído da capa da revista Músculos - bíceps e tríceps saltados e mais um monte de outros ceps, todos estufados como bolas
de beisebol embaixo de uma pele cheia de veias. Ele usava roupas, a não ser cuecas - branquíssimas, da marca Fruit of the Loom -, o que teria sido engraçado não
fosse o fato de a parte superior de seu corpo ser tão assustadora. Pêlos marrons e grossos começaram na altura do umbigo e iam ficando mais espessos à medida que
chegavam aos ombros. Seu pescoço era uma massa de músculos e pêlos que levavam à enorme cabeça, que tinha um focinho tão comprido quanto meu braço, narinas ranhentas
com um reluzente anel de bronze, olhos pretos cruéis

e chifres - enormes chifres preto-e-branco com pontas que você não conseguiria fazer nem num apontador elétrico. Reconheci o monstro muito bem. Tinha sido uma das
primeiras historias que o sr. Brunner nos contara. Mas ele não podia ser real. Pisquei os olhos para desviar a chuva. - Aquele é... - O filho de Pasífae - disse
minha mãe. - Gostaria de ter sabido antes o quanto desejaram matar você. - Mas ele é o Mino... - Não pronuncie o nome - advertiu ela. - Os nomes têm poder. O pinheiro
ainda estava longe demais - pelo menos cem metros colina acima. Dei outra olhada para trás. O homem-touro se curvou por cima de nosso carro, olhando pelas janelas
- ou não exatamente olhando. Era mais como farejar, fuçar. Eu não sabia muito bem por que ele se dava a esse trabalho, já que estávamos a apenas quinze metros de
distancia. - Comida? - gemeu Grover. - Shhh - fiz eu. - Mamãe, o que ele está fazendo? Não está nos vendo? - Sua visão e sua audição são péssimas - disse ela. -
Ele se orienta pelo cheiro. Mas vai perceber onde estamos logo, logo. Como que na deixa, o homem-touro bramiu de raiva. Ele agarrou o Camaro de Gabe pela capota
rasgada, o chassi rangia e gemia. Ergueu o carro acima da cabeça e atirou-o na estrada. Aquilo se chocou contra o asfalto molhado e deslizou em meio a um chuveiro
de fagulhas por cerca de quinhentos metros antes de parar. O tanque de gasolina explodiu. Nem um arranhão, lembrei-me de Gabe dizendo. Oops. - Percy - disse minha
mãe. - Quando ele nos vir, vai atacar. Espere até o último segundo, depois saia do caminho. Ele não consegue mudar de direção muito bem quando já está atacando.
Você entendeu? - Como você sabe tudo isso? - Estou preocupada com um ataque há muito tempo. Devia ter esperado por isso. Fui egoísta, mantendo você perto de mim.
- Mantendo-me perto de você? Mas... Outro bramido de raiva e o homem-touro começou a subir pesadamente a colina. Tinha nos farejado. O pinheiro estava a apenas mais
alguns metros, mas a colina era cada vez mais íngreme e escorregadia, e Grover ficava mais pesado. O homem-touro se aproximava. Mas alguns segundos e estaria em
cima de nós. Minha mãe devia estar exausta, mas carregou Grover.

- Vá, Percy! Vá sozinho! Lembre-se do que eu disse. Eu não queria me separar, mas tive a sensação de que ela estava certa - era nossa única chance. Pulei para esquerda,
virei-me e vi a criatura avançando em minha direção. Os olhos pretos brilhavam de ódio. Fedia a carne podre. Ele inclinou a cabeça e atacou, aqueles chifres afiados
como navalhas apontados diretamente para o meu peito. O medo no meu estômago me deu vontade de disparar, mas isso não daria certo. Eu jamais poderia correr mais
que aquela coisa. Então fiquei parado e, no último momento, saltei para o lado. O homem-touro passou por mim a toda como um trem de carga, depois bramiu de frustração
e se virou, mas dessa vez não contra mim, mas contra minha mãe, que estava acomodando Grover sobre a grama. Tínhamos chegado ao topo da colina. Embaixo, do outro
lado, pude ver um vale, bem como minha mãe dissera, e as luzes de uma casa de fazenda tremeluzindo amarelas através da chuva. Mas estava a oitocentos metros de distancia.
Nunca conseguiríamos chegar lá. O homem-touro roncou, escarvando o chão. Ficou olhando para minha mãe, que recuava lentamente colina abaixo, de volta para estrada,
tentando afastar o monstro de Grover. - Corra, Percy! - disse ela. - Não posso passar daqui. Corra! Mas fiquei lá parado, paralisado de medo, enquanto o monstro
a atacava. Ela tentou sair de lado, como me dissera para fazer, mas o monstro tinha aprendido a lição. Jogou a mão para frente e agarrou-lhe o pescoço quanto ela
tentou escapar. Ele a ergueu enquanto ela lutava, chutando e dando murros no ar. - Mamãe! Então, com um rugido furioso, o monstro fechou os punhos em volta do pescoço
da minha mãe e ela se dissolveu diante dos meus olhos, fundindo-se em luz, uma forma dourada tremeluzente, como uma projeção holográfica. Um clarão ofuscante, e
ela simplesmente... se foi. - Não! A raiva substituiu o medo. Uma nova força ardeu em meus membros - a mesma onda de energia que me veio quando a sra. Dodds mostrou
as garras. O homem-touro foi na direção de Grover, que estava deitado na grama, indefeso. O monstro se curvou, fungando meu melhor amigo como se estivesse prestes
a erguê-lo dali e fazê-lo se dissolver também. Eu não podia permitir aquilo. Tirei minha capa de chuva vermelha. - Ei! - gritei, agitando a capa e correndo para
um lado do monstro. - Ei, estúpido! Monte de carne moída! - Raaaarrrrr ! - O monstro virou-se para mim sacudindo seus punhos carnudos. Eu tive uma idéia - uma idéia
boba, porém melhor do que não pensar em nada. Encostei as costas no grande pinheiro e agitei a capa vermelha na frente do homem-touro, pensando em pular fora do
caminho no último momento. Mas não foi assim que aconteceu. O homem-touro atacou depressa demais, os braços estendidos para me agarrar qualquer que fosse o lado
para onde eu tentasse me esquivar.

O tempo começou a passar mais devagar. Minhas pernas travaram. Eu não podia pular para o lado, assim saltei direto para cima, usando a cabeça da criatura como trampolim,
girei o corpo no ar e caí sobre seu pescoço. Como eu fiz aquilo? Não tive tempo para descobrir. Um milissegundo depois a cabeça do monstro chocouse contra a árvore
e o impacto quase fez meus dentes saltarem da boca. O homem-touro cambaleou de um lado para outro tentando se livrar de mim. Segurei com força em seus chifres para
não ser arremessado. Os trovões e os relâmpagos ficavam mais fortes. A chuva caia em meus olhos. O cheiro de carne podre queimava minhas narinas. O monstro se sacudia
e corcoveava como um touro de rodeio. Poderia simplesmente ter chegado para trás e me esmagado completamente na árvore, mas eu começava a perceber que aquela coisa
só tinha uma direção: para frente. Enquanto isso, Grover começou a gemer na grama. Quis gritar para ele ficar calado, mas do jeito que estava sendo jogado de um
lado para o outro, se abrisse a boca deceparia minha própria língua com uma mordida. - Comida! - gemeu Grover. O homem-touro virou-se para ele, escarvou o chão novamente
e se preparou para atacar. Pensei em como ele havia espremido a vida para fora de minha mãe, como a fizera desaparecer num clarão de luz, e a raiva me abasteceu
como um combustível de alta potência. Agarrei um dos chifres com ambas as mãos e puxei para trás com toda a minha força. O monstro se retesou, soltou um grunhido
de surpresa, e então... pléc! O homem-touro berrou e me atirou pelos ares. Aterrissei de costas na grama. Minha cabeça bateu contra uma pedra. Quando me sentei,
minha visão estava embaçada, mas eu tinha um chifre nas mãos, um osso partido do tamanho de uma faca. O monstro atacou. Sem pensar, rolei para o lado e me levantei
de joelhos. Quando ele passou a toda velocidade, enterrei o chifre quebrado bem na lateral de seu corpo, logo abaixo da caixa torácica peluda. O homem-touro urrou
em agonia. Debateu-se, rasgando o peito com suas garras, e depois começou a se desintegrar ­ não como minha mãe, em um clarão dourado, mas como areia se esfarelando,
carregada pelo vento aos pedaços para longe, do mesmo modo como a sra. Dodds se desintegrara. O monstro se fora. A chuva tinha parado. A tempestade ainda rugia,
mas somente a distancia. Eu cheirava a gado e meus joelhos tremiam. Minha cabeça parecia que ia se partir ao meio. Estava fraco, assustado e tremia de tristeza.
Acabara de ver minha mãe se desvanecer. Queria me deitar e chorar, mas havia Grover, precisando de minha ajuda, portando consegui erguê-lo e descer cambaleando para
o vale em direção às luzes da casa. Eu estava chorando, chamando minha mãe, mas me agarrei a Grover ­ eu não ia deixá-lo partir. Minha última lembrança é ter desmaiado
numa varanda de madeira, olhando para um ventilador de teto que girava acima de mim, mariposas voando em volta de uma luz amarela, e as expressões austeras e familiares
de um homem barbudo e uma menina bonita, com cabelos loiros encaracolados como os de uma princesa. Os dois olharam para mim e a menina disse: - É ele. Tem de ser.
- Silêncio, Annabeth - disse o homem. - Ele ainda está consciente. Traga-o para dentro.

CINCO ­ Eu jogo pinoche com um cavalo.
Tive sonhos estranhos, cheios de animais de estábulos. A maioria queria me matar. O restante queria comida. Devo ter acordado várias vezes, mas o que ouvi e vi não
fazia sentido, então adormecia de novo. Lembrome de estar deitado em uma cama macia, sendo alimentado com colheradas de alguma coisa que tinha gosto de pipoca com
manteiga, só que era pudim. A menina com o cabelo loiro encaracolado pairava acima de mim com um sorriso afetado enquanto limpava as gotas de meu queixo com a colher.
Quando ela viu meus olhos abertos, perguntou: - O que vai acontecer no solstício de verão? Eu consegui resmungar: - O quê? Ela olhou em volta, como se estivesse
com medo de que alguém ouvisse. - O que está acontecendo? O que foi roubado? Nós só temos algumas semanas! - Desculpe - murmurei. - Eu não... Alguém bateu à porta,
e a menina rapidamente encheu minha boca de pudim. Quando acordei novamente, a menina tinha ido embora. Um sujeito loiro e forte, como um surfista, estava no canto
do quarto me vigiando. Tinha olhos azuis - pelo menos uma dúzia deles - nas bochechas, nas testas, nas costas das mãos. ***** Quando finalmente voltei a mim de vez,
não havia nada de estranho com o lugar ao meu redor, a não ser que era mais agradável do que eu estava acostumado. Estava sentado numa espreguiçadeira em uma enorme
varanda, olhando ao longo de uma campina para colinas verdejantes à distância. A brisa tinha cheiro de morangos. Havia uma manta sobre as minhas pernas, um travesseiro
atrás do pescoço. Tudo isso era ótimo, mas minha boca me dava a sensação de ter sido usada como ninho por um escorpião. A língua estava seca e pegajosa, e todos
os dentes doíam. Sobre a mesa ao lado havia bebida num copo alto. Parecia suco de maçã gelado, com um canudinho verde e um guarda-chuva de papel enfiado em uma cereja.
Minha mão estava tão fraca que quase derrubei o copo quando passei os dedos em volta dele. - Cuidado - disse uma voz familiar. Grover estava apoiado no gradil da
varanda, e parecia não dormir havia uma semana. Embaixo de um braço, segurava uma caixa de sapatos. Estava usando jeans, tênis de cano alto Converse e uma camiseta
laranja-claro com os dizeres ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE. Apenas o velho Grover. Não meninobode. Quem sabe não tive um pesadelo? Talvez minha mãe estivesse bem. Ainda
estávamos de férias e tínhamos parado ali naquela grande casa por alguma razão. E... - Você salvou minha vida - disse Grover. - Eu... bem, o mínimo que eu podia
fazer... voltei na colina. Achei que você poderia querer isso. Reverentemente, ele colocou a caixa de sapatos em meu colo.

Dentro havia um chifre de touro branco-e-preto, a base irregular por ter sido quebrada, a ponta salpicada de sangue seco. Não tinha sido um pesadelo. - O Minotauro
- disse eu. - Ahn, Percy, não é uma boa idéia... - É assim que o chamam nos mitos gregos, não é? - perguntei. - O Minotauro. Meio homem, meio touro. Grover mudou
de posição, pouco à vontade. - Você ficou desacordado por dois dias. Do que se lembra? - Minha mãe. Ela está mesmo... Ele abaixou os olhos. Olhei ao longo da campina.
Havia pequenos bosques, um riacho sinuoso, campos de morangos espalhados embaixo do céu azul. O vale era cercado por colinas ondulantes, e a mais alta, bem na nossa
frente, era a que tinha o grande pinheiro no topo. Mesmo isso parecia bonito à luz do sol. Minha mãe se fora. O mundo inteiro deveria estar escuro e frio. Nada devia
parecer bonito. - Desculpe - fungou Grover. - Eu sou um fracasso. Eu... sou o pior sátiro do mundo. Ele gemeu, batendo o pé com tanta força que ele saiu, quer dizer,
o tênis Converse saiu. Dentro, estava recheado de isopor, a não ser por um buraco em forma de casco. - Oh, Styx! - murmurou ele. Um trovão ecoou no céu claro. Enquanto
ele lutava para pôr o casco de volta no falso pé, pensei: Bem, isso resolve as coisas. Grover era um sátiro. Podia apostar que, se raspasse o cabelo castanho cacheado,
encontraria pequenos chifres em sua cabeça. Mas eu me sentia infeliz demais para me importar com a existência de sátiros ou mesmo minotauros. O importante era que
minha mãe realmente tinha sido espremida para o nada, dissolvida em luz amarela. Eu estava sozinho. Um órfão. E teria de viver com... Gabe Cheiroso? Não. Isso jamais
iria acontecer. Preferia viver nas ruas. Fingiria ter dezessete anos e me alistaria no exercito. Faria alguma coisa. Grover ainda estava fungando. O pobre garoto
- pobre bode, ou sátiro, ou o que for - parecia estar esperando levar um murro. - Não foi sua culpa - disse eu. - Foi, sim. Eu devia protegê-lo. - Minha mãe pediu
para você me proteger? - Não. Mas é isso que faço. Sou um guardião. Pelo menos... eu era. - Mas por que... De repente senti uma vertigem, minha visão rodando. -
Não se esforce demais - disse Gover. - Aqui.

Ele me ajudou a segurar o copo e eu levei o canudinho aos lábios. Recuei com o gosto, porque estava esperando suco de maçã. Não tinha nada a ver com isso. Era gosto
de biscoito com pedacinhos de chocolate. Biscoito líquido. E não qualquer biscoito - os biscoitos azuis da minha mãe com pedacinhos de chocolate, amanteigados e
quentes, o chocolate ainda derretendo. Ao beber aquilo, meu corpo inteiro se sentiu bem, aquecido e cheio de energia. Minha tristeza não foi embora, mas era como
se minha mãe tivesse acabado de acariciar minha bochecha e me dar um biscoito, como costumava fazer quando eu era pequeno, e tivesse dito que tudo ia ficar bem.
Antes de me dar conta, já tinha esvaziado o copo inteiro. Olhei para dentro dele e, com certeza, não era uma bebida quente, pois os cubos de gelo não tinham nem
derretido. - Estava bom? - perguntou Grover. Fiz que sim com a cabeça. - Que gosto tinha? Ele pareceu tão suplicante que me senti culpado. - Desculpe. Devia ter
deixado você provar. Os olhos deles se arregalaram. - Não! Não foi isso que eu quis dizer. Eu só... fiquei curioso. - Biscoitos com pedacinhos de chocolate - disse
eu. - Os da minha mãe. Feitos em casa. Ele suspirou. - E como se sente? - Como se fosse capaz de jogar Nancy Bobofit a cem metros de distancia. - Isso é bom - disse
ele. - Isso é bom. Não acho que você deva se arriscar a tomar mais disso aí. - O que quer dizer? Ele pegou meu copo com cautela, como se fosse dinamite, e o colocou
de volta na mesa. - Vamos. Quíron e o sr. D estão esperando. ***** A varanda circundava toda a casa da fazenda. Senti as pernas tremulas tentando andar toda aquela
distancia. Grover se ofereceu para carregar o chifre do Minotauro, mas eu me agarrei a ele. Tinha pago um preço alto por aquele suvenir. Não iria largá-lo. Quando
demos a volta até o lado oposto da casa, parei para recuperar o fôlego. Devíamos estar na costa norte de Long Island, porque daquele lado da casa o vale seguia até
a água, que cintilava a cerca de um quilômetro de distancia. Entre a casa e lá, eu simplesmente não consegui processar tudo o que estava vendo. A paisagem era pontilhada
de construções que lembravam a arquitetura grega antiga - um pavilhão a céu aberto, um anfiteatro, uma arena circular - só que pareciam novos em folha, as colunas
de mármore branco reluzindo ao sol. Em uma quadra de areia próxima, uma dúzia de crianças e sátiros jogavam voleibol. Canoas deslizavam por um pequeno lago. Crianças
de camiseta laranja-clara como a de Grover acorriam umas atrás das outras em volta de um grupamento de chalés no meio do bosque. Algumas praticavam arco-e-flecha
em alvos. Outras montavam cavalos em uma trilha arborizada e, a não ser que eu estivesse tendo alucinações, alguns cavalos tinham asas.

Na extremidade da varanda, dois homens estavam sentados frente a frente em uma mesa de carteado. A menina de cabelos loiros que me alimentara com colheradas de pudim
com sabor de pipoca estava apoiada no gradil da varanda, ao lado deles. O homem de frente para mim era pequeno, mas gorducho. Tinha nariz vermelho, grandes olhos
chorosos e cabelo cacheado tão preto que era quase roxo. Parecia uma daquelas pinturas de anjos-bebês, como se chamam mesmo... surubins? Não, querubins. É isso.
Ele parecia um querubim que chegou a meia idade em um acampamento de trailers. Usava uma camisa havaiana com estampa de tigres e teria se encaixado perfeitamente
em uma das rodas de pôquer de Gabe, só que eu tive a sensação de que esse cara poderia ter ganhado até do meu padrasto. Aquele é o sr. D - murmurou Grover para mim.
- Ele é o diretor do acampamento. Seja educado. A menina é Annabeth Chase. Ela é só uma campista, mas está aqui há mais tempo que quase todo mundo. E você já conhece
Quíron... Ele apontou para o cara que estava de costas para mim. Primeiro, percebi que ele estava sentado em uma cadeira de rodas. Depois reconheci o casaco de tweed,
o cabelo castanho ralo, a barba desalinhada. - Sr. Brunner! - exclamei. O professor de latim voltou-se e sorriu para mim. Os olhos estavam com aquele brilho travesso
de quando ele fazia uma prova-surpresa e todas as respostas da múltipla escolha eram B. - Ah, bom, Percy - disse ele. - Agora já temos quatro para o pinoche. Ele
me ofereceu uma cadeira à direita do sr. D, que olhou para mim com olhos injetados e soltou um grande suspiro. - Ah, suponho que devo dizer isto. Bem-vindo ao Acampamento
Meio-Sangue. Pronto. Agora, não espere que eu esteja contente em vê-lo. - Ahn, obrigado. - Logo me afastei um pouco dele, porque, se havia uma coisa que eu tinha
aprendido com Gabe era reconhecer quando um adulto andou tomando umas e outras. Se o sr. D era abstêmio, eu era um sátiro. - Annabeth? - o sr. Brunner chamou a menina
loira. Ela avançou e o sr. Brunner nos apresentou. - Esta mocinha cuidou de você até que ficasse bom, Percy. Annabeth, minha querida, por que não vai verificar o
beliche de Percy? Vamos instalá-lo no chalé 11 por enquanto. Annabeth disse: - Claro, Quíron. Ela provavelmente tinha a minha idade, talvez fosse uns cinco centímetros
mais alta, e tinha a aparência muitíssimo mais atlética. Com seu bronzeado intenso e o cabelo loiro cacheado, era quase exatamente como eu imaginava uma típica menina
da Califórnia, a não ser pelos olhos, que arruinavam essa imagem. Era surpreendentemente cinzentos, como nuvens de tempestade; bonito, mas também intimidadores,
como se ela estivesse analisando o melhor modo de me derrubar em uma luta. Ela deu uma olhada no chifre de minotauro em minhas mãos, então de novo para mim. Imaginei
que fosse dizer: Você matou um minotauro! Ou Uau, você é tão assustador! Ou algo do tipo. Em vez disso, ela disse:

- Você baba quando está dormindo! Depois saiu correndo pelo gramado, os cabelos loiros esvoaçando atrás dela. - Então - disse, ansioso por mudar de assunto -, o
senhor, ahn, trabalha aqui, sr. Brunner? - Sr. Brunner não - disse o ex-sr. Brunner. - Lamento, era pseudônimo. Você pode me chamar de Quíron. - Combinado. - Totalmente
confuso, olhei para o diretor. - E sr. D... significa alguma coisa? O sr. D parou de embaralhar as cartas. Olhou para mim como se eu tivesse acabado de arrotar alto.
- Rapazinho os nomes são coisas poderosas. Você simplesmente não sai por aí os usando sem motivo. - Ah. Certo. Desculpe. - Devo dizer, Percy - interrompeu o Quíron-Brunner
-, que estou contente em vê-lo com vida. Já faz um bom tempo desde que fiz um atendimento domiciliar a um campista em potencial. Detestaria pensar que tinha perdido
meu tempo. - Atendimento domiciliar? - O ano que passei na Academia Yancy para instruí-lo. Temos sátiros de prontidão na maioria das escolas, é claro. Mas Grover
me alertou assim que o conheceu. Ele sentiu que você era especial, então decidi ir lá. Convenci o outro professor de latim a... ah, tirar uma licença. Tentei me
lembrar do começo do ano escolar. Parecia tanto tempo atrás, mas eu tinha uma vaga lembrança de outro professor de latim na minha primeira semana em Yancy. Então,
sem explicação, ele desapareceu e o sr. Brunner assumiu a turma. - Você foi a Yancy só para me ensinar? - perguntei. Quíron assentiu. - Honestamente, de inicio eu
não tinha muita certeza a seu respeito. Contatamos a sua mãe, informamos que estávamos de olho em você, para o caso de estar pronto para o Acampamento Meio-Sangue.
Mas você ainda tinha muito a aprender. Não obstante, chegou aqui vivo, e esse é sempre o primeiro teste. - Grover - disse o sr. D com impaciência -, vai jogar ou
não? - Sim, senhor! - Grover tremeu quando se sentou na quarta cadeira, embora eu não soubesse por que ele deveria ter tanto medo de um homenzinho gorducho de camisa
havaiana com estampa de tigre. - Você sabe jogar pinoche? - indagou o sr. D olhando para mim com desconfiança. - Infelizmente não - disse eu. - Infelizmente não,
senhor - disse ele. - Senhor - repeti. Estava gostando cada vez menos do diretor do acampamento. - Bem - ele me disse -, este é, juntamente com as lutas de gladiadores
e o Pac-Man, um dos melhores jogos já inventados pelos seres humanos. Imaginava que todos os jovens civilizados conhecessem as regras. - Estou certo de que o menino
pode aprender - disse Quíron. - Por favor - disse eu. -, o que é este lugar? O que estou fazendo aqui? Sr. Brun... Quíron, por que iria à Academia Yancy só para
me ensinar?

O sr. D bufou. - Fiz a mesma pergunta. O diretor do acampamento deu as cartas. Grover se encolhia a cada vez que uma caía na sua pilha. Quíron sorriu para mim de
um modo compreensivo, como costumava fazer na aula de latim, como para me dizer que qualquer que fosse minha nota, eu era seu aluno mais importante. Ele esperava
que eu tivesse a resposta certa. - Percy - disse ele -, sua mãe não lhe contou nada? - Ela disse... - Lembrei-me dos seus olhos tristes, olhando para o mar. - Ela
me contou que tinha medo de me mandar para cá, embora meu pai quisesse que ela fizesse isso. Disse que, uma vez aqui, provavelmente não poderia sair. Queria me manter
perto dela. - Típico - disse o sr. D - É assim que eles normalmente são mortos. Rapazinho, você vai fazer um lance ou não vai? - O quê? - perguntei. Ele explicou,
impacientemente, como se faz um lance em pinoche, e eu fiz. - Lamento, mas há coisas demais a contar - disse Quíron. - Receio que nosso filme de orientação não seja
suficiente. - Filme de orientação? - perguntei. - Não - concluiu Quíron. - Bem, Percy. Você sabe que seu amigo Grover é um sátiro. Você sabe - ele apontou para o
chifre na caixa de sapatos - que você matou o Minotauro. E não é um pequeno feito, rapaz. O que você pode não saber é que grandes forças estão em ação na sua vida.
Os deuses - as forças que você chama de deuses gregos - estão muito vivos. Olhei para os outros em volta da mesa. Aguardei que alguém gritasse, Não! Mas tudo o que
ouvi foi o sr. D gritando: - Oh, um casamento real. Truco! Truco! - Ele gargalhou enquanto contava os pontos. - Sr. D - perguntou Grover timidamente -, se não for
comê-la, posso ficar com sua lata de Diet Coke? - Hein? Ah, está bem. Grover mordeu um grande pedaço da lata de alumínio vazia e mastigou tristemente. - Espere -
eu disse a Quíron -, está me dizendo que existe algo como Deus. - Bem, vamos lá - disse Quíron. - Deus - com D maiúsculo, Deus. Isso é outro assunto. Não vamos lidar
com o metafísico. - Metafísico? Mas você estava falando sobre... - Ah, deuses, no plural, grandes seres que controlam as forças da natureza e os empreendimentos
humanos; os deuses imortais do Olimpo. Essa é uma questão menor. - Menor? - Sim, muito. Os deuses que discutimos na aula de latim.

- Zeus - disse eu. - Hera. Apolo. Você quer dizer , esses. E, de novo, uma trovoada distante em um dia sem nuvens. - Rapazinho - disse o sr. D -, se eu fosse você,
seria menos negligente quanto a ficar soltando esses nomes por aí. - Mas são historias - disse eu. ­- São... mitos, para explicar os relâmpagos, as estações e tudo
mais. Era nisso que as pessoas acreditavam antes de surgir a ciência. - Ciência! - zombou o sr. D. - E diga-me, Perseu Jackson - eu me encolhi quando ele disse meu
nome verdadeiro, que nunca contara a ninguém -, o que as pessoas pensarão da sua ciência daqui a milhares de anos? Humm? Irão chamá-la de baboseiras primitivas.
É isso o que irão pensar. Ah, eu adoro os mortais... ele não têm a menor noção de perspectiva. Acham que já chegaram tãããão longe. E chegaram, Quíron? Olhe para
esse menino e diga-me. - Percy - disse Quíron -, você pode escolher entre acreditar ou não, mas o fato é que imortal significa imortal. Pode imaginar isso por um
momento, não morrer nunca? Existir, assim como você é, para toda a eternidade? Eu estava prestes a responder, assim sem pensar, que parecia um negocio muito bom,
mas o tom de voz de Quíron me fez hesitar. - Você quer dizer, quer as pessoas acreditem em você ou não ­ disse eu. - Exatamente - concordou Quíron. - Se você fosse
um deus, gostaria de ser chamado de mito, de uma velha historia para explicar os relâmpagos? E se eu contasse a você, Perseu Jackson que um dia as pessoas vão chamar
você de mito, criado apenas para explicar como menininhos podem sobreviver à perda de suas mães? Meu coração disparou. Ele estava tentando me deixar zangado por
alguma razão, mas eu não ia permitir que o fizesse. Eu disse: - Eu não gostaria disso. Mas não acredito em deuses. - Oh, é melhor mesmo - murmurou o sr. D. - Antes
que um deles o incinere. Grover disse: - P-por favor, senhor. Ele acaba de perder a mãe. Está em estado de choque. - Uma sorte, também - resmungou o sr. D, jogando
uma carta. - Ruim mesmo é estar confinado a esse trabalho deprimente, com meninos que nem mesmo têm fé! Ele acenou e uma taça apareceu sobre a mesa, como se a luz
do sol tivesse momentaneamente se encurvado e transformado o ar em vidro. A taça se encheu de vinho tinto. Meu queixo caiu, mas Quíron mal ergueu os olhos. - Senhor
D - advertiu -, as suas restrições. O sr. D olhou para o vinho e fingiu surpresa. - Ora vejam. - Ele olhou para o céu e gritou: - Velhos hábitos! Desculpe! Mais
trovoes. O sr. D acenou outra vez e a taça de vinho se transformou em uma nova lata de Diet Coke. Ele suspirou, infeliz, abriu a lata e voltou ao seu jogo de cartas.
Quíron piscou para mim.

- O sr. D irritou o pai dele tempos atrás, sentiu-se atraído por uma ninfa dos bosques que tinha sido declarada inacessível. - Uma ninfa dos bosques - repeti, ainda
olhando para a Diet Coke como se tivesse vindo do cosmos. - Sim - confessou o sr. D. - O pai adora me castigar. Na primeira vez, Proibição. Horrível! Dez anos abasolutamente
terríveis! Na segunda vez... bem, ela era mesmo linda, não consegui ficar longe... na segunda vez, ele me mandou para cá. Colina Meio-Sangue. Acampamento de verão
para moleques como você. Seja uma influencia melhor, ele me disse. Trabalhe com os jovens em vez de arrasar com eles. Ah! Que injustiça. O sr. D parecia ter seis
anos de idade, como uma criancinha fazendo pirraça. - E... - gaguejei - o seu pai é... - Di immotales, Quíron - disse o sr. D. - Pensei que você tinha ensinado o
básico a este menino. Meu pai é Zeus, é claro. Repassei os nomes começados em D da mitologia grega. Vinho. A pele de um tigre. Os sátiros que pareciam estar todos
trabalhando aqui. O modo como Grover se encolhia de medo, como se o sr. D fosse seu senhor. - Você é Dionisio - disse eu. - O deus do vinho. O sr. D revirou os olhos.
- Como eles dizem hoje em dia, Grover? As crianças dizem, fala sério? - S-sim, sr. D. - Então, fala sério, Percy Jackson. Achou o quê; que eu fosse Afrodite? - Você
é um deus. - Sim, criança. - Um deus. Você. Ele se virou para olhar diretamente para mim, e vi uma espécie de fogo arroxeado nos seus olhos, um indício de que aquele
homenzinho reclamão e gorducho só estava me mostrando uma minúscula parte de sua verdadeira natureza. Tive visões de vinhas estrangulando descrentes até a morte,
guerreiros bêbados insanos com o entusiasmo da batalha, marinheiros gritando enquanto suas mãos se transformavam em nadadeiras, os rostos se alongando em focinhos
de golfinho. Eu sabia que, se o pressionasse, o sr. D iria me mostrar coisas piores. Iria plantar uma doença no meu cérebro que me levaria a usar camisa-de-força
pelo resto da vida. - Gostaria de me testar, criança? - disse em voz baixa. - Não. Não, senhor. O fogo diminuiu um pouco. Ele voltou ao jogo de cartas. - Acho que
ganhei. - Não exatamente sr. D - disse Quíron. Ele baixou uma seqüência, contou os pontos e disse: - O jogo é meu.

Achei que o sr. D fosse transformar Quíron em pó em sua cadeira de rodas, mas ele apenas suspirou pelo nariz, como se estivesse acostumado a ser batido pelo professor
de latim. Pôs-se de pé, e Grover levantou-se também. - Estou cansado - disse o sr. D. - Acho que vou tirar uma soneca antes da cantoria desta noite. Mas primeiro,
Grover, precisamos conversar de novo sobre seu desempenho para lá de imperfeito nessa missão. O rosto de Grover cobriu-se de gotículas de suor. - S-sim, senhor.
O sr. D voltou-se para mim. - Chalé 11, Percy Jackson. E cuidado com seus modos. Ele se afastou para dentro da casa, com Grover o seguindo arrasado. - Grover vai
ficar bem? - perguntei a Quíron. Quíron assentiu, embora parecesse um pouco perturbado. - O velho Dionisio não está realmente zangado. Ele apenas detesta seu trabalho.
Ele foi... ahn, confinado à Terra, pode-se dizer, e não pode agüentar ter de esperar mais um século antes de ser autorizado a voltar ao Olimpo. - O Monte Olimpo
- disse eu. - Você está me dizendo que realmente existe um palácio ali? - Bem, agora há o Monte Olimpo na Grécia. E há o lar dos deuses, o ponto de convergência
dos seus poderes, que de fato costumava ser no Monte Olimpo. Ainda é chamado de Monte Olimpo, por respeito às tradições, mas o palácio muda de lugar, Percy, assim
como os deuses. - Você quer dizer que os deuses gregos estão aqui? Tipo... nos Estados Unidos? - Bem, certamente. Os deuses mudam com o coração do Ocidente. - O
quê? - Vamos, Percy. O que vocês chamam de civilização ocidental. Você acha que é apenas um conceito abstrato? Não, é uma força viva. Uma consciência coletiva que
ardeu brilhantemente por milhares de anos. Os deuses são parte dela. Você pode até dizer que eles são sua fonte ou, pelo menos, que estão ligados tão intimamente
a ela que possivelmente não vão deixar de existir, a não ser que toda a civilização ocidental seja destruída. A chama começou na Grécia. Então, como você bem sabe...
ou espero que saiba, já que foi aprovado no meu curso... o coração da chama se mudou para Roma, e assim fizeram os deuses. Ah, com nomes diferentes, talvez: Júpiter
em vez de Zeus, Vênus em vez de Afrodite, e assim por diante; mas as mesmas forças, os mesmos deuses. - E então eles morreram. - Morreram? Não. O Ocidente morreu?
Os deuses simplesmente se mudaram, para a Alemanha, para a França, para a Espanha, por algum tempo. Aonde quer que a chama brilhasse mais, lá estavam os deuses.
Eles passaram vários séculos na Inglaterra. Tudo o que você precisa é olhar para a arquitetura. As pessoas não esquecem os deuses. Em todos os lugares onde reinaram,
nos últimos três mil anos, você pode vê-los em pinturas, em estátuas, nos prédios mais importantes. E sim, Percy, é claro que agora eles estão nos Estados Unidos.
Olhe para o símbolo do país, a águia de Zeus. Olhe para a estátua de Prometeu no Rockfeller Center, para as fachadas dos edifícios governamentais em Washington.
Eu o desafio a encontrar qualquer cidade americana onde os olimpianos não estejam proeminentes expostos em vários locais. Goste ou não ­ e acredite, uma porção de
gente não gostava muito de Roma também -, os Estados Unidos são agora o coração da chama. São a grande potencia do Ocidente. E, portanto, o Olimpo é aqui. E nós
estamos aqui.

Aquilo tudo foi demais para mim, especialmente o fato de que eu parecia estar incluído no nós de Quíron, como se fizesse parte do mesmo clube. - Quem é você, Quíron?
Quem... quem eu sou? Quíron sorriu. Ele mudou de posição, como se fosse levantar da cadeira de rodas, mas eu sabia que era impossível. Era paralítico da cintura
para baixo. - Quem é você? - ele ficou pensativo. - Bem, essa é a pergunte que todos queremos ver respondida, não é? Mas, por enquanto, temos de lhe arranjar um
beliche no chalé 11. Ali haverá novos amigos para conhecer. E tempo à vontade para as aulas amanhã. Alem disso, haverá guloseimas em volta da fogueira esta noite,
e eu simplesmente adoro chocolate. E então ele se levantou da cadeira de rodas. Mas havia algo de estranho no modo como ele fez isso. A manta caiu de cima das pernas,
mas elas não se moveram. A cintura foi ficando mais longa, erguendo-se acima do cinto. De início, pensei que estivesse usando roupas de baixo muito compridas de
veludo branco, mas à medida que ele foi ser erguendo da cadeira, mais alto que qualquer homem, percebi que a roupa de baixo de veludo não era roupa de baixo; era
a parte da frente de um animal, músculos e tendões sob um pêlo branco e áspero. E a cadeira de rodas não era uma cadeira. Era algum tipo de recipiente, uma enorme
caixa sobre rodas, e devia ser mágica, porque não havia como ela contê-lo inteiro. Uma perna saiu, comprida e com joelho saliente, com um grande casco polido. Depois
outra perna dianteira, depois a parte traseira, e depois a caixa ficou vazia, nada além de uma casca de metal com um par de pernas humanas acoplado. Olhei para o
cavalo que acabara de pular da cadeira de rodas: um enorme corcel branco. Mas, onde devia estar o seu pescoço, estava a parte de cima do corpo do meu professor de
latim, suavemente enxertada no tronco do cavalo. - Que alívio - disse o centauro. - Fiquei tanto tempo confinado lá dentro que minhas juntas adormeceram. Agora venha,
Percy Jackson. Vamos conhecer os outros campistas.

SEIS ­ Minha transformação em senhor do banheiro.
Depois que assimilei o fato de meu professor de latim ser um cavalo, fizemos um passeio agradável, embora tivesse o cuidado de não andar atrás dele. Havia participado
algumas vezes das rondas com pazinhas para recolher cocô de cachorro na Parada do Dia de Ação de Graças da loja Macy's e, lamento dizer, não confiava na parte de
trás de Quíron tanto quanto confiava na da frente. Passamos pela quadra de vôlei. Diversos campistas se cutucavam. Um deles apontou para o chifre de minotauro que
eu carregava. Um outro disse: - É ele. A maioria dos campistas era mais velha que eu. Seus amigos sátiros eram maiores que Grover, todos trotando de um lado para
outro de camisetas cor de laranja do ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE, sem nada para cobrir os traseiros peludos à mostra. Eu normalmente não era tímido, mas o modo como
olhavam para mim me deixou pouco à vontade. Era como se esperassem que eu desse um salto mortal ou coisa assim. Olhei para a casa de fazenda trás de mim. Era muito
maior do que eu pensara - quatro andares, azul-céu com acabamento em branco, como um hotel de veraneio de primeira classe à beira-mar. Eu estava conferindo o cata-vento
de latão em forma de águia no topo quando algo me chamou a atenção, uma sombra na janela mais alta do sótão. Alguma coisa havia mexido na cortina, só por um segundo,
e tive a nítida impressão de que estava sendo observado. - O que há lá em cima? - perguntei a Quíron. Ele olhou para onde eu estava apontando e seu sorriso desapareceu:
- Apenas o sótão. - Mora alguém lá? - Não - disse em tom definitivo. - Nem uma única coisa viva. Tive a sensação de que ele falava a verdade. Mas também tinha certeza
de que algo havia mexido naquela cortina. - Venha, Percy - disse Quíron, o tom despreocupado agora um pouco forçado. - Há muito para ver. Caminhamos pelos campos
de morangos, onde campistas colhiam alqueires de morangos enquanto um sátiro tocava uma melodia numa flauta de bambu. Quíron me contou que o acampamento cultivava
uma bela safra para exportar para os restaurantes de Nova York e para o Monte Olimpo. - Paga as nossas despesas - explicou. - E os morangos não exigem esforço quase
nenhum. Ele disse que o sr. D produzia esse efeito sobre plantas frutíferas: elas simplesmente enlouqueciam quando ele estava por perto. Funcionava melhor com as
vinhas, mas o sr. D estava proibido de cultivá-las, portanto, em vez delas eles plantavam morangos. Observei o sátiro tocando a flauta. A música fazia com que filas
de insetos saíssem dos canteiros de morangos em todas as direções, como se fugissem de um incêndio. Imaginei se Grover pod i a f azer esse t ipo mágica com música.
Imaginei se ainda estava dentro da casa, levando broncas do sr. D. - Grover não vai ter muitos problemas, vai? - perguntei a Quíron. - Quer dizer... ele foi um bom
protetor. Sem dúvida. Q u ír o n s us p ir o u. T ir o u o c as ac o de tweed e jogou-o por cima do seu lombo de cavalo, como uma sela.

- Grover sonha alto , Percy. Talvez mais alto do que seria razoável. Para atingir seu objetivo, ele precisa primeiro demonstrar uma grande coragem tendo sucesso
como guardião, encontrando um novo campista e trazendo-o em segurança à Colina Meio-Sangue. - Mas ele fez isso! - Eu poderia concordar com você - disse Quíron. -
Mas não cabe a mim julgar. Dioniso e o Conselho dos Anciãos de Casco Fendido devem decidir. Receio que possam não ver essa missão como um sucesso. Afinal, Grover
perdeu você em Nova York, há o desventurado... ahn... destino da sua mãe. E o fato de que Grover estava inconsciente quando você o arrastou a t é o s l i m i t e
s da propriedade. O conselho pode questionar se isso demonstra alguma coragem da parte de Grover. Eu quis protestar. Nada do que acontecera havia sido por culpa
de Grover. Também me sentia muito, muito culpado. Se não tivesse escapado de Grover na estação de ônibus, ele poderia não ter se envolvido em encrenca. - Ele vai
ter uma segunda chance, não vai? Quíron retraiu-se. Infelizmente aquela era a segunda chance de Grover, Percy. Além disso, o conselho não estava muito ansioso em
lhe dar outra oportunidade depois do que aconteceu na primeira vez, cinco anos atrás. - O Olimpo sabe, eu o aconselhei a esperar mais tempo antes de tentar de novo.
Ele ainda é muito pequeno para a sua idade. - Que idade ele tem? - Ah, vinte e oito. - O quê! E ainda está na sexta série? - Os sátiros amadurecem no dobro do tempo
dos seres humanos, Percy. Grover teve idade equivalente à de um aluno de escola secundária nos últimos seis anos. - Que coisa horrível. - De fato - concordou Quíron.
- De qualquer modo, Grover está atrasado, mesmo pelos padrões de sátiro, e ainda não avançou muito em magia dos bosques. O pobre estava ansioso por perseguir o seu
sonho. Talvez agora encontre alguma outra carreira... - Isso não é justo! - disse eu. - O que aconteceu na primeira vez? Foi mesmo assim tão ruim? Quíron desviou
os olhos depressa. - Vamos andando? Mas eu ainda não estava pronto para mudar de assunto. Uma coisa me ocorrera quando Quíron falou sobre o destino de m i n h a
mãe, como se estivesse intencionalmente evitando a palavra morte. O princípio de uma ideia - uma pequenina e esperançosa chama - começou a se formar em minha cabeça.
- Quíron - disse eu. - Se os deuses, o Olimpo e tudo isso são reais... - Sim, criança? - Isso significa que o Mundo Inferior também é real? A expressão de Quíron
se fechou. - Sim, criança. - Ele fez uma pausa, como se estivesse escolhendo as palavras cuidadosamente. - Há um

lugar para onde vão os espíritos após a morte. Mas por ora... até que saibamos mais...eu recomendaria que tirasse isso de sua cabeça. - O que q uer dizer com "até
que saibamos mais"? - Venha, Percy. Vamos ver os bosques. Quando nos aproximamos, me dei conta de como a floresta era enorme. Tomava pelo menos um quarto do vale,
com árvores tão altas e largas que a impressão era de que ninguém entrara lá desde os nativos americanos. Q u ír o n d i s s e : - Os bosques têm provisões, se você
quiser tentar a sorte, - Provisões de quê? ­ perguntei. - Armado com o quê? - Você verá. O jogo Capture a Bandeira é na sexta-feira à noite. Você tem a sua própria
espada e escudo? - Minha própria...? - Não - disse Quíron. - Não creio que tenha. Acho que o tamanho cinco vai servir. Mais tarde vou visitar o arsenal. Quis perguntar
que tipo de acampamento de verão tem um arsenal, mas havia muito mais a pensar, portanto o passeio continuou. Vimos a linha de tiro com arco-e-flecha, o lago de
canoagem, o s estábulos (dos quais Quíron parecia não gostar muito), a linha de lançamento de dardo, o anfiteatro para cantoria e a arena onde Quíron disse que eles
realizavam lutas de espadas e lanças. - Lutas de espadas e lanças? - perguntei. - Desafios entre chalés e coisas assim - explicou ele. - Não são letais. Normalmente.
Ah, sim, e há também o refeitório. Quíron apontou para um pavilhão ao ar livre emoldurado por colunas gregas brancas sobre uma colina que dava para o mar. Havia
uma dúzia de mesas de piquenique de pedra. Sem telhado. Sem paredes. - O que vocês fazem quando chove? - perguntei. Quíron me olhou como se eu tivesse ficado meio
maluco. - Ainda assim temos de comer, não temos? Resolvi deixar para lá. Finalmente, ele me mostrou os chalés. Havia doze deles ani nhados no bosque junto ao lago.
Estavam dispostos em U, dois na frente e cinco enfileirados de cada lado. E eram, sem d ú vi d a , o mais estranho conjunto de construções que já vi. A não ser pelo
fato de cada um ter um grande número de latão acima da porta (ímpares do lado esquerdo, pares do direito), eram totalmente diferentes um do outro. O número 9 tinha
chaminés como uma minúscula fábrica. O número 4 tinha tomateiros nas paredes e uma cobertura feita de grama de verdade. O 7 parecia feito de um ouro sólido que reluzia
tanto à luz do sol q ue er a quase impossível de se olhar. Todos davam para uma área comum mais ou menos do tamanho de um campo de futebol, p o n t i l h a d a de
estátuas gregas, fontes, canteiros de flores e um par de cestos de basquete (o que era mais a minha praia). No centro do campo havia uma enorme área de pedras com
uma fogueira. Muito embora fosse uma tarde quente, o fogo ardia de modo lento. Uma menina com cerca de nove anos estava cuidando das chamas, cutucando os carvões
com uma vara. O par de chalés à cabeceira do campo, números 1 e 2, pareciam mausoléus casadinhos, grandes caixas de mármore branco com colunas pesadas na frente.
O chalé 1 era o maior e mais magnífico dos doze.

As portas de bronze polido cintilavam como um holograma, de tal modo que, vistas de ângulos diferentes, raios pareciam atravessá-las. O chalé 2 era de certo modo
mais gracioso, com colunas mais finas encimadas com romãs e flores. As paredes eram entalhadas com imagens de pavões. - Zeus e Hera? - adivinhei. - Correto - disse
Quíron. - Os chalés parecem vazios. - Diversos chalés estão vazios. è verdade. Ninguém jamais fica no 1 ou 2. Certo. Então cada chalé tinha um deus diferente como
mascote e chalés para os doze olimpianos. Mas por que alguns estariam vazios? Parei na frente do primeiro chalé da esquerda, o número 3. Não er a alto e imponente
como o chalé 1, mas comprido, baixo e sólido. As paredes externas eram de pedras cinzentas rústicas salpicadas de pedaços de conchas e coral, como se as pedras tivessem
sido cortadas diretamente do fundo do oceano. Espiei para dentro da porta aberta e Quíron disse: - Ih, eu não faria isso! Antes que ele pudesse me puxar de volta,
senti o odor salgado do interior, como o vento na praia de Montauk. As paredes internas brilhavam como madrepérola. Havia seis beliches vazios com lençóis de seda
virados para baixo. Mas não havia indício de que alguém já tivesse dormido lá. O lugar parecia tão triste e solitário q u e f i q u e i contente quando Quíron pôs
a mão no meu ombro. - Vamos, Percy. A maioria dos outros chalés estava abarrotada de campistas. O numero 5 era vermelho vivo - uma pintura muito malfeita, como se
a cor tivesse sido jogada a esmo com baldes e mãos. O telhado era forrado de arame farpado. Uma cabeça de javali empalhada estava pendurada acima da porta e seus
olhos pareciam me seguir. Dentro pude ver um bando de meninos e meninas mal-encar ados, disputando queda-de-braço e discutindo enquanto o rock tocava às alturas.
A mais barulhenta era uma menina de talvez treze ou quatoreze anos. Usava uma camiseta do ACAMAPMENTO MEIO-SANGUE tamanho GGG embaixo de um casaco camuflado. Ela
mirou em mim e lançou um maldoso olhar de desprezo. Fez lembrar Nancy Bobofit, só que a menina do acampamento era muito maior e de aparência mais cruel, seu cabelo
era comprido, esticado e castanho, em vez de vermelho. Continuei andando, tentando ficar longe dos cascos de Quíron. - Ainda não vimos os centauros ­ observei. -
Não - disse Quíron chateado. - Infelizmente, meus parentes são uma gente selvagem e bárbara. Você pode encontrá-los no mato ou em eventos desportivos importantes.
Mas não verá nenhum aqui. - Você disse que seu nome é Quíron. Você é mesmo... Ele sorriu para mim. - O Quíron das histórias? Instrutor de Hércules e tudo aquilo?
Sim, Percy, eu sou. - Mas você não devia estar morto? Quíron fez uma pausa, como se a pergunta o intrigasse.

- Honestamente, não sei nada sobre devia. A verdade é que eu não posso estar morto. Entenda, há muitas eras os deuses concederam meu desejo. Pude continuar o trabalho
que adorava. Pude ser um mestre de heróis enquanto a humanidade precisasse de mim. Ganhei muito com aquele desejo... e renunciei a muito. Mais ainda estou aqui,
portanto só posso presumir que ainda sou necessário. Pensei sobre ser um professor de três mil anos. Isso não estaria na minha lista das Dez Coisas Mais Desejadas.
- Isso nunca fica chato? - Não, não - disse ele. - Horrivelmente deprimente às vezes, mas nunca chato. - Por que deprimente? Quíron pareceu ficar com alguma deficiência
auditiva de novo. - Ah, olhe - disse ele. - Annabeth está esperando por nós. ***** A menina loira que eu conhecera na Casa Grande estava lendo um livro na frente
do último chalé da esquerda, o número 11. Quando nos aproximamos, ela olhou para mim com um ar crítico, como se ainda estivesse pensando em como eu babava. Tentei
ver o que ela estava lendo, mas não consegui distinguir o título. Achei que fosse minha dislexia em ação. Então me dei conta de que o título não era sequer em inglês.
As letras pareciam grego para mim. Quer dizer, literalmente grego. Havia figuras de templos e estátuas e diferentes tipos de colunas, como em um livro de arquitetura.
- Annabeth - disse Quíron - eu tenho aula de arco-e-flecha para mestres ao meio-dia. Você cuidaria de Percy a partir daqui? - Sim, senhor. - Chalé 11 - disse Quíron
para mim, fazendo um gesto em direção à porta. - Sinta-se em casa. Entre todos os chalés, o 11 era o que mais parecia um velho chalé comum de acampamento de verão,
com ênfase no velho. A soleira estava desgastada, a pintura marrom, descascando. Acima do vão da porta havia um daqueles símbolos de médico, um bastão alado com
duas serpentes enroscadas nele. Como é mesmo que chamavam aquilo...? Um caduceu. Dentro, estava abarrotado de gente, meninos e meninas, em muito maior número que
os beliches. Sacos de dormir estavam espalhados por todo piso. Parecia um ginásio onde a Cruz Vermelha estabelecera um centro de refugiados. Quíron não entrou. A
porta era muito baixa para ele. Mas quando os campistas o viram, todos se puseram em pé e fizeram uma reverência respeitosa. - Então tudo bem - disse Quíron. - Boa
sorte, Percy. Vejo você no jantar. Ele partiu a galope ruma à linha de arco-e-flecha. Fiquei em pé no vão da porta, olhando para a garotada. Não estavam mais se
curvando. Olhavam para mim, medindo-me com os olhos. Conheço essa rotina. Havia passado por ela em muitas escolas. - Tudo bem? - instigou Annabeth. - Vá em frente.
Então, naturalmente, tropecei ao passar pela porta e fiz um completo papel de bobo. Houve algumas

risadinhas dos campistas, mas nenhum deles disse nada. Annabeth anunciou: - Percy Jackson, apresento-lhe o chalé 11. - Normal ou indeterminado? - perguntou alguém.
Eu não sabia o que dizer, mas Annabeth disse: - Indeterminado. Todos gemeram. Um cara que era um pouco mais velho que o restante chegou para frente. - Vamos, vamos,
campistas. É para isso que estamos aqui. Bem-vindo, Percy. Você pode ficar com aquele ponto no chão logo ali. O cara tinha cerca de dezenove anos e parecia muito
legal. Era alto e musculoso, com cabelo com cor de areia aparado curto e um sorriso amigável. Usava uma camiseta regata laranja, calças cortadas, sandálias e um
colar de couro com cinco contas de argila em cores diferentes. A única coisa perturbadora na sua aparência era uma grossa cicatriz branca que corria desde logo abaixo
do olho direito até o queixo, como um antigo corte de faca. - Este é Luke - disse Annabeth, e sua voz pareceu mudar um pouco. Dei uma olhada nela e poderia ter jurado
que estava ficando vermelha. Ela me viu olhando e sua expressão endureceu de novo. - Ele é seu conselheiro por enquanto. - Por enquanto? - perguntei. - Você é indeterminado
- explicou Luke pacientemente. - Eles não sabem em que chalé acomodá-lo, então você está aqui. O chalé 11 recebe todos os recém-chegados, todos os visitantes. Naturalmente
Hermes, nosso patrono, é o deus dos viajantes. Olhei para o minúsculo espaço de chão que eles me deram. Eu não tinha nada para pôr ali e marcá-lo como meu, nenhuma
bagagem, nenhuma roupa, nenhum saco de dormir. Apenas o chifre do Minotauro. Pensei em colocá-lo ali, mas então lembrei que Hermes era também o deus dos ladrões.
Corri os olhos pelos rostos dos campistas, alguns mal-humorados e desconfiados, outros com um sorriso idiota, alguns me olhando como se esperassem uma oportunidade
de limpar os meus bolsos. - Quanto tempo vou ficar aqui? - perguntei. - Boa pergunta - disse Luke. - Até você ser determinado. - Quanto tempo isso vai levar? Todos
os campistas riram. - Venha - disse Annabeth. - Vou lhe mostrar o pátio de vôlei. - Eu já vi. - Venha. Ela agarrou meu pulso e me arrastou para fora. Pude ouvir
o pessoal do chalé dando risadas atrás de mim. *****

Quando estávamos a poucos metros de distancia, Annabeth disse: - Jackson, voce precisa fazer melhor do que isso. - O quê? Ela revirou os olhos e murmurou baixinho:
- Não posso acreditar que achei que voce fosse o cara. - Qual é o seu problema? - Eu agora estava ficando zangado. - Tudo o que sei é que matei um sujeitotouro...
- Não fale assim! - disse Annabeth. - Você sabe quantos neste acampamento gostariam de ter tido a sua chance? - De ser mortos? - De enfrentar o Minotauro! Para que
voce acha que nós somos treinados? Eu sacudi a cabeça. - Olhe, se a coisa contra a qual eu lutei era realmente o Minotauro, o mesmo das histórias... - Sim. - Então
só existe um. - Sim. - E ele morreu, tipo um zilhão de anos atrás, certo? Teseu o matou no labirinto. Portanto... - Monstros não morrem, Percy. Eles podem ser mortos.
Mas eles não morrem. - Ah, obrigado. Agora entendi tudo. - Eles não têm alma, como voce e eu. Você pode bani-los por algum tempo, talvez até por todo uma vida, se
tiver sorte. Mas eles são forças primitivas. Quíron os chama de arquétipos. No fim, eles se reconstituem. Pensei na sra. Dodds. - Você quer dizer que se eu matei
um, acidentalmente, com uma espada.... - A Fúr... Quer dizer, a sua professora de matemática. Está certo. Ela ainda está lá fora. Você apenas a deixou muito, muito
zangada. - Como você sabe da sra. Dodds? - Você fala dormindo. - Você quase a chamou de alguma coisa. Uma Fúria? Elas são torturadoras de Hades, certo? Annabeth
olhou nervosamente para o chão, como se esperasse que ele se abrisse e a engolisse. - Você não deve chamá-las pelo nome, mesmo aqui. Se acabamos tendo de falar nelas,
nós as achamos de as Benevolentes. - Puxa, existe alguma coisa que se possa dizer sem que haja trovões? - Eu soie reclamão, até para mim

mesmo, mas naquele momento não me importei. - Por que tenho de ficar no chalé 11, afinal? Por que fica todo mundo amontoado? Há uma porção de beliches vazios logo
ali. Apontei para os primeiros chalés e Annabeth empalideceu. - A gente não escolhe simplesmente um chalé, Percy. Depende de quem são seus progenitores. Ou... o
seu progenitor. Ela olhou fixamente para mim, esperando que eu entendesse. - Minha mãe é Sally Jackson - disse eu. - Trabalha na doceria da Grande Estação Central.
Pelo menos trabalhava. - Sinto muito pela sua mãe, Percy. Mas não é isso que eu quis dizer. Estou falando sobre seu outro progenitor. Seu pai. - Ele está morto.
Não cheguei a conhecê-lo. Annabeth suspirou. Era claro que já tivera aquela conversa com outras crianças: - Seu pai não está morto, Percy. - Como pode dizer isso?
Você o conhece? - Não, é claro que não. - Então como você pode dizer... - Porque eu conheço você. Você não estaria aqui se não fosse um de nós. - Você não sabe nada
a meu respeito. - Não? - Ela ergueu uma sombrancelha. - Aposto que você ficou passando de escola em escola. Aposto que foi expulso de uma porção delas. - Como...
- Teve diagnóstico de dislexia. Provavelmente transtorno do déficit de atenção também. Tentei engolir meu constragimento. - O que isso tem a ver? - Tudo junto, é
quase um sinal certo. As letras flutuam para fora da página quando você lê, certo? Isso é porque a sua mente está fisicamente programada para o grego antigo. E o
transtorno do déficit de atenção... você é impulsivo, não consegue ficar quieto na classe. Isso são os seus reflexos de campo de batalha. Numa luta real, eles o
manterão vivo. Quanto aos problemas de atenção, isso é porque enxerga demais, Percy, e não de menos. Seus sentidos são mais aprimorados que os de um mortal comum.
É claro que os professores querem que você seja medicado. Eles são em maioria monstros. Não querem que você os veja como são. - Você parece... você passou pelas
mesmas coisas? - A maioria das crianças daqui passou. Se você não fosse um de nós, não poderia ter sobrevivido ao Minotauro, e muito menos à ambrosia e ao néctar.
- Ambrosia e néctar. - A comida e a bebida que estávamos dando a você para curá-lo. Aquilo teria matado um garoto normal. Teria transformado seu sangue em fogo e
seus ossos em areia e você estaria morto. Encare os fatos.

Você é um meio-sangue. Um meio-sangue. Minha cabeça estava girando com tantas perguntas que eu não sabia por onde começar. - Ora, ora! Um novato! Eu dei uma olhada.
A menina grandalhona do chlá feio e vermelho vinha andando lentamente em nossa direção. Havia três outras meninas atrás dela, todas grandes, feias e de aparencia
malvada como ela, todas usando casacos camuflados. - Clarisse - suspirou Annabeth -, por que você não vai polir sua lança ou coisa assim? - Claro, srta. Princesa
- disse a grandalhona. - Para poder atravessar você com ela na sexta-feira à noite. - Erre es korakas! - disse Annabeth, o que eu de algum modo entendi que era Vá
para os corvos! em grego, embora tivesse a sensação de que devia ser uma praga pior do que parecia. - Você não tem chance. - Vamos transformá-la em pó - disse Clarisse,
mas seu olho se crispou. Talvez ela não tivesse certeza de poder cumprir a ameaça. Voltou-se para mim. - Quem é esse nanico? - Percy Jackson - disse Annabeth -,
esta é Clarisse, filha de Ares. Eu pisquei. - Tipo... o deus da guerra? Clarisse sorriu desdenhosa. - Você tem algum problema com isso? - Não - disse eu, recobrando
minha presença de espírito. - Isso explica o mau cheiro. Clarisse rosnou. - Nós temos uma cerimônia de iniciação para novatos, Persiana. - Percy. - Seja o que for.
Venha, vou lhe mostrar. - Clarisse... - Annabeth tentou dizer. - Fique fora disso, espertinha. Annabeth pareceu ofendida, mas ficou de fora, e eu realmente não queria
a ajuda dela. Eu era o novato. Tinha de construir minha própria reputação. Entreguei a Annabeth meu chifre de minotauro e me preparei para a luta, mas antes que
eu percebesse Clarisse tinha me segurado pelo pescoço e me arrastava na direção de um edifício de blocos de concreto que percebi imediatamente que era o banheiro.
Eu chutava e dava murros no ar. Já tinha estado em muitas brigas antes, mas aquela Clarisse grandalhona tinha mãos de ferro. Arrastou-me para dentro do banheiro
das meninas. Havia uma fileira de vasos sanitários de um lado e uma fileira de chuveiros do outro. Cheirava como qualquer banheiro público, e eu estava pensando
- tanto quanto podia pensar com Clarisse me arrancando os cabelos - que se aquele lugar pertencia aos deuses, eles deviam poder comprar privadas melhores.

As amigas de Clarisse estavam todas rindo, e eu tentava encontrar a força que usara para enfrentar o Minotauro, mas ela simplesmente não estava lá. - Como se ele
fosse dos Três Grandes - disse Clarisse, me empurrando em direção a um dos vasos. Certo. O Minotauro provavelmente caiu na risada, de tão bobo que ele parecia. As
amigas abafaram o riso. Annabeth ficou no canto, observando através dos dedos. Clarisse me forçou sobre os joelhos e começou a empurrar minha cabeça para dentro
do vaso sanitário, que fedia a canos enferrujados e, bem, ao que vai para dentro de vasos sanitários. Fiz esforço para manter a cabeça erguida. Estava olhando para
a água imunda e pensando: eu não vou enfiar a cabeça naquilo. Não vou. Então algo aconteceu. Senti uma pressão violenta na boca do estômago. Ouvi os encanamentos
roncando, os canos estremeceram. A mão de Clarisse no meu cabelo afrouxou. A água pulou para fora do vaso, formando um arco por cima da minha cabeça, e em seguida
me vi estatelado sobre os ladrilhos do piso do banheiro com Clarisse berrando atrás de mim. Eu me virei bem no momento em que a água explodiu para fora do vaso outra
vez, atingindo Clarisse bem no rosto com tanta força que a fez cair de traseiro no chão. A água continuou jorrando em cima dela como o jato de uma mangueira de incêndio,
empurrando-a para trás, para dentro de um boxe de chuveiro. Ela se debateu, esbaforida, e as amigas começaram a ir em sua direção. Mas então os outros vasos também
explodiram, e mais seis jorros de água de privada as empurravam de volta. Os chuveiros também entraram em ação e, em conjunto, todos os dispositivos lançaram as
meninas camufladas para fora do banheiro, fazendo-as rodopiar como pedaços de lixo sendo removidos com jatos d'água. Assim que elas foram postas porta afora, sentia
a pressão nas minhas entranhas se aliviar, e a água parou de jorrar tão depressa quanto começara. O banheiro inteiro estava inundado. Annabeth não tinha sido poupada.
Estava toda molhada e pingando, mas não fora empurrada para fora. Estava de pé exatamente no mesmo lugar me olhando em estado de choque. Olhei para baixo e me dei
conta de que estava sentado no único ponto seco em todo o recinto. Havia um círculo de piso seco em volta de mim. Não havia nem uma gota d'água nas minhas roupas.
Nada. Levantei com as pernas trêmulas. Annabeth disse: - Como você... - Eu não sei. Caminhamos até a porta. Do lado de fora, Clarisse e as amigas estavam prostadas
na lama e um bando de outros campistas se reunira em volta para olhar, perplexos. O cabelo de Clarisse estava colado no rosto. O casaco camuflado estava encharcado
e ela cheirava a esgoto. Ela me lançou um olhar de ódio absoluto. - Você está morto, novato. Está totalmente morto. Talvez eu devesse ter deixado pra lá, mas disse:
- Quer gargarejar com água da privada de novo, Clarisse? Cale essa boca. As amigas tiveram de segurá-la. Arrastaram-na para o chalé 5, enquanto os outros campistas
abriam caminho para evitar seus membros que esperneavam.

Annabeth olhou para mim. Eu nãos abia dizer se ela estava apenas enjoada ou zangada comigo por encharcá-la. - O que foi? - perguntei. - O que está pensando? - Estou
pensando - disse ela - que quero você no meu time para capturar a bandeira.

SETE ­ Meu jantar se esvai em fumaça.
A notícia do incidente no banheiro se espalhou na mesma hora. Aonde quer que eu fosse, os campistas apontavam para mim e murmuravam algo sobre água de vaso sanitário.
Ou talvez apenas olhassem para Annabeth, que ainda estava bastante encharcada. Ela me mostrou mais alguns lugares: a oficina de metais (onde as crianças forjavam
as próprias espadas), a sala de artes e ofícios (onde os sátiros jateavam com areia uma estátua gigante de um home-bode) e a parede para escalada, que na verdade
consistia em duas paredes que se sacudiam violentamente, deixavam cair rochas, espalhavam lava e colidiam uma com a outra se a gente não chegasse ao topo bem depressa.
Finalmente retornamos ao lado de canoagem, de onde a trilha levava de volta aos chalés. - Tenho treinamento - disse Annabeth secamente. - O jantar é às sete e meia.
Você só tem de seguir o pessoal do chalé até o refeitório. - Annabeth, desculpe pelos sanitários. - Não importa. - Não foi minha culpa. Ela me olhou com ar cético
e me dei conta de que tinha sido minha culpa. Eu havia feito a água jorrar no banheiro. Não entendia como. Mas os vasos tinham respondido a mim. Era como se eu fosse
um dos canos. - Você precisa falar com o Oráculo - disse Annabeth. - Quem? - Não quem. O quê. O Oráculo. Vou pedir a Quíron. Olhei para o lago, desejando que alguém
me desse uma resposta direta pelo menos uma vez. Eu não esperava que alguém estivesse olhando de volta para mim do fundo, portanto meu coração deu um pulo quando
notei duas meninas adolescente sentadas de pernas cruzadas na base do píer, cerca de seis metros abaixo. Vestiam jeans e camisetas verdes cintilantes, e os cabelos
castanhos flutuavam soltos em volta dos ombros enquanto peixinhos passavam por entre eles. Elas sorriram e acenaram como se eu fosse um amigo há muito perdido. Eu
não sabia que outra coisa fazer. Acenei de volta. - Não as encoraje - advertiu Annabeth. - As náiades são flertadoras incontroláveis. - Náiades - repeti, sentindo-me
completamente estupefado. - Já chega. Quero ir para casa agora. Annabeth franziu as sobrancelhas. - Você não percebe, Percy? Você está em casa. Este é o único lugar
na terra seguro para crianças como nós. - Você quer dizer crianças mentalmente perturbadas? - Eu quero dizer não-humanas. Não totalmente humanas, de qualquer modo.
Meio humanas. - Meio humanas e meio o quê?

- Acho que você sabe. Eu não queria admitir, mas sabia, sim. Senti um formigamento nos membros, uma sensação que às vezes me tomava quando minha mãe falava sobre
meu pai. - Deusas - disse eu. - Meio deusas. Annabeth assentiu. - Seu pai não está morto, Percy. Ele é um dos olimpianos. - Isso é... loucura. - Será? Qual é a coisa
mais comum que os deuses faziam nas velhas histórias? Eles andavam por aí se apaixonando por seres humanos e tendo filhos com eles. Você pensa que eles mudaram os
hábitos nos últimos poucos milênios? - Mas isso são apenas... - Eu quase disse mitos de novo. Então me lembrei do aviso de Quíron de que daqui a dois mil anos eu
poderia ser considerado um mito. - Mas se todos aqui são meio deuses... - Semideuses - disse Annabeth. - Esse é o termo oficial. Ou meio-sangues. - Então quem é
seu pai? As mãos dela se apertaram em volta da balaustrada do píer. Tive a sensação de que acabara de tocar em um assunto delicado. - Meu pai é um professor em West
Point - disse ela. - Não vejo desde que era muito pequena. Ele ensina História Americana. - Ele é humano. - O quê? Está pensando que tem de ser um deus homem encontrando
uma mulher humana atraente, e não o contrário? Sabe que isso é machismo? - Então quem é sua mãe? - Chalé 6. - O que significa? Annabeth endireitou o corpo. - Atena.
Deusa da sabedoria e da guerra. Certo, pensei. Por que não? - E meu pai? - Indeterminado - disse Annabeth, como eu lhe disse antes. Ninguém sabe. - A não ser a minha
mãe. Ela sabia. - Talvez não, Percy. Os deuses nem sempre revelam sua identidade. - Meu pai teria revelado. Ele a amava. Annabeth me deu uma olhada cautelosa. Ela
não queria acabar com as minhas ilusões.

- Talvez você esteja certo. Talvez ele vá enviar um sinal. Esse é o único modo de saber com certeza: seu pai tem de mandar a você um sinal reclamando você como filho.
Às vezes isso acontece. - Quer dizer que às vezes não acontece? Annabeth correu a palma da mão pela balaustrada. - Os deuses são atarefados. Eles têm uma porção
de filhos, e nem sempre... Bem, às vezes eles não se importam conosco, Percy. Eles nos ignoram. Pensei em algumas das crianças que tinha visto no chalé de Hermes,
adolescentes que pareciam malhumorados e deprimidos, como se estivessem esperando por um chamado que nunca viria. Conhecera crianças assim na Academia Yancy, descartadas
para internatos por pais ricos que não tinham tempo para lidar com elas. Mas os deuses deviam se comportar melhor. - Então eu estou encalhado aqui - disse eu. -
É isso? Pelo resto da minha vida? - Depende - disse Annabeth. - Alguns campistas só ficam no verão. Se você é filho de Afrodite ou Demetra, provavelmente não é uma
força realmente poderosa. Os monstros podem ignorá-lo, e então você pode se arranjar com alguns meses de treinamento de verão e viver no mundo mortal pelo resto
do ano. Mas, para alguns de nós, sair é perigoso demais. Temos de ficar o ano inteiro. No mundo mortal, atraímos monstros. Eles percebem nossa presença. Vêm nos
desafiar. Na maioria das vezes eles nos ignoram ate termos idade suficiente para causar problemas - cerca de dez ou onze anos, mas depois disso muitos dos semideuses
vêem para cá ou são mortos. Alguns conseguem sobreviver no mundo exterior e se tornam famosos. Acredite, se eu lhe contasse os nomes você os conheceria. Alguns nem
sequer se dão conta de que são semideuses. Mas poucos, muito poucos são assim. - Então os monstros não podem entrar aqui? Annabeth sacudiu a cabeça. - Não, a não
ser que sejam intencionalmente mantidos nos bosques ou convocados por alguém de dentro. - Por que alguém ia querer convocar um monstro? - Para pratica de lutas.
Para pregar peças. - Pregar peças? - A questão é que as fronteiras são fechadas para manter os mortais e os monstros de fora. Do lado de fora, os mortais olham para
o vale e não vêem nada de inusitado, apenas plantações de morangos. - Então... você é uma campista de ano inteiro? Annabeth assentiu. De dentro da gola da camiseta
ela puxou um colar de couro com cinco contas de argila de cores diferentes. Era exatamente como o de Luke, só que o de Annabeth também tinha um grande anel de ouro
enfiado, como um anel de faculdade. - Estou aqui desde que tinha sete anos - disse ela. - Todo mês de agosto, no último dia da sessão de verão, a gente ganha uma
conta por sobreviver mais um ano. Estou aqui há mais tempo que a maioria dos conselheiros, e eles estão todos na faculdade. - Por que veio tão jovem? Ela girou o
anel no colar. - Não é da sua conta. - Ah. - Fiquei ali por um minuto em um silêncio constrangedor. - Então... Eu poderia simplesmente sair andando daqui agora mesmo,
se quisesse?

- Seria suicídio, mas você poderia, com a permissão do sr. D ou de Quíron. Mas eles não dariam permissão até o final da sessão de verão, a não ser... - A não ser?
- Que lhe seja concedida uma missão. Mas isso dificilmente acontece. Na última vez... A voz dela foi sumindo. Pude perceber pelo seu tom de voz que a última vez
não tinha ido muito bem. - Antes, quando estava doente no quarto - disse eu -, quando você dava de comer aquela coisa... - Ambrosia. - É. Você me perguntou algo
sobre o solstício de verão. Os ombros de Annabeth se contraíram. - Então você sabe alguma coisa? - Bem... não. Na minha antiga escola, ouvi por acaso Grover e Quíron
conversando sobre isso. Grover mencionou o solstício de verão. Ele disse algo como não termos muito tempo, por causa do prazo final. O que isso queria dizer? Ela
apertou os punhos. - Eu gostaria de saber. Quíron e os sátiros, eles sabem, mas não contaram para mim. Algo está errado no Olimpo, algo muito importante. Na última
vez em que estive lá, parecia tudo tão normal. - Você esteve no Olimpo? - Alguns de nós, campistas de ano inteiro... Luke, Clarisse, eu e poucos outros... fizemos
uma excursão durante o solstício de inverno. É quando os deuses fazem sua grande assembléia anual. - Mas... como chegou lá? - Pela Ferrovia de Long Island, é claro.
Você desce na Estação Penn. Empire State, seiscentésimo andar. - Ela me olhou como quem tinha certeza de que eu já sabia disso. - Você é nova-iorquino, certo? -
Ah, com certeza. - Até onde eu sabia, havia apenas cento e dois andares no Empire States, mas decidi não comentar isso. - Logo depois da visita - continuou Annabeth
-, o tempo ficou esquisito, como se os deuses tivessem começado a brigar. Uma ou duas vezes desde então, ouvi sátiros conversando. O máximo que posso deduzir é que
algo importante foi roubado. E, se não for devolvido até o solstício de verão, vai haver problemas. Quando você veio, eu estava esperando... quer dizer... Atena
pode se entender com qualquer um, a não ser Ares. E, é claro, ela tem uma rivalidade com Poseidon. Mas, quer dizer, fora isso, pensei que poderíamos trabalhar juntos.
Pensei que você pudesse saber alguma coisa. Sacudi a cabeça. Gostaria de poder ajudá-la, mas estava com fome, cansado e mentalmente sobrecarregado demais para fazer
mais perguntas. - Preciso conseguir uma missão - murmurou Annabeth consigo mesma. - Eu não sou jovem demais. Se eles ao menos me contassem qual é o problema. Senti
cheiro de churrasco vindo de algum lugar por perto. Annabeth deve ter ouvido meu estômago roncar. Disse-me para ir em frente, que me alcançaria depois. Eu a deixei
no píer, correndo o dedo pela balaustrada como se estivesse desenhando um plano de batalha. *****

De volta ao chalé 11, todo mundo estava falando e se divertindo, esperando o jantar. Pela primeira vez, notei que muitos campistas tinham feições parecidas: narizes
pontudos, sobrancelhas arqueadas, sorrisos maliciosos. Eram o tipo de criança que os professores classificariam como encrenqueiros. Felizmente, ninguém prestou muita
atenção em mim quando fui até meu lugar no chão e me deixei cair com o chifre de minotauro. O conselheiro, Luke, se aproximou. Ele também tinha a aparência familiar
de Hermes. Estava desfigurada pela cicatriz na face direita, mas o sorriso estava intacto. - Arranjei um saco de dormir para você - disse ele. - E, aqui, furtei
para você alguns artigos de toalete da loja do acampamento. Não deu para saber se ele estava brincando quanto àquela parte de furtar. Eu disse: - Obrigado. - Sem
problemas. - Luke sentou-se ao meu lado, descansando as costas contra a parede. - Primeiro dia difícil? - Meu lugar não é aqui - disse eu. - Nem mesmo acredito em
deuses. - É - disse ele. - Foi assim que todos nós começamos. E depois que você começa a acreditar neles? Não fica nem um pouco mais fácil. A amargura em sua voz
me surpreendeu, porque Luke parecia ser o tipo de cara despreocupado. Parecia ser capaz de lidar com qualquer coisa. - Então seu pai é Hermes? - perguntei. Ele puxou
um canivete de mola do bolso de trás, e por um segundo, pensei que fosse me destripar, mas ele apenas raspou o barro da sola da sandália. - É, Hermes. - O mensageiro
com asas nos pés. - É ele. Mensageiros. Medicina. Viajantes, mercadores, ladrões. Qualquer um que use as estradas. É por isso que você está aqui, desfrutando a hospitalidade
do chalé 11. Hermes não é exigente com relação a quem apadrinha. Entendi que Luke não queria me chamar de joão-ninguém. Apenas tinha muita coisa na cabeça. - Você
já encontrou seu pai? - perguntei. - Uma vez. Esperei, pensando que, se ele quisesse me contar, contaria. Aparentemente não. Imaginei se a historia tinha alguma
coisa a ver com como ele conseguira aquela cicatriz. Luke ergueu os olhos e conseguiu sorrir. - Não se preocupe com isso, Percy. A maioria dos campistas aqui é boa
gente. Afinal, somos uma grande família, certo? Cuidamos um do outro. Ele parecia entender o quanto me sentia perdido e eu estava grato por isso, porque um cara
mais velho como ele - mesmo sendo um conselheiro - devia estar evitando um secundarista chato como eu. Mas Luke

me dera as boas-vindas ao chalé. Até mesmo furtara alguns artigos de toalete, o que era a coisa mais simpática que alguém fizera por mim o dia inteiro. Decidi fazer
a minha última grande pergunta, aquela que vinha me incomodando a tarde toda. - Clarisse, de Ares, debochou sobre eu ser um dos Três Grandes. Depois, Annabeth...
ela falou duas vezes que eu poderia ser o cara. Disse que devo falar com o Oráculo. O que quer dizer isso tudo? Luke fechou o canivete. - Odeio profecias. - O que
quer dizer? Seu rosto deu uma estremecida em volta da cicatriz. - Digamos apenas que eu compliquei as coisas para todos os outros. Nos últimos dois anos, desde quando
me dei mal em minha viagem ao Jardim das Hespérides, Quíron não autorizou mais nenhuma missão. Annabeth está morrendo de vontade de sair para o mundo. Ela importunou
tanto Quíron que ele finalmente disse que já conhecia o seu destino. Recebera uma profecia do Oráculo. Não quis contar tudo a ela, mas disse que Annabeth ainda não
estava destinada a sair numa missão. Tinha de esperar até... alguém especial vir para o acampamento. - Alguém especial? - Não se preocupe com isso garoto - disse
Luke. - Annabeth quer pensar que todo campista novo que chega aqui é o presságio que ela está esperando. Agora vamos, é hora do jantar. No momento em que ele disse
isso, uma trombeta soou a distancia. De algum modo eu sabia que era feita com uma concha de caramujo, apesar de nunca ter ouvido uma antes. Luke gritou: - Onze,
reunir! O chalé inteiro, cerca de vinte de nós, formou uma fila no pátio. Enfileiramo-nos por ordem de antigüidade, portanto é claro que eu era o último. Vieram
campistas também de outros chalés, com exceção dos três vazios no fim e do chalé 8, que parecia normal durante o dia mas agora começava a ter um brilho prateado
à medida que o sol se punha. Marchamos colina acima até o pavilhão do refeitório. Sátiros vieram da campina e juntaram-se a nós. Náiades emergiram do lago de canoagem.
Algumas outras meninas saíram dos bosques - e quando digo dos bosques, quero dizer dos bosques mesmo. Vi uma menina de nove ou dez anos fundir-se da lateral de um
bordo e vir saltitando colina acima. Ao todo, havia talvez uma centena de campista, algumas dúzias de sátiros e uma dúzia de ninfas e náiades variadas. No pavilhão,
tochas ardiam em volta das colunas de mármore. Um fogo central queimava em um braseiro de bronze do tamanho de uma banheira. Cada chalé tinha sua própria mesa, coberta
com uma toalha branca com detalhes roxo. Quatro mesas estavam vazias, mas a do chalé 11 era superlotada. Tive de me espremer na ponta de um banco, com metade do
traseiro de fora. Vi Grover sentado à mesa 12, e um par de meninos loiros gorduchos bem parecidos com o sr. D. Quíron ficou em pé ao lado, pois a mesa de piquenique
era muito pequena para um centauro. Annabeth sentou-se à mesa 6 com um bando de crianças atléticas de aparência séria, todas com olhos cinzentos e cabelo loiro da
cor do mel.

Clarisse sentou-se atrás de mim à mesa de Ares. Parecia recuperada do banho, pois estava rindo e arrotando ao lado das amigas. Finalmente, Quíron bateu o casco contra
o piso de mármore do pavilhão e todos se calaram. Ele ergueu um copo. - Aos deuses! Todos ergueram os copos. - Aos deuses! Ninfas do bosque avançaram com bandejas
de comida: uvas, maçãs, morangos, queijo, pão fresco e, sim, churrasco! Meu copo estava vazio, mas Luke disse; - Fale com ele. Qualquer coisa que queria. Não alcoólica,
é claro. - Cherry Coke - falei. O copo se encheu de líquido espumante cor de caramelo. Então tive uma idéia. - Cherry Coke azul. O refrigerante assumiu um tom berrante
de cobalto. Tomei um gole cauteloso. Perfeito Fiz um brinde à minha mãe. Ela não se foi, disse a mim mesmo. De qualquer modo, não para sempre. Ela está no Mundo
Inferior. E, se ele é um lugar real, então algum dia... - Vai, Percy - disse Luke, me passando uma travessa de peito defumado. Enchi meu prato e estava prestes a
dar uma grande garfada quando notei que todos se levantavam, levando os pratos para o fogo no centro do pavilhão. Imaginei se estavam indo buscar a sobremesa ou
coisa assim. - Venha - disse-me Luke. Quando cheguei mais perto, vi que todos estavam pegando algo do prato e jogando dentro do fogo, o morango mais maduro, a fatia
mais suculenta de carne, o pão mais quente e mais amanteigado. Luke murmurou ao meu ouvido: - Oferendas queimadas para os deuses. Eles gostam do cheiro. - Fala sério!
O olhar dele me advertiu a não debochar daquilo, mas não pude deixar de me perguntar por que um ser imortal, todo-poderoso, gostaria do cheiro de comida queimada.
Luke aproximou-se do fogo, inclinou a cabeça e atirou um cacho de uvas gordas e vermelhas. - Hermes. Eu era o próximo.

Eu gostaria de saber o nome de qual deus eu devia dizer. Acabei fazendo um pedido silencioso. Quem quer que seja, conte-me. Por favor. Empurrei uma grande fatia
de peito para as chamas. Quando inalei um pouco de fumaça, não engasguei Não parecia nem um pouco cheiro de comida queimada. Cheirava a chocolate quente e brownies
recémassados, hambúrgueres grelhados e flores silvestres, e uma centena de outras coisas boas que não deviam combinar, mas combinavam. Dava até para acreditar que
os deuses podiam viver daquela fumaça. Depois que todos voltaram aos lugares e terminaram de comer, Quíron bateu novamente o casco para chamar nossa atenção. O sr.
D levantou-se com um enorme suspiro. - Sim, suponho que deva dizer olá a todos vocês, moleques. Bem, olá. Nosso diretor de atividades, Quíron, diz que a próxima
captura da bandeira será na sexta-feira. Atualmente, o chalé 5 detém os lauréis. Um monte de aplausos disformes se ergueu da mesa de Ares. - Pessoalmente - continuou
o sr. D -, não me importo nem um pouco, mas congratulações. Também devo lhes dizer que temos um novo campista hoje. Peter Johnson. Quíron murmurou alguma coisa.
- Ahn, Percy Jackson - corrigiu o sr. D. - Está certo. Viva, e tudo o mais. Agora vão correndo para a sua fogueira boba. Andem. Todos aplaudiram. Dirigimo-nos para
o anfiteatro, onde o chalé de Apolo liderou a cantoria. Cantamos canções de acampamento sobre os deuses, comemos besteiras e nos divertimos, e o engraçado foi que
não senti ninguém mais olhando para mim. Era como estar em casa. Mais à noite, quando as fagulhas da fogueira se enroscavam em um céu estrelado, a trombeta de caramujo
soou de novo, e todos nós formamos filas para voltar aos nossos chalés. Não me dei conta de como estava exausto até desmoronar em meu saco de dormir emprestado.
Meus dedos se fecharam em volta do chifre do Minotauro. Pensei em minha mãe, mas tive bons pensamentos: o sorriso dela, as histórias que lia para mim antes de dormir
quando eu era pequeno, o jeito como me dizia para não deixar os percevejos morderem. Quando fechei os olhos, adormeci instantaneamente. Assim foi meu primeiro dia
no Acampamento Meio-Sangue. Queria ter sabido antes que em tão pouco tempo passaria a gostar do meu novo lar.

OITO ­ Nós capturamos uma bandeira.
Em poucos dias me acomodei em uma rotina que parecia quase normal, se descontarmos o fato de que eu tinha aulas com sátiros, ninfas e um centauro. Todas as manhãs
estudava grego antigo com Annabeth e conversávamos sobre deuses e deusas no presente, o que era um pouco estranho. Descobri que Annabeth estava certa a respeito
de minha dislexia: o grego antigo não era tão difícil de ler. Pelo menos, não mais difícil que inglês. Depois de algumas manhãs eu já conseguia ler sem muita dor
de cabeça algumas linhas de Homero, tropeçando aqui e ali. No resto do dia eu alternava atividades ao ar livre, procurando alguma coisa em que fosse bom. Quíron
tentou me ensinar arco-e-flecha, mas descobrimos bem depressa que eu não dava para aquilo. Ele não reclamou nem mesmo quando teve de arrancar de sua cauda uma flecha
perdida. Corrida? Eu também não era bom. As instrutoras, as ninfas do bosque, me faziam comer poeira. Disseram-me para não me preocupar com isso. Tiveram séculos
de práticas fugindo de deuses apaixonados. Mas ainda assim era meio humilhante ser mais lento que uma árvore. E as lutas? Esqueça. Toda vez que ia para a esteira,
Clarisse acabava comigo. E vem mais por aí, seu Mané, murmurava ao meu ouvido. A única coisa em que eu era mesmo excelente era canoagem, e essa não era o tipo de
habilidade de herói que as pessoas esperavam do cara que venceu o Minotauro. Sabia que os campistas mais velhos e os conselheiros me observavam, tentando concluir
quem era meu pai, mas não estava sendo fácil para eles. Eu não era tão forte quanto os garotos de Ares, nem tão bom em arco-e-flecha quanto os garotos de Apolo.
Não tinha a perícia de Hefesto com metais ou - os deuses me livrem - o jeito de Dionísio com as vinhas. Luke me disse que eu podia ser filho de Hermes, uma espécie
de pau para toda obra, mestre nada. Mas eu tinha a sensação de que ele só estava tentando me fazer sentir melhor. Na verdade, também não sabia o que fazer comigo.
A despeito disso tudo, eu gostava do acampamento. Eu me acostumei com a neblina matinal sobre a praia, com o cheiro dos campos de morangos à tarde e até com os ruídos
esquisitos dos monstros nos bosques à noite. Eu jantava com o chalé 11, empurrava parte da minha refeição para o fogo e tentava sentir alguma conexão com meu verdadeiro
pai. Não vinha nada. Apenas aquela sensação morna que eu sempre tive, a lembrança do seu sorriso. Tentei não pensar demais em minha mãe, mas ficava matutando: se
deuses e monstros eram reais, se todas aquelas coisas mágicas eram possíveis, certamente haveria algum jeito de salvá-la, de trazê-la de volta... Comecei a entender
o ressentimento de Luke e como ele parecia magoado com o pai, Hermes. Certo, talvez os deuses tivessem tarefas importantes a fazer. Mas não poderiam fazer uma visita
de vez enquando, trovejar ou alguma coisa? Dionísio podia fazer Diet Coke aparecer do nada. Por que meu pai, quem quer que fosse, não podia fazer aparecer um telefone?
***** Quinta-feira à tarde, três dias depois de chegar ao Acampamento Meio-Sangue, tive minha primeira aula de esgrima. Todos do chalé 11 se reuniram na grande arena
circular, onde Luke seria nosso instrutor. Começamos com estocadas e cutiladas básicas, usando bonecos recheados de palha com armaduras gregas. Acho que fui bem.
Pelo menos entendi o que devia fazer e meus reflexos foram bons. O problema era que eu não conseguia encontrar uma lâmina que se adaptasse às minhas mãos. Eram pesadas
demais, leves demais ou compridas demais. Luke fez o melhor que pôde para me ajudar, mas concordou que nenhuma das lâminas de prática parecia funcionar para mim.
Passamos adiante, para duelo em duplas. Luke anunciou que seria meu parceiro, já que era a minha primeira vez.

- Boa sorte - disse um dos campistas. - Luke é o melhor espadachim dos últimos trezentos anos. - Talvez ele pegue leve comigo - comentei. O campista riu, desdenhoso.
Luke me mostrou as estocadas, paradas e defesas com escudo do jeito difícil. A cada golpe eu estava um pouco mais surrado e contundido. - Mantenha a guarda alta,
Percy - dizia ele, e então me atingia com força nas costelas usando a parte chata da lâmina. - Não, não tanto assim! - Plaft! - Ataque! - Plaft! - Agora, recue!
- Plaft! Quando ele pediu um tempo, eu estava empapado de suor. Todos correram para o isopor de bebidas. Luke despejou água gelada em cima da própria cabeça, o que
me pareceu uma ótima idéia. Fiz a mesma coisa. Na mesma hora me senti melhor. A força percorreu novamente os meus braços. A espada não parecia mais tão difícil de
manejar. - O.k., todo mundo em circulo! - ordenou Luke. - Se Percy não se importar, vou fazer uma pequena demonstração. Incrível, pensei. Vamos todos assistir enquanto
Percy é triturado. Os garotos de Hermes se reuniram em volta. Estavam todos contendo o riso. Imaginei que já tinham passado por aquilo e mal podiam esperar para
ver Luke me usar como saco de pancadas. Ele disse a todos que ia mostrar uma técnica para desarmar o oponente: como girar a lâmina do inimigo com a parte chata da
própria espada para que ele não tenha alternativa a não ser deixar a arma cair. - Isso é difícil - enfatizou. - Já usaram contra mim. Não riam de Percy agora. A
maioria dos espadachins precisa trabalhar anos para dominar essa técnica. Ele demonstrou o movimento para mim em câmera lenta. Como previsto, a espada pulou da minha
mão. - Agora, em tempo real - disse ele depois que recuperei minha arma. - Vamos fazer o movimento até que um de nós tenha sucesso. Pronto, Percy? Eu assenti, e
Luke veio para cima de mim. De algum modo, eu o impedi de golpear o cabo da minha espada. Meus sentidos se aguçaram. Vi seus ataques chegando. Eu rebati. Dei um
passo à frente e tentei minha própria estocada. Luke a revidou facilmente, mas notei uma mudança em seu rosto. Seus olhos se estreitaram, e ele começou a me pressionar
com mais força. A espada estava pesando em minha mão. Mas equilibrada. Eu sabia que era apenas uma questão de segundos antes que Luke me derrubasse, então decidi:
Que se dane! Tentei a manobra para desarmar. Minha lâmina atingiu a base da de Luke e eu a girei, pondo todo o meu peso em um golpe para baixo. Plem! A espada de
Luke retiniu contra as paredes. A ponta da minha lâmina estava a dois centímetros do seu peito desprotegido. Os outros campistas ficaram em silencio. Baixei a minha
espada. - Ahn, sinto muito.

Por um momento, Luke ficou perplexo demais para falar. - Sinto muito? - Seu rosto marcado abriu-se num sorriso. - Pelos deuses, Percy, você sente muito? Mostre-me
aquilo de novo! Eu não queria. A rápida explosão de energia maníaca me abandonara completamente. Mas Luke insistiu. Dessa vez, não houve disputa. No momento em que
nossas espadas entraram em contato, Luke atingiu o cabo da minha, que saiu deslizando pelo chão. Depois de uma longa pausa, alguém do público disse: - Sorte de principiante?
Luke enxugou o suor da testa. Ele me avaliou com um interesse totalmente novo. - Talvez - disse. - Mas fico pensando o que Percy poderia fazer com uma espada equilibrada...
***** Sexta-feira à tarde. Eu estava sentado com Grover perto do lago, descansando de uma experiência quase fatal no muro de escalada. Grover subira até o topo como
um bode montanhês, mas a lava por pouco não me atingiu. Minha camisa ficou com buracos fumegantes. Os pêlos dos meus antebraços ficaram chamuscados. Sentamos no
píer, olhando as náiades que teciam cestos embaixo d'água, até que reuni coragem para pergunta a Grover como tinha sido a conversa com o sr. D. Seu rosto assumiu
um tom doentio de amarelo. - Ótima - disse. - Legal mesmo. - Então sua carreira ainda está nos trilhos? Ele me lançou um olhar nervoso. - Quíron c-contou a você
que eu quero uma licença de buscador? - Bem... não. - Eu não tinha idéia do que era uma licença de pesquisador, mas aquele não parecia ser o momento certo para perguntar.
- Ele só me disse que você tinha grandes planos, sabe... e que precisava de reconhecimento por completar uma tarefa. Então você conseguiu? Grover baixou os olhos
para as náiades. - O sr. D suspendeu o julgamento. Disse que ainda não fracassei nem tive sucesso com você, portanto nossos destinos ainda estão ligados. Se você
ganhar uma missão, eu for junto para protegê-lo e nós dois voltarmos vivos, então talvez ele considere a tarefa concluída. Meu ânimo melhorou. - Bem, isso não é
mau, certo? - Bééé-é-é! Ele poderia igualmente ter me transferido para o serviço de limpeza de estábulos. As chances de você ganhar uma missão... e mesmo se ganhasse,
por que haveria de querer que eu fosse junto? - É claro que eu ia querer você junto! Grover continuou olhando melancolicamente para a água. - Tecer cestas... Deve
ser bom ter uma habilidade útil.

Tentei convencê-lo de que ele tinha uma porção de talentos, mas isso só o fez parecer ainda mais infeliz. Conversamos sobre canoagem e esgrima por algum tempo, e
então debatemos os prós e os contras dos diferentes deuses. Por fim, perguntei-lhe sobre os quatro chalés vazios. - O número 8, o prateado, pertence a Ártemis -
disse ele. - Ela jurou ser virgem para sempre. Portanto, é claro, sem filhos. O chalé é honorário, entende? Se ela não tivesse um ficaria zangada. - Sim, certo.
Mas os outros três, os que ficam no fim. São os Três Grandes? Grover ficou tenso. Estávamos chegando perto de um assunto delicado. - Não. Um deles, o de número 2,
é de Hera - disse ele. - É outra coisa honorária. Ela é a deusa do casamento, portanto é claro que não iria sair por aí tendo casos com mortais. Isso é serviço do
marido dela. Quando falamos dos Três Grandes, queremos dizer os três irmãos poderosos, os filhos de Cronos. - Zeus, Poseidon e Hades. - Certo. Você sabe. Depois
da grande batalha com os Titãs, eles tomaram o mundo do pai e tiraram a sorte para decidir quem ficava com o quê. - Zeus ficou com o céu - lembrei. - Poseidon, com
o mar, Hades, com o Mundo Inferior. - A-hã. - Mas Hades não tem chalé aqui. - Não. Também não tem um trono no Olimpo. Ele, bem, fica na dele lá embaixo no Mundo
Inferior. Se tivesse um chalé aqui... - Grover estremeceu. - Bem, isso não seria agradável. Vamos deixar assim. - Mas Zeus e Poseidon... os dois tinham zilhões de
filhos nos mitos. Por que os chalés deles estão vazios? Grover se balançou de um casco para outro, pouco à vontade. - Há cerca de sessenta anos, depois da Segunda
Guerra Mundial, os Três Grandes combinaram que não iriam procriar mais nenhum herói. Os filhos deles eram poderosos demais. Estavam interferindo muito no curso dos
eventos humanos, causando muitas carnificinas. A Segunda Guerra Mundial, sabe, foi basicamente uma luta entre os filhos de Zeus e Poseidon, de um lado, e os filhos
de Hades do outro. O lado vencedor, Zeus e Poseidon, obrigou Hades a fazer um juramento junto com eles: nada de casos com mulheres mortais. Todos juraram sobre o
rio Styx. Um trovão. - Esse é o juramento mais sério que se pode fazer - disse eu. Grover assentiu. - E os irmãos mantiveram a palavra, sem filhos? O rosto de Grover
se anuviou. - Há dezessete anos, Zeus retornou aos maus hábitos. Havia uma estrela de tevê com um penteado alto e armado, estilo anos 80... Ele simplesmente não
conseguiu evitar. Quando o bebê nasceu, uma menininha chamada Thalia... Bem, o rio Styx é sério no que diz respeito a promessas. Zeus se safou com facilidade porque
é imortal, mas causou um destino terrível para sua filha. - Mas isso não é justo! Não foi culpa da menininha. Grover hesitou.

- Percy, os filhos dos Três Grandes são mais poderosos que os outros meios-sangues. Eles têm uma aura forte, um odor que atrai monstros. Quando Hades descobriu a
respeito da criança, não ficou muito feliz com o fato de Zeus ter quebrado o juramento. Hades libertou os piores monstros do Tártaro para atormentar Thalia. Um sátiro
foi designado para ser guardião dela quando completou doze anos, mas não havia nada que pudesse fazer. Ele tentou escoltá-la para cá com outros meios-sangues com
quem ela fizera amizade. Eles quase conseguiram. Chegaram até o topo da colina. Ele apontou para o outro lado do vale, para o pinheiro onde eu enfrentara o Minotauro.
- As três Benevolentes estavam atrás deles com um bando de cães infernais. Estavam quase sendo alcabçados quando Thalia disse a seu sátiro que levasse os outros
dois meios-sangues para um lugar seguro enquanto ela tentava conter os monstros. Estava ferida e cansada, e não desejava viver como um animal caçado. O sátiro não
queria deixá-la, mas não conseguiu fazê-la mudar de idéia e tinha de proteger os outros. Assim, Thalia defendeu-se no final sozinha, no topo daquela colina. Quando
ela morreu, Zeus se apiedou dela. Transformou-a naquele pinheiro. Seu espírito ainda ajuda a proteger as fronteiras do vale. É por isso que a colina é chamada Colina
Meio-Sangue. Olhei para o pinheiro distante. A história me fez sentir oco, e também culpado. Uma menina da minha idade se sacrificara para salvar os amigos. Enfrentara
todo um exército de monstros. Perto disso, minha vitória sobre o Minotauro não parecia grande coisa. Perguntei a mim mesmo se agindo diferente poderia ter salvado
minha mãe. - Grover, os heróis realmente partiram em missões para o Mundo Inferior? - Algumas vezes - disse ele. - Orfeu. Hércules. Houdini. - E chegaram a trazer
alguém de volta da morte? - Não. Nunca. Orfeu chegou perto.... Percy, você não está pesando mesmo em... - Não - menti. - Estava só imaginando. Então... um sátiro
é sempre designado para guardar um semideus? Grover me estudou cauteloso. Eu não o tinha convencido de que desistira da idéia do Mundo Inferior. - Nem sempre. Vamos
disfarçados para uma porção de escolas. Tentamos farejas os meios-sangues que tenham atributos de grandes heróis. Se encontramos um com uma aura muito forte, como
uma criança dos Três Grandes, alertamos Quíron. Ele tenta ficar de olho neles, já que podem causar problemas realmente enormes. - E você me encontrou. Quíron disse
que você achava que eu poderia ser algo especial. Grover soou como se eu acabasse de atraí-lo para uma armadilha. - Eu não... Ora, escute, não pense assim. Se você
fosse... você sabe... jamais lhe permitiriam uma missão, e eu jamais teria a minha licença. Você provavelmente é filho de Hermes. Ou talvez até de um dos deuses
menores, como Nêmesis, a deusa da vingança. Não se preocupe, ta? Percebi que ele estava tentando tranqüilizar mais a si mesmo que a mim. ***** Naquela noite após
o jantar havia muito mais agitação que de costume. Finalmente, era hora da captura da bandeira. Quando os pratos foram levados embora, a trombeta de caramujo soou
e todos nos postamos junto às nossas mesas.

Os campistas gritaram e aplaudiram quando Annabeth e dois de seus irmãos entraram correndo no pavilhão, carregando um estandarte de seda. Tinha cerca de três metros
de comprimento, reluzindo em cinza, com a pintura de uma coruja em cima de uma oliveira. Do lado oposto do pavilhão, Clarisse e as amigas entraram correndo com outro
estandarte, de tamanho idêntico, mas vermelho-brilhante, com a pintura de uma lança sanguinolenta e uma cabeça de javali. Virei-me para Luke e gritei por cima do
barulho: - Aquelas são as bandeiras? - Sim. - Ares e Atena sempre lideram as equipes? - Nem sempre - disse ele. - Mas freqüentemente. - Então, se um outro chalé
capturar uma delas, o que vocês fazem, pintam de novo a bandeira? Ele sorriu ironicamente. - Você vai ver. Primeiro temos de conseguir uma. - De que lado nós estamos?
Ele me deu uma olhada astuta, como se soubesse algo que eu não sabia. A cicatriz em seu rosto o fazia parecer quase mau à luz das tochas. - Fizemos uma aliança temporária
com Atena. Esta noite, tiraremos a bandeira de Ares. E você vai ajudar. As equipes foram anunciadas. Atena tinha feito uma aliança com Apolo e Hermes, os dois chalés
maiores. Aparentemente, haviam trocados privilégios - horários de chuveiro, escala de deveres, as melhores posições nas atividades - a fim de ganhar apoio. Ares
tinha se aliado a todos os outros: Dionisio, Demeter, Afrodite e Hefesto. Pelo que eu tinha visto, os campistas de Dionisio eram na verdade bons atletas, mas havia
apenas dois deles. Os de Demeter tinham ligeira vantagem em habilidades na natureza e atividades ao ar livre, mas não eram muito agressivos. Como os filhos e filhas
de Afrodite eu não estava muito preocupado. Eles, na maioria das vezes, esperavam sentados todas as atividades acabarem e iam conferir seus reflexos no lago, penteavam
os cabelos e fofocavam. Os de Hefesto não eram bonitos, e havia apenas quatro deles, mas eram grandes e corpulentos de tanto trabalhar na oficina de metais o dia
inteiro. Poderiam ser um problema. Com isso, é claro, restava o chalé de Ares: uma dúzia dos maiores, mais feios e mais perversos garotos e garotas de Long Island,
ou de qualquer outro lugar no planeta. Quíron bateu o casco no mármore. - Heróis! - anunciou. - Vocês conhecem as regras. O riacho é o limite. A floresta inteira
está valendo. Todos os itens mágicos são permitidos. A bandeira deve ser ostentada de modo destacado e não deve ter mais de dois guardas. Os prisioneiros podem ser
desarmados, mas não podem ser amarrados ou amordaçados. Não é permitido matar nem aleijar. Servirei de juiz e médico do campo de batalha. Armemse! Ele estendeu as
mãos e as mesas subitamente se cobriram de equipamentos: capacetes, espadas de bronze, lanças, escudos de couro de boi recobertos de metal. - Uau! - falei. - Temos
mesmo que usar isso? Luke olhou para mim como se eu estivesse louco. - A não ser que você queira ser espetado pelos seus amigos do chalé. Aqui... Quíron achou que
estes devem lhe servir. Você ficará na patrulha da fronteira.

Meu escudo era do tamanho de uma tabela de basquete da NBA, com um grande caduceu no meio. Pesava cerca de um milhão de quilos. Eu poderia muito bem usá-lo como
prancha de snowboard, mas tinha esperanças de que ninguém tivesse expectativas reais de que eu corresse com aquilo. Meu capacete, como todos os capacetes do lado
de Atena, tinha um penacho de crina azul no topo. Ares e seus aliados tinham penachos vermelhos. Annabeth gritou: - Equipe azul, para frente! Aplaudimos e agitamos
nossas espadas, e a seguimos para baixo pelo caminho para os bosques do sul. A equipe vermelha gritou nos provocando enquanto seguia em direção ao norte. Consegui
alcançar Annabeth sem tropeçar em meu próprio equipamento. - Ei! Ela continuou marchando. - Então, qual é o plano? - perguntei. - Tem alguns itens mágicos para me
emprestar? A mão dela se desviou para o bolso, como se estivesse com medo de que eu roubasse alguma coisa. - Só digo para ter cuidado com a lança de Clarisse. Você
não vai querer que aquela coisa toque em você. Fora isso, não se preocupe. Vamos tomar a bandeira de Ares. Luke determinou sua tarefa? - Patrulha de fronteira, seja
lá o que isso for. - É fácil. Fique junto ao riacho, mantenha os vermelhos longe. Deixe o resto comigo. Atena sempre tem um plano. Ela seguiu adiante, me deixando
na poeira. - Certo - murmurei. - Fico contente por me querer na sua equipe. Era uma noite quente e úmida, grudenta. Os bosques estavam escuros, com vaga-lumes aparecendo
e sumindo. Annabeth me designou para um pequeno regato que rumorejava por cima de algumas pedras, depois ela e o restante da equipe se espalharam entre as árvores.
Ali sozinho, com meu grande capacete de penacho azul e meu enorme escudo, me senti um idiota. A espada de bronze, como todas as espadas que eu experimentara até
então, parecia mal equilibrada. O cabo de couro pesava em minha mão como uma bola de boliche. Não havia como alguém me atacar de verdade, não é? Quer dizer, o Olimpo
tinha de ter responsabilidade, certo? Longe, a trombeta de caramujo soou. Ouvi brados e gritos nos bosques, metais chocando-se, gente lutando. Um aliado de Apolo
de penacho azul passou por mim correndo como um cervo, pulou o regato e desapareceu em território inimigo. Essa é boa, pensei. Vou ficar de fora da diversão, como
sempre. Então ouvi um som que me deu um calafrio na espinha, um rosnado canino grave em algum lugar por perto. Ergui o escudo instintivamente; tinha a sensação de
que alguma coisa estava me espreitando. Então o rosnado parou. Senti a presença recuando.

Do outro lado do regato, a vegetação rasteira explodiu. Cinco guerreiros de Ares saíram gritando e berrando da escuridão. - Acabem com o Mané! - berrou Clarisse.
Seus olhos feios de porco faiscaram nas fendas do capacete. Ela brandiu uma lança de um metro e meio de comprimento, a ponta de metal farpado lançando chispas de
luz vermelha. Seus irmãos só tinham espadas de bronze comuns - não que isso me fizesse sentir melhor. Eles atacaram cruzando o regato. Não havia ajuda à vista. Eu
podia correr. Ou podia me defender contra a metade do chalé de Ares. Consegui me esquivar do golpe do primeiro garoto, mas aqueles caras não eram estúpidos como
o Minotauro. Eles me cercaram, e Clarisse investiu contra mim com sua lança. Meu escudo desviou a ponta, mas senti um formigamento doloroso em todo o corpo. Meus
cabelos se eriçaram. O braço que segurava o escudo ficou dormente e o ar queimou. Eletricidade. Aquela lança estúpida era elétrica. Eu recuei. Outro cara de Ares
me golpeou no peito com a parte mais grossa da espada e eu caí. Eles podiam ter me chutado até eu virar geléia, mas estavam muito ocupados rindo. - Façam um corte
no cabelo dele - disse Clarisse. - Agarrem o cabelo dele. Consegui me pôr de pé. Ergui a espada, mas Clarisse a jogou violentamente para o lado com sua lança, e
fagulhas voaram. Agora meus braços estavam dormentes. - Ah, uau! - disse Clarisse. - Estou com medo desse cara. Realmente apavorada. - A bandeira está para lá -
disse a ela. Queria parecer zangado, mas acho que não consegui. - É - disse um dos irmãos dela. - Mas, veja bem, nós não nos importamos com a bandeira. A gente se
importa com um cara que fez o pessoal do nosso chalé de idiota. - Vocês não precisam de mim para isso. - Provavelmente não foi a coisa mais esperta a dizer. Dois
deles vieram para cima de mim. Recuei em direção ao regato, tentei erguer meu escudo, mas Clarisse era muito rápida. Sua lança me pegou bem nas costelas. Se eu não
estivesse usando uma armadura blindada, teria virado churrasco no espeto. Do jeito que foi, a ponta elétrica quase fez meus dentes saltarem da boca com o choque.
Um de seus colegas de chalé desferiu a espada contra o meu braço, fazendo um bom talho. Ver meu próprio sangue me deixou zonzo - quente e frio ao mesmo tempo. -
Sem aleijar - consegui dizer. - Oops - disse o cara. - Acho que perdi meu direito à sobremesa. Ele me empurrou para o regato e eu caí espalhando água. Todos riram.
Calculei que assim que acabassem de se divertir eu iria morrer. Mas então algo aconteceu. A água pareceu despertar meus sentidos, como se eu tivesse acabado de comer
um saco duplo das jujubas da minha mãe. Clarisse e seus companheiros de chalé entraram no regato para me pegar, mas eu me pus de pé para recebê-los. Sabia o que
fazer. Desferi a parte chata da minha espada contra a cabeça do primeiro cara e arranquei seu capacete. Atingi-o com tanta força que pude ver seus olhos tremendo
enquanto ele desmoronava na água. O Feio Número 2 e o Feio Número 3 vieram para cima de mim. Golpeei um no rosto com o escudo e usei a espada para decepar o penacho
da crina do outro. Os dois recuaram depressa. O Feio Número 4 não

pareceu muito ansioso para atacar, mas Clarisse continuava vindo, a ponta da lança crepitando de eletricidade. Assim que ela investiu, peguei a vara da lança entre
a borda do meu escudo e a minha espada, e a parti como se fosse um graveto. - Ah! - berrou ela. - Seu idiota! Seu verme com bafo de cadáver! Ela provavelmente ainda
teia dito coisas piores, mas eu a golpeei entre os olhos com a base da espada e a joguei cambaleando de costas para fora do regato. Então ouvi gritos exultantes,
e vi Luke correndo em direção à linha limite com o estandarte da equipe vermelha erguido alto. Vinha flanqueado por alguns garotos de Hermes, cobrindo a sua retirada,
e alguns Apolos atrás dele, combatendo os garotos de Hefesto. O pessoal de Ares se levantou e Clarisse resmungou uma praga estupefata. - Uma armadilha! - berrou.
- Foi uma armadilha. Eles saíram cambaleando atrás de Luke, mas era tarde demais. Todo mundo convergiu para o regato enquanto Luke atravessava para território amigo.
Nosso lado explodiu em vivas. O estandarte vermelho tremulou e ficou prateado. O javali e a lança foram substituídos por um enorme caduceu, o símbolo do chalé 11.
Todos da equipe azul ergueram Luke nos ombros e começaram a carregá-lo. Quíron saiu a meio galope do bosque e soprou a trombeta de caramujo. O jogo terminara. Tínhamos
vencidos. Eu estava prestes a me juntar à comemoração quando a voz de Annabeth, bem a meu lado no regato, disse: - Nada mau, herói. Eu olhei, mas ela não estava
lá. - Onde diabo aprendeu a lutar assim? - perguntou ela. O ar tremulou e Annabeth se materializou, segurando um boné de beisebol dos Yankees como se tivesse acabado
de tirá-lo da cabeça. Senti que estava ficando zangado. Não fiquei nem mesmo perturbado com o fato de ela estar invisível um segundo antes. - Você armou isso para
mim - disse eu. - Você me pôs aqui porque sabia que Clarisse viria atrás de mim, enquanto você mandava Luke dar a volta pelos flancos. Já tinha tudo preparado. Annabeth
encolheu os ombros. - Eu disse para você. Atena sempre, sempre tem um plano. - Um plano para que eu fosse reduzido a pó. - Eu vim o mais rápido que pude. Estava
pronta para entrar na briga, mas... - Ela encolheu os ombros. Você não precisava de ajuda. Então ela reparou no braço ferido: - Como arranjou isso? - Corte de espada
- disse eu. - O que você acha? - Não. Era um corte de espada. Olhe só. O sangue se fora. No lugar do rasgo enorme havia uma longa cicatriz branca, e mesmo estava
desaparecendo. Enquanto eu olhava, ela se transformou em uma cicatriz pequena e sumiu.

- Eu... eu não entendo - disse. Annabeth raciocinava com empenho. Eu quase podia ver as engrenagens girando. Ela baixou os olhos para os meus pés, depois para a
lança quebrada de Clarisse e disse: - Saia da água, Percy. - O que... - Apenas saia. Saí do regato e logo me senti extremamente cansado. Meus braços começaram a
ficar dormentes de novo. Minha descarga de adrenalina me abandonou. Quase caí, mas Annabeth me segurou. - Oh, Styx - praguejou ela. - Isso não é bom. Eu não queria...
Eu pensei que podia ser Zeus... Antes que eu pudesse perguntar o que ela queria dizer, ouvi o rosnado canino de novo, porem muito mais perto. Um uivo cortou a floresta.
A comemoração dos campistas cessou imediatamente. Quíron bradou alguma coisa em grego antigo que eu, só mais tarde me daria conta, tinha entendido perfeitamente:
- Preparem-se! Meu arco! Annabeth sacou a espada. Sobre as pedras, logo acima de nós, havia um cão preto de tamanho de um rinoceronte, com olhos vermelhos como lava
e presas que pareciam punhais. Estava olhando diretamente para mim. Ninguém se moveu exceto Annabeth, que gritou: - Percy, corra! Ela tentou se interpor entre mim
e o cão, mas o bicho foi rápido demais. Pulou por cima dela - uma enorme sombra com dentes - e, assim que me atingiu, quando cambaleei para trás e senti as garras
afiadas como navalhas rasgando minha armadura, houve uma cascata de sons de pancadas, como quarenta pedaços de papel sendo rasgados um após o outro. Um amontoado
de flechas brotou no pescoço do cão. O monstro caiu morto aos meus pés. Por algum milagre eu ainda estava vivo. Não quis olhar embaixo das ruínas da minha armadura
esfrangalhada. Meu peito parecia morno e molhado, e eu sabia que estava gravemente ferido. Mais um segundo e o monstro teria me transformado em quarenta e cinco
quilos de carne fatiada. - Di immortales! - disse Annabeth. - Aquilo é um cão infernal dos Campos de Punição. Eles não... eles não deviam... - Alguém o convocou
- disse Quíron. - Alguém de dentro do acampamento. Luke se aproximou, o estandarte esquecido em suas mãos, o momento de glória acabado. Clarisse berrou: - É tudo
culpa do Percy! Percy o convocou! - Fique quieta, criança - ordenou-lhe Quíron. Nós assistimos enquanto o cão infernal se dissolvia em sombra e era absorvido pela
terra até desaparecer.

- Você está ferido - disse-me Annabeth. - Rápido, Percy, entre na água. - Eu estou bem. - Não, você não está - disse ela. - Quíron, veja isto. Eu estava cansado
demais para discutir. Voltei para dentro do regato, o acampamento inteiro reunido à minha volta. No mesmo instante me senti melhor. Pude perceber os cortes em meu
peito se fechando. Alguns dos campistas sufocaram um grito. - Olhem, eu... eu não sei por quê - falei, tentando me desculpar. - Sinto muito. Mas eles não estavam
olhando minhas feridas cicatrizarem. Olhavam para algo acima da minha cabeça. - Percy - disse Annabeth apontando. - Ahn... Quando olhei para cima, o sinal já estava
desaparecendo, mas ainda pude distinguir o holograma de luz verde, girando e cintilando. Uma lança de três pontas: um tridente. - Seu pai - murmurou Annabeth. -
Isso realmente não é bom. - Está determinado - anunciou Quíron. Por toda a minha volta, os campistas começaram a se ajoelhar, até mesmo o chalé de Ares, embora não
parecessem muito felizes com isso. - Meu pai? - perguntei, completamente perplexo. - Poseidon - disse Quíron. - Senhor dos Terremotos. Portador das Tempestades.
Pai dos Cavalos. Salve, Perseu Jackson, Filho do Deus do Mar.

NOVE ­ Oferecem-me uma missão.
Na manhã seguinte, Quíron me mudou para o chalé 3. Não tive de compartilhá-lo com ninguém. Tinha espaço à vontade para todas as minhas coisas: o chifre do Minotauro,
um conjunto de roupas de reserva e uma sacola de artigos de toalete. Ia me sentar à minha própria mesa de jantar, escolhia todas as minhas atividades, determinava
o apagar das luzes sempre que tinha vontade e não ouvia mais ninguém. E me sentia totalmente infeliz. Bem quando começava a me sentir aceito, a sentir que tinha
um lar no chalé 11 e poderia ser um garoto normal - ou tão normal quanto é possível quando se é um meio-sangue -, fui separado como se tivesse alguma doença rara.
Ninguém mencionou o cão infernal, mas tive a sensação de que estavam todos falando sobre isso pelas minhas costas. O ataque assustara todo mundo. Ele mandou duas
mensagens: a primeira, que eu era filho do Deus do mar; a segunda, que os monstros não mediriam esforços para me matar. Podiam ate invadir um acampamento que sempre
foi considerado seguro. Os outros campistas mantinham distância de mim na medida do possível. O chalé 11 estava agitado demais para receber aula de esgrima junto
comigo depois do que eu fizera com o pessoal de Ares no bosque, e assim minhas aulas com Luke passaram a ser particulares. Ele me exigia mais do que nunca, e não
tinha medo de me machucar. - Você vai precisar de todo o treinamento que puder obter - prometeu, enquanto trabalhávamos com espadas e tochas flamejantes. - Agora
vamos tentar de novo aquele golpe de decapitar víboras. Mais cinqüenta repetições. Annabeth ainda me ensinava grego pela manhã, mas aprecia distraída. A cada vez
que eu dizia alguma coisa, ela fechava a cara, como se eu tivesse acabado de lhe dar um soco. Depois das aulas, ela ia embora resmungando consigo mesma: - Missão...
Poseidon?... Grande porcaria... Preciso de um plano... Até Clarisse mantinha distância, embora os olhares venenosos deixassem claro que queria me matar por ter quebrado
sua lança mágica. Queria que ela simplesmente gritasse, me desse um soco ou coisa assim. Era melhor me meter em brigar todos os dias a ser ignorado. ***** Soube
que alguém no acampamento andava ressentido comigo, porque uma noite entrei no meu chalé e achei um jornal horrível jogado porta adentro, um exemplar do New York
Daily News, aberto na página Metrópole. Levei quase uma hora para ler a matéria, porque quanto mais ficava zangado mais as palavras pareciam flutuar na página. MENINO
E SUA MÃE AINDA DESAPARECIDOS DEPOIS DE ESTRANHO ACIDENTE DE CARRO Por Ellen Smythe Sally Jackson e seu filho Percy ainda não foram encontrados uma semana depois
de seu misterioso desaparecimento. O carro da família, um Camaro 1978, totalmente queimado, foi descoberto no último sábado em uma estrada ao norte de Long Island
com o teto arrancado e o eixo dianteiro quebrado. O carro havia capotado e derrapado por várias centenas de metros antes de explodir. Mãe e filho tinham ido passar
um fim de semana em Montauk, mas saíram às pressas, sob circunstâncias misteriosas. Pequenos sinais de sangue foram encontrados no carro e perto da cena do desastre,
mas não havia outros indícios dos Jackson desaparecidos. Residentes da área rural declararam não ter visto nada de inusitado por volta da hora do acidente.

O marido da sra. Jackson, Gabe Ugliano, alega que o enteado, Percy Jackson, é uma criança problemática que foi expulsa de inúmeros internatos e demonstrou tendências
violentas no passado. A polícia não diz se o filho Percy é suspeito do desaparecimento da mãe, porém não descarta a hipótese de crime. Abaixo estão fotografias recentes
de Sally Jackson e Percy. A polícia solicita a qualquer pessoa que tenha alguma informação que ligue gratuitamente para o disque-denúncia de crimes, a seguir. O
número do telefone estava circulado com marcador preto. Amarrotei o jornal e joguei fora, depois me joguei em meu beliche no meio do chalé vazio. Apagar das luzes,
disse para mim mesmo, arrasado. ***** Naquela noite, tive meu pior pesadelo até então. Eu corria pela praia no meio de uma tempestade. Dessa vez, havia uma cidade
atrás de mim. Não Nova York. O panorama era diferente: os edifícios eram mais afastados uns dos outros, havia palmeiras e colinas baixas a distância. Cem metros
adiante, na arrebentação, dois homens estavam brigando. Pareciam lutadores de tevê, musculosos, com barbas e cabelos compridos. Ambos usavam túnicas gregas esvoaçantes,
uma guarnecida de azul, a outra, de verde. Atracavam-se, lutavam, chutavam e davam cabeçadas, e a cada vez que tocavam, caíam raios, o céu escurecia e ventos sopravam.
Eu precisava detê-los. Não sabia por quê. Mas, quanto mais eu corria, mais o vento me empurrava de volta, até eu correr sem sair do lugar, os calcanhares se enterrando
inultimente na areia. Por cima do rugido da tempestade, pude ouvir o de túnica azul gritando para o de túnica verde: Devolva! Devolva! Era como se uma criança do
jardim-de-infância estivesse brigando por causa de um brinquedo. As ondas ficaram maiores, arrebentando na praia e me borrifando com sal. Eu gritei: Parem com isso!
Parem de brigar! O chão estremeceu. Risadas vieram de algum lugar embaixo da terra, e uma voz profunda e maligna me gelou o sangue. Venha para baixo, pequeno herói,
a voz sussurrou. Venha para baixo! A areia se abriu embaixo de mim numa fenda que ia direto ao centro da Terra. Meus pés escorregaram e as trevas me engoliram. Acordei,
certo de que estava caindo. Ainda estava na cama, no chalé 3. Meu corpo me dizia que já era manhã, mas estava escuro lá fora e o trovão ribombava pelas colinas.
Uma tempestade estava se formando. Isso eu não havia sonhado. Ouvi um som oco à porta, o som de um casco batendo na soleira. - Entre. Grover trotou para dentro,
parecendo preocupado. - O sr. D quer vê-lo. - Por quê? - Ele quer matar... quer dizer, é melhor deixar que ele conte.

Eu me vesti, agitado, e fui, certo de que estava em uma grande encrenca. Havia dias eu estava esperando uma convocação para a Casa Grande. Agora que tinha sido declarado
filho de Poseidon, um dos Três Grandes deuses que não deveriam ter filhos, imaginei que o simples fato de estar vivo já fosse um crime. Os outros deuses provavelmente
haviam debatido sobre o melhor jeito de me punir por existir, e agora o sr. D estava pronto para dar seu veredicto. Acima do estreito de Long Island, o céu parecia
uma sopa de tinta em ponto de fervura. Uma cortina brumosa de chuva vinha em nossa direção. Perguntei a Grover se precisávamos de um guarda-chuva. - Não - disse
ele. - Aqui nunca chove, anão ser que queiramos. Apontei a tempestade. - Então o que diabo é aquilo? Ele olhou, preocupado, para o céu. - Vai passar em volta de
nós. O mau tempo sempre faz isso. Percebi que ele estava certo. Fazia uma semana que estava ali e nunca vira o tempo fechado. As poucas nuvens de chuva que tinha
notado contornavam os limites do vale. Mas aquela tempestade... aquela era imensa. Na arena de vôlei as crianças do chalé de Apolo jogavam uma partida matinal contra
os sátiros. Os gêmeos de Dionisio caminhavam em volta dos campos de morangos fazendo as plantas crescerem. Todos estavam cuidando de suas tarefas normais, mas pareciam
tensos. Estavam de olho na tempestade. Grover e eu caminhamos até a varanda da frente da Casa Grande. Dionísio estava sentado à mesa de pinoche com sua Diet Coke,
usando a camisa havaiana com listras de tigre, exatamente como no meu primeiro dia. Quíron estava do outro lado da mesa em sua falsa cadeira de rodas. Jogavam contra
oponentes invisíveis - duas mãos de cartas flutuavam no ar. - Bem, bem - disse o sr. D sem erguer os olhos. - Nossa pequena celebridade. Eu aguardei. - Chegue mais
perto - disse o sr. D. - E não espere que eu me prostre diante de você, mortal, só porque o velho Barbas de Craca é seu pai. Uma rede de raios brilhou através das
nuvens. Um trovão fez tremerem as janelas da casa. - Blablablá - disse Dionisio. Quíron fingiu interesse em suas cartas de pinoche. Grover se encolheu junto ao gradil,
os cascos batendo para a frente e para trás. - Se as coisas fossem do meu jeito - disse Dionisio -, eu faria suas moléculas irromperem em chamas. Nós varreríamos
as cinzas e estaríamos livres de um monte de problemas. Mas Quíron parece achar que isso seria contra a minha missão neste acampamento maldito: manter vocês, moleques,
a salvo do mal. - Combustão espontânea é uma forma de mal, sr. D - interveio Quíron. - Bobagem - disse Dionisio. - O menino não sentiria nada. No entanto, eu concordei
em me conter. Estou pensando em transformar você em um golfinho em vez disso, e mandá-lo de volta para seu pai. - Sr. D... - advertiu Quíron.

- Ora, está bem - cedeu Dionisio. - Há mais uma opção. Mas é uma insensatez descomunal. - Dionsio levantou-se, e as cartas dos jogadores invisíveis caíram sobre
a mesa. - Estou indo ao Olimpo para uma reunião de emergência. Se o menino ainda estiver aqui quando eu voltar, vou transformá-lo em um narizde-garrafa do Atlântico.
Entendeu? E Perseu Jackson, se você for mesmo esperto, verá que se trata de uma escolha muito mais sensata do que aquela que Quíron imagina. Dionísio pegou uma carta,
torceu-a e ela se transformou em um retângulo de plástico. Cartão de crédito? Não. Um passe de segurança. Ele estalou os dedos. O ar pareceu se dobrar e se curvar
em volta dele. Ele transformou-se em um holograma, depois em um vento e depois desapareceu, deixando para trás apenas o cheiro de uvas recém-prensadas. Quíron sorriu
para mim, mas parecia cansado e tenso. - Sente-se, Percy, por favor. Grover também. Nós obedecemos. Quíron pôs suas cartas na mesa. A mão vencedora que ele não chegara
a usar. - Diga-me, Percy - disse ele. - O que você fez com o cão infernal? Só de ouvir o nome, eu estremeci. Quíron provavelmente queria que eu dissesse: Ora, aquilo
não foi nada. Costumo comer cães infernais no café-da-manhã. Mas eu não estava com vontade de mentir. - Ele me apavorou - falei. - Se vocês não o tivessem acertado,
eu estaria morto. - Você vai enfrentar coisas piores, Percy. Muito piores, antes de terminar. - Terminar... o quê? - Sua missão, é claro. Você vai aceitá-la? Dei
uma olhada para Grover, que estava cruzando os dedos. - Ahn, senhor, ainda não me contou qual será. Quíron fez uma careta. - Bem, essa é a parte difícil, os detalhes.
Um trovão irrompeu pelo vale. As nuvens de tempestade haviam agora chegado ao limite da praia. Até onde eu podia ver, o céu e o mar estavam fervendo juntos. - Poseidon
e Zeus - disse eu. - Eles estão lutando por algo valioso... algo que foi roubado, não estão? Quíron e Grover trocaram olhares. - Como você sabe disso? Senti o rosto
quente. Desejei não ter aberto meu bocão. - Desde o Natal o tempo está esquisito, como se o mar e o céu estivessem brigando. Então falei com Annabeth, e ela tinha
ouvido alguma coisa sobre um roubo. E ... também andei sonhando umas coisas. - Eu sabia - disse Grover.

- Quieto, sátiro - ordenou Quíron. - Mas essa é a missão dele! - Os olhos de Grover estavam brilhantes de excitação. - Tem de ser! - Só o Oráculo pode determinar.
- Quíron alisou a barba eriçada. - No entanto, Percy, você está correto. Seu pai e Zeus estão tendo sua pior disputa em séculos. Estão lutando por uma coisa valiosa
que foi roubada. Para ser preciso: um relâmpago. Eu ri nervoso. - Um o quê? - Não brinque com isso - advertiu Quíron. - Não estou falando de um ziguezague recoberto
de papelalumínio como você vê em peças da escola. Estou falando de um cilindro de bronze celestial de alto grau, com sessenta centímetros de comprimento, arrematado
em ambos os lados com explosivos de nível deífico. - Ah. - O raio-mestre de Zeus - disse Quíron, agora ficando emocionado. - O símbolo de seu poder, conforme o qual
todos os outros raios são moldados. A primeira arma feita pelos Ciclopes para a guerra contra os Titãs, que decepou o cume do Monte Etna e arremessou Cronos para
fora do seu trono; o raio-mestre, que acumula potência suficiente para fazer as bombas de hidrogênio dos mortais parecerem fogos de artifícios. - E ele desapareceu?
- Roubaram - disse Quíron. - Quem roubaram? - Quem roubou - corrigiu Quíron. Uma vez professor, sempre professor. - Você. Meu queixo caiu. - Pelo menos - Quíron
ergueu uma das mãos -, é isso que Zeus pensa. Durante o solstício de inverno, na última assembléia dos deuses, Zeus e Poseidon tiveram uma discussão. As tolices
de sempre: A Mãe Rhea sempre gostou mais de você, Os desastres aéreos são mais espetaculares que os marítimos etc. Mais tarde, Zeus se deu conta de que o seu raio-mestre
havia desaparecido, levado da sala do trono bem debaixo do seu nariz. No mesmo instante culpou Poseidon. Agora, um deus não pode usurpar diretamente o símbolo de
poder de outro deus - isso é proibido pela mais antiga das leis divinas. Mas Zeus acredita que seu pai convenceu um herói humano a pegá-lo. - Mas eu não... - Paciência,
e escute, criança - disse Quíron. - Zeus tem boas razões para suspeitar. As forjas dos Ciclopes ficam embaixo do oceano, o que dá a Poseidon alguma influencia sobre
os fabricantes dos raios do seu irmão. Zeus acredita que Poseidon pegou o raio-mestre e está agora mandando os Ciclopes construírem secretamente um arsenal de cópias
ilegais, que poderiam ser usadas par derrubar Zeus do seu trono. A única coisa de que Zeus não tinha certeza era qual herói Poseidon usara para roubar o raio. Agora
Poseidon declarou abertamente que você é filho dele. Você estava em Nova York nas férias de inverno. Poderia facilmente ter se infiltrado no Olimpo. Zeus acredita
que encontrou o seu ladrão. - Mas eu nunca estive no Olimpo! Zeus está maluco! Quíron e Grover olharam nervosamente para o céu. As nuvens não pareciam estar se separando
à nossa volta, como Grover prometera. Estavam vindo para cima do nosso vale, fechando-nos dentro dele como uma tampa de caixão. - Ahn, Percy...? - disse Grover.
- Nós não usamos essa palavra que começa com m para descrever o Senhor do Céu.

- Paranóico, quem sabe - sugeriu Quíron. - Mas, por outro lado, Poseidon já tentou derrubar Zeus antes. Acredito que essa foi a pergunta 38 da sua prova final...
- Ele olhou para mim como quem realmente esperava que e me lembrasse da pergunta 38. Como podia alguém me acusar de roubar a arma de um deus? Eu não conseguia nem
furtar um pedaço de pizza da mesa de pôquer de Gabe sem ser pego. Quíron estava esperando por uma resposta. - Alguma coisa a ver com uma rede de ouro? - adivinhei.
- Poseidon, e Hera, e alguns outros deuses... eles, tipo, prenderam Zeus numa armadilha e não o deixaram sair até ele prometer ser um soberano melhor, certo? - Correto
- disse Quíron. - E Zeus nunca mais confiou em Poseidon desde então. Poseidon, é claro, nega ter roubado o raio-mestre. Ele se ofendeu com a acusação. Os dois vêm
discutindo o tempo todo há meses, com ameaças de guerra. E agora você apareceu - a famosa gota-d'água. - Mas eu sou apenas uma criança! - Percy - interveio Grover
-, se você fosse Zeus, e já achasse que o seu irmão estava planejando derrubálo, e então subitamente admitisse que havia quebrado o juramento sagrado que fizera
depois da Segunda Guerra Mundial e que era pai de um novo herói mortal que poderia ser usado como uma arma contra você... Isso não o deixaria com a pulga atrás da
orelha? - Mas eu não fiz nada. Poseidon - meu pai -, ele realmente não mandou roubar o raio-mestre, mandou? Quíron suspirou. - A maioria dos observadores inteligentes
concordaria que o roubo não faz o estilo de Poseidon. Mas o Deus do Mar é orgulhoso demais para tentar convencer Zeus disso. Zeus exigiu que Poseidon devolva o raio
até o solstício de verão. Isso será em 21 de junho, dez dias a contar de agora. Poseidon quer um pedido de desculpas por ser chamado de ladrão até essa mesma data.
Eu tinha esperanças de que a diplomacia prevalecesse, que Hera ou Demeter ou Héstia fariam os dois irmãos verem a razão. Mas a sua chegada inflamou o gênio de Zeus.
Agora nenhum dos dois deuses quer recuar. A não ser que alguém intervenha, a não ser que o raio-mestre seja encontrado e devolvido a Zeus antes do solstício, haverá
guerra. E você sabe como poderia ser uma guerra total, Percy? - Ruim ? - adivinhei. - Imagine o mundo em caos. A natureza em guerra consigo mesma. Os olimpianos
forçados a escolher lados entre Zeus e Poseidon. Destruição. Carnificina. Milhões de mortos. A civilização ocidental transformada em um campo de batalha tão grande
que fará a Guerra de Tróia parecer uma luta de balões d'água. - Ruim - repeti. - E você, Percy Jackson, será o primeiro a sentir a ira de Zeus. Começou a chover.
Os jogadores de vôlei interromperam o jogo e olhavam perplexo para o céu. Eu havia trazido a tempestade para a Colina Meio-Sangue, Zeus estava punindo o acampamento
inteiro por minha causa. Eu estava furioso. - Então eu tenho de encontrar aquele raio estúpido - disse. - E devolvê-lo a Zeus. - Que melhor oferenda de paz - disse
Quíron -, do que fazer filho de Poseidon devolver o que é de Zeus? - Se não está com Poseidon, onde está essa coisa? - Eu creio que sei. - A expressão de Quíron
era soturna. - Parte da profecia que recebi anos atrás... bem, algumas frases fazem sentido para mim, agora. Mas, antes que eu possa dizer mais, você precisa aceitar
oficialmente a missão. Você precisa procurar o conselho do Oráculo.

- Por que você não pode dizer de antemão onde está o raio? - Porque, se eu fizer isso, você ficará assustado demais para aceitar o desafio. Eu engoli em seco. -
Boa razão. - Então você concorda? Olhei para Grover, que assentiu encorajadoramente. Fácil para ele. Era a mim que Zeus queria matar. - Está bem - disse eu. - É
melhor do que ser transformado em um golfinho. - Então é hora de você consultar o Oráculo - disse Quíron. - Vá para cima, Percy Jackson, para o sótão. Quando descer
de novo, presumindo que ainda esteja lúcido, conversaremos mais. ***** Quatro lances acima, a escada terminava embaixo de um alçapão verde. Puxei o cordão. A porta
se abriu e uma escada de madeira caiu ruidosamente no lugar. O ar morno que vinha de cima cheirava a mofo, madeira podre e mais alguma coisa... um cheiro que me
lembrou a aula de biologia. Répteis. O cheiro de serpentes. Prendi a respiração e subi. O sótão estava atulhado de sucata de heróis gregos: suportes de armaduras
cobertos de teias de aranha; escudos outrora brilhantes cheios de adesivos dizendo ÍTACA, ILHA DE CIRCE E TERRA DAS AMAZONAS. Sobre uma mesa comprida estavam amontoados
potes de vidro cheios de coisas em conserva - garras peludas decepadas, enormes olhos amarelos e diversas outras partes de monstros. Um troféu empoeirado na parede
parecia ser uma cabeça de serpente gigante, mas com chifres e uma arcada completa de dentes de tubarão. Uma placa dizia: CABEÇA N. 1 DA HIDRA, WOOSSTOCK, N.Y., 1969.
Junto à janela, sentado em uma banqueta de madeira com três pernas, estava o suvenir mais pavoroso de todos: uma múmia. Não do tipo enfaixada em panos, mas um corpo
humano feminino, ressecado até ficar só a casca. Usava um vestido de verão estampado em batique, com uma porção de colares de contas e uma bandana por cima de longos
cabelos pretos. A pele do rosto era fina e parecia couro por cima do crânio, e os olhos eram fendas brancas vítreas, como se os olhos de verdade tivessem sido substituídos
por bolas de gude; devia estar morta fazia muito, muito tempo. Olhar para ela me deu arrepios nas costas. E isso foi antes de ela se endireitar na banqueta e abrir
a boca. Uma névoa verde jorrou da garganta da múmia, serpenteando pelo chão em anéis grossos, sibilando como vinte mil cobras. Tropecei em mim mesmo tentando chegar
até o alçapão, mas ele se fechou com uma batida. Dentro da minha cabeça, ouvi uma voz, deslizando por um ouvido e se enroscando por meu cérebro: Eu sou o espírito
de Delfos, porta-voz das profecias de Febo Apolo, assassino da poderosa Píton. Aproxime-se, você que busca, e pergunte. Eu quis dizer: Não, obrigado, porta errada,
só estava procurando o banheiro. Mas me forcei a respirar fundo. A múmia não estava viva. Era algum tipo de receptáculo horripilante para uma outra coisa, o poder
que girava em espiral à minha volta na névoa verde. Mas sua presença não parecia maligna, como a da professora demoníaca de matemática, a sra. Dodds ou a do Minotauro.
Era mais como as Três Parcas que eu tinha visto tricotando o fio de lã ao lado da banca de frutas da rodovia: antiga, poderosa e, sem duvida, não-humana. E também
não parecia especialmente interessada em me matar.

Reuni coragem para perguntar: - Qual é o meu destino? A névoa rodopiou, mais densa, juntando-se bem na minha frente e em volta da mesa com os potes que continham
partes de monstros em conserva. De repente, havia quatro homens sentados à volta da mesa, jogando cartas. Os rostos ficaram mais nítidos. Era Gabe Cheiroso e seus
cupinchas. Meus punhos se contraíram, embora eu soubesse que aquele jogo de pôquer não podia ser real. Era uma ilusão, feita d névoa. Gabe voltou-se para mim e falou
na voz rouca do Oráculo: Você irá para o oeste, e irá enfrentar o deus que se tornou desleal. O cupincha da direita ergueu os olhos e disse com a mesma voz: Você
irá encontrar o que foi roubado, e o verá devolvido em segurança. O da esquerda colocou três fichas na mesa, depois disse: Você será traído por aquele que o chama
de amigo. Por fim Eddie, o zelador do nosso edifício, preferiu a por sentença de todas: E, no fim, irá fracassar em salvar aquilo que mais importa. As figuras começaram
a se dissolver. De início fiquei atordoado demais para dizer alguma coisa, mas quando a névoa recuou, enrolando-se como uma enorme serpente verde e deslizando de
volta para dentro da boca da múmia, eu gritei: - Espere! O que quer dizer? Que amigo? O que não vou conseguir salvar? A cauda da serpente de névoa desapareceu na
boca da múmia. Ela se reclinou de volta contra a parede. A boca fechou-se bem apertada, como se não tivesse sido aberta em cem anos. O sótão ficou silencioso de
novo, abandonado, nada além de uma sala cheia de suvenires. Tive a sensação de que poderia ficar lá parado até juntar teias de aranha também, e não ficaria sabendo
mais nada. Minha audiência com o Oráculo estava encerrada. ***** - E então? - Quíron me perguntou. Desabei em uma cadeira à mesa de pinoche. - Ela disse que eu devia
recuperar o que foi roubado. Grover se inclinou para frente, mascando animado os restos de uma lata de Diet Coke. - Isso é ótimo! - O que foi que o Oráculo disse
exatamente? - pressionou Quíron. - Isso é importante. - Ela... ela disse que eu iria para o oeste e enfrentaria um deus que se tornou desleal. Recuperaria o que
foi roubado e devolveria em segurança. - Eu sabia - disse Grover. Quíron não pareceu satisfeito. - Mais alguma coisa?

Eu não queria contar a ele. Que amigo iria me trair? Eu não tinha tantos assim. E a última sentença - eu fracassaria em salvar o que mais importa. Que tipo de Oráculo
me mandaria em uma missão e me diria, Ah, a propósito, você vai se dar mal. Como eu poderia confessar aquilo? - Não - falei. - Isso é tudo. Ele estudou meu rosto.
- Muito bem, Percy. Mas saiba disto as palavras do Oráculo freqüentemente têm duplo sentido. Não se fie demais nelas. A verdade nem sempre fica clara até que os
eventos aconteçam. Tive a sensação de que ele sabia que eu estava escondendo algo ruim, e tentava fazer com que eu me sentisse melhor. - Certo - falei, ansioso por
mudar de assunto. - Então, aonde vou? Quem é esse deus no oeste? - Ah, pense, Percy - disse Quíron. - Se Zeus e Poseidon enfraquecem um ao outro numa guerra, quem
tem a ganhar com isso? - Algum outro que queira tomar o poder? - adivinhei. - Sim, exatamente. Alguém que guarda um ressentimento, alguém que está infeliz com a
parte que lhe coube desde que o mundo foi dividido eras atrás, cujo reinado se tornará poderoso com a morte de milhões. Alguém que odeia os irmãos por forçá-lo a
um juramento de não ter mais filhos, um juramento que ambos quebraram. Pensei nos meus sonhos, na voz maligna que falara do fundo da terra. - Hades. Quíron assentiu.
- O Senhor dos Mortos é a única possibilidade. Grover babou um pedaço de alumínio pelo canto da boca. - Opa, espere aí. O-o quê? - Uma das Fúrias veio trás de Percy
- lembrou Quíron. - Ela observou o rapaz até ter certeza da sua identidade, e então tentou matá-lo. As Fúrias obedecem a um só senhor: Hades. - Sim, mas... mas Hades
odeia todos os heróis - protestou Grover. - Especialmente se tiver descoberto que Percy é filho de Poseidon... - Um cão infernal conseguiu entrar na floresta - continuou
Quíron. - Eles só podem ser convocados dos Campos da Punição, e ele tinha de ser convocado por alguém de dentro do acampamento. Hades deve ter um espião aqui. Ele
deve suspeitar que Poseidon tentará usar Percy para limpar seu nome. Hades gostaria muito de matar esse jovem meio-sangue antes que ele possa assumir a missão. -
Boa - murmurei. - São dois dos deuses mais importantes querendo me matar. - Mas uma missão para... - Grover engoliu em seco. - Quer dizer, o raio-mestre não poderia
estar em algum lugar como o Maine? O Maine é muito agradável nesta época do ano.

- Hades enviou um protegido para roubar o raio-mestre - insistiu Quíron. - Ele o escondeu no Mundo Inferior, sabendo muito BM que Zeus culparia Poseidon. Não pretendo
entender perfeitamente os motivos do Senhor dos Mortos ou por que ele escolheu esta época para começar uma guerra, mas uma coisa é certa: Percy precisa ir ao Mundo
Inferior; encontrar o raio-mestre e revelar a verdade. Um fogo estranho queimou em meu estômago. O mais esquisito era que não se tratava de medo. Era expectativa.
O desejo de vingança. Hades tentara me matar três vezes até agora, com a Fúria, o Minotauro e o cão infernal. Por sua culpa minha mãe desaparecera em um clarão.
Agora ele tentava enquadrar eu e meu pai por um roubo que não tínhamos cometido. Eu estava pronto para enfrentá-lo. Além disso, se minha mãe estava no Mundo Inferior...
Epa, rapaz!, disse a pequena parte do meu cérebro que ainda estava lúcida. Você é um garoto. Hades é um deus. Grover estava tremendo. Tinha começado a comer cartas
de pinoche como se fossem batatinhas fritas. O pobre sujeito precisava completar uma missão comigo para obter sua licença de buscador, o que quer que fosse isso,
mas como poderia lhe pedir que participasse daquilo, principalmente sabendo que o Oráculo dissera que eu ia fracassar? Era suicídio. - Olhe, se nós abemos que é
Hades - disse a Quíron -, Zeus ou Poseidon poderiam descer ao Mundo Inferior e fazer rolar algumas cabeças. - suspeitar e saber não são o mesmo - disse Quíron. -
Além disso, mesmo que suspeitem de Hades... imagino que Poseidon suspeite.. os outros deuses não poderiam recuperar o raio por si mesmos. Deuses não podem entrar
nos territórios um do outro a não ser que sejam convidados. Essa é outra regra muito antiga. Heróis, por outro lado, têm certos privilégios. Podem ir a qualquer
lugar, desafiar qualquer um, desde que sejam corajosos e fortes o bastante para fazê-lo. Nenhum deus pode ser responsabilidade pelos atos de um herói. Por que acha
eu os deuses sempre agem por intermédio de seres humanos? - Você está dizendo que estou sendo usado. - Estou dizendo que não é por acaso que Poseidon o assumiu agora.
É uma jogada muito arriscada, mas ele está em uma situação desesperadora. Precisa de você. Meu pai precisa de mim. As emoções giraram dentro de mim como pedaços
de vidro em um caleidoscópio. Eu não sabia se sentia ressentimento, gratidão, alegria ou raiva. Poseidon me ignorara por doze anos. Agora de repente, precisava de
mim. Olhei para Quíron. - Você sabia o tempo todo que eu era filho de Poseidon, não é? - Tinha minhas suspeitas. Como eu disse... também falei com o Oráculo. Tive
a sensação de que havia muita coisa que ele não estava me contando sobre sua profecia, mas percebi que não poderia me preocupar com aquilo naquela hora. Afinal,
eu também estava sonegando informações. - Então, deixe-me entender direito - falei. - Preciso ir para o Mundo Inferior e confrontar o Senhor dos Mortos. - Confere
- disse Quíron. - Para encontrar a arma mais poderosa do universo.

- Confere. E levá-la de volta ao Olimpo antes do solstício de verão, daqui a dez dias. - Isso mesmo. Olhei para Grover, que engoliu o ás de copas. - Cheguei a mencionar
que o Maine é muito agradável nesta época do ano? - perguntou ele de um jeito cansado. - Você não precisa ir - disse a ele. - Não posso lhe exigir isso. - Ah...
- Ele se balançou de um casco para o outro. - Não... é só que os sátiros, e os lugares embaixo da terra... bem... Ele respirou fundo, depois se pôs de pé, sacudindo
os pedaços de cartas e alumínio da camiseta. - Você salvou a minha vida, Percy. Se... se está falando sério em querer que eu vá junto, não vou deixá-lo na mão. Fiquei
tão aliviado que tive vontade de chorar, embora não achasse isso muito heróico. Grover era o único amigo que já tivera por mais que alguns meses. Não sabia muito
bem o que um sátiro poderia fazer contra as forças dos mortos, mas me senti melhor sabendo que ele estaria comigo. - Juntos até o fim, homem-bode. Eu me virei para
Quíron. - Então, para onde vamos? O Oráculo só disse para ir para oeste. - A entrada para o Mundo Inferior fica sempre no oeste. Muda de lugar de era em era, como
o Olimpo. Atualmente, é claro, fica nos Estados Unidos. - Onde? Quíron pareceu surpreso. Pensei que fosse óbvio. A entrada para o Mundo Inferior fica em Los Angeles.
- Ah - falei. - Claro. Então é só pegar um avião... - Não! - gritou Grover. - Percy, o que está pensando? Alguma vez na vida já esteve em um avião? Sacudi a cabeça,
sem graça. Minha mãe nunca me levara para lugar algum de avião. Ela sempre dizia que não tínhamos dinheiro pra isso. Além disso, os pais dela tinham morrido em um
desastre de avião. - Percy, pense - disse Quíron. - Você é filho do Deus do Mar. O rival mais rancoroso do seu pai é Zeus, Senhor do Céu. Sua mãe sabia muito bem
que não podia confiar você a um avião. Acima de nós, relâmpagos estalaram. O trovão ribombo. - Certo - disse eu, determinado a não olhar para a tempestade. - Então,
viajarei por terra. - Certo - disse Quíron. - Dois parceiros poderão acompanhá-lo. Grover é um. O outro já se apresentou como voluntário, se você aceitar a ajuda
dela. - Puxa - falei, fingindo surpresa. - Quem mais seria bastante estúpido para se apresentar para uma missão como essa? O ar tremulou atrás de Quíron.

Annabeth se tornou visível, enfiando o boné dos Yankees no bolso de trás. - Eu estava esperando há muito tempo por uma missão, cabeça de alga - disse ela. - Atena
não é fã de Poseidon, mas se você vai salvar o mundo, sou a melhor pessoa para impedir que estrague tudo. - Se é você quem diz. Tem algum plano, sabidinha? As bochechas
dela coraram. - Você quer a minha ajuda ou não? A verdade é que eu queria. Precisava de toda a ajuda que pudesse encontrar. - Um trio - disse eu. - Isso vai dar
certo. - Excelente - disse Quíron. - Esta tarde podemos levar vocês no máximo até o terminal de ônibus em Manhattan. Depois disso, estarão por conta própria. Um
relâmpago. A chuva desabou sobre as campinas que jamais deveriam ver um temporal violento. - Não há tempo a perder - disse Quíron. - Acho que todos vocês devem fazer
as malas.

DEZ ­ Eu destruo um ônibus.
Não precisei de muito tempo para fazer as malas. Decidi deixar o cifre do Minotauro no meu chalé, então só restaram uma muda extra de roupas e uma escova de dentes
para enfiar numa mochila que Grover encontrara para mim. A loja do acampamento me emprestou cem dólares em dinheiro mortal e vinte dracmas de ouro. Essas moedas
eram grandes como um biscoito gigante, tinham imagens de diversos deuses gregos estamapadas de um lado e o Edifício Empire States do outro. Os dracmas dos mortais
antigos eram de prata, Quíron nos contou, mas os olimpianos nunca usavam nada menos que ouro puro. Quíron disse que as moedas poderiam vir a calhar para transações
não-mortais - o que quer que isso significasse. Ele deu a Annabeth e a mim um cantil de néctar e um saco hermético cheio de quadradinhos de ambrosia, para usar somente
em emergências, se fôssemos gravemente feridos. Aquilo era o alimento dos deuses, Quíron lembrou. Iria nos curar de qualquer ferimento, mas era letal para mortais.
Em excesso, poderia deixar um meio-sangue com muita, muita febre. Uma overdose nos faria pegar fogo, literalmente. Annabeth carregava seu boné mágico dos Yankees,
que era, ela me contou, um presente da mãe pelo seu décimo segundo aniversario. Ela levou um livro sobre a famosa arquitetura clássica, escrito em grego antigo,
para ler quando estivesse entediada, e carregava uma comprida faca de bronze escondida na manga da camisa. Eu tinha certeza de que a faca ia nos causar problemas
na primeira vez em que passássemos por um detector de metais. Grover estava com seus pés falsos e calças para passar por ser humano. Usava uma touca verde estilo
rastafári, porque, quando chovia, seu cabelo encaracolado se achatava, deixando aparecer a ponta dos chifres. Sua mochila berrante, alaranjada, estava cheia de sucata
de metal e maçãs para o lanche. Em seu bolso havia um conjunto de flautas de bambu que o papai-bode esculpira para ele, muito embora ele só conhecesse duas músicas:
o Concerto para Piano n° 12, de Mozart, e So Yesterday, de Hilary Duff, e ambas soassem muito mal em flautas de bambu. Acenamos em despedida para os outros campistas,
demos uma última olhada para os campos de morangos, o oceano e a Casa Grande, depois subimos a Colina Meio-Sangue até o alto pinheiro que outrora fora Thalia, filha
de Zeus. Quíron nos esperava em sua cadeira de rodas. Ao lado dele estava o surfista que eu tinha visto quando me recuperava no quarto doente. De acordo com Grover,
o cara era chefe de segurança do acampamento. Supostamente, tinha olhos espalhados pelo corpo inteiro para jamais ser pego de surpresa. Naquele dia, no entanto,
usava uniforme de chofer, então só pude ver os olhos extras das mãos, do rosto e do pescoço. - Este é Argos - disse Quíron. - Vai levar vocês de carro até a cidade
e, ahn, bem, ficar de olho em tudo. Ouvi passos atrás de nós. Luke veio correndo colina acima, carregando um par de tênis de basquete. - Ei! - ofegou ele. - Ainda
bem que alcancei vocês. Annabeth corou, como sempre acontecia quando Luke estava por perto. - Só queria desejar boa sorte - disse ele para mim. - E pensei... ahn,
quem sabe você poderia usar isso. Ele me entregou os tênis, que pareciam bastante normais. Tinham até cheiro de normais. Luke disse: - Maia! Asas brancas de ave
brotaram dos calcanhares, deixando-me tão surpreso que os deixei cair. Os tênis bateram as asas no chão até que estas se dobraram e desapareceram.

- Impressionante! - disse Grover. Luke sorriu. - Ajudaram muito quando eu estava na minha missão. Presente do papai. É claro, eu não os uso muito hoje em dia...
- Sua expressão tornou-se triste. Eu não sabia o que dizer. Já era bem legal o fato de Luke ter ido se despedir. Tinha receio de que ele estivesse magoado comigo
por ter ganho tanta atenção nos últimos dias. Mas ali estava ele, com um presente mágico... Aquilo me fez corar quase tanto quanto Annabeth. - Ei, cara, obrigado.
- Escute, Percy... - Luke pareceu sem graça. - Todos esperam muito de você. Então, apenas... mate alguns monstros por mim, ok? Trocamos um aperto de mãos. Luke afagou
a cabeça de Grover entre os chifres e depois deu um grande abraço em Annabeth, que pareceu que ia desmaiar. Depois que Luke se foi, eu disse a ela: - Você está com
a respiração acelerada. - Não estou, não. - Você o deixou capturar a bandeira em seu lugar, não foi? - Ai... por que mesmo eu quero ir a algum lugar com você, Percy?
Ela desceu batendo os pés para outro lado da colina, onde um utilitário esportivo branco esperava no acostamento da estrada. Argos a seguiu, balançando as chaves
do carro. Peguei os tênis voadores e tive uma súbita sensação ruim. Olhei para Quíron. - Eu não vou poder usar isso, não é? Ele sacudiu a cabeça. - A intenção de
Luke foi boa, Percy. Mas subir para o ar.... não seria muito inteligente de sua parte. Eu assenti, desapontado, mas então tive uma idéia. - Ei, Grover. Você quer
um apetrecho mágico? Seus olhos se iluminaram. - Eu? Rapidamente, amarramos os tênis por cima dos seus falsos pés, e o primeiro menino-bode voador do mundo estava
pronto para o lançamento. - Maia! - bradou. Ele se ergueu do chão muito bem, mas então tombou de lado e sua mochila arrastou-se pela grama. Os tênis alados ficaram
corcoveando para o alto e para baixo como minúsculos cavalos selvagens. - Prática - gritou Quíron para ele. - Você só precisa de prática.

- Aaaaaa! - Grover saiu voando de lado colina baixo, como um cortador de grama ensandecido, em direção à van. Antes que eu pudesse segui-lo, Quíron segurou meu braço.
- Eu devia tê-lo treinado melhor, Percy - disse ele. - Se ao menos tivesse tido mais tempo. Hércules, Jasão... todos receberam mais treinamento. - Tudo bem. Só queria....
Eu me interrompi pois estava prestes a soar como uma criança mimada. Queria que meu pai tivesse me dado uma coisa mágica legal para ajudar na minha missão, algo
tão bom quanto os tênis voadores de Luke ou o boné invisível de Annabeth. - Onde estou com a cabeça? - exclamou Quíron. - Não posso deixar você ir sem isso. Ele
puxou uma caneta do bolso do casaco e me entregou. Era uma esferográfica descartável comum, tinta preta, tampa removível. Custava provavelmente trinta centavos.
- Puxa disse eu. - Obrigado. - Percy, isto foi um presente de seu pai. Guardei durante anos, sem saber que era você que eu estava esperando. Mas a profecia agora
está clara para mim. Você é o escolhido. Lembrei-me da excursão ao Metropolitan Museum of Art, quando reduzi a Poá a sra. Dodds. Quíron me jogara uma caneta que
se transformou em espada. Será que aquilo era...? Tirei a tampa, e a caneta ficou mais comprida e pesada em minha mão. Em meio segundo eu estava segurando uma reluzente
espada de bronze com lâmina de fio duplo, cabo envolvido em couro e uma guarda chata rebitada com pinos de ouro. Era a primeira arma que realmente parecia equilibrada
em minha mão. - A espada tem uma história longa e trágica, sobre a qual não precisamos falar - contou-me Quíron. - Seu nome é Anaklusmos. - Contracorrente - traduzi,
surpreso que o grego antigo me tenha vindo tão fácil. - Mas só a use para emergências - disse Quíron, e apenas contra monstros. Nenhum herói deve ferir mortais,
só se for absolutamente necessário, é claro, mas esta espada não os feriria em nenhum caso. Olhei para a lâmina cruelmente afiada. - Como assim, não feriria mortais?
Como ela pode não ferir? - A espada é de bronze celestial. Forjada pelos Ciclopes, temperada no coração do monte Etna, resfriada no rio Lete. É mortífera para monstros,
para qualquer criatura do Mundo Inferior, desde que não matem você primeiro. Mas a lâmina passará através de mortais como uma ilusão. Eles não são bastante importantes
para serem mortos pela lâmina. E devo avisá-lo: como um semideus, você pode ser morto tanto por armas celestiais quanto por armas normais. Você é duas vezes mais
vulnerável. - Bom saber. - Agora recoloque a tampa na caneta. Encostei a tampa da caneta na ponta da espada e instantaneamente Contracorrente encolheu e se transformou
de novo em uma esferográfica. Enfiei-a no bolso um pouco nervoso, porque na escola tinha a fama de perder canetas. - Não há riscos - disse Quíron.

- De quê? - De perder a caneta - disse ele. - É encantada. Sempre vai reaparecer no seu bolso. Experimente. Eu estava desconfiado, mas atirei a caneta o mais longe
que pude colina abaixo e a vi desaparecer na grama. - Pode levar alguns instantes - disse Quíron. - Agora verifique o bolso. Sem dúvida, a caneta estava lá. - Certo,
isso é muito legal - admiti. - Mas e se um mortal me vir puxando uma espada? Quíron sorriu. - A Névoa é algo poderoso, Percy. - A Névoa? - Sim. Leia a Ilíada. Está
cheia de referências a isso. Sempre que elementos divinos ou monstruosos se misturam com o mundo mortal, eles geram a Névoa, que tolda a visão dos seres humanos.
Você verá as coisas exatamente como são, sendo um meio-sangue, mas os seres humanos interpretarão tudo de modo muito diferente. É realmente incrível até que ponto
os seres humanos podem ir para adaptar as situações à sua concepção de realidade. Pus Contracorrente de volta no bolso. Pela primeira vez, senti a missão como algo
real. Eu estava de fato deixando a Colina Meio-Sangue. Estava indo para o oeste sem nenhuma supervisão de adulto, sem um plano B, nem mesmo um telefone celular.
(Quíron disse que os telefones podiam ser rastreados por monstros; se usasse um, seria pior do que lançar um foguete de sinalização.) Eu não tinha nenhuma arma mais
poderosa do que uma espada para combater monstros e chegar à Terra dos Mortos. - Quíron... - falei. - Quando você diz que os deuses são imortais... quer dizer, havia
um tempo antes deles, certo? - Quatro era antes deles, na verdade. O Tempo dos Titãs foi a Quarta Era, às vezes chamada de Era de Ouro, o que sem dúvida é um nome
impróprio. Esta época, a época da civilização ocidental e reinado de Zeus, é a Quinta Era. - Então como era... antes dos deuses? Quíron contraiu os lábios. - Nem
mesmo eu sou bastante velho para me lembrar disso, criança, mas sei que era um tempo de trevas e selvageria para os mortais. Cronos, o Senhor dos Titãs, chamou seu
reinado de Era de Ouro porque os homens viviam em inocência e livres de todo o conhecimento. Mas isso era mera propaganda. O rei Titã não se importava nada com sua
espécie a não ser para servir de aperitivo, ou como fonte de entretenimento. Foi só no início do reinado do Senhor Zeus, quando Prometeu, o bom Titã, trouxe o fogo
para a humanidade, que sua espécie começou a evoluir, e mesmo então Prometeu foi estigmatizado como pensador radical. Zeus o castigou severamente, como você deve
se lembrar. É claro, por fim os deuses se interessaram pelos seres humanos, e nasceu a civilização ocidental. - Mas agora os deuses não podem morrer, certo? Quero
dizer, enquanto a civilização ocidental estiver viva, eles estarão vivos. Assim... mesmo se eu fracassar, nada pode acontecer de tão ruim a ponto de estragar tudo,
certo? Quíron me deu um sorriso melancólico.

- Ninguém sabe quanto tempo a Era do Ocidente irá durar, Percy. Os deuses são imortais, sim. Mas os Titãs também eram imortais. Eles ainda existem, trancados em
suas várias prisões, forçados a suportar dores e castigos infinitos, com o poder reduzido, mas ainda muito vivos. Que as Parcas não permitam que os deuses sofram
tal maldição, ou que retornemos às trevas e aos caos do passado. Tudo o que podemos fazer, criança, é seguir nosso destino. - Nosso destino... presumindo que saibamos
qual é. - Relaxe - disse-me Quíron. - Mantenha as idéias no lugar. E lembre-se, você pode estar a ponto de evitar a maior guerra da história humana. - Relaxe - disse
eu. - Estou muito relaxado. Quando cheguei ao pé da colina, olhei para trás. Sob o pinheiro que outrora era Thalia, filha de Zeus, Quíron estava em plena forma de
homem-cavalo, segurando no alto seu arco em saudação. Uma típica despedida do acampamento de verão pelo seu típico centauro. ***** Argos nos levou para fora da zona
rural em direção ao oeste de Long Island. Era esquisito estar novamente em uma auto-estrada, com Annabeth e Grover sentados ao meu lado como se fôssemos caronas
normais. Depois de duas semana na Colina Meio-Sangue, o mundo real parecia uma fantasia. Surpreendi-me olhando para cada McDonald's, cada criança no banco traseiro
do carro dos pais, cada cartaz e cada shopping center. - Até agora, tudo bem - disse a Annabeth. - Quinze quilômetros e nem um único monstro. Ela me lançou um olhar
irritado. - Falar desse jeito traz má sorte, cabeça de alga. - Ajude-me a lembrar: por que você me odeia tanto? - Eu não odeio você. - Posso estar enganado. Ela
dobrou o boné de invisibilidade. - Olhe... é só que não deveríamos nos dar bem, ok? Nossos pais são rivais. - Por quê? Ela suspirou. - Quantas razões você quer?
Uma vez minha mãe pegou Poseidon com a namorada dele no templo de Atena, o que é superdesrespeitoso. Outra vez, Atena e Poseidon competiram para ser o deus patrono
da cidade de Atenas. Seu pai criou uma estúpida fonte de água salgada como presente. Minha mãe criou a oliveira. As pessoas viram que o presente dela era melhor,
portanto deram à cidade o nome dela. - Elas realmente devem gostar de azeitonas. - Ah, deixa pra lá. - Agora, se ela tivesse inventado a pizza... isso eu poderia
entender. - Eu disse: deixa pra lá. No assento dianteiro, Argos sorriu. Ele não disse nada, mas olho azul na sua nuca piscou para mim.

O trânsito ficou lento no Queens. Quando chegamos a Manhattan já era pôr-do-sol e começava a chover. Argos nos largou na Estação Greyhound no Upper East Side, não
longe do apartamento de minha mãe e Gabe. Em uma caixa de correio, preso com fita adesiva, havia um folheto encharcado com meu retrato: VOCÊ VIU ESTE MENINO? Eu
o arranquei antes que Annabeth e Grover pudessem vê-lo. Argos descarregou nossas malas, certificou-se de que havíamos conseguido as passagens de ônibus e então foi
embora, o olho nas costas de sua mão se abrindo para nos observar enquanto tirava o carro do estacionamento. Pensei em como estava perto do meu velho apartamento.
Em um dia normal, minha mãe estaria chegando em casa da doceria mais ou menos naquela hora. Gabe Cheiroso provavelmente estava lá, jogando pôquer, sem nem sentir
a falta dela. Grover pôs sua mochila nos ombros. Olhou rua abaixo, na direção em que eu estava olhando. - Quer saber por que ela se casou com ele, Percy? Olhei para
ele. - Você está lendo a minha mente ou coisa assim? - Só as suas emoções. - Ele encolheu os ombros. - Acho que me esqueci de contar que os sátiros podem fazer isso.
Você estava pensando na sua mãe e no seu padrasto, certo? Eu assenti, me perguntando o que mais Grover teria esquecido de contar. - Sua mãe se casou com gabe por
você - Grover me contou. - Você o chama de Cheiroso, mas não tem idéia. O cara tem essa aura... Eca, eu posso sentir o cheiro dele daqui. Posso sentir vestígios
do cheiro dele em você, e já faz uma semana que você esteve perto dele. - Obrigado - falei. - Onde fica o chuveiro mais próximo? - Você devia ser grato, Percy. Seu
padrasto tem um cheiro tão repulsivamente humano que pode mascarar a presença de qualquer semideus. Assim que inalei o ar dentro do seu Camaro, eu soube: Gabe esteve
encobrindo seu cheiro por anos. Se você não tivesse morado com ele durante todos os verões, provavelmente teria sido encontrado por monstros muito tempo atrás. Sua
mãe ficou com ele para proteger você. Era uma senhora esperta. Devia amar muito você para aturar aquele cara... se é que isso o faz se sentir melhor. Não fazia,
mas me forcei para não demonstrar. Eu a varei de novo, pensei. Ela não se foi. Fiquei imaginando se Grover ainda podia ler as minhas emoções, confusas como estavam.
Estava grato por ele e Annabeth estarem comigo, mas me sentia culpado porque não fora sincero com eles. Não lhes contara a verdadeira razão de ter dito sim para
aquela missão maluca. A verdade era que eu não me importava em recuperar o relâmpago de Zeus, em salvar o mundo ou mesmo em ajudar meu pai a sair da encrenca. Quanto
mais pensava nisso, mas me ressentia de Poseidon por nunca ter me visitado, nunca ter ajudado a minha mãe, nunca se quer mandado uma droga de cheque de pensão alimentícia.
Ele só me reconhecera porque tinha um serviço a ser feito. Eu só me preocupava com minha mãe. Hades a levara injustamente, e Hades iria devolvê-la. Você será traído
por aquele que chama de amigo, sussurrou o Oráculo em minha mente. E, no fim, irá fracassar em salvar aquilo que mais importa. Cale a boca, respondi.

***** A chuva continua caindo. Ficamos impacientes esperando o ônibus e decidimos brincar de footbag com uma das maçãs de Grover. Annabeth foi incrível. Ela era
capaz de arremeter a maçã com o joelho, com o cotovelo, com o ombro, ou o que fosse. Eu mesmo não era de todo ruim. O jogo terminou quando arremessei a maçã para
Grover e ela chegou perto demais da sua boca. Em uma megamordida de bode, nossa footbag desapareceu - miolo, pedúnculo e tudo. Grover enrubesceu. Ele tentou se desculpar,
mas Annabeth e eu estávamos muito ocupados dando risada. Finalmente o ônibus chegou. Enquanto estávamos na fila para embarcar, Grover começou a olhar em volta, farejando
o ar do jeito como farejava seu lanche favorito na cantina da escola - enchiladas. - O que foi isso? - perguntei. - Não sei - disse ele, tenso. - Talvez não seja
nada. Mas podia perceber que era alguma coisa. Também comecei a olhar para trás por cima do ombro. Fiquei aliviado quando afinal embarcamos e encontramos lugar juntos
na parte de trás do ônibus. Guardamos nossas mochilas. Annabeth batia nervosamente seu boné dos Yankees na coxa. Quando os últimos passageiros subiram, Annabeth
apertou com força o meu joelho. Percy. Uma senhora acabava de embarcar no ônibus. Usava vestido de veludo amarrotado, luvas de renda e chapéu laranja, tricotado
e disforme, que encobria seu rosto, e carregava uma grande bolsa de lã estampada. Quando ergueu a cabeça seus olhos pretos faiscaram, e meu coração deu um pulo.
Era a sra. Dodds. Mais velha, mas enrugada, mas sem dúvida a mesma cara maligna. Eu me encolhi no assento. Atrás dela subiram mais duas senhoras: uma de chapéu verde,
outra de chapéu roxo. A não ser por isso, eram parecidíssimas com a sra. Dodds - as mesmas mãos encarquilhadas, as mesmas bolsas de lã, os mesmo vestidos de veludo
enrugados. Um trio de avós demoníacas. Elas se sentaram na fileira da frente, logo atrás do motorista. As duas no corredor cruzaram as pernas bem na passagem, formando
um X. Aquilo era bastante normal, mas enviava uma mensagem clara: ninguém sai. O ônibus partiu da estação e seguimos pelas ruas escorregadias de Manhattan. - Ela
não ficou morta muito tempo - disse eu, tentando impedir minha voz de tremer. - Achei que você tivesse dito que eles podem ser afastados por toda uma vida. - Eu
disse, se você tiver sorte - disse Annabeth. - Você obviamente não tem. - Todas as três - choramingou Grover. - Di immortales! - Está tudo bem - disse Annabeth,
obviamente se empenhando em pensar. - As Fúrias. Os três piores monstros do Mundo Inferior. Sem problemas. Sem problemas. Vamos simplesmente saltar pelas janelas.
- Não abrem - gemeu Grover. - Uma saída nos fundos? - sugeriu ela.

Não havia nenhuma. E, mesmo que houvesse, não teria ajudado. Àquela altura, estávamos na Nona Avenida, em direção ao Túnel Lincoln. - Elas não vão nos atacar com
testemunhas em volta - disse eu. - Ou vão? - Os mortais não têm bons olhos - lembrou-me Annabeth. - Seus cérebros só podem processar o que eles vêem através da Névoa.
- Eles vão ver três velhas nos matando, não vão? Ela pensou a respeito. - Difícil dizer. Mas não podemos contar com a ajuda de mortais. Talvez uma saída de emergência
no teto...? Chegamos ao Túnel Lincoln, e o ônibus ficou às escuras a não ser pelas luzes do corredor. Estava assustadoramente silencioso sem o ruído da chuva. A
sra. Dodds se levantou. Com uma voz inexpressiva, como se tivesse ensaiado aquilo, ela anunciou para o ônibus inteiro: - Preciso usar o toalete. - Eu também - disse
a segunda irmã. - Eu também - disse a terceira irmã. Todas elas começaram a se aproximar pelo corredor. - Já sei - disse Annabeth. - Percy, pegue meu chapéu. - O
quê? - É você que elas querem. Fique invisível e siga pelo corredor. Deixe que elas passem por você. Talvez você possa chegar até a frente e escapar. - Mas vocês...
- Há uma pequena possibilidade de que elas não reparem em nós - disse Annabeth. - Você é filho de um dos Três Grandes. Seu cheiro deve encobrir o nosso. - Não posso
abandonar vocês. - Não se preocupe conosco - disse Grover. - Vá! Minhas mãos tremiam. Eu me senti um covarde, mas peguei o boné dos Yankees e pus na cabeça. Quando
olhei para baixo, meu corpo não estava mais ali. Comecei a me esgueirar pelo corredor. Consegui passar dez fileiras, depois me esquivei para um assento vazio bem
quando as Fúrias passaram. A sra. Dodds parou, farejando, e olhou diretamente para mim. Meu coração estava disparado. Parecia não ter visto nada. Ela e as irmãs
continuaram andando. Eu estava livre. Cheguei até a frente do ônibus. Já estávamos quase saindo do Túnel Lincoln. Estava a ponto de apertar o botão de parada de
emergência quando ouvi lamentos abomináveis vindos da fileira do fundo.

As velhas não eram mais velhas. Os rostos ainda eram os mesmos - acho que seria impossível ficarem mais feios -, mas os corpos haviam murchado e tinham o aspecto
de um couro marrom sobre formas de bruxas, com asas de morcego e mãos e pés como garras de gárgulas. As bolsas viraram chicotes chamejantes. As Fúrias cercaram Grover
e Annabeth estalando os chicotes e sibilando: - Onde está? Onde? As outras pessoas no ônibus estavam gritando, escondendo-se em seus bancos. Certo, elas viram alguma
coisa. - Ele não está aqui! - gritou Annabeth. - Saiu! As Fúrias ergueram os chicotes. Annabeth sacou a faca de bronze. Grover agarrou uma lata da sua sacola de
lanches e se preparou para jogá-la. O que eu fiz a seguir foi tão impulsivo e perigoso que eu merecia ser o rei do transtorno do déficit de atenção do ano. O motorista
do ônibus estava distraído, tentando enxergar o que estava acontecendo pelo espelho retrovisor. Ainda invisível, agarrei o volante e dei um tranco para a esquerda.
Todos gritaram ao serem jogados para a direita, e ouvi o que esperava ser o som das três Fúrias esmagadas contra as janelas. - Ei! - gritou o motorista. - Ei! Oaaa!
Ele lutou para segurar o volante. O ônibus chocou-se com a lateral do túnel, o metal arrastado pela parede lançando fagulhas um quilômetro atrás de nós. Saímos de
lado do túnel, de volta à tempestade, com pessoas e monstros arremessados de um canto a outro do ônibus e carros jogados de lado como se fossem pinos de boliche.
De algum modo o motorista achou uma saída. Arremessamo-nos para fora da auto-estrada, passamos méis dúzia de semáforos e acabamos disparando por uma daquelas estradas
rurais de New Jersey, nas quais não dá para acreditar que exista tanto nada do outro lado do rio quando se deixa Nova York. Havia bosques à nossa esquerda e o rio
Hudson à direita, e o motorista parecia se desviar na direção do rio. Outra grande idéia: aperto o freio de emergência. O ônibus gemeu, traçou um circulo completo
sobre o asfalto molhado e se chocou contra as árvores. As luzes de emergência se acenderam. A porta se abriu. O motorista foi o primeiro a sair, com os passageiros
gritando enquanto fugiam em pânico atrás dele. Subi no assento do motorista e deixei-os passar. As Fúrias retomaram o equilíbrio. Estalaram os chicotes para Annabeth
enquanto ela brandia a faca e gritava em grego antigo que recuassem. Grover atirava latas. Olhei para a porta aberta. Eu estava livre para partir, mas não podia
abandonar meus amigos. Tirei o boné invisível. - Ei! As Fúrias se viraram, mostrando as presas amareladas para mim, e a saída de repente me pareceu uma excelente
idéia. A sra. Dodds avançou de modo arrogante pelo corredor, como costumava fazer em classe, pronta para entregar meu F na prova de matemática. Cada vez que ela
estalava o chicote, chamas vermelhas dançavam pelo couro farpado.

Suas duas irmãs horrorosas pularam para cima dos assentos de ambos os lados e se arrastaram na minha direção como dois lagartos enormes e asquerosos. - Perseu Jackson
- disse a sra.Dodds com um sotaque que vinha de algum lugar mais distante do que o sul da Geórgia. - Você ofendeu os deuses. Você deve morrer. - Eu gostava mais
de você como professora de matemática - falei. Ela rosnou. Annabeth e Grover se aproximaram com cautela por trás das Fúrias, procurando uma passagem. Tirei a esferográfica
do bolso e a destampei. Contracorrente se alongou e virou uma reluzente espada de fio duplo. As Fúrias hesitaram. A sra. Dodds já havia sentido a lamina de Contracorrente
antes. Obviamente não gostou de vê-la de novo. - Renda-se agora - sibilou. - E não sofrerá o tormento eterno. - Boa tentativa - disse a ela. - Percy, cuidado! -
gritou Annabeth. A sra. Dodds lançou seu chicote em volta da mão com a qual eu segurava a espada, enquanto as Fúrias em cada lado pularam em cima de mim. Era como
se minha mão estivesse envolta em chumbo derretido, mas consegui não soltar Contracorrente. Atingi a Fúria da esquerda com o cabo e a mandei cambaleando de costas
para a poltrona. Virei e fiz um corte na Fúria da direita. Assim que a lamina entrou em contato com o pescoço dela, ela gritou e explodiu em pó. Annabeth agarrou
a sra. Dodds em um golpe de luta e a atirou para trás, enquanto Grover arrancava o chicote de suas mãos. - Ai! - gritou ele. - Ai! Quente! Quente! A Fúria que eu
havia atingido com o cabo da espada veio de novo para cima de mim, garras à mostra, mas desferi um golpe com Contracorrente e ela estourou como um saco cheio de
bolinhas de isopor. A sra. Dodds estava tentando tirar Annabeth das costas. Ela esperneou, arranhou, sibilou e mordeu, mas Annabeth se agarrou firme enquanto Grover
amarrava suas pernas com seu próprio chicote. Depois os dois a empurraram de costas para o corredor. A sra. Dodds tentou se erguer, mas não havia espaço para ela
bater as asas de morcego, portanto continuou caindo. - Zeus o destruirá! - prometeu ela. - Hades terá sua alma! - Braccas meas vescimini! - gritei. Eu não sabia
muito bem de onde viera o latim. Acho que queria dizer: Coma as minhas calças! Um trovão sacudiu o ônibus. Os cabelos se eriçaram na minha nuca. - Fora! - gritou
Annabeth para mim. - Agora! Não era necessário. Corremos para fora e encontramos os outros passageiros andando de uma lado para outro, atordoados, discutindo com
o motorista ou correndo em círculos e gritando: Nós vamos morrer! Um turista de camisa com estampa havaiana e uma câmara bateu uma foto minha antes que eu pudesse
pôr a tampa na minha espada.

- Nossas malas! - Grover se deu conta. - Nós deixamos nossas... BUUUUUUM!! As janelas do ônibus explodiram enquanto os passageiros corriam para se abrigar. Um relâmpago
rasgara uma enorme cratera no teto, mas um lamento furioso lá dentro me disse que a sra. Dodds ainda não estava morta. - Corram! - disse Annabeth. - Ela está chamando
reforços! Temos de sair daqui! Mergulhamos para dentro dos bosques enquanto a chuva despencava torrencialmente, com o ônibus em chamas atrás de nós e nada à frente
a não ser trevas.

ONZE ­ Nossa visita ao Empório de Anões de Jardim.
De certo modo, é bom saber que há deuses gregos lá fora, porque aí temos alguém para culpar quando as coisas dão errado. Por exemplo, quando você está se afastando
a pé de um ônibus que acaba de ser atacado por bruxas monstruosas e explodido por um relâmpago, e ainda por cima está chovendo, a maioria das pessoas acha que na
verdade isso é apenas muita falta de sorte - quando se é um meiosangue, a gente sabe que alguma força divina está tentando estragar o nosso dia. Então lá estávamos
nós, Annabeth, Grover e eu, andando pelos bosques ao longo da margem do rio, em New Jersey, as luzes de Nova York tornando o céu amarelo atrás de nós e o fedor do
rio Hudson entrando por nosso nariz. Grover estava tremendo e balindo, e seus grandes olhos de bode, cujas pupilas haviam se transformado em fendas, estavam cheios
de terror. - Três Benevolentes. As três de uma vez. Eu mesmo estava em estado de choque. A explosão das janelas do ônibus ainda ecoava em meus ouvidos. Mas Annabeth
nos fazia seguir, dizendo: - Vamos! Quanto mais longe chegarmos, melhor. - Todo o nosso dinheiro ficou lá atrás - lembrei. - Nossa comida e nossas roupas. Tudo.
- Bem, quem sabe se você não tivesse decidido entrar na briga... - O que queria que eu fizesse? Deixasse vocês serem mortos? - Você não precisava me proteger, Percy.
Eu ia ficar bem. - fatiada como pão de fôrma - interveio Grover -, mas bem. - Cale a boca, garoto-bode - disse Annabeth. Grover baliu, triste. - As latas... Uma
sacola de latas perfeitamente boa. Nós chapinhamos pelas terras lamacentas, por entre horríveis árvores retorcidas que tinham um cheiro azedo de roupa suja. Depois
de alguns minutos, Annabeth veio para o meu lado. - Olhe, eu... - sua voz vacilou. - Eu gostei de você ter voltado para nos defender, ok? Aquilo foi realmente corajoso.
- Somos uma equipe, certo? Ela ficou em silêncio por mais alguns passos. - É só que, se você morresse... além do fato de que seria realmente uma droga para você,
isso significaria o fim da missão. Esta pode ser a minha única chance de ver o mundo real. A tempestade havia finalmente acalmado. As luzes da cidade diminuíram
atrás de nós, deixando-nos em uma escuridão quase total. Não conseguia ver nada de Annabeth a não ser um reflexo de seu cabelo loiro. - Você não sai do Acampamento
Meio-Sangue desde que tinha sete anos? - perguntei-lhe. - Não... apenas excursões rápidas. Meu pai...

- O professor de história. - É. Não deu certo morar em casa. Quer dizer, o Acampamento Meio-Sangue é a minha casa. - Ela agora estava despejando as palavras como
se tivesse medo de que alguém a interrompesse. - No acampamento a gente treina, treina. E é legal e tudo mais, mas o mundo real é onde os monstros estão. É onde
a gente descobre se serve para alguma coisa ou não. Se não a conhecesse bem, poderia ter jurado que ouvi dúvida em sua voz. - Você é muito boa com aquela faca -
falei. - Você acha? - Qualquer um que seja capaz de montar nas costas de uma Fúria, para mim, é muito bom. Não pude ver direito, mas acho que ela deu um sorrisinho.
- Sabe - disse ela -, talvez eu deva lhe contar... Uma coisa engraçada lá no ônibus... O que quer que ela quisesse dizer foi interrompido por um piado estridente,
como o som de uma coruja sendo torturada. - Ei, as minhas flautas de bambu ainda funcionam! - exclamou Grover. - Se ao menos eu pudesse me lembrar de uma melodia
de achar caminho, poderíamos sair desses bosques! Ele soprou algumas notas, mas a semelhança da melodia com a de Hilary Duff ainda era questionável. Em vez de achar
um caminho, imediatamente colidi com uma árvore e arranjei um galo de bom tamanho na cabeça. Adicionar à lista de superpoderes que eu não tenho: visão infravermelha.
Depois de tropeçar, praguejar e, de modo geral, me sentir infeliz por mais um quilômetro ou algo assim, comecei a ver luzes à frente: as cores de um letreiro de
neon. Senti cheiro de comida. Comida frita, gordurosa, excelente. Percebi que não havia comido nada que não fosse saudável desde que chegara à Colina Meio-Sangue,
onde vivíamos de uvas, pão, queijo e churrasco light preparado por ninfas. O garoto aqui precisava de um cheeseburguer duplo. Continuamos andando até que vi por
entre as árvores uma estrada deserta de duas pistas. Do outro lado havia um posto de gasolina fechado, um cartaz de um filme dos anos 90 e uma loja aberta, que era
a fonte de luz de neon e do cheiro gostoso. Não era um restaurante de fast-food como eu esperava. Era uma dessas estranhas lojas de curiosidades de beira de estrada,
que vendem flamingos de jardim, índios de madeira, ursos-pardos de cimento e coisas do gênero. A construção principal era um armazém comprido e baixo, cercado por
quilômetros de estátuas. O letreiro de neon acima do portão era para mim impossível de ler, pois, se existe coisa pior para a minha dislexia do que inglês normal,
é inglês em letras cursivas, vermelhas, em neon. Para mim, parecia MEOPRÓI ED NESÕA ED JIDARN AD IAT MEE. - Que diabos que dizer aquilo? - perguntei. - Não sei -
disse Annabeth. Ela gostava tanto de ler que eu esquecera que ela também era disléxica. Grover traduziu: - Empório de Anões de Jardim da Tia Eme.

Nas laterais da entrada, conforme anunciado, havia dois anões de jardim de cimento, uns nanicos e feios e barbados, sorrindo e acenando como se estivessem posando
para uma fotografia. Atravessei a rua, seguindo o cheiro dos hambúrgeres. - Ei... - avisou Grover. - As luzes estão acessas lá dentro - disse Annabeth. - Talvez
esteja aberto. - Lanchonete - falei, ansioso. - Lanchonete - concordou ela. - Vocês dois estão loucos? - disse Grover. - Este lugar é esquisito. Nós o ignoramos.
O terreno da frente era uma floresta de estátuas: animais de cimento, crianças de cimento, até um sátiro de cimento tocando as flautas, o que deixou Grover arrepiado.
- Béééé! - baliu. - Parece meu tio Ferdinando! Paramos diante da porta do armazém. - Não bata - implorou Grover. - Sinto cheiro de monstros. - Seu nariz está congestionado
com as Fúrias - disse-lhe Annabeth. - O único cheiro que estou sentindo é de hambúrgueres. Você não está com fome? - Carne! - disse ele, desdenhoso. - Sou vegetariano.
- Você come enchiladas de queijo e latas de alumínio - lembrei-o. - São vegetais. Venham, vamos embora. Essas estátuas estão... olhando para mim. Então a porta se
abriu rangendo, e diante de nós estava uma mulher alta, do Oriente Médio - eu pelo presumi que fosse de lá, porque usava um longo vestido preto que escondia tudo
menos as mãos, e sua cabeça estava totalmente coberta por um véu. Seus olhos brilhavam embaixo de uma cortina de gaze preta, mas isso foi tudo o que pude distinguir.
As mãos cor de café pareciam velhas, mas bem cuidadas e elegantes, portanto imaginei que se tratasse de uma avó que fora outrora uma bonita dama. O sotaque dela
também tinha um quê do Oriente Médio. Ela disse: - Crianças, já é muito tarde para estarem sozinhas na rua. Onde estão seus pais? - Eles estão... ahn... - Annabeth
começou a dizer. - Nós somos órfãos - falei. - Órfãos? - disse a mulher. A palavra soou estranha em sua boca. - Mas meus queridos! Certamente não! - Nós nos perdemos
da caravana - disse eu. - A caravana do nosso circo. O Mestre-de cerimônias nos disse para encontrá-lo no posto de gasolina se nos perdêssemos, mas ele pode ter
esquecido, ou talvez se referisse a outro posto de gasolina. De qualquer modo, estamos perdidos. Esse cheiro é de comida? - Ah, meus queridos - disse a mulher. -
Vocês precisam entrar, pobres crianças. Eu sou a tia Eme. Vão direto para os fundos do armazém, por favor. Ali há um lugar para refeições. Agradecemos e entramos.

Annabeth murmurou para mim; - Caravana do circo? - Sempre há uma estratégia, certo? - Sua cabeça está cheia de algas. O armazém era abarrotado de mais estátuas -
pessoas, todas em poses diferentes, usando roupas diferentes e com expressões diferentes no rosto. Fiquei imaginando que era preciso ter um jardim bem grande para
alojar ainda que uma única estátua daquelas, porque eram todas em tamanho natural. Mas eu estava mesmo era pensando em comida. Vá em frente, pode me chamar de idiota
por ir entrando na loja de uma senhora estranha como aquela só porque estava com fome, mas às vezes faço as coisas por impulso. Além disso, você nunca sentiu o cheiro
dos hambúrgueres da tia Eme. O aroma era como um gás hilariante na cadeira do dentista ­ fazia sumir todo o resto. Mal reparei nos soluços nervosos de Grover, nem
no modo como os olhos das estátuas pareciam me seguir ou no fato de que a tia Eme trancara a porta atrás de nós. Tudo o que me preocupava era achar o lugar das refeições.
E, sem duvida, lá estava, no fundo do armazém, um balcão de sanduíches com uma grelha, uma maquina de refrigerantes, uma estufa de pretzels e uma máquina de queijo
nacho. Tudo o que poderíamos querer, mais algumas mesas de piquinique de aço na frente. - Por favor, sentem-se - disse a tia Eme. - Fantástico - comentei. - Hum
- disse Grover com relutância -, não temos nenhum dinheiro, senhora. Antes que eu pudesse dar uma cotovelada nas costelas dele, a tia Eme disse: - Não, não, crianças.
Nada de dinheiro. Esse é um caso especial, certo? Para órfãos tão simpáticos, é por minha conta. - Obrigada, senhora - disse Annabeth. Tia Eme enrijeceu-se, como
se Annabeth tivesse dito algo de errado, mas depois, com a mesma rapidez, relaxou. Portanto achei que estivesse imaginando coisas. - Não tem de quê, Annabeth. Você
tem uns olhos cinzentos tão bonitos, criança. - Só depois me perguntei como ela sabia o nome de Annabeth, já que não tínhamos nos apresentado. Nossa anfitriã desapareceu
atrás do balcão e começou a cozinhar. Antes que eu me desse conta, ela nos tinha trazido bandejas de plástico com cheesburguer duplos, Milk-shakes de baunilha e
porções gigantes de batas fritas. Eu já tinha comido metade do meu sanduíche quando me lembrei de respirar. Annabeth sorveu ruidosamente seu Milk-shake. Grover beliscou
as batatas fritas e olhou para o papel-toalha da bandeja como quem poderia experimentar aquilo, mas ainda parecia nervoso demais para comer. - O que é esse chiado?
- perguntou ele. Prestei atenção, mas não ouvi nada. Annabeth sacudiu a cabeça.

- Chiado? - perguntou tia Eme. - Talvez você esteja ouvindo o óleo de fritura. Voce tem bons ouvidos, Grover. - Eu tomo vitaminas. Para os ouvidos. - Admirável -
disse ela. - Mas, por favor, relaxe. Tia Eme não comeu nada. Ela não descobrira a cabeça nem para cozinhar, e agora estava sentada com os dedos entelaçados, observando
enquanto comíamos. Era um pouco incômodo ser observado por alguém cujo o rosto eu não conseguia ver, mas me sentia satisfeito depois do sanduíche, e um pouco sonolento,
e imaginei que o mínimo que podia fazer era puxar um pouco de conversa com nossa anfitriã. - Então, você vende anões - falei, tentando parecer interessado. - Ah,
sim - disse tia Eme. - E animais. E pessoas. Tudo para o jardim. Sob encomenda. As estátuas são muito populares, sabe. - Muito movimento nessa estrada? - Não, nem
tanto. Desde que a auto-estrada foi construída... a maioria dos carros já não passa por este caminho. Preciso cuidar bem de cada cliente que recebo. Senti um formigamento
na nuca, como se alguém estivesse me observando. Virei-me, mas era apenas a estátua de uma garotinha segurando uma cesta de Páscoa. Os detalhes eram incríveis, muito
melhores que os vistos na maioria das estátuas de jardim. Mas havia algo de errado com seu rosto. Ela parecia assustada, até aterriorizada. - Ah! - disse tia Eme
com tristeza. - Você pode notar que alguma das minhas criações não dão muito certo. Elas são defeituosas. Não vendem. O rosto é a parte mais difícil de sair perfeito.
Sempre o rosto. - Você mesma faz estas estátuas? - perguntei. - Ah, sim. Já tive duas irmãs para me ajudar no negócio, mas elas faleceram, e a tia Eme ficou sozinha.
Só tenho as minhas estátuas. É por isso que as faço, sabe? São minha compania. - a tristeza na voz dela parecia tão profunda e tão real que não pude deixar de sentir
pena. Annabeth tinha parado de comer. Ela se inclinou e disse: - Duas irmãs? - É uma história terrível - disse tia Eme. - Não é para crianças, na verdade. Veja,
Annabeth, uma mulher má estava com inveja de mim, muito tempo atrás, quando eu era jovem. Eu tinha um... um namorado, sabe, e essa mulher má estava determinada a
nos separar. Ela provocou um acidente terrível. Minhas irmãs ficaram do meu lado. Compartilharam a minha má sorte enquanto foi possível, mas por fim morreram. Elas
se esvaíram. Só eu sobrevivi, mas a um preço. Que preço. Não entendi muito bem o que ela queria dizer, mas senti pena. Minhas pálpebras estavam cada vez mais pesadas,
o estômago cheio me deixara sonolento. Coitada da velha senhora. Quem ia querer fazer mal a alguém tão gentil? - Percy? - Annabeth me sacudia para chamar minha atenção.
- Acho que devemos ir. Quer dizer, o mestre-de-cerimônias do circo deve estar esperando. A voz dela pareceu tensa. Eu não sabia muito bem por quê. Grover estava
comendo o papel encerado da bandeja, mas se tia Eme estranhou aquilo, não disse nada. - Que olhos cinzentos bonitos - disse ela, outra vez para Annabeth. - Ah, mas
faz muito tempo que não vejo olhos cinzentos como esses.

Ela estendeu o braço como se fosse acariciar o rosto de Annabeth, mas Annabeth se levantou abruptamente. - Precisamos mesmo ir. - Sim! - Grover engoliu o papel toalha
encerado e pôs-se de pé. - O mestre-de-cerimônia está esperando! Isso! Eu não queria ir. Estava satisfeito e contente. Tia Eme era muito gentil. Queria ficar um
pouco com ela. - Por favor, queridos - implorou a tia Eme. - É tão raro eu estar com crianças... Antes de ir, não gostariam de pelo menos de posar para uma foto?
- Uma foto? - perguntou Annabeth com cautela. - Sim, uma fotografia. Vou usá-la como modelo para um novo conjunto de estátuas. Crianças são muito populares, sabem?
Todo mundo ama crianças. Annabeth se balançou de um pé para o outro. - Acho que não podemos, senhora. Vamos, Percy... - Claro que podemos - disse eu. Estava irritado
com Annabeth por ser tão mandona, tão mal-educada com uma velha senhora que acabara de nos dar comida de graça. - É só uma foto, Annabeth. Qual é o problema? - Sim,
Annabeth - a mulher murmurou. - Não há mal nenhum. Percebi que Annabeth não tinha gostado, mas deixou que tia Eme nos levasse para fora pela porta da frente, para
o jardim de estátuas. Tia Eme nos conduziu até um banco de jardim perto do sátiro de pedra. - Agora - disse ela - vou posicionar vocês corretamente. A mocinha no
meio, e os dois jovens cavalheiros em cada lado. - Não há muita luz para uma foto - observei. - Ah, é o suficiente - disse tia Eme. - Suficiente para enxergarmos
um ao outro, não é? - Onde está a sua câmera? - perguntou Grover. Tia Eme deu um passo atrás, como que para admirar a foto. - Agora, o rosto é o mais difícil. Vocês
podem sorrir para mim, por favor, todo mundo? Um grande sorriso? Grover deu uma olhada para o sátiro de cimento a seu lado e murmurou: - Parece mesmo com o tio Ferdinando.
- Grover! - ralhou tia Eme. - Olhe para este lado, querido. Ela ainda não tinha nenhuma câmera nas mãos. - Percy... - disse Annabeth. Algum instinto me advertiu
a dar ouvidos a Annabeth, mas eu estava lutando contra a sensação de sono, a agradável moleza induzida pela comida e pela voz da velha senhora.

- Não vai demorar nem um segundo - disse tia Eme. - Sabe, não consigo vê-los muito bem por causa desse maldito véu... - Percy, alguma coisa está errada - insistiu
Annabeth. - Errada? - disse tia Ema, erguendo as mãos para remover p véu em volta da cabeça. - De modo algum, querida. Estou em tão nobre companhia esta noite. O
que poderia estar errado? - Aquele é o tio Ferdinando! - disse Grover, arfando. - Não olhem para ela! - gritou Annabeth. Num piscar de olhos, ela enfiou o boné dos
Yankees na cabeça e desapareceu. Suas mãos invisíveis empurrara Grover e eu para fora do banco. Eu me vi caído no chão, olhando para as sandálias nos pés de tia
Eme. Pude ouvir Grover correndo para um lado e Annabeth para o outro. Mas eu estava aturdido demais para me mexer. Então ouvi um som estranho, um chiado, acima de
mim. Meus olhos se ergueram para as mãos de tia Eme, que se tornaram enrugadas e cheias de verrugas, com afiadas garras de bronze no lugar das unhas. Quase olhei
mais para o alto, mas em algum lugar à minha esquerda Annabeth gritou: - Não! Não olhe! Mais chiados - o som de pequenas serpentes, logo acima de mim, que vinham
de... de onde deveria estar a cabeça da tia Eme. - Corra! - baliu Grover. Ouvi-o correndo pelos pedregulhos, gritando "Maia!" para dar partida em seus tênis voadores.
Eu não conseguia me mexer. Fiquei olhando ficamente para as garras encarquilhadas de tia Eme, e tentei lutar contra o transe entorpecedor em que a velha me pusera.
- Que pena ter de destruir um jovem rosto tão bonito - disse-me em tom confortador. - Fique comigo, Percy. Tudo o que tem a fazer é olhar para cima. Combati o ímpeto
de obedecer. Em vez disso, olhei para o lado e vi uma daquelas bolas de vidro que as pessoas põem nos jardins - uma esfera espelhada. Pude ver o reflexo escuro de
tia Eme no vidro alaranjado; seu véu se fora, revelando o rosto como um círculo pálido tremeluzente. Os cabelos se mexiam, se contorcendo como serpentes. Tia Eme.
Tia M. Como pude ser tão estúpido? Pense, disse a mim mesmo. Como foi que a Medusa morreu no mito? Mas eu não conseguia pensar. Algo me dizia que a Medusa do mito
estava dormindo quando foi atacada por meu xará, Perseu. Agora, não estava nem um pouco sonolenta. Se quisesse, poderia usar aquelas garras ali mesmo e rasgar o
meu rosto. - A dos Olhos Cinzentos fez isso comigo, Percy - disse a Medusa, ela não soava como um monstro. Sua voz me convidava a olhar para cima, a simpatizar com
a pobre vovó velhinha. - A mãe de Annabeth, a maldita Atena, transformou a bela mulher que eu era nisto aqui. - Não dê puvidos a ela! - gritou a voz de Annabeth,
de algum lugar entre as estáturas. - Corra, Percy!

- Silêncio! - rosnou a Medusa. Depois sua voz voltou a ser um murmurar tranqüilizante. - Você está vendo por que preciso destruir a menina, Percy. Ela é filha de
minha inimiga. Vou esmagar a sua estátua até virar pó. Mas você, querido, você não precisa sofrer. - Não - murmurei. Tentei fazer minhas pernas se mexerem. - Você
quer mesmo ajudar os deuses? - perguntou a Medusa. - Entende o que o espera nessa missão boba, Percy? O que acontecerá se chegar ao Mundo Inferior? Não seja um peão
dos olimpianos, meu querido. Você estará melhor como estátua. Menos dor. Menos dor. - Percy! Atrás de mim, ouvi um zumbido, como o de um beija-flor de cem quilos
dando um mergulho. Grover gritou: - Abaixe-se! Eu me virei, e lá estava ele, Grover, no céu noturno, vindo bem na minha frente, com os tênis voadores batendo as
assas, segurando um galho de árvore do tamanho de um bastão de beisebol. Seus olhos estavam fechados com força, a cabeça se agitando de um lado para o outro. Guiava-se
só pelos ouvidos e o nariz. - Abaixe-se! - gritou ele de novo. - Vou pegá-la! Aquilo por fim me acordou para ação. Conhecendo Grover, tinha certeza de que ele ia
errar a Medusa e me acertar. Mergulhei para um lado. Plaft! De início pensei que fosse o som de Grover atingindo uma árvore. Então a Medusa rugiu de raiva. - Seu
sátiro miserável - rosnou. - Vou acrescentá-lo à minha coleção! - Essa foi pelo tio Ferdinando! - gritou Grover de volta. Saí correndo aos tropeções e me escondi
entre as estátuas enquanto Grover mergulhava para mais um ataque. Pimba! - Aaargh! - berrou a Medusa, as serpentes do cabelo sibilando e cuspindo. Bem ao meu lado,
a voz de Annabeth disse: - Percy! Pulei tão alto que meus pés quase derrubaram um anão de jardim. - Ai! Não faça isso! Annabeth tirou o boné dos Yankees e se tornou
visível. - Você tem de cortar a cabeça dela. - O quê? - Está louca? Vamos dar o fora daqui. - A Medusa é uma ameaça. Ela é má. Eu mesma a mataria, mas... - Annabeth
engoliu em seco, como se estivesse prestes a admitir algo difícil. - Mas você tem a melhor arma. Além disso, nunca vou conseguir chegar perto dela. Ela me faria
em pedacinhos por causa da minha mãe. Você... você tem uma chance.

- O quê? Eu não posso... - Olhe, você quer que ela transforme mais gente inocente em estátua? Ela apontou para as estátuas de um casal apaixonado, um homem e uma
mulher abraçados, transformados em pedra pelo monstro. Annabeth, agarrou uma esfera espelhada verde de um pedestal próximo. - Um escudo espelhado seria melhor. -
Ela estudou a esfera com ar crítico. - A convexidade causará uma certa distorção. O tamanho do reflexo estará distorcido por uma fator de... - Quer falar numa língua
que eu entenda? - Estou falando! - Ela me jogou a bola de vidro. - Só olhe para a Medusa pelo espelho. Nunca olhe diretamente para ela. - Ei, gente! - gritou Grover
em algum lugar acima de nós. - Acho que ela está inconsciente! - Grrraaaurrr! - Talvez não - corrigiu ele. E mergulhou para mais um ataque. - Depressa - disse Annabeth
para mim. - Grover tem um excelente nariz, mas vai acabar caindo. Peguei minha caneta e tirei a tampa. A lâmina de bronze de Contracorrente se alongou em minha mão.
Segui os sons de silvos e cuspidas do cabelo de Medusa. Mantive os olhos cravados na esfera espelhada para ver somente o reflexo do monstro, e não a coisa real.
Então, no vidro tingido de verde, eu a enxerguei. Grover vinha descendo para mais um assalto com o bastão, mas dessa vez voou um pouco baixo demais. A Medusa agarrou
o bastão e o desviou do curso. Ele deu uma cambalhota no ar e tombou nos braços de um urso-pardo de pedra com um dolorido "Uummmpff". A Medusa estava a ponto de
pular em cima dele quando eu gritei: - Ei! Avancei na direção dela, o que não foi fácil, segurando uma espada e uma bola de vidro. Se a Medusa atacasse, seria difícil
me defender. Mas ela deixou que eu me aproximasse - seis metros, três metros. Agora era possível para ver o reflexo do seu rosto. Certamente não era assim tão feio.
As curvas verdes da bola espelhada deviam estar distorcendo a imagem, tornando-a ainda pior. - Você não machucaria uma velhinha, Percy - sussurrou ela. - Sei que
não faria isso. Hesitei, fascinado pelo rosto que vi refletido no vidro - os olhos que pareciam arder refletidos no tom esverdeado, fazendo mes braços fraquejarem.
De cima do urso-pardo de cmento, Grover gemeu: - Percy, não lhe dê ouvidos! A Medusa gargalhou.

- Tarde demais. Ela se lançou até mim com suas garras. Dei um golpe com a espada, ouvi um plof! nauseante, e então um chiado como o de vento escapando de uma caverna
- o som de um monstro se desintegrando. Algo caiu no chão ao lado do meu pé. Precisei reunir toda a minha força de vontade para não olhar. Pude sentir uma secreção
morna empapando minha meia e pequenas serpentes agonizantes puxando os cadarços dos meus sapatos. - Ah, eca! - disse Grover. Seus olhos ainda estavam bem fechados,
mas imagino que conseguisse ouvir aquilo gorgolejando e fumegando. - Megaeca. Annabeth se aproximou de mim, os olhos fixos no céu. Estava segurndo o véu da medusa.
- Não se mova - disse ela. Com muito, muito cuidado, sem olhar para baixo, ajoelhou-se e embrulhou a cabeça do monstro no pano preto, depois a ergueu. Ainda estava
pingando um suco verde. - Tudo bem com você? - perguntou-me com a voz trêmula. - Sim - concluí, embora sentisse vontade de vomitar meu cheesburguer duplo. - Por
que... por que a cabeça não evaporou? - Depois que você a decepa, ela se torna um troféu de guerra - disse ela. - Como o chifre do Minotauro. Mas não a desembrulhe.
Ainda pode petrificá-lo. Grover gemeu enquanto descia da estátua do urso-pardo. Estava com um grande vergo na testa. O boné rastafári verde estava pendurado em um
dos pequenos chifres de bode e os pés falsos haviam sido arrancados dos cascos. Os tênis mágicos voavam sem rumo em volta de sua cabeça. - Nosso grande aviador -
disse eu. - Bom trabalho, cara. Ele conseguiu dar um sorriso envergonhado. - Se bem que, na verdade, não foi nada divertido. Bem, a parte de acertá-la com o pau,
isso foi bom. Mas me arrebentar contra um urso de concreto? Nada divertido. Ele agarrou os tênis no ar. Eu pus a tampa em minha espada. Juntos, nós três voltamos
cambaleando para o armazém. Encontramos alguns sacos plásticos velhos atrás do balcão de lanches e embrulhamos duas vezes a cabeça da Medusa. Com um plop, largamos
a coisa em cima da mesa onde havíamos jantado e nos sentamos em volta, exaustos demais para falar. Por fim eu disse: - Então temos de agradecer a Atena por esse
monstro? Annabeth me lançou um olhar irritado. - A seu pai, na verdade. Medusa era namorada de Poseidon. Eles combinaram um encontro no templo de minha mãe. Foi
por isso que Atena a transformou em monstro. A Medusa e suas irmãs, que a ajudaram a entrar no templo, se transformaram nas três Górgonas. É por isso que ela queria
me picar em pedacinhos, mas ia conservar você como uma bela estátua. Ainda gosta de seu pai. Você deve tê-la feito se lembrar dele. Meu rosto estava ardendo.

- Ah, então a culpa de termos encontrado a Medusa é minha? Annabeth endireitou o corpo. Em uma péssima imitação de minha voz, disse: - É só uma foto, Annabeth. Qual
é o problema? - Deixa para lá - falei. - Você é impossível. - Você é insuportável. - Você é... - Ei! - Interrompeu Grover. - Vocês dois estão me dando enxaqueca.
E sátiros nem têm enxaqueca. O que vamos fazer com a cabeça? Eu olhei para aquilo. Uma pequena serpente estava pendurada para fora de um buraco no plástico. As palavras
impressas no saco diziam: AGRADECEMOS SUA VISITA! Eu estava zangado, não só com Annabeth ou a mãe dela, mas com todos os deuses por causa daquela missão, por nos
terem tirado da estrada e pelas duas grandes batalhas logo no primeiro dia fora do acampamento. Nesse ritmo, jamais chegaríamos vivos a Los Angeles, muito menos
antes do solstício de verão. O que a Medusa tinha dito? Não seja um peão dos olimpianos, meu querido. Você estará melhor como estátua. Eu me levantei. - Volto já.
- Percy - chamou Annabeth. - O que você... Vasculhei os fundos do armazém até encontrar o escritório da Medusa. Seu livro-caixa mostrava as seis vendas mais recentes,
todas remessadas para o Mundo Inferior para decorar o jardim de Hades e Perséfone. De acordo com uma nota de embarque, o endereço de cobrança do Mundo Inferior era
os Estúdios de Gravação M.A.C. ­ Morto ao Chegar -, West Hollywood, Califórnia. Dobrei a nota e a enfiei no bolso. Na caixa registradora encontrei vinte dólares,
uns dracmas de ouro e algumas guias de remessa do Expresso Noturno de Hermes, cada qual com uma pequena bolsa de couro anexa, para moedas. Vasculhei o restante do
escritório até encontrar uma caixa do tamanho certo. Voltei para a mesa de piquenique, encaixotei a cabeça da Medusa e preenchi uma guia de remessa: AOS DEUSES MONTE
OLIMPO, 600º ANDAR, EDIFÍCIO EMPIRE STATE NOVA YORK, NY COM OS MELHORES VOTOS, PERCY JACKSON - Eles não vão gostar disso - advertiu Grover. - Vão achá-lo impertinente.
Coloquei alguns dracmas de ouro na bolsa anexa. Assim que a fechei, veio um som como o de uma caixa registradora. O pacote flutuou para fora da mesa e desapareceu
com um pop! - Eu sou impertinente - disse.

Olhei para Annabeth, desafiando-a a me criticar. Ela não criticou. Parecia resignada com o fato de eu ter um talento especial para chatear os deuses. - Vamos - murmurou
ela. - Precisamos de um novo plano.

DOZE ­ Um poodle é o nosso conselheiro.
Estávamos nos sentindo superinfelizes naquela noite. Acampamos no bosque, a cem metros da estrada principal, em uma clareira pantanosa que as crianças do lugar obviamente
vinham usando para festas. O chão estava repleto de latas de refrigerantes amassadas e embalagens de fast-food. Tínhamos pego um pouco de comida e cobertores da
tia Eme, mas não ousamos acender uma fogueira para secar nossas roupas molhadas. As Fúrias e a Medusa já haviam proporcionado animação suficiente para um dia. Não
queríamos atrair mais nada. Decidimos dormir em turnos. Prontifiquei-me a ser o primeiro a ficar de guarda. Annabeth enroscou-se sobre os cobertores e já estava
roncando quando sua cabeça tocou o chão. Grover subiu com seus tênis voadores para o galho mais baixo de uma arvore, encostou-se no tronco e ficou olhando para o
céu da noite. - Vá em frente e durma - disse a ele. - Acordo você se houver problemas. Ele assentiu, mas ainda assim não fechou os olhos. - Isso me deixa triste,
Percy. - O quê? Ter se juntado a essa missão estúpida? - Não. Isso me deixa triste. - Ele apontou para todo aquele lixo no chão. - E o céu. Não dá nem para ver as
estrelas. Eles poluíram o céu. Esta é uma época terrível para ser um sátiro. - Ah, sim. Acho que você seria um ambientalista. Ele me lançou um olhar penetrante.
- Só um ser humano não seria. Sua espécie está entulhando o mundo tão depressa que... Ora, não importa. É inútil fazer sermões para um ser humano. Do jeito que as
coisas vão, nunca encontrarei Pan. - Que Pan? - Pan! - bradou, indignado. - P-A-N. O grande deus Pan! Acha que quero uma licença de buscador para quê? Uma brisa
estranha faz farfalhar a clareira, encobrindo por um momento o fedor de lixo e putrefação. Trazia o cheiro de frutas e flores selvagens, e de água limpa de chuva,
coisas que devem ter existido algum dia naqueles bosques. De repente, senti saudades de algo que jamais conhecera. - Fale-me sobre a busca - disse eu. Grover olhou
para mim com receio, como se temesse que eu estivesse apenas me divertindo às custas dele. - O Deus dos Lugares Selvagens desapareceu há dois mil anos - contou.
- Um marinheiro vindo da costa de Éfeso ouviu uma voz misteriosa gritando na praia: Conte a eles que o grande deus Pan morreu! Quando os seres humanos ouviram a
notícia, acreditaram. Estão pilhando o reino de Pan desde então. Mas, para os sátiros, Pan era nosso senhor e mestre. Era nosso protetor, e também dos lugares selvagens
na Terra. Não acreditamos que tenha morrido. A cada geração, os sátiros mais valentes empenham a vida para encontrar Pan. Eles esquadrinham o planeta, explorando
todos os locais mais selvagens à espera de encontrar o lugar onde ele se esconder e despertá-lo de seu sono. - E você quer ser um buscador.

- É o sonho da minha vida - disse ele.- Meu pai era um buscador. E meu tio Ferdinando... a estátua que você viu lá... - Ah, certo, desculpe. Grover sacudiu a cabeça.
- Tio Ferdinando sabia os riscos. Meu pai também. Mas eu terei sucesso. Serei o primeiro buscador a retornar com vida. - Espere... o primeiro? Grover tirou suas
flautas de bambu do bolso. - Nenhum buscador jamais voltou. Depois que partem, eles desaparecem. Nunca mais são vistos vivos de novo. - Nem uma vez em dois mil anos?
- Não. - E seu pai? Você não tem idéia do que aconteceu com ele? - Nenhuma. - Mas ainda assim quer ir - falei, admirado. - Quer dizer, você realmente acha que será
você quem vai encontrar Pan? - Preciso acreditar nisso, Percy. Todo buscador acredita. É a única coisa que nos impede de ficar desesperados quando olharmos para
o que os seres humanos fizeram com o mundo. Tenho de acreditar que Pan ainda pode estar despertado. Olhei para o nevoeiro alaranjado do céu e tentei entender como
Grover podia perseguir um sonho que parecia tão impossível. Mas, por outro lado, será que eu era melhor? - Como vamos entrar no Mundo Inferior? - perguntei. - Quer
dizer, que chances temos contra um deus? - Eu não sei - admitiu ele. - Mas antes, na casa da Medusa, quando você estava vasculhando o escritório dela, Annabeth me
disse... - Ah, esqueci. Annabeth sempre tem um plano todo esquematizado. - Não seja tão duro com ela, Percy. Annabeth teve uma vida difícil, mas é boa pessoa. Afinal,
ela me perdoou... - ele se interrompeu. - O que quer dizer? - perguntei. - Perdoou o quê? De repente, Grover pareceu muito interessado em tirar notas das suas flautas.
- Espere um minuto - disse eu. - Seu primeiro trabalho de guardião foi cinco anos atrás. Annabeth está no acampamento há cinco anos. Ela não era... quer dizer, a
sua primeira tarefa que deu errado... - Não posso falar sobre isso - disse Grover, e o tremor em seu lábio inferior me sugeriu que ele começaria a chorar se eu o
pressionasse. - Mas como eu estava dizendo, lá na casa da Medusa Annabeth e eu achamos em que há algo estranho com esta missão. Algo que não é o que parece. - Ah,
novidades. Estou sendo acusado de roubar um relâmpago que foi Hades quem pegou.

- Não me refiro a isso. As Fú... as Benevolentes pareciam estar se segurando. Como a sra. Dodds na Academia Yancy... por que ela esperou tanto tempo para tentar
matá-lo? Depois, no ônibus, elas não foram tão agressivas quanto poderiam. - Elas me pareceram bastante agressivas. Grover sacudiu a cabeça. - Estavam guinchando
para nós: Onde está? Onde? - Perguntavam sobre mim - falei. - Talvez... mas tanto eu como Annabeth tivemos a sensação de que não estavam perguntando sobre uma pessoa.
Elas perguntaram apenas Onde está?, e não onde ele ou ela está. Pareciam falar de um objeto. - Isso não faz sentido. - Eu sei. Mas, se tivermos entendido mal alguma
coisa a respeito desta missão, e só temos nove dias para encontrar o raio-mestre... - Ele olhou para mim como se estivesse esperando por respostas, mas eu não tinha
nenhuma. Pensei no que a Medusa dissera: eu estava sendo usado pelos deuses. O que me aguardava era pior que a petrificação. - Não fui sincero com você - contei
a Grover. - Eu não me importo com o raio-mestre. Concordei em ir para o Mundo Inferior para poder trazer de volta a minha mãe. Grover soprou uma nota suave nas suas
flautas. - Eu sei, Percy. Mas você tem certeza de que esse é o único motivo? - Não estou fazendo isso para ajudar meu pai. Ele não se importa comigo eu não me importo
com ele. Do seu galho, Grover olhou atentamente para baixo. - Olhe, Percy. Não sou tão esperto quanto Annabeth. Não sou tão valente quanto você. Mas sou muito bom
em ler emoções. Você está contente porque seu pai está vivo. Sente-se bem pelo fato de ele o ter assumido como filho, e parte de você quer que ele fique orgulhoso.
Foi por isso que você despachou a cabeça da Medusa para o Olimpo. Você queria que ele visse o que você fez. - É mesmo? Bem, talvez as emoções dos sátiros funcionem
de um jeito diferente das emoções humanas. Porque você está errado. Não me importo com o que ele pensa. Grover puxou os pés para cima do galho. - Certo, Percy. Tanto
faz. - Além disso, não fiz nada demais para me vangloriar. Mas saímos de Nova York e já estamos aqui encalhados sem dinheiro e sem ter como ir para o oeste. Grover
olhou para o céu noturno, como se estivesse pensando no problema. - Que tal eu ficar com o primeiro turno, heim? Vá dormir um pouco. Eu quis protestar, mas ele começou
a tocar Mozart, suava e doce, e eu me virei para o outro lado, os olhos ardendo. Depois de alguns compassos do Concerto para Piano n.12 eu estava dormindo. *****

Em meus sonhos, eu estava em uma caverna escura à beira de um enorme abismo. Criaturas cinzentas de névoa se revolviam à minha volta, sussurrando tiras de fumaça
que eu, de algum modo, sabia que eram os espíritos dos mortos. Eles puxavam as minhas roupas, tentando me empurrar de volta, mas eu me sentia compelido a andar para
frente, para a beira. Olhar para baixo me dava vertigens. O abismo se abria tão voraz e tão largo, e era tão completamente negro, que eu sabia que não devia ter
fundo. Contudo tinha a sensação de que algo tentava emergir dali, algo enorme e maligno. O pequeno herói, ressoou uma voz em deleite, vinda lá de baixo, das trevas.
Fraco demais, jovem demais, mas talvez você sirva. A voz parecia ancestral - fria e pesada. Envolveu-me como lençóis de chumbo. Eles o enganaram, menino, disse ela.
Faça comigo uma troca. Eu lhe darei o que quer. Uma imagem tremeluzente pairou acima do vazio: minha mãe, congelada no momento em que se dissolveu em uma chuva de
ouro. Seu rosto estava distorcido de dor, como se o Minotauro ainda apertasse seu pescoço. Os olhos me encaravam, implorando: Vá! Tentei gritar, mas minha voz não
saiu. De dentro do abismo, um riso frio ecoou. Uma força invisível me puxou para frente. Ia me arrastar para o precipício se eu não agüentasse firme. Ajude-me a
subir, menino. A voz ficou mais ávida. Traga-me o raio. Desfira um golpe contra os deuses traiçoeiros! Os espíritos dos mortos sussurravam à minha volta: Não! Acorde!
A imagem da minha mãe começou a sumir. A coisa no abismo apertou sua garra invisível em volta de mim. Percebi que ela não queria me puxar para dentro. Estava me
usando para erguer a si mesma para fora. Bom, a coisa murmurou. Bom. Acorde! sussurraram os mortos. Acorde! ***** Alguém estava me sacudindo. Meus olhos se abriram,
e era dia. - Ah! - disse Annabeth. - O zumbi volta à vida. Eu tremia por causa do sonho. Ainda podia sentir o aperto do monstro do abismo em volta do meu peito.
- Quanto tempo estive dormindo? - O suficiente para eu preparar o café-da-manhã - Annabeth me jogou um saco de flocos de milho sabor nacho, da lanchonete da tia
Eme. - E para Grover sair e explorar. Olhe, ele encontrou um amigo. Tive dificuldades em focalizar o olhar.

Grover estava sentado de pernas cruzadas em um cobertor com alguma coisa felpuda no colo, um bicho de pelúcia sujo e de um cor-de-rosa artificial. Não. Não era um
animal de pelúcia. Era um poodle cor-de-rosa. O poodle latiu para mim, desconfiado. Grover disse: - Não, ele não é. Eu pisquei. - Você está... falando com essa coisa?
O poodle rosnou. - Esta coisa - avisou Grover - é nossa passagem para o oeste. Seja simpático com ele. - Você pode falar com animais? Grover ignorou a pergunta.
- Percy, apresento-lhe Gladiola. Gladiola, Percy. Olhei para Annabeth, calculando que ela fosse rir da peça que eles estavam me pregando, mas ela pareceu extremamente
séria. - Não vou dizer olá para um poodle cor-de-rosa - falei. - Esqueça. - Percy - disse Annabeth -, eu disse olá para o poodle. Diga olá para o poodle. O poodle
rosnou. Eu disse olá para o poodle. Grover explicou que havia encontrado Gladiola no bosque e que começaram a conversar. O poodle tinha fugido de uma família endinheirada
do lugar, que oferecera duzentos dólares de recompensa para quem o devolvesse. Gladiola na verdade não queria voltar para a família, mas estava disposto a fazê-lo,
se isso fosse ajudar Grover. - Como Gladiola sabe da recompensa? - perguntei. - Ele leu os avisos - disse Grover. - Óbvio... - É claro - retruquei. - Que bobagem
a minha. - Então nós entregamos Gladiola - explicou Annabeth, em seu melhor tom de estrategista -, recebemos o dinheiro e compramos passagens para Los Angeles. Simples.
Pensei no sonho - as vozes sussurrantes dos mortos, a coisa no abismo e o rosto de minha mãe, tremeluzindo enquanto se dissolvia em dourado. Tudo aquilo podia estar
esperando por mim no oeste. - Não em outro ônibus - disse, cauteloso. - Não - concordou Annabeth. Ela apontou colina abaixo, para os trilhos de trem que eu não conseguira
ver na noite anterior, no escuro. - Há uma estação da Amtrack a um quilômetro naquela direção. De acordo com Gladiola, o trem para o oeste parte ao meio-dia.

TREZE ­ Meu mergulho para morte.
Passamos dois dias no trem, rumo a oeste pelas colinas, por cima de rios, atravessando ondas de trigo cor de âmbar. Não fomos atacados nem uma vez, mas não relaxei.
Sentia que estávamos viajando em uma vitrine, sendo observados de cima e, talvez de baixo, que alguma coisa estava aguardando o momento certo. Tentei ser discreto,
pois meu nome e fotografia estavam estampados nas primeiras páginas de vários jornais da Costa Leste. O Trenton Register-News publicou uma foto tirada por um turista
quando desci do ônibus da Greyhound. Estava com uma expressão ensandecida nos olhos. Minha espada era um borrão metálico em minhas mãos. Poderia ser um taco de beisebol
ou de lacrose. A legenda da foto dizia: Percy Jackson, 12 anos, procurando para interrogatório sobre o desaparecimento em Long Island de sua mãe há duas semanas,
aparece aqui fugindo do ônibus onde abordou diversas passageiras idosas. O ônibus explodiu no acostamento de uma rodovia a leste de New Jersey logo depois que Jackson
fugiu da cena do crime. Com base em relatos de testemunhas, a polícia acredita que o menino possa estar viajando com dois cúmplices adolescentes. O padrasto, Gabe
Ugliano, ofereceu uma recompensa em dinheiro para qualquer informação que leve à sua captura. - Não se preocupe - disse-me Annabeth. - A polícia dos mortais nunca
nos encontraria. Mas não pareceu muito segura. Passei o resto do dia alternando entre andar de uma ponta a outra do trem (pois para mim era difícil ficar sentado)
e olhar pelas janelas. Numa oportunidade avistei uma família de centauros galopando por um campo de trigo, arcos de prontidão, como se estivessem caçando o almoço.
O menininho centauro, que era do tamanho de um pônei, percebeu que eu estava olhando e acenou. Olhei em volta no vagão de passageiros, porém mais ninguém reparou.
Os passageiros adultos estavam todos com a cara enterrada em laptops ou revistas. Em outra, mais ao anoitecer, vi algo muito grande se movendo pelo bosque. Poderia
jurar que era um leão, só que não há leões vivendo soltos nos Estados Unidos, e aquilo era do tamanho de um tanque de guerra. O pêlo tinha reflexos dourados à luz
do entardecer. Ele então saltou por entre as arvores e desapareceu. ***** O dinheiro de recompensa por devolver o poodle Gladiola só foi bastante para comprar passagens
até Denver. Não pudemos comprar leitos no vagão-dormitório, então cochilamos nos assentos. Meu pescoço ficou duro. Tentei não babar enquanto dormia, já que Annabeth
estava sentada bem a meu lado. Grover ficou roncando e balindo, e me acordava. Num momento ele se agitou demais e um de seus pés falsos caiu. Annabeth e eu tivemos
de enfiá-lo de volta antes que algum dos outros passageiros notasse. - E então - Annabeth me perguntou depois que recolocamos o tênis de Grover -, quem quer a sua
ajuda? - O que quer dizer? - Quando estava dormindo agora mesmo, você murmurou Não quero ajudar você. Com quem estava sonhando? Estava em dúvida sobre dizer alguma
coisa. Era a segunda vez que sonhava com a voz maligna do abismo. Aquilo me incomodava tanto que, por fim, contei a ela. Annabeth ficou em silêncio por um bom tempo.

- Não parece ser Hades. Ele sempre aparece sentado em um trono negro, e nunca ri. - Ele ofereceu minha mãe em troca. Quem mais poderia fazer isso? - Eu acho... se
ele queria dizer Ajude-me a subir do Mundo Inferior... Se ele quer guerra com os olimpianos... Mas por que pedir a você o raio-mestre, se ele já o tem? Sacudi a
cabeça, desejando saber a resposta. Pensei no que Grover havia contado, que as Fúrias no ônibus pareciam estar procurando alguma coisa. Onde está? Onde? Talvez Grover
tivesse sentido as minhas emoções. Ele bufou dormindo, resmungou algo sobre vegetais, e virou a cabeça. Annabeth ajeitou o boné dele para cobrir os chifres. - Percy,
você não pode negociar com Hades. Sabe disso, certo? Ele é enganador, cruel e ganancioso. Não me importo se suas Benevolentes não foram tão agressivas dessa vez...
- Dessa vez? - perguntei. - Você quer dizer que já cruzou com elas antes? A mão dela deslizou até o colar. Ela manuseou uma conta branca vitrificada, na qual estava
pintada a imagem de um pinheiro, um dos seus marcos de fim de verão, em argila. - Digamos apenas que não morro de amores pelo Senhor dos Mortos. Você não pode ficar
tentado a negociar sua mãe. - O que faria se fosse seu pai? - Essa é fácil - disse ela. - Eu o deixaria apodrecer. - Sério? Os olhos cinzentos de Annabeth se fixaram
em mim. Estavam com a mesma expressão que vi no bosque, no acampamento, no momento em que ela puxou a espada contra o cão infernal. - Meu pai me detestou desde o
dia em que nasci, Percy - disse ela. - Ele nunca quis um bebê. Quando me ganhou, pediu a Atena que me levasse de volta e me criasse no Olimpo, porque estava muito
ocupado com seu trabalho. Ela não ficou contente com isso. Disse a ele que os heróis têm de ser criados por seu parente mortal. - Mas como... quer dizer, você não
nasceu em um hospital... - Apareci na porta do meu pai, em um berço de ouro, trazido do Olimpo por Zéfiro, o Vento Ocidental. Daí você imaginaria que meu pai se
lembrasse disso como um milagre, não é? Como se, quem sabe, tivesse feito algumas fotos digitais ou algo do tipo. Mas ele sempre falou sobre a minha chegada como
se fosse a coisa mais inconveniente que já lhe acontecera. Quando eu tinha cinco anos, ele se casou e esqueceu totalmente Atena. Arranjou uma esposa mortal normal
e teve dois filhos mortais normais, e tentou fazer de conta que eu não existia. Olhei pela janela do trem. As luzes de uma cidade adormecida estavam passando. Quis
fazer Annabeth se sentir melhor, mas não sabia como. - Minha mãe se casou com um cara horroroso demais - contei a ela. - Grover disse que ela fez isso para me proteger,
para me esconder no cheiro de uma família humana. Quem sabe seu pai não estava pensando nisso?

Annabeth continuou focada em seu colar. Apertava o anel de formatura de ouro que estava pendurado entre as contas. Ocorreu-me que o anel devia ser do pai dela. Fiquei
imaginando por que ela o usava se o odiava tanto. - Ele não liga para mim - disse ela. - A mulher dele... minha madrasta... me tratava como uma aberração. Ela ia
me deixar brincar com os filhos dela. Meu pai concordava. Sempre que acontecia alguma coisa perigosa... sabe, algo a ver com monstros... os dois me olhavam com raiva,
do tipo Como você ousa pôr nossa família em perigo. No fim, entendi a indireta. Eu não era querida. Eu fugi. - Que idade você tinha? - A mesma idade que comecei
o acampamento. Sete. - Mas... você não ia conseguir chegar até a Colina Meio-Sangue sozinha. - Não, sozinha não. Atena me protegeu, me guiou em direção à ajuda.
Fiz amigos inesperados que cuidaram de mim, bem, por pouco tempo. Quis perguntar o que havia acontecido, mas Annabeth parecia perdida em lembranças tristes. Então
ouvi o som dos roncos de Grover e fiquei olhando para fora, pelas janelas do trem, enquanto os campos escuros de Ohio iam passando. ***** Perto do fim do nosso segundo
dia no trem, em 13 de junho, oito dias antes do solstício de verão, passamos por algumas colinas douradas e sobre o rio Mississipi, e entramos em St. Louis. Annabeth
esticou o pescoço para ver o Portal em Arco, que me pareceu uma enorme alça de sacola de compras fincada na cidade. - Eu quero fazer aquilo - suspirou ela. - O quê?
- perguntei. - Construir algo como aquilo. Você já viu o Partenon, Percy? - Só em fotos. - Algum dia eu vou vê-lo em pessoa. Vou construir o maior monumento aos
deuses que já foi feito. Algo que vai durar mil anos. Eu ri. - Você? Uma arquiteta? Não sei por quê, mas achei aquilo engraçado: a idéia de Annabeth tentando ficar
sentada em silêncio desenhando o dia inteiro. As bochechas dela coraram. - Sim, uma arquiteta. Atena espera que seus filhos criem coisas, não apenas as derrubem,
como um certo deus dos terremotos. Observei as águas marrons e turbulentas do Mississipi embaixo. - Desculpe - disse Annabeth. - Isso foi maldoso. - Não dá para
trabalharmos juntos? - implorei. - Quer dizer, Atena e Poseidon não poderiam colaborar um com o outro?

Annabeth teve de pensar a respeito. - Eu acho... a carruagem - disse ela, hesitante. - Minha mãe a inventou, mas Poseidon criou os cavalos saídos das cristas das
ondas. Então eles tiveram de trabalhar juntos para torná-la completa. - Então nós também podemos colaborar um com o outro. Certo? Entramos na cidade. Annabeth olhava
enquanto o Arco desaparecia atrás de um hotel. - Acho que sim - disse, afinal. Entramos na estação da rede ferroviária no centro da cidade. O alto falante nos avisou
que teríamos uma parada de três horas antes de partir para Denver. Grover se espreguiçou. Ainda despertando, disse: - Comida. - Vamos, menino-bode - disse Annabeth.
- Fazer um passeio. - Passeio? - Até o Portal em Arco - disse ela. - Pode ser a minha única oportunidade de subir até o topo. Você vem ou não? Grover e eu nos entreolhamos.
Eu queria dizer não, mas concluí que, se Annabeth ia, não poderíamos deixá-la sozinha. - Desde que haja uma lanchonete sem monstros. ***** O Arco ficava a cerca
de um quilometro e meio da estação. No fim do dia, as filas para entrar não eram tão longas. Seguimos cautelosamente pelo museu subterrâneo, olhando para vagões
cobertos e outras sucatas do século XIX. Não era assim tão empolgante, mas Annabeth ia contando fatos interessantes sobre como o Arco fora construído e Grover me
passava jujubas, portanto, para mim estava bom. Mas fiquei olhando em volta, para as outras pessoas na fila. - Está sentindo algum cheiro? - murmurei para Grover.
Ele tirou o nariz do saco de jujubas por tempo suficiente para farejar. - Subterrâneo - disse ele enojado. - O ar embaixo da terra sempre tem cheiro de monstros.
Provavelmente não quer dizer nada. Mas eu tinha a sensação de que algo estava errado. Tinha a sensação de que não devíamos estar ali. - Gente - disse eu -, vocês
conhecem os símbolos de poder dos deuses? Annabeth estava no meio da leitura sobre o equipamento de construção usado para erigir o Arco, mas deu uma olhada. - Sim?
- Bem, Hades... Grover pigarreou.

- Estamos em local público... Você quer dizer, o nosso amigo do andar de baixo? - Ahn, certo - falei. - Nosso amigo do andar muito de baixo. Ele não tem um chapéu
como o de Annabeth? - Você quer dizer o Elmo das Trevas - disse Annabeth. - Sim, é seu símbolo de poder. Eu o vi junto ao assento dele durante a assembléia do solstício
de inverno. - Ele estava lá? - perguntei. Ela assentiu. - É a única ocasião em que ele tem permissão de visitar o Olimpo - o dia mais escuro do ano. Mas, se o que
ouvi é verdade, o elmo é muito mais poderoso que meu boné da invisibilidade... - Permite que ele se transforme em trevas - confirmou Grover. - Ele pode se fundir
com as sombras ou passar através de paredes. Não pode ser tocado nem visto nem ouvido. E pode irradiar um medo tão intenso que é capaz de enlouquecer você, ou fazer
seu coração parar de bater. Por que acha que todas as criaturas racionais têm medo do escuro? - Mas então... como sabemos se ele não está aqui agora mesmo, nos observando?
- perguntei. Annabeth e Grover se entreolharam. - Nós não sabemos - disse Grover. - Obrigado, agora me sinto muito melhor - falei. - Ainda sobrou alguma jujuba azul?
Tinha quase controlado meu desespero quando vi o minúsculo elevador no qual iríamos subir até o topo do Arco, e percebi que estava encrencado. Odeio espaços confinados.
Eles me deixam doido. Fomos espremidos dentro do elevador junto com uma senhora grande e gorda e seu cão, um chihuahua com uma coleira de falsos brilhantes. Calculei
que talvez o chihuahua fosse um cão-guia, por que nenhum dos guardas disse uma palavra a respeito. Começamos a subir dentro do Arco. Eu nunca havia estado em um
elevador que subia em curva, e meu estômago não gostou muito. - Sem os pais? - perguntou-nos a senhora gorda. Tinha olhos pequenos, redondos e brilhantes; dentes
pontudos e manchados de café; um chapéu mole de jeans e um vestido de jeans armado demais. Parecia um dirigível jeans. - Eles estão lá embaixo - disse Annabeth.
- Têm medo de altura. - Ah, pobrezinhos. O chihuahua rosnou. A mulher disse: - Vamos, vamos, filhinho. Comporte-se. - O cão tinha olhos pequenos, redondos e brilhantes
como os da dona, inteligentes e malvados. Eu disse: - Filhinho. É o nome dele? - Não. Ela falou e sorriu, como se aquilo esclarecesse tudo.

No topo do Arco, a plataforma de observação me lembrou uma lata acarpetada. Fileiras de janelinhas davam para a cidade, de um lado, e para o rio, do outro. A vista
era legal, mas se existe uma coisa de que gosto ainda menos que lugar fechado, é um lugar fechado a duzentos metros de altura. Annabeth seguiu falando sobre suportes
estruturais e sobre como teria feito as janelas maiores e projetado um piso transparente. Ela poderia ter ficado lá em cima horas a fio, mas, para minha sorte, o
guarda anunciou que a plataforma de observação seria fechada em poucos minutos. Guiei Grover e Annabeth em direção à saída, enfiei-os no elevador e estava quase
entrando quando me dei conta de que já havia outros dois turistas lá dentro. Não tinha espaço para mim. O guarda disse: - Próximo carro, senhor. - Vamos sair - disse
Annabeth. - Vamos esperar com você. Mas aquilo ia atrapalhar todo mundo e levar ainda mais tempo, então eu disse: - Não, tudo bem. Vejo vocês lá embaixo. Grover
e Annabeth pareceram nervosos, mas deixaram a porta do elevador se fechar. O carro desapareceu rampa abaixo. Agora as únicas pessoas que restavam na plataforma de
observação éramos eu, um garotinho com os pais, o guarda e a senhora gorda com o chihuahua. Sorri pouco à vontade para a senhora gorda. Ela sorriu de volta, a língua
bifurcada tremulando entre os dentes. Espere um minuto. Língua bifurcada? Antes que eu pudesse concluir se tinha realmente visto aquilo, o chihuahua pulou no chão
e começou a latir para mim. - Vamos, vamos, filhinho - disse a senhora. - Não está divertido? Temos todas essas pessoas simpáticas aqui. - Cachorrinho! - disse o
menino. - Olhe, um cachorrinho! Os pais o puxaram de volta. O chihuahua arreganhou os dentes para mim, a espuma pingando dos lábios negros. - Bem, meu filho - suspirou
a senhora gorda. - Se você insiste. Meu estômago começou a gelar. - Ahn, você chamou esse chihuahua de filho? - Quimera, querido - corrigiu a senhora gorda. - Não
é um chihuahua. É um engano muito comum. Ela arregaçou as mangas jeans, mostrando que a pele de seus braços era escamosa e verde. Quando sorriu, vi que seus dentes
eram presas. As pupilas dos olhos eram fendas verticais, como as dos répteis. O chihuahua latiu mais alto, e a cada latido ele crescia. Primeiro ficou do tamanho
de um doberman, depois de um leão. O latido se transformou em rugido.

O menininho gritou. Os pais o puxaram para a saída, bem na direção do guarda, que estava paralisado, de olhos arregalados para o monstro. A Quimera estava tão alta
que suas costas tocavam o teto. Tinha cabeça de leão, com a juba untada de sangue, o corpo e os cascos de um bode gigante e uma serpente no lugar da cauda, losangos
de três metros de comprimento brotavam do traseiro peludo. Ainda tinha no pescoço a coleira de falsos brilhantes e a placa, do tamanho de um prato, era agora fácil
de ler: QUIMERA ­ RAIVOSA, HÁLITO DE FOGO, VENENOSA ­ SE ENCONTRADA, FAVOR LIGAR PARA O TÁTARO ­ RAMAL 954. Percebi que não havia sequer tirado a tampa da minha
espada. Minhas mãos estavam amortecidas. Eu estava a três metros da bocarra sangrenta da Quimera, e sabia que assim que me mexesse a criatura iria investir. A mulher-cobra
fez um som sibilante que poderia ter sido uma risada. - Sinta-se honrado, Percy Jackson. O Senhor Zeus raramente me permite pôr um herói à prova com um de minha
prole. Pois eu sou a Mãe de Monstros, a terrível Equidna! Olhei para ela. Tudo que eu pude pensar foi: - Isso não é o nome de bicho que come formigas? Ela uivou,
a cara de réptil ficou marrom e verde de raiva. - Detesto quando as pessoas dizem isso! Detesto a Austrália! Dar meu nome àquele animal ridículo. Por causa disso,
Percy Jackson, meu filho o destruirá! A Quimera avançou, os dentes de leão rangendo. Consegui pular para o lado e me esquivar da mordida. Fui parar junto da família
e do guarda, que agora estavam todos gritando, tentando abrir à força as portas da saída de emergência. Não podia deixar que eles fossem feridos. Tirei a tampa da
espada, corri para o outro lado da plataforma e gritei: - Ei, chihuahua! A Quimera se virou mais depressa do que eu achava possível. Antes que eu pudesse erguer
a espada, ela abriu a boca, soltando um mau cheiro como o da maior churrasqueira do mundo, e lançou uma coluna de chamas bem em cima de mim. Mergulhei através da
explosão. O carpete explodiu em chamas; o calor foi tão intenso que quase queimou minhas sobrancelhas. O lugar onde eu estava um momento antes se tornara um buraco
esfarrapado na lateral do Arco, com metal derretido fumegando nas bordas. Essa é boa, pensei. Acabamos de soldar um monumento nacional. Contracorrente era agora
uma lamina de bronze reluzente em minhas mãos, e quando a Quimera se virou, eu a golpeei com violência no pescoço. Foi um erro fatal. A lâmina faiscou sem efeito
contra a coleira de cachorro. Tentei recuperar o equilíbrio, mas estava tão preocupado em me defender da boca chamejante de leão que me esqueci completamente da
cauda de serpente, até que ela fez uma volta e cravou as presas na minha panturrilha.

Minha perna inteira ardeu em fogo. Tentei enfiar Contracorrente na boca da Quimera, mas a cauda de serpente enrolou-se nos meus tornozelos e me desequilibrou, e
a espada voou de minha mão, saiu rodopiando pelo buraco no Arco e caiu no rio Mississipi. Consegui ficar em pé, mas sabia que tinha perdido. Estava desarmado. Podia
sentir o veneno letal subindo por meu peito. Lembrei-me de Quíron dizendo que Anaklusmos sempre voltaria para mim, mas não havia nenhuma caneta em meu bolso. Talvez
estivesse caído longe demais. Ou só voltasse quando estava em forma de caneta. Eu não sabia, e não ia viver o bastante para descobrir. Recuei para o buraco na parede.
A Quimera avançou, rosnando e soltando espirais de fumaça pelos lábios. A mulher-serpente, Equidna, gargalhou. - Já não se fazem mais heróis como antigamente, heim,
filho? O monstro rosnou. Parecia não estar com pressa de acabar comigo, agora que eu estava derrotado. Dei uma olhada para o guarda e a família. O menininho se escondia
atrás das pernas do pai. Eu tinha de proteger aquelas pessoas. Não podia simplesmente... morrer. Tentei pensar, mas meu corpo inteiro estava em fogo. Minha cabeça
girava. Eu não e tinha espada. Estava enfrentando um monstro imenso, que cuspia fogo, e sua mãe. E estava apavorado. Não havia outro lugar para ir, portanto subi
na beira do buraco. Muito, muito embaixo, o rio brilhava. Será que se eu morresse os monstros iriam embora? Deixariam os humanos em paz? - Se você é o filho de Poseidon
- sibilou Equidna -, então não tem medo da água. Pule, Percy Jackson. Mostre-me que a água não lhe fará mal. Pule e recupere a espada. Prove a sua linhagem. Sim,
certo, pensei. Eu tinha lido em algum lugar que pular na água da altura de alguns andares era como se atirar em asfalto. Dali, eu ia me desfazer em pedaços com o
impacto. A boca da Quimera estava vermelha, incandescente, preparando uma nova rajada de fogo. - Você não tem fé - disse a Quimera. - Não confia nos deuses. Não
posso culpá-lo, pequeno covarde. Melhor que morra agora. Os deuses são infiéis. O veneno está no seu coração. Ela estava certa: eu estava morrendo. Podia sentir
a respiração falhando. Ninguém poderia me salvar, nem mesmo os deuses. Recuei e olhei para a água lá embaixo. Lembrei-me do calor do sorriso de meu pai quando eu
era um bebê. Ele deve ter me visto. Deve ter me visitado quando eu estava no berço. Lembrei-me do tridente verde que aparecera girando acima da minha cabeça na noite
da captura da bandeira, quando Poseidon me reconheceu como seu filho. Mas aquilo não era o mar. Aquilo era o Mississipi, bem no meio dos Estados Unidos. Ali não
havia nenhum Deus do mar. - Morra, infiel - disse a voz rouca de Equidna, e a Quimera mandou uma coluna de fogo na direção de meu rosto. - Pai, me ajude - implorei.
Virei-me e pulei. Minhas roupas em chamas, o veneno correndo por minhas veias, mergulhei no rio.

QUATORZE ­ Me torno um fugitivo conhecido.
Eu adoraria contar que tive alguma revelação profunda enquanto caía, que aprendi a aceitar minha própria mortalidade, que ri em face da morte etc. A verdade? Meu
único pensamento foi: Aaaaarggghhhh! O rio vinha em minha direção na velocidade de um caminhão. O vento arrancou o fôlego dos meus pulmões. Torres, arranha-céus
e pontes giravam entrando e saindo do meu campo de visão. E então... Cata-puuum! Um turbilhão de bolhas. Afundei nas trevas, certo de que acabaria engolindo por
trinta metros de lama e perdido para sempre. Mas meu impacto com a água não doeu. Eu estava agora descendo lentamente, com bolhas passando por entre meus dedos.
Fui parar no fundo do rio, em silencio. Um peixe-gato do tamanho do meu padrasto se afastou com uma guinada para a escuridão. Nuvens de lodo e lixo nojento - garrafas
de cerveja, sapatos velhos, sacos plásticos - giravam ao meu redor. Àquela altura me dei conta de algumas coisas. Primeiro: eu não tinha sido achatado como uma panqueca.
Não havia sido assado como churrasco. Não sentia nem mesmo o veneno da Quimera fervendo em minhas veias. Eu estava vivo, o que era bom. Segundo: eu não estava molhado.
Quer dizer, conseguia sentir a friagem da água. Podia ver onde o fogo em minhas roupas tinha sido apagado. Mas, quando toquei minha camisa, parecia perfeitamente
seca. Olhei para o lixo que passava flutuando e agarrei um velho isqueiro. Sem chance, pensei. Risquei o isqueiro. Uma faísca saltou. Uma chama pequenina apareceu,
bem ali, no fundo do Mississipi. Agarrei uma embalagem ensopada de hambúrguer na corrente e o papel secou imediatamente. Queimei-o sem problemas. Assim que o soltei,
as chamas bruxelearam e se apagaram. A embalagem voltou a se transformar em um trapo viscoso. Esquisito. Mas a idéia mais estranha me ocorreu por último: eu estava
respirando. Estava embaixo d'água e respirava normalmente. Fiquei de pé, afundado até as coxas na lama. Sentia as pernas tremulas. As mãos tremiam. Eu devia estar
morto. O fato de não estar parecia... bem, um milagre. Imaginei uma voz de mulher, uma voz que parecia um pouco com a da minha mãe: Percy, como é que se diz? - Ahn...
muito obrigado. - Embaixo d'água, minha voz soava como em gravações, idêntica à de um garoto muito mais velho. - Muito obrigado... pai. Nenhuma resposta. Apenas
o fluir escuro do lixo rio abaixo, o enorme peixe-gato que passava deslizando, o brilho do sol poente na superfície da água muito acima, deixando tudo da cor de
doce de leite. Por que Poseidon me salvara? Quanto mais eu pensava nisso, mais envergonhado me sentia. Então, eu tivera sorte algumas vezes. Contra algo como a Quimera,
eu não tinha a menor chance. Aquela pobre gente no Arco provavelmente virara torrada. Não consegui protegê-los. Não era nenhum herói. Talvez devesse simplesmente
ficar aqui embaixo com o peixe-gato, juntar-me aos comensais do fundo do rio. Plof-plof-plof. As pás da hélice de um barco agitaram a água sobre mim, revirando o
lodo ao redor.

Ali, não mais de cinco metros à frente, estava minha espada, a guarda de bronze brilhando, espetada na lama. Ouvi aquela voz de mulher outra vez: Percy, pegue a
espada. Seu pai acredita em você. Dessa vez percebi que a voz não estava em minha cabeça. Eu não a estava imaginando. As palavras pareciam vir de toda parte, ondulando
pela água como o sonar de um golfinho. - Onde está você? - perguntei em voz alta. Então, nas sombras, eu a vi - uma mulher da cor da água, um fantasma na corrente,
flutuando logo acima da espada. Tinha longos cabelos ondulantes, e os olhos, pouco visíveis, eram verdes como os meus. Um nó se formou em minha garganta. - Mamãe?
Não, criança, apenas uma mensageira, embora o destino de sua mãe não seja tão inevitável como você acredita. Vá para a praia em Santa Monica. - O quê? É a vontade
se seu pai. Antes de descer para o Mundo Inferior, deve ir a Santa Monica. Por favor, Percy, não posso ficar muito tempo aqui. O rio é sujo demais para a minha presença.
- Mas... - Eu não sabia muito bem se a mulher era a minha mãe ou, bem, uma visão dela. - Quem... como você... Havia muita coisa que eu queria perguntar, as palavras
se amontoavam em minha garganta. Não posso ficar, meu valente, disse a mulher. Ela estendeu a mão, e sentia a corrente roçar meu rosto como uma caricia. Você precisa
ir a Santa Monica! E, Percy, cuidado com os presentes... A voz dela sumiu. - Presentes? - perguntei. - Que presentes? Espere! Ela tentou falar novamente, mas o som
se fora. Sua imagem se desfez. Se era a minha mãe, eu a tinha perdido de novo. Senti vontade de me afogar. O único problema: eu era imune a isso. Seu pai acredita
em você, ela dissera. Ela também me chamara de valente... a não ser que estivesse falando com o peixe-gato. Fui me arrastando até Contracorrente e a agarrei pela
guarda. A Quimera ainda podia estar lá em cima com sua mãe gorda e peçonhenta, esperando para acabar comigo. Na melhor das hipóteses, a polícia mortal estaria chegando,
tentando descobrir quem havia aberto um buraco no Arco. Se me achassem, teriam algumas perguntas a fazer. Pus a tampa na espada e enfiei a esferográfica no
bolso.
- Muito obrigado, pai - disse de novo para a água escura. Então dei um impulso para cima, através da sujeira, e nadei até a superfície. ***** Emergi ao lado de um
McDonald's flutuante.

A um quarteirão de distancia, todos os veículos de emergência se St. Louis cercavam o Arco. Helicópteros da policia circulavam no alto. A multidão de curiosos me
lembrou Times Square no dia de ano-novo. Uma menininha disse: - Mamãe! Aquele menino saiu andando do rio. - Que bom, querida - disse a mãe, esticando o pescoço para
ver as ambulâncias. - Mas ele está seco! - Que bom, querida. Uma repórter estava falando para a câmera: Tudo leva a crer, pelo que soubemos, que não se trata de
um ataque terrorista, mas as investigações ainda estão muito no começo. Os danos, como podem ver, são muito sérios. Estamos tentando obter acesso a alguns sobreviventes
para questioná-los a respeito de testemunhos de que alguém teria caído de cima do Arco. Sobreviventes. Senti uma onda de alivio. O guarda e a família tinham escapado
ilesos. Eu esperava que Annabeth e Grover estivessem bem. Tentei abrir caminho na multidão para ver o que estava acontecendo depois da barreira policial. ...um adolescente,
outro reporte estava dizendo. O Canal 5 soube que as câmeras de vigilância mostram um adolescente enlouquecido na plataforma de observação, detonando de algum modo
aquela estranha explosão. É difícil acreditar, John, mas é isso que estamos ouvindo dizer. Mais uma vez, não há nenhuma fatalidade confirmada... Recuei, tentando
manter a cabeça baixa. Tinha de dar uma volta enorme para contornar a perímetro policial. Havia policiais e repórteres por toda parte. Estava quase perdendo a esperança
de encontrar Annabeth e Grover quando uma voz familiar baliu: - Perrr-cy! Virei-me e dei com o abraço de urso de Grover - ou abraço de bode. Ele disse: - Pensamos
que tivesse ido para o Hades pelo pior caminho! Annabeth estava trás dele, tentando fazer cara de zangada, mas até ela parecia aliviada por me ver. - Não podemos
deixar você cinco minutos sozinho! O que aconteceu? - Foi como um tombo. - Percy! Cento e noventa e dois metros? Atrás de nós, um policial gritou: - Abram passagem!
- A multidão se dividiu e uma dupla de paramédicos avançou empurrando uma mulher numa maca. Eu a reconheci imediatamente como a mãe do menininho que estava na plataforma.
Ela dizia: - E então aquele cachorro enorme, aquele chihuahua enorme cuspindo fogo... - Certo, minha senhora - disse o paramédico. - Acalme-se por favor. Sua família
está bem. O medicamento esta começando a fazer efeito.

- Eu não estou louca! Aquele menino pulou pelo buraco e o monstro desapareceu. - Então ela me viu. - Lá está ele! É aquele menino! Virei rapidamente e puxei Annabeth
e Grover atrás de mim. Desaparecemos na multidão. - O que está acontecendo? - perguntou Annabeth. - Ela estava falando do chihuahua do elevador? Contei a eles a
historia inteira da Quimera, Equidna, meu show de mergulho e a mensagem da moça embaixo d'água. - Uau ­ disse Grover. - Temos de levá-lo a Santa Monica! Não pode
ignorar uma ordem de seu pai. Antes que Annabeth pudesse responder, passamos por outro repórter que gravava um boletim informativo, e quase fiquei paralisado quando
ele disse: - Percy Jackson. É isso mesmo, Dan. O canal 12 soube que o menino que pode ter causado essa explosão se encaixa na descrição de um rapazinho procurado
pelas autoridades por um serio acidente com um ônibus em New Jersey três dias atrás. E acredita-se que o menino esteja viajando para o oeste. Para os nossos espectadores
de casa, esta é a foto de Percy Jackson. Nós nos abaixamos atrás do carro de reportagem e nos esgueiramos para um beco. - Primeiro o mais importante - disse a Grover.
- Temos de sair da cidade! De algum modo conseguimos voltar à estação ferroviária sem sermos vistos. Embarcamos no trem bem no momento em que estava saindo para
Denver. O trem seguiu para oeste enquanto a noite caía, com as luzes da policia ainda piscando contra a silhueta de St. Louis atrás de nós.

QUINZE ­ Um deus compra cheesburgers para nós.
Na tarde seguinte, 14 de junho, sete dias antes do solstício, nosso trem entrou em Denver. Não comíamos nada desde a noite anterior no vagão-restaurante, em algum
lugar de Kansas. Não tomávamos banho desde que saímos da Colina Meio-Sangue, e eu tinha certeza de que isso era oóbvio. - Vamos tentar entrar em contato com Quíron
- disse Annabeth. - Quero contar a ele sobre sua conversa com o espírito do rio. - Não podemos usar telefones, certo? - Não estou falando de telefones. Perambulamos
pelo centro da cidade por cerca de meia hora, embora eu não soubesse muito bem o que Annabeth estava procurando. O ar estava seco e quente, o que era estranho depois
da umidade de St. Louis. Aonde quer que fôssemos, as Montanhas Rochosas pareciam me olhar, como um tsunami prestes a quebrar sobre a cidade. Finalmente encontramos
um lava-jato vazio. Fomos para o boxe mais afastado da rua, atentos a carros de policia. Éramos três adolescentes sem automóvel em um lava-jato; qualquer policial
que se prezasse deduziria que não estávamos tramando nada de bom. - O que exatamente estamos fazendo? - perguntei quando Grover pegou a mangueira de um compressor.
- São setenta e cinco centavos - resmungou. Só me restauram duas moedas de vinte e cinco. Annabeth? - Não olhe para mim - disse ela. - O vagão-restaurante me deixou
lisa. Pesquei o meu último restinho de trocados e passei uma moeda de vinte e cinco centavos para Grover, o que me deixou com cinco e um dracma da Medusa. - Excelente
- disse Grover. - Poderíamos fazer isso com qualquer spray, é claro, mas a conexão não fica boa, e meus braços cansam de tanto bombear. - Do que está falando? Ele
depositou as moedas e ajustou o botão para ESGUICHO FINO. - M. I. - Mensagem instantânea? - Mensagem de Íris - corrigiu Annabeth. - A deusa do arco-íris transmite
mensagens aos deuses. Se a gente souber como pedir, e ela não estiver atarefada demais, fará o mesmo para meios-sangues. - Você convoca a deusa com um compressor?
Grover apontou o bico da mangueira para o ar e água saiu chiando em uma espessa névoa branca. - A não ser que conheça um meio mais fácil de fazer um arco-íris. De
fato, a luminosidade do fim de tarde se filtrou através da névoa e se decompôs em cores. Annabeth estendeu a palma da mão para mim. - Dracma, por favor. Eu o entreguei.

Ela ergueu a moeda acima da cabeça. - Ó deusa, aceite nossa oferenda. Jogou o dracma no arco-íris. Ele desapareceu em um tremuluzir dourado. - Colina Meio-Sangue
- solicitou Annabeth. Por um momento, nada aconteceu. E então eu estava olhando através da névoa para campos de morangos e o Estreito de Long Island a distância.
Era como se estivéssemos na varanda da Casa Grande. Em pé, de costas para nós junto à cerca, estava um cara de cabelos da cor da areia, de short e camiseta regata
laranja. Segurava uma espada de bronze e parecia olhar atentamente para algo na campina. - Luke! - chamei. Ele se virou, os olhos arregalados. Poderia jurar que
ele estava na minha frente, a um metro de distância, atrás de uma cortina de névoa,só que eu via apenas a parte dele que aparecia no arco-íris. - Percy! - O seu
rosto marcado pela cicatriz se abriu em um sorriso. - E Annabeth também? Graças aos deuses! Vocês estão bem? - Estamos... ahn... ótimos - gaguejou Annabeth. Ela
tentava deseperadamente alisar a camiseta suja e tirar os cabelos soltos da fente do rosto. - Nós pensamos... Quíron... quer dizer... - Ele esta lá embaixo nos chalés.
- O sorriso de Luke se apagou. Estamos tendo alguns problemas com os campistas. Escute, está tudo legal com vocês? Grover está bem? - Estou bem aqui - gritou Grover.
Ele virou o esguicho para um lado e entrou no campo de visão de Luke. - Que tipo de problemas? Bem naquele momento um grande Lincoln Continental entrou no lava-jato
com o rádio tocando hip-hop no último volume. Quando o carro entrou no boxe ao lado, os alto-falantes vibravam tanto que sacudiram o calçamento. - Quíron teve de...
que barulho é esse? - gritou Luke. - Deixe que eu cuido disso! - gritou Annabeth parecendo muito aliviada por ter uma desculpa para sair de vista. - Grover, venha!
- O quê? - disse Grover. - Mas... - Dê a mangueira a Percy e venha! - ordenou ela. Grover resmungou qualquer coisa sobre as meninas serem mais difíceis de entender
do que o Oráculo de Delfos, depois me entregou a mangueira e seguiu Annabeth. Eu reajustei o esguicho para manter o arco-íris e ainda ver Luke. - Quíron teve de
separar uma briga - gritou Luke, mais alto que música. - A situação anda um bocado tensa por aqui. A questão-impasse entre Zeus e Poseidon vazou. Ainda não sabemos
direito como... provavelmente, foi o mesmo sujeito nojento que convocou o cão infernal. Agora os campistas estão começando a tomar partido. As coisas estão ficando
como na Guerra de Tróia, tudo de novo. Afrodite, Ares e Apolo estão de certo modo apoiando Poseidon. Atena está apoiando Zeus.

Estremeci só de pensar que o chalé de Clarisse pudesse estar do lado de meu pai para alguma coisa. No boxe ao l a d o , o u v i Annabeth e algum cara discutindo,
e então o volume da música abaixou drasticamente. - Então, qual é a sua situação? - perguntou Luke para mim. - Quíron vai lamentar muito não ter podido falar com
você. Contei-lhe praticamente tudo, inclusive meus sonhos. Era tão boa a sensação de vê-lo, de que eu estava de volta ao acampamento, mesmo que fosse por alguns
minutos, que não percebi por quanto tempo havia falado até que o alarme do compressor disparou. Vi que só tinha mais um minuto antes que a água desligasse. - Queria
poder estar aí - disse Luke. - Não podemos ajudar muito daqui, infelizmente, mas escute... com certeza foi Hades quem pegou o raio-mestre. Ele estava lá no Olimpo
solstício de inverno. Eu estava supervisionando uma excursão e nós o vimos. - Mas Quíron falou que os deuses não podem tomar diretamente os itens mágicos um do outro.
- É verdade - disse Luke, parecendo perturbado. - Ainda assim... Hades tem o elmo das trevas. Como alguém mais poderia se esgueirar para dentro da sala do trono
e roubar o raio-mestre? É preciso estar invisível. Ficamos os dois em silêncio até que Luke pareceu se dar conta do que dissera. - Ei - protestou ele. - Não quis
dizer Annabeth. Ela e eu nos conhecemos há uma eternidade. Ela jamais iria... quer dizer, ela é como uma irmã para mim. Pensei comigo mesmo se Annabeth iria gostar
daquela descrição. No boxe ao lado, a música parou. Um homem gritou aterrorizado, portas de carro bateram e o Lincoln saiu a toda do lava-jato. - É melhor você ir
ver o que foi aquilo - disse Luke. - Escute, está usando os ténis voadores? Eu me sentiria melhor se soubesse que lhe serviram de alguma coisa. - Ah... ahn, sim!
- Tentei não soar como parecer um mentiroso culpado. - Sim, foram úteis. - É mesmo? - sorriu. - Serviram e tudo o mais? A água cessou. A névoa começou a dispersar.
- Bem, cuide-se lá em Denver - gritou Luke, a voz f i c a n d o mais baixa. - E diga a Grover que dessa vez será melhor! Ninguém será transformado em pinheiro se
ele apenas... Mas a névoa se foi, e a imagem de Luke desapareceu. Eu estava sozinho em um boxe molhado e vazio de lava-jato. Annabeth e Grover apareceram no canto,
rindo, mas par ar am quando viram minha cara. O sorriso de Annabeth sumiu. - O que aconteceu, Percy? O que Luke disse? - Quase nada - menti, sentindo o estômago
tão vazio quanto um chalé dos Três Grandes. - Venham, vamos procurar alguma coisa para jantar. ***** Poucos minutos depois, estávamos sentados num reservado de um
pequeno e reluzente restaurante todo cromado. À nossa volta, famílias comiam hambúrgueres e bebiam cerveja e refrigerantes. Finalmente, a garçonete veio. Ela ergueu
uma sobrancelha com um ar cético.

- Então? Eu disse: - Nós, ahn, queremos pedir o jantar. - Têm dinheiro para pagar, crianças? O lábio inferior de Grover tremeu. Tive medo de que ele começasse a
balir, ou, pior, começasse a comer o linóleo. Annabeth parecia prestes a desmaiar de fome. Eu estava tentando pensar em uma história comovente p a r a a garçonete
quando um forte ronco sacudiu o edifício inteiro; uma motocicleta do tamanho de um filhote de elefante havia encostado no meiofío. Todas as conversas cessaram. O
farol da motocicleta brilhava em vermelho. Tinha labaredas pintadas sobre o tanque de gasolina e um coldre de cada lado, com espingardas de caca. O assent o era
de couro - mas um couro que parecia... bem, pele h u m a n a , c a u c a s i a n a . O cara da moto podia fazer lutadores profissionais saírem correndo chamando
a mamãe. Vestia uma camiseta justa vermelha, que ressaltava os músculos, jeans pretos e um casaco comprido de couro preto, com um facão de caça preso à coxa. Usava
óculos escuros vermelhos, presos na nuca, e tinha a cara mais cruel, mais b r u t a l que eu já tinha visto - boa-pinta, eu acho, porém mau -, com cabelo aparado
a máquina negro como petróleo o rosto marcado por cicatrizes de muitas, muitas brigas. O estranho era que parecia que eu já tinha visto aquele homem em algum lugar.
Quando ele entrou no restaurante, um vento quente e seco soprou no ambiente. Todos se levantaram, como se estivessem hipnotizados, mas o motociclista acenou a mão
com desdém e eles sentaram de novo. Todos voltaram às suas conversas. A garçonete piscou, como se alguém tivesse apertado o botão de retroceder em seu cérebro. Ela
perguntou novamente: - Têm dinheiro para pagar, crianças? O cara da moto disse: - É por minha conta. - Escorregou para dentro do nosso reservado, pequeno demais
para ele, e espremeu Annabeth contra janela. Encarou a garçonete, que olhava para ele de olhos arregalados, e disse: - Ainda está aí? Ele apontou para ela, e ela
ficou rígida. Virou-se como se alguém a tivesse girado e marchou de volta para a cozinha. O homem da moto me olhou. Não pude ver seus olhos atr ás dos óculos vermelhos,
mas sentimentos ruins começaram a fervilhar no meu estômago. Raiva, ressentimento, amargor. Tive vontade de bater na parede.Tive vontade de comprar briga com alguém.
Quem aquele cara pensava que era? Ele me deu um sorriso maldoso. - Então você é o garoto do Velho das Algas, ahn? Eu devia ter ficado surpreso, ou assustado, mas
em vez disso era como se estivesse olhando para o meu padrasto, Gabe. Quis arrancar a cabeça do cara: - O que você tem com isso? Os olhos de Annabeth me lançaram
um alerta.

- Percy, este é... - Tudo bem - disse ele. - Não me incomodo com um pouco de petulância. Desde que você lembre quem manda. Sabe quem eu sou, priminho? Então me veio
à cabeça por que o cara me parecia família. Ele tinha o mesmo olhar cruel de algumas crianças do Acampamento Meio-Sangue, os do chalé 5. - Você é o pai de Clansse
- disse eu. - Ares, de u s guerra. Ares arreganhou um sorriso e tirou os óculos. Onde deveriam estar os olhos havia apenas fogo, órbitas vazias brilhando com miniexplosões
nucleares. - Certo, mané. Ouvi que quebrou a lança de Clarisse. - Ela estava pedindo isso. - Provavelmente. Tranqüilo. Não me meto nas brigas dos meus filhos, sabia?
Estou aqui porque ouvi dizer que es tav a n a cidade. Tenho uma pequena proposta para você. A garçonete voltou trazendo bandejas com montes de comida - cheeseburgers,
batatas fritas, anéis de cebola empados e milk-shakes de chocolate. Ares entregou-lhe alguns dracmas de ouro. Ela olhou nervosa para as moedas. - Mas estas não são...
Ares puxou seu enorme facão e começou a limpar as unhas. - Algum problema, benzinho? A garçonete engoliu em seco e se afastou com o ouro. - Não pode fazer isso -
disse a Ares. - Não pode ameaçar pessoas com uma faca. Ares riu. - Está brincando? Eu adoro este país. Melhor lugar, depois de Esparta. Você não anda armado, otário?
Pois devia. O mundo lá fora é perigoso. O que me traz de volta à minha proposta. Preciso que me faça um favor. - Que favor eu poderia fazer para um deus? - Algo
que um deus não tem tempo de fazer ele mesmo. Nada demais. Larguei meu escudo em um parque aquático abandonado aqui na cidade. Estava no meio de um... encontro com
minha namorada. Fomos interrompidos. Deixei o escudo para trás. Quero que vá buscá-lo para mim. - Por que não volta lá e pega você mesmo? O fogo nas órbitas dele
ficou um pouco mais incandescente. - Por que não transformo você em uma marmota e o atropelo com minha Harley? Porque não estou com vontade. Um deus está dando a
você a oportunidade de se pôr à prova, Percy Jackson. Você vai mostrar que é um covarde? - Ele se inclinou para a frente. - Ou, quem sabe, você só luta quando há
um rio para mergulhar dentro, para que seu papai possa protegê-lo? Queria dar um murro naquele cara, mas, de algum modo, sabia que ele esperava por isso. O poder
de Ares estava causando a minha raiva. Ele adoraria se eu o atacasse. Eu não queria lhe dar esse gostinho. - Não estamos interessados - falei. - Já temos uma missão.

Os olhos ardentes de Ares me fizeram ver coisas que eu não queria - sangue, fumaça e corpos no campo de batalha. - Eu sei de tudo sobre sua missão, seu imprestável.
Quando aquele item foi roubado, Zeus enviou seus melhores para procurá-lo: Apolo, Atena, Ártemis e, naturalmente, eu. Se eu não consegui farejar uma arma tão poderosa...
- Ele lambeu o beiço, como se a própria idéia do raio-mestre o tivesse deixado com fome. - Bem... se eu não consegui encontrá-lo, você não tem nenhuma chance. Entretanto,
estou tentando lhe dar o beneficio da dúvida. Seu pai e eu nos conhecemos há muito tempo. Afinal, fui eu quem lhe contou minhas suspeitas sobre o velho Bafo de Cadáver.
- Você disse a ele que Hades roubou o raio? - Claro. Acirrar os ânimos para uma guerra. O truque mais antigo de todos. Eu o reconheci imediatamente. De certo modo,
você tem de agradecer a mim por sua missãozinha. - Obrigado - resmunguei. - Ei, sou um cara generoso. Faça meu servicinho e eu o ajudarei em sua viagem. Vou arranjar
uma carona para oeste para você e seus amigos. - Estamos indo muito bem sozinhos. - Sim, certo. Sem dinheiro. Sem rodas. Sem nenhuma pista do que vão enfrentar.
Ajude-me, e talvez eu lhe conte algo sobre que precisa saber. Algo sobre a sua mãe. - Minha mãe? Ele sorriu. - Isso despertou sua atenção. O parque aquático fica
um quilômetro e meio a oeste, na Delancy. Não há como errar. Procurem o Túnel do Amor. - O que interrompeu seu namoro? - perguntei. - Alguma coisa o assustou? Ares
arreganhou os dentes, mas eu já tinha visto aquela cara ameaçadora antes, em Clarisse. Havia nela algo de incerto, quase um nervosismo. - Você tem sorte de ter me
encontrado, imprestável, e não um dos olimpianos. Eles não são tão indulgentes com a grosseria quanto eu. Encontrarei você aqui novamente quando tiver terminado.
Não me desaponte. Depois disso eu devo ter desmaiado, ou entrado em um transe, pois quando voltei a abrir os olhos Ares havia desaparecido. Podia ter pensado que
toda a conversa fora um sonho, mas a expressão de Annabeth e Grover me dizia outra coisa. - Nada bom - disse Grover. - Ares o procurou, Percy. Isso não é nada bom.
Olhei pela janela. A motocicleta havia desaparecido. Será que Ares realmente sabia algo sobre minha mãe, ou estava apenas jogando comigo? Agora que ele se fora,
toda a minha raiva passara. Percebi que Ares devia adorar bagunçar as emoções das pessoas. Era esse o seu poder - exacerbar tanto as paixões que elas atrapalhavam
nossa capacidade de pensar. - Deve ser algum tipo de truque - falei. - Esqueçam Ares. Vamos embora e pronto. - Não podemos - disse Annabeth. - Olhe, detesto Ares
tanto quanto qualquer um, mas não é possível ignorar os deuses a não ser que se deseje um azar tremendo. Ele não destava brincando sobre transformar você em um roedor.

Baixei os olhos para meu cheesburguer, que de repente não parecia mais tão apetitoso. - Por que ele precisa de nós? - Talvez seja um problema que requeira inteligência
- disse Annabeth. - Ares tem força. É tudo o que tem. Mesmo às vezes tem de se curvar à sabedoria. - Mas esse parque aquático... ele agiu quase como se estivesse
apavorado. O que faria um deus da guerra fugir desse j e i to ? Annabeth e Grover se entreolharam nervosamente. Annabeth disse: - Acho que teremos de descobrir.
***** Quando encontramos o parque aquático, o sol estava se pondo atrás das montanhas. A julgar pela placa, ele outrora se c h a m a r a A Q U A L Â N D I A , mas
agora algumas letras haviam sido arranca, então ela dizia AQU L D A. O portão principal estava fechado com cadeado e tinha no alto arame farpado. Dentro, enormes
escorregadores, tubos e canos se retorciam por toda parte, secos, desembocando em piscinas vazias. Velhos ingressos e folhetos subiam do asfalto com o vento. Com
a noite chegando, o lugar parecia triste e arrepiante. - Se Ares traz a namorada aqui para um encontro - falei, olhando para o arame farpado -, não ia gostar de
ver com aparência dela. - Percy - advertiu Annabeth -, tenha mais respeito. - Por quê? Pensei que você detestasse Ares. - Ainda assim, ele é um deus. E a namorada
dele é muito temperamental. - Não queremos ofendê-la - acrescentou Grover. - Quem é? Equidna? - Não, Afrodite - disse Grover, um pouco sonhador. - A deusa do amor.
- Pensei que ela fosse casada com alguém - disse eu.- Hefesto.. - E daí? - perguntou ele. - Ah. - De repente, senti que era preciso mudar de assunto. Então, como
fazemos para entrar? - Maia! - Os ténis de Grover criaram asas. Ele voou por cima da cerca, deu um mortal involuntário no ar, depois pousou cambaleando no lado oposto.
Sacudiu o pó dos seus jeans, como se tivesse planejado tudo aquilo. - Vocês vêm? Annabeth e eu tivemos de escalar à moda antiga, empurrando o arame farpado um para
o outro enquanto nos arrastávamos por cima do topo. As sombras se alongaram enquanto caminhávamos pelo parque, conferindo as atrações. Havia a Ilha dos Pequeninos,
o Por cima da Cabeça e o Cara, Cadê o Meu Calção?

Nenhum monstro chegou para nos pegar. Nada fazia o menor barulho. Encontramos uma loja de lembrancinhas que fora deixada aberta. Ainda havia mercadorias enfileiradas
nas prateleiras: globos de neve, lápis, cartões-postais, e prateleiras de... - Roupas - disse Annabeth. - Roupas limpas. - É - completei. - Mas você não pode simplesmente...
- Observe. Ela agarrou uma fileira inteira de artigos das prateleiras e desapareceu dentro do provador. Poucos minutos depois saiu vestindo short estampado de flores
da Aqualândia, uma grande camiseta vermelha da Aqualândia e sapatilhas de surfe temáticas da Aqualândia. Pendurada no ombro, uma mochila da Aqualândia, obviamente
recheada de outras coisinhas. - Ora, que se dane. - Grover encolheu os ombros. Logo nós três parecíamos anúncios ambulantes do p a r q u e t e m á t i c o fantasma.
Continuamos procurando pelo Túnel do Amor. Eu tinha a sensação de que o parque inteiro estava prendendo a respiração. - Então Ares e Afrodite - falei, só para afastar
os pensamentos da escuridão que aumentava - estão tendo um caso? - É uma fofoca velha, Percy - disse Annabeth. - fofoca de três mil anos. - E o mando de Afrodite?
- Bem, você sabe - disse ela. - Hefesto. O ferreiro ficou aleijado quando bebê, atirado de cima do Monte O l i m p o por Zeus. Então não é exatamente lindo. Habilidoso
com as mãos e tudo, mas Afrodite não curte inteligência e talento, entende? - Ela gosta de motoqueiros. - Ou isso. - Hefesto sabe? - Ah, com certeza - disse Annabeth.
- Uma vez ele os pegou juntos. Quer dizer, pegou mesmo, em uma rede de o u r o , e chamou todos os deuses para ver e rir da cara deles. Hefesto está sempre tentando
constrangê-los. E por isso que eles se encontram em lugares escondidos, como... Ela se interrompeu, olhando em frente. - Como aquilo. Diante de nós havia uma piscina
vazia que teria sido sensacional para andar de skate. Tinha pelo menos cinquenta m e t r o s d e largura e forma de bacia. Em volta da beira, uma dúzia de estátuas
de Cupido montavam guarda de asas abertas e arcos prontos para disparar. Do outro lado abria-se um túnel, provavelmente para onde a água escoava quando a piscina
estava cheia. A placa acim a d e le d i z i a : E M O C I O N A N T E P A S S E I O D E AMOR: ESTE NÃO É O TÚNEL DO AMOR DOS SEUS PAI S! G rover se arrastou até
a borda. - Gente, olhe.

Abandonado no fundo da piscina havia um barco de dois lugares rosa e branco, com coraçõezinhos pintados por toda parte. No assento da esquerda, brilhando na luz
pálida, estava o escudo de Ares, um círculo polido de bronze. - Fácil demais - disse eu. - Então é só descer até lá e pegá-lo? Annabeth correu os dedos pela base
da estátua de Cupido mais próxima. - Há uma letra grega entalhada aqui - disse ela. - Eta. Imagino... - Grover - falei -, sente cheiro de algum monstro? Ele farejou
o vento. - Nada. - Nada do tipo no-Arco-você-não-sentiu-o-cheiro-de-Equidna ou realmente nada? Grover pareceu ofendido. - Disse a você, aquilo foi num subterrâneo.
- Certo, desculpe. - Eu respirei fundo. - Vou descer até lá. - Vou com você. - Grover não pareceu muito entusiasmado, mas tive a impressão de que ele estava tentando
compensar pelo que acontecera em St. Louis. - Não - disse a ele. - Quero que fique no alto com os tênis voadores. Você é nosso ás da aviação, está lembrado? Vou
contar com você para dar apoio, caso alguma coisa dê errado. Grover estufou um pouco o peito. - Claro. Mas o que poderia dar errado? - Não sei. Só urna sensação.
Annabeth, venha comigo... - Está brincando? - Ela olhou para mim como se eu tivesse acabado de cair da Lua. Suas bochechas estavam num tom vermelho vivo. - Qual
o problema agora? - perguntei. - Eu... ir com você para um... um "Emocionante Passeio de Amor"? Que coisa mais embaraçosa! E se alguém me vir? - Quem é que vai ver?
- Mas agora a minha cara t a m b é m estava queimando. Só mesmo uma menina para complicar as coisas. - Otimo - disse a ela. - Vou fazer isso sozinho, quando comecei
a descer pela lateral da piscina, ela me seguiu resmungando sobre como os meninos sempre complicam as coisas. Chegamos ao barco. O escudo estava apoiado em um banco
e ao lado havia um lenço feminino de seda. Tentei imaginai Afrodite ali, um casal de deuses se encontrando em um brinquedo de parque de diversões sucateado. Por
quê? Então notei al go não tinha visto de cima: espelhos por toda a volta da borda da piscina, voltados para aquele ponto. Podíamos nos ver, não importa em que direção
olhássemos. Tinha de ser isso. Enquanto Ares e Afrodite estavam se agarrando, podiam ver suas pessoas fa v o ri ta s : eles mesmos. Peguei o lenço. Tinha um brilho
rosado, e o perfume indescritível - rosas, ou louro. Alguma coisa boa. Sorri, um sonhador, e estava quase passando o lenço no rosto quando Annabeth o arrancou da
minha mão e enfiou em seu bolso.

- Ah, não, não faça isso. Fique longe dessa magia de amor. - O quê? - Apenas pegue o escudo, Cabeça de Alga, e vamos dar o fora daqui. No momento em que toquei o
escudo, vi que e s t á v a m o s encrencados. Minha mão arrebentou algo que o conectava ao pára-brisa. Uma teia de aranha, pensei, mas então olhei para um fio invisível
na minha palma e vi que era algum tipo de filamento metálico, tão fino que era quase invisível. Uma armadilha. - Espere - disse Annabeth. - Tarde demais. - Há uma
outra letra grega na lateral do barco, um outro eta. Trata-se de uma armadilha. Um ruído irrompeu a nossa volta, um milhão de engrenagensrangendo, como se a piscina
inteira estivesse se transformando em uma máquina gigante. Grover gritou: - Gente! Lá em cima na borda, as estátuas de Cupido armavam os arcos; Antes que eu pudesse
sugerir que nos abaixássemos, dispararam, mas não contra nós. Dispararam uma contra a outra, atravessando a piscina. Cabos de seda foram levados pelas flechas, fazendo
um arco por cima da piscina e fincando-se no chão para formar um imenso asterisco dourado. Então fios metálicos menores começaram a se tecer magicamente por entre
os principais, formando uma rede. - Temos de dar o fora - disse eu. - Ah, é mesmo? - disse Annabeth. Agarrei o escudo e corremos, mas subir pela inclinação da piscina
não era tão fácil quanto descer. - Venham! - gritou Grover. Ele estava tentando manter uma seção da rede aberta para nós, mas onde quer que a tocasse, os fios dourados
começavam a envolver suas mãos. A cabeça dos Cupidos se abriu de repente. De lá, saíram câmeras de vídeo. Luzes se ergueram por toda a volta da piscina, cegando-nos
com a claridade, e um alto-falante soou: - Ao vivo para o Olimpo em um minuto... Cinqüenta e nove segundos, cinquenta e oito... - Hefesto! - gritou Annabeth. - Como
eu sou estúpida! Eta é H. Ele fez essa armadilha para pegar a mulher dele com Ares. Agora vamos ser transmitidos ao vivo para o Olimpo e parecer completos idiotas!
Estávamos quase conseguindo chegar à borda quando a fileira de espelhos se abriu como escotilhas e milhares de... coisinhas metálicas jorraram para fora. Annabeth
gritou. Era um exército de bichos rastejantes de corda: corpo de engrenagens de bronze, pernas compridas e finas, bocas em pequenas pinças, todos correndo em nossa
direção em uma onda de estalando e zumbindo.

- Aranhas! - disse Annabeth. - Ar... ar... aaaaaaaah! Eu nunca a tinha visto daquele jeito. Ela caiu para trás , aterrorizada e quase se rendeu às aranhasrobôs antes
que eu a puxasse para cima e a arrastasse de volta em direção ao barco. Aquelas coisas vinham de todos os lados, milhões delas, inundando o centro da piscina, cercandonos
completamente. Disse a mim mesmo que não estavam programadas para matar, apenas para nos encurralar, nos morder e nos fazer parecer idiotas. Mas, por outro lado,
era uma armadilha para deuses. E não éramos deuses. Annabeth e eu subimos para dentro do barco. Comecei a chutar as aranhas para longe quando se acumulavam a bordo.
Gritei para Annabeth me ajudar, mas ela estava paralisada demais para fazer qualquer coisa além de gritar. - Trinta, vinte e nove - anunciou o alto-falante. As aranhas
começaram a cuspir fios de metal, t e n t a n d o nos amarrar. De início os fios eram fáceis de romper, mas havia muitos d e l e s , e as aranhas simplesmente continuavam
a chegar. Tirei uma da p e r na de Annabeth com um chute, e suas pinças arrancaram um pedaço da minha nova sapatilha de surfista. Grover pairava acima da piscina
com seus tênis voadores, tentando soltar a rede, mas ela não cedia. Pense, disse a mim mesmo, pense. A entrada para o Túnel do Amor ficava embaixo da rede. Políamos
usá-la como saída, mas estava bloqueada por um milhão de aranhas-robôs. - Quinze, catorze - anunciou o alto-falante. Água, pensei. De onde vem a água para o passeio?
Então vi: enormes canos atrás dos espelhos, de onde tinham vindo as aranhas. E acima da rede, perto de um dos Cupidos, uma cabine com janelas de vidro que devia
ser a estação de controle. - Grover! - gritei. - Entre naquela cabine! Encontre o botão de ligar! - Mas... - Faça isso! - Era uma esperança louca, mas era a nossa
única chance. As aranhas já estavam por toda a proa do barco, Annabeth gritava sem parar. Eu tinha de nos tirar dali. Grover estava agora na cabine de controle,
malhando os botões. - Cinco, quatro... Ele olhou para mim desamparado, erguendo as mãos. Estava sinalizando que já tinha apertado todos os botões, mas nada acontecia.
Fechei os olhos e pensei em ondas, água correndo, o no Mississipi. Senti um aperto familiar na garganta. Tentei imaginar q u e e s ta v a arrastando o oceano até
Denver. - Dois, um, zerol A água explodiu para fora dos canos. Entrou rugindo na piscina, varrendo as aranhas para longe. Puxei Annabeth para ao lado do meu e prendi
seu cinto de segurança bem quando a onda gigante atingiu o barco, de cima, expulsando as a r a n h a s e nos encharcando completamente, mas sem virar o barco. Ele
girou, erguido pela inundação, e circulou no redemoinho. A água estava cheia de aranhas em curto-circuito, algumas colidindo contra a parede de concreto da piscina
com tamanha força que explodiam.

As luzes brilharam sobre nós. As câmeras dos Cupidos estavam transmitindo ao vivo para o Olimpo. Mas eu só podia me concentrar em controlar o barco,. Desejei que
ele seguisse a corrente, que ficasse afastado da parede. Talvez fosse minha imaginação, mas o barco pareceu reagir. Pelo menos não se quebrou em um milhão de pedaços.
Circulamos uma última vez, e o nível da água já era quase suficiente para nos retalhar contra a rede de metal. Então o nariz do barco se virou para o túnel e disparamos
como um foguete para dentro das trevas. Annabeth e eu nos seguramos com força, os dois gritando quanto o barco se atirava em curvas e rodeava cantos e dava mergulhos
de quarenta e cinco graus, passando por figuras de Romeu e Julieta e montes de outras bugigangas de Dia dos Namorados. Então estávamos fora do túnel, o ar da noite
assobiando em nossos cabelos enquanto o barco seguia em alta velocidade para a saída. Se o brinquedo estivesse em perfeito funcionamento, t e r í a m o s navegado
por uma rampa entre os Portões Dourados do Amor e caído em segurança na piscina de saída. Mas havia um problema. Os Portões do Amor estavam fechados com correntes.
Dois barcos que haviam sido arrastados para fora do t ú n e l a n t e s de nós estavam empilhados contra a barricada - um submerso e o o u t r o p a r ti d o ao
meio. - Solte seu cinto de segurança - gritei para Annabeth. - Está maluco? - A não ser que queira morrer esmagada. - Prendi o escudo de Ares no braço. - Vamos ter
de pular. Minha ideia era simples e insana. Quando o barco colidisse, íamos usar a força do impacto como um trampolim para pular por cima do portão. O u v i falar
de pessoas que sobreviveram a desastres de automóvel desse jeito, lançadas a dez ou vinte metros de distância do acidente. Com sorte, cairíamos na piscina. Annabeth
pareceu entender. Ela apertou minha mão quando os portões se aproximaram. - Quando eu der o sinal - falei. - Não! Quando eu der o sinal - corrigiu ela. - O quê?
- Física básica! - gritou ela. - A força multiplicada pelo ângulo da trajetória... - Está bem! - gritei. - Quando você der o sinal! Ela hesitou... hesitou... e então
gritou: - Agora! Crack! Annabeth estava certa. Se tivéssemos pulado quando eu achava devíamos, teríamos nos arrebentado contra os portões. Ela conseguiu o máximo
de impulso. Por azar, foi um pouco maior do que precisávamos. Nosso barco foi atirado na pilha e fomos lançados para o ar, por cima do portão, por cima da piscina,
e na direção do asfalto duro. Alguma coisa me segurou por trás. Annabeth gritou:

- Aaai! Grover! Em pleno ar, ele tinha me agarrado pela camisa, e agarrado Annabeth pelo braço, e tentava impedir que nos arrebentássemos no chão, mas Annabeth e
eu ainda estávamos com toda a e n e r g i a do impulso. - Vocês são pesados demais! - disse Grover. - Estamos caindo! Descemos em espiral, com Grover fazendo o que
podia para reduzir a velocidade da queda. Batemos contra um painel de fotografia. A cabeça de Grover entrou bem no buraco onde os turistas enfiavam a cara, fingindo
ser Nu-Nu, a Baleia Camarada. Annabeth e eu desmoronam no chão, machucados, porém vivos. O escudo de Ares ainda preso ao meu braço. Depois que recuperamos o fôlego,
Annabeth e eu tiramos Grover do painel e o agradecemos por salvar nossa vida. Olhei para o Emocionante Passeio de Amor atrás de nós. A água estava baixando. Nosso
barco em pedaços, esmagado contra os portões. A cem metros, na piscina de entrada do túnel, os Cupidos ainda filmavam. As estátuas tinham se virado de modo que as
câmeras estavam apontadas para nós, os holofotes em nossos rostos. - Acabou o show! - gritei. - Obrigado! Boa noite! Os Cupidos voltaram às posições originais. As
luzes se apagaram. O parque ficou novamente em silêncio e no escuros, a não ser pelo brilho fraco da água na piscina da saída do Emocionante Passeio de Amor. Imaginei
se o Olimpo estaria em um inervalo comercial, e se nossos índices de audiência haviam sido bons. Eu detestava ser provocado. Detestava ser enganado. E tinha vasta
experiência de lidar com valentões que gostavam de fazer isso comigo. Levantei o escudo em meu braço e me virei para os meus amigos. - Precisamos ter uma conversinha
com Ares.

DEZESSEIS ­ A ida de uma zebra para Las Vegas.
O deus da guerra nos esperava no estacionamento do restaurante. - Bem, bem - disse ele. - Você conseguiu não ser morto. - Você sabia que era uma armadilha - retruquei.
Ares me deu um sorriso malvado. - Aposto que aquele ferreiro aleijado ficou surpreso quando pegou na rede um par de crianças estúpidas. Você ficou bem na tevê. Empurrei
o escudo para ele. - Você é um imbecil. Annabeth e Grover pararam de respirar. Ares agarrou o escudo e o girou no ar como massa de pizza. escudo mudou de forma,
transformando-se em um colete à prova de balas. Ele o pendurou nas costas. - Estão vendo aquele caminhão logo ali? - Apontou um caminhão de dezoito rodas estacionado
do outro lado da rua. - É a carona de vocês. Vai levá-los direto a Los Angeles, com uma parada em Vegas. O caminhão tinha uma placa na parte de trás, que eu só pude
ler porque estava pintada ao contrário, em branco sobre preto, uma boa combinação para a dislexia: CARIDADE INTERNACIONAL: TRANSPORTE HUMANITÁRIO DE ZOOLÓGICO. CUIDADO:
ANIMAIS SELVAGENS VIVOS Eu disse: - Fala sério! Ares estalou os dedos. A porta traseira do caminhão se destrancou. - Carona grátis para oeste, imprestável. Pare
de reclamar. E aqui está uma coisinha por ter feito o serviço. Ele suspendeu uma mochila de náilon azul do seu guidom e a jogou para mim. Dentro havia roupas limpas
para todos nós, vinte dólares em dinheiro, uma bolsa cheia de dracmas de ouro e uma embalagem de biscoito Oreo recheado. Eu disse: - Não quero a porcaria do seu...
- Obrigado, Senhor Ares - interrompeu Grover, me fuzilando com seu melhor olhar de alerta vermelho. - Muito obrigado. Rangi os dentes. Devia ser um insulto mortal
recusar algo de um deus, mas eu não queria nada que Ares tivesse tocado. Pendurei a mochila no ombro relutando. Sabia que minha raiva era causada pela presença do
deus da guerra, mas ainda sentia uma vontadezinha de lhe dar um murro no nariz. Ele me lembrou de todos os valentões que já havia enfrentado: Nancy Bobofit, Clarisse,
Gabe Cheiroso, professores debochados - todos os imbecis que me chamaram de estúpido na escola ou riram de mim quando fui expulso. Olhei para o restaurante atrás
de mim, que tinha agora apenas u m o u d o i s clientes. A garçonete que nos servira o jantar olhava, nervosa, pela janela, como se tivesse medo de que Ares nos
machucasse.

Ela arrastou o cozinheiro de dentro da cozinha para ver. Disse algo a ele. Ele assentiu, ergueu uma pequena câmera descartável e tirou uma foto de nós. Boa, pensei.
Amanhã vamos estar de novo nos jornais. Imaginei a manchete: CRIMINOSO DE DOZE ANOS ESPANCA MOTOCICLISTA INDEFESO. - Você me deve mais uma coisa - disse a Ares,
t e n t a n d o manter o volume de minha voz. - Você me prometeu informações sobre minha mãe. - Tem certeza de que é capaz de suportar a notícia? - Ele deu a partida
no pedal da moto. - Ela não está morta. O chão pareceu girar embaixo de mim. - O que quer dizer? - Quero dizer que ela foi levada pelo Minotauro a n t e s d e morrer.
Foi transformada em uma chuva de ouro, certo? Isso é metamorfose. Não morte. Ela está sendo mantida presa. - Presa. Por quê? - Você precisa estudar guerra, coisinha
imprestável. Reféns. Você prende alguém para controlar outro alguém. - Ninguém está me controlando. Ele riu. - Ah, não? A gente se vê por aí, garoto. Cerrei os punhos.
- Você é bem convencido, Senhor Ares, para um cara que foge de estátuas de Cupido. Atrás dos óculos escuros, o fogo brilhou. Senti um vento quente nos cabelos. -
Nós nos encontraremos novamente, Percy Jackson. Na próxima vez em que estiver numa briga, cuide de sua retaguarda. Ele pôs a Harley em movimento e saiu roncando
pela rua Delancy. Annabeth disse: - Isso não foi muito inteligente, Percy. - Não estou nem aí. - Você não quer um deus como inimigo. Especialmente esse deus. - Ei,
gente - disse Grover. - Detesto interromper, mas... Ele apontou na direção do restaurante. No caixa, os dois últimos clientes estavam pagando suas contas, dois homens
de macacões pretos idênticos, com uma logomarca branca nas costas que combinava com a do caminhão da CARIDADE INTERNACIONAL. - Se vamos pegar o expresso do zoológico
- disse Grover -, precisamos nos apressar. Eu não tinha gostado daquilo, mas não havia opção melhor. Além disso, já tinha visto o suficiente de Denver.

Atravessamos a rua correndo e subimos na traseira do veículo enorme,, fechando as portas atrás de nós. ***** A primeira coisa que percebi foi o cheiro. Era como
a maior caixa de areia para cocô de gato do mundo. O interior da carreta estava escuro até eu tirar a tampa de Anaklusmos. A lâmina lançou uma leve luz de bronze
sobre uma cena muito triste. Em uma fileira de jaulas metálicas imundas havia três dos mais patéticos animais de zoológico que eu já vira: uma zebra, um leão albino
e um tipo estranho de antílope, cujo o nome eu não sabia. A l g u é m jogara para o leão um saco de nabos que ele obviamente não queria comer. A zebra e o antílope
tinham ganhado uma bandeja de isopor de carne de hambúrguer cada um. A crina da zebra estava toda emaranhada em goma de m a s ca r, c o m o s e alguém ficasse cuspindo
nela nas horas vagas. O antílope tinha um estúpido balão de aniversário amarrado em um dos seus chifres que dizia PASSEI DA IDADE! Tudo indicava que ninguém quisera
chegar perto o bastante do leão para mexer com ele, mas o pobre andava de um lado para outro em cima de cobertores sujos, em um espaço que era mais do que muito
pequeno para ele, arfando com o ar abafado da carreta. Moscas zumbiam em volta de seus olhos cor-de-rosa, e as costelas apareciam no pêlo branco. - Isso é caridade?
- gritou Grover. - Transporte humanitário de zoológico? Ele provavelmente teria saído de volta para bater nos caminhoneiros com suas flautas de bambu, e eu o teria
ajudado, mas bem naquele momento o motor roncou, a carreta começou a chacoalhar e fomos forçados a nos sentar ou cair. Nós nos amontoamos no canto em cima de alguns
sacos de ração embolorados, tentando ignorar o cheiro, o calor e as moscas. Grover falou com os animais em uma série de balidos de bode, mas eles apenas olharam
tristemente para ele. Annabeth era a favor de arrombar as jaulas e soltá-los ali mesmo, mas argumentei que isso não ia adiantar muito até o caminhão parar de se
mover. Além disso, tinha a sensação de que, para o leão, poderíamos paracer bem mais apetitosos do que aqueles nabos. Achei um jarro de água e reabasteci as tigelas
deles, depois usei Anaklusmos para puxar os alimentos trocados para fora das jaulas. Dei a carne ao leão e os nabos para a zebra e o antílope. Grover acalmou o antílope
enquanto Annabeth usava sua faca para tirar o balão preso ao chifre. Pensou também em c o r t a r a goma de mascar da crina da zebra, mas concluímos que seria muito
arriscado com o caminhão aos solavancos. Pedimos a Grover para prometer aos animais que os ajudaríamos mais pela manhã, e então nos acomodamos para a noite. Grover
se enrodilhou sobre um saco de nabos; Annabeth abriu nosso pacote de Oreos e mordiscou um deles sem muito entusiasmo, tentei ficar animado com a idéia de que estávamos
a meio caminho de Los Angeles. Próximo de nosso destino. Ainda era 14 junho. O solstício só aconteceria no dia 21. Tínhamos tempo de sobra. Por outro lado, não tinha
idáia do que nos esperava. Os deuses estavam brincando comigo. Pelo menos Hefesto teve a decência de ser honesto quanto a isso - instalou câmeras e me anunciou c
o m o entretenimento. Mas até quando não havia câmeras filmando eu tinha a sensação de que a minha missão estava sendo observada. Eu era uma fonte de diversão para
os deuses. - Ei - disse Annabeth. - Sinto muito por ter me apavorado lá no parque aquático, Percy. - Tudo bem.

- É só que... - Ela estremeceu. - Aranhas. - Por causa da história de Aracne - adivinhei. - Ela foi transformada em aranha por desafiar sua mãe para uma competição
de tecelagem, certo? Annabeth assentiu. - Os filhos de Aracne têm se vingado nos filhos de Atena d e s d e então. Se houver uma aranha a um quilômetro de distância
de mim, ela me encontrará. Eu odeio aquelas coisinhas rastejantes. De qualquer jeito, lhe devo uma. - Somos uma equipe, está lembrada? Além disso, Grover fez aquele
vôo fantástico. Pensei que estivesse dormindo, mas ele murmurou do seu canto: - Fui o máximo, não fui? Annabeth e eu demos risada. Ela separou as duas partes do
biscoito recheado e me deu uma. - Na mensagem de Íris...Luke realmente não disse nada? Mastiguei meu biscoito e pensei em como responder. A conversa via arco-íris
me incomodara a noite toda. - Luke disse que você e ele se conhecem há muito. Também disse que Grover não iria fracassar dessa vez. Ninguém seria transformado em
pinheiro. Na pálida luz de bronze da lâmina da espada, era d i f í c i l l e r a expressão deles. Grover soltou um balido lamentoso. - Eu devia ter contado a verdade
a você desde o começo. - Sua voz tremia. - Pensei que, se soubesse o fracasso que eu era, não iria querer que eu viesse junto. - Você era o sátiro que tentou salvar
Thalia, a filha de Zeus. Ele assentiu, com tristeza. - E os outros dois meios-sangues que Thalia protegeu, os que chegaram ao acampamento em segurança... - Olhei
para Annabeth. - Eram você e Luke, não é? Ela pôs seu biscoito de lado, intocado. - Como você disse, Percy, uma meio-sangue de sete anos de idade não teria chegado
muito longe sozinha. Atena me guiou até a ajuda. Thalia tinha doze anos. Luke, catorze. Os dois haviam fugido de casa, como eu. Ficaram contentes em me levar com
eles. Eram... fantásticos combatentes de monstros, mesmo sem treino. Viajamos da Virgínia para o norte sem nenhum plano de verdade, nos defendemos dos monstros por
cerca de duas semanas antes de Grover nos encontrar. - Eu devia escoltar Thalia até o acampamento - disse ele, fungando. - Somente Thalia. Tinha ordens estritas
de Q u í r o n : n ã o faça nada que atrase o resgate. Sabíamos que Hades estava atrás dela, entende, mas eu não podia simplesmente abandonar Luke e Annabeth. Achei...
achei que conseguiria levar todos os três até um lugar seguro. Foi minha culpa as Benevolentes nos alcançarem. Eu fiquei paralisado. Fiquei apavorado no caminho
de volta ao acampamento e peguei alguns desvios errados. Se tivesse sido um pouco mais rápido... - Pare com isso - disse Annabeth. - Ninguém culpa você. Thalia também
não o culpou.

- Ela se sacrificou para nos salvar - disse ele, desconsolado. Sou culpado pela morte dela. O Conselho dos Anciãos de Casco Fendido disse isso. - Porque você não
deixou outros dois meios-sangues para trás? - disse eu. - Isso não é justo. - Percy tem razão - disse Annabeth. - Eu não estaria aqui hoje se não fosse por você,
Grover. Nem Luke. Não estamos nem aí para o que diz o conselho. Grover continuou fungando no escuro. - É a minha sina. Sou o mais fraco dos sátiros, e encontro os
dois meios-sangues mais poderosos do século, Thalia e Percy. - Você não é fraco - insistiu Annabeth. - Tem mais coragem do que qualquer sátiro que já conheci. Cite
outro que se atreveria a ir para o Mundo Inferior. Aposto que Percy está muito contente por você estar aqui agora. Ela me chutou na canela. - Sim - falei, o que
teria feito mesmo sem o chute. - Não foi por sina que você encontrou Thalia e eu, Grover. Você tem o maior coração entre todos os sátiros. Você é um buscador n a
tu ra l . É isso que é você quem vai achar Pan. Ouvi um suspiro profundo e satisfeito. Esperei que Grover dissesse algo, mas sua respiração só ficou mais pesada.
Quando o som se transformou em ronco, percebi que ele ti n h a c a íd o n o sono. - Como ele faz isso? - maravilhei-me. - Não sei - disse Annabeth. - Mas foi realmente
legal o que você disse a ele. - Eu fui sincero. Viajamos em silêncio por alguns quilômetros, s a c u d i n d o a cima dos sacos de ração. A zebra mascou um nabo.
O leão lambeu o que restara da carne de hambúrguer dos lábios e olhou para mim esperançoso. Annabeth esfregou seu colar como se estivesse bolando grandes estratégias.
- Essa conta do pinheiro - disse eu. - É do seu primeiro ano? Ela olhou. Não havia percebido o que estava fazendo. - É - falou. - Todo mês de agosto os conselheiro
escolhem o evento mais importante do verão, e o pintam nas contas daquele ano. Eu fiquei com o pinheiro de Thalia, uma trirreme grega em chamas, um centauro vestido
para um baile... bem, aquele foi um verão estranho... - E o anel de formatura é do seu pai? - Isso não é da sua... - Ela se interrompeu. - Sim. Sim, é. - Você não
precisa me contar. - Não... tudo bem. - Ela respirou fundo, vacilante. - Meu pai o mandou para mim dentro de uma carta, há dois verões. O anel era, bem, sua maior
recordação de Atena. Ele não teria conseguido terminar o doutorado em Harvard sem ela... É uma longa história. De qualquer modo, ele disse que queria que eu f i
c a s s e c o m o a n e l . Desculpou-se por ser um idiota, disse q u e m e a m a v a e s e n t i a saudades de mim. Queria que eu fosse para casa. - Isso não parece
tão ruim assim.

- É , mas... o problema é que eu acreditei nele. Tentei ir para casa naquele ano escolar, mas minha madrasta era a mesma de sempre. Não queria ver seus filhos em
perigo por viver com uma aberração. Monstrons atacavam. A gente brigava. Monstros atacavam. A gente brigava. Não agüentei nem mesmo até as férias inverno. Chamei
Quíron e voltei direto para o Acampamento Meio-Sangue. - Você acha que vai tentar viver com seu pai de novo? Ela não me olhou nos olhos. - Por favor. Não estou a
fim de me autoflagelar. - Você não devia desistir - falei. - Devia lhe escrever uma carta, ou coisa assim. - Obrigada pelo conselho - disse ela, friamente -, mas
meu pai escolheu com quem quer viver. Passamos mais alguns quilômetros em silêncio. - Então, se os deuses brigarem - falei -, as coisas vão ficar como na Guerra
de Tróia? Será Atena contra Poseidon? Ela encostou a cabeça na mochila que Ares nos dera e fechou olhos. - Não sei o que a minha mãe vai fazer. Só sei que vou lutar
junto com você. - Por quê? - Porque você é meu amigo, cabeça de alga. Mais alguma pergunta boba? Não consegui pensar em uma resposta para aquilo. Felizemente, não
precisei. Annabeth estava dormindo. Tive dificuldade em seguir o exemplo dela, com Grover roncando e um leão albino me olhando com ar esfomeado, mas por fim fechei
os olhos. ***** Meu pesadelo começou como um milhão de vezes antes: eu sendo forçado a fazer um teste usando uma camisa-de-força. Todas as outras crianças estavam
saindo para o recreio, e o professor dizendo: Vamos, Percy. Você não é burro, não é? Pegue seu lápis. Então o sonho tomou um rumo diferente. Olhei para a carteira
ao lado e vi uma menina sentada, que também usava uma camisa-de-força. Tinha a minha idade, com um cabelo preto rebelde, estilo punk, delineador escuro em volta
dos olhos verdes tempestuosos, e sardas no nariz. De algum modo, eu sabia quem era. Thalia, filha de Zeus. Ela se debateu na camisa-de-força, olhou para mim com
raiva e frustração, e disparou: E então, cabeça de alga? Um de nós precisa sair daqui. Ela tem razão, pensei no sonho. Vou voltar para aquela caverna. Vou dizer
o que penso na cara de Hades. A camisa-de-força se dissolveu e fiquei livre. Caí através do piso da sala de aula. A voz do professor mudou até ficar fria e maligna,
ecoando das profundezas de um grande abismo. Percy Jackson, disse. Sim, a troca foi bem, estou vendo. Eu estava novamente na caverna escura, com os espíritos dos
mortos flutuando à minha volta. De dentro do poço, sem ser vista, a coisa monstruosa falava, mas não se dirigia a mim. O poder entorpecedor de sua voz parecia dirigir-se
a outro lugar.

E ele não suspeita de nada?, perguntou. Outra voz, uma que quase reconheci, respondeu junto ao meu ombro: Nada, meu senhor. Ele é tão ignorante quanto o resto. Ohei,
mas não havia ninguém lá. Quem falara estava invisível. Mentira em cima de mentira, refletiu em voz alta a coisa no poço. Excelente. Na verdade, meu senhor, disse
a voz ao meu lado, o nome O Trapaceiro lhe foi muito bem aplicado, mas aquilo foi de fato necessário? Eu poderia ter trazido o que roubei diretamente para o senhor...
Você?, escarneceu o monstro. Você já mostrou seus limites. Teria falhado completamente sem minha intervenção. Mas, meu senhor... Por favor, pequeno servo. Nossos
seis meses nos renderam muito. A ira de Zeus cresceu. Poseidon jogou sua cartada mais desesperada. Agora devemos usá-la contra ele. Logo você terá a recompensa que
deseja, e sua vingança. E assim que ambos os itens forem entregues em minhas mãos... mas espere. Ele está aqui. O quê? O servo invisível de repente pareceu tenso.
Acaso o convocou, meu senhor? Não. Toda a força da atenção do monstro agora se despejava sobre mim, paralisando-me. Maldito seja o sangue de seu pai - ele é inconstante
demais, imprevisível demais. O menino trouxe a si mesmo para cá. Impossível!, exclamou o servo. Para alguém fraco como você, talvez, rosnou a voz. Depois sua força
gélida se voltou de novo para mim. Então... você quer sonhar com sua missão, meio-sangue? Pois vou atendê-lo. O cenário mudou. Eu estava numa vasta sala com um trono,
com paredes de mármore negro e piso de bronze. O horripilante trono vazio era feito de ossos humanos fundidos. Postada ao pé do degrau estava minha mãe, uma estátua
de luz dourada tremeluzente, os braços estendidos. Tentei avançar em sua direção, mas minhas pernas n ão s e m o viam. Estendi a mão para ela, apenas para perceber
que minhas mãos haviam murchado até os ossos. Esqueletos sorridentes de armadura grega se juntavam ao meu redor, vestindo-me com mantos de seda, coroando-me com
louros que fumegavam com ve n e n o d a Quimera, queimando-me o couro cabeludo. A voz maligna começou a rir. Vivas ao herói conquistador! ***** Acordei assustado.
Grover sacudia meu ombro.

- O caminhão parou - disse ele. - Achamos que e l e s vê m checar os animais. - Escondam-se! - Annabeth falou baixinho. Para ela foi fácil. Pôs na cabeça seu boné
mágico e desapareceu. Grover e eu tivemos de mergulhar atrás dos sacos de ração e torcer para parecermos dois nabos. As portas da carreta se abriram com um rangido.
A luz e o calor do sol entraram. - Cara! - disse um dos caminhoneiros, abanando a mão na frente do nariz feio. - Queria estar transportando eletrodomésticos. - Ele
trepou para dentro e despejou um pouco d'água nas vasilhas dos animais. - Com calor, garotão? - perguntou ao leão, e então esvaziou o resto do balde direto na cara
do animal. O leão rugiu de indignação. - Certo, certo, certo - disse o homem. Ao meu lado, embaixo dos sacos de nabos, Grover se r e s e t o u . Para um herbívoro
amante da paz, ele parecia absolutarnente sanguinário. O caminhoneiro jogou um saco meio esmagado de McLanche Feliz para o antílope. E arreganhou um sorriso para
a zebra: - T udo em cima, Listradona? Ao menos nos livraremos de você nesta parada. Gosta de shows de mágica? Vai adorar este. Vão serrar você no meio! A zebra,
com os olhos arregalados de medo, olhou diretamente para mim. Não houve som nenhum, mas claro como o dia, eu a ouvi dizer: Liberte-me, senhor. Por favor. Fiquei
perplexo demais para reagir. Houve um forte toque-toque-toque na lateral da carreta. O caminhoneiro que estava dentro, conosco, gritou: - O que você quer, Eddie?
Uma voz do lado de fora - deve ter sido a de Eddie - gritou volta: - Maurice? O que você disse? - Por que está batendo? Toque-toque-toque. De fora, Eddie gritou:
- Quem está batendo? O nosso cara, Maurice, revirou os olhos e voltou para fora, xingando Eddie por ser tão idiota. Um segundo depois, Annabeth apareceu ao meu lado.
Devia ser ela quem fez as batidas, para tirar Maurice da carreta. Ela isse: - Esse negócio de transporte não deve ser legal. - Mentira? - disse Grover. Ele fez uma
pausa, como se estivesse escutando. - O leão diz que esses caras são contrabandistas de animais!

É verdade, disse a voz da zebra dentro da minha cabeça. - Temos de libertá-los! - disse Grover. Ele e Annabeth olharam para mim, esperando meu comando. Eu tinha
ouvido a zebra falar, mas não o leão. Por q u ê ? T a l v e z fosse mais uma deficiência de aprendizado... Será que eu só podia entender zebras? Então pensei: cavalos.
O que Annabeth dissera sobre Poseidon criar cavalos? Uma zebra seria próxima o bastante de um cavalo? Será que era por isso que eu podia entendê-la? A zebra disse:
Abra minha jaula, senhor. Por favor. Ficarei bem, depois disso. Do lado de fora, Eddie e Maurice ainda estavam gritando um com o outro, mas eu sabia que eles entrariam
a qualquer minuto para atormentar os animais. Agarrei Contracorrente e cortei com um golpe a tranca da gaiola da zebra. A zebra disparou para fora. Virou-se para
mim e inclinou a cabeça. Obrigada, senhor. Grover ergueu as mãos e disse algo a ela em sua fala de bode, como uma bênção. No momento em que Maurice enfiava a cabeça
para verificar que barulho era aquele lá dentro, a zebra saltou por cima dele para a rua. Houve berros, gritos e carros buzinando. Corremos para as portas da carreta
a tempo de ver a zebra galopando por u m a avenida ladeada por hotéis, cassinos e letreiros de néon. Tínhamos acabado de soltar uma zebra em Las Vegas. Maurice e
Eddie correram atrás dela, com alguns policiais correndo atrás deles e gritando: - Ei! Vocês precisam de permissão para isso! - Agora seria um bom momento para dar
o fora - disse Annabeth. - Primeiro os outros animais - disse Grover. Cortei as trancas com minha espada. Grover ergueu as mãos e falou a mesma bênção de bode que
usara para a zebra. - Boa sorte - disse aos animais. O antílope e o leão dispararam para fora das jaulas e foram juntos para as ruas. Alguns turistas gritaram. A
maioria recuou e tirou fotos, provavelmente pensando que se tratasse de algum tipo de show de um dos cassinos. - Os animais vão ficar bem? - perguntei a Grover.
- Quer dizer, o deserto e tudo... - Não se preocupe - disse ele. - Eu lhes dei uma bênção de sátiro. - O que quer dizer isso? - Quer dizer que chegarão à floresta
em segurança - disse ele. - Encontrarão água, comida, sombra, e o que mais precisarem até acharem um lugar seguro para viver. - Por que você não pode fazer uma oração
dessas para nós? - perguntei. - Só funciona com animais. - Então só iria afetar Percy - ponderou Annabeth. - Ei! - protestei. - Brincadeirinha - disse ela. - Venha.
Vamos sair desse caminhão imundo.

Cambaleamos para fora, para a tarde do deserto. Fazia quarenta e três graus, fácil, e devíamos estar parecendo vagabundos fritos, mas todos estavam interessados
demais nos animais selvagens para prestar muita atenção em nós. Passamos pelo Monte Carlo e pela MGM. Passamos por pirâmides, por um navio pirata e pela Estátua
da Liberdade, que era uma réplica bem pequena, mas ainda assim me deixou com saudades de casa. Não sabia muito bem o que estávamos procurando. Talvez apenas um lugar
para fugir do calor por alguns minutos, achar um sanduíche e um copo de limonada, bolar um novo plano para chegar ao oeste. Provavelmente, entramos numa rua errada,
pois chegamos em um beco sem saída, em frente ao Hotel e Cassino Lotus. A entrada era uma enorme flor de néon, as pétalas acendendo e piscando. Ninguém entrava nem
saía, mas as reluzentes portas cromadas estavam abertas, espalhando ar condicionado com cheiro de flores - flor-de-lótus, quem sabe. Eu nunca cheirara uma, por isso
não tinha certeza. O porteiro sorriu para nós. - Ei, crianças. Vocês parecem cansados. Querem entrar e sentar? Tinha aprendido a ser desconfiado, mais ou menos na
última semana. Imaginava que qualquer um poderia ser um monstro ou um deus. Não dava para saber. Mas aquele cara era normal. Era só olhar. Além disso, fiquei tão
aliviado de ouvir alguém que parecia simpático que assenti e disse que adoraríamos entrar. Dentro, demos uma olhada em volta e Grover disse: - Uau. O saguão inteiro
era uma sala de jogos gigante. E não estou falando de joguinhos vagabundos como o velho Pac-Man ou os caça-níqueis. Havia um toboágua serpenteando em volta do elevador
de vidro, que subia pelo menos quarenta andares. Havia uma parede de escalada ao lado de um edifício, e uma ponte i n t e r n a para bungee-jumping. Trajes de realidade
virtual com pistolas laseres que funcionavam. E centenas de videogames, cada qual do tamanho de uma tevê widesmen. Basicamente, o que você disser, o lugar tinha.
Havia algumas outras crianças jogando, mas não muitas. Não havia espera para nenhum dos jogos. Garçonetes e lanchonetes estavam por toda parte, servindo todo tipo
de comida que se possa imaginar. - Ei! - disse um mensageiro. Pêlos menos achei que fosse um mensageiro. Usava uma camisa havaiana branca e amarela com desenhos
de lótus, short e sandálias de dedo. - Bem-vindos a o C a s s i n o Lótus. Aqui está a chave do seu quarto. Eu gaguejei: - Ahn, mas... - Não, não - disse ele, rindo.
- A conta já foi paga. Sem taxas extras, sem gorjetas. Vocês só precisam subir para o último andar, quarto 4001. Se precisarem alguma coisa, como mais espuma para
a banheira quente ou alvos para tiro ao prato, ou o que for, é só ligar para a recepção. Aqui estão os seus cartões GranaLótus. Eles funcionam nos restaurantes e
em todos os jogos e brinquedos. Ele entregou a cada um de nós um cartão de crédito de plástico verde. Eu sabia que devia haver algum engano. Obviamente ele pensara
q u e éramos crianças milionárias. Mas peguei o cartão e disse: - Quanto tem aqui? Ele juntou as sobrancelhas.

- O que quer dizer? - Quero dizer quanto temos de crédito? Ele riu. - Ah, é uma piada. Ei, legal. Aproveitem sua estada. Subimos de elevador e conferimos nosso quarto.
Era uma suíte com três dormitórios separados e um bar cheio de doces, refrigerantes e salgadinhos. Uma linha direta para o serviço de quarto. Toalhas fofas e camas
d'água com travesseiros de penas. Uma televisão enorme com satélite e Internet banda larga. A varanda tinha sua própria banheira quente e, de fato, uma máquina de
lançar p r a t o s e uma espingarda dava para lançar pombos de louça sobre a paisagem de Las Vegas e acertá-los com a espingarda. Não ntendi como aquilo podia ser
permitido, mas achei muito legal. A vista para a Vegas Boulevard e o deserto era maravilhosa, muito embora eu duvidasse que teríamos tempo para admirar a paisagem
com um quarto como aquele. - Ah, deuses - disse Annabeth. - Este lugar é... - Maravilhoso - disse Grover. - Supermaravilhoso. Havia roupas no armário, e cabiam em
mim. Franzi a testa, achando um pouco estranho. Joguei a mochila de Ares na lata de lixo. Não precisaria mais daquilo. Quando fôssemos embora, poderia comprar uma
nova loja do hotel. Tomei um banho, o que foi uma sensação ótima depois de uma semana de viagem suja. Troquei de roupa, comi um saco de salgadinhos, bebi três Cocas
e não me sentia tão b e m h a v i a muito tempo. Bem no fundo da cabeça, um probleminha me incomodava. Eu tivera um sonho, ou coisa assim... Precisava f a l a r
c o m meus amigos. Mas certamente aquilo podia esperar. Saí do quarto e vi que Annabeth e Grover também tinham tomado banho e trocado de roupa. Grover estava comendo
batatinhas até se fartar, enquanto Annabeth sintonizava o National Geographic Channel. - Todos esses canais - disse a ela -, e você liga no National Geographic.
Está maluca? - É interessante. - Eu me sinto bem - disse Grover. - Adoro este lugar. Sem que ele se desse conta, as asas apareceram nos seus tênis e o suspenderam
a trinta centímetros do chão, depois o desceram de novo. - Então, o que fazemos agora? - perguntou Annabeth. - Dormimos? Grover e eu nos entreolhamos e sorrimos.
Ambos erguemos os nossos cartões GranaLótus de plástico verde. - Hora do recreio - falei. Não conseguia me lembrar da última vez em que me d i v e r t i r a t a
n t o . Eu vinha de uma família relativamente pobre. Para nós esbanjar era comer fora no Burger King e alugar um vídeo. Um h otel cinco estrelas em Vegas? Nem pensar.
Pulei de bungee-jump no saguão cinco ou seis vezes, andei no toboágua, fiz snowboard na rampa de neve artificial, joguei lasertag e atirador de elite do FBI em realidade
virtual. Vi Grover algumas vezes, indo de jogo em jogo. Ele tinha gostado mesmo daquela coisa do caçador às avessas - em que os

cervos saem e atiram contra os caipiras. Vi Annabeth jogando trívia e outros jogos de cabeçudos. Havia um Sim enorme em 3D, no qual você podia construir sua própria
cidade e realmente ver os edifícios holográfico subirem no tabuleiro. Não dei muita importância para esse, mas Annabeth adorou. Não sei muito bem quando percebi
que algo estava errado. Provavelmente, foi quando reparei no cara que estava em pé ao meu lado no jogo dos atiradores de elite virtuais. Tinha cerca de treze anos,
eu acho, mas suas roupas eram esquisitas. Achei que fosse filho de algum dublê do Elvis Presley. Usava jeans boca-de-sino e uma camiseta vermelha com enfeites pretos,
e o cabelo era cacheado e cheio de gel, como o de uma garota de New Jersey em noite de reunião de ex-alunos. Brincamos juntos no jogo de atiradores, e ele disse:
- Joinha, bicho. Estou aqui há duas semanas e os jogos estão cada vez melhores Joinha, bicho? Mais tarde, enquanto conversávamos, eu disse que alguma coisa era "irada"
e ele me olhou meio surpreso, como se nunca tivesse ouvido a palavra ser usada daquele jeito antes. Disse que seu nome era Darrin, mas assim que comecei a fazer
perguntas ele se aborreceu e fez menção de voltar para a tela do computador. Eu disse: - Ei, Darrin? - O quê? - Em que ano estamos? Ele franziu a testa para mim.
- No jogo? - Não. Na vida real. Ele precisou pensar. - Mil novecentos e setenta e sete. - Não - falei, começando a ficar um pouco assustado. - De verdade. - Ei,
bicho. Vibrações ruins. Estou no meio de um jogo. Depois disso ele me ignorou totalmente. Comecei a falar com as pessoas e descobri que n ã o e r a f á c i l . Elas
estavam grudadas na tela da tevê ou no videogame ou no que fosse. Achei um cara que me disse que era 1985. Outro cara me disse que era 1993. Todos alegavam não estar
ali há muito tempo, alguns dias, algumas semanas no máximo. Realm ente não sabiam, nem se importavam com isso. Então me ocorreu: havia quanto tempo eu estava a l
i ? P a r e c i a m apenas algumas horas, mas seriam mesmo? Tentei lembrar por que estávamos ali. Íamos para Los Angeles. Deveríamos encontrar a entrada para o Mundo
I n f e r i o r . M i n h a mãe... por um momento apavorante, tive dificuldade de lembrar o nome dela. Sally. Sally Jackson. Eu tinha de encontrá-la. precisava impedir
Hades de desencadear a Terceira Guerra Mu n d i al. Achei Annabeth ainda construindo sua cidade.

- Vamos - disse a ela. - Precisamos sair daqui. Nenhuma resposta. - Annabeth? Ela ergueu os olhos, aborrecida. - O quê? - Escute. O Mundo Inferior. A nossa missão!
- Or a, vamos, Percy. Só mais alguns minutos. - Annabeth, há gente aqui desde 1977. Crianças que nunca cresceram. Quando você entra, fica para sempre. - E dai? -
perguntou ela. - Você pode imaginar lugar melhor? Agarrei o pulso dela e a arranquei do jogo. - Ei! - ela gritou e me bateu, mas ninguém sequer se incomodou em olhar.
Estavam ocupados demais. Eu a fiz olhar em meus olhos. Falei: - Aranhas. Grandes aranhas peludas. Aquilo mexeu com ela. Sua visão clareou. - Ah, meus deuses - falou.
- Há quanto tempo nós... - Não sei, mas temos de encontrar Grover. Saímo à procura dele, e o encontramos ainda jogando Caçador de Cervos Virtual. - Grover! - gritamos
juntos. Ele disse: - Morra, ser humano! Morra, pessoa tola e poluente! - Grover! Ele apontou a arma de plástico para mim e começou a clicar, como se eu fosse apenas
mais uma imagem na tela. Olhei para Annabeth e juntos pegamos Grover pelos braços e o arrastamos para longe. Os tênis voadores despertaram e começaram a puxar as
pernas dele na diração oposta, enquanto ele gritava: - Não! Acabei de passar de nível! Não! O mensageiro do Lótus correu até nós. - E então, estão prontos para os
seus cartões platinum? - Estamos indo embora - disse a ele. - Que pena - disse ele, e tive a sensação de que ele estava sendo sincero, de que íamos despedaçar seu
coração partindo. - Acabamos de anexar um novo andar cheio de jogos para

portadores de cartões platinum. Ele mostrou os cartões, e eu queria um. Sabia que, se pegasse jamais iria embora. Ficaria ali, feliz para sempre, jogando para sempre,
e logo esqueceria minha mãe, e minha missão, e talvez até meu próprio nome. Ficaria jogando Atirador Virtual com o bicho joinha Darrin Discoteca para sempre. Grover
estendeu a mão para o cartão, mas Annabeth puxou o braço dele e disse: - Não, obrigada. Fomos andando em direção à porta, e quando fizemos isso, o cheiro de comida
e os sons dos jogos pareceram ficar mais e mais convidativos. Pensei em nosso quarto lá em cima. Podíamos só passar a noite, dormir em uma cama de verdade para variar...
Então disparamos pelas portas do Cassino Lótus e saímos correndo pela calçada. A sensação era de meio de tarde, mais ou menos a mesma hora que havíamos entrado no
cassino, mas algo estava errado. O tempo mudara completamente. Estava tempestuoso, com raios de calor relampejando no deserto. A mochila de Ares estava pendurada
em meu ombro, o que era estranho, pois eu tinha certeza de que a jogara na lata de lixo do quarto 4001. Mas naquele momento eu tinha outros problemas com que me
preocupar. Corri para o jornal mais próximo e li o ano primeiro. Graças aos deuses, era o mesmo ano de quando entramos. Então reparei na data: 20 de junho. Tínhamos
ficado no Cassino Lótus por cinco dias. Restáva-nos só um dia até o solstício de verão. Um dia para completar nossa missão.

DEZESSETE ­ Vamos comprar camas d'água.
A idéia foi de Annabeth. Ela nos meteu no banco de trás de um táxi de Las Vegas como se realmente tivéssemos dinheiro, e disse ao motorista: - Los Angeles, por favor.
O taxista mascou seu charuto e nos mediu com os olhos. - São quatrocentos e oitenta e dois quilômetros. Para isso, vocês têm de pagar adiantado. - Aceita cartão
de débito de cassinos? - perguntou Annabeth. Ele deu de ombros. - Alguns. Funcionam como os cartões de crédito. Preciso passar o cartão primeiro. Annabeth estendeu
o cartão GranaLótus verde para ele. O motorista olhou com ar desconfiado. - Passe o cartão - convidou Annabeth. Ele fez isso. O taxímetro começou a crepitar. Luzes
se acenderam. Por fim, um símbolo do infinito apareceu ao lado do cifrão. O charuto caiu da boca do motorista. Ele olhou para nós de olhos arregalados. - Em que
lugar de Los Angeles... ahn... Sua Alteza? - O píer Santa Monica. - Annabeth endireitou um pouco o corpo. Dava para perceber que ela gostara daquilo de "Sua Alteza.
- Leve-nos depressa, e pode ficar com o troco. Talvez ela não devesse ter dito aquilo. O velocímetro do táxi não caiu nem por um instante abaixo de cento e sessenta
ao longo de todo o percurso pelo deserto de Mojave. ***** Na estrada, tivemos tempo à vontade para conversar. Contei a Annabeth e Grover sobre meu último sonho,
mas, quanto mais tentava me lembrar, mais imprecisos foram ficando os detalhes. O Cassino Lótus parecia ter causado um curto-circuito na minha memória. Eu não conseguia
me lembrar de como era o som da voz do servo, embora tivesse certeza de que era de alguém que eu conhecia. O servo chamara o monstro no abismo de algum outro nome
além de "meu senhor"... Algum nome ou título especial... - O Silencioso? - sugeriu Annabeth. - O
Rico?s Ambos são apelidos de Hades. - Talvez... - falei -, embora
nenhum dos dois parecesse muito certo. - A sala do trono parece ser a de Hades - disse Grover. - É assim que costumam descrevê-la. Eu sacudi a cabeça. - Alguma coisa
está errada. A sala do trono não era a parte principal do meu sonho. E aquela voz no abismo... Eu não sei. Simplesmente não parecia a voz de um deus.

Os olhos de Annabeth se arregalaram. - O que foi? - perguntei. - Ah... nada. Eu estava só... Não, tem de ser Hades. Talvez ele tenha mandado esse ladrão, essa pessoa
invisível, para pegar o raio-mestre, e algo tenha dado errado... - Tipo o quê? - Eu... eu não sei - disse ela. - Mas se ele roubou o símbolo do poder de Zeus do
Olimpo, e os deuses o estavam caçando, quer dizer, uma porção de coisas poderia dar errado, ou ele o perdeu de algum modo. De qualquer jeito, não conseguiu levá-lo
até Hades. Foi isso o que a voz disse no seu sonho, certo? O cara fracassou. Isso explicaria o que as Fúrias estavam procurando quando vieram atrás de nós no ônibus.
Talvez achem que recuperamos o raio. Não sabia muito bem o que estava errado com ela. Parecia pálida. - Mas se eu já tivesse recuperado o raio - falei -, por que
estaria viajando para o Mundo Inferior? - Para ameaçar Hades - sugeriu Grover. - Para suborná-lo ou chantageá-lo para devolver sua mãe. Eu assobiei. - Você tem pensamentos
perversos para um bode. - Ora, obrigado. - Mas a coisa no abismo disse que estava esperando dois - falei. - Se o raio-mestre é um, qual é o outro? Grover sacudiu
a cabeça, claramente perplexo. Annabeth olhava para mim como se soubesse qual seria a minha próxima pergunta e estivesse desejando silenciosamente que eu não a fizesse.
- Você tem idéia do que poderia estar naquele abismo tem? - perguntei a ela. - Quer dizer, se não for Hades. - Percy... não vamos falar sobre isso. Porque se não
for Hades... Não. Tem de ser Hades. A d e s o l a ç ã o p a s s a v a por nós. Passamos por uma placa que dizia DIVISA DO ESTADO DA CALIFÓRNIA, VINTE QUILÔMETROS.
Tive a sensação de que estava deixando de notar alguma informação simples e crucial. Era como quando eu olhava para uma palavra que deveria conhecer, mas ela não
fazia sentido porque uma ou duas letras estavam flutuando f o r a do lugar. Quanto mais eu pensava sobre minha missão, mais certeza tinha de que confrontar Hades
não era a verdadeira resposta. Havia algo mais acontecendo, algo ainda mais perigoso. O problema era: estávamos disparados na direção do Mundo Inferior a cento e
sessenta quilômetros por hora, apostando que que Hades tinha o raio-mestre. Se chegássemos lá e descobríssemos que estávamos errados, não teríamos tempo para corrigir
o erro. O prazo do solstício passaria e a guerra começaria. - A resposta está no Mundo Inferior - assegurou Annabeth. - Você viu os espíritos dos mortos, Percy.
Só há um lugar onde isso é possível. Estamos fazendo a coisa certa. Ela tentou levantar a nossa moral sugerindo estratégias engenhosas para entrar na Terra dos Mortos,
mas meu coração não estava naquilo. O fato é que havia muitos fatores desconhecidos. Era como

estudar loucamente para uma prova sem saber qual é o assunto. E, acredite-me, isso eu já fizera muitas vezes. O táxi ia a toda para oeste. Cada rajada de vento no
Vale da Morte parecia um espírito dos mortos. Cada vez que os freios chiavam atrás de um caminhão de dezoito rodas, aquilo me lembrava a voz reptiliana de Equidna.
***** Ao pôr-do-sol, o táxi nos deixou na praia de Santa Monica. Era exatamente como as praias de Los Angeles que se vêem nos filmes, só que o cheiro era pior. Havia
carrosséis de parque de diversão ao longo do píer, palmeiras nas calçadas, sem-teto dormindo nas dunas e surfistas esperando a onda perfeita. Grover, Annabeth e
eu caminhamos até a beira-mar. - E agora? - perguntou Annabeth. O Pacífico estava ficando dourado ao sol poente. Pensei em quanto tempo se passara desde que estivera
na praia de Montauk, do outro lado do país, olhando para um mar diferente. Como podia haver um deus capaz de controlar aquilo tudo? O que meu professor de ciências
dizia dois terços da superfície da Terra são cobertos de água? Como eu podia ser filho de alguém tão poderoso? Entrei na arrebentação. - Percy? - disse Annabeth.
- O que está fazendo? Continuei andando, até a água chegar à minha cintura, depois ao peito. Ela gritou para mim: - Tem idéia de quanto essa água está poluída? Há
todos os tipos de coisas tóxicas... Foi quando minha cabeça submergiu. De início, prendi a respiração. É difícil inalar água de propósito. Por fim não pude mais
aguentar. Inspirei. De fato, eu conseguia respirar normalmente. Desci andando até os bancos de areia. Não deveria conseguie enxergar naquelas águas escuras, mas
de algum modo podia dizer onde tudo estava. Conseguia sentir a textura ondulada do fundo. Podia distinguir colônias de estrelas-do-mar pontilhando os bancos de areia.
Podia até ver as correntes, quentes e frias, rodopiando juntas. Senti algo roçando a minha perna. Olhei para baixo e pulei para fora da água como um míssil. Deslizando
ao meu lado, havia um tubarão-sombreiro de um metro e meio de comprimento. Mas ele não estava atacando, apenas esfregava o nariz em mim. Estava nos meus calcanhares
como um cachorro. Vacilante, toquei sua barbatana dorsal. Ele resistiu um pouco, como se estivesse me convidando a segurar mais forte. Agarrei a barbatana com as
duas mãos. Ele partiu, me puxando. O tubarão me arrastou para o fundo, para a escuridão, e me largou à beira do oceano propriamente dito, onde o banco de areia despencava
em um imenso abismo. Era como estar na beira do Grand Canyon à meia-noite, sem conseguir v e r m u i t a coisa mas sabendo que o vazio estava bem ali. A superfície
tremeluzia a uns cinquenta metros. Eu sabia que devia ter sido esmagado pela pressão. Mas, por outro lado, o natural era que também não respirasse. Fiquei imaginando
se haveria um limite até o qual eu poderia avançar, e se era possível descer d i r e t o a t é o fundo do Pacífico.

Então vi algo reluzindo na escuridão abaixo, ficando maior e mais brilhante à medida que subia na minha direção. Uma voz de mulher, como a da minha mãe, chamou:
- Percy Jackson. Quando ela chegou mais perto, sua forma ficou mais clara. Tinha cabelos pretos soltos e usava um vestido de seda verde. A luz tremeluzia a seu redor,
e os olhos eram tão perturbadoramente bonitos que mal notei o cavalo-marinho do tamanho de um corcel em que ela estava montando. Ela desmontou. O cavalo-mannho e
o tubarão-sombreiro se afastaram rapidamente e começaram uma brincadeira que parecia esconde-esconde. A dama submarina sorriu para mim. - Você chegou longe, Percy
Jackson. Muito bem! Eu não sabia muito bem o que fazer, então me curvei. - Você é a mulher que falou comigo no rio Mississipi. - Sim, criança. Eu sou uma nereida,
um es pírito do m ar. Não foi fácil aparecer tão longe, rio acima, mas as náiades, minhas primas da água doce, ajudaram a sustentar minha força vital. Elas honram
o Senhor Poseidon, embora não sirvam em sua corte. - E... você serve na corte de Poseidon? Ela assentiu. - Muitos anos se passaram desde que nasceu uma criança do
Deus do Mar. Nós o observamos com grande interesse. De repente me lembrei dos rostos nas ondas perto da praia de Montauk quando eu era pequeno, reflexos de mulheres
sorridentes. Como com tantas coisas estranhas em minha vida, nunca havia pensado muito naquilo. - Se meu pai se interessa tanto por mim - falei -, por que não está
aqui? Por que não fala comigo? Uma corrente fria subiu das profundezas. - Não julgue o Senhor do Mar tão duramente - disse-me a nereida. - Ele está prestes a lutar
em uma guerra indesejada. Tem muito com que ocupar seu tempo. Além disso, está proibido de ajudá-lo diretamente. Os deuses não podem demonstrar tal favoritismo.
- Mesmo com seus próprios filhos? - Especialmente com estes. Os deuses só podem agir por influência indireta. E por isso que lhe dou um aviso, e um presente. Ela
estendeu a mão aberta e três pérolas brancas brilharam. - Sei de sua jornada aos domínios de Hades - disse. - Poucos mortais já fizeram isso e sobreviveram: Orfeu,
que possuía grande talento musical; Hércules, que tinha grande força; Houdini, que podia escapar até mesmo das profundezas do Tártaro. Você tem esses talentos? -
Ahn... não, senhora. - Ah, mas você tem algo mais, Percy. Possui dons que esta apenas começando a descobrir. Os oráculos vaticinaram um grande e extraordinário futuro
para você, desde que sobreviva até a idade adulta. Poseidon não aceitará que morra antes do tempo, P o r t a n t o pegue estas pérolas, e quando estiver em apuro,
esmague elas a seus pés. - O que vai acontecer?

- Depende do apuro. Mas lembre: o que pertence ao mar sempre retornará ao mar. - E o aviso? Os olhos dela brilharam com uma luz verde. - Faça o que seu coração manda,
ou perderá tudo. Hades se alimenta de dúvidas e desesperança. Ele o enganará se puder, o fará desconfiar de seu próprio julgamento. Depois que estiver nos domínios
dele, Hades jamais permitirá voluntariamente que você parta. Mantenha a fé. Boa sorte, Percy Jackson. Ela chamou seu cavalo-marinho e partiu para o vazio. - Espere!
- gritei. - No rio, você disse para não confiar em presentes. Que presentes? - Adeus, jovem herói - gritou ela de volta, a voz desaparecendo nas profundezas. - Você
deve ouvir seu coração. - Ela se transformou em um ponto verde luminoso e depois desapareceu. Eu quis segui-la para as profundezas escuras. Quis ver a corte de Poseidon.
Mas ergui os olhos para o crepúsculo que se transformava em noite na superfície. Meus amigos estavam esperando. Tínhamos tão pouco tempo... Tomei impulso para cima
em direção à arrebentação. Quando cheguei à praia, minhas roupas secaram instantaneamente. Contei a Grover e a Annabeth o que acontecera, e mostrei as pérolas a
eles. Annabeth fez uma careta. - Nenhum presente vem sem um preço. - Elas foram de graça. - Não. - Ela sacudiu a cabeça. - "Não existe a l m o ç o g r á t i s ."
É um antigo ditado grego que se aplica perfeiramente hoje em dia. Haverá um preço. Aguarde. Com esse pensamento feliz, demos as costas para o mar. ***** Tomamos
o ônibus para West Hollywood com um pouco dos trocados que sobraram na mochila de Ares. Mostrei ao motorista o recibo com o endereço do Mundo Inferior que eu pegara
no Empório de Anões de Jardim da Tia Eme, mas ele n u n c a o u v i r a falar nos Estúdios de Gravação M.A.C. Morto ao Chegar. - Você me lembra alguém que vi na
tevê - falou, ator infantil, ou coisa assim? - Ahn... eu sou dublê... de uma porção de atores infa ntis. - Ah! Está explicado. Agradeci e desci rapidamente na parada
seguinte. Perambulamos por quilômetros à procura do M.A.C. Ninguém parecia saber onde era. Não constava da lista telefônica. Duas vezes nos esquivamos para becos,
para evitar viaturas de polícia. Fiquei paralisado na frente da vitrine de uma loja de eletrodomésticos porque uma televisão mostrava uma entrevista com alguém que
pareceu muito familiar - meu padrasto, Gabe Cheiroso.

Ele estava falando com Barbara Walters - parecendo uma grande celebridade. Ela o entrevistava em nosso apartamento, no meio de um jogo de pôquer, e havia uma jovem
loira sentada ao lado dele, afagando-lhe a mão. Uma lágrima falsa brilhou na bochecha dele enquanto ele dizia: - Honestamente, sra. Walters, se não fosse aqui pela
Fofinha, minha conselheira nas horas tristes, eu estaria um caco. Meu enteado levou tudo o que me era caro... Minha esposa... meu Camaro... Eu.. desculpe. Sinto
dificuldade em falar sobre isso. - Ai está, América. - Barbara Walters voltou-se para a câmera. - Um homem destroçado. Um menino adolescente com sérios problemas.
Deixem-me mostrar agora a última foto desse problemático jovem fugitivo, tirada há uma semana em Denver. A tela cortou para uma foto granulada em que eu, Annabeth
e G r o v e r do lado de fora do restaurante Colorado estávamos falando com Ares. - Quem são as outras crianças nesta foto? - perguntou Barbara Walters com dramaticidade.
- Quem é o homem que está com elas? Percy Jackson é um delinquente, um terrorista ou uma vítima da lavagem cerebral de uma nova e assustadora seita? Quando voltarmos,
vamos conversar com uma renomada psicóloga infantil. Fique conosco, América. - Vamos - disse-me Grover. Ele me arrastou para longe antes que eu abrisse um buraco
na vitrine da loja de eletrodomésticos com um murro. Anoiteceu, e personagens de aparência esfomeada começaram a sair para as ruas para representar seus papéis.
Não me entendam mal. Sou nova-iorqumo. Não me assusto facilmente. Mas estar em Los Angeles era bem diferente de estar em Nova York. Onde eu morava tudo parecia perto.
Embora fosse uma grande cidade, era possível se chegar a qualquer lugar sem se perder. O padrão das ruas e o metrô faziam sentido. Havia um critério de funcionamento
das coisas. Desde que não fosse bobo, um garoto podia se sentir seguro lá. Los Angeles não era assim. Era espalhada, caótica, ficava difícil se locomover. Fazia
lembrar Ares. Para Los Angeles, não bastava ser grande; era preciso também provar-se grande sendo barulhenta, estranha e difícil de navegar. Eu não sabia como iríamos
encontrar a entrada para o Mundo Inferior até o dia seguinte, o solstício de verão. Passamos por gangues, vagabundos e camelôs, que nos olhavam como se tentassem
avaliar se nos atacar seria um bom negócio. Quando passamos apressados pela entrada de um b e c o , u m a voz disse no escuro: - Eí, você. Como um idiota, parei.
Antes que nos déssemos conta, estávamos cercados, Uma gangue de garotos estava ao nosso redor. Seis ao todo - garotos brancos com roupas caras e expressão perversa.
Como os garotos da Academia Yancy; moleques ricos brincando de ser malvados. Por instinto, destampei Contracorrente. Quando a espada apareceu do nada, eles recuaram,
mas seu líder ou era muito estúpido ou muito valente, porque continuou avançando em minha direção com um canivete de mola. Cometi o erro de desferir um golpe. O
garoto deu um grito agudo. Mas ele devia ser cem por cento mortal, porque a lâmina passou inofensiva por seu peito. Ele olhou para baixo.

- Mas que... Calculei que teria mais ou menos três segundos antes que o choque dele se transformasse em raiva. - Corram! - gritei para Annabeth e Grover. Empurramos
dois deles para fora do caminho e dísparamos pela rua, sem saber aonde estávamos indo. Dobramos uma esquina numa curva bem fechada. - Ali! - gritou Annabeth. Somente
uma loja do quarteirão parecia aberta, as vitrines brilhando em néon. O letreiro acima da porta dizia algo como LACIÁPO ADS MASCA Á'GDUS OS SCRATO. - Palácio das
Camas d'Água do Crosta? - traduziu Grover. Não parecia o tipo de lugar onde eu entraria a não ser em uma emergência, mas sem dúvida era essa a situação. Irrompemos
pelas portas, corremos para trás de uma cama dágua e nos abaixamos. Uma fração de segundo depois, a gangue de garotos passou correndo do lado de fora. - Acho que
os despistamos - ofegou Grover. Uma na voz atrás de nós retumbou: - Despistaram quem? Nos três pulamos. Logo atrás, em pé, estava um cara que parecia um tiranossauro
em trajes de passeio. Tinha pelo menos dois metros e tanto de al tu ra , completamente careca. A pele era cinzenta e curtida como couro, olhos de pálpebras grossas
e sorriso frio, reptiliano. Aproximava-se lentamente, mas tive a sensação de que poderia se mover depressa se precisasse. Seu traje parecia saído do Cassino Lótus.
Era dos gloriosos anos 70. A camisa era de seda estampada, desabotoada até a metade do peito sem pêlos. As lapelas do casaco de veludo eram largas como pistas de
pouso. Eram tantas correntes de prata no pescoço que nem consegui contar. - Eu sou o Crosta - disse com um sorriso amarelo de tanto tártaro. Resisti ao impulso de
dizer, Sim, está na cara. - Desculpe a invasão - falei. - Estamos só, ahn, dando uma olhada. - Você quer dizer, se escondendo daqueles garotos mal-encarados - resmungou
ele. - Eles ficam vadiando por aqui todas as noites. Entra uma porção de gente na loja, graças a eles. Digam, querem ver uma cama d'água? Eu já ia dizer Não, obrigado
quando ele pôs uma pata enorme no meu ombro e me empurrou mais para dentro do salão da loja. Havia todos os tipos de camas d'água que você possa imaginar: diferentes
tipos de madeira, lençóis de padronagem variadas; queen-size, king-size, gigantescas. - Este é meu modelo de maior sucesso. - Crosta passou as mãos orgulhosamente
sobre uma cama coberta com cetim preto, com lâmpadas de lava embutidas na cabeceira. O colchão vibrava, e a coisa ficava parecendo gelatina de p e t r ó l e o .

- Massagem de um milhão mãos - disse Crosta. - Vão em frente, experimentem. Tirem uma soneca, mandem ver. Eu não importo. Tem pouco movimento hoje. - Ahn - falei.
- Não acho que... - Massagem de urn milhão de mãos! - exclamou Grover, e mergulhou na cama. - Ah, gente! Isso é legal. - Hummm - disse Crosta, coçando o seu queixo
de couro. - Quase, quase. - Quase o quê? - perguntei. Ele olhou para Annabeth. - Faça-me um favor e experimente aquela lá, meu bem. Pode servir. Annabeth disse:
- Mas o que... Ele lhe deu algumas palmadinhas tranqüilizadoras no ombro e a levou para o modelo Safári Deluxe, com leões de teca entalhados na armação e um acolchoado
de leopardo. Como Annabeth não quis deitar, Crosta a empurrou. - Ei! - protestou ela. Crosta estalou do dedos. - Ergo! Cordas pularam das laterais da cama e envolveram
Annabeth como chicotes, prendendo-a ao colchão. Grover tentou se levantar, mas cordas pularam também de sua cama de cetim preto, e o prenderam. - N-não é l-l-legal!
- gritou ele, a voz vibrando com a massagem de um milhão de mãos. - N-n-nada l-llegal! O gigante olhou para Annabeth, voltou-se para mim e arreganhou um sorriso.
- Quase. Droga. T e n t e i me afastar, mas a mão dele se arremessou e me agarrou pela nuca. - Opa, garoto. Não se preocupe. Vamos achar uma para você em um segundo.
- Solte meus amigos. - Ah, certamente, eu vou. Mas vou ter de ajustá-los primeiro. - O que quer dizer? - Todas as camas têm exatamente um metro e oitenta, sabia?
Seus amigos são baixinhos demais. Tenho de ajustá-los para servir nas camas. Annabeth e Grover continuaram se debatendo. - Não tolero medidas imperfeitas - resmungou
Crosta. ­ Ergo! Um novo conjunto de cordas pulou dos pés e da cabeceira da cama, enrolando-se nos tornozelos e

axilas de Grover e Annabeth. As cordas começaram a se esticar, puxando meus amigos pelas duas extremidades. - Não se preocupe - disse Crosta para mim. - É um servicinho
de estiramento. Talvez uns oito centímetros a mais nas colunas deles. Podem até sobreviver. Agora, por que n ã o a c h a m o s u m a cama de que você goste, heim?
- Percy! - gritou Grover. Minha cabeça estava a mil. Sabia que não conseguiria dominar sozinho aquele gigante vendedor de camas d'água. Ele quebraria meu pescoço
antes mesmo que eu pegasse a espada. - Seu nome de verdade não é Crosta, é? - p e r g u n t e i . - Na certidão é Procrusto - admitiu ele. - O Esticador. Lembrei-me
da história: o gigante que tentara matar Teseu excesso de hospitalidade a caminho de Atenas. - Sim - disse o vendedor. - Mas quem é capaz de pronunciar Procrusto?
É ruim para os negócios. Agora, "Crosta' um pode dizer. - Tem razão. Soa muito bem. Os olhos dele se iluminaram. - Acha mesmo? - Ah, sem dúvida - disse eu. - E o
acabamento dessas camas? Fabuloso! Ele abriu um enorme sorriso, mas os dedos não a f r o u x a r a m em meu pescoço. - Digo isso aos meus fregueses. Sempre. Ninguém
se preocupa em examinar o acabamento. Quantas lâmpadas de lava embutidas você já viu? - Não muitas. - Claro! - Percy! - gritou Annabeth. - O que está fazendo? -
Não ligue para ela - disse eu a Procrusto. - Ela im possível. O gigante riu. - Todos os meus fregueses são. Nunca têm um metro e oitenta exato. depois se queixam
do ajuste. - O que você faz quando eles têm mais de um metro e oitenta? - Ora, isso acontece sempre. É um ajuste simples. Ele soltou meu pescoço, mas antes que eu
pudesse reagir esticou o braço para trás de um balcão próximo e de lá tirou um enorme machado de bronze com lâmina dupla. Ele disse: - É só centralizar o freguês
o melhor possível e aparar o que estiver sobrando nas duas extremidades. - Ah - falei, engolindo em seco. - Sensato. - Estou tão satisfeito em cruzar com um freguês
inteligente! M u i t o desatencioso. E

Agora as cordas estavam realmente esticando meus amigos. Annabeth estava ficando pálida. Grover fazia sons gorgolejantes, como um ganso estrangulado. - Então, Crosta...
- falei, tentando manter a voz despreocupada. Olhei de relance para a cama Lua-de-Mel Especial, em forma de coração. - Esta aqui tem mesmo estabilizadores dinâmicos
para compensar o movimento ondulatório? - É claro. Experimente. Sim, talvez eu experimente. Mas funcionaria também para um cara grande como você? Sem nenhuma ondulação?
- Garantido. - Não acredito. - Pode acreditar. - Mostre. Ele sentou com vontade na cama e deu uma palmadmha no colchão. - Nenhuma ondulação. Viu? Estalei os dedos.
- Ergo! As cordas saltaram em volta de Crosta e o achataram no colchão. - Ei! - gritou ele. - Centralizar bem - falei. As cordas se reajustaram ao meu comando. A
cabeça inteira de Crosta ficou para fora da cabeceira. Os pés ficaram para fora na outra ponta. - Não! - disse ele. - Espere! E só uma demonstração. Destampei Contracorrente.
- Alguns ajustezinhos... Não tive nenhum escrúpulo quanto ao que estava prestes a fazer. Se Crosta não fosse humano, eu, de qualquer j e i t o , n ã o p o deria
feri-lo. Se fosse um monstro, merecia ser transformado em pó por algum tempo. - Você negocia duro - disse-me ele. - Dou-lhe trinta por cento de desconto nos modelos
em exposição! - Acho que vou começar com a parte de cima. - Ergui a espada. - Sem entrada! Financiamento em seis meses sem juros! Desci a espada. Crosta parou de
fazer ofertas. Cortei as cordas nas outras camas. Annabeth e Grover puseram-se em pé, gemendo e se encolhendo e me xingando m u i t o .

- Vocês parecem mais altos - falei. - Muito engraçado - disse Annabeth. - Da próxima vez seja mais rápido. Olhei para o quadro de avisos atrás do balcão de Crosta.
Havia uma propaganda do Serviço de Entregas Hermes e outra do Guia Completo dos Monstros na Área de Los Angeles - "As únicas Páginas Amarelas Monstruosas de que
você vai precisar!". Embaixo daquilo, um panfleto em laranja vivo dos Estúdios de Gravação M.A.C. oferecendo comissões por almas de heróis. "Estamos sempre a procura
de de novos talentos!" O endereço estava logo abaixo, com um mapa. - Vamos - disse a meus amigos. - Espere só um minuto - queixou-se Grover. - Fomos praticamente
esticados até a morte! - E n t ã o estão preparados para o Mundo Inferior - falei. - Fica apenas uma quadra daqui.

DEZOITO ­ Annabeth usa a aula de adestramento.
Estávamos nas sombras da Valência Boulevard, olhando para as letras douradas gravadas no mármore negro: ESTÚDIOS DE GRAVAÇÃO M.A.C. Embaixo, impresso nas portas
de vidro, PROIBIDA A ENTRADA DE ADVOGADOS, VAGABUNDOS E VIVENTES. Já era quase meia-noite, mas o saguão estava iluminado e cheio de gente. Atrás do balcão da segurança
estava sentado um guarda de aparência agressiva, com óculos escuros e um fone de ouvidos. Virei-me para meus amigos. - Certo. Vocês se lembram do plano. - O plano
- Grover engoliu seco. - Isso. Adoro o plano. Annabeth disse: - O que vai acontecer se o plano não funcionar? - Sem pensamentos negativos. - Certo - disse ela. -
Estamos entrando na Terra dos Mortos e eu não devo ter pensamentos negativos. Tirei as pérolas do bolso, as três esferas cor de leite que a nereida me dera em Santa
Monica. Elas não pareciam un recurso para o caso de algo dar errado. Annabeth pôs a mão em meu ombro. - Desculpe, Percy. Você tem razão, vamos conseguir. Vai dar
tudo certo. Ela deu uma cutucada em Grover. - Ah, está certo! - concordou ele. - Chegamos a t e a q u i . V a m o s encontrar o raio-mestre e salvar sua mãe. Sem
problemas. OIhei para os dois e me senti realmente grato. Alguns minutos antes, eu quase os tinha feito ser esticados até a morte em camas d'água de luxo, e agora
eles tentavam bancar os corajosos por minha causa, tentavam fazer com que me sentisse melhor. Enfiei as pérolas de volta no bolso. - Vamos chutar alguns traseiros
no Mundo Inferior. Entramos no saguão do M.A.C. Alto-falantes embutidos tocavam uma música ambiente suave. O carpete e as paredes eram cinzachumbo. Cactos cresciam
nos cantos como mãos de esqueletos. Os móveis eram de couro preto, e todos os assentos estavam ocupados. Havia gente sentada em sofás, gente em pé, gente olhando
pela janela ou aguardando o elevador. Ninguém se mexia, nem falava, não faziam nada. Com o canto do olho, eu podia vê-los muito bem, mas, se me concentrasse em qualquer
um em particular, eles começavam a parecer... transparentes. Dava para ver através dos seus corpos. O balcão da segurança ficava em cima de um degrau, portanto tínhamos
de olhar para o alto para falar com o guarda.

Ele era alto e elegante, com pele na cor de chocolate e cabelo tingido de loiro, cortado em estilo militar. Usava armação de tartaruga e um terno de seda italiano
que combinava com o cabelo. Uma rosa negra estava presa à lapela, embaixo de um crachá de prata. L i o nome no crachá e olhei para ele perplexo. - Seu nome é Quíron?
Ele se inclinou por cima da mesa. Não consegui ver nada em seus óculos exceto meu próprio reflexo, mas seu sorriso era doce e frio, como o de uma jibóia exatamente
antes de devorar você. - Que rapaz mais engraçadinho. - Ele tinha um sotaque estranho... inglês, talvez, mas como se tivesse aprendido inglês como segunda língua.
- Diga-me, parceiro, eu pareço um centauro? - N-não. - Senhor - acrescentou ele suavemente. - Senhor - falei. Ele segurou o crachá e correu o dedo embaixo das letras.
- Consegue ler isto, parceiro? Aqui diz C-A-R-O-N-T-E. Diga comigo: CA-RON-TE. - Caronte. - Fantástico! Agora: senhor Caronte. - Senhor Caronte - disse eu. - Muito
bem. - Ele se recostou. - Detesto ser confundido com aquele homem-cavalo. E agora, como posso ajudá-los, pequenos defuntos? A pergunta dele me acertou o estômago
como uma bola de beisebol. Olhei para Annabeth em busca de ajuda. - Queremos ir para o Mundo Inferior - disse ela. A boca de Caronte repuxou-se. - Bem, isso é revigorante.
- É mesmo? - perguntou ela. - Direto e honesto. Sem gritos. Sem "Deve haver algum engano, sr. Caronte". - Ele nos olhou de cima a baixo. - Então, como vocês morreram?
Cutuquei Grover. - Ah - disse ele. - Ahn... afogados... na banheira. - Os três? - perguntou Caronte. Nós assentimos. - Que banheira grande. - Caronte pareceu levemente
impressionado. - Suponho que vocês não têm moedas para passagem. Com adultos, vocês sabem, eu poderia debitar no cartão de crédito, ou acrescentar o preço da travessia
na sua última conta de telefone. Mas com crianças... infelizmente, vocês nunca morrem preparadas. Acho que terão de ficar sentados por alguns séculos. - Ah, mas
nós temos moedas. - Pus três dracmas de ouro sobre o balcão, parte da provisão que eu

encontrara na mesa do escritório de Crosta. - Ora vejam... - Caronte umedeceu os lábios. - Dracmas de verdade. Não vejo uma dessas faz... Seus dedos pairaram avidamente
sobre as moedas. Estávamos muito perto. Então Caronte me olhou. O olhar frio atrás dos óculos pareceu abrir um buraco em meu peito. - Mas você não conseguiu ler
meu nome direito. Você é disléxico, rapaz? - Não. Sou um morto. Caronte inclinou-se para a frente e deu uma cheirada. - Você não está morto. Eu devia saber. É um
filhote de deus. - Temos de chegar ao Mundo Inferior - insisti. Caronte rosnou no fundo da garganta. No mesmo instante, todas as pessoas na sala de espera se levantaram
e começaram a andar de um lado para outro, agitadas, a c e n d e n d o cigarros, passando as mãos pelos cabelos ou olhando para os relógios de pulso. - Vão embora
enquanto podem - disse-nos Caronte. - V o u f i c a r com estas moedas e esquecer que os vi. Ele começou a esticar a mão para as moedas, mas eu as puxei de volta.
- Sem serviço, sem gorjeta. -Tentei parecer mais valente do que me sentia. Caronte rosnou de novo -- um som profundo, de gelar sangue. Os espíritos dos mortos começaram
a bater nas p o r t a s d o elevador. - É uma pena - suspirei. -Tínhamos mais para o f e r e c e r . Ergui a sacola inteira com o tesouro de Crosta. Tirei um punhado
de dracmas e deixei as moedas escorregarem entre os dedos. O rosnado de Caronte se transformou em algo mais parecido com um ronronar de leão. - Acha que pode me
comprar, filhote de deus? Ahn... curiosidade, quanto você tem aí? - Muito - falei. - Aposto que Hades não lhe paga o bastante por um trabalho tão duro. - Ah, você
não sabe nem da metade. Iria gostar de ser babá desses espíritos o dia inteiro? Sempre com "Por favor, não me deixe ficar morto" ou "Por favor, deixe-me atravessar
de graça. Não tenho um aumento há três mil anos. Acha que ternos como este custam barato? - Você merece coisa melhor - concordei. - Algum reconhecimento. Respeito.
Bom salário. A cada palavra, eu empilhava outra moeda de ouro no balcão. Caronte baixou os olhos para o paletó de seda italiana, como se estivesse se imaginando
com algo ainda melhor. - Devo dizer, rapaz, que a gente está começando a falar a mesma língua. Um pouco.

Empilhei mais algumas moedas. - Eu poderia mencionar um aumento de salário quando estiver falando com Hades. Ele suspirou. - Bem, o barco já está quase cheio. Poderia
muito bem encaixar vocês três e zarpar. Ele se pôs de pé, pegou nosso dinheiro e disse: - Venham comigo. Abrimos caminho entre a multidão de espíritos que aguardavam,
os quais começaram a puxar nossas roupas como o vento, ds vozes sussurrando coisas que eu não podia distinguir. Caronte empurrou-os do caminho, resmungando: - Parasitas.
Ele nos escoltou até o elevador, que já estava apinhado de algumas dos mortos, todos segurando um cartão de embarque verde. Caronte agarrou dois espíritos que tentavam
entrar conosco e os empurrou de volta para o saguão. - Muito bem. Agora, ninguém comece a ter idéias enquanto eu estiver fora - anunciou ele para a sala de espera.
- E se alguém tirar minha estação de música de sintonia novamente, farei vocês ficarem aqui por outro milénio. Entendido? Ele fechou as portas. Enfiou um cartão-chave
em uma fenda no painel do elevador e começamos a descer. - O que acontece com os espíritos que ficam esperando no saguão? - perguntou Annabeth. - Nada - disse Caronte.
- Por quanto tempo? - Para sempre, ou até eu me sentir generoso. - Ah - disse ela. - Isso é... justo. Caronte ergueu uma sobrancelha. - Quem disse que a morte era
justa, mocinha? Espere até chegar a sua vez. Você vai morrer em pouco tempo, no lugar está indo. - Vamos sair vivos - falei. - Ah. Tive de repente uma sensação de
vertigem. Não estávamos mais indo para baixo, mas para a frente. O ar ficou enevoado. Os espíritos à minha volta começaram a mudar de forma. Suas roupas modernas
tremiam e se transformavam em mantos cinzentos com capuz. O piso do elevador começou a oscilar. Pisquei com força. Quando abri os olhos, o terno creme italiano de
Caronte fora substituído por um longo manto n e g r o . S e u s óculos de tartaruga haviam desaparecido. Onde deviam es tar os olhos havia órbitas vazias - como
os olhos de Ares, só que os de Caronte eram totalmente escuros, repletos de noite, trevas e desespero. Ele me viu olhando e disse: - O quê?

- Nada - consegui dizer. Achei que ele estivesse sorrindo, mas não era isso. A pele de seu rosto estava ficando transparente, deixando que eu visse até o crânio.
O chão continuou oscilando. Grover disse: - Acho que estou ficando enjoado. Quando pisquei de novo, o elevador não era mais um elevador. Estávamos dentro de uma
barcaça de madeira. Caronte usava uma vara para nos mover ao longo de um rio escuro, cheio de óleo, com ossos, peixes mortos e outras coisas estranhas girando na
superfície... bonecas de plástico, cravos esmagados, diplomas encharcados com bordas douradas. - O rio Styx - murmurou Annabeth. - É tão... - Poluído - disse Caronte.
- Há milhares de anos v o c ê s , seres humanos, quando o atravessam, jogam tudo nele... esperanças, sonhos, desejos que jamais se tornam realidade. Um modo irresponsável
de tratar seu lixo, se querem saber. A névoa subia em espirais da água imunda. Acima de nós, quase perdido nas sombras, havia um teto de estalactites. A frente,
a costa distante brilhava com uma luz esverdeada, a cor do veneno. O pânico obstruiu minha garganta. O que eu estava fazendo ali? Aquelas pessoas ao meu redor...
estavam mortas. Annabeth agarrou minha mão. Em circunstâncias normais, isso teria me embaraçado, mas entendi como ela se sentia. Queria se assegurar de que mais
alguém estava vivo naquele barco. Percebi que eu murmurava uma oração, embora não soubesse bem para quem estava rezando. Ali embaixo só um deus importava, e era
ele que eu fora confrontar. A praia do Mundo Inferior surgiu à vista. Rochas escarpadas e areia vulcânica negra se estendiam terra adentro por cerca de cem metros
até um muro alto de pedra, que se prolongava para os lados até onde a vista podia alcançar. De algum lugar por perto nas sombras verdes, veio um som, reverberando
nas pedras - o uivo de um grande animal. - O velho Três-Caras está com fome - disse Caronte. Seu sorriso se tornou esquelético à luz esverdeada. Má sorte para vocês,
filhotes de deuses. O fundo do nosso barco deslizou sobre a areia preta. Os mortos começaram a desembarcar. Uma mulher segurando a mão de uma menininha. Um casal
de idosos capengando lentamente, de braços. Um menino que não era mais velho que eu arrastava os pés em silêncio em seu manto cinzento. Caronte disse: - Eu lhe desejaria
sorte, parceiro, mas isso não existe por aqui. Lembre-se, não deixe de mencionar meu aumento de salário. Ele contou nossas moedas de ouro em sua bolsa, depois a
vara. Gorjeou algo que parecia uma canção de Barry Manilow enquanto empurrava a barcaça de volta através do rio. Seguimos os espíritos por um caminho já muito percorrido.
*****

Não sei muito bem o que estava esperando - os Portões do Céu, uma ponte levadiça grande e escura ou coisa assim. Mas a entrada para o Mundo Inferior parecia uma
mistura de segurança de aeroporto com a auto-estrada de New Jersey. Havia três entradas separadas embaixo de um enorme arco negro que dizia VOCÊ ESTÁ ENTRANDO EM
ÉREBO. Em cada entrada havia um detector de metais com câmeras de segurança instaladas no alto. Depois disso, havia cabines de pedágio operadas por ghouls como Caronte.
Os uivos de animal faminto eram agora muito altos, mas eu não conseguia ver de onde vinham. O cão de três cabeças, Cérbero, que deveria guardar a porta do Hades,
não estava em lugar nenhum. Os mortos formaram três filas, duas identificadas como ATENDENTE DE SERVIÇO e uma como MORTE ESPRESSA. A fila MORTE EXPRESSA estava avançando
sem parar. As outras duas se arrastavam. - O que você imagina? - perguntei a Annabeth. - A fila rápida deve ir diretamente para os Campos Asfódelos - disse ela.
- Sem contestação. Eles não querem se arriscar ao julgamento do tribunal, porque pode ir contra eles. - Existe um tribunal para gente mo rta? - Sim. Três juizes.
Eles se revezam na n a m a g i s t r a t u r a . O rei Minos, Thomas Jefferson, Shakespeare... pessoas assim. Às vezes olham para uma vida e concluem que aquela
pessoa precisa de uma recompensa especial: os Campos Elísios. Às vezes decidem por um castigo. Mas a maioria das pessoas, bem, elas apenas viveram. Nada de especial,
nem bom nem mau. Então vão para os Campos Asfódelos. - E fazem o quê? Grover disse: - Imagine-se em um campo de trigo no Kansas. Para sempre. - Dureza - disse eu.
- Não tanto quanto aquilo - murmurou Grover. - Olhe. Uma dupla de ghouls de mantos negros havia puxado um espírito para o lado e o estava revistando junto à mesa
da segurança. O rosto do morto parecia vagamente familiar. - Ele é o pregador que saiu no noticiário, está lembrado? - perguntou Grover. - Ah, sim - eu lembrava.
Nós o tínhamos visto na tevê uma ou duas vezes no dormitório da Academia Yancy. Era um tele-evangelista chato do norte do estado de Nova York que arrecadara milhões
de dólares para orfanatos e depois foi pego gastando o dinheiro em artigos para a sua mansão, como assentos de privada foleados a ouro e um campo de mmigolfe. Morrera
numa perseguição da polícia quando seu "Lamborghini abençoado" despencou de um penhasco. - O que estão fazendo com ele? - perguntei. O castigo especial de Hades
- adivinhou Grover. - As pessoas realmente más recebem atenção particular dele q u a n d o chegam. As Fúr... as Benevolentes vão preparar uma tortura para ele. Pensar
nas Fúrias me fez estremecer. Percebi que naquele M O mento estava no território delas. A velha sra. DodJds devia estar lambendo os beiços de expectativa. - Mas
se ele é um pregador - falei -, e acredita em um inferno diferente... Grover encolheu os ombros.

- Quem disse que ele está vendo este lugar do mesmo modo que nós? Os seres humanos vêem o que querem ver. Vocês são muito teimosos... ahn, persistentes, nisso. Chegamos
mais perto dos portões. Os uivos ali eram tão altos que sacudiam o chão embaixo de meus pés, mas ainda assim eu não conseguia perceber de onde vinham. Então, cerca
de quinze metros à nossa frente, a n é v o a v e r d e tremulou. Exatamente no lugar onde o caminho se dividia em três estava um monstro enorme e indistinto. Eu
não o tinha visto antes porque ele era meio transparente, como os mortos. Até se mexer, sua imagem se fundia com o quer que estivesse atrás dele. Somente os olhos
e os dentes pareciam sólidos. Ele estava me encarando. Meu queixo caiu. Tudo o que pude pensar em dizer foi: - É um rottweiler. Sempre imaginara Cérbero como um
grande mastim preto. Mas ele era obviamente um rottweiler de raça pura, a não ser, é claro, por ter duas vezes o tamanho de um mamute, ser quase invisível e ter
três cabeças. Os mortos andavam na direção dele - sem nenhum medo. As filas das placas ATENDENTE EM SERVIÇO se separavam, cada uma para um lado do monstro. Os espíritos
de MORTE EXPRESSA caminhavam direto por entre as patas da frente e por baixo da barriga, o que podiam fazer sem sequer se abaixar. Estou começando a vê-lo melhor
- murmurei. - Por que será? - Acho... - Annabeth umedeceu os lábios. - Sinto muito, mas acho que é porque estamos mais perto de ser pessoas mortas. A cabeça do meio
do cão se esticou em nossa direção. Ele farejou o ar e rosnou. - Ele consegue farejar os vivos - falei. - Mas está tudo bem - disse Grover, trémulo ao meu lado.
Porque temos um plano. - Certo - disse Annabeth. Nunca tinha ouvido a voz dela soar tão baixa. - Um plano. Avançamos na direção do monstro. A cabeça do meio rosnou
para nós, depois latiu tão alto que minhas pupilas chacoalharam. - Você consegue entender? - perguntei a Grover. - Ah, sim - disse ele. - Eu consigo entender. -
O que ele está dizendo? - Não acredito que os seres humanos possuam um palavrão tão grande assim. Peguei um pedaço de madeira que tinha na mochila - um pé d e cama
que eu tinha arrancado de um modelo em exposição de Crosta, a Safári Deluxe. Segurei-o no alto e tentei canalizar pensamentos caninos felizes para o Cérbero - comerciais
de ração, cães engraçadinhos, postes. Tentei sorrir, como se não estivesse prestes a morrer. - Ei, garotão - gritei. - Aposto que eles não brincam muito com você
aqui. "GRRRRRRRRRAU" - Bom menino - falei, fraquejando.

Acenei o bastão. A cabeça do meio do cão acompanhou o movimento. As outras duas fixaram os olhos em m i m , i g n o r a n d o completamente os espíritos. Eu tinha
toda a atenção de Cérbero. Não sabia muito bem se isso era bom. - Vá buscar! - atirei o bastão para as sombras, um lançamento perfeito. Ouvi o tíbum! no no Styx.
Cérbero me olhou, feroz, nada impressionado. Os o l h o s e r a m cheios de ódio e frios. Fim do plano. O monstro agora produzia um novo tipo de rosnado, mais profundo
nas suas três gargantas. - Ahn - disse Grover. - Percy? - Sim? - Apenas achei que você gostaria de saber. - Sim? - Cérbero... Ele está dizendo que temos dez segundo
rezar para o deus que escolhermos. Depois disso... bem... ele está com fome. - Espere! - disse Annabeth. Ela começou a revirar sua mochila. Epa, pensei. - Cinco
segundos - disse Grover. - Corremos agora? Annabeth surgiu com uma bola de borracha vermelha do tamanho de uma grapefruit. A etiqueta dizia PARQUE AQUÁTICO AQUALÂNDIA
­ DENVER, COLORADO. Antes que eu pudesse impedi-a, ergueu a bola e marchou na direção de Cérbero. Ela gritou: - Está vendo a bola? Quer a bola, Cérbero? Senta! Cérbero
parecia tão perplexo quanto nós. As três cabeças se inclinaram de lado. Seis narinas se dilataram. - Senta! - gritou Annabeth outra vez. Eu tinha certeza de que
a qualquer momento ela se transformaria no maior biscoito para cachorro do mundo. Em vez disso, porém, Cérbero lambeu seus três pares de lábios, sacudiu o traseiro
e sentou, esmagando imediatamente uma dúzia de espíritos que passavam por baixo dele na fila MORTE EXPRESSA. Os espíritos produziram um chiado abafado ao se dissipar,
como ar escapando de pneus. - Bom menino! - disse Annabeth. E atirou a bola para Cérbero. Ela a agarrou com a boca do meio. A bola mal tinha tamanho suficiente para
ele morder, e as outras cabeças começaram a avançar na do meio, tentando pegar o novo brinquedo. - Solta! - ordenou Annabeth.

As cabeças de Cérbero pararam de brigar e olharam para ela, A boIa estava presa entre dois dos seus dentes como um pedacinho de chiclete. Ele soltou um lamento alto
e assustador, depois largou a bola, gosmenta e quase rasgada no meio, aos pés de Annabeth. - Bom menino. - Annabeth pegou a bola, ignorando a baba de monstro. Ela
se virou para nós. - Vão, agora. Fila da MORTE EXPRESSA... essa anda mais rápido. - Mas... - argumentei. - Agora! - ordenou ela, no mesmo tom que estava usando com
o cão. Grover e eu avançamos devagarzinho, cautelosos. Cérbero começou a rosnar. - Fica! - ordenou Annabeth ao monstro. - Se quer a bola, fica! Cérbero ganiu, mas
ficou onde estava. - E você? - perguntei a Annabeth quando passamos por ela. - Sei o que estou fazendo, Percv - murmurou ela. - Pelo menos, tenho quase certeza...
Grover e eu seguimos por entre as pernas do monstro. Por favor, Annabeth, eu rezei. Não o mande sentar de novo. Conseguimos passar. Cérbero não era menos assustador
visto de trás. - Bom cachorro! - disse Annabeth. Ela ergueu a bola vermelha esfrangalhada e, provavelmente, chegou à mesma conclusão que eu se recompensasse Cérebro,
não restaria nada para mais um truque. Assim mesmo, ela jogou a bola. A boca esquerda do monstro a agarrou imediatamente, só para ser atacada pela cabeça do meio
enquanto a cabeça da direita gemia em protesto. Enquanto o monstro estava distraído, Annabeth marchou energicamente por baixo da barriga dele e juntou-se a nós perto
do detector de metais. - Como fez aquilo? - perguntei, admirado. - Aula de adestramento - disse ela sem fôlego, e fiquei surpreso ao ver que havia lágrimas em seus
olhos. - Quando eu pequena, na casa do meu pai, nós tínhamos um dobermann... - Não tem importância - disse Grover puxando minha camisa. - Vamos! Estávamos a ponto
de disparar pela fila de MORTE EXPRESSA quando Cérbero gemeu de dar dó, com todas as três bocas. Annabeth parou. Cérbero arfava ansioso, a pequenina bola vermelha
despedaçada em uma lagoa de baba a seus pés. - Bom menino - disse Annabeth, mas sua voz pareceu melâcolica e insegura. As cabeças do monstro se inclinaram, como
se e le estivesse preocupado com ela. - Logo vou trazer uma bola nova para você ­ prome teu Ann abe th , insegura. - Você quer?

O monstro choramingou. Eu não precisava f a l a r língua de cachorro para saber que Cérbero ainda estava esperando a bola. - Bom cachorro. Venho logo visitar você.
Eu... eu prometo. Annabeth virou-se para nós. --Vamos. Grover e eu passamos pelo detector de metais, que imediatamente soou e disparou a piscar luzes vermelhas.
"Pertences não autorizados! Mágica detectada!" Cérbero começou a latir. Nós nos lançamos pelo portão MORTE EXPRESSA, o que disparou ainda mais alarmes, e corremos
para dentro do Mundo Inferior. Alguns minutos depois, estávamos nos escondendo, sem fôlego, no tronco apodrecido de uma imensa árvore negra, enquanto os espíritos
da segurança passavam correndo, berrando pela ajuda das Fúrias. Grover murmurou: - Bem, Percy, o que aprendemos hoje? - Que cães de três cabeças preferem bolas de
borracha a pedaços de pau? - Não - disse Grover. - Aprendemos que seus planos são muito, muito ruins! Eu não tinha essa certeza. Talvez fosse o caso de eu e Annabeth
termos tido a idéia certa. Mesmo ali, no Mundo Inferior, todo mundo - até mesmo os monstros - precisa de um pouco de atenção de vez em quando. Pensei nisso enquanto
esperávamos que os ghouls passassem. Fingi que não vi Annabeth enxugar uma lágrima ao ouvir o lamento triste de Cérbero a distância, sentindo falta da nova amiga.

DEZENOVE ­ De certa forma, descobrimos a verdade.
Imagine a maior aglomeração de gente que você já viu em um show, um campo de futebol lotado com um milhão de fãs. Agora imagine um campo um milhão de vezes maior
do que esse, lotado, e imagine que a energia elétrica falhou e não há barulho, não há luz, nem aquelas bolas gigantes quicando por cima da multidão. Algo de trágico
aconteceu nos bastidores. Uma massa sussurrante de gente fica simplesmente vagueando nas sombras sem direção, esperando um show que nunca vai começar. Se é capaz
de imaginar isso, tem uma boa idéia de como são os Campos de Asfódelos. A grama preta tinha sido pisoteada por eras de pés mortos. Um vento morno e úmido soprava
como o hálito de um pântano. Árvores negras - Grover me disse que eram choupos - cresciam em grupos aqui e ali. O teto da caverna era tão alto acima de nós que poderia
passar por uma massa de nuvens de tempestade, a não ser pelas estalactites, que brilhavam em um cinza pálido e pareciam malvadamente pontudas. Tentei não imaginar
que poderiam cair sobre nós a qualquer momento, mas havia várias delas salpicadas ao redor, que caíram e empalaram a si mesmas na grama preta. Acho que os mortos
não precisavam se preocupar com pequenos riscos como ser espetados por estalactites do tamanho de foguetes. Annabeth, Grover e eu tentamos nos misturar com a multidão
permanecendo de olho nos ghouls da segurança. Não pude d e ix a r de procurar rostos familiares entre os espíritos de Asfódelos, mas é difícil olhar para os mortos.
Seus rostos tremulam. Todos parecem ligeiramente zangados ou confusos. Eles até nos vêem e falam, mas a voz soa como trepidações, como o chiado de morcegos. Depois
que eles percebem que você não consegue entendê-los, fecham a cara e se afastam. Os mortos não são assustadores. São apenas tristes. Arrastamo-nos, seguindo a fila
de recém-chegados que serpenteava desde os portões principais em direção a uma grande tenda, negra com uma faixa que dizia: JULGAMENTOS PARA O ELÍSIO E PARA A DANAÇÃO
ETERNA Bem-vindos, Recém-Falecidos! Do fundo da tenda saíam duas filas muito menores. À esquerda, espíritos flanqueados por espíritos maligno de segurança marchavam
por um caminho pedregoso rumo aos Campos de Punição, que incandesciam e fumegavam a distância, uma vastidão desértica e rachada com rios de lava e campos minados,
e quilômetros de arame farpado separando as diferentes áreas de tortura. Mesmo de longe, pude ver pessoas sendo perseguidas por cães infernais, queimadas na fogueira,
forçadas a correr nuas por plantações de cactos ou ouvir música de ópera. Pude apenas distinguir uma colina minúscula com o vulto do tamanho de uma formiga de Sísifo
lutando para empurrar sua pedra até o topo. E vi também torturas piores - coisas que nem quero descrever. A fila que vinha do lado direito do pavilhão dos julgamento
era muito melhor. Dava num pequeno vale cercado de muros - uma comunidade com portões, que parecia ser a única parte feliz do Mundo Inferior. Além do portão de segurança
havia belas casas de todos os períodos da história, vilas romanas, castelos medievais e mansões vitorianas. Flores de prata e ouro floresciam nos campos. A grama
ondulava nas cores do arco-íris. Dava para ouvir os risos e sentir o cheiro de churrasco. Elísio. No meio daquele vale havia um brilhante lago azul, com três pequenas
ilhas como um hotel de lazer nas Bahamas. As Ilhas dos Abençoados, para pessoas que escolheram renascer três vezes, e três

vezes conquistaram o Elísio. No mesmo instante eu soube que era para lá que queria ir quando morresse. - É isso mesmo - disse Annabeth como se estivesse lendo meus
pensamentos. - Este é o lugar para os heróis. Mas percebi como havia poucas pessoas no Elísio, como era minúsculo em comparação com os Campos de Asfódelos ou até
os Campos da Punição. Portanto, poucas pessoas se davam bem em suas vidas. Era deprimente. Deixamos o pavilhão dos julgamentos e nos aprofundamos mais nos Campos
de Asfódelos. Ficou mais escuro. As cores se esvaíram das nossas roupas. As multidões de espíritos tagarelas começaram a rarear. Depois de alguns quilômetros de
caminhada, passamos a ouvir guinchos familiares a distância. Agigantando-se longe estava um palácio de obsidiana negra, brilhante. Acima dos baluartes rodopiavam
três criaturas escuras semelhantes a morcegos: as Fúrias. Tive a sensação de que nos aguardavam. - Talvez seja tarde demais para voltar atrás - disse Grover com
tristeza. - Vai dar tudo certo. -Tentei parecer confiante. - Talvez devêssemos procurar em alguns dos outros lugares primeiro - sugeriu Grover. - Como o EIísio,
por exemplo... - Venha, menino-bode. - Annabeth agarrou-lhe o braço. Grover ganiu. Seus tênis criaram asas e as pernas saltaram para a frente, puxando-o para longe
de Annabeth. Ele aterrissou de costas na grama. - Grover - ralhou Annabeth. - Pare de embromar. - Mas eu não... Ele ganiu de novo. Os tênis estavam agora batendo
as asas como loucos. Levitaram do chão e começaram a arrastá-lo para longe de nós. - Maia! - gritou ele, mas a palavra mágica parecia não f a z e r mais efeito.
- Maia, agora mesmo! Umnove-zero! Socorro! Eu me refiz da perplexidade e tentei agarrar a mão de Grover, mas era tarde demais. Ele estava ganhando velocidade, escorregando
colina abaixo como um trenó. Corremos atrás dele. Annabeth gritou: - Desamarre os tênis! Foi uma idéia esperta, mas acho que isso não é tão fácil qu an do os seus
sapatos o estão arrastando para a frente a toda velocidade. Grover tentou sentar, mas não conseguiu alcançar os cadarços. Continuamos correndo atrás dele, tentando
mantê-lo à vista enquanto disparava por entre as pernas dos espíritos que matraqueavam para ele, aborrecidos. Eu tinha certeza de que Grover iria passar direro dos
portões do palácio de Hades, mas de repente os tênis desviaram para a direita e o arrastaram na direção oposta.

A ladeira ficou mais íngreme. Grover ganhou velocidade. Annabeth e eu tivemos de correr a toda para acompanhá-lo. As paredes da caverna se estreitaram dos dois lados,
e me dei conta de que estávamos entrando em algum tipo de túnel lateral. Não havia mais grama preta nem árvores, apenas pedras sob os pés, e a luz pálida das estalactites
acima. - Grover! - gritei, minha voz reverberando. - Segure em alguma coisa! - O quê? - gritou ele de volta. Estava agarrando os pedregulhos, mas não havia nada
grande o bastante para reduzir sua velocidade. O túnel ficou mais escuro e frio. Os pêlos dos meus braços se arrepiaram. O cheiro ali embaixo era nauseabundo. Me
fez pensar em coisas que nem devia saber -- sangue derramado sobre um antigo altar de pedra, o hálito fétido de um assassino. Então vi o que estava à nossa frente
e, de repente, estanquei. O túnel se alargava para uma enorme caverna escura, e no meio havia um abismo do tamanho de um quarteirão da cidade. Grover estava escorregando
direto para a borda. - Venha, Percy! - gritou Annabeth, puxando-me pelo pulso. - Mas aquilo... - Eu sei! - gritou ela. - O lugar que você descreveu de seu sonho!
Mas Grover vai cair se não o pegarmos. - Ela estava certa, é claro. O apuro de Grover fez com que me mexesse de novo. Ele estava gritando, arranhando o chão, mas
os tênis alados continuavam a arrastá-lo em direção ao poço, e não parecia possível chegar até ele a tempo. O que o salvou foram seus cascos. Os tênis voadores sempre
ficaram folgados nele, e quando Grover chocou-se com uma grande pedra, seu tênis esquerdo saiu voando e disparou para as trevas, abismo abaixo. O tênis direito continuou
a puxá-lo, mas não tão depressa. Grover consegui reduzir a velocidade agarrando-se à grande pedra e usando-a como âncora. Estava a três metros da borda do abismo
quando nós pegamos e o puxamos de volta ladeira acima. O outro tênis a l a d o se desprendeu, circulou em volta de nós furiosamente e chutou nossas cabeças em protesto
antes de voar para dentro do abismo a fim de juntar-se a seu par. Todos desabamos exaustos sobre os pedregulhos de obsidiana. Meus membros pareciam feitos de chumbo.
Até minha mochila parecia mais pesada, como se alguém a tivesse enchido de pedras. Grover estava muito arranhado. Suas mãos sangravam. As pupilas dos olhos se transformaram
em fendas, no estilo dos bodes como sempre acontecia quando ele estava aterrorizado. - Eu não sei como... - arquejou ele. - Eu não... - Espere - falei. - Escute.
Eu tinha ouvido algo. Um sussurro profundo na escuridão. Mais alguns segundos, e Annabeth disse: - Percy, este lugar...

- Psiu. - Fiquei em pé. O som estava ficando mais alto, uma voz murmurante, malévola, vinda de longe, muito longe abaixo de nós. Vinda do abismo. Grover sentou-se.
- O... o que é esse ruído? Agora Annabeth também ouvira. Pude ver em seus olhos. - Tártaro. A entrada para o Tártaro. Destampei Anaklusmos. A espada de bronze se
expandiu, brilhando no escuro, e a voz. maligna pareceu vacilar, só por um momento, antes de retomar seu canto. Eu agora quase conseguia distinguir palavras, palavras
muito, muito antigas, ainda mais antigas que o grego. Como se... - Mágica - falei. - Temos de dar o fora daqui - disse Annabeth. Juntos, arrastamos Grover para cima
dos cascos e começamos a voltar pelo túnel. Minhas pernas não se moviam depressa o bastante. Minha mochila pesava. A voz ficou mais alta e irada atrás de nós, e
desandamos a correr. Bem na hora. Uma rajada fria de vento nos aspirou pelas costas, como se o abismo inteiro estivesse inalando. Por um momento aterronzante eu
perdi o controle, e meus pés começaram a escorregar nos pedregulhos. Se estivéssemos mais perto da borda, teríamos sido sugados para dentro. Continuamos fazendo
força para a frente e finalmente chegamos ao topo do túnel, onde a caverna se abria para os Campos de Asfódelos. O vento parou. Um lamento de indignação ecoou no
fundo. Alguma coisa não estava feliz por termos escapado. - O que era aquilo? -- ofegou Grover quando desabamos na relativa segurança de um bosque de choupos negros,
- Um dos bichinhos de estimação de Hades? Annabeth e eu nos entreolhamos. Eu podia ver que ela acalentava uma ideia, provavelmente a mesma que tivera durante a viagem
de táxi a Los Angeles, mas estava apavorada demais para dividi-la comigo. Isso já era o bastante para me aterrorizar. Pus a tampa na minha espada, pus a caneta de
volta no bolso. - Vamos andando. - Olhei para Grover. - Consegue andar? Ele engoliu em seco. - Sim, com certeza. Nunca gostei muito daqueles tênis mesmo. Ele tentou
parecer valente, mas estava tremendo tanto quanto Annabeth e eu. O que quer que estivesse naquele abismo, não era bichinho de estimação de ninguém. Era indizivelmente
v elho e poderoso. Nem mesmo Equidna me dera aquela sensação. Fiquei quase aliviado de dar as costas para aquele túnel e me dirigir para o palácio de Hades. Quase.
***** As Fúrias rodeavam os baluartes, lá no alto, nas trevas. As muralhas externas da fortaleza brilhavam em negro e os portões de bronze com dois andares de altura
estavam escancarados.

De perto, vi que as gravações nos portões eram cenas de morte. Algumas de tempos modernos uma bomba atómica explodindo sobre uma cidade, uma trincheira cheia de
soldados usando máscaras de gás, uma fila de africanos vítimas da fome aguardando com tigelas vazias -, mas todas pareciam ter sido gravadas no bronze havia milhares
de anos. Fiquei pensando se estava olhando para profecias que se tornaram realidade. Dentro do pátio havia o jardim mais estranho que já vi. Cogumelos multicoloridos,
arbustos venenosos e plantas luminosas fantasmagóricas cresciam sem a luz do sol. Gemas preciosas supriam a falta de flores, pilhas de rubis grandes como meu punho,
aglomerados de diamantes brutos. Aqui e ali, como convidados de uma festa que foram congelados, havia estátuas de jardim da Medusa - crianças, sátiros e centauros
petrificados - todos sorrindo grotescamente. No centro do jardim havia um pomar de romãzeiras, suas flores alaranjadas brilhando como néon no escuro. - O jardim
de Perséfone - disse Annabeth. - Continue andando. Entendi por que ela quis seguir andando. O cheiro ácido daquelas romãs era quase irresistível. Tive um súbito
desejo de comê-las, mas então me lembrei da história de Perséfone. Uma mordida de um alimento do Mundo Inferior e nunca mais poderíamos sair. Puxei Grover para longe,
para impedi-lo de colher uma delas, grande e suculenta. Subimos os degraus do palácio, entre colunas negras, passando por um pórtico de mármore negro, para dentro
da casa de Hades. O vestíbulo tinha um piso de bronze polido que parecia ferver à luz refletida das tochas. Não havia teto, apenas o teto da caverna muito acima.
Acho que eles nunca precisaram se preocupar com chuva aqui embaixo. Todas as portas laterais eram guardadas por um esqueleto com trajes militares. Alguns usavam
armaduras gregas, outros, uniformes ingleses de casacas vermelhas, e havia ainda os que vestiam roupas camufladas com bandeiras americanas esfarrapadas nos ombros.
Carregavam lanças, mosquetes ou fuzis. Nenhum deles nos incomodou, mas suas órbitas ocas nos seguiram enquanto andávamos pelo vestíbulo em direção ao grande conjunto
de portas no extremo oposto. Dois esqueletos de fuzileiros navais americanos guardavam as portas. Eles sorriram para nós, com lançadores de granadas atravessadas
no peito. - Sabem de uma coisa - murmurou Grover -, aposto que Hades não tem problemas para despachar vendedores de porta a porta. Minha mochila agora pesava uma
tonelada. Eu não conseguia imaginar por quê. Quis abri-la, verificar se por acaso havia colhido alguma bola de boliche perdida, mas aquele não era o momento. - Bem,
gente - disse. - Acho que devemos... bater? Um vento quente soprou pelo corredor e as portas se abriram. Os guardas deram um passo para o lado. - Acho que isso significa
entrez-vous - disse Annabeth. Lá dentro a sala era exatamente como em meu sonho, só que dessa vez o trono de Hades estava ocupado. Era o terceiro deus que eu conhecia,
mas o primeiro que realmente me impressionava como deus. Para início de conversa, ele tinha pelo menos três metros de altura, e usava mantos de seda preta e uma
coroa de ouro trançado. Sua pele era branca como a de um albino, o cabelo comprido até os ombros era preto-azeviche. Não era corpulento como Ares, mas irradiava
força. Reclinava-se em seu trono de ossos humanos fundidos parecendo flexível, elegante e perigoso como uma pantera.

No mesmo instante tive a sensação de que ele deveria dar as ordens. Sabia mais do que eu. Devia ser meu mestre. Então disse a mim mesmo para dar o fora. A aura de
Hades estava me afetando, assim como acontecera com a de Ares. O Senhor dos Mortos lembrava retratos que eu tinha visto de Adolf Hitler, ou Napoleão, ou dos líderes
terroristas que controlam os homens-bomba. Hades tinha o mesmo olhar intenso, o mesmo tipo de carisma hipnotizador e maligno. - Você é corajoso de vir até aqui,
Filho de Poseidon - disse ele com uma voz untuosa. - Depois do que me fez, você é muito valente, sem dúvida. Ou talvez seja simplesmente muito tolo. Um entorpecimento
se insinuou nas minhas juntas, tentando-me a deitar e tirar uma pequena soneca aos pés de Hades. Queria me enroscar ali e dormir para sempre. Lutei contra a sensação
e dei um passo à frente. Sabia o que tinha de dizer. - Senhor e tio, trago dois pedidos. Hades ergueu uma sobrancelha. Quando ele chegou mais para a frente em seu
trono, rostos sombrios apareceram nas dobras dos seus mantos negros, rostos atormentados, como se o traje fosse feito de almas dos Campos da Punição pegas ao tentar
escapar, costuradas umas nas outras. Minha porção transtorno do déficit de atenção se perguntou se o resto das roupas dele era feito do mesmo modo. Que coisas horríveis
alguém teria de fazer em vida para merecer ser parte da roupa de baixo de Hades? - Só dois pedidos? - disse Hades. - Criança arrogante. Como se você já não tivesse
recebido o bastante. Fale, então. Acho divertido esperar um pouco para fulminar você. Engoli em seco. Aquilo estava indo mais ou menos tão bem quanto eu temia. Relanceei
para o trono menor, vazio, ao lado do de Hades. Tinha a forma de uma flor negra, decorada em ouro. Desejei que a rainha Perséfone estivesse ali. Lembrei-me de algo
nos mitos sobre como ela podia acalmar os humores do marido. Mas era verão. É claro que Perséfone estaria acima no mundo de luz com mãe, a deusa da agricultura,
Demeter. Suas visitas, e não a inclinação do planeta, criavam as estações. Annabeth pigarreou. Seu dedo me cutucou nas costas. - Senhor Hades - disse eu. - Olhe,
senhor, não pode haver uma guerra entre os deuses. Isso seria... ruim. - Realmente ruim - acrescentou Grover, querendo ajudar. - Devolva o raio-mestre de Zeus para
mim - disse eu. Por favor, senhor, deixe-me levá-lo para o Olimpo. Os olhos de Hades brilharam perigosamente. - Você se atreve a continuar com essa farsa, depois
de tudo o que fez? Dei uma olhada para os meus amigos atrás de mim. Pareciam tão confusos quanto eu. - Ahn... tio - falei. - Você fica dizendo "depois de tudo oque
você fez". O que foi, exatamente, que eu fiz? A sala do trono tremeu com tanta força que, provavelmente, o impacto foi sentido lá em cima, em Los Angeles. Fragmentos
de rocha caíram do teto da caverna. Portas se abriram violentamente em todas as paredes, e guerreiros esqueléticos marcharam para dentro, centenas deles, de todas
as épocas e nações da civilizaição ocidental. Enfileiraram-se nos quatro cantos da sala, bloquendo as saídas. Hades urrou: - Você acha que eu quero a guerra, filhote
de deus?

Tive vontade de dizer, Bem, esses caras não se parecem muito com ativistas pela paz. Mas achei que poderia ser uma resposta perigosa. - Você é o Senhor dos Mortos
- falei com cautela. - Uma guerra iria expandir seu remo, certo? - E bem característico dos meus irmãos dizerem uma coisa dessas! Acha que preciso de mais súditos?
Não está vendo a grandeza dos Campos de Asfódelos? - Bem... - Você tem idéia de quanto meu reino inchou só neste último século, quantas subdivisões tive de criar?
Abri a boca para responder, mas Hades agora estava embalado. - Mais espíritos de segurança - queixou-se. - Problemas de trânsito no pavilhão de julgamentos. Horas
extras em dobro para o pessoal. Eu era um deus rico, Percy Jackson. Controlo todos os metais preciosos embaixo da terra. Mas as minhas despesas! - Caronte quer um
aumento de salário - despejei, acabando de me lembrar do fato. Assim que falei, pensei que perdera uma ótima chance de ficar calado. - Não me fale de Caronte! -
gritou Hades. - Ele está impossível desde que descobriu os ternos italianos! Problemas em toda parte, e eu tenho de lidar com todos eles pessoalmente. O tempo de
viagem entre o palácio e os portões já é suficiente para me deixar insano! E os mortos continuam chegando. Não, filhote de deus, eu não preciso de ajuda para arranjar
súditos! Não pedi essa guerra. - Mas você pegou o raio-mestre de Zeus. - Mentiras! - Mais estrondos. Hades ergueu-se do trono, ficando da altura de uma trave de
futebol. - Seu pai pode enganar Zeus, menino, mas eu não sou tão estúpido. Enxergo o plano dele. - O plano dele? - Você foi o ladrão no solstício de inverno - disse
ele. - Seu pai pensou em mantê-lo como seu pequeno segredo. Ele o man dou para a sala do trono no Olimpo. Você pegou o raio-mestre e meu elmo. Se eu não tivesse
enviado minha Fúria para descobri-lo na Academia Yancy, Poseidon talvez tivesse conseguido escon der o plano para desencadear uma guerra. Mas agora você foi forçado
a aparecer. Será exposto como o ladrão de Poseidon, e eu terei meu elmo de volta! - Mas... - falou Annabeth. Pude perceber que a cabeça dela estava a um milhão de
quilômetros por hora. Senhor Hades, seu elmo das trevas também desapareceu? -Não banque a inocente comigo, menina. Você e o sátiro estiveram ajudando este herói,
que veio aqui me ameaçar sem dúvida em nome de Poseidon, a me trazer um últimato. Poseidon acha que posso ser chantageado para apoiá-lo? - Não! - falei. - Poseidon
não... eu não... -Não falei nada do desaparecimento do elmo - rosnou Hades - porque não tenho ilusões de que alguém no Olimpo me faça justiça, que me dê alguma ajuda.
Não posso permitir que vaze a notícia de que minha arma mais poderosa está desaparecida. Portanto procurei por você eu mesmo, e quando ficou claro que você vinha
a mim para fazer sua ameaça, não tentei detê-lo. - Você não tentou nos deter? Mas... - Devolva meu elmo agora, ou vou interromper a morte - ameaçou Hades. - Esta
é a minha contraproposta. Abrirei a terra e mandarei os mortos se despejarem de volta em seu mundo. Transformarei suas terras em um pesadelo. E você, Percy Jackson...
o seu esqueleto liderará o meu exército para fora do Hades. Todos os soldados esqueléticos deram um passo à frente, com as armas de prontidão.

A essa altura, eu deveria ter ficado aterrorizado. O estranho foi que eu me senti ofendido. Nada me deixa mais zangado do que ser acusado de algo que não fiz. Já
tivera uma porção de experiências com isso. - Você é tão mau quanto Zeus - disse eu. - Acha que roubei você? E por isso que mandou as Fúrias atrás de mim? - É claro
- disse Hades. - E os outros monstros? Hades franziu o lábio. - Não tive nada a ver com eles. Eu não queria uma morte rápida para você; queria você diante de mim,
vivo, para enfrentar todas as torturas dos Campos da Punição. Por que acha que o deixei entrar no meu reino tão facilmente? - Facilmente? - Devolva o que me pertence!
- Mas eu não tenho o seu elmo. Vim buscar o raio-mestre. - Que você já possui! - bradou Hades. - Você veio aqui com ele, pequeno idiota, achando que poderia me ameaçar!
- Não é verdade! - Então abra a sua mochila. Um pensamento horrível me assaltou. O peso da minha mochila, como uma bola de boliche... Não podia ser... Tirei a mochila
dos ombros e abri o zíper. Dentro havia um cilindro de metal de sessenta centímetros de comprimento, com uma ponta de cada lado, zumbindo de energia. - Percy - disse
Annabeth. - Como... - Eu... eu não sei. Não entendo. - Vocês, heróis, são sempre iguais - disse Hades. - Seu orgulho os torna tolos, achando que podem trazer uma
arma as sim diante de mim. Eu não pedi o raio de Zeus, mas já que ele está aqui, você o entregará a mim. Tenho certeza de que será um excelente instrumento de barganha.
E agora... o meu elmo. Onde está? Eu estava sem fala. Não tinha elmo nenhum. Não tinha idéia de como o raio-mestre fora parar na minha mochila. Quis pensar que Hades
estava armando algum tipo de truque. Hades era o vilão. Mas de repente o mundo virará de lado. Percebi que havia sido usado. Alguém fizera Zeus, Poseidon e Hades
quererem a caveira um do outro. O raio-mestre estava na minha mochila, e eu recebera a mochila de... - Senhor Hades, espere - disse eu. - Isso tudo é um engano.
- Um engano? - rugiu Hades. Os esqueletos apontaram as armas. Lá no alto houve um bater de asas coriáceas, e as três Fúrias voaram para baixo para empoleirar-se
nas costas do trono do seu senhor. A que tinha as feições da sra. Dodds arreganhou um sorriso ávido para mim e estalou o seu chicote. - Não há engano nenhum - disse
Hades. - Sei por que você veio, e sei a razão real por que trouxe o raio. Você veio negociar por ela.

Hades soltou uma bola de fogo dourado da palma de sua mão Ela explodiu nos degraus diante de mim, e lá estava a minha mãe congelada em uma chuva de ouro, exatamente
como no momento em que o Minotauro começou a apertá-la até a morte. Não pude falar. Estendi a mão para tocá-la, mas a luz era quente como uma fogueira. - Sim - disse
Hades com satisfação. - Eu a tomei. Eu sabia, Percy Jackson, que você por fim viria barganhar comigo. Devolva o meu elmo, e talvez eu a deixe ir. Ela não está morta,
você sabe. Ainda não. Mas, se você me desagradar, isso irá mudar. Pensei nas pérolas no meu bolso. Talvez elas pudessem me safar daquilo. Se ao menos eu conseguisse
libertar a minha mãe... - Ah, as pérolas - disse Hades, e meu sangue gelou. - Sim meu irmão e os seus truquezinhos. Apresenteas, Percy Jackson. Minha mão se moveu
contra a vontade e eu apresentei as pérolas. - Apenas três - disse Hades. - Que pena. Você sabe que cada qual protege uma só pessoa. Tente levar a sua mãe, então
filhotinho de deus. E qual dos seus amigos você deixará para trás para passar a eternidade comigo? Vá em frente. Escolha. Ou me dê a mochila e aceite as minhas condições.
Olhei para Annabeth e Grover. Suas expressões eram soturnas. - Fomos enganados - disse-lhes. - Pegos numa armadilha. - Sim, mas por quê? - perguntou Annabeth. -
E a voz no abismo... - Ainda não sei - disse eu. - Mas pretendo perguntar. - Decida, menino! - gritou Hades. - Percy. - Grover pôs a mão no meu ombro. - Você não
pode lhe entregar o raio. - Eu sei disso. - Deixe-me aqui - disse ele. - Use a terceira pérola par; a sua mãe. - Não! - Eu sou um sátiro - disse Grover. - Nós não
temos almas como os seres humanos. Ele pode me torturar até a morte, mas não ficará comigo para sempre. Eu reencarnarei em uma flor, ou alguma outra coisa. É o melhor
jeito. - Não. - Annabeth sacou a sua faca de bronze. - Vocês dois continuam. Grover, você tem de proteger Percy. Você tem de conseguir a sua licença de buscador
e começar a sua missão por Pan. Tire a mãe dele para fora daqui. Eu lhes darei cobertura. Planejo cair lutando. - Nem pensar - disse Grover. - Eu vou ficar para
trás. - Pense de novo, menino-bode - disse Annabeth. - Parem, vocês dois! - Era como se o meu coração estivesse sendo rasgado ao meio. Ambos passaram por tanta coisa
comigo. Lembrei-me de Grover bombardeando a medusa no jardim de estátuas, e de Annabeth nos salvando de Cérbero; nós sobrevivemos ao Parque Aquático de Hefesto,
ao Arco de St. Louis, ao Cassino Lótus. Passei milhares de quilômetros preocupado porque seria traído por um amigo, mas aqueles amigos jamais fariam isso. Eles não
fizeram nada a não ser me salvar, vezes e vezes seguidas, e agora queriam sacrificar suas vidas pela minha mãe.

- Eu sei o que fazer - disse eu. - Segurem isto. Entreguei uma pérola a cada um deles. Annabeth disse: - Mas, Percy... Virei-me e encarei minha mãe. Queria desesperadamente
me sacrificar e usar a última pérola para ela, mas sabia o que ela iria dizer. Ela jamais permitiria isso. Eu tinha de levar o raio de volta para o Olimpo e contar
a verdade a Zeus. Tinha de impedir a guerra. Ela jamais me perdoaria se eu a salvasse em vez disso. Pensei na profecia feita na Colina Meio-Sangue, que parecia ter
sido um milhão de anos atrás. No fim você não conseguirá salvar aquilo que mais importa. - Desculpe - disse a ela. - Eu voltarei. Vou encontrar um jeito. A expressão
presunçosa na cara de Hades se apagou. Ele disse: - Filhote de deus...? - Vou encontrar o seu elmo, tio - disse a ele. - Vou devolvê-lo. Lembre-se do aumento de
salário de Caronte. - Não me desafie... - E não faria mal brincar com Cérbero de vez em quando. Ele gosta de bolas de borracha vermelhas. - Percy Jackson, você não
vai... Eu gritei: - Agora! Esmagamos as pérolas aos nossos pés. Por um momento apavorante, nada aconteceu. Hades gritou: - Destruam-nos! O exército de esqueletos
avançou, espadas desembainhadas fuzis engatilhados no modo totalmente automático. As Fúrias mergulharam, os chicotes explodindo em chamas. Exatamente quando os esqueletos
abriram fogo, os fragmentos; de pérola aos meus pés explodiram em luz verde e uma rajada de ar fresco do mar. Eu fui encapsulado em uma esfera branca leitosa que
começava a flutuar para fora do chão. Annabeth e Grover estavam bem atrás de mim. Lanças e balas centelharam inofensivamente nas bolhas de pérola enquanto flutuávamos
para cima. Hades gritou com tamanha raiva que a fortaleza inteira se sacudiu e eu soube que aquela não seria uma noite tranqüila em Los Angeles. - Olhem para cima!
- gritou Grover. -Vamos bater! Sem dúvida, estávamos indo direto para as estalactites, as quais imaginei que iriam estourar as nossas bolhas e nos espetar. - Como
se controla essas coisas? - gritou Annabeth. - Acho que não se controla! - gritei de volta. Gritamos quando as bolhas colidiram com o teto e... Escuridão. Será que
estávamos mortos?

Não, eu ainda tinha a sensação de velocidade. Estávamos indo para cima, através da rocha sólida, tão facilmente quanto uma bolha de ar na água. Aquele era o poder
das pérolas, eu me dei conta - o que pertence ao mar sempre retornará ao mar. Por alguns momentos, não vi nada além das paredes macias da minha esfera, então minha
pérola irrompeu no fundo do oceano. As outras duas esferas leitosas, Annabeth e Grover, me acompanharam enquanto disparávamos para cima através da água. E... pimba!
Explodimos na superfície, no meio da baía de Santa Monica, jogando um surfista para fora da sua prancha com um indignado "Ei, cara!". Agarrei Grover e o arrastei
até uma bóia salva-vidas. Peguei Annabeth e a arrastei também. Um tubarão curioso dava voltas em torno de nós, um grande tubarão branco com cerca de três metros
e meio de comprimento. Eu disse: - Cai fora! O tubarão se virou e fugiu apressado. O surfista gritou alguma coisa sobre cogumelos estragados e se afastou de nós
patinhando o mais rápido que podia. De algum modo, eu sabia que horas eram: início da manhã, 21 de junho, o dia do solstício de verão. A distância, Los Angeles estava
em chamas, nuvens de fumaça subindo de bairros por toda a cidade. Tinha havido um terremoto sem dúvida, e a culpa era de Hades. Provavelmente estava mandando um
exército de mortos atrás de mim naquele instante. Mas, naquele momento, o Mundo Inferior não era o meu maior problema. Eu tinha de chegar até a praia. Tinha de levar
o raio de Zeus de volta para o Olimpo. Mais que tudo, eu precisava ter uma conversa séria com o deus que me enganara.

VINTE ­ A luta contra o meu parente imbecil.

Um barco da Guarda Costeira nos recolheu, mas eles estavam ocupados demais para ficar conosco por muito tempo, ou para querer saber por que três crianças com roupas
casuais foram parar no meio da baía. Havia um desastre para cuidar. Seus rádios estavam entupidos de chamados de emergência. Eles nos largaram no píer Santa Monica
com toalhas em volta dos ombros e garrafas d'água que diziam EU SOU UM GUARDA-COSTEIRO MIRIM! e saíram às pressas para salvar mais gente. Nossas roupas estavam encharcadas,
inclusive as minhas. Quando o barco da Guarda Costeira apareceu, eu implorei baixinho que eles não me tirassem da água e me achassem perfeitamente seco, o que teria
feito algumas sobrancelhas se erguerem. Então desejei ficar encharcado. Sem dúvida, minha mágica à prova d'água me abandonara. Eu também estava descalço, porque
entregara meus sapatos a Grover. Era melhor a Guarda Costeira se perguntar por que um de nós estava descalço do que se perguntar por que um de nós tinha cascos.
Depois de chegar a terra firme, saímos cambaleando pela praia vendo a cidade queimar contra um lindo pôr-do-sol. Era como se tivesse acabado de retornar do mundo
dos mortos -- o que era verdade. Minha mochila estava pesada, com o raio-mestre de Zeus. Meu coração estava ainda mais pesado por ter visto minha mãe. - Eu não acredito
- disse Annabeth. - A gente passou por tudo aquilo e... - Foi um truque - disse eu. - Uma estratégia digna de Atena. - Ei - avisou. - Você entendeu, não é? Ela baixou
os olhos, a raiva murchou. - Sim. Entendi. - Bem, eu não entendi! - reclamou Grover. - Será que alguém poderia... - Percy... - disse Annabeth. - Eu sinto muito pela
sua mãe. Sinto tanto... Fiz que não estava ouvindo. Se eu falasse sobre a minha mãe, ia começar a chorar como uma criancinha. - A profecia estava certa - disse eu.
- "Você deve ir para o oeste, e enfrentar o deus que se tornou desleal". Mas não era Hades. Hades não queria guerra entre os Três Grandes. Algum outro executou o
roubou. Alguém roubou o raio-mestre de Zeus, e o elmo de Hades, e tramou contra mim porque sou filho de Poseidon. Poseidon será culpado por ambos os lados. Ao pôr-do-sol
de hoje, haverá uma guerra tríplice. E eu a terei causado. Grover sacudiu a cabeça, desconcertado. - Mas quem seria tão fingido? Quem iria querer uma guerra tão
ruim? Parei bruscamente, olhando para a praia. - Puxa, deixem-me pensar. Ali estava ele, aguardando por nós, em seu casaco preto de couro, e óculos escuros, um bastão
de beisebol de alumínio ao ombro. A motocicleta roncava ao seu lado, o farol deixando a areia vermelha. - Ei, garoto - disse Ares, parecendo genuinamente contente
em me ver. - Você devia estar morto. - Você me enganou - disse eu. - Você roubou o elmo e o raio-mestre.

Ares arreganhou um sorriso. - Bem, mas eu não os roubei pessoalmente. Deuses tirando símbolos de poder uns dos outros, nã-nã-nã, isso é inaceitável. Mas você não
é o único herói do mundo que pode dar recados. - Quem você usou? Clarisse? Ela estava lá no solstício de inverno. A idéia pareceu diverti-lo. - Não importa. A questão,
garoto, é que você está impedindo o esforço de guerra. Entenda, você precisa morrer no Mundo Inferior. Então o Velho Alga do Mar vai ficar furioso com Hades por
matá-lo. O Hálito de Cadáver ficará com o raio-mestre de Zeus, e assim Zeus ficará furioso com ele. E Hades ainda está procurando por isto... Ele tirou do bolso
um capuz de esqui - do tipo que os ladrões de banco usam - e o colocou no meio do guidão da sua moto. Imediatamente, o capuz se transformou em um elaborado capacete
de guerra em bronze. - O elmo das trevas - arfou Grover. - Exatamente - disse Ares. - Mas onde é mesmo que eu estava? Ah, sim, Hades ficará furioso com ambos, Zeus
e Poseidon, porque ele não sabe quem pegou isto. Logo logo teremos uma bela pancadariazinha tríplice em andamento. - Mas eles são a sua família! - protestou Annabeth.
Ares encolheu os ombros. - O melhor tipo de guerra. Sempre a mais sangrenta. Nada como ficar olhando seus parentes lutarem, eu sempre digo. - Você me deu a mochila
em Denver - disse eu. - O raio-mestre estava lá o tempo todo. - Sim e não - disse Ares. - Provavelmente é complicado demais para o seu pequeno cérebro mortal acompanhar,
mas a mochila é a bainha do raio-mestre, apenas um pouco adaptada. O raio está conectado a ela, tipo aquela sua espada, garoto. Ela sempre volta para o seu bolso,
certo? Não estava bem certo de como Ares sabia disso, mas acho que um deus da guerra precisa tratar de conhecer tudo sobre armas. - De qualquer modo - continuou
Ares - eu modifiquei a mágica um pouquinho, para que o raio só retornasse à bainha depois de você chegar ao Mundo Inferior. Chegou perto de Hades... Bingo! Você
recebeu um e-mail. Se você morresse no caminho, não haveria perda. Eu ainda teria a arma. - Mas por que você simplesmente não ficou com o raio para você? - disse
eu. - Por que mandá-lo para Hades? O queixo de Ares crispou-se. Por um momento, foi quase como se ele estivesse ouvindo uma outra voz, bem no fundo da cabeça. -
Por que eu não... sim... com esse tipo de poder de fogo... Ele manteve o transe por um segundo... dois segundos... Troquei olhares nervosos com Annabeth. A cara
de Ares clareou. - Porque eu não queria ter problemas. Melhor você ser pego em flagrante, segurando a coisa.

- Você está mentindo - disse eu. - Mandar o raio para o Mundo Inferior não foi idéia sua, foi? - É claro que foi! - Fumaça escapou por baixo dos seus óculos escuros,
como se eles estivessem a ponto de pegar fogo. - Você não ordenou o roubo - adivinhei. - Alguém mais enviou um herói para roubar os dois itens. Então, quando Zeus
mandou você caçá-lo, você pegou o ladrão. Mas você não o entregou a Zeus. Alguma coisa o convenceu a deixá-lo ir. Você guardou os itens até que outro herói pudesse
vir e completar a entrega. Aquela coisa no abismo está dando ordens a você. - Eu sou o deus da guerra! Não aceito ordens de ninguém! Eu não tenho sonhos! Eu hesitei.
- Quem foi que disse alguma coisa sobre sonhos? Ares pareceu agitado, mas tentou encobrir isso com um sorriso forçado. - Vamos voltar ao problema em pauta, garoto.
Você está vivo. Eu não posso deixar que leve aquele raio para o Olimpo. Pode ser que consiga convencer aqueles idiotas cabeças-duras a ouvi-lo. Portanto preciso
matá-lo. Não é nada pessoal. Ele estalou os dedos. A areia explodiu aos seus pés e surgiu um javali feroz investindo, ainda maior e mais feio que aquele cuja cabeça
estava pendurada acima da porta do chalé 7 do Acampamento MeioSangue. A besta escarvou a areia, olhando furiosamente para mim com olhos pequenos e brilhantes enquanto
abaixava os presas afiadas como navalhas e aguardava a ordem para matar. Eu entrei na arrebentação. - Enfrente-me você mesmo, Ares. Ele riu, mas ouvi um pouco de
tensão na sua risada... um certo constrangimento. - Você só tem um talento, garoto, que é fugir. Você fugiu da Quimera. Você fugiu do Mundo Inferior. Não tem coragem
para me enfrentar. - Com medo? - Só nos seus sonhos de adolescente. - Mas seus óculos escuros estavam começando a derreter com o calor dos olhos. - Nada de envolvimento
direto. Sinto muito, garoto. Você não está no meu nível. Annabeth disse: - Percy, corra! O javali gigante atacou. Mas eu já estava cansado de correr de monstros.
Ou de Hades, ou de Ares, ou de qualquer um. Quando o javali investiu contra mim, eu destampei minha caneta e dei um passo para o lado. Contracorrente apareceu nas
minhas mãos. Dei um golpe para cima. A presa direita decepada do javali caiu aos meus pés, enquanto o animal desorientado investia contra o mar. Eu gritei: - Onda!
Imediatamente uma onda surgiu do nada e engolfou o javali, enrolando-se nele como um cobertor. A besta guinchou uma vez, aterrorizada. E então se foi, engolida pelo
mar.

Voltei-me novamente para Ares. - Você vai lutar comigo agora? - perguntei. - Ou vai se esconder de novo atrás de um porquinho de estimação? A cara de Ares estava
roxa de raiva. - Tome cuidado, garoto. Eu poderia transformá-lo em... - Uma barata - disse eu. - Ou uma lombriga. Sim, eu tenho certeza. Isso o salvaria de ter o
seu divino couro chicoteado, não é mesmo? Chamas dançaram por cima dos seus óculos. - Ah, você realmente está pedindo para ser esmagado até virar uma poça de gordura.
- Se eu perder, me transforme no que quiser. Fique com o raio. Se eu vencer, o elmo e o raio são meus, e você tem de ir embora. Ares me olhou com uma expressão de
escárnio. Ele brandiu o bastão de beisebol que trazia ao ombro. - Como gostaria de ser esmagado: modo clássico ou moderno? Eu lhe mostrei a minha espada. - Legal,
menino morto - disse ele. - Modo clássico então. - O bastão de beisebol transformou-se em uma enorme espada de duas mãos. A guarda era uma grande caveira de prata
com um rubi na boca. - Percy - disse Annabeth. - Não faça isso. Ele é um deus. - Ele é um covarde - disse eu para ela. Ela engoliu em seco. - Use isto pelo menos.
Para dar sorte. Ela tirou o seu colar, com cinco anos de contas do acampamento e o anel do pai dela e colocou em volta do meu pescoço. - Reconciliação - disse ela.
- Atena e Poseidon juntos. Meu rosto ficou um pouco quente, mas consegui sorrir. - Obrigado. - E pegue isto - disse Grover. Ele me entregou uma lata achatada que
parecia estar no seu bolso há mil quilômetros. - Os sátiros lhe dão respaldo. - Grover... eu não sei o que dizer. Ele me deu uma palmadinha no ombro. Enfiei a lata
no meu bolso de trás. - Vocês já se despediram? - Ares veio em minha direção, o comprido casaco de couro preto se arrastando atrás dele, a espada faiscando como
fogo ao nascer do sol. - Eu venho lutando há uma eternidade, garoto. Minha força é ilimitada e eu não posso morrer. O que você tem? Um ego menor, pensei, mas não
disse nada. Mantive os pés na arrebentação, recuando na água até os tornozelos. Pensei no que Annabeth havia dito no restaurante de Denver, tanto tempo atrás: Ares
tem força. É tudo o que ele tem. Mesmo a força às vezes tem de se curvar à sabedoria.

Ele desceu a espada, tentando rachar ao meio a minha cabeça, mas eu não estava lá. Meu corpo pensava por mim. A água pareceu me empurrar para o ar e eu me lancei
para cima dele, golpeando para o lado com a espada ao descer. Mas Ares foi igualmente rápido. Torceu o corpo e o golpe que deveria tê-lo pego diretamente na espinha
foi desviado para fora pela guarda da sua espada. Ele sorriu. - Nada mau, nada mau. Ele atacou de novo e fui forçado a pular para a terra seca. Tentei sair de lado,
para voltar à água, mas Ares parecia saber o que eu queria. Ele foi mais habilidoso, me pressionando tanto que tive de me concentrar totalmente em não ser cortado
em pedaços. Continuei recuando para longe da arrebentação. Não conseguia achar nenhuma abertura para atacar. O alcance da espada- dele era bem maior que o de Anaklusmos.
Chegue perto, Luke me dissera uma vez, em nossa aula de esgrima. Quando a sua lâmina é a mais curta, chegue perto. Avancei com uma estocada, mas Ares estava esperando
por isso. Ele arrancou a espada das minhas mãos e me chutou no peito. Eu saí voando -- cinco, talvez dez metros.Teria quebrado as costas se não tivesse desabado
sobre a areia fofa de uma duna. - Percy! - gritou Annabeth. - Polícia! Estava vendo tudo dobrado. Parecia que o meu peito tinha sido atingido por um aríete, mas
consegui me pôr em pé. Eu não podia desviar os olhos de Ares por medo de que ele me cortasse ao meio, mas com o canto do olho vi as luzes vermelhas piscando na avenida
beira-mar. Portas de carros batiam. - Ali, guarda! - gritou alguém. - Está vendo? Uma voz brusca de policial: - Parece aquele garoto da tevê... que diabo... - Aquele
cara está armado - disse outro policial. - Peça reforços. Rolei para o lado e a lâmina de Ares cortou a areia. Corri para a minha espada, peguei-a e desferi um golpe
contra o rosto de Ares, apenas para ver a minha lâmina desviada de novo. Ares parecia saber exatamente o que eu ia fazer um momento antes. Recuei para a arrebentação,
forçando-o a me seguir. - Admita, garoto - disse Ares. - Você está perdido. Estou só brincando com você. Meus sentidos estavam fazendo hora extra. Agora eu entendia
o que Annabeth dissera sobre como o transtorno do déficit de atenção pode manter você vivo na batalha. Eu estava totalmente desperto, notando cada pequeno detalhe.
Eu podia ver onde Ares estava se retesando. Podia dizer de que lado ia atacar. Ao mesmo tempo, tinha consciência de Annabeth e Grover, dez metros à minha esquerda.
Vi uma segunda viatura parando, a sirene uivando. Espectadores, pessoas que perambula viam pelas ruas por causa do terremoto, começavam a se juntar.

No meio da multidão, pensei ver alguns andando com aquele estranho passo de trote de sátiros disfarçados. Havia também vultos rebrilhantes de espíritos, como se
os mortos tivessem se erguido do Hades para assistir à batalha. Ouvi o bater de asas coriáceas circulando em algum lugar acima. Mais sirenes. Avancei mais para dentro
da água, mas Ares foi rápido. A ponta da sua espada rasgou a manga da minha roupa e roçou o meu antebraço. A voz de um policial no megafone disse: - Larguem as espingardas!
Coloquem na areia. Agora! Espingardas? Olhei para a arma de Ares, e ela parecia estar tremeluzindo; às vezes parecia uma espingarda, às vezes uma espada de duas
mãos. Eu não sabia o que os seres humanos estavam vendo nas minhas mãos, mas tinha certeza de que não os faria gostar de mim. Ares virou-se para olhar ferozmente
para os nossos espectadores, o que me deu um momento para respirar. Havia cinco viaturas de polícia agora, e uma fileira de policiais abaixados atrás delas, com
pistolas apontadas para nós. - Este é um assunto particular! - berrou Ares. - Vão embora! Ele fez um movimento circular com a mão, e uma parede de chamas vermelhas
passou através das viaturas. Os policiais mal tiveram tempo de mergulhar para se proteger antes de os carros explodirem. A multidão se dispersou aos gritos. Ares
soltou uma gargalhada retumbante. - Agora, heroizinho. Vamos acrescentar você ao churrasco. Ele golpeou. Eu desviei da lâmina. Cheguei perto o bastante para atacar,
tentei enganá-lo com uma ginga, mas o meu golpe foi rechaçado. As ondas agora estavam me atingindo nas costas. Ares estava mergulhado até as coxas, avançando atrás
de mim. Senti o ritmo do mar, as ondas ficando maiores enquanto a maré avançava, e de repente tive uma idéia. Ondas pequenas, pensei. E a água atrás de mim pareceu
recuar. Eu estava segurando a maré com a força da minha vontade, mas a tensão se acumulava, como gás carbônico atrás de uma rolha. Ares avançou, sorrindo confiante.
Eu abaixei a minha lâmina, como se estivesse exausto demais para prosseguir. Aguarde, eu disse para o mar. A pressão agora estava quase me levantando acima dos pés.
Ares ergueu a espada. Eu liberei a maré e pulei, subindo como um rojão em uma onda, passando diretamente por cima de Ares. Uma parede de dois metros de água o atingiu
em cheio no rosto, e ele ficou praguejando e cuspindo com a boca cheia de algas. Caí em pé atrás dele, espirrando água, e simulei um ataque em direção à cabeça dele,
como já havia feito. Ele se virou a tempo de erguer a espada, mas dessa vez estava desorientado e não previu o truque. Mudei de direção, investi para o lado e mandei
Contracorrente diretamente para baixo na água, enfiando a ponta no calcanhar do deus. O rugido que se seguiu fez o terremoto do Hades parecer um evento menor. O
próprio mar explodiu para longe de Ares, deixaindo um círculo de areia molhada com quinze metros de diâmetro. Icor, o sangue dourado dos deuses, jorrou de um talho
profundo na bota do deus. A expressão no seu rosto ia além do ódio. Era dor, choque, incredulidade total por ter sido ferido. Ele veio mancando na minha direção,
resmungando antigas pragas gregas. Alguma coisa o deteve.

Era como se uma nuvem tivesse encoberto o sol, mas pior. A luz foi sumindo. Sons e cores se extinguiram. Uma presença fria e pesada passou sobre a praia, retardando
o tempo, diminuindo a temperatura até o congelamento, e fazendo-me sentir que a vida não valia a pena, que lutar era inútil. As trevas se dissiparam. Ares parecia
aturdido. As viaturas da polícia ardiam atrás de nós. A multidão de espectadores fugira. Annabeth e Grover estavam plantados na praia, em choque, observando a água
se derramar de volta em torno dos pés de Ares, e o seu luminescente icor dourado se diluindo na maré. Ares abaixou a espada. - Você fez um inimigo, filhote de deus
- disse-me ele. - Você selou o seu destino. A cada vez que erguer a sua lâmina em batalha, a cada vez que você esperar sucesso, sentirá a minha maldição. Cuidado,
Perseu Jackson. Cuidado. Seu corpo começou a brilhar. - Percy! - gritou Annabeth. - Não olhe! Virei-me enquanto o deus Ares revelava sua verdadeira forma imortal.
De algum modo eu sabia que, se olhasse, iria me desintegrar em cinzas. A luz se extinguiu. Olhei para trás. Ares se fora. A maré recuou para revelar o elmo de bronze
das trevas de Hades. Eu o recolhi e fui andando na direção dos meus amigos. Mas, antes de chegar lá, ouvi o bater de asas de couro. Três vovós de aparência maligna
com chapéus de renda e chicotes flamejantes desceram do céu e pousaram diante de mim. A Fúria do meio, a que tinha sido a sra. Dodds, deu um passo à frente. Seus
caninos estavam expostos, mas pela primeira vez não tinha um aspecto ameaçador. Parecia mais desapontada, como se tivesse planejado me comer na ceia, mas percebera
que eu podia lhe dar indigestão. - Nós vimos tudo - sibilou ela. - Então... realmente não foi você? Joguei o capacete para ela, e ela o agarrou, surpresa. - Devolva
isto ao Senhor Hades - disse eu. - Conte-lhe a verdade. Diga-lhe para cancelar a guerra. Ela hesitou, depois passou uma língua bifurcada pelos lábios coriáceos verdes.
- Viva bem, Percy Jackson. Torne-se um verdadeiro herói. Porque, se você não o fizer, se algum dia cair nas minhas garras de novo... Ela cacarejou, saboreando a
idéia. Então ela e as irmãs levantaram vôo em suas asas de morcego, pairaram no céu cheio de fumaça e desapareceram. Juntei-me a Grover e Annabeth, que olhavam para
mim assombrados. - Percy... - disse Grover. - Aquilo foi tão incrivelmente... - Aterrorizante - disse Annabeth. - Legal! - corrigiu Grover.

Eu não me sentia aterrorizado. Certamente não me sentia legal. Estava cansado, doído e sem nenhuma energia. - Vocês sentiram aquele... o que era aquilo? - perguntei.
Os dois assentiram, constrangidos. - Devem ser as Fúrias lá no alto - disse Grover. Mas eu não tinha tanta certeza. Alguma coisa impedira Ares de me matar, e o que
quer que pudesse fazer isso era muito mais forte do que as Fúrias. Olhei para Annabeth, e tivemos a mesma sacação. Agora eu sabia o que estava naquele abismo, o
que havia falado da entrada do Tártaro. Resgatei a minha mochila com Grover e olhei dentro. O raio-mestre ainda estava lá. Uma coisa tão pequena quase causara a
Terceira Guerra Mundial. - Temos de voltar a Nova York - disse eu. - Esta noite. - É impossível - disse Annabeth -, a não ser que nós... - Fôssemos voando -- completei.
Ela arregalou os olhos para mim. - Voando, tipo num avião, coisa que avisaram você para nunca fazer, para que Zeus não o fulmine para fora do céu, e ainda for cima
carregando uma arma que tem mais poder destrutivo do que uma bomba nuclear? - É - disse eu. - Mais ou menos isso. Vamos.

VINTE E UM ­ Meu acerto de contas.
É gozado como os seres humanos são capazes de enrolar a sua mente em volta das coisas e encaixá-las na sua versão de realidade. Quíron me contara isso muito tempo
atrás. Como de costume, eu só dei bola para sua sabedoria muito tempo depois. De acordo com as notícias de Los Angeles, a explosão na praia de Santa Monica tinha
sido causada quando um seqüestrador enlouquecido disparou uma espingarda contra uma viatura da polícia. Ele acidentalmente atingiu um tubo principal de gás que se
rompera durante o terremoto. Esse seqüestrador enlouquecido (também conhecido como Ares) era o mesmo homem que me abduzira com dois outros adolescentes em New York
e nos trouxera até o outro lado do país em uma odisséia de terror que durara dez dias. O pobrezinho do Percy Jackson, afinal, não era um criminoso internacional.
Ele causara uma comoção naquele ônibus da Greyhound em New Jersey tentando escapar do seu seqüestrador (e depois, testemunhas chegaram a jurar que tinham visto o
homem de roupa de couro no ônibus - "Por que não me lembrei dele antes?"). O homem enlouquecido causara a explosão no Arco de St. Louis. Afinal, nenhum garotinho
poderia ter feito aquilo. Uma garçonete preocupada de Denver vira o homem ameaçar seus seqüestrados do lado de fora do seu restaurante, chamara um amigo para tirar
uma foto, e notificara a polícia. Finalmente, o bravo Percy Jackson (eu estava começando a gostar desse menino) subtraíra uma espingarda do seu seqüestrador em Los
Angeles e lutara contra ele, espingarda contra rifle, na praia. A polícia chegara bem a tempo. Mas, na espetacular explosão, cinco viaturas da polícia foram destruídas
e o seqüestrador fugira. Não houve mortes. Percy Jackson e seus dois amigos estavam em segurança, sob custódia da polícia. Os repórteres nos forneceram essa história
inteira. Nós apenas assentimos e nos fizemos de chorosos e exaustos (o que não foi difícil), e representamos o papel de crianças vitimizadas para as câmeras. - Tudo
o que eu quero - disse eu, contendo as lágrimas -, é ver o meu adorado padrasto de novo. Toda vez que o via na tevê me chamando de punk delinqüente, eu sabia...
de algum modo... que tudo ia dar certo. E eu sei que ele vai querer recompensar uma por uma todas as pessoas desta linda cidade de Los Angeles com um eletrodoméstico
grátis, dos grandes, da sua loja. Aqui está o número do telefone. - A polícia e os repórteres ficaram tão comovidos que passaram o chapéu e levantaram dinheiro para
três passagens no próximo avião para Nova York. Eu sabia que não havia escolha senão voar. Esperava que Zeus me desse algum tempo de lambuja, consideradas as circunstâncias.
Mas ainda assim foi difícil me forçar a embarcar no vôo. A decolagem foi um pesadelo. Cada momento de turbulência era mais assustador que um monstro grego. Eu não
larguei dos braços da poltrona até pousarmos em segurança no aeroporto de La Guardia. A imprensa local aguardava por nós do lado de fora da segurança, mas conseguimos
escapar graças a Annabeth, que atraiu para longe com o seu boné dos Yankees invisível, gritando: - Eles estão lá, perto da sorveteria! Venham! -- e depois juntou
a nós na área de retirada de bagagem. Separamo-nos no ponto de táxi. Eu disse a Annabeth e Grover para voltar à Colina Meio-Sangue e contar a Quíron o que acontecera.
Eles protestaram, e era difícil deixá-los partir depois de tudo que passamos juntos, mas eu sabia que tinha de cumprir essa última parte da minha missão sozinho.
Se as coisas dessem errado, se os deuses não acreditassem em mim... eu queria que Annabeth e Grover sobrevivessem para contar a verdade a Quíron. Embarquei em um
táxi e segui para Manhattan. ***** Trinta minutos depois, entrei no saguão do Edifício Empire State. Devo ter parecido uma criança abandonada, com minhas roupas
esfarrapadas e minha cara toda arranhada. Eu não dormia havia pelo menos vinte e quatro horas.

Fui até o guarda na mesa da recepção e disse: - Seiscentésimo andar. Ele estava lendo um livro enorme com a figura de um feiticeiro na capa. Eu não curto muito fantasia,
mas acho que o livro era bom, porque o guarda levou algum tempo para erguer os olhos. - Esse andar não existe, garoto. - Eu preciso de uma audiência com Zeus. Ele
me deu um sorriso vago. - O quê? - Você me ouviu. Eu já estava quase concluindo que aquele cara era apenas um mortal comum, e era melhor eu correr antes que ele
chamasse a patrulha da camisa-de-força, quando ele disse: - Sem hora marcada, nada de audiência, garoto. O Senhor Zeus não atende ninguém sem aviso prévio. - Ah,
eu acho que ele vai abrir uma exceção. - Tirei a mochila das costas e abri o zíper. O guarda olhou para o cilindro metálico lá dentro sem entender o que era por
alguns segundos. Então seu rosto empalideceu. - Isto não é... - Sim, é - garanti. - Você quer que eu o tire e... - Não! Não! - Ele se ergueu atabalhoadamente da
sua cadeira, tateou em volta da mesa procurando um cartão-chave, e o entregou para mim. - Insira na fenda de segurança. Certifique-se de que ninguém mais esteja
no elevador com você. Fiz o que ele me disse. Assim que as portas do elevador se fecharam, enfiei o cartão na fenda. O cartão desapareceu e um novo botão apareceu
no quadro, um botão vermelho que dizia 600. Apertei e esperei, e esperei. Havia música tocando. "Raindrops keepfalling on my head..." Finalmente, plim. As portas
se abriram. Saí e quase tive um ataque do coração. Eu estava em um estreito caminho de pedra no meio do ar. Abaixo de mim se encontrava Manhattan, da altura de um
avião. Diante de mim, degraus de mármore branco subiam em espiral pelo meio de uma nuvem até o céu. Meus olhos seguiram a escada até o fim, onde meu cérebro simplesmente
não pôde aceitar o que vi. Olhem outra vez, disse meu cérebro. Estamos olhando, meus olhos insistiram. Está realmente lá. Do topo das nuvens se erguia o pico decapitado
de uma montanha, o cume coberto de neve. Na encosta da montanha havia dúzias de palácios com vários níveis - uma cidade de mansões -, todos com pórticos de colunas
brancas, terraços dourados e braseiros de bronze brilhando com mil fogos. Estradas se enroscavam de um jeito maluco até o pico, onde o maior dos palácios resplandecia
contra a neve. Jardins precariamente encarapitados floresciam com oliveiras e roseiras. Pude distinguir um mercado a céu aberto cheio de tendas coloridas, um anfiteatro
de pedra construído em um lado da montanha, um hipódromo e um coliseu do outro. Era uma cidade grega antiga, só que não estava em ruínas. Era nova, limpa e colorida,
como Atenas deve ter sido há dois mil e quinhentos anos.

Este palácio não pode estar aqui, disse para mim mesmo. A ponta de uma montanha pendurada em cima da cidade de Nova York como um asteróide de um bilhão de toneladas?
Como podia uma coisa assim estar ancorada acima do Edifício Empire Statem a plena vista de milhões de pessoas, e não ser notada? Mas aqui estava. E aqui estava eu.
Minha viagem pelo Olimpo foi deslumbrante. Passei por algumas ninfas das florestas que deram risadinhas e me atiraram azeitonas do seu pomar. No mercado, mascates
se ofereceram para vender ambrosia-no-palito, um escudo novo e uma réplica genuína do Velocino de Ouro em tecido cintilante, conforme anunciado na tevê Hefesto.
As nove musas afinavam seus instrumentos para um concerto no parque enquanto uma pequena multidão se reunia - sátiros, náiades e um bando de adolescentes de boa
aparência que talvez fossem deuses e deusas menores. Ninguém parecia preocupado com uma guerra civil iminente. De fato, todo mundo parecia estar num estado de ânimo
festivo. Vários se voltaram para me ver passar e cochicharam entre si. Subi pela estrada principal rumo ao grande palácio no pico. Era uma cópia invertida do palácio
no Mundo Inferior. Lá, tudo era preto e bronze. Aqui, tudo rebrilhava em branco e prata. Dei-me conta de que Hades deve ter construído o seu palácio para se parecer
com este. Ele não era bemvindo no Olimpo, exceto no solstício de inverno, então construiu seu próprio Olimpo embaixo da terra. A despeito da minha má experiência
com ele, senti pena do cara. Ser banido deste palácio parecia realmente injusto. Era de deixar qualquer um amargo. Degraus levavam a um pátio central. Além dele,
a sala do trono. Sala não é exatamente a palavra certa. O lugar fazia a Grande Estação Central parecer um armário de vassouras. Colunas maciças se erguiam até um
teto abobadado, que era decorado com constelações que se moviam. Doze tronos, construídos para seres do tamanho de Hades, estavam arrumados em um U invertido, exatamente
como os chalés do Acampamento Meio-Sangue. Uma enorme fogueira crepitava no braseiro central. Os tronos estavam vazios com exceção de dois no fim: o trono principal
à direita e um imediatamente à sua esquerda. Ninguém precisou me dizer quem eram os dois deuses que estavam sentados lá, esperando que eu me aproximasse. Cheguei
à frente deles com as pernas tremendo. Os deuses estavam em forma humana gigante, como Hades estivera, mas eu mal podia olhar para eles sem sentir um formigamento,
como se o meu corpo estivesse começando a queimar. Zeus, o Senhor dos Deuses, usava um terno risca-de-giz azul-escuro. Estava sentado em um trono simples de platina
maciça. Tinha uma barba bem aparada, cinza-mármore e preta, como uma nuvem de tempestade. Seu rosto era orgulhoso belo e severo, os olhos tinham o tom cinzento da
chuva. Quando me aproximei dele, o ar estralejou e senti cheiro de ozônio. O deus sentado ao lado dele era seu irmão, sem dúvida, mas estava vestido de modo muito
diferente. Lembrou-me um catador de praia de Key West. Usava sandálias de couro, bermudas caqui e uma camisa marca Tommy Bahama toda estampada de coqueiros e papagaios.
Sua pele tinha um bronzeado escuro e as mãos eram marcadas de cicatrizes como as de um velho pescador. O cabelo era preto, como o meu. Seu rosto tinha o mesmo ar
taciturno que sempre me fez ser rotulado de rebelde. Mas os olhos, verde-mar como os meus, eram rodeados de rugas que me diziam que ele também sorria muito. Os deuses
não estavam se movendo nem falando, mas havia tensão no ar, como se tivessem acabado de discutir. Aproximei-me do trono do pescador e me ajoelhei aos seus pés. -
Pai. - Não ousei olhar para cima. Meu coração estava disparado, eu podia sentir a energia que emanava dos dois deuses. Se eu dissesse a coisa errada, não havia dúvida
de que eles poderiam me reduzir a pó. A minha esquerda, Zeus falou:

- Você não deveria se dirigir primeiro ao senhor desta casa, menino? Mantive a cabeça baixa e esperei. - Paz, irmão - disse por fim Poseidon. Sua voz mexeu com as
minhas lembranças mais antigas: aquela sensação morna de que me lembrava, de quando eu era bebê, a sensação da sua mão de deus sobre a minha testa. - O menino submete-se
ao seu pai. Está certo. - Então você ainda o reclama como seu? - perguntou Zeus, ameaçadoramente. - Você reclama esta criança que procriou contrariando o nosso sagrado
juramento? - Eu admiti a minha transgressão - disse Poseidon. - E agora vou ouvi-lo falar. Transgressão. Senti um nó na garganta. Era isso tudo o que eu era? Uma
transgressão? O resultado do erro de um deus? - Eu já o poupei uma vez - resmungou Zeus. - Ousando voar através dos meus domínios... bah! Eu devia tê-lo mandado
pelos ares, para fora do céu pelo seu atrevimento. - E correr o risco de destruir seu próprio raio-mestre? - perguntou Poseidon calmamente. - Vamos ouvi-lo, irmão.
Zeus resmungou mais um pouco. - Ouvirei - resolveu. - E então decidirei se atirarei ou não este menino para fora do Olimpo. - Perseu - disse Poseidon. - Olhe para
mim. Fiz isso, e não sei ao certo o que vi no seu rosto. Não havia sinal claro de amor ou aprovação. Nada para me encorajar. Era como olhar para o oceano: em alguns
dias, era possível dizer como estava o seu humor. Na maioria dos dias, no entanto, era impossível de ler, misterioso. Tive a sensação de que Poseidon na verdade
não sabia o que pensar de mim. Não sabia se estava feliz por ter-me como filho ou não. De um modo estranho, eu estava contente por Poseidon estar tão distante. Se
ele tivesse tentado se desculpar, ou dito que me amava, ou mesmo sorrido, teria parecido falso. Como um pai humano, dando alguma desculpa pouco convincente por não
estar presente. Eu poderia viver com isso. Afinal, eu mesmo também não estava muito seguro a respeito dele. - Dirija-se ao Senhor Zeus, menino - disse-me Poseidon.
- Conte a ele a sua história. Então contei tudo a Zeus, exatamente como havia acontecido. Tirei da mochila o cilindro de metal, que começou a fagulhar na presença
do Deus do Céu, e o pus aos seus pés. Houve um longo silêncio, quebrado apenas pelo crepitar do fogo no braseiro. Zeus abriu a palma da sua mão. O raio voou para
dentro dela. Quando ele fechou o punho, os pontos metálicos fulguraram com eletricidade, até ele ficar segurando o que parecia mais um relâmpago clássico, um dardo
de seis metros feito de energia com centelhas chiantes que fez os meus cabelos se eriçarem. - Sinto que o menino diz a verdade - murmurou Zeus. - Mas não é nada
típico de Ares fazer uma coisa assim. - Ele é orgulhoso e impulsivo - disse Poseidon. - E coisa de família. - Senhor? - chamei. Ambos disseram:

- Sim? - Ares não agiu sozinho. Outra pessoa - ou outra coisa teve a idéia. Descrevi os meus sonhos e a sensação que tive na praia, o momentâneo hálito do mal que
parecera parar o mundo e fizera Ares desistir de me matar. - Nos meus sonhos - disse eu -, a voz me disse para levar o raio ao Mundo Inferior. Ares insinuou que
também estava tendo sonhos. Acho que ele estava sendo usado, assim como eu, par começar uma guerra. - Você está acusando Hades, afinal? - perguntou Zeus. - Não -
disse eu. - Quer dizer, Senhor Zeus, eu estive na presença de Hades. A sensação na praia foi diferente. Era a mesma coisa que senti quando cheguei perto daquele
abismo. Aquela era entrada para o Tártaro, não era? Alguma coisa poderosa e maligna está se agitando lá embaixo... alguma coisa ainda mais antiga que os deuses.
Poseidon e Zeus se entreolharam. Eles tiveram uma rápida e intensa discussão em grego antigo. Só peguei uma palavra. Pai. Poseidon fez algum tipo de sugestão, mas
Zeus o cortou. Poseidon tentou discutir. Zeus ergueu a mão, zangado. - Não vamos mais falar disso - disse Zeus. - Preciso ir pessoalmente purificar este raio nas
águas de Lemnos, para remover a mácula humana do seu metal. - Ele se levantou e olhou para mim. Sua expressão se suavizou uma fração de um grau. - Você me prestou
um serviço, menino. Poucos heróis poderiam ter conseguido tanto. - Eu tive ajuda, senhor - disse eu. - Grover Underwood e Annabeth Chase... - Para demonstrar minha
gratidão, pouparei sua vida. Não confio em você, Perseu Jackson. Não gosto do que a sua chegada significa para o futuro do Olimpo. Mas, em nome da paz na família,
eu o deixarei viver. - Ahn... obrigado, senhor. - Não ouse voar de novo. Não me deixe encontrá-lo aqui quando eu voltar. Ou irá provar este raio. E será a sua última
sensação. Um trovão sacudiu o palácio. Com um clarão ofuscante, Zeus se foi. Eu estava sozinho na sala do trono com meu pai. - O seu tio - suspirou Poseidon -, sempre
teve um talento especial para saídas teatrais. Acho que ele teria se saído bem como o deus do teatro. Um silêncio constrangedor. - Senhor - disse eu -, o que havia
naquele abismo? Poseidon olhou atentamente para mim. - Você não adivinhou? - Cronos - disse eu. - O rei dos Titãs. Mesmo na sala do trono do Olimpo, longe doTártaro,
o nome Cronos escureceu o ambiente, e fez o fogo no braseiro não parecer mais tão quente nas minhas costas. Poseidon segurou o seu tridente.

- Na Primeira Guerra Mundial, Percy, Zeus cortou o nosso pai Cronos em mil pedaços, exatamente como Cronos fizera com seu próprio pai, Uranos. Zeus lançou os restos
de Cronos no mais escuro abismo do Tártaro. O exército dos Titãs foi dispersado, sua fortaleza na montanha sobre o Etna, destruída, seus monstruosos aliados foram
expulsos para os cantos mais distantes da Terra. E, contudo, Titãs não podem morrer, não mais que nós, deuses. O que resta de Cronos ainda vive de algum modo hediondo,
ainda consciente em seu sofrimento eterno, ainda com fome de poder. - Ele está se curando - disse eu. - Ele vai voltar. Poseidon sacudiu a cabeça. - De tempos em
tempos, no decorrer das eras, Cronos se agita. Ele entra nos pesadelos dos homens e exala pensamentos malignos. Desperta monstros inquietos das profundezas. Mas
sugerir que ele pode erguer-se do abismo é outra coisa. É o que ele pretende, pai. É o que ele disse. Poseidon ficou em silêncio por um bom tempo. - O Senhor Zeus
encerrou a discussão sobre o assunto. Ele não permitirá que se fale de Cronos. Você completou a sua missão, criança. É tudo o que precisa fazer. - Mas... - eu me
interrompi. Discutir não iria adiantar nada. Muito possivelmente, irritaria o único deus que eu tinha do meu lado. - Como... como queira, pai. Um leve sorriso brincou
nos lábios dele. - A obediência não lhe vem naturalmente, não é? - Não... senhor. - Devo ter alguma culpa por isso, imagino. O mar não gosta de ser contido. - Ele
se ergueu em toda a sua altura e pegou seu tridente. Então tremeluziu e ficou do tamanho de um homem normal, em pé diante de mim. - Você precisa ir, criança. Mas
primeiro saiba que sua mãe retornou. Olhei para ele, completamente perplexo. - Minha mãe? - Você a encontrará em casa. Hades a enviou quando recuperou seu elmo.
Até mesmo o Senhor da Morte paga as suas dívidas. Meu coração disparou. Eu mal podia acreditar. - Você... você vai... Eu queria perguntar se Poseidon viria comigo
para vê-la, mas então percebi que isso era ridículo. Imaginei-me embarcando com o Deus do Mar em um táxi e levando-o para o Upper East Side. Se durante todos aqueles
anos ele tivesse desejado ver minha mãe, teria visto. E também era preciso pensar que Gabe Cheiroso estava lá. Os olhos de Poseidon ficaram um pouco tristes. - Quando
você voltar para casa, Percy, precisará fazer uma escolha importante. Irá encontrar um pacote esperando por você no seu quarto. - Um pacote? - Você entenderá quando
o vir. Ninguém pode escolher o seu caminho, Percy. Você terá de decidir.

Assenti, embora sem saber o que ele queria dizer. - Sua mãe é uma rainha entre as mulheres - disse Poseidon saudosamente. - Não conheci nenhuma mulher mortal como
ela em mil anos. Ainda assim... sinto muito por você ter nascido, criança. Eu trouxe para você um destino de herói, e um destino de herói nunca é feliz. Não passa
de um destino trágico. Tentei não me sentir magoado. Ali estava o meu próprio pai, dizendo que sentia muito por eu ter nascido. - Eu não me importo, pai. - Ainda
não, talvez - disse ele. - Ainda não. Mas foi um erro imperdoável da minha parte. - Vou deixá-lo, então. - Eu me inclinei, desajeitado. - Não... não vou incomodá-lo
de novo. Eu estava a cinco passos de distância quando ele chamou: - Perseu. Eu me virei. Havia uma luz diferente em seus olhos, um tipo flamejante de orgulho. -
Você se saiu bem, Perseu. Não me entenda mal. O que quer que ainda faça, saiba que você é meu. Você é um verdadeiro filho do Deus do Mar. Enquanto eu caminhava de
volta pela cidade dos deuses, as conversas se interromperam. As musas pararam seu concerto. Pessoas, sátiros e náiades, todos se voltavam para mim, os rostos plenos
de respeito e gratidão, e quando eu passava eles se ajoelhavam, como se eu fosse algum tipo de herói. ***** Quinze minutos depois, ainda em transe, eu estava de
volta às ruas de Manhattan. Peguei um táxi para o apartamento da minha mãe, toquei a campainha, e lá estava ela - minha linda mãe, cheirando a hortelã e alcaçuz,
e o cansaço e a preocupação se evaporaram do seu rosto assim que ela me viu. - Percy! Oh, graças a Deus! Oh, meu querido. Ela me apertou até não poder mais. Ficamos
no vestíbulo enquanto ela chorava e passava as mãos pelos meus cabelos. Eu admito - meus olhos também ficaram um pouco nublados. Eu tremia, de tão aliviado que estava
por vêla. Ela me contou que simplesmente aparecera no apartamento naquela manhã, deixando Gabe meio fora de si de tão apavorado. Não se lembrava de nada desde o
Minotauro, e não pôde acreditar quando Gabe lhe disse que eu era um criminoso procurado, viajando pelo país e explodindo monumentos nacionais. Ficara louca de preocupação
o dia inteiro porque não ouvira as notícias. Gabe a forçara a ir trabalhar, dizendo que ela precisava um mês de salário para compensar, e era melhor começar. Engoli
a raiva e contei-lhe minha própria história. Tentei fazer que parecesse menos apavorante do que fora, mas não era fácil. Estava justamente chegando à luta com Ares
quando a voz de Gabe irrompeu da sala de estar. - Ei, Sally! Aquele bolo de carne já está pronto ou não? Ela fechou os olhos.

- Ele não vai ficar muito feliz em vê-lo, Percy. A loja recebeu um milhão de telefonemas de Los Angeles hoje... alguma coisa sobre eletrodomésticos grátis. - Ah,
sim. Quanto a isso... Ela conseguiu sorrir fracamente. - Só não o deixe ainda mais zangado, certo? Venha. No mês em que estive fora, o apartamento se transformara
em Gabelândia. Havia lixo no tapete até a altura dos tornozelos. O sofá tinha sido estofado de novo com latas de cerveja. Meias e roupas de baixo sujas estavam penduradas
nos abajures. Gabe e três dos seus amigos cretinos estavam sentados à mesa jogando pôquer. Quando Gabe me viu, o charuto caiu da boca. A cara dele ficou mais vermelha
que lava. - Você é muito descarado de vir aqui, seu pequeno punk. Eu pensei que a polícia... - Ele não é um fugitivo, afinal - interrompeu minha mãe. - Não é maravilhoso,
Gabe? Gabe olhou para um lado e para outro entre nós. Não parecia achar que a minha volta para casa fosse assim tão maravilhosa. - Já não basta ter de devolver o
dinheiro do seu seguro de vida, Sally - rosnou ele. - Me dê o telefone. Vou chamar a polícia. - Gabe, não! Ele ergueu as sobrancelhas. - Você disse não! Acha que
eu vou ter de agüentar esse punk de novo? Ainda posso registrar queixa contra ele por destruir o meu Camaro. - Mas... - Ele levantou a mão e minha mãe se encolheu.
Pela primeira vez me dei conta de uma coisa. Gabe já tinha batido na minha mãe. Não sei quando, nem quanto. Talvez estivesse acontecendo há anos, quando eu não estava
por perto. Um balão de raiva começou a se expandir no meu peito. Avencei para Gabe, instintivamente tirando minha caneta do bolso. Ele apenas riu. - O que foi, punk?
Vai escrever em mim? Encoste em mim, e irá para a cadeia para sempre, entendeu? - Ei, Gabe - seu amigo Eddie interrompeu. - Ele é só uma criança. Gabe olhou para
ele irritado e macaqueou em voz de falsete: - Ele é só uma criança! Seus outros amigos riram como idiotas. - Eu vou ser bonzinho com você, punk. - Gabe mostrou os
dentes manchados de tabaco. - Vou lhe dar cinco minutos para pegar suas coisas e dar o fora. Depois disso, chamo a polícia. - Gabe! - implorou minha mãe. - Ele fugiu
- disse Gabe a ela. - Que continue fugido.

Eu estava sentindo uma comichão para destampar Contracorrente, mas mesmo que fizesse isso, a lâmina não podia ferir seres humanos. E Gabe, segundo a mais vaga das
definições, era um ser humano. Minha mãe segurou meu braço. - Por favor, Percy. Venha. Vamos para o seu quarto. Deixei que ela me puxasse, as mãos ainda tremendo
de raiva. Meu quarto tinha sido completamente abarrotado com o lixo de Gabe. Havia pilhas de baterias velhas de carro, um buquê apodrecido de flores de solidariedade
com um cartão de alguém que assistira sua entrevista com Barbara Walters. - Gabe está apenas chateado, querido - disse minha mãe. - Vou falar com ele mais tarde.
Tenho certeza de que vai dar certo. - Mamãe, nunca vai dar certo. Não enquanto Gabe estiver aqui. Ela torceu as mãos nervosamente. - Eu posso... vou levar você comigo
para o trabalho durante o resto do verão. No outono talvez haja algum outro internato... - Mamãe. Ela baixou os olhos. - Estou tentando, Percy. Eu só... só preciso
de algum tempo. Um pacote apareceu em cima da minha cama. Pelo menos, eu poderia jurar que não estava lá um momento antes. Era uma caixa de papelão surrada mais
ou menos do tamanho certo para conter uma bola de basquete. O endereço na etiqueta estava na minha própria caligrafia:

Aos deuses Monte Olimpo, 600° andar, Edifício Empire State Nova York, NY Com os melhores votos, Percy Jackson
No topo da caixa, em marcador preto, na caligrafia clara e forte de um homem, estava o endereço do nosso apartamento, e as palavras: RETORNAR AO REMETENTE. De repente
entendi o que Poseidon me dissera no Olimpo. Um pacote. Uma decisão. O que quer que ainda faça, saiba que você é meu. Você é um verdadeiro filho do Deus do Mar.
Olhei para a minha mãe. - Mãe, você quer se livrar do Gabe? - Percy, não é tão simples. Eu...

- Mãe, apenas me diga. Aquele cretino está batendo em você. Você quer que ele se vá ou não? Ela hesitou, depois assentiu quase imperceptivelmente. - Sim, Percy.
Eu quero. E estou tentando reunir coragem para dizer a ele. Mas você não pode fazer isso por mim. Você não pode resolver os meus problemas. Eu olhei para a caixa.
Eu podia resolver o problema dela. Queria abrir aquele pacote, botá-lo sobre a mesa de pôquer e tirar o que havia dentro. Podia começar o meu próprio jardim de estátuas
bem ali na sala de estar. E o que um herói grego faria nas histórias, pensei. É o que Gabe merece. Mas a história de um herói sempre termina em tragédia. Poseidon
me dissera isso. Lembrei-me do Mundo Inferior. Pensei no espírito de Gabe à deriva nos Campos de Asfódelos, ou condenado a alguma tortura horrível atrás do arame
farpado dos Campos da Punição - sentado em um eterno jogo de pôquer, mergulhado até a cintura em óleo fervente ou ouvindo música de ópera. Será que eu tinha o direito
de mandar alguém para lá? Mesmo Gabe? Um mês atrás, eu não teria hesitado. Agora... - Eu posso fazer isso - disse à minha mãe. - Uma espiada para o que há dentro
desta caixa, e ele nunca mais a incomodará de novo. Ela deu uma olhada para o pacote e pareceu entender imediatamente. - Não, Percy - disse ela afastando-se. - Você
não pode. - Poseidon chamou você de rainha - contei-lhe. - Ele disse que não conheceu nenhuma mulher como você em mil anos. Suas faces coraram. - Percy... - Você
merece coisa melhor do que isso, mãe. Você devia ir para a faculdade, tirar o seu diploma. Podia escrever o seu romance, conhecer um cara legal, quem sabe, e viver
numa bela casa. Você não precisa mais me proteger ficando com Gabe, Deixe que eu me livre dele. Ela enxugou uma lágrima do rosto, - Você se parece tanto com o seu
pai - disse ela, - Uma vez propôs parar a maré por mim. Propôs construir um palácio para mim no fundo do mar, Achava que podia resolver todos os meus problemas com
um aceno de mão. - O que há de errado nisso? Seus olhos multicoloridos pareceram investigar dentro de mim. - Eu acho que você sabe, Percy, Eu acho que você é parecido
o bastante comigo para entender, Se é para a minha vida ter algum significado, tenho de vivê-la eu mesma. Não posso deixar que um deus cuide de mim,,, ou meu filho,
Eu preciso,,, encontrar a coragem sozinha, A sua missão me fez lembrar disso, Ouvimos o som das fichas de pôquer e pragas, e a ESPN n televisão da sala de estar,
- Vou deixar a caixa - disse eu, - Se ele a ameaçar,,, Ela empalideceu, mas assentiu. - Aonde você vai, Percy?

- Colina Meio-Sangue, - Passar o verão,,, ou para sempre? - Ainda não sei, Nossos olhos se encontraram, e eu senti que tínhamos um acordo. Veríamos como estariam
as coisas no fim do verão. Ele beijou a minha testa, - Você será um herói, Percy, O maior de todos. Passei os olhos pelo quarto pela última vez,Tinha a sensação
de que nunca mais o veria de novo. Então fui com minha mãe até a porta da frente. - Indo embora tão cedo, punk? - gritou Gabe atrás de mim. - Já vai tarde! Senti
uma última ponta de dúvida. Como eu podia rejeitar a oportunidade perfeita para me vingar dele? Eu estava indo embora daqui sem salvar a minha mãe. - Ei, Sally!
- berrou ele. - E aquele bolo de carne, heim? Uma expressão de raiva, dura como aço, brilhou nos olhos da minha mãe, e eu pensei, quem sabe, talvez eu a estivesse
deixando em boas mãos afinal. As dela mesma. - O bolo de carne já está saindo, meu bem - disse ela a Gabe. - Um bolo de carne surpresa. Olhou para mim e piscou.
A última coisa que vi quando a porta se fechou foi minha mãe olhando para Gabe com jeito de quem imagina que ele daria uma ótima estátua de jardim.

VINTE E DOIS - A profecia se cumpre.
Fomos os primeiros heróis a retornar vivos à Colina Meio-Sangue desde Luke, portanto é claro que todos nos trataram como se tivéssemos ganho algum prêmio de reality
show na tevê. De acordo com a tradição do acampamento, usamos coroas de louros em um grande banquete preparado em nossa honra, depois lideramos um cortejo até a
fogueira, onde queimamos as mortalhas que tinham sido feitas para nós na nossa ausência. A mortalha de Annabeth era lindíssima - seda cinzenta co corujas bordadas
-, e eu disse que era uma pena não poder enterrá-la com ela. Ela me deu um soco e me mandou calar a boca. Por ser filho de Poseidon, eu não tinha nenhum companheiro
de chalé, e assim o chalé de Ares se ofereceu para fazer a minha mortalha. Eles pegaram um lençol velho e pintaram carinhas sorridentes nas bordas, com XX no lugar
dos olhos, e a palavra PE DERDOR em tamanho realmente grande no meio. Foi divertido queimá-la. Enquanto o chalé de Apoio liderava a cantoria e passava guloseimas,
fui rodeado pelos meus companheiros do chalé de Hermes, pelos amigos de Annabeth de Atena e pelos colegas sátiros de Grover, que estavam admirando a licença de buscador
nova em folha que ele recebera do Conselho dos Anciãos de Casco Fendido. O conselho chamara o desempenho de Grover na missão de "Bravo a ponto de dar indigestão.
Chifres-e-barba acima de tudo t) que já vimos no passado." Os únicos que não estavam com um espírito festivo eram Clarisse e seus companheiros de chalé, cujos olhares
venenosos me diziam que jamais me perdoariam por envergonhar o pai deles. Por mim, tudo bem. Até mesmo o discurso de boas-vindas de Dioniso foi insuficiente para
abafar o meu bom humor. - Sim, sim, o molequinho não se deixou matar e agora vai ficar ainda mais presunçoso. Bem, um viva para isso. Entre outros comunicados, não
haverá corridas de canoas neste sábado... Mudei-me de volta para o chalé 3, mas ele não parecia mais tão solitário. Tinha os meus amigos para treinar durante o dia.
À noite, ficava acordado e ouvia o mar, sabendo que meu pai estava lá fora. Talvez ele ainda não se sentisse muito seguro a meu respeito, talvez ainda não quisesse
que eu tivesse nascido, mas estava observando. E, até agora, estava orgulhoso do que eu havia feito. Quanto à minha mãe, ela teve chance de uma vida nova. A carta
dela chegou uma semana depois que voltei ao acampamento. Ela me contou que Gabe partira misteriosamente - desaparecera da face do planeta, de fato. Ela deu queixa
do desaparecimento dele à polícia, mas tinha uma sensação engraçada de que jamais o encontrariam. Mudando completamente de assunto, ela tinha vendido a sua primeira
escultura de concreto em tamanho natural, intitulada O jogador de pôquer, para um colecionador, através de uma galeria de arte do Soho. Recebera tanto dinheiro por
ela que dera entrada em um novo apartamento e fizera o pagamento do primeiro semestre do seu curso na Universidade de Nova York. A galeria do Soho estava clamando
por mais trabalhos dela, que eles chamaram de "um grande passo do neo-realismo do superfeio". Mas não se preocupe, escreveu a minha mãe. Para mim, chega de escultura.
Livrei-me daquela caixa de ferramentas que você deixou para mim. Já è hora de eu voltar a escrever. No fim, ela escreveu um P.S.: Percy, encontrei uma boa escola
particular aqui na cidade. Fiz um depósito para reservar um lugar para você, caso queira se matricular na sétima série. Você poderá morar em casa. Mas, se quiser
ficar o ano inteiro na Colina Meío-Sangue, vou entender. Dobrei a carta cuidadosamente e a pus na minha mesa-de-cabeceira. Todas as noites antes de dormir eu a leio
de novo, e tento decidir como responder a ela. *****

No Quatro de Julho, o acampamento inteiro se reuniu na praia para um espetáculo pirotécnico por conta do chalé 9. Como filhos de Hefesto, não iriam se contentar
com explosões comuns em vermelho, branco e azul. Eles ancoraram uma barcaça longe da costa e a carregaram com foguetes do tamanho de mísseis Patriot. De acordo com
Annabeth, que já tinha visto o espetáculo antes, as explosões seriam tão bem seqüenciadas que pareceriam quadros de animação no céu. O final deveria ser um par de
guerreiros espartanos de trinta metros de altura que iriam crepitar para a vida acima do oceano, travar uma batalha e então explodir em um milhão de cores. Enquanto
Annabeth e eu estendíamos toalhas de piquenique, Grover apareceu para se despedir de nós. Usava os jeans, a camiseta e os tênis de sempre, mas nas últimas semanas
começara a parecer mais velho, quase com idade de secundarista. Seu cavanhaque ficara mais espesso. Ganhara peso. Seus chifres haviam crescido pelo menos três centímetros,
de modo que agora tinha de usar o seu boné rastafári o tempo todo para passar por ser humano. - Estou de partida - disse ele. - Vim só dizer... bem, vocês sabem.
Tentei me sentir feliz por ele. Afinal, não era todo dia que um sátiro conseguia permissão para procurar o grande deus Pan. Mas era difícil dizer adeus. Eu só conhecia
Grover fazia um ano, e no entanto ele era o meu amigo mais antigo. Annabeth deu-lhe um abraço. Ela lhe disse para usar sempre os seus pés falsos. Perguntei-lhe onde
iria procurar primeiro. - Tipo segredo - disse ele, parecendo embaraçado. - Gostaria que vocês pudessem vir comigo, mas seres humanos e Pan... - A gente entende
- disse Annabeth. - Você tem latas suficientes para a viagem? - Sim. - E se lembrou das suas flautas de bambu? - Puxa, Annabeth - resmungou ele. - Você parece uma
velha mamãe-cabra. Mas ele não pareceu aborrecido de verdade. Ele agarrou sua bengala e jogou uma mochila por cima dos ombros. Parecia um caroneiro desses que se
vêem nas estradas - nada parecido com o menino baixinho que eu costumava defender dos valentões na Academia Yancy. - Bem - disse ele -, desejem-me boa sorte. Ele
deu outro abraço em Annabeth. Bateu no meu ombro, e então retornou através das dunas. Fogos de artifício explodiram acima de nós: Hércules matando o leão da Neméia,
Ártemis perseguindo o javali, George Washington (que, aliás, era um filho de Atena) cruzando o rio Delaware. - Ei, Grover - chamei. Ele se voltou à margem do bosque.
- Aonde quer que esteja indo, espero que façam boas enchiladas. Grover sorriu, e se foi; as árvores se fechando em volta dele. - Nós o veremos de novo - disse Annabeth.

Tentei acreditar nisso. O fato de que nenhum buscador jamais voltara em dois mil anos... bem, decidi não pensar nisso. Grover ia ser o primeiro. Tinha de ser. *****
Julho se foi. Eu passava os meus dias bolando novas estratégias para a captura da bandeira e fazendo alianças com os outros chalés para manter o estandarte fora
das mãos de Ares. Cheguei até o topo da parede de escalada pela primeira vez sem ser tostado pela lava. De tempos em tempos, eu passava pela Casa Grande, dava uma
olhada nas janelas do sótão e pensava no Oráculo. Tentei convencer a mim mesmo que a sua profecia se completara. Você deve ir para o oeste, e enfrentar o deus que
se tornou desleal. Estive lá, fiz isso - mesmo que no fim o deus traidor fosse Ares, e não Hades. Você deve encontrar o que foi roubado e devolver em segurança.
Confere. Um raio-mestre entregue. Um elmo das trevas de volta na cabeça untuosa de Hades. Você será traído por aquele que o chama de amigo. Essa linha ainda me incomodava.
Ares fingira ser meu amigo e depois me traíra. Devia ser isso que o Oráculo queria dizer... E no fim não conseguirá salvar aquilo que mais importa. Eu não conseguira
salvar minha mãe, mas só porque eu a deixara se salvar sozinha, e sabia que era a coisa certa a fazer. Então por que ainda estava incomodado? ***** A última noite
da sessão de verão chegou depressa demais. Os campistas fizeram uma última refeição juntos. Queimamos parte do nosso jantar para os deuses. Junto à fogueira, os
conselheiros mais velhos entregaram as contas de fim de verão. Ganhei o meu próprio colar de couro, e quando vi a conta pelo meu primeiro verão, fiquei contente
porque a luz da fogueira encobriu o vermelho na minha cara. O desenho era preto como piche, com um tridente verde-mar cintilando no centro. - A escolha foi unânime
- anunciou Luke. - Esta conta comemora o primeiro Filho do Deus do Mar neste acampamento, e a missão que ele assumiu para a parte mais escura do Mundo Inferior para
impedir uma guerra! O acampamento inteiro se pôs de pé e aplaudiu. Mesmo o chalé de Ares se sentiu na obrigação de levantar. O chalé de Atenas empurrou Annabeth
para a frente para que ela pudesse compartilhar os aplausos. Acho que nunca na vida me senti ao mesmo tempo tão feliz ou e tão triste como naquele momento. Finalmente
encontrara uma família, gente que se preocupava comigo e achava que eu tinha feito alguma coisa de modo certo. E, pela manhã, a maior parte deles ficaria fora o
resto do ano. Na manhã seguinte encontrei uma carta padronizada na minha mesa-de-cabeceira. Soube que devia ter sido preenchida por Dioniso, pois ele insistia teimosamente
em errar o meu nome:

Caro________ Peter Johnson ___ , Se você pretende permanecer no Acampamento Meio-Sangue o ano inteiro, precisa informar a Casa Grande até o meio-dia de hoje. Caso
não anuncie suas intenções, presumiremos que você vagou o seu chalé ou morreu de uma morte horrível. Harpias da limpeza começarão seu trabalho ao pôr-dosol. Elas
estarão autorizadas a comer qualquer campista não registrado. Todos os artigos pessoais deixados para trás serão incinerados no poço de lava. Tenha um bom dia! Senhor
D (Dioniso) Diretor do Acampamento, Conselho Olimpiano n° 12 ***** Essa é mais uma questão do transtorno do déficit de atenção. Os prazos simplesmente não existem
para mim até que não tenha mais jeito. O verão acabara, e eu ainda não havia respondido para a minha mãe, nem para o acampamento, se iria ficar. Agora tinha apenas
algumas horas para decidir. A decisão tinha tudo para ser fácil. Quer dizer, nove meses treinando para herói, ou nove meses sentado numa sala de aula - fala sério!
Mas havia a minha mãe para considerar. Pela primeira vez eu tinha oportunidade de morar com ela por um ano inteiro, sem Gabe. Tinha chance de estar em casa e perambular
pela cidade nas horas livres. Lembrei-me do que Annabeth dissera tanto tempo atrás sobre a nossa missão: O mundo real é onde os monstros estão. É onde a gente aprende
se serve para alguma coisa ou não. Pensei no destino de Thalia, filha de Zeus. Fiquei pensando quantos monstros me atacariam se eu deixasse a Colina Meio-Sangue.
Se eu ficasse em um só lugar durante todo um ano escolar, sem Quíron e meus amigos em volta para me ajudar, será que minha mãe e eu sobreviveríamos até o próximo
verão? E isso presumindo que os testes de ortografia e os ensaios de cinco parágrafos não me matassem. Decidi ir até a arena e praticar um pouco de esgrima. Talvez
isso me clareasse a cabeça. A área do acampamento estava deserta na maior parte, tremeluzindo no calor de agosto. Todos os campistas estavam nos seus chalés fazendo
as malas, ou correndo de um lado para outro com vassouras e esfregões, preparando-se para a inspeção final. Argos estava ajudando algumas filhas de Afrodite a carregar
suas malas e estojos de maquiagem Gucci para o outro lado da colina, onde o ônibus do acampamento estaria esperando para levá-las ao aeroporto. Não pense em partir
ainda, disse para mim mesmo. Apenas treine. Cheguei à arena dos espadachins e descobri que Luke tivera a mesma idéia. Sua sacola estava jogada na beirada da arena.
Ele estava treinando sozinho, investindo violentamente contra bonecos com uma espada que eu nunca tinha visto antes. Devia ser uma espada toda de aço, pois decepava
de um golpe as cabeças dos bonecos e atravessava com estocadas as suas tripas recheadas de palha. Sua camisa laranja de conselheiro pingava de suor. A expressão
dele era tão intensa que dava para pensar que sua vida estava realmente em perigo. Eu assisti, fascinado, enquanto ele destripava toda a fileira de bonecos, cortando
fora os membros e basicamente os reduzindo a uma pilha de palha e armaduras. Eram apenas bonecos, mas ainda assim eu não podia deixar de ficar assombrado com a habilidade
de Luke. O cara era um guerreiro incrível. Aquilo me fez pensar, novamente, como ele podia ter falhado em sua missão. Por fim ele me viu e interrompeu-se no meio
de um golpe. - Percy. - Ahn, desculpe - disse eu, embaraçado. - Eu só... - Tudo bem - disse ele, abaixando a espada. - Estava só dando uma treinada de último minuto.

- Aqueles bonecos nunca mais vão incomodar ninguém. Luke encolheu os ombros. - Nós fazemos novos todo verão. Agora que a espada não estava mais rodopiando de um
lado para outro, pude ver algo de estranho nela. A lâmina era feita com dois tipos de metal diferentes - um fio de bronze, o outro de aço. Luke reparou que eu estava
olhando. - Ah, isso? Brinquedo novo. Esta é a Malvada. - Malvada? Luke virou a lâmina na luz, e a fez brilhar de um jeito maligno. -Um lado é de bronze celestial.
O outro é de aço temperado. Funciona tanto em mortais como em imortais. Pensei no que Quíron tinha me dito quando eu comecei a minha missão - que um herói jamais
deve ferir mortais a não ser que seja absolutamente necessário. - Eu não sabia que eles podiam fazer armas como esta. - Eles provavelmente não - concordou Luke.
- Esta aqui é única. Ele me deu um sorrisinho mínimo e então enfiou a espada na bainha. - Escute. Eu estava indo procurar por você. O que me diz de irmos até a floresta
uma última vez, para procurar algo para enfrentar? Não sei por que hesitei. Devia ter me sentido aliviado por Luke estar sendo tão amigável. Desde que eu voltara
da missão ele vinha agindo de modo um pouco distante. Estava com medo de que ele estivesse ressentido com toda a atenção que eu recebera. - Você acha que é uma boa
idéia? - perguntei. - Quero dizer... - Ora, vamos. - Ele remexeu na sua sacola e tirou de lá uma embalagem de seis Cocas. - Bebidas por minha conta. Olhei para as
Cocas, me perguntando onde diabo as teria conseguido. Não havia refrigerantes mortais comuns na loja do acampamento. Não havia como consegui-los a não ser que a
gente falasse com um sátiro, talvez. Naturalmente, as taças mágicas do jantar se encheriam com qualquer coisa que a gente quisesse, mas não tinham exatamente o mesmo
gosto de uma Coca de verdade, saída da lata. Açúcar e cafeína. Minha força de vontade desmoronou. - Claro - decidi. - Por que não? Fomos andando até a floresta e
perambulamos sem rumo à procura de algum tipo de monstro para enfrentar, mas estava quente demais. Todos os monstros com um mínimo de bom senso deviam estar fazendo
a sesta nas suas cavernas agradáveis e frescas. Encontramos um lugar à sombra junto ao regato onde eu quebrara a lança de Clarisse durante meu primeiro jogo de captura
da bandeira. Sentamo-nos em uma grande pedra, bebemos as nossas Cocas e ficamos olhando para a luz do sol na floresta. Depois de algum tempo, Luke disse:

- Sente falta de estar em uma missão? - Com monstros me atacando a cada passo? Fala sério! Luke ergueu uma sobrancelha. - Sim, eu sinto falta - admiti. - E você?
Uma sombra passou pelo seu rosto. Eu estava acostumado a ouvir as meninas dizerem como Luke era bonito, mas naquele momento ele pareceu cansado, zangado e nem um
pouco bonito. Seu cabelo loiro estava cinzento à luz do sol. A cicatriz no rosto parecia mais funda que de costume. Parecia estar vendo um velho. - Vivo na Colina
Meio-Sangue o ano inteiro desde que tinha catorze anos - contou-me. - Desde que Thalia... bem, você sabe. Treinei, treinei e treinei. Nunca cheguei a ser um adolescente
normal, lá fora no mundo real. Então eles me jogaram numa missão, e quando voltei, foi tipo, "Certo, o passeio acabou. Passe bem". Ele amarrotou a sua Coca e a atirou
no regato, o que realmente me chocou. Uma das primeiras coisas que a gente aprende no Acampamento Meio-Sangue é: não jogue lixo no chão. Você será repreendido pelas
ninfas e náiades. Elas ajustarão as contas. Você cai na cama uma noite e encontra os lençóis cheios de centopéias e lama. - Para o diabo com as coroas de louros
- disse Luke. - Não vou terminar como aqueles troféus empoeirados no sótão da Casa Grande. - Você está parecendo alguém que vai embora. Luke me deu um sorriso torto.
- Oh, eu estou indo embora, sem dúvida, Percy. Trouxe você aqui para dizer adeus. Ele estalou os dedos. Um pequeno fogo queimou um buraco no chão aos meus pés. De
lá, saiu se arrastando alguma coisa preta e brilhante, mais ou menos do tamanho da minha mão. Um escorpião. Comecei a procurar a minha caneta. - Eu não faria isso
- advertiu Luke. Escorpiões das profundezas podem pular até cinco metros. Seu ferrão pode perfurar as suas roupas. Você estaria morto em sessenta segundos. - Luke,
o que... Então caiu a ficha. Você será traído por aquele que o chama de amigo. - Você - disse eu. Ele se levantou calmamente e sacudiu o pó dos seus jeans. O escorpião
não lhe deu atenção. Seus olhos pequenos e brilhantes continuavam fixos em mim, apertando as pinças enquanto se arrastava para cima do meu sapato. - Eu vi muita
coisa lá fora no mundo, Percy - disse Luke. - Você não sentiu... a escuridão se acumulando, os monstros ficando mais fortes? Não percebeu como tudo é inútil? Todos
os feitos heróicos... Nós não passamos de peões dos deuses. Eles já deviam ter sido derrubados há milhares de anos, mas persistem, graças a nós, meios-sangues. Eu
não podia acreditar no que estava acontecendo.

- Luke... você está falando dos nossos pais - disse eu. Ele riu. - E por isso eu preciso amá-los? A sua preciosa "civilização ocidental" é uma doença, Percy. Ela
está matando o mundo. O único meio de detê-la é queimá-la completamente e começar tudo de novo com algo mais honesto. - Você é tão louco quanto Ares. Seus olhos
flamejaram. - Ares é um tolo. Ele nunca percebeu quem é o verdadeiro mestre a quem está servindo. Se eu tivesse tempo, Percy, poderia explicar. Mas infelizmente
você não vai viver tanto. O escorpião se arrastou para cima da perna das minhas calças. Tinha de haver um meio de sair dessa. Eu precisava de tempo para pensar.
- Cronos - disse eu. - É a ele que você serve. O ar ficou mais frio. - Você devia ter cuidado com nomes - avisou Luke. - Cronos fez você roubar o raio-mestre e o
elmo. Ele falou com você nos seus sonhos. O olho de Luke se contraiu. - Ele falou com você também, Percy. Devia ter ouvido. - Ele está fazendo uma lavagem cerebral
em você, Luke. - Você está errado. Ele me mostrou que os meus talentos estão sendo desperdiçados. Você sabe qual foi a minha missão dois anos atrás, Percy? Meu pai,
Hermes, queria que eu roubasse um pomo de ouro do jardim das Hespérides e o levasse ao Olimpo. Depois de todo o treinamento que fiz, aquilo foi o melhor em que ele
pôde pensar. - Essa não é uma missão fácil - disse eu. - Hércules fez isso. - Exatamente - disse Luke. - Onde está a glória em repetir o que outros já fizeram? Tudo
o que os deuses sabem fazer é repetir o passado. Meu coração não estava naquilo. O dragão do jardim me deu isto - ele apontou para a cicatriz -, e quando voltei,
tudo o que ganhei foi piedade. Eu queria destruir o Olimpo pedra por pedra naquele momento, mas esperei pelo momento certo. Comecei a sonhar com Cronos. Ele me convenceu
a roubar alguma coisa que valesse a pena, algo que nenhum herói jamais tivera a coragem de pegar. Quando fomos naquela excursão do solstício de inverno, enquanto
os outros campistas dormiam, entrei furtivamente na sala do trono e peguei o raio-mestre de Zeus bem em cima da cadeira dele. O elmo das trevas de Hades também.
Você não tem idéia como foi fácil. Os olimpianos são tão arrogantes; eles nunca nem sonharam que alguém se atrevesse a roubá-los. A segurança deles é horrível. Eu
já estava a meio caminho através de New Jersey antes de ouvir as tempestades troando, e soube que eles tinham descoberto o meu roubo. O escorpião agora estava parado
no meu joelho, me olhando com seus olhos brilhantes. Tentei manter a voz no mesmo nível. - Então por que não levou os objetos para Cronos? O sorriso de Luke vacilou.

- Eu... eu fiquei confiante demais. Zeus mandou seus filhos e filhas para encontrar o raio roubado: Ártemis, Apoio, meu pai, Hermes. Mas foi Ares quem me pegou.
Eu podia tê-lo vencido, mas não fui bastante cuidadoso. Ele me desarmou, tomou de mim os objetos de poder, ameaçou devolvê-los ao Olimpo e me queimar vivo. Então
a voz de Cronos veio a mim e me falou o que dizer. Pus na cabeça de Ares a idéia de uma grande guerra entre os deuses. Disse que tudo o que ele teria de fazer seria
esconder os objetos por algum tempo e ficar assistindo enquanto os outros lutavam. Um brilho perverso surgiu nos olhos de Ares. Eu sabia que ele estava fisgado.
Ele me deixou ir, e eu voltei ao Olimpo antes que alguém notasse a minha ausência. - Luke sacou a sua nova espada. Ele correu o polegar pela parte achatada da lâmina,
como se estivesse hipnotizado por sua beleza. - Depois, o Senhor dos Titãs... e-ele me castigou com pesadelos. Eu jurei não falhar outra vez. De volta ao Acampamento
Meio-Sangue, em meus sonhos, me foi dito que um segundo herói chegaria, um que poderia ser enganado para levar o raio e o elmo o resto do caminho, de Ares até o
Tártaro. - Você convocou o cão infernal aquela noite na floresta. - Tínhamos de fazer Quíron pensar que o acampamento não era seguro para você, e assim ele iria
dar início à sua missão. Tínhamos de confirmar seus temores de que Hades estava atrás de você. E funcionou. - Os tênis voadores estavam amaldiçoados - disse eu.
- Eles deveriam me arrastar com a mochila para dentro do Tártaro. - E teriam, se você os estivesse usando. Mas você os deu ao sátiro, o que não era parte do plano.
Grover bagunça tudo o que ele toca. Confundiu até a maldição. Luke baixou os olhos para o escorpião, que estava agora parado na minha coxa. - Você devia ter morrido
no Tártaro, Percy. Mas não se preocupe. Vou deixá-lo com o meu pequeno amigo para corrigir as coisas. - Thalia deu a vida dela para salvá-lo - disse eu rangendo
os dentes. - E é assim que você retribui? - Não fale de Thalia! - berrou ele. - Os deuses a deixaram morrer! Essa é uma das muitas coisas pelas quais eles pagarão.
- Você está sendo usado, Luke. Você e Ares, os dois. Não dê ouvidos a Cronos. - Eu estou sendo usado? - A voz de Luke ficou estridente. - Olhe para você mesmo. O
que o seu pai já fez por você? Cronos se erguerá. Você apenas retardou os seus planos. Ele irá lançar os olimpianos no Tártaro e mandará a humanidade de volta para
as cavernas. Todos menos os mais fortes; aqueles que o servem. - Chame de volta o seu bicho rastejante - disse eu. - Se você é tão forte, lute comigo você mesmo.
Luke sorriu. - Boa tentativa, Percy. Mas eu não sou Ares. Você não pode me engabelar. Meu senhor está esperando, e ele tem muitas missões para mim. - Luke... -Adeus,
Percy. Uma nova Idade do Ouro está chegando. Você não será parte dela. Ele traçou um arco com a espada e desapareceu numa onda de escuridão. O escorpião deu o bote.

Eu o joguei de lado com a mão e destampei a espada. A coisa pulou em cima de mim e eu a cortei ao meio no ar. Estava a ponto de me congratular quando olhei para
a minha mão. Na palma havia um enorme vergão vermelho, que destilava uma secreção amarela e fumegante. A coisa me pegara, afinal. Meus ouvidos latejavam. Minha visão
ficou embaçada. A água, pensei. Ela já me curara antes. Cambaleei até o regato e mergulhei a mão, mas nada pareceu acontecer. O veneno era forte demais. Minha visão
estava escurecendo. Eu mal conseguia ficar em pé. Sessenta segundos, Luke me dissera. Eu tinha de voltar ao acampamento. Se desmaiasse aqui, meu corpo seria o jantar
de algum monstro. Ninguém jamais saberia o que aconteceu. Minhas pernas pareciam feitas de chumbo. Minha testa queimava. Fui cambaleando até o acampamento, e as
ninfas despertaram de suas árvores. - Socorro - grasnei. - Por favor... Duas delas seguraram os meus braços e me puxaram para frente. Lembro-me de chegar até a clareira,
de um conselheiro gritando por ajuda, de um centauro tocando uma trombeta de concha. Então tudo escureceu. ··· Acordei com um canudinho na boca. Estava bebendo alguma
coisa que tinha gosto de biscoitos de flocos de chocolate líquidos. Néctar. Abri os olhos. Estava reclinado na cama no quarto de doentes da Casa Grande, a mão direita
enfaixada como um pedaço de pau. Argos montava guarda no canto. Annabeth estava sentada ao meu lado, segurando o copo de néctar e enxugando a minha testa com uma
toalha. - Aqui estamos nós outra vez - disse eu. - Seu idiota - disse Annabeth, e foi como eu percebi que ela estava radiante por me ver consciente. - Você estava
verde e ficando cinzento quando o encontramos. Se não fosse o tratamento de Quíron... - Vamos, vamos - disse a voz de Quíron. - A constituição de Percy merece parte
do crédito. Ele estava sentado perto do pé da minha cama em forma humana, e foi por isso que eu não o notara antes. Sua parte inferior estava magicamente compactada
na cadeira de rodas, e a parte superior usava casaco e gravata. Ele sorriu, mas seu rosto parecia cansado e pálido, como quando passava a noite em claro corrigindo
provas de latim. - Como está se sentindo? - perguntou. - Como se as minhas entranhas tivessem sido congeladas e depois assadas no microondas. - Apropriado, considerando
que foi veneno de escorpião das profundezas. Agora você tem de me contar, se puder, exatamente o que aconteceu. Entre goles de néctar, contei-lhes a história. O
quarto ficou em silêncio por um longo tempo.

- Eu não posso acreditar que Luke... - A voz de Annabeth vacilou. Sua expressão ficou zangada e triste. Sim. Sim, eu posso acreditar. Que os deuses o amaldiçoem...
Ele nunca mais foi o mesmo depois da sua missão. - Isso deve ser relatado ao Olimpo - murmurou Quíron. - Irei imediatamente. - Luke está lá fora agora - disse eu.
- Preciso ir atrás dele. Quíron sacudiu a cabeça. - Não, Percy. Os deuses... - Nem mesmo falam sobre Cronos - disparei. - Zeus declarou o assunto encerrado! - Percy,
eu sei que é difícil. Mas você não deve correr atrás de vingança. Você não está preparado. Eu não gostei, mas parte de mim suspeitava que Quíron estava certo. Bastava
uma olhada para a minha mão e dava para ver que não haveria lutas de espada tão cedo. - Quíron... a sua profecia do Oráculo... era sobre Cronos, não era? Eu estava
nela? E Annabeth? Quíron olhou nervosamente para o teto. - Percy, não cabe a mim... - Você recebeu ordens de não falar comigo sobre isso, não foi? Seus olhos eram
solidários, mas tristes. - Você será um grande herói, criança. Darei o melhor de mim para prepará-lo. Mas se estou certo quanto ao caminho à sua frente... - O trovão
ribombou acima, chacoalhando as janelas. - Está certo! - gritou Quíron. - Perfeito! - Ele suspirou com frustração. - Os deuses têm suas razões, Percy. Saber demais
sobre o próprio futuro nunca é uma boa coisa. - Não podemos simplesmente ficar sentados sem fazer nada - disse eu. - Nós não vamos ficar sentados - prometeu Quíron.
- Mas você precisa ter cuidado. Cronos quer que você seja destruído. Ele quer a sua vida interrompida, os seus pensamentos obscureci- dos por medo e raiva. Não dê
a ele o que ele quer. Treine pacientemente. O seu momento chegará. - Presumindo que eu esteja vivo até lá. Quíron pousou a mão no meu tornozelo. - Você terá de confiar
em mim, Percy. Você viverá. Mas primeiro precisa decidir seu caminho para o próximo ano. Não posso dizer a você qual é a escolha certa... - Tive a impressão de que
ele tinha uma opinião muito bem definida, e estava usando toda a sua força de vontade para não me aconselhar. - Mas você precisa decidir se vai ficar no Acampamento
Meio-Sangue o ano inteiro, ou se vai voltar ao mundo mortal para a sétima série e ser um campista de verão. Pense nisso. Quando eu voltar do Olimpo, você terá de
me contar a sua decisão. Eu quis protestar. Quis lhe fazer mais perguntas. Mas sua expressão me disse que não haveria mais discussão; ele já dissera tudo o que podia.
- Estarei de volta assim que puder - prometeu Quíron. - Argos o protegerá.

Ele lançou um olhar para Annabeth. - Ah, e minha querida... quando estiver pronta, eles estão aqui. - Quem está aqui? - perguntei. Ninguém respondeu. Quíron rodou
para fora do quarto. Ouvi o som metálico abafado das rodas da sua cadeira descendo cautelosamente os degraus da frente, dois de cada vez. Annabeth estudou o gelo
na minha bebida. - O que está errado? - perguntei a ela. - Nada. - Ela pôs o copo sobre a mesa. - Eu... apenas aceitei o seu conselho sobre algo. Você... ahn...
precisa de alguma coisa? - Sim. Ajude-me a levantar. Quero ir para fora. - Percy, não é uma boa idéia. Arrastei as pernas para fora da cama. Annabeth me agarrou
antes que eu desabasse no chão. Uma onda de náusea me acometeu. Annabeth disse: - Eu falei... - Estou ótimo - insisti. Eu não queria ficar deitado na cama como um
inválido enquanto Luke estava lá fora planejando destruir o mundo ocidental. Consegui dar um passo para a frente. Depois outro, ainda me apoiando pesadamente em
Annabeth. Argos nos seguiu para fora, mas manteve distância. Quando chegamos à varanda, meu rosto estava molhado de suor. Meu estômago se contorcia em nós. Mas eu
conseguira ir até a cerca. Estava anoitecendo. O acampamento parecia completamente deserto. Os chalés estavam escuros e a quadra de vôlei, silenciosa. Nenhuma canoa
cortava a superfície do lago. Além dos bosques e dos campos de morangos, o estreito de Long Island brilhava com os últimos raios do sol. - O que você vai fazer?
- perguntou-me Annabeth. - Eu não sei. Disse a ela que tinha a sensação de que Quíron queria que eu ficasse o ano inteiro, para ter mais tempo de treinamento individual,
mas eu não tinha certeza de que era isso o que queria. Porém admiti que me sentia mal por deixá-la sozinha, com Clarisse por companhia... Annabeth apertou os lábios
e então disse baixinho: - Eu vou passar o ano em casa, Percy. Eu olhei para ela. - Você quer dizer, com o seu pai? Ela apontou para o cume da Colina Meio-Sangue.
Junto ao pinheiro de Thalia, bem no limite das fronteiras mágicas do acampamento, havia uma família em silhueta - duas crianças pequenas, uma mulher e um

homem alto de cabelos loiros. Pareciam estar aguardando. O homem segurava uma mochila parecida com a que Annabeth pegara no Parque Aquático em Denver. - Eu escrevi
uma carta para ele quando voltamos - disse Annabeth. - Como você sugeriu. Eu disse a ele... que sentia muito. Que iria para casa passar o ano escolar se ele ainda
me quisesse. Ele respondeu na mesma hora. Nós decidimos... que íamos tentar de novo. - Foi preciso coragem para isso. Ela apertou os lábios. - Você não vai tentar
nada de estúpido durante o ano escolar, vai? Pelo menos... não sem me mandar uma mensagem de íris? Consegui sorrir. - Não vou procurar encrenca. Normalmente eu não
preciso. - Quando eu voltar no próximo verão - disse ela -, vamos caçar Luke. Vou pedir uma missão, mas se não tivermos aprovação, vamos sair escondidos e fazer
isso do mesmo jeito. De acordo? - Parece um plano digno de Atena. Ela estendeu a mão. Eu a apertei. - Cuide-se, Cabeça de Alga - disse Annabeth. - Mantenha os olhos
abertos. - Você também, Sabidinha. Fiquei olhando enquanto ela subia a colina para se juntar à família. Ela deu um abraço meio sem jeito no pai e olhou para o vale
atrás dela uma última vez. Tocou o pinheiro de Thalia e então se deixou levar por cima do cume e para dentro do mundo mortal. Pela primeira vez no acampamento, me
senti verdadeiramente só. Olhei para o estreito de Long Island e me lembrei do meu pai dizendo: O mar não gosta de ser contido. Tomei minha decisão. Fiquei pensando:
se Poseidon estivesse vendo, ele aprovaria a minha escolha? Estarei de volta no próximo verão - prometi a ele. - Sobreviverei até lá. Afinal, eu sou seu filho. -
Pedi a Argos para me levar até o chalé 3, para eu arrumar as minhas coisas antes de ir para casa.

AGRADECIMENTOS
Sem a assistência de muitos ajudantes valorosos, eu teria sido morto por monstros muitas vezes seguidas na luta para publicar esta história. Obrigado ao meu filho
mais velho, Haley Michael, que ouviu a história primeiro; meu filho mais novo, Patrick John, que com seis anos de idade é o sensato da família; e minha mulher, Becky,
que agüenta as minhas muitas e longas horas no Acampamento Meio-Sangue. Obrigado também ao meu núcleo de testado-res beta do curso secundário: Travis Stoll, esperto
e rápido como Hermes; C.C. Kellog, amado como Atena; Allison Bauer, clarivi-dente como Ártemis, a Caçadora; e à sra. Margaret Floyd, a sábia e gentil vidente da
escola secundária de inglês. Meu reconhecimento também ao professor Egbert J. Bakker, extraordinário classicista; Nancy Gallt, agente summa cum lauie; Jonathan Burnham,
Jennifer Besser e Sarah Hughes, por acreditar em Percy.

Digitalizado por: Comunidades: Traduções & Digitalizações
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=65618057

Percy Jackson e os Olimpianos
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=42384468
A Maldição do Titã

AGRADECIMENTOS.....................................................................................................................6 OS VOLUNTÁRIOS.................................







.......................................................................................7

UM
MINHA OPERAÇÃO DE RESGATE DÁ MUITO ERRADO.............................................8

DOIS
O VICE DIRETOR TEM UM LANÇA MÍSSEIS..............................................................16

TRÊS
BIANCA DI ANGELO FAZ UMA ESCOLHA.......................................................................21

QUATRO
THALIA INCENDEIA A NOVA INGLATERRA..................................................................29

CINCO
EU FAÇO UMA LIGAÇÃO SUBAQUÁTICA.................................................................35

SEIS
UM VELHO AMIGO MORTO VEM VISITAR...............................................................44

SETE
TODOS ME ODEIAM MENOS O CAVALO...................................................................52

OITO
EU FAÇO UMA PROMESSA PERIGOSA..............................................................................62

NOVE
EU APRENDO COMO CULTIVAR ZUMBIS........................................................................67

DEZ
EU QUEBRO ALGUNS FOGUETES.......................................................................................75

ONZE
GROVER ARRANJA UMA LAMBORGHINI........................................................................80

DOZE
EU FAÇO SNOWBOARD COM UM PORCO........................................................................86

TREZE
NÓS VISITAMOS O FERRO-VELHO DOS DEUSES..........................................................93

CATORZE
EU TENHO UM PROBLEMA REPRESADO.........................................................................105

QUINZE
EU LUTO COM O GÊMEO MAU DO PAPAI NOEL...........................................................115

DEZESSEIS
NÓS CONHECEMOS O DRAGÃO DO MAU HÁLITO ETERNO....................................125

DEZESSETE
EU CARREGO ALGUNS MILHÕES DE QUILOS EXTRAS.............................................135

DEZOITO
UMA AMIGA DIZ ADEUS........................................................................................................142

DEZENOVE
OS DEUSES VOTAM COMO NOS MATAR.........................................................................146

VINTE
EU CONSIGO UM NOVO INIMIGO PARA O NATAL......................................................154

PROPAGANDAS..........................................................................................................................160

AGRADECIMENTOS
Este livro é dedicado principalmente aos fãs de Percy Jackson e os Olimpianos, que tanto esperaram para ter a versão finalizada do livro. Mas não se esqueçam de
agradecer a Mari Trindade que sozinha revisou todo o livro e unificou os termos, que adaptou problemáticos trexos com maestria de uma grande tradutora. À ela devemos
este livro tão bem formado, feito de fã para fã. O máximo que podemos exigir de vocês é que distribuam cultura por aí, espalhando links de download de livros. A
. mafia dos livros . agradece intensamente a todos vocês que nos acompanharam durante a tradução e também aos que só encontraram o e-book tardiamente. Tentamos aproximar
o livro o máximo possível do que será o oficial, pedimos a compreensão de vocês para algum erro ou equívoco, pois lembrem-se, nós somos humanos e não somos perfeitos.
E com sucesso terminamos aqui a tradução do terceiro livro completo da . mafia dos livros ., e não se esqueçam que os demais livros da série já estão quase prontos
também. Acessem regularmente a . mafia dos livros . para conferir as novidades. Este não é um agradecimento emocionante como têm sido os demais, mas espero que sirva.
Com todo o coração, espero que estejamos fazendo um bem ao povo, De Vossa Majestade, Raul Nogueira Fernandes

OS VOLUNTÁRIOS
Agradeço à todos aqueles que participaram da tradução, revisão, estruturação, leitura final, entre outras funcionalidades diversas que desempenhamos para compor
este livro de capa á contra-capa. Entre estes, destacam-se alguns nomes, aos quais devemos grande respeito e agradecimentos: Agradecemos aos nomes citados abaixo,
aos voluntários anônimos e aos esquecidos. Organização Responsável: .

mafia dos livros.

Chefe de Tradução: Raul Nogueira Fernandes Revisão Final: Mari Trindade Leitura Final: Mari Trindade Estruturação e Detalhes Finais: Raul Nogueira Fernandes Tradução:
Mari Trindade Felipe Bergh Mariana Albuquerque Rebeca Macedo Débora Bruno Felipe V. João Ricardo Matheus Soares Revisão: Mari Trindade Ingri Ransan Dauller Rossar

UM

MINHA OPERAÇÃO DE RESGATE DÁ MUITO ERRADO
Na sexta-feira anterior às férias de inverno minha mãe arrumou uma sacola de viagem e algumas armas letais para mim e me levou para um novo internato. No caminho
pegamos minhas amigas Annabeth e Thalia. Eram oito horas de carro de Nova York até Bar Harbor, Maine. Chuva e neve castigavam a rodovia. Annabeth, Thalia e eu não
nos víamos fazia meses, mas em meio à tempestade e à ideia do que estávamos prestes a fazer nos sentíamos nervosos demais para conversar muito. A exceção era minha
mãe. Ela fala mais quando está nervosa. Quando finalmente chegamos a Westover Hall, já estava escurecendo e ela havia contado a Annabeth e Thalia todas as histórias
embaraçosas de bebê que havia para contar a meu respeito. Thalia limpou o embaçamento da janela do carro e olhou para fora. "Ah, sim! Isso vai ser divertido." Westover
Hall parecia o castelo de um cavaleiro malvado. Era toda de pedras pretas, com torres e janelas em fenda, e um grande conjunto de portas duplas de madeira. Ficava
sobre um penhasco nevado que dava para uma grande floresta gelada de um lado e o oceano cinzento e turbulento do outro. "Vocês têm certeza de que não querem que
eu espere?" perguntou minha mãe. "Não, mãe, obrigado," disse eu. "Não sei quanto tempo vai levar. Vai dar tudo certo." "Mas como vocês vão voltar? Estou preocupada,
Percy." Esperei não estar corando. Já era bastante ruim ter de depender da minha mãe para me levar para as minhas batalhas. "Está tudo bem, senhora Jackson." Annabeth
sorriu tranquilizadora. Seus cabelos loiros estavam enfiados em um gorro de esquiador e seus olhos cinzentos eram da mesma cor do oceano. "Nós vamos mantê-lo longe
de encrencas." Minha mãe pareceu relaxar um pouco. Ela acha que Annabeth é a semideusa mais sensata que já conseguiu chegar à oitava série. Está certa de que Annabeth
quase sempre evita que eu seja morto. Tem razão, mas isso não quer dizer que eu tenha de gostar disso. "Está bem, queridos," disse minha mãe. "Vocês têm tudo o que
precisam?" "Sim, senhora Jackson," disse Thalia. "Obrigada pela carona." "Pulôveres de reserva? Vocês têm o número do meu celular?" "Mãe..." "A sua ambrosia e o
seu néctar, Percy? E um dracma de ouro para o caso de você precisar entrar em contato com o acampamento?" "Mãe, é sério! Tudo vai dar certo. Vamos, meninas." Ela
pareceu um pouco magoada, e eu senti uma ponta de arrependimento por isso, mas estava pronto para sair daquele carro. Se minha mãe contasse mais uma história sobre
a gracinha que eu era no banho quando tinha três anos eu ia me enterrar na neve e morrer congelado. Annabeth e Thalia me seguiram. O vento soprou através do meu
casaco como adagas de gelo. Depois que o carro de minha mãe sumiu de vista, Thalia disse:

"Sua mãe é demais, Percy." "Ela é bem legal" admiti. "Mas e você? Às vezes entra em contato com sua mãe?" Assim que disse isso me arrependi. Thalia era ótima em
lançar olhares malignos, com aquelas roupas punk que ela sempre usa -- o casaco militar rasgado, as calças de couro preto e as jóias de correntes, o delineador preto
naqueles intensos olhos azuis. Mas o olhar que ela me lançou naquela hora foi perfeitamente do mal: "Como se isso fosse da sua conta, Percy..." "É melhor a gente
entrar," interrompeu Annabeth. "Grover deve estar esperando." Thalia olhou para o castelo e estremeceu. "Você tem razão. Só queria saber o que ele encontrou aqui
que o fez mandar o S.O.S." Ergui os olhos para as torres escuras de Westover Hall. "Nada de bom," presumi. As portas de carvalho se abriram rangendo, e nós três
entramos no saguão em um turbilhão de neve. Tudo o que pude dizer foi: "Uau!" O lugar era imenso. As paredes eram forradas de estandartes de batalha e armas em exposição:
rifles antigos, machados de guerra e um monte de outras coisas. Quer dizer, eu sabia que Westover era uma escola militar e tudo, mas o exagero da decoração era massacrante.
Literalmente. Minha mão foi para o bolso onde eu guardava minha caneta esferográfica letal, Contracorrente. Eu já podia sentir que havia algo de errado naquele lugar.
Algo perigoso. Thalia estava esfregando seu bracelete prateado, seu item mágico favorito. Percebi que pensávamos na mesma coisa. Havia uma luta pela frente. Annabeth
começou a dizer: "Queria saber onde..." As portas se fecharam violentamente atrás de nós. "Oops," murmurei. "Acho que vamos ficar mais um pouco." Pude ouvir música
ecoando do outro lado do saguão. Parecia dance music. Deixamos nossas sacolas de viagem atrás de um pilar e começamos a atravessar o saguão. Não tínhamos ido muito
longe quando ouvi passos no piso de pedra, e um homem e uma mulher marcharam saindo das sombras para nos interceptar. Ambos tinham cabelos grisalhos curtos e uniforme
preto em estilo militar com debruns vermelhos. A mulher tinha um bigode ralo e o homem, a cara perfeitamente barbeada, o que me pareceu meio invertido. Os dois caminhavam
rigidamente, como se tivessem cabos de vassoura grudados com fita adesiva nas costas. "E então?" perguntou a mulher. "O que estão fazendo aqui?" "Ahn..." Percebi
que não havia planejado nada para aquela situação. Estava tão concentrado em chegar até Grover e descobrir o que estava errado que não levara em consideração que
alguém poderia questionar por que três crianças estavam se esgueirando para dentro da escola no meio da noite. Não tínhamos conversado no carro sobre como faríamos
para entrar. Eu disse: "Madame, nós estamos só..." "Ah!" disparou o homem, o que me fez dar um pulo. "Não são permitidos visitantes no baile. Vocês vão ser ecs~pulsos!"
Ele tinha um sotaque ­ francês, talvez. Pronunciava o x como pixel. Era alto, com cara de águia. Suas narinas se dilatavam quando ele falava, o que tornava difícil
não olhar para o nariz dele, e os olhos tinham duas cores diferentes -- um era castanho, e o outro, azul -- como os de um gato de rua. Calculei que ele estava a
ponto de nos atirar na neve, mas então Thalia deu um passo à frente e fez algo muito estranho.

Ela estalou os dedos. O som foi nítido e forte. Talvez fosse apenas minha imaginação, mas senti uma lufada de vento se propagando da mão dela pelo saguão. O vento
passou por cima de todos nós e fez tremular os estandartes nas paredes. "Ah! Mas não somos visitantes, senhor," disse Thalia. "Estudamos aqui. O senhor lembra: eu
sou Thalia. E estes são Annabeth e Percy. Estamos na oitava série." O professor estreitou os olhos de duas cores. Eu não sabia o que Thalia estava pensando. Agora
provavelmente seríamos castigados por mentir e também atirados na neve. Mas o homem pareceu hesitar. Ele olhou para sua colega. "Senhorita Tengiz, conhece estes
alunos?" A despeito do perigo que corríamos, tive de morder a língua para não rir. Uma professora chamada Tem Giz? Ele devia estar brincando. A mulher piscou, como
alguém que acabava de despertar de um transe. "Eu... sim. Acho que sim, senhor." Ela nos olhou, carrancuda. "Annabeth. Thalia. Percy. O que vocês estão fazendo fora
do ginásio?" Antes que pudéssemos responder, ouvi mais passos, e Grover veio correndo, sem fôlego. "Vocês conseguiram! Vocês..." "O que é isso, senhor Underwood?"
disse o homem. Seu tom deixou claro que ele detestava Grover. "O que significa `conseguiram chegar'? Estes alunos moram aqui." Grover engoliu em seco. "Sim, senhor.
É claro, Dr. Streppe. Eu só queria dizer que estou muito contente porque eles conseguiram... fazer o ponche para o baile! O ponche está uma delícia. E foram eles
que fizeram!" O Dr. Streppe nos fulminou com o olhar. Concluí que um dos seus olhos só podia ser postiço. O castanho? O azul? Ele parecia querer nos atirar de cima
da torre mais alta do castelo, mas então a Srta. Tengiz disse, com ar sonhador: "Sim, o ponche está excelente. Agora vão andando, todos vocês. E não saiam do ginásio
de novo!" Não esperamos ela falar duas vezes. Partimos com uma porção de "Sim, senhora!" e "Sim, senhor!", e batemos um par de continências, só porque parecia ser
a coisa certa a fazer. Grover nos empurrou corredor abaixo na direção da música. Pude sentir os olhos dos professores nas minhas costas, mas caminhei bem perto de
Thalia e perguntei em voz baixa: "Como você fez aquela coisa de estalar os dedos?" "Você quer dizer a Névoa? Quíron ainda não mostrou a você como fazer isso?" Um
nó incômodo se formou na minha garganta. Quíron era nosso principal treinador no acampamento, mas ele nunca me mostrara nada como aquilo. Por que mostrara a Thalia
e não a mim? Grover nos apressou até uma porta onde estava escrito GINÁSIO no vidro. Mesmo com minha dislexia, consegui ler aquilo. "Essa foi por pouco!" disse Grover.
"Graças aos deuses vocês chegaram!" Annabeth e Thalia abraçaram Grover. Ergui a mão e bati na dele. Foi bom vê-lo depois de tantos meses. Ele ficara um pouco mais
alto e mais alguns fios de barba haviam nascido, mas, fora isso, sua aparência era a mesma de sempre quando ele passava por ser humano -- um boné vermelho sobre
o cabelo castanho encaracolado para esconder os chifres de bode, jeans folgados com pés falsos para esconder as pernas peludas e os cascos. Usava uma camiseta preta
cujos dizeres levei alguns segundos para ler. Estava escrito: WESTOVER HALL: PRAÇA. Eu não sabia muito bem se aquilo era tipo o posto militar de Grover, ou quem
sabe apenas o lema da escola. "Então, qual é a emergência?" perguntei.

Grover respirou fundo. "Eu encontrei dois." "Dois meio-sangues?" perguntou Thalia, surpresa. "Aqui?" Grover assentiu. Encontrar um meio-sangue já era bastante raro.
Naquele ano, Quíron pusera os sátiros para trabalhar horas extras e os enviara aos quatro cantos do país observando os alunos da quarta à oitava séries dos colégios
em busca de possíveis recrutas. Eram tempos difíceis. Estávamos perdendo campistas. Precisávamos de todos os novos lutadores que pudéssemos encontrar. O problema
era que não havia muitos semideuses por aí. "Um irmão e uma irmã," disse ele. "Têm dez e doze anos. Não sei quem são seus pais, mas são fortes. E nosso tempo está
se acabando. Eu preciso de ajuda." "Monstros?" "Um," Grover parecia nervoso. "Ele suspeita. Não acredito que já tenha certeza, mas é o último dia do ano letivo.
Estou certo de que não permitirá que eles deixem a escola antes de descobrir. Pode ser nossa última chance! Cada vez que tento chegar perto deles o monstro está
sempre lá, me impedindo. Não sei o que fazer!" Grover olhou desesperado para Thalia. Tentei não me sentir incomodado com isso. Normalmente, Grover olhava pra mim
esperando respostas, mas Thalia tinha precedência. Não apenas porque o pai dela era Zeus. Thalia tinha mais experiência que qualquer um de nós em combater monstros
no mundo real. "Certo," disse ela. "Esses meio-sangues estão no baile?" Grover assentiu. "Então vamos dançar," disse Thalia. "Quem é o monstro?" "Ah!" falou Grover
olhando em volta, nervoso. "Você acabou de conhecê-lo. O vicediretor, Dr. Streppe." O estranho nas escolas militares é que as crianças ficam enlouquecidas quando
acontece algum evento especial e elas podem tirar o uniforme. Acho que é porque tudo é tão rígido, o restante do tempo elas sentem que precisam compensar ao máximo,
ou coisa assim. Havia balões pretos e vermelhos espalhados por todo o piso do ginásio, e os caras os chutavam um na cara do outro, ou tentavam estrangular uma ao
outro com as correntes de papel crepom grudadas nas paredes. As meninas se moviam de lá para cá amontoadas como num jogo de futebol americano, do jeito como sempre
fazem, usando montes de maquiagem, blusas de alças finas, calças de cores berrantes e sapatos que pareciam instrumentos de tortura. Volta e meia cercavam algum pobre
coitado como um cardume de peixes, aos gritinhos e risadinhas, e quando finalmente se afastavam, o cara estava com fitas no cabelo e rabiscos de batom na cara inteira.
Alguns dos caras mais velhos se pareciam mais comigo -- pouco à vontade, junto às paredes do ginásio, tentando se esconder, como se a qualquer minuto fossem ter
de lutar pelas suas vidas. No meu caso, é claro, isso era verdade... "Lá estão eles," Grover acenou com a cabeça para duas crianças mais novas discutindo na arquibancada.
"Bianca e Nico di Angelo." A menina usava um gorro verde frouxo, como se estivesse tentando esconder o rosto. O menino era, obviamente, seu irmão menor. Ambos tinham
cabelo escuro e sedoso e pele morena, e usavam muito as mãos quando falavam. O menino estava embaralhando algum tipo de figurinhas. A irmã parecia repreendê-lo por
alguma razão. Ficava olhando em volta, como se sentisse que havia algo errado. Annabeth disse: "Eles já... quer dizer, você já contou a eles?" Grover sacudiu a cabeça.

"Você sabe como é. Isso poderia deixá-los ainda mais em perigo. Depois que se dão conta de quem são, seu cheiro fica mais forte." Ele olhou para mim e eu assenti.
Na verdade, nunca entendi qual é o "cheiro" dos meiosangues para monstros e sátiros, mas sabia que o cheiro pode fazê-lo ser morto. E, quanto mais a gente se torna
um semideus poderoso, mais tem cheiro de almoço de monstro. "Então vamos pegá-los e dar o fora daqui," falei. Dei um passo à frente, mas Thalia pôs a mão em meu
ombro. O vice-diretor, Dr. Streppe, se esgueirara por uma porta ao lado da arquibancada e estava perto dos irmãos Di Angelo. Ele acenou friamente com a cabeça em
nossa direção. Seu olho azul parecia incandescente. A julgar pela expressão dele, adivinhei que Streppe não se deixara enganar pelo truque de Thalia com a Névoa,
afinal. Ele suspeitava de quem éramos. Estava apenas aguardando para ver por que estávamos ali. "Não olhe para os irmãos," ordenou Thalia. "Temos de esperar uma
oportunidade de chegar até eles. Precisamos fingir que não estamos interessados neles. Despistá-los." "Como?" "Somos três meio-sangues poderosos. Nossa presença
deve confundi-lo. Misturem-se. Ajam naturalmente. Dancem um pouco. Mas fiquem de olho naquelas crianças." "Dançar?" perguntou Annabeth. Thalia fez que sim. Ela prestou
atenção na música e fez uma careta. "Eca. Quem escolheu Jesse McCartney?" Grover pareceu ofendido. "Eu." "Ah, meus deuses, Grover! Isso é tão careta. Não dá para
tocar Green Day ou coisa assim?" "Green o quê?" "Nada, não. Vamos dançar." "Mas eu não sei dançar!" "Você consegue se eu conduzir," disse Thalia. "Vamos, garoto-bode."
Grover ganiu, e Thalia pegou a mão dele e o levou para a pista de dança. Annabeth sorriu. "O quê?" perguntei. "Nada. É bom ter Thalia de volta." Annabeth havia ficado
mais alta que eu desde o último verão, algo que eu achava um pouco incômodo. Ela não costumava usar jóias a não ser seu colar de contas do Acampamento Meio-Sangue,
mas agora usava pequenos brincos em forma de coruja -- o símbolo de sua mãe, Atena. Tirou o gorro de esquiador e seus longos cabelos loiros caíram até os ombros.
Por alguma razão, aquilo a fez parecer mais velha. "Então...?" Tentei pensar em algo para dizer. Ajam naturalmente, falara Thalia. Quando se é um meio-sangue em
uma missão perigosa, que diabo significa agir naturalmente? "Ahn, tem projetado alguns edifícios legais ultimamente?" Os olhos de Annabeth se iluminaram, como sempre
acontecia quando ela falava sobre arquitetura. "Ah, meus deuses, Percy! Na minha nova escola eu escolhi desenho em perspectiva como matéria eletiva, e tem aquele
programa de computador muito legal que..." Ela prosseguiu explicando como projetara aquele enorme monumento que queria construir em Manhattan, no Marco Zero, o lugar
onde ficavam as torres do World Trade Center. Falou sobre suportes estruturais, fachadas e outras coisas, e eu tentei ouvir. Sabia que ela queria ser uma superarquiteta
quando crescesse -- ela adora matemática, edifícios históricos e tudo mais --, mas eu mal entendia uma palavra do que ela dizia.

Na verdade eu estava desapontado por ouvir que ela gostava tanto da nova escola em Nova York. Eu tinha esperança de vê-la com mais frequência. Era um internato no
Brooklyn, ela e Thalia estavam frequentando juntas, e era bastante perto do Acampamento Meio-Sangue para Quíron poder ajudá-las caso se metessem em alguma encrenca.
Como era uma escola só para meninas, e eu estava frequentando a MS-54 em Manhattan, mal podia vê-las. "É, ah, legal," disse eu. "Então você vai ficar por lá o resto
do ano, ahn?" A expressão dela nublou. "Bem, talvez, se eu não..." "Ei!" Thalia gritou para nós. Ela estava dançando lentamente com Grover, que ficava tropeçando
nas próprias pernas, chutando-a nas canelas, parecia querer morrer. Pelo menos os pés dele eram falsos. Diferentemente de mim, ele tinha uma desculpa para ser desajeitado.
"Dancem vocês também!" ordenou Thalia. "Parecem bobos aí parados." Olhei nervoso para Annabeth, e então para os grupos de meninas que perambulavam pelo ginásio.
"E então?" disse Annabeth. "Ahn, quem devo tirar para dançar?" Ela me deu um soco na barriga. "Eu, senhor Cabeça de Alga." "Ah! Ah, certo." Lá fomos nós para a pista
de dança, e dei uma olhada para ver como Thalia e Grover estavam fazendo. Pus uma das mãos na cintura de Annabeth e ela pegou a outra como se fosse me dar um golpe
de judô. "Não vou morder," disse ela. "Francamente, Percy. Vocês não têm festas na sua escola?" Não respondi. A verdade é que tínhamos. Mas eu nunca gostei; na verdade,
nunca dancei. Normalmente, eu era um dos caras jogando basquete no canto. Arrastamos os pés de um lado para o outro durante alguns minutos. Tentei me concentrar
em pequenas coisas, como as correntes de papel crepom e a tigela de ponche -- tudo menos o fato de que Annabeth era mais alta que eu, e minhas mãos estavam suadas
e provavelmente sem jeito, e eu ficava o tempo todo pisando os pés dela. "O que você estava dizendo antes?" perguntei. "Está com problemas na escola, ou coisa assim?"
Ela contraiu os lábios. "Não é isso. É meu pai." "Ahn-ahn." Eu sabia que Annabeth tinha uma relação instável com o pai. "Achei que as coisas estavam melhorando entre
vocês dois. É sua madrasta de novo?" Annabeth suspirou. "Ele decidiu se mudar. Justamente quando eu estava me acostumando com Nova York ele aceitou aquele novo emprego
bobo de pesquisar para um livro sobre a Primeira Guerra Mundial. Em São Francisco." Disse isso do mesmo jeito que eu poderia dizer Campos da Punição ou Uniforme
de ginástica do Hades. "Então ele quer que você se mude para lá com ele?" "Para o outro lado do país," disse ela em um tom infeliz. "E meio-sangues não podem viver
em São Francisco. Ele devia saber disso." "O quê? Por que não?" Annabeth revirou os olhos. Talvez pensasse que eu estava brincando. "Você sabe. É bem ali." "Ah!"
disse eu. Não tinha idéia do que ela estava falando, mas não queria parecer bobo. "Então... você vai voltar a viver no acampamento ou o quê?" "É mais sério que isso,
Percy. Eu... acho que devia contar uma coisa a você."

De repente ela gelou. "Eles se foram." "O quê?" Segui o olhar dela. A arquibancada. As duas crianças meio-sangues, Bianca e Nico, não estavam mais lá. A porta ao
lado da arquibancada estava totalmente aberta. O Dr. Streppe não estava em lugar nenhum. "Temos de achar Thalia e Grover!" Annabeth olhou em volta freneticamente.
"Ah, para onde eles saíram dançando? Vamos!" Ela correu por entre a multidão. Eu já ia segui-la quando um bando de meninas ficou no meu caminho. Contornei-as para
evitar o tratamento de fita e batom, e quando consegui me livrar Annabeth havia desaparecido. Girei o corpo procurando por ela, Thalia ou Grover. Em vez disso, vi
algo que gelou meu sangue. A cerca de quinze metros, caído no chão do ginásio, estava um gorro verde como o que Bianca di Angelo usava. Perto dele, algumas figurinhas
espalhadas. Então vi de relance o Dr. Streppe. Saía às pressas por uma porta do lado oposto do ginásio, levando as crianças di Angelo pelo cangote como se fossem
gatinhos. Ainda não conseguia avistar Annabeth, mas sabia que ela estaria indo para o outro lado, à procura de Thalia e Grover. Quase corri atrás dela, mas então
pensei: Espere. Lembrei-me do que Thalia me dissera no saguão, olhando surpresa para mim quando perguntei sobre o truque de estalar os dedos: Quíron ainda não mostrou
a você como fazer isso? Pensei no modo como Grover a olhara, esperando que ela salvasse o dia. Não que eu estivesse ressentido com Thalia. Ela era legal. Não era
culpa dela se seu pai era Zeus e ela recebia toda a atenção... Ainda assim, eu não precisava correr atrás dela para resolver todos os problemas. Além disso, não
dava tempo. Os di Angelo estavam em perigo. Eles poderiam já estar desaparecidos há muito tempo quando eu conseguisse encontrar meus amigos. Eu conhecia monstros.
Era capaz de lidar com aquilo sozinho. Tirei Contracorrente do bolso e corri atrás do Dr. Streppe. A porta levava a um corredor escuro. Eu ouvi sons de pés se arrastando
mais a frente, e então um doloroso grunhido. Eu desencapei Contracorrente. A caneta cresceu em minhas mãos até que eu estava segurando uma espada grega de bronze
com um metro de comprimento e punho envolvido em couro. A lâmina brilhava ligeiramente, lançando uma luz dourada na fileira de armários. Eu corri pelo corredor,
mas quando eu cheguei ao final, não havia ninguém lá. Eu abri uma porta e me achei de volta no corredor da entrada principal. Eu me virei completamente. Eu não via
Dr. Streppe em lugar algum, mas ali no lado oposto do ambiente estavam as crianças di Angelo. Eles estavam paralisados em terror, olhando fixamente para mim. Eu
avancei lentamente, baixando a ponta da minha espada. "Está tudo bem. Eu não vou machucar vocês." Eles não responderam. Seus olhos estavam cheios de medo. O que
estava errado com eles? Onde estava o Dr. Streppe? Talvez ele tenha sentido a presença de Contracorrente e recuado. Monstros odeiam armas de bronze celestial. "Meu
nome é Percy," eu disse, tentando manter o nível da minha voz. "Eu vou tirar vocês daqui, levá-los para um lugar seguro." Os olhos de Bianca se arregalaram. Ela
cerrou os punhos. Só tarde demais eu percebi o que seu olhar significava. Ela não estava com medo de mim. Ela estava tentando me avisar.

Eu rodopiei em volta e algo fez WHI1ISH! Dor explodiu em meu ombro. Uma força como uma mão gigante me puxou para trás e me lançou contra a parede. Eu golpeei com
minha espada, mas não havia nada para ser atingido. Uma risada fria ecoou pelo corredor. "Sim, Perseus Jackson," Dr. Streppe disse. Seu sotaque deformou o J em meu
sobrenome. "Eu sei quem você é." Eu tentei libertar meu ombro. Meu casaco e camiseta estavam pregados na parede por algum tipo de cravo -- um projétil como uma adaga
com trinta centímetros de comprimento. Ela havia esfolado a pele do meu ombro quando passou pelas minhas roupas, e o corte queimava. Eu havia sentido algo como isso
antes. Veneno. Eu fiz força para me concentrar. Eu não iria desmaiar. Uma silhueta escura agora se movia em nossa direção. Dr. Streppe deu um passo para a luz fraca.
Ele ainda parecia humano, mas sua face era macabra. Ele tinha dentes perfeitamente brancos e seus olhos castanho/azul refletiam a luz da minha espada. "Obrigado
por sair do ginásio," ele disse. "Eu odeio bailes colegiais." Eu tentei balançar minha espada novamente, mas ele estava fora de alcance. WHIIIISH! Um segundo projétil
foi atirado de algum lugar atrás do Dr. Streppe. Ele não pareceu se mover. Era como se alguém invisível estivesse atrás dele, atirando facas. Perto de mim, Bianca
ganiu. O segundo espinho cravou na parede de pedra, a milímetros do seu rosto. "Vocês três virão comigo," Dr. Streppe disse. "Silenciosamente. Obedientemente. Se
vocês fizerem um som que seja, se gritarem por ajuda ou tentarem fugir, eu vou mostrar a vocês quão precisamente eu posso atirar."

DOIS

O VICE-DIRETOR TEM UM LANÇA MÍSSEIS
Eu não sabia que tipo de monstro o Dr. Streppe era, mas ele era rápido. Talvez eu pudesse me defender se conseguisse ativar meu escudo. Tudo que bastava era tocar
no meu relógio de pulso. Mas defender os irmãos di Angelo era outro problema. Eu precisava de ajuda, e só tinha uma maneira de conseguir. Fechei meus olhos. "O que
você está fazendo, Jackson?" sibilou Dr. Streppe. "Continue andando!" Abri meus olhos e continuei me arrastando. "É o meu ombro," deitei tentando parecer sofrer,
o que não foi muito difícil. "Queima." "Bah! Meu veneno causa dor. Não vai matá-lo. Ande!" Streppe nos guiou para fora, e eu tentei me concentrar. Imaginei o rosto
de Grover. Foquei-me nos meus sentimentos e no perigo. No último verão, Grover criou uma conexão empática entre nós. Ele podia me mandar visões em meus sonhos para
que eu soubesse que ele corria perigo. Eu sabia que a conexão ainda existia, mas eu nunca tinha tentado contatar Grover antes. Eu nem sabia se iria funcionar se
ele estivesse acordado. Ei, Grover! Pensei. Streppe está nos sequestrando! Ele é um maníaco atirador de espinhos! Ajude-me! Streppe nos levou para a mata. Nós seguimos
por um caminho de neve, palidamente iluminado por lamparinas antigas. Meu ombro doía. O vento soprando pelas minhas roupas rasgadas era tão frio que eu me senti
um picolé de Percy. "Tem uma clareira logo à frente," disse Streppe. "Vamos chamar seu transporte." "Transporte?" Bianca questionou. "Para onde está nos levando?"
"Calada, garota infeliz!" "Não fale assim com minha irmã." Disse Nico. Sua voz hesitou, mas fiquei impressionado por ele ter coragem de sequer dizer algo. Dr. Streppe
fez um som parecido com um rugido, que definitivamente não era humano. Fez os cabelos da base do meu pescoço se arrepiarem, mas me forcei a continuar andando e fingir
que eu era um bom refém... Enquanto isso projetava loucamente meus pensamentos -- tudo para conseguir a atenção de Grover: Grover! Maçãs! Latas de tinta! Traz o
seu traseiro de bode peludo aqui e traga amigos fortemente armados! "Alto," disse Streppe. A floresta tinha se aberto. Chegamos a um penhasco que dava vista para
o mar. Ao menos, eu senti o mar lá embaixo, centenas de metros abaixo. Eu podia ouvir ondas se agitando e podia sentir a brisa fria e salgada. Mas tudo que podia
ver era escuridão e neblina. Dr. Streppe nos empurrou contra a beirada. Eu tropecei, e Bianca me segurou. "Obrigado," murmurei. "O que é ele?" ela sussurrou. "Como
o enfrentamos?" "Eu... tô pensando nisso." "Estou com medo," Nico murmurou. Ele estava segurando algo -- um pequeno soldado de metal de brinquedo. "Calados!" Dr.
Streppe disse. "Olhem para mim!" Nós viramos.

Os olhos bicolores de Streppe brilharam de fome. Ele puxou algo de dentro do casaco. Primeiro pensei ser um canivete, depois percebi que era apenas um telefone.
Ele apertou um botão lateral e disse, "A mercadoria -- está pronta para entrega." Teve uma resposta truncada, e percebi que Streppe estava no modo walkie-talkie.
Isso parecia muito moderno e assustador -- um monstro usando celular. Eu olhei para trás, imaginando o tamanho da queda. Dr. Streppe riu. "Vá, Filho de Poseidon.
Pule! Ali está o mar. Salve-se." "Do que ele te chamou?" Bianca perguntou. "Eu explico depois," respondi. "Você tem um plano, certo?" Grover! Pensei desesperado.
Venha até mim! Talvez eu conseguisse fazer os di Angelo pularem comigo no oceano. Se sobrevivêssemos à queda, eu podia usar a água para nos proteger. Eu já fiz coisas
assim antes. Se meu pai estivesse de bom humor, e ouvindo, ele podia ajudar. Talvez. "Eu o mataria antes de você alcançar a água," disse Dr. Streppe, como se estivesse
lendo meus pensamentos. "Você não sabe quem eu sou, sabe?" Um pequeno movimento atrás dele, e outro míssel assobiou tão perto de mim, que raspou na minha orelha.
Algo estalou atrás do Dr. Streppe -- como uma catapulta, mas mais flexível... quase como um rabo. "Infelizmente," disse Streppe, "pediram por você vivo. Senão, você
já estaria morto." "Quem?" Bianca exigiu. "Porque se você acha que vai conseguir resgate, você está errado. Nós não temos família. Nico e eu..." Seu tom de voz diminuiu.
"Não temos ninguém salvo um ao outro." "Hum," disse Dr. Streppe. "Não se preocupem, pentelhos. Vocês vão conhecer meu empregador logo. Então, terão uma família novinha
em folha." "Luke," eu disse. "Você trabalha para o Luke." A boca do Dr. Streppe se mexeu com desgosto quando eu disse o nome do meu antigo inimigo -- um antigo amigo
que tentou me matar algumas vezes. "Você não tem ideia do que está acontecendo, Perseus Jackson. Eu vou deixar o General lhe contar. Você vai lhe fazer um grande
favor esta noite. Ele está ansioso para conhecê-lo." "O General?" Perguntei. Depois eu percebi que falei com sotaque francês. "Quer dizer... quem é o General?" Streppe
olhou para o horizonte. "Ah, finalmente. Seu transporte." Eu me virei e vi uma luz à distância, uma luz procurando algo, sobre o mar. Depois ouvi o barulho de pás
de helicóptero, cada vez mais alto e perto. "Para onde está nos levando?" perguntou Nico. "Você deveria se sentir honrado, garoto. Terá a oportunidade de se juntar
a um grande exército! Assim como aquele joguinho bobo que você brinca com cartas e bonecas." "Não são bonecas! São miniaturas! E você pode pegar seu grande exército
e --" "Não, não," Dr. Streppe interrompeu. "Você vai mudar de ideia sobre se unir a nós, garoto. E se você não quiser, bem... existem outras finalidades para meio-sangues.
Temos várias bocas monstruosas para alimentar. A Grande Agitação está vindo." "A Grande o quê?" perguntei. Tudo para fazê-lo falar enquanto pensava em um plano.
"O movimento de monstros," Dr. Streppe sorriu malignamente. "Os piores que existem, os mais poderosos, estão acordando. Monstros que não são vistos há milhares de
anos. Eles vão causar mortes e destruição do tipo que mortais nunca viram antes. E logo teremos o mais importante monstro de todos -- aquele que trará a queda do
Olimpo!" "Certo," Bianca sussurrou para mim. "Ele é maluco." "Nós temos que pular do penhasco," Falei para ela baixinho. "No mar." "Ah, boa ideia. Você é louco também."

Eu nunca tive a chance de tentar convencê-la, porque justo naquele momento, uma força invisível bateu em mim. Prestando atenção, os movimentos de Annabeth foram
brilhantes. Usando seu boné de invisibilidade, ela empurrou a mim e aos di Angelo nos jogando no chão. Por um segundo, Dr. Streppe foi pego de surpresa, então, sua
primeira chuva de mísseis passou inofensivamente pelas nossas cabeças. Isso deu a Thalia e Grover uma chance de avançar pelas costas -- Thalia equipada com seu escudo
mágico, Aegis. Se você nunca viu Thalia em direção à batalha, você nunca ficou verdadeiramente assustado. Ela usa uma lança imensa que expande a partir de um bastão
extensível que ela carrega no bolso, mas isso não é a parte assustadora. O escudo é uma cópia baseada em um que seu pai Zeus usa -- também chamado Aegis -- um presente
de Atena. O escudo tem a cabeça da górgona Medusa moldada em bronze, e mesmo que não vá te transformar em pedra, é horrível. Várias pessoas entrariam em pânico e
correriam assim que o vissem. Mesmo Dr. Streppe estremeceu e rugiu quando o viu. Thalia atacou empunhando sua lança. "Por Zeus!" Eu pensei que Dr. Streppe já era.
Thalia estocou em sua cabeça, mas ele rosnou e golpeou a lança para longe. Sua mão se transformou em uma pata laranja, com garras enormes que soltaram fagulhas contra
o escudo de Thalia durante o golpe. Se não fosse por Aegis, Thalia teria sido fatiada como um pedaço de pão. Como foi ela conseguiu rolar para trás e cair de pé.
O som do helicóptero estava ficando mais alto atrás de mim, mas não me atrevi a olhar. Dr. Streppe lançou outra chuva de mísseis contra Thalia, e dessa vez, eu consegui
ver como ele fez. Ele tinha um rabo -- de couro, parecido com o de escorpião com espinhos eriçados na ponta. Os mísseis rebateram em Aegis, mas a força do impacto
derrubou Thalia. Grover saltou à frente. Ele colocou sua flauta nos lábios e começou a tocar -- uma melodia frenética que parecia algo que piratas dançariam. Grama
surgiu da neve. Em segundos, cordas grossas de erva daninha se prenderam nas pernas do Dr. Streppe, imobilizando-o. Dr. Streppe urrou e começou a se transformar.
Ele cresceu até estar na sua verdadeira forma -- sua face ainda era humana, mas seu corpo era de um imenso leão. Seu rabo espinhento chicoteou espinhos assassinos
em todas as direções. "Uma mantícora!" Annabeth disse, agora visível. Seu boné mágico dos New York Yankees caiu quando ela pulou sobre nós. "Quem são vocês?" Bianca
di Angelo exigiu uma resposta. "E o que é aquilo?" "Uma mantícora?" Nico engasgou. "Ele tem três mil pontos de ataque e mais cinco para lançamentos!" Eu não sabia
o que ele estava falando, mas não tinha tempo para me preocupar com isso. A mantícora arrebentou com as garras as cordas mágicas de Grover em retalhos e se virou
para nós com um rosnado. "Abaixem-se!" Annabeth empurrou os di Angelo na neve. No último segundo, eu me lembrei do meu escudo. Eu encostei no meu relógio de pulso,
e um trançado de metal se espiralou em um grosso escudo de bronze. No momento exato. Os espinhos bateram contra o escudo com tanta força, que amassou o metal. O
belíssimo escudo, um presente do meu irmão, estava muito danificado. Eu não sabia nem se conseguiria defender um segundo ataque. Ouvi um track e um guincho, e Grover
pulou ao meu lado com um baque. "Rendam-se!" gritou o monstro.

"Nunca!" Thalia gritou do outro lado do campo de batalha. Ela se lançou na direção do monstro, e por um segundo, achei que ela passaria direto por ele. Mas então
veio o som de um trovão e um raio de luz atrás de nós. O helicóptero apareceu pela neblina, pairando logo adiante do penhasco. Era lustroso, preto, em estilo militar
totalmente armado, com anexos dos lados que pareciam mísseis guiados a laser. O helicóptero tinha que ser manejado por mortais, mas o que estava fazendo aqui? Como
mortais podiam estar trabalhando com monstros? A luz cegou Thalia, e a mantícora a jogou para longe usando o rabo. O escudo voou pela neve. A lança voou na outra
direção. "Não!" Corri para ajudá-la. Desviei um espinho logo antes de acertar o peito dela. Levantei meu escudo sobre nós, mas sabia que não seria o bastante. Dr.
Streppe riu, "Agora percebe como não há esperanças? Rendam-se, pequenos heróis." Estávamos em uma cilada, entre o monstro e um helicóptero totalmente armado. Não
havia chances. Então ouvi um som claro e agudo: o chamado de uma corneta de caça, sendo tocada na mata. A mantícora parou. Por um momento ninguém se moveu. Só o
barulho da neve caindo, do vento e das pás do helicóptero. "Não," Dr. Streppe disse. "Não pode ser --" Sua frase foi interrompida quando alguma coisa passou por
mim como um feixe do luar. Uma flecha de prata brilhante brotou no ombro do Dr. Streppe. Ele cambaleou, gritando em agonia. "Malditos sejam!" Streppe gritou. Ele
liberou seus espinhos, dúzias deles de uma só vez na mata, na direção de onde veio a flecha, logo em seguida, flechas prateadas foram atiradas como resposta. Foi
quase como se as flechas tivessem interceptado os espinhos no ar, e os cortado em dois, mas meus olhos devem ter me pregado peças. Ninguém, nem os filhos de Apolo
no acampamento, podiam atirar com tanta precisão. A mantícora puxou a flecha de seu ombro com um grito de dor. Sua respiração estava mais pesada. Tentei acertá-lo
com minha espada, mas ele não estava tão ferido quanto parecia. Ele desviou os meus ataques e bateu seu rabo contra meu escudo, jogando-me de lado. Então os arqueiros
saíram da mata. Eram garotas, um dúzia delas pelo menos. A mais nova devia ter 10 anos. A mais velha, uns catorze, como eu. Elas usavam casacos de esqui e jeans,
e todas estavam armadas com arcos. Elas avançaram em direção à mantícora com expressão determinada. "As Caçadoras!" Annabeth gritou. Ao meu lado, Thalia resmungou,
"Ah, maravilha." Eu não tive chance de perguntar o que ela queria dizer. Uma das arqueiras mais velhas deu um passo à frente com seu arco na mão. Ela era alta e
graciosa com pele em tom de cobre. Diferente das outras, ela tinha um tiara prateada entrelaçada no alto de seus longos cabelos negros, de forma que ela parecia
um tipo de princesa persa. "Permissão para matar, minha senhora?" Eu não podia ver com quem ela falava, porque ela mantinha os olhos na mantícora. O monstro lamentou.
"Não é justo! Interferência direta! É contra as Leis Antigas." "Não mesmo," outra garota disse. Essa era um pouco mais nova do que eu, talvez doze ou treze anos.
Ela tinha cabelo castanho avermelhado preso atrás em um rabo de cavalo e olhos estranhos, amarelos prateados como a lua. Seu rosto era tão bonito que me tirou o
fôlego, mas sua expressão era firme e perigosa. "A caça de todas as bestas selvagens

está no meu âmbito. E você, criatura abominável, é uma besta selvagem." Ela olhou para a garota mais velha com a tiara. "Zoe, permissão concedida." A mantícora rugiu.
"Se não posso tê-los vivos, eu os terei mortos!" Ele investiu em mim e Thalia, sabendo que estávamos fracos e atordoados. "Não," Annabeth gritou, e investiu na direção
do monstro. "Para trás, meio-sangue!" disse a garota com a tiara. "Sai da linha de tiro!" Mas Annabeth saltou nas costas do monstro e perfurou sua juba com uma faca.
A mantícora uivou, girou em círculos com seu rabo balançando enquanto Annabeth se segurava como se sua vida dependesse disso. "Fogo!" Zoe ordenou. "Não!" eu gritei.
Mas as Caçadoras fizeram suas flechas voarem. A primeira acertou o pescoço da mantícora. Outra acertou seu tórax. A mantícora cambaleou para trás, gemendo, "Isso
não é o fim, Caçadoras! Vocês pagarão por isso!" E antes que alguém pudesse reagir, o monstro, com Annabeth ainda nas suas costas, saltou do penhasco e caiu na escuridão.
"Annabeth!" gritei. Eu comecei a correr na direção dela, mas nossos inimigos ainda tinham planos para nós. Houve um snap-snap-snap vindo do helicóptero -- barulho
de tiros. A maioria das Caçadoras se dispersou em pequenos buracos na neve a seus pés, mas a garota de cabelo castanho avermelhado apenas olhou calmamente para o
helicóptero. "Mortais," ela anunciou, "não têm o direito de testemunhar minha caçada." Ela levantou a mão, e o helicóptero explodiu, sendo reduzido à poeira -- não,
não era poeira. O metal negro se dissolveu em um bando de pássaros -- corvos, que se dispersaram na noite. As Caçadoras vieram em nossa direção. Aquela chamada Zoe
parou assim que viu Thalia. "Tu," ela disse com repugnância. "Zoe Nightshade." A voz de Thalia tremeu de ódio. "Momento perfeito, como sempre." Zoe examinou o resto
de nós. "Quatro meio-sangues e um sátiro, minha senhora." "Sim," a garota mais nova disse. "Alguns dos campistas de Quíron, percebe-se." "Annabeth!" gritei. "Você
tem que nos deixar salvá-la!" A garota de cabelo castanho avermelhado virou-se na minha direção. "Sinto muito, Percy Jackson, mas sua amiga está além de nossa ajuda."
Eu lutei para ficar de pé, mas duas garotas me impediram. "Você não está em condições de se lançar de penhascos," disse a garota. "Deixe-me ir!" insisti. "Quem você
acha que é?" Zoe deu um passo à frente como se fosse me beijar. "Não," a outra garota ordenou. "Não sinto desrespeito, Zoe. Ele é simplesmente distraído. Ele não
entende." A jovem garota olhou para mim, seus olhos mais frios e brilhantes que a lua no inverno. "Eu sou Ártemis," ela disse. "Deusa da Caça."

TRÊS

BIANCA DI ANGELO FAZ UMA ESCOLHA
Depois de ver o Dr. Streppe se transformar em um monstro e cair em um precipício com Annabeth, você poderia achar que nada mais me chocaria. Mas quando esta garota
de doze anos de idade me disse que era a deusa Ártemis, eu disse algo inteligente como "Hum ... certo." Isso não foi nada comparado ao Grover. Ele engasgou, então
se ajoelhou apressadamente na neve e começou a tagarelar, "Obrigado, Lady Ártemis! Você está tão... você é tão... uau!" "Levante-se, menino-bode!" Thalia disse.
"Temos outras coisas para nos preocupar. Annabeth está desaparecida!" "Uau," Bianca di Angelo disse. "Espere aí. Só um minuto!" Todos olharam para ela. Ela apontou
o dedo para todos nós em volta, como se ela estivesse tentando ligar os pontos. "Quem... quem são vocês?" A expressão de Ártemis se suavizou. "Poderia fazer uma
pergunta melhor, minha querida menina, poderia perguntar quem é você! Quem são seus pais?" Bianca olhou nervosamente para seu irmão, que ainda estava olhando com
temor para Ártemis. "Nossos pais estão mortos," disse Bianca. "Somos órfãos. Há um fundo bancário que paga por nossa escola, mas..." Ela vacilou. Acho que ela podia
dizer por nossas expressões que não acreditamos nela. "O quê?" ela exigiu. "Estou dizendo a verdade." "Vós sóis meio-sangues." disse Zoe Nightshade. Era difícil
saber de onde era o seu sotaque. Soava antiquada, como se ela estivesse lendo de um livro realmente velho. "Um dos vossos pais era mortal. O outro era um Olimpiano."
"Um atleta... olímpico?" "Não," disse Zoe. "Um dos deuses." "Legal!" Nico disse. "Não!" a voz de Bianca tremeu. "Isto não é legal!" Nico dançou em volta como se
precisasse usar o banheiro. "Zeus tem mesmo relâmpagos que fazem seiscentos pontos de dano? Ele ganha pontos de movimento extras por --" "Nico, cale a boca!" Bianca
levou as mãos ao rosto. "Este não é o seu estúpido jogo Mythomagic, ok? Não há deuses!" Por mais que me sentisse ansioso com relação a Annabeth -- tudo o que eu
queria fazer era procurar por ela -- eu não pude evitar me sentir penalizado pelos di Angelo. Eu me lembrei como foi para mim quando eu soube que era um semideus.
Thalia deve ter sentido algo semelhante, pois a raiva nos seus olhos acalmou um pouco. "Bianca, eu sei que é difícil de acreditar. Mas os deuses ainda estão por
aí. Confie em mim. Eles são imortais. E quando eles têm filhos com humanos normais, crianças como nós, bem... Nossas vidas são perigosas." "Perigosas," disse Bianca,
"como a da menina que caiu." Thalia se afastou. Mesmo Ártemis olhou triste.

"Não se desespere por Annabeth," disse a deusa. "Ela foi uma corajosa donzela. Se ela puder ser encontrada, vou encontrá-la." "Então por que você não nos deixa ir
procurá-la?" eu perguntei. "Ela se foi. Você pode senti-la, Filho de Poseidon? Algumas magias estão em movimento. Eu não sei exatamente como ou por que, mas a sua
amiga desapareceu." Eu ainda queria saltar no precipício e procurar por ela, mas eu tive a sensação de que Ártemis estava certa. Annabeth se fora. Se ela estivesse
lá no mar, pensei, eu seria capaz de sentir a sua presença. "Ei!" Nico levantou a mão. "E sobre o Dr. Streppe? Foi incrível como você atirou nele com flechas! Ele
está morto?" "Ele era uma mantícora," disse Ártemis. "Esperemos que ele esteja destruído por agora, mas monstros nunca morrem verdadeiramente. Eles retornam de novo
e de novo, e devem ser caçados quando reaparecem." "Ou eles irão nos caçar," disse Thalia. Bianca di Angelo tiritou. "Isso explica... Nico, você se lembra do verão
passado, daqueles caras que tentaram nos atacar em um beco em DC?" "E aquele motorista de ônibus," disse Nico. "Com os chifres de carneiro. Eu disse a você que era
real." "É por isso que Grover tem observado vocês," eu disse. "Para mantê-los seguros, se vocês mostrassem ser meio-sangues." "Grover?" Bianca olhou fixamente para
ele. "Você é um semideus?" "Bem, um sátiro, na verdade." Ele tirou seus sapatos e mostrou seus cascos de bode. Pensei que Bianca fosse desmaiar bem ali. "Grover,
coloque os sapatos de volta," disse Thalia. "Você a está enlouquecendo." "Ei, meus cascos estão limpos!" "Bianca," eu disse, "nós viemos aqui para ajudar vocês.
Você e Nico precisam de treino para sobreviver. Dr. Streppe não será o último monstro que vocês vão conhecer. Vocês precisam vir para o acampamento." "Acampamento?"
ela perguntou. "Acampamento Meio-Sangue," eu disse. "É onde os meio-sangues aprendem a sobreviver e outras coisas. Vocês podem se juntar a nós, e ficar durante todo
o ano, se quiserem." "Ótimo, vamos lá!" Nico disse. "Espere," Bianca sacudiu sua cabeça. "Eu não --" "Há outra opção," disse Zoe. "Não, não há!" Thalia disse. Thalia
e Zoe se encararam. Eu não sabia sobre o que estavam falando, mas eu podia dizer que havia uma história ruim entre elas. Por alguma razão, elas seriamente se odiavam.
"Temos sobrecarregado essas crianças o suficiente," anunciou Ártemis. "Zoe, vamos descansar aqui por algumas horas. Arrume as barracas. Trate os feridos. Recupere
os pertences de nossos convidados na escola." "Sim, minha senhora." "E, Bianca, venha comigo. Gostaria de falar com você." "E quanto a mim?" Nico perguntou. Ártemis
considerou o menino. "Talvez você possa mostrar a Grover como se divertir com aquele jogo de cartas que você gosta. Tenho certeza que Grover ficaria feliz em entretê-lo
por um tempo... como um favor para mim?" Grover tropeçou, tentando se levantar. "Pode apostar! Vamos, Nico!"

Nico e Grover saíram em direção à floresta, falando sobre bater pontos e classificação de armaduras e um monte de outras coisas nerds. Ártemis levou uma Bianca que
parecia confusa ao longo do precipício. As caçadoras começaram a abrir suas mochilas e montar o acampamento. Zoe lançou mais um olhar zangado para Thalia, depois
saiu para supervisionar as coisas. Logo que ela tinha ido embora, Thalia remexeu seu pé com frustração. "Que raiva dessas caçadoras! Elas acham que são tão... Argh!"
"Estou com você," eu disse. "Eu não confio --" "Ah, você está comigo?" Thalia se virou pra mim furiosamente. "O que estava pensando lá no ginásio, Percy? Você teria
capturado Dr. Streppe totalmente sozinho? Você sabia que ele era um monstro!" "Se tivéssemos ficado juntos poderíamos tê-lo pego sem o envolvimento das Caçadoras.
E Annabeth poderia ainda estar aqui. Você pensou nisso?" Meu maxilar rangeu. Pensei em algumas coisas duras para dizer, e eu poderia tê-las dito também, mas então
olhei para baixo e vi uma coisa azul marinho na neve a meus pés. O boné de beisebol dos New York Yankees de Annabeth. Thalia não disse mais nada. Ela limpou uma
lágrima de seu rosto, virou-se, e marchou ao largo, deixando-me sozinho com um boné pisoteado na neve. As Caçadoras armaram seu acampamento em uma questão de minutos.
Sete grandes tendas, todas de seda prateada, em uma curva crescente de um dos lados de uma fogueira. Uma das meninas soprou um apito canino prata, e uma dúzia de
lobos brancos apareceram do bosque. Eles começaram a circular o acampamento como cães de guarda. As caçadoras andavam entre eles os alimentando e tratando, completamente
sem medo, mas eu decidi me manter perto das barracas. Falcões nos observavam das árvores, os seus olhos cintilando na luz do fogo, e eu tive a sensação de que eles
estavam de guarda, também. Mesmo o clima parecia se dobrar à vontade da deusa. O ar ainda estava frio, mas o vento morreu e a neve parou de cair, por isso era quase
agradável sentar perto do fogo. Quase... exceto pela dor no meu ombro e a culpa me pesando no chão. Eu não podia acreditar que Annabeth se fora. E mesmo tão irritado
como eu estava com Thalia, eu tinha uma sensação que me afundava de que ela estava certa. A culpa foi minha. O que Annabeth quis me dizer no ginásio? Algo sério,
ela tinha dito. Agora eu poderia nunca descobrir. Pensei sobre como tínhamos dançado juntos pela metade de uma canção, e meu coração se sentiu ainda mais pesado.
Vi Thalia remexendo na neve da beira do campo, andando entre os lobos sem medo. Ela parou e olhou para trás para Westover Hall, que agora estava completamente escuro,
assomando na encosta além da floresta. Imaginei sobre o que ela estaria pensando. Sete anos atrás, Thalia tinha sido transformada em um pinheiro por seu pai, para
evitar que ela morresse. Ela se defendeu contra um exército de monstros no topo da Colina Meio-Sangue para dar a seus amigos Luke e Annabeth tempo para fugir. Ela
voltou a ser humana há apenas alguns meses, e de vez em quando ela ia repousar tão imóvel que você poderia pensar que ela ainda era uma árvore. Finalmente, uma das
caçadoras trouxe a minha mochila. Grover e Nico voltaram da sua caminhada, e Grover me ajudou a consertar meu braço ferido. "É verde!" Nico disse com alegria. "Fique
quieto," Grover me disse. "Aqui, coma alguma ambrosia enquanto eu limpo isso."

Eu estremeci enquanto ele limpava a ferida, mas o pedaço de ambrosia ajudou. O sabor era de bolo caseiro, dissolvendo em minha boca e enviando uma calorosa sensação
pelo meu corpo inteiro. Entre isso e a mágica pomada que Grover utilizou, senti meu ombro melhor dentro de dois minutos. Nico remexeu através da sua própria mochila,
que as caçadoras tinham embalado por ele, mas como elas tinham escapado do Westover Hall sem ser vistas, eu não sabia. Nico colocou um monte de estatuetas na neve
-- pequenas réplicas de batalhas de deuses e heróis gregos. Reconheci Zeus com um relâmpago, Ares com uma lança, Apolo com sua carruagem solar. "Grande coleção,"
disse. Nico sorriu. "Eu tenho quase todos eles, mais as suas cartas holográficas! Bem, exceto por algumas realmente raras." "Você começou a jogar isso há muito tempo?"
"Somente este ano. Antes que..." Ele juntou suas sobrancelhas. "O quê?" eu perguntei. "Eu esqueço. Isso é estranho." Ele pareceu abalado, mas não durou muito. "Ei,
posso ver aquela espada que você estava usando?" Eu lhe mostrei Contracorrente, e expliquei como ela se transformava de uma caneta em uma espada bastando retirar
a tampa. "Legal! Será que nunca acaba a tinta?" "Hum, bem, eu realmente não escrevo com ela." "Você é realmente o filho de Poseidon?" "Bem, sim." "Você pode surfar
muito bem, então?" Olhei para Grover, que com dificuldade tentava não rir. "Caramba, Nico," eu disse. "Eu nunca tentei realmente." Ele continuou fazendo perguntas.
Eu brigava muito com Thalia, uma vez que ela era uma filha de Zeus? (Eu não respondi essa). Se a mãe de Annabeth era Atena, a deusa da sabedoria, então por que Annabeth
não sabia nada melhor do que cair de um precipício? (Tentei não estrangular Nico por ter perguntado isso). Annabeth era a minha namorada? (Neste ponto, eu estava
pronto para colocar a criança em um saco sabor carne e atirá-lo para os lobos.) Imaginei que a qualquer momento ele iria me perguntar quantos pontos de dano eu tinha,
e eu perderia o controle completamente, mas então, Zoe Nightshade veio até nós. "Percy Jackson." Ela tinha olhos castanhos escuros e um nariz ligeiramente empinado.
Com sua tiara prateada e expressão orgulhosa, ela parecia tanto com realeza que eu tive de resistir ao impulso de me sentar reto e dizer "Sim, minha senhora." Ela
me estudou com desgosto, como se eu fosse um saco de roupa suja que ela tinha sido enviada para buscar. "Vem comigo," disse ela. "Lady Ártemis deseja falar contigo."
Zoe me levou para a última barraca, que não parecia diferente das outras, e acenou para que eu entrasse. Bianca di Angelo estava sentada ao lado da menina de cabelo
castanho avermelhado, que eu ainda tinha problemas em pensar como sendo Ártemis. O interior da tenda estava quente e confortável. Tapetes de seda e almofadas cobriam
o chão. No centro, um braseiro de ouro parecia queimar sem combustível ou fumaça. Por trás da deusa, em um aparato de carvalho polido, estava o seu grande arco de
prata, esculpido para se assemelhar aos chifres de uma gazela. Penduradas nas paredes

estavam peles de animais: urso preto, tigre, e vários outros que eu não reconheci. Achei que um ativista dos direitos dos animais teria um ataque cardíaco ao olhar
para todas aquelas peles raras, mas talvez uma vez que Ártemis era a deusa da caça, ela podia reabastecer o que ela tenha tirado. Pensei que ela tinha outra pele
de animal estendida ao lado dela, e então eu percebi que era um animal vivo -- um veado com pelo brilhante e chifres prateados, sua cabeça descansando contente no
colo de Ártemis. "Junte-se a nós, Percy Jackson," disse a deusa. Eu me sentei em frente a ela no chão da tenda. A deusa me estudou, o que me deixou desconfortável.
Para uma menina ela tinha os olhos de um velho. "Você está surpreso com a minha idade?" ela perguntou. "Uh... um pouco." "Eu poderia aparecer como uma mulher crescida,
ou como fogo resplandecente, ou qualquer outra coisa que eu quisesse, mas é isso que eu prefiro. Esta é a média de idade das minhas Caçadoras, e de todas as jovens
donzelas para quem eu sou patrona, antes que elas se extraviem." "Se extraviem?" perguntei. "Cresçam. E convivam com rapazes. Tornem-se tolas, preocupadas, inseguras.
Esqueçam de si." "Ah." Zoe se sentou à direita de Ártemis. Ela olhou para mim como se todas as coisas que Ártemis tinha acabado de falar fossem minha culpa, como
se eu tivesse inventado a ideia de ser um rapaz. "Você deve perdoar minhas caçadoras por não recebê-lo bem," disse Ártemis. "É muito raro que tenhamos rapazes neste
campo. Meninos são geralmente proibidos de ter qualquer contato com as Caçadoras. O último a ver este acampamento..." Ela olhou para Zoe. "Qual foi?" "O rapaz no
Colorado," disse Zoe. "Tu o transformaste em uma lebre-antílope." "Ah, sim." Ártemis acenou com a cabeça, satisfeita. "Gosto de fazer lebres-antílopes. De qualquer
forma, Percy, eu o chamei aqui para que você possa me dizer mais sobre a mantícora. Bianca tem relatado algumas das... mmm, perturbadoras coisas que o monstro disse.
Mas ela pode não tê-las entendido. Gostaria de ouvi-las de você." Então eu contei a ela. Quando terminei, Ártemis pôs a mão sobre seu arco pensativamente. "Eu temia
que essa fosse a resposta." Zoe sentou mais a frente. "O cheiro, minha senhora?" "Sim." "Que cheiro?" perguntei. "As coisas que estão em movimento não são caçadas
por mim em milênios," Ártemis murmurou. "Presas tão antigas que quase me esqueci delas." Ela me encarou atentamente. "Nós viemos aqui hoje à noite monitorando a
mantícora, mas ele não era o que eu procurava. Diga-me uma vez mais, exatamente o que o Dr. Streppe disse." "Hum, `Eu odeio bailes colegiais'." "Não, não. Depois
disso." "Ele disse que alguém chamado o General iria explicar as coisas para mim." O rosto de Zoe empalideceu. Ela se virou para Ártemis e começou a dizer algo,
mas Ártemis levantou a sua mão. "Vá em frente, Percy," disse a deusa. "Bem, então Streppe estava falando sobre o Grande Turbilhão --" "Agitação," Bianca corrigiu.

"Sim. E ele disse `Em breve teremos o mais importante monstro de todos -- o que deve provocar a queda do Olimpo'." A deusa ficou tão imóvel que poderia ser uma estátua.
"Talvez ele estivesse mentindo," eu disse. Ártemis balançou a cabeça. "Não. Ele não estava. Eu fui demasiado lenta para ver os sinais. Devo caçar esse monstro."
Zoe parecia estar se esforçando muito para não ter medo, mas ela assentiu. "Vamos partir imediatamente, minha senhora." "Não, Zoe. Devo fazer isso sozinha." "Mas,
Ártemis --" "Esta tarefa é muito perigosa mesmo para as Caçadoras. Você sabe onde devo iniciar minha busca. Você não pode ir lá comigo." "Como... como desejar, minha
senhora." "Vou encontrar essa criatura," Ártemis jurou. "E vou trazê-la de volta para o Olimpo no solstício de inverno. Isso será toda a prova de que preciso para
convencer o Conselho dos Deuses do quanto estamos em perigo." "Você sabe o que o monstro é?" perguntei. Ártemis apertou seu arco. "Rezemos para que eu esteja errada."
"Deuses podem rezar?" perguntei, porque eu realmente nunca havia pensado sobre isso. A cintilação de um sorriso brincou pelos lábios de Ártemis. "Antes de ir, Percy
Jackson, eu tenho uma pequena missão para você." "Envolve ser transformado em uma lebre-antílope?" "Infelizmente, não. Quero que escolte as Caçadoras de volta para
o Acampamento Meio-Sangue. Elas podem ficar lá em segurança até que eu retorne." "O quê?" Zoe disse abruptamente. "Mas, Ártemis, nós odiamos aquele lugar. A última
vez que ficamos lá --" "Sim, eu sei," disse Ártemis. "Mas eu tenho certeza que Dioniso não vai guardar rancor apenas por causa de um pequeno, ah, mal-entendido.
É o seu direito utilizar o Chalé Oito sempre que necessitarem. Além disso, soube que eles reconstruíram os chalés que você queimou." Zoe murmurou algo sobre campistas
insensatos. "E agora há uma última decisão a ser feita." Ártemis se virou para Bianca. "Você fez a sua escolha, minha menina?" Bianca hesitou. "Eu ainda estou pensando
nisso." "Espere," eu disse. "Pensando sobre o quê?" "Elas... elas me convidaram para me unir à Caça." "O quê? Mas você não pode! Você tem que vir para o Acampamento
Meio-Sangue para que Quíron possa treinar você. É a única maneira para você aprender a sobreviver." "Este não é o único caminho para uma garota," disse Zoe. Eu não
podia acreditar que estava ouvindo isso. "Bianca, o acampamento é legal! Ele tem um estábulo com pégasos e uma arena de combate e... Quero dizer, o que você ganha
ao aderir às Caçadoras?" "Para começar," disse Zoe, "imortalidade." Eu a encarei, e depois a Ártemis. "Ela está brincando, certo?" "Zoe raramente brinca sobre o
que quer que seja," disse Ártemis. "Minhas Caçadoras me seguem em minhas aventuras. Elas são minhas servas, minhas companheiras, minhas irmãs-em-armas. Uma vez que
juram fidelidade a mim, elas se tornam realmente imortais... a menos que caiam em batalha, o que é pouco provável. Ou quebrem seu juramento." "Qual juramento?" eu
disse.

"Para esquecer o amor romântico para sempre," disse Ártemis. "Para nunca crescer, nunca se casar. Para ser uma donzela eternamente." "Como você?" A deusa concordou.
Tentei imaginar o que ela estava dizendo. Ser imortal. Passar meu tempo somente com garotas em idade escolar para sempre. Eu não conseguia formular meus pensamentos
em torno disso. "Então você só vai pelo país recrutando garotas meio-sangues --" "Não só meio-sangues," Zoe interrompeu. "Lady Ártemis não discrimina por nascimento.
Todas que honram a deusa podem aderir. Meio-sangues, ninfas, mortais -- " "Qual é você, então?" Raiva lampejou nos olhos de Zoe. "Isso não te diz respeito, rapaz.
O ponto é que Bianca pode aderir se ela quiser. A escolha é dela." "Bianca, isso é loucura," eu disse. "E com relação ao seu irmão? Nico não pode ser um caçador."
"Certamente não," concordou Ártemis. "Ele vai para o acampamento. Infelizmente, isso é o melhor que meninos podem fazer." "Ei!" protestei. "Você pode vê-lo de vez
em quando," Ártemis assegurou a Bianca. "Mas você estará livre de responsabilidade. Ele terá os conselheiros do acampamento para cuidar dele. E você terá uma nova
família. Conosco." "Uma nova família," Bianca repetiu sonhadoramente. "Livre de responsabilidade." "Bianca, você não pode fazer isso," falei. "É loucura." Ela olhou
para Zoe. "Vale a pena?" Zoe acenou. "Sim." "O que tenho que fazer?" "Dize isso," Zoe explicou a ela, "eu me submeto à deusa Ártemis." "Eu... eu me submeto à deusa
Ártemis." "Eu abandono a companhia dos homens, aceito eterna virgindade, e me junto à Caça." Bianca repetiu as linhas. "É isso?" Zoe concordou. "Se Lady Ártemis
aceitar tua submissão, então é obrigatório." "Eu aceito," disse Ártemis. As chamas no braseiro se alegraram, lançando um brilho prateado sobre a sala. Bianca não
parecia diferente, mas ela respirou fundo e abriu seus olhos amplamente. "Eu me sinto... mais forte." "Bem-vinda, irmã," disse Zoe. "Lembre-se de seu juramento,"
disse Ártemis. "Agora é a sua vida." Eu não podia falar. Senti-me como um transgressor. E um completo fracasso. Eu não podia acreditar que eu vim de tão longe e
sofri tanto apenas para perder Bianca para algum clube eterno de garotas. "Não se desespere, Percy Jackson," disse Ártemis. "Você ainda vai poder mostrar aos di
Angelo seu acampamento. E se Nico assim escolher, ele pode ficar lá." "Ótimo," disse, tentando não soar ríspido. "Como se supõe que cheguemos lá?" Ártemis fechou
os olhos. "A alvorada está se aproximando. Zoe, levante acampamento. Você deve ir para Long Island com rapidez e segurança. Vou convocar uma carona do meu irmão."
Zoe não pareceu muito feliz com essa ideia, mas ela concordou e disse a Bianca para segui-la. Quando ela estava saindo, Bianca parou na minha frente. "Eu sinto muito,
Percy. Mas eu quero isso. Eu realmente, realmente quero."

Então ela tinha ido embora, e eu fui deixado sozinho com a deusa de doze anos de idade. "Então," eu disse mal-humorado. "Vamos pegar uma carona com seu irmão, hein?"
Os olhos prata de Ártemis cintilaram. "Sim, garoto. Está vendo, Bianca di Angelo não é a única com um irmão irritante. Está na hora de você conhecer o meu irresponsável
gêmeo, Apolo."

QUATRO

THALIA INCENDEIA A NOVA INGLATERRA
Ártemis nos assegurou que o amanhecer estava chegando, mas você poderia ter me enganado. Estava mais frio e mais escuro e nevando mais do que nunca. No alto da colina,
as janelas de Westover Hall estavam completamente apagadas. Eu me perguntei se os professores teriam notado que os di Angelo e o Dr. Streppe ainda estavam desaparecidos.
Eu não queria estar por perto quando notassem. Com a minha sorte, o único nome que a Srta. Tengiz se lembraria seria "Percy Jackson," e então eu seria o objeto de
uma caçada humana por todo o país... de novo. As Caçadoras desmontaram acampamento mais rápido do que o montaram. Eu fiquei tremendo na neve (diferente das Caçadoras,
que não pareciam sentir qualquer desconforto), e Ártemis encarava o leste como se ela estivesse esperando por algo. Bianca estava sentada a um canto, conversando
com Nico. Eu poderia dizer pelo semblante carregado dele que ela estava explicando sua decisão de se juntar à Caça. Eu não pude evitar pensar o quão egoísta ela
era, abandonando o irmão daquela forma. Thalia e Grover vieram e se comprimiram junto a mim, ansiosos em ouvir o que aconteceu em minha audiência com a deusa. Quando
eu disse a eles, Grover empalideceu. "A última vez que as Caçadoras visitaram o acampamento, as coisas não correram bem." "Como elas apareceram aqui?" eu me admirei.
"Quero dizer, elas simplesmente surgiram do nada." "E Bianca se juntou a elas," Thalia disse, aborrecida. "É tudo culpa de Zoe. Aquela exibida, malvada --" "Quem
pode culpá-la?" Grover disse. "Eternidade com Ártemis?" Ele soltou um pesado suspiro. Thalia rolou os olhos. "Sátiros. Vocês estão todos apaixonados por Ártemis.
Você não percebe que ela nunca vai te amar em resposta?" "Mas ela é tão... natural," Grover desfaleceu. "Você é louco," disse Thalia. "Louco e lunático," Grover
disse sonhadoramente. "É." Finalmente o céu começou a clarear. Ártemis murmurou, "Já não era sem tempo. Ele é tã-ã-ão lento durante o inverno." "Você está, hum,
esperando pelo nascer do sol?" eu perguntei. "Pelo meu irmão. Sim." Eu não tive a intenção de ser rude. Quero dizer, eu conhecia as lendas sobre Apolo -- ou às vezes
Hélios -- dirigindo uma grande carruagem solar pelo céu. Mas eu também sabia que o sol era realmente uma estrela distante um zilhão de milhas. Eu me acostumei a
alguns mitos gregos serem verdade, mas ainda assim... eu não conseguia ver como Apolo poderia dirigir o sol. "Não é exatamente como você pensa," Ártemis disse, como
se ela estivesse lendo minha mente.

"Ah, certo." Eu comecei a relaxar. "Então, não é como se ele fosse chegar puxando uma --" Houve uma súbita explosão de luz no horizonte. Um sopro de calor. "Não
olhe," Ártemis advertiu. "Não até que ele estacione." Estacione? Eu desviei meus olhos, e vi que os outros garotos estavam fazendo a mesma coisa. A luz e o calor
se intensificaram até que meu casaco de inverno pareceu estar derretendo em mim. Então de repente a luz cessou. Eu olhei. E não pude acreditar. Era o meu carro.
Bem, o carro que eu queria, de qualquer forma. Um Maserati Spyder vermelho conversível. Era tão impressionante que brilhava. Então eu percebi que brilhava porque
o metal estava quente. A neve havia derretido em volta do Maserati em um círculo perfeito, o que explicava por que eu estava agora sobre grama verde e meus sapatos
estavam úmidos. O motorista desceu, sorrindo. Ele parecia ter dezessete ou dezoito anos, e por um segundo eu tive a sensação inquietante de que era Luke, meu antigo
inimigo. Este rapaz tinha o mesmo cabelo arenoso e aparência boa e aventureira. Mas não era Luke. Este rapaz era mais alto, sem qualquer cicatriz em seu rosto como
Luke. Seu sorriso era mais brilhante e brincalhão. (Luke não fazia mais que carrancas e escárnio ultimamente). O motorista do Maserati vestia jeans e sapatos de
viagem e camiseta sem mangas. "Uau," Thalia murmurou. "Apolo é quente." "Ele é o deus do sol," eu disse. "Não foi o que eu quis dizer." "Irmãzinha!" Apolo chamou.
Se seus dentes fossem mais brancos ele poderia ter nos cegado sem o carro solar. "O que se passa? Você nunca liga. Você nunca escreve. Eu estava ficando preocupado!"
Ártemis suspirou. "Eu estou bem, Apolo. E eu não sou sua irmãzinha." "Ei, eu nasci primeiro." "Nós somos gêmeos! Quantos milênios nós vamos ter que discutir --"
"Então o que se passa?" ele interrompeu. "Tem as meninas com você, eu vejo. Vocês todas precisam de algumas dicas sobre arco?" Ártemis rangeu seus dentes. "Eu preciso
de um favor. Eu tenho uma caçada a fazer, sozinha. Eu preciso que você leve minhas companheiras para o Acampamento MeioSangue." "Claro, mana!" então ele ergueu suas
mãos em um gesto pára tudo. "Eu sinto um haiku vindo." Todas as Caçadoras gemeram. Aparentemente elas já conheciam Apolo. Ele limpou sua garganta e ergueu uma mão
dramaticamente. "Grama verde quebra através da neve. Ártemis pede por minha ajuda. Eu sou legal." Ele sorriu largamente para nós, esperando por aplausos. "Aquela
última linha tinha apenas quatro sílabas," Ártemis disse. Apolo amarrou a cara. "Tinha?" "Sim. Que tal eu sou cabeçudo?" "Não, não, aí são seis sílabas. Hmm." Ele
começou a murmurar consigo. Zoe Nightshade se virou para nós. "Lorde Apolo está nessa fase de haiku desde que visitou o Japão. Não é tão ruim como na vez em que
ele visitou Limerick. Se eu tiver que ouvir mais um poema que comece com Havia uma deusa de Esparta --"

"Consegui!" Apolo anunciou. "Eu sou terrível. São cinco sílabas!" Ele se inclinou, parecendo muito satisfeito consigo mesmo. "E agora, mana. Transporte para as Caçadoras,
você diz? Bom momento. Eu já estava pronto para rodar." "Esses semideuses também vão precisar de uma carona," Ártemis disse, apontando para nós. "Alguns campistas
do Quíron." "Sem problemas!" Apolo nos checou. "Vamos ver... Thalia, certo? Eu ouvi tudo sobre você." Thalia enrubesceu. "Oi, Lorde Apolo." "A garota de Zeus, sim?
Faz de você minha meia irmã. Costumava ser uma árvore, não é? Que bom que você voltou. Eu odeio quando garotas bonitas são transformadas em árvores. Cara, eu me
lembro de uma vez --" "Irmão," Ártemis disse. "Você deve ir." "Oh, certo." Então ele olhou para mim, e seus olhos se estreitaram. "Percy Jackson?" "É. Eu quero dizer...
sim, senhor." Parecia estranho chamar um adolescente de `senhor', mas eu havia aprendido a ser cuidadoso com imortais. Eles tendiam a se ofender facilmente. Então
eles arrebentavam coisas. Apolo me estudou, mas não disse nada, o que eu achei um pouco arrepiante. "Bem!" ele disse por fim. "É melhor carregarmos, huh? O percurso
só vai em um sentindo -- oeste. E se você perde, você perde." Eu olhei para o Maserati, no qual podiam se sentar duas pessoas no máximo. Havia aproximadamente vinte
de nós. "Carro legal," Nico disse. "Obrigado, garoto," Apolo falou. "Mas como nós todos vamos caber?" "Ah." Apolo pareceu notar o problema pela primeira vez. "Bem,
é. Eu odeio alterar o modo carro esportivo, mas eu suponho..." Ele tirou as chaves do carro e bipou o botão do alarme de segurança. Chirp, chirp. Por um momento,
o carro brilhou intensamente de novo. Quando o brilho cessou, o Maserati havia sido substituído por um daqueles furgões Turtle Top como os que usávamos para os jogos
de basquete da escola. "Certo," ele disse. "Todos dentro." Zoe ordenou às Caçadoras que começassem a carregar. Ela pegou sua mochila de acampar, e Apolo disse, "Aqui,
querida. Deixe-me levar isto." Zoe recuou. Seus olhos lampejaram perigosamente. "Irmão," Ártemis censurou. "Você não ajuda minhas Caçadoras. Você não olha, conversa
ou flerta com minhas Caçadoras. E você não as chama de querida." Apolo abriu suas mãos. "Desculpe. Esqueci. Ei, mana, de qualquer maneira, para onde você vai?" "Caçar,"
Ártemis disse. "Não é da sua conta." "Eu vou descobrir. Eu vejo tudo. Sei tudo." Ártemis bufou. "Apenas os deixe, Apolo. E sem ficar enrolando!" "Não, não! Eu nunca
enrolo." Ártemis rolou seus olhos, então olhou para nós. "Eu os verei no solstício de inverno. Zoe, você está no comando das Caçadoras. Faça bem. Faça como eu faria."
Zoe se endireitou. "Sim, minha senhora." Ártemis se ajoelhou e tocou o chão como se procurando por pistas. Quando se levantou, parecia preocupada. "Tanto perigo.
A besta deve ser encontrada." Ela disparou em direção ao bosque e se misturou à neve e às sombras.

Apolo se virou e sorriu, girando a chave do carro em seu dedo. "Então," ele disse. "Quem quer dirigir?" As Caçadoras se amontoaram no furgão. Elas todas se abarrotaram
nos fundos para que ficassem o mais longe possível de Apolo e do resto de nós males altamente infecciosos, Bianca se sentou com elas, deixando seu irmão mais novo
pendurado na frente conosco, o que me pareceu frio, mas Nico não pareceu se importar. "Isto é tão legal!" Nico disse, pulando para cima e para baixo no banco do
motorista. "Isto é realmente o sol? Eu pensei que Hélios e Selene eram os deuses do sol e da lua. Como pode ser às vezes eles e às vezes você e Ártemis?" "Redução
de custos," Apolo disse. "Os romanos começaram com isso. Eles não davam conta de todos aqueles templos de sacrifícios, então eles demitiram Hélios e Selene e vincularam
suas funções à nossa descrição de trabalho. Minha mana ficou com a lua. Eu com o sol. Era bem irritante no começo, mas pelo menos eu peguei este carro legal." "Mas
como isso funciona?" Nico perguntou. "Eu pensei que o sol fosse uma grande bola flamejante de gás!" Apolo riu entre os dentes e afagou os cabelos de Nico. "Este
rumor provavelmente começou porque Ártemis costumava me chamar de grande bola flamejante de gás. Sério, criança, isso depende se você está falando de astronomia
ou de filosofia. Você quer falar de astronomia? Bah, que graça há nisso? Você quer falar sobre como os humanos pensam sobre o sol? Ah, isso é mais interessante.
Eles têm muito que andar no sol... er, por assim dizer. Ele os mantém aquecidos, aumenta suas culturas, move motores, faz tudo parecer, bem, mais ensolarado. Este
carro foi construído fora do humano, sonhos sobre o sol, garoto. É tão velho quanto a Civilização Ocidental. Todos os dias, ele dirige através do céu de leste a
oeste, iluminando aquelas franzinas vidas mortais. O carro é uma manifestação do poder do sol, o modo como os mortais o percebem. Faz sentido?" Nico balançou sua
cabeça. "Não." "Então, bem, somente o veja como um poderoso, realmente perigoso, carro solar." "Posso dirigir?" "Não. Muito novo." "Oo! Oo!" Grover levantou sua
mão. "Mm, não," Apolo disse. "Muito peludo." Ele olhou além de mim e focou em Thalia. "Filha de Zeus!" ele disse. "Lorde dos céus. Perfeito." "Ah, não." Thalia balançou
sua cabeça. "Não, obrigada." "Vamos," Apolo disse. "Quantos anos você tem?" Thalia hesitou. "Eu não sei." Era triste, mas verdadeiro. Ela fora transformada em árvore
quando tinha doze anos, mas isso foi há sete anos. Então ela teria dezenove, se você contar pelos anos. Mas ela ainda sentia como se tivesse doze, e se você olhasse
para ela, ela parecia estar em algum lugar no meio. O melhor que Quíron pode deduzir foi que ela continuou a envelhecer enquanto estava como árvore, mas muito mais
devagar. Apolo bateu os dedos em seus lábios. "Você tem quinze, quase dezesseis." "Como você sabe isso?" "Ei, eu sou o deus da profecia. Eu sei coisas. Você vai
fazer dezesseis em cerca de uma semana." "É meu aniversário! Vinte e dois de dezembro." "O que significa que você tem agora idade suficiente para dirigir com uma
licença de aluno!"

Thalia mexeu seu pé nervosamente. "Hum --" "Eu sei o que você vai dizer," Apolo disse. "Você não merece a honra de dirigir o carro solar." "Isso não era o que eu
ia dizer." "Não se preocupe! Maine até Long Island é realmente uma viagem curta, e não se preocupe com o que aconteceu com a última criança que eu treinei. Você
é filha de Zeus. Ele não vai jogar você para fora do céu." Apolo riu naturalmente. O resto de nós não se juntou a ele. Thalia tentou protestar, mas Apolo absolutamente
não ia aceitar `não' como resposta. Ele apertou um botão no painel do carro, e um letreiro apareceu ao longo da parte superior do pára-brisa. Eu tive que lê-lo em
sentido contrário (o que, para um disléxico, realmente não é diferente do que ler para frente). Eu tinha certeza que dizia CUIDADO: MOTORISTA ESTUDANTE. "Tiro isso
daí!" Apolo disse a Thalia. "Vai ser natural para você!" Eu vou admitir que estava com inveja. Eu mal podia esperar para começar a dirigir. Algumas vezes naquele
outono, minha mãe me levou para Montauk quando a estrada da praia estava vazia, e ela me deixou tentar em seu Mazda. Quero dizer, é, era um compacto japonês, e este
é um carro solar, mas quão diferente poderia ser? "Velocidade igual calor," Apolo advertiu. "Então comece devagar, e tenha certeza que ganhou uma boa altitude antes
de você realmente acelerar." Thalia agarrou o volante com tanta força que seus nós ficaram brancos. Ela parecia que ia passar mal. "O que está errado?" perguntei
a ela. "Nada," ela disse tremulamente. "N-nada está errado." Ela puxou o volante. Ele se inclinou, e o furgão pulou adiante tão rápido que eu cai para trás e bati
em algo macio. "Ow," Grover disse. "Desculpe." "Mais devagar!" Apolo disse. "Desculpe!" Thalia falou. "Eu tenho tudo sob controle!" Eu consegui me levantar. Olhando
pela janela, eu vi um anel de árvores fumegando na clareira de onde decolamos. "Thalia," eu disse, "devagar com o acelerador." "Eu sei, Percy," ela falou, rangendo
seus dentes. Mas o manteve pressionado. "Fique calma," eu disse a ela. "Eu estou calma!" Thalia disse. Ela estava tão rígida que parecia que era feita de madeira
compensada. "Nós precisamos nos desviar para o sul para Long Island," Apolo disse. "Incline para a esquerda." Thalia deu um puxão no volante e novamente me jogou
em cima de Grover, que uivou. "A outra esquerda," Apolo sugeriu. Eu cometi o erro de olhar pela janela novamente. Nós estávamos na altura de aviões agora -- tão
alto que o céu começava a parecer escuro. "Ah..." Apolo disse, e tive a impressão de que ele estava se forçando a parecer calmo. "Um pouco mais baixo, querida. Cape
Cod está congelando." Thalia inclinou a direção. Sua face estava branca feito cal, sua nuca gotejava de suor. Algo definitivamente estava errado. Eu nunca a vi assim.

O furgão arremeteu para baixo e alguém gritou. Talvez fosse eu. Agora estávamos indo na direção do oceano Atlântico a mil quilômetros por hora, o litoral da Nova
Inglaterra à nossa direita. E estava ficando quente no furgão. Apolo havia sido jogado em algum lugar na traseira do furgão, mas ele começou a escalar as fileiras
de bancos. "Pegue o volante!" Grover implorou a ele. "Não se preocupe," Apolo disse. Ele parecia muito preocupado. "Ela só tem que aprender a -- UOU!" Eu vi o que
ele estava vendo. Abaixo de nós havia uma pequena, coberta de neve, cidade da Nova Inglaterra. Pelo menos, costumava ser coberta de neve. Conforme eu olhava, a neve
derreteu das árvores e dos telhados e dos gramados. A branca torre do campanário de uma igreja se tornou marrom e começou a arder sem chamas. Pequenas plumas de
fumaça, como velas de aniversário, estavam pipocando por toda cidade. Árvores e topos de telhados estavam pegando fogo. "Pare!" gritei. Havia uma luz selvagem nos
olhos de Thalia. Ela puxou de volta a direção, e eu estava preparado desta vez. Conforme nos distanciamos, eu pude ver pela janela de trás que os focos de incêndio
na cidade estavam sendo varridos pela súbita corrente de ar frio. "Ali!" Apolo apontou. "Long Island, mortalmente à frente. Vamos desacelerar, querida. `Mortalmente'
é só uma expressão." Thalia estava ribombando em direção à costa da Nova Inglaterra setentrional. Ali estava o Acampamento Meio-Sangue: o vale, as florestas, a praia.
Eu podia ver o pavilhãorefeitório, os chalés e o anfiteatro. "Eu estou sob controle," Thalia murmurou. "Eu estou sob controle." Nós estávamos apenas a algumas centenas
de metros agora. "Freie," Apolo disse. "Eu posso fazer isso." "FREIE!" Thalia enfiou seu pé no freio, e o furgão solar se arremessou para frente em um ângulo de
45°, batendo no lago de canoagem do Acampamento Meio-Sangue com um grande FLOOOOOOSH! Vapor emergia, fazendo com que várias náiades assustadas saíssem da água com
cestas de vime meio tecidas. O furgão flutuou na superfície, juntamente com um par de canoas viradas e meio queimadas. "Bem," disse Apolo com um bravo sorriso. "Você
estava certa, minha querida. Você tinha tudo sob controle! Que tal vermos se queimamos alguém importante, vamos?"

CINCO

EU FAÇO UMA LIGAÇÃO SUBAQUÁTICA
Eu nunca tinha visto o Acampamento Meio-Sangue no inverno antes, e a neve me surpreendeu. Veja, o acampamento tem controle climático de última geração. Nada passa
pelas fronteiras a não ser que o diretor, Sr. D, queira isso. Eu pensei que estaria quente e ensolarado, mas ao invés disso a neve estava permitida a cair levemente.
A geada cobria a pista de bigas e os campos de morango. Os chalés estavam decorados com pequenas luzes cintilantes, como luzes de Natal, exceto que elas pareciam
bolas de fogo de verdade. Mais luzes brilhavam na floresta, e o mais estranho de tudo, um fogo tremeluziu na janela do sótão da Casa Grande, onde habitava o Oráculo,
aprisionado em um velho corpo mumificado. Perguntei-me se o espírito de Delfos estava assando marshmallows lá em cima ou alguma coisa assim. "Uau," Nico falou enquanto
descia do furgão. "Isso é um muro de escalada?" "É," respondi. "Porque tem lava escorrendo por ele?" "Um pequeno desafio extra. Venha, vou apresentá-lo a Quíron.
Zoe, você conhece --" "Eu conheço Quíron," Zoe falou duramente. "Dize para ele que nós estaremos no Chalé Oito. Caçadoras, sigam-me." "Vou mostrá-las o caminho,"
ofereceu Grover. "Nós sabemos o caminho." "Ah, sério, isso não é problema. É fácil se perder aqui, se você não" -- ele tropeçou em uma canoa e voltou ainda falando
-- "como meu velho pai bode costumava falar! Vamos lá!" Zoe rolou os olhos, mas eu acho que ela percebeu que não se livraria de Grover. As Caçadoras puseram suas
sacolas e arcos sobre os ombros e partiram em direção aos chalés. Quando Bianca di Angelo estava saindo, ela se abaixou e sussurrou algo no ouvido de seu irmão.
Ela olhou para ele esperando resposta, mas Nico apenas franziu as sobrancelhas e se afastou. "Cuidem-se, queridas!" Apolo falou para as Caçadoras. Ele piscou para
mim. "Tome cuidado com essas profecias, Percy. Vejo você em breve." "O que você quer dizer?" Em vez de responder, ele pulou de volta para dentro do furgão. "Até
mais, Thalia," ele disse. "E, hum, fique bem!" Ele deu a ela um sorriso cruel, como se soubesse alguma coisa que ela não sabia. Então ele fechou as portas e ligou
o motor. Eu me virei de lado enquanto a carruagem solar partia numa explosão de calor. Quando olhei de volta, o lago estava evaporando. A Maserati vermelha subiu
alto por cima da floresta, brilhando mais forte e escalando mais alto até que desapareceu em um raio de sol. Nico ainda parecia irritado. Eu imaginava o que sua
irmã havia lhe dito. "Quem é Quíron?" ele perguntou. "Não tenho sua estatueta." "Nosso diretor de atividades," falei. "Ele é... Bem, você verá."

"Se essas garotas caçadoras não gostam dele," resmungou Nico, "isso é bom o suficiente para mim. Vamos." A segunda coisa que me deixou surpreso sobre o acampamento
foi o quanto ele estava vazio. Quero dizer, eu sabia que a maioria dos meio-sangues treinava somente durante o verão. Apenas aqueles que passam o ano inteiro estariam
aqui -- os que não tinham casas para ir, ou que seriam muito atacados por monstros se saíssem. Mas também não parecia haver muitos deles. Avistei Charles Beckendorf
do chalé de Hefesto alimentando a fornalha do lado de fora do depósito de armas. Os irmãos Stoll, Travis e Connor, do chalé de Hermes, estavam tentando arrombar
a tranca da loja do acampamento. Algumas poucas crianças do chalé de Ares estavam fazendo uma guerra de neve com as Ninfas nos limites da floresta. Era só isso.
Até minha antiga rival do chalé de Ares, Clarisse, não parecia estar por perto. A Casa Grande estava decorada com fios amarelos e vermelhos de bolas de fogo que
aqueciam a varanda, mas não ateavam fogo em nada. Lá dentro, chamas crepitavam na lareira. O ar cheirava a chocolate quente. Sr. D, o diretor do acampamento, e Quíron
estavam jogando cartas calmamente na sala. A barba marrom de Quíron estava mais desgrenhada no inverno. Seu cabelo enrolado tinha crescido um pouco mais. Ele não
estava no cargo de professor este ano, então acho que estava permitido ficar um pouco mais à vontade. Ele vestia um suéter felpudo com o desenho de uma pegada de
casco, e tinha um cobertor no seu colo que escondia quase completamente a cadeira de rodas. Ele sorriu quando nos viu. "Percy! Thalia! Ah, e esse deve ser --" "Nico
di Angelo," falei. "Ele e sua irmã são meio-sangues." Quíron deu um suspiro de alívio. "Vocês obtiveram sucesso, então." "Bem..." O sorriso dele derreteu. "O que
está errado? E onde está Annabeth?" "Oh, querido," Sr. D disse numa voz chateada, "não mais um perdido." Estava tentando não prestar atenção no Sr. D, mas era difícil
ignorá-lo em seu agasalho laranja-neon de pele de leopardo e seus sapatos roxos de corrida. (Como se o Sr. D tivesse corrido ao menos um dia em sua vida imortal.)
Uma coroa de louros dourada estava inclinada de lado em seu cabelo escuro e encaracolado, o que devia significar sua vitória na última rodada de cartas. "O que você
quer dizer?" perguntou Thalia "Quem mais está perdido?" Nesse exato momento, Grover trotou dentro da sala, sorrindo como louco. Ele tinha um olho roxo e linhas vermelhas
em seu rosto que pareciam a marca de um tapa. "As Caçadoras estão todas acomodadas!" Quíron franziu a testa. "As caçadoras, é? Vejo que temos muito o que conversar."
Ele olhou Nico de relance. "Grover, talvez você deva levar nosso jovem amigo para a gruta e mostrar a ele nosso filme de orientação." "Mas... Oh, tudo bem. Sim,
senhor." "Filme de orientação?" perguntou Nico. "É censura livre ou até 10 anos? Porque Bianca é meio rigorosa --" "É censura 13 anos," Grover falou. "Legal!" Nico
o seguiu felizmente para fora da sala. "Agora," Quíron falou para Thalia e eu, "talvez vocês dois devam se sentar e nos contar a hitória completa." Quando terminamos,
Quíron se virou para o Sr. D. "Nós deveríamos mandar uma busca por Annabetth imediatamente." "Eu vou," Thalia e eu falamos ao mesmo tempo. Sr. D fungou. "Certamente
não!"

Thalia e eu começamos a reclamar, mas o Sr. D ergueu sua mão. Ele tinha aquele fogo arroxeado e furioso em seus olhos que geralmente dizia que alguma coisa ruim
e divina ia acontecer se a gente não se calasse. "Pelo que vocês me disseram," Sr. D disse, "nós saímos empatados nessa escapada. Nós, ah, infelizmente perdemos
Annie Bell --" "Annabeth," eu falei rapidamente. Ela ia para o acampamento desde os sete anos, e o Sr. D ainda fingia não conhecer o nome dela. "Sim, sim," ele falou.
"E vocês arranjaram um garotinho chato para substituí-la. Então não vejo razão para arriscar outros meio-sangues num resgate ridículo. A possibilidade é muito grande
que essa menina Annie esteja morta." Eu queria estrangular o Sr. D. Não era justo que Zeus tivesse mandado ele aqui para ressecar como diretor do acampamento por
cem anos. Era para ser uma punição pelo mau comportamento do Sr. D no Olimpo, mas acabou sendo uma punição para todos nós. "Annabeth ainda pode estar viva," disse
Quíron, mas eu podia ver que ele estava tendo problemas em soar otimista. Ele praticamente criou Annabeth todos esses anos em que ela era uma campista integral,
antes de ela dar uma segunda chance a seu pai e sua madrasta. "Ela é muito brilhante. Se... se nossos inimigos a tiverem, ela vai tentar jogar por tempo. Ela pode
até fingir cooperar." "Isso é verdade," Thalia falou. "Luke iria querer ela viva." "Se for esse o caso," disse Sr. D, "receio que ela terá que ser esperta o bastante
para fugir por conta própria." Eu me levantei da mesa. "Percy." O tom de Quíron estava bastante alarmado. No fundo da minha mente, eu sabia que o Sr. D não era alguém
para contrariar. Nem se você fosse um impulsivo garoto com hiperatividade como eu, ele não daria nenhuma folga. Mas eu estava com tanta raiva que não me importei.
"Você está feliz de ter perdido outro campista," falei. "Você gostaria que todos nós sumíssemos!" Sr. D abafou um bocejo. "Você tem um argumento?" "É," eu rosnei.
"Só porque você foi mandado aqui como punição não significa que você tem que ser um babaca preguiçoso! Esta é a sua civilização, também. Talvez você pudesse tentar
ajudar um pouco!" Por um segundo, não houve barulho exceto pelo crepitar do fogo. A luz refletia nos olhos do Sr. D, dando a ele um olhar sinistro. Ele abriu sua
boca para dizer algo -- provavelmente uma maldição que ia me explodir em pedacinhos -- quando Nico entrou na sala, seguido por Grover. "TÃO LEGAL!" gritou Nico,
oferecendo as mãos para Quíron. "Você é... você é um centauro!" Quíron deu um sorriso nervoso. "Sim, Sr. di Angelo, como queira. Porém, eu prefiro ficar na forma
humana nessa cadeira de rodas para, hã, primeiros encontros." "E, uau!" Ele olhou para o Sr. D. "Você é o cara do vinho? Não pode ser!" Sr. D tirou os olhos de mim
e deu a Nico um olhar de repugnância. "O cara do vinho?" "Dioniso, certo? Oh, uau! Eu tenho sua estatueta." "Minha estatueta." "No meu jogo Mythomagic. E uma carta
holográfica, também! E mesmo que você tenha apenas quinhentos pontos de ataque e todo mundo ache que você é a carta de deus mais fajuta, eu realmente acho que seus
poderes são legais!" "Ah," Sr. D parecia verdadeiramente perplexo, o que provavelmente salvou minha vida. "Bem, isso é... gratificante."

"Percy," Quíron falou rapidamente, "você e Thalia desçam para os chalés. Informem aos campistas que iremos jogar capture a bandeira amanhã à tarde." "Capture a bandeira?"
perguntei. "Mas nós não temos suficientes --" "É uma tradição," disse Quíron. "Uma partida amistosa, sempre que as Caçadoras visitam." "É," murmurou Thalia. "Aposto
que é realmente amistosa." Quíron agitou a cabeça na direção do Sr. D, que continuava franzindo a testa enquanto Nico falava de quantos pontos de defesa todos os
deuses tinham no seu jogo. "Corram agora," Quíron nos disse. "Ah, certo," falou Thalia. "Vamos, Percy." Ela me arrastou para fora da Casa Grande antes que Dioniso
pudesse lembrar que pretendia me matar. "Você já tem Ares contra você," Thalia me lembrou enquanto nós marchávamos em direção aos chalés. "Você precisa de outro
inimigo imortal?" Ela estava certa. Em meu primeiro verão como campista entrei numa briga com Ares, agora ele e todos os seus filhos queriam me matar. Eu não precisava
aborrecer Dioniso também. "Desculpe," falei. "Não pude evitar. É apenas tão injusto." Ela parou perto do arsenal e olhou através do vale, em direção ao topo da Colina
MeioSangue. Seu pinheiro ainda estava lá, o Velocino de Ouro brilhando no seu ramo mais baixo. A magia da árvore ainda protegia as fronteiras do acampamento, mas
não usava mais o espírito de Thalia como energia. "Percy, tudo é injusto," balbuciou Thalia. "Às vezes eu desejo..." Ela não terminou, mas seu tom era tão triste
que eu senti pena dela. Com seu cabelo negro irregular e suas roupas punk pretas, um velho casacão de lã amarrado em volta dela, ela parecia algum tipo de corvo
gigante, completamente fora da paisagem esbranquiçada. "Nós vamos pegar Annabeth de volta," prometi. "Apenas não sei como, ainda." "Primeiro eu descubro que Luke
está perdido," ela falou. "Agora Annabeth --" "Não pense assim." "Você está certo." Ela se endireitou. "Nós acharemos um jeito." Na quadra de basquete, algumas Caçadoras
estavam arremessando nos aros. Uma delas estava discutindo com um cara do chalé de Ares. O garoto de Ares tinha a mão na sua espada e a garota Caçadora parecia que
ia trocar a bola de basquete por um arco e flecha a qualquer segundo. "Eu vou acabar com aquilo," Thalia disse. "Você circula pelos chalés. Fale para todo mundo
sobre o capture a bandeira amanhã" "Tudo bem. Você devia ser capitã do time." "Não, não," ela falou. "Você está há mais tempo no acampamento. Você faz isso." "Nós
podemos, hã... ter um co-capitão ou algo assim." Ela pareceu se sentir tão confortável quanto eu em relação a isso, mas ela assentiu. Enquanto ela se encaminhava
para a quadra, eu falei, "Ei, Thalia." "Sim?" "Desculpe-me pelo que aconteceu no Westover. Eu devia ter esperado por vocês." "Tá ok, Percy. Eu provavelmente teria
feito a mesma coisa." Ela trocava de um pé para o outro, como se estivesse tentando decidir se falava mais ou não. "Sabe, você me perguntou sobre minha mãe e eu
meio que fui grossa com você. É que... eu voltei para encontrá-la depois de sete anos, e descobri que ela tinha morrido em Los Angeles. Ela,

hum... ela era uma alcoólatra pesada, e aparentemente estava dirigindo tarde em uma noite há cerca de dois anos, e..." Thalia piscou forte. "Sinto muito." "Sim,
bem. Não... não é como se alguma vez nós tivéssemos sido próximas. Eu fugi quando tinha dez anos. Os melhores dois anos de minha vida foram quando estava correndo
por aí com Luke e Annabeth. Mas mesmo assim --" "Por isso que você teve problemas com o furgão do sol." Ela me deu um olhar desconfiado. "O que você quer dizer?"
"O jeito como você ficou tensa. Você devia estar pensando na sua mãe, não querendo ficar atrás do volante." Eu me arrependi de ter falado qualquer coisa. A expressão
de Thalia estava perigosamente parecida com a de Zeus, na única vez em que eu o tinha visto se zangar -- como se a qualquer minuto, os olhos dela fossem disparar
um milhão de volts. "É," ela murmurou. "É, deve ter sido isso." Ela marchou em direção à quadra, onde o campista de Ares e a Caçadora estavam tentando se matar com
uma espada e uma bola de basquete. Os chalés eram o mais esquisito conjunto de prédios que eu já tinha visto. As grandes construções de colunas brancas de Zeus e
Hera, Chalés Um e Dois, ficavam no meio, com cinco chalés de deuses à esquerda e cinco chalés de deusas à direita, então eles formavam um U em torno do gramado central
e da churrasqueira. Eu fiz as voltas, falando para todo mundo do capture a bandeira. Acordei uma criança de Ares do seu cochilo do meio-dia e ele gritou para eu
ir embora. Quando perguntei a ele onde estava Clarisse, ele falou, "Foi numa missão para Quíron. Super secreta!" "Ela está bem?" "Não escuto dela faz um mês. Ela
está desaparecida em ação. Como seu traseiro vai estar se você não der o fora daqui!" Decidi deixá-lo voltar a dormir. Finalmente eu cheguei ao Chalé Três, o chalé
de Poseidon. Era uma construção baixa e cinza talhada em pedra marinha, com conchas e fósseis de coral gravados na rocha. Dentro, estava vazio como sempre, exceto
pelo meu beliche. Um chifre de Minotauro estava pendurado na parede ao lado do meu travesseiro. Eu tirei o boné de beisebol de Annabeth da minha mochila e o coloquei
no criado mudo. Devolveria para ela quando a encontrasse. E eu iria encontrá-la. Tirei meu relógio de pulso e ativei o escudo. Ele rangeu barulhento enquanto se
espiralava para fora. Os espinhos de Dr. Streppe dentearam o metal em uma dúzia de lugares. Um corte profundo impedia o escudo de se abrir completamente, então estava
parecendo uma pizza com duas fatias a menos. As bonitas figuras de metal que meu irmão tinha feito estavam todas destruídas. Na figura em que eu e Annabeth combatíamos
a Hidra, parecia que um meteoro havia aberto uma cratera na minha cabeça. Pendurei o escudo em seu gancho, ao lado do chifre do Minotauro, mas era doloroso olhar
agora. Talvez Beckendorf do chalé de Hefesto pudesse consertá-lo para mim. Ele era o melhor ferreiro de armas do acampamento. Eu perguntaria a ele no jantar. Eu
estava olhando para o escudo quando notei um som estranho -- água gorgolejando -- e percebi que tinha alguma coisa nova no quarto. No fundo do chalé estava uma grande
bacia de pedra marinha cinza, com uma bica que nem a cabeça de um peixe gravada na pedra. De sua boca saía um fluxo de água, uma fonte de água salgada que gotejava
dentro do tanque. A água devia estar quente, porque criava uma névoa no ar

frio do inverno como uma sauna. Aquilo fazia o quarto parecer morno e lembrava o verão, fresco com o cheiro do mar. Andei para o tanque. Não havia nenhum recado
nem nada, mas eu sabia que só podia ser um presente de Poseidon. Olhei para a água e falei, "Obrigado, pai." A superfície ondulou. No fundo do tanque, moedas cintilaram
-- mais ou menos uma dúzia de dracmas dourados. Eu percebi para que servia a fonte. Era um lembrete para manter contato com a minha família. Eu abri a janela mais
próxima, e a luz do sol de inverno produziu um arco-íris na névoa. Então eu pesquei uma moeda de dentro da água quente. "Íris, ó Deusa do Arco-íris," eu disse, "aceite
minha oferenda." Joguei uma moeda na névoa e ela desapareceu. Aí eu percebi que não sabia com quem me comunicar primeiro. Minha mãe? Isso seria coisa para o `bom
filho' fazer, mas ela ainda não estaria preocupada comigo. Ela estava acostumada comigo desaparecendo por dias ou semanas de uma vez. Meu pai? Tinha sido há muito
tempo, quase dois anos, desde que eu realmente falei com ele. Mas você poderia mesmo mandar uma mensagem de Íris para um deus? Eu nunca tentei. Iria aborrecê-los,
como uma chamada de vendas ou algo do tipo? Eu hesitei. Então me decidi. "Mostre-me Tyson," eu pedi. "Nas forjas dos Ciclopes." A névoa brilhou e a imagem do meu
meio-irmão apareceu. Ele estava rodeado de fogo, o que seria um problema se ele não fosse um ciclope. Ele estava inclinado sobre uma bigorna, martelando uma espada
vermelha de calor. Faíscas voavam e chamas rodopiavam ao redor de seu corpo. Havia uma janela com moldura de mármore atrás dele, e ela dava direto para água azul
escura -- o fundo do oceano. "Tyson!" gritei. Ele não me escutou de primeira por causa das marteladas e do rugido das chamas. "TYSON!" Ele se virou, e seu enorme
olho se arregalou. Seu rosto se dobrou em um sorriso torto e amarelo. "Percy!" Ele derrubou a lâmina da espada e correu até mim, tentando me abraçar. A visão ficou
borrada e eu balancei instintivamente para trás. "Tyson, essa é uma mensagem de Íris. Eu não estou realmente aqui." "Ah." Ele voltou para o campo visual, parecendo
envergonhado. "Ah, eu sabia disso. Sim." "Como você está?" perguntei. "Como está o trabalho?" O olho dele se acendeu. "Amo o trabalho! Olhe!" Ele pegou a lâmina
quente com as mãos desprotegidas. "Eu fiz isso!" "Isso é bem legal." "Escrevi meu nome nela. Bem ali." "Incrível. Escute, você fala muito com o papai?" O sorriso
de Tyson sumiu. "Não muito. Papai está ocupado. Ele está preocupado com a guerra." "O que você quer dizer?" Tyson suspirou. Ele botou a lâmina para fora da janela,
onde produziu uma nuvem de bolhas ferventes. Quando Tyson trouxe de volta, o metal estava frio. "Velhos espíritos do mar criando problemas. Aigaios. Oceanus. Esses
caras." Eu meio que sabia do que ele estava falando. Ele queria dizer os imortais que controlavam os oceanos na época dos Titãs. Antes dos Olimpianos ascenderem.
O fato

de eles estarem de volta agora, com o Lorde Titã Cronos e seus aliados ganhando força, não era bom. "Tem algo que eu possa fazer?" perguntei. Tyson balançou sua
cabeça tristemente. "Nós estamos armando as sereias. Elas precisam de mais mil espadas para amanhã." Ele olhou para sua lâmina e suspirou. "Velhos espíritos estão
protegendo o barco malvado." "O Princesa Andrômeda?" eu disse. "O barco de Luke?" "Sim. Eles tornam o barco difícil de encontrar. Protegem contra as tempestades
do papai. Se não fosse isso ele acabaria com o barco." "Acabar com o barco seria bom." Tyson empertigou-se, como se tivesse tido outra idéia. "Annabeth! Ela está
aí?" "Ah, bem..." Meu coração parecia uma bola de boliche. Tyson pensava que Annabeth era a coisa mais legal desde a manteiga de amendoim (e ele sinceramente amava
manteiga de amendoim). Eu não tinha coragem de dizer a ele que ela estava desaparecida. Ele começaria a chorar tanto que poderia apagar suas fogueiras. "Bem, não...
ela não está aqui no momento." "Diga olá para ela!" ele sorriu. "Olá para Annabeth!" "Ok." Eu lutei contra um nó na minha garganta. "Farei isso." "E, Percy, não
se preocupe com o barco malvado. Ele está indo embora." "Como assim?" "Canal do Panamá! Muito longe daqui." Eu franzi a testa. Porque Luke levaria seu barco de cruzeiro
infestado de demônios por todo esse caminho até lá? A última vez que nós o vimos, ele estava navegando pela Costa Leste, recrutando meio-sangues e treinando seu
exército monstruoso. "Tudo bem," falei, sem me sentir seguro. "Isso é... bom. Eu acho." Nas forjas, uma voz profunda berrou algo que eu não consegui entender. Tyson
recuou. "Tenho que voltar ao trabalho! O chefe vai ficar bravo. Boa sorte, irmão!" "Ok, diga ao pai --" Mas antes que eu pudesse terminar, a visão brilhou e desapareceu.
Eu estava sozinho de novo no meu chalé, sentindo-me ainda mais solitário do que antes. Eu estava bastante infeliz no jantar daquela noite. Quero dizer, a comida
estava excelente como sempre. Você não pode ficar mal com churrasco, pizza e cálices de refrigerante que nunca esvaziam. As tochas e os braseiros mantinham aquecido
o pavilhão ao ar livre, mas todos nós tínhamos de sentar com nossos companheiros de chalé, o que significava que eu estava só na mesa de Poseidon. Thalia sentou
sozinha na mesa de Zeus, mas nós não podíamos sentar juntos. Regras do acampamento. Pelo menos os chalés de Hefesto, Ares e Hermes tinham poucas pessoas cada um.
Nico sentou com os irmãos Stoll, desde que os novatos sempre são mantidos no chalé de Hermes se seu parente Olimpiano é desconhecido. Os irmãos Stoll estavam tentando
convencer Nico que pôquer era um jogo bem melhor que Mythomagic. Eu esperava que Nico não tivesse nenhum dinheiro a perder. A única mesa que parecia estar realmente
tendo um bom momento era a de Ártemis. As Caçadoras bebiam e comiam e riam como uma grande e feliz família. Zoe estava sentada na cabeceira como se fosse a mamãe.
Ela não ria tanto quanto as outras, mas sorria de vez em quando. Sua tiara prateada de tenente brilhava nas tranças escuras de seu cabelo. Pensei que sua aparência
ficava bem melhor quando ela sorria. Bianca di Angelo parecia estar num grande momento. Ela estava tentando aprender queda de braço com a moça que tinha armado uma
briga com a criança de Ares na quadra de

basquete. A mulher maior estava ganhando dela toda hora, mas Bianca não parecia se importar. Quando terminamos de comer, Quíron fez o tradicional brinde aos deuses
e formalmente deu as boas vindas às Caçadoras de Ártemis. Os aplausos foram meio fracos. Então ele anunciou a `boa nova', o jogo de capture a bandeira na noite de
amanhã, o que teve uma recepção muito melhor. Depois disso, nós todos seguimos de volta para nossos chalés para um apagar de luzes cedo, de inverno. Eu estava exausto,
o que significou que eu dormi facilmente. Esta foi a parte boa. A parte ruim foi que eu tive um pesadelo, e até para os meus padrões aquilo foi demais. Annabeth
estava numa encosta escura, coberta de névoa. Quase parecia com o Mundo Inferior, porque eu imediatamente me senti claustrofóbico e não conseguia ver o céu acima
-- somente uma fechada, pesada escuridão, como se eu estivesse numa caverna. Annabeth se esforçava para subir a colina. Velhas colunas gregas de mármore preto estavam
quebradas e espalhadas ao redor, como se alguma coisa tivesse explodido uma grande construção em ruínas. "Streppe!" Annabeth gritou. "Onde você está? Porque você
me trouxe aqui?" ela subiu em um pedaço de parede quebrada e alcançou o pico da colina. Ela se espantou. Ali estava Luke. E ele estava sentindo dor. Ele estava caído
no chão de pedra, tentando se levantar. A escuridão parecia ser mais espessa em volta dele, névoa rodopiando avidamente. Suas roupas estavam esfarrapadas e seu rosto
estava arranhado e úmido de suor. "Annabeth!" ele chamou. "Ajude-me! Por favor!" Ela correu adiante. Eu tentei gritar: Ele é um traidor! Não acredite nele! Mas minha
voz não funcionava no sonho. Annabeth tinha lágrimas em seus olhos. Ela se aproximou como se quisesse tocar o rosto de Luke, mas hesitou no último segundo. "O que
aconteceu?" ela perguntou. "Eles me deixaram aqui," gemeu Luke. "Por favor. Está me matando." Eu não conseguia ver o que havia de errado com ele. Ele parecia estar
lutando contra alguma maldição invisível, como se a névoa estivesse espremendo-o até a morte. "Por que eu deveria confiar em você?" perguntou Annabeth. Sua voz estava
cheia de mágoa. "Não deveria," disse Luke. "Eu fui terrível com você. Mas se você não me ajudar, eu vou morrer." Deixe ele morrer, eu queria gritar. Luke tentou
nos matar a sangue frio vezes demais. Ele não merecia nada de Annabeth. Então a escuridão em cima de Luke começou a ruir, como o teto de uma caverna em um terremoto.
Grandes blocos de pedra negra começaram a cair. Annabeth entrou rapidamente assim que uma fresta se abriu, e todo o telhado desabou. Ela segurou aquilo de alguma
forma -- toneladas de pedra. Ela impediu que desabasse em cima dela e de Luke apenas com sua própria força. Era impossível. Ela não deveria ser capaz de fazer aquilo.
Luke rolou livre, respirando pesadamente. "Obrigado," ele completou. "Ajude-me a segurar isto," gemeu Annabeth.

Luke prendeu a respiração. Seu rosto estava coberto de sujeira e suor. Ele se levantou desequilibrado. "Eu sabia que podia contar com você." Ele começou a ir embora
enquanto a escuridão instável ameaçava destruir Annabeth. "AJUDE-ME!" ela protestou. "Ah, não se preocupe," disse Luke. "Sua ajuda está a caminho. É tudo parte do
plano. Enquanto isso tente não morrer." O teto de escuridão começou a desabar novamente, empurrando Annabeth contra o solo. Eu sentei repentinamente ereto na cama,
agarrando as cobertas. Não havia nenhum som no meu chalé exceto pelo gorgolejar da fonte de água salgada. O relógio no meu criado mudo apontava que era pouco mais
que meia-noite. Somente um sonho, mas eu estava certo de duas coisas: Annabeth estava em terrível perigo. E Luke era o responsável.

SEIS

UM VELHO AMIGO MORTO VEM VISITAR
Na outra manhã depois do café, falei para Grover do meu sonho. Nós sentamos na campina vendo os sátiros caçarem as ninfas da floresta pelo meio da neve. As ninfas
tinham prometido beijar os sátiros se fossem pegas, mas eles raramente conseguiam. Geralmente a ninfa deixaria o sátiro ficar com a cabeça cheia de vapor, então
ela se transformaria em uma árvore coberta de neve e o pobre sátiro bateria com a cabeça nela e uma pilha de neve seria despejada nele. Quando eu contei a Grover
meu pesadelo, ele começou a enrolar seu dedo no pelo desgrenhado de sua perna. "Um teto de caverna desabou sobre ela?" ele perguntou. "Isso. O que diabos isso significa?"
Grover balançou a cabeça. "Eu não sei. Mas depois do que Zoe sonhou --" "Uou. O que você quer dizer? Zoe teve um sonho como esse?" "Eu... Eu não sei, exatamente.
Por volta das três da manhã ela veio à Casa Grande e exigiu falar com Quíron. Ela parecia realmente em pânico." "Espere, como você sabe isso?" Grover corou. "Eu
estava meio que acampado do lado de fora do chalé de Ártemis." "Para quê?" "Apenas para estar, você sabe, perto delas." "Você é um perseguidor com cascos." "Não
sou! De qualquer maneira, eu a segui até a Casa Grande e me escondi num arbusto e observei a coisa toda. Ela ficou realmente perturbada quando Argo não a deixou
entrar. Foi uma cena meio perigosa." Eu tentei imaginar aquilo. Argo era o chefe da segurança do acampamento -- um grande cara loiro com olhos por todo o seu corpo.
Ele raramente aparecia a menos que alguma coisa séria estivesse acontecendo. Eu não ia querer fazer apostas em uma luta entre ele e Zoe Nightshade. "O que ela falou?"
eu perguntei. Grover fez uma careta. "Bem, ela começa realmente a falar à moda antiga quando fica contrariada, então estava um pouco difícil de entender. Mas alguma
coisa sobre Ártemis estar com problemas e precisando das Caçadoras. Aí ela chamou Argo de palhaço de cérebro fervido... Eu acho que isso é uma coisa ruim. Então
ele a chamou de --" "Uou, espera. Como pode Ártemis estar com problemas?" "Eu... bem, finalmente Quíron veio com seus pijamas e sua cauda de cavalo com cachinhos
e --" "Ele faz cachinhos em sua cauda?" Grover tapou sua boca. "Desculpe," falei. "Continue." "Bem, Zoe disse que precisava de permissão para abandonar o acampamento
imediatamente. Quíron recusou. Ele lembrou Zoe que as Caçadoras deviam ficar até receberem ordens de Ártemis. E ela falou..." Grover engoliu em seco. "Ela falou
`Como nós vamos receber ordens de Ártemis se Ártemis está perdida?'" "Como assim perdida? Como se ela precisasse de direções?"

"Não. Acho que ela quis dizer desaparecida. Capturada. Sequestrada." "Sequestrada?" eu tentei focar minha mente em torno dessa ideia. "Como você sequestraria uma
deusa imortal? Isso é ao menos possível?" "Bem, é. Digo, isso aconteceu com Perséfone." "Mas ela era tipo, a deusa das flores." Grover pareceu ofendido. "Primavera."
"Que seja. Ártemis é muito mais poderosa que isso. Quem poderia sequestrá-la? E por quê?" Grover balançou sua cabeça miseravelmente. "Eu não sei. Cronos?" "Ele não
pode já estar tão poderoso. Pode?" A última vez que nós vimos Cronos, ele estava em pedacinhos. Bem... nós na verdade não o vimos. Milhares de anos atrás, depois
da grande guerra Titãs--Deuses, os deuses o fatiaram em bocadinhos com sua própria foice e espalharam os restos no Tártaro, que é tipo uma caixa de reciclagem sem
fundo dos deuses para seus inimigos. Dois verões atrás, Cronos nos iludiu até a beira do precipício e quase nos empurrou dentro. Aí no último verão, a bordo do navio
de cruzeiro demoníaco de Luke, nós vimos um caixão dourado, onde Luke afirmou que estava convocando o Lorde Titã para fora do abismo, pedacinho por pedacinho, toda
vez que alguém novo unia-se à sua causa. Cronos podia influenciar pessoas com sonhos e enganá-las, mas eu não conseguia ver como ele poderia sobrepor Ártemis fisicamente
se ele ainda estava como uma pilha maligna de restos de casca de árvore. "Eu não sei," Grover falou. "Eu acho que alguém saberia se Cronos tivesse se reconstruído.
Os deuses estariam mais nervosos. Mesmo assim, é estranho, você tendo um pesadelo na mesma noite que Zoe. É quase como --" "Se eles estivessem conectados," eu disse.
Por cima do gramado congelado, um sátiro derrapou nos cascos enquanto perseguia uma ruiva ninfa das árvores. Ela sorriu e cruzou os braços enquanto ele corria em
sua direção. Pop! Ela se transformou num pinheiro escocês e ele beijou o tronco a toda velocidade. "Ah, o amor," Grover falou, sonhador. Eu pensei sobre o pesadelo
de Zoe, que ela teve apenas algumas horas depois de mim. "Eu tenho que falar com Zoe," falei. "Hum, antes de você fazer isso..." Grover tirou algo do bolso do casaco.
Era algo dobrado em forma de árvore, como um folheto de viagens. "Você se lembra do que disse -- sobre como foi estranho as Caçadoras aparecerem do nada no Westover
Hall? Acho que elas poderiam estar nos vigiando." "Vigiando a gente? O que quer dizer?" Ele me deu o folheto. Era sobre as Caçadoras de Ártemis. A capa dizia, UMA
SÁBIA ESCOLHA PARA O SEU FUTURO! Dentro havia fotos de jovens donzelas fazendo coisas de caçadora, perseguindo monstros, atirando com arcos. Havia legendas como:
BENEFÍCIOS PARA SAÚDE: IMORTALIDADE E O QUE ELA SIGNIFICA PARA VOCÊ! e UM AMANHÃ LIVRE DE GAROTOS! "Encontrei isso na mochila de Annabeth," disse Grover. Eu o encarei.
"Não entendo." "Bem, eu acho que... talvez Annabeth estivesse pensando em se afiliar." Eu gostaria de falar que recebi bem as notícias. A verdade era que eu queria
estrangular as Caçadoras de Ártemis uma donzela imortal de cada vez. O resto do dia eu tentei me manter ocupado, mas estava doente de

preocupação com Annabeth. Fui à aula de arremesso de dardo, mas o campista de Ares encarregado me botou para fora depois que eu me distraí e arremessei o dardo no
alvo antes que ele saísse do caminho. Pedi desculpas pelo buraco em suas calças, mas assim mesmo ele me mandou arrumar minhas coisas. Visitei os estábulos dos pégasos,
mas Silena Beauregard do chalé de Afrodite estava discutindo com uma das Caçadoras, e decidi que era melhor não me envolver. Depois disso, sentei no depósito de
bigas vazio e fiquei emburrado. Lá embaixo, nos campos de arco e flecha, Quíron estava conduzindo o treino com alvos. Eu sabia que ele era a melhor pessoa para conversar.
Talvez ele pudesse me dar alguns conselhos, mas alguma coisa me segurou. Tive um pressentimento de que Quíron tentaria me proteger, como ele sempre fez. Ele poderia
não me contar tudo que sabia. Olhei na outra direção. No topo da Colina Meio-Sangue, Sr. D e Argo estavam alimentando o bebê dragão que guardava o Velocino de Ouro.
Então me ocorreu: ninguém estaria na Casa Grande. Havia mais alguém... algo mais a quem eu poderia perguntar por orientação. Meu sangue estava zunindo nos meus ouvidos
enquanto eu corria para dentro da casa e subia as escadas. Eu apenas tinha feito isso uma vez, e ainda tinha pesadelos sobre isso. Eu abri a escotilha e entrei no
sótão. A sala estava escura e empoeirada e bagunçada com tralhas, do jeito que eu me lembrava. Havia escudos com mordidas de monstros, e espadas entortadas no formato
de cabeças de demônios, e um bocado de coisas empalhadas, como uma harpia estufada e uma brilhante píton laranja. Perto da janela, sentada num banquinho de três
pernas, estava a múmia enrugada de uma idosa num vestido hippie tingido. O Oráculo. Eu me forcei a andar em direção a ela. Esperei a neblina esverdeada ondular para
fora da boca da múmia, como da última vez, mas nada aconteceu. "Oi," eu disse. "Hã, tudo em cima?" Eu estremeci com quão estúpido aquilo soava. Quase nada estaria
para "cima" quando você está morto e preso no sótão. Mas eu sabia que o espírito do Oráculo estava ali em algum lugar. Podia sentir uma presença gelada no recinto,
como uma cobra dormindo enrolada. "Tenho uma pergunta," eu falei um pouco mais alto. "Preciso saber de Annabeth. Como eu posso salvá-la?" Sem resposta. O sol se
esgueirou pela janela suja do sótão, iluminando as partículas de poeira dançando no ar. Esperei mais. Então me aborreci. Eu estava tomando um chá de cadeira de um
cadáver. "Tudo bem," falei. "Muito bem, vou dar um jeito por conta própria." Eu me virei e bati numa grande mesa cheia de souvenirs. Parecia mais desorganizada do
que na última vez em que estive aqui. Heróis guardavam todo tipo de coisa no sótão: troféus de missões que eles não queriam mais manter em seus chalés, ou coisas
que continham memórias dolorosas. Sabia que Luke tinha armazenado uma garra de dragão em algum lugar aqui em cima -- a que tinha deixado a cicatriz em seu rosto.
Havia o cabo de uma espada quebrada etiquetado: Isto quebrou e Leroy foi morto. 1999. Então percebi um cachecol rosa de seda com uma etiqueta presa a ele. Peguei
a etiqueta e tentei ler: CACHECOL DA DEUSA AFRODITE RECUPERADO NO PARQUE AQUÁTICO WATERLAND, DENVER, CO. POR ANNABETH CHASE E PERCY JACKSON

Encarei o cachecol. Tinha esquecido totalmente sobre ele. Dois anos atrás, Annabeth tinha tomado esse cachecol das minhas mãos e dito algo como, Ah, não. Sem magia
do amor pra você! Eu achava que ela tinha jogado fora. E agora aqui estava ele. Ela guardou isso todo esse tempo? E por que ela tinha escondido isso no sótão? Eu
me virei para a múmia. Ela não tinha se mexido, mas as sombras através de sua face faziam parecer que ela estava sorrindo horrivelmente. Deixei cair o cachecol e
tentei não correr até a saída. Naquela noite após o jantar, eu estava seriamente disposto a ganhar das Caçadoras no capture a bandeira. Seria um jogo pequeno: somente
treze Caçadoras, incluindo Bianca di Angelo, e quase o mesmo número de campistas. Zoe Nightshade aparentava estar bem chateada. Ela ficava olhando com ressentimento
para Quíron, como se não acreditasse que ele a estava obrigando a fazer isso. As outras Caçadoras não pareciam muito felizes, também. Ao contrário da última noite,
elas não estavam rindo e brincando. Elas apenas se juntaram no refeitório, sussurrando nervosamente umas com as outras enquanto botavam suas armaduras. Algumas delas
até pareciam ter chorado. Imagino que Zoe contou a elas sobre seu pesadelo. Do nosso lado, tínhamos Beckendorf e outros dois caras de Hefesto, alguns do chalé de
Ares (ainda que parecesse estranho Clarisse não estar ali), os irmãos Stoll e Nico do chalé de Hermes e algumas crianças de Afrodite. Era estranho que o chalé de
Afrodite quisesse jogar. Geralmente eles sentavam pelos cantos, conversavam, e checavam seus reflexos no rio e coisas assim, mas quando ouviram que estávamos lutando
contra as Caçadoras, ficaram ansiosos por participar. "Vou mostrar a elas que `amor é inútil'," Silena Beauregard resmungou enquanto afivelava sua armadura. "Vou
pulverizá-las!" Sobramos Thalia e eu. "Vou ficar com o ataque," Thalia se voluntariou. "Você fica na defesa." "Ah." Eu hesitei, porque estava para dizer a mesma
coisa, só que invertida. "Você não acha que com seu escudo e tudo mais, você ficaria melhor na defesa?" Thalia já estava com Aegis em seu braço, e até nossos companheiros
de equipe estavam dando um amplo espaço para ela, tentando não se acovardar diante da cabeça de bronze da Medusa. "Bem, estava pensando que isso ficaria melhor no
ataque," Thalia disse. "Além disso, você treinou mais na defesa." Eu não estava certo se ela estava me importunando. Tive algumas experiências ruins na defesa do
capture a bandeira. No meu primeiro ano, Annabeth me colocou como uma espécie de isca, e eu quase fui espetado até a morte com lanças e assassinado por um cão infernal.
"É, sem problemas," eu menti. "Legal." Thalia se virou para ajudar algumas crianças de Afrodite, que estavam tendo problemas em vestir suas armaduras sem quebrar
as unhas. Nico di Angelo correu até mim com um grande sorriso em seu rosto. "Percy, isto é incrível!" Seu elmo de bronze com penacho azul estava caindo em seus olhos,
e sua placa peitoral era quase seis vezes maior. Imaginei se havia alguma maneira de eu ter aparentado ser ridículo daquele jeito da primeira vez que eu cheguei.
Infelizmente, provavelmente havia. Nico levantou sua espada com esforço. "Nós temos que matar o outro time?"

"Bem... Não." "Mas as Caçadoras são imortais, certo?" "Isso é apenas se elas não caírem em batalha. Além do mais --" "Seria incrível se nós apenas, tipo, ressuscitássemos
assim que fôssemos mortos, então poderíamos continuar lutando, e --" "Nico, isto é sério. Espadas de verdade. Estas podem machucar." Ele me encarou, um pouco desapontado,
e percebi que tinha acabado de soar como a minha mãe. Uou. Não é um bom sinal. Bati de leve no ombro de Nico. "Ei, está tudo bem. Apenas siga o time. Fique fora
do caminho de Zoe. Nós vamos nos divertir muito." O casco de Quíron retumbou no chão do pavilhão. "Heróis!" ele chamou. "Vocês sabem as regras! O riacho é a fronteira.
Time azul -- Acampamento Meio-sangue -- devem pegar a floresta oeste. Caçadoras de Ártemis -- time vermelho -- devem pegar a floresta leste. Eu serei o árbitro e
médico do campo de batalha. Nada de mutilações intencionais, por favor! Todos os itens mágicos estão permitidos. Para suas posições!" "Bacana," Nico sussurrou ao
meu lado. "Que tipos de itens mágicos? Eu fico com um?" Estava prestes a cortá-lo dizendo que não, quando Thalia falou, "Time azul! Sigamme!" Eles se animaram e
seguiram. Tive que correr para alcançá-los, e tropecei no escudo de alguém, assim eu não parecia muito como um co-capitão. Mais como um idiota. Nós posicionamos
nossa bandeira no topo do Punho de Zeus. É o aglomerado de pedras no meio da floresta oeste que, se você olhar do ângulo certo, parece um grande punho saindo do
chão. Se você olhar de qualquer outro lado, parece uma pilha de excrementos de veado, mas Quíron não nos deixaria chamar o lugar de Pilha de Cocô, especialmente
depois de ter sido nomeado para Zeus, que não tem muito senso de humor. De qualquer maneira, era um bom lugar para colocar a bandeira. A rocha do topo tinha seis
metros de altura e era realmente difícil de escalar, então a bandeira estava claramente visível, como as regras falavam que tinha de estar, e não importava que os
guardas não estivessem permitidos a permanecer a pelo menos nove metros de distância dela. Coloquei Nico encarregado da guarda com Beckendorf e os irmãos Stoll,
calculando que ele estaria seguramente fora do caminho. "Nós vamos mandar uma isca pela esquerda," Thalia falou ao time. "Silena, você lidera isso." "Entendido!"
"Leve Laurel e Jason. Eles são bons corredores. Faça um amplo arco em volta das Caçadoras, atraia o máximo que conseguir. Levarei o grupo de assalto principal pela
direita e as pegaremos de surpresa." Todos confirmaram com a cabeça. Soava bom, e Thalia falou com tanta confiança que você não podia fazer nada a não ser acreditar
que iria funcionar. Thalia olhou para mim. "Algo a acrescentar, Percy?" "Hum, sim. Fiquem espertos na defesa. Nós temos quatro guardas, dois batedores. Isso não
é muito para uma grande floresta. Estarei andando por aí. Gritem se precisarem de ajuda." "E não deixem seus postos!" Thalia disse. "A não ser que vejam uma oportunidade
de ouro," acrescentei. Thalia fez uma expressão de desgosto. "Apenas não deixem seus postos."

"Certo, a não ser --" "Percy!" Ela tocou meu braço e me eletrocutou. Quero dizer, todo mundo dá choques estáticos no inverno, mas quando Thalia o faz, dói. Acho
que é porque seu pai é o deus do trovão. Ela é conhecida por fritar as sobrancelhas das pessoas. "Desculpe," disse Thalia, ainda que não soasse particularmente sentida.
"Agora, está claro para todos?" Todos concordaram. Nós nos dividimos em nossos grupos menores. A corneta soou, e o jogo começou. O grupo de Silena desapareceu na
floresta à esquerda. O grupo de Thalia deu alguns segundos, então se lançaram pela direita. Esperei algo acontecer. Escalei o Punho de Zeus e obtive uma boa visão
de cima da floresta. Lembrei de como as Caçadoras saíram de repente do bosque quando enfrentaram a mantícora, e eu estava preparado para algo assim -- uma carga
enorme que nos esmagaria. Mas nada aconteceu. Captei um relance de Silena e seus dois batedores. Eles correram através de uma clareira, perseguidos por cinco das
Caçadoras, conduzindo-as mais para dentro da floresta e para longe de Thalia. O plano parecia estar dando certo. Então eu mirei outro amontoado de Caçadoras dirigindo-se
para a direita, arcos preparados. Elas deviam ter visto Thalia. "O que está acontecendo?" perguntou Nico, tentando escalar ao meu lado. Minha mente estava acelerada.
Thalia nunca conseguiria passar, mas as Caçadoras estavam divididas. Com tantas assim em cada flanco, o centro deveria estar aberto. Se eu fosse rápido... Olhei
para Beckendorf. "Vocês conseguem proteger o forte?" Beckendorf bufou. "É claro." "Vou entrar." Os irmãos Stoll e Nico me apoiaram enquanto eu corria em direção
às linhas de fronteira. Estava correndo a toda velocidade e me sentia ótimo. Saltei sobre o riacho para dentro do território inimigo. Eu podia ver sua bandeira prateada
acima, apenas uma guarda, que nem estava olhando na minha direção. Escutei lutas à esquerda e à direita, em algum lugar no bosque. Eu tinha conseguido. A guarda
virou no último minuto. Era Bianca di Angelo. Os olhos dela se arregalaram enquanto eu lhe dava uma trombada e ela ia se esparramando pela neve. "Desculpe!" gritei.
Arranquei da árvore a bandeira prateada de seda e parti. Estava a dez metros de distância quando Bianca conseguiu gritar por ajuda. Pensei que estava livre. ZIP.
Um cordão prateado passou pelos meus tornozelos e fincou na árvore próxima a mim. Um fio para tropeçar, disparado de um arco! Antes que eu pudesse ao menos pensar
em parar, eu fui pra baixo duramente, estatelado na neve. "Percy!" bradou Thalia, na minha esquerda. "O que você está fazendo?" Antes que ela me alcançasse, uma
flecha explodiu aos seus pés e uma nuvem de fumaça amarela ondulou em volta de sua equipe. Eles começaram a tossir e a engasgar. Eu podia sentir o cheiro do gás
por toda a floresta -- o horrível cheiro de enxofre. "Não é justo!" Thalia arfou. "Flechas de peido são antidesportivas!" Levantei e comecei a correr de novo. Apenas
mais alguns metros até o riacho e eu teria o jogo. Mais flechas zuniram pelo meu ouvido. Uma Caçadora surgiu do nada e me golpeou com sua faca, mas eu desviei e
continuei correndo. Escutei gritos do nosso lado do riacho. Beckendorf e Nico estavam correndo na minha direção. Pensei que eles estavam vindo para me receber de
volta, mas aí eu vi que eles

estavam perseguindo alguém -- Zoe Nightshade, correndo até mim como um leopardo, esquivando de campistas sem nenhum problema. E ela tinha nossa bandeira em suas
mãos. "Não!" gritei, e aumentei a velocidade. Estava a meio metro da água quando Zoe passou de volta para seu lado, trombando comigo como medida de segurança. As
Caçadoras se animavam enquanto os dois lados convergiam para o riacho. Quíron apareceu do meio das árvores, parecendo ameaçador. Ele tinha os irmãos Stoll em suas
costas, e ao que parecia os dois tinham tomado umas desagradáveis pancadas na cabeça. Connor Stoll tinha duas flechas cravadas em seu elmo como antenas. "As Caçadoras
vencem!" Quíron anunciou sem prazer. Então ele murmurou, "Pela quinquagésima sexta vez seguida." "Perseus Jackson!" gritou Thalia, apressando-se até mim. Ela cheirava
a ovo podre, e ela estava tão brava que faíscas azuis tremeluziam em sua armadura. Todos titubearam e recuaram por causa de Aegis. Precisei de toda a minha força
de vontade para não me acovardar. "O que em nome dos deuses você estava PENSANDO?" ela rugiu. Cerrei os punhos. Já havia tido suficientes coisas ruins acontecendo
comigo para um dia. Eu não precisava disto. "Eu peguei a bandeira, Thalia!" balancei-a na cara dela. "Vi uma chance e aproveitei!" "EU ESTAVA NA BASE DELAS!" Thalia
gritou. "Mas a bandeira tinha sumido. Se você não tivesse se intrometido, nós teríamos ganhado." "Havia muitas em cima de você!" "Ah, então é minha culpa?" "Eu não
falei isso." "Argh!" Thalia me empurrou, um choque percorreu meu corpo e me jogou três metros para trás, dentro da água. Alguns campistas sobressaltaram-se. Um par
de Caçadoras abafou risadas. "Desculpe!" Thalia disse, ficando pálida. "Eu não queria --" Raiva rugiu nos meus ouvidos. Uma onda emergiu do riacho, chocando-se na
cara de Thalia e ensopando-a da cabeça aos pés. Eu levantei. "É," rosnei. "Eu não queria, também." Thalia estava respirando pesadamente. "Basta!" ordenou Quíron.
Mas Thalia segurou sua lança. "Você quer um pouco, Cabeça de Alga?" De algum jeito, estava tudo bem quando Annabeth me chamava assim -- pelo menos, eu já tinha me
acostumado -- mas escutar isso de Thalia não era legal. "Pode vir, Cara de Pinhão!" Levantei Contracorrente, mas antes que eu pudesse ao menos me defender, Thalia
gritou, e uma explosão de raios caiu do céu, atingiu sua lança como um pára-raios, e chocou-se contra o meu peito. Caí sentado duramente. Havia um cheiro de queimado;
tive a sensação de que eram as minhas roupas. "Thalia!" disse Quíron. "Já basta!" Coloquei-me de pé e desejei que o riacho inteiro se levantasse. Ele rodopiou, centenas
de galões de água numa nuvem maciça e gelada em forma de funil. "Percy!" Quíron protestou. Eu estava prestes a arremessar tudo em Thalia quando vi algo entre as
árvores. Perdi minha raiva e minha concentração de uma vez. A água se espalhou de volta na base do riacho. Thalia estava tão surpresa que se virou para ver o que
eu estava olhando.

Alguém... algo estava se aproximando. Estava imerso numa tenebrosa névoa verde, mas enquanto se aproximava, campistas e Caçadoras se sobressaltaram. "Isto é impossível,"
Quíron disse. Eu nunca o tinha visto soar tão nervoso. "Aquilo... Ela nunca deixou o sótão. Nunca." Ainda assim, a múmia esmirrada que carregava o Oráculo vacilou
para frente até que ficou no centro do grupo. Neblina circundava seus pés, deixando a neve com uma doentia tonalidade verde. Nenhum de nós se atreveu a se mexer.
Então sua voz sibilou na minha cabeça. Aparentemente todos podiam ouvi-la, porque muitos apertaram suas mãos contra os ouvidos. Eu sou o espírito de Delfos, a voz
falou. Orador das profecias de Febo Apolo, matador da poderosa Píton. O Oráculo me fitou com seus olhos frios, mortos. Então ela se virou sem erro na direção de
Zoe Nightshade. Aproxime-se, Buscadora, e pergunte. Zoe engoliu em seco. "O que eu devo fazer para ajudar minha deusa?" A boca do Oráculo se abriu, e névoa verde
espalhou-se para fora. Eu vi a vaga imagem de uma montanha, e uma mulher em pé no pico árido. Era Ártemis, mas ela estava presa em grilhões, acorrentada às pedras.
Ela estava se ajoelhando, suas mãos levantadas como para se defender de um atacante, e parecia que ela estava com dores. O Oráculo falou: Cinco devem ir para oeste
até a deusa acorrentada Um deve se perder na terra árida A trilha a desgraça do Olimpo vai lhes mostrar Campistas e Caçadoras combinados vão triunfar A maldição
do Titã um suportará E pelas mãos de um parente um perecerá Então, enquanto nós olhávamos, a névoa rodopiou e recuou como uma grande serpente verde para dentro da
boca da múmia. O Oráculo se sentou numa rocha e ficou parada como se ela estivesse no sótão, como se ela tivesse sentado perto do riacho por cem anos.

SETE

TODOS ME ODEIAM MENOS O CAVALO
O mínimo que o Oráculo podia ter feito era andar de volta para o sótão por si mesmo. Ao invés disso, Grover e eu fomos eleitos para carregá-lo. Eu não percebi que
isso era por causa da nossa grande popularidade. "Cuidado com a cabeça dela!" Grover avisou enquanto subíamos as escadas. Mas foi tarde demais. Bonc! Eu bati com
sua cara mumificada contra a borda da escotilha e poeira voou. "Ah, cara." Eu a coloquei no chão e conferi o estrago. "Quebrei alguma coisa?" "Não sei dizer," Grover
admitiu. Nós a levantamos e a pusemos em seu banquinho tripé, ambos ofegantes e suados. Quem sabia que uma múmia podia pesar tanto? Presumi que ela não falaria comigo,
e eu estava certo. Fiquei aliviado quando nós finalmente saímos e fechamos a porta do sótão. "Bem," disse Grover, "isso foi nojento." Eu sabia que ele estava tentando
manter as coisas leves pelo meu bem, mas eu ainda me sentia muito mal. O acampamento inteiro estaria bravo comigo por perder o jogo para as Caçadoras, e também havia
a nova profecia do Oráculo. Era como se o espírito de Delfos tivesse saído de seu caminho para me excluir. Ela ignorou minha pergunta e andou meio quilômetro para
falar com Zoe. E ela não falou nada, nem ao menos uma dica, sobre Annabeth. "O que Quíron vai fazer?" perguntei para Grover. "Eu queria saber." Ele olhou ansiosamente
pela janela do segundo andar para as colinas onduladas cobertas de neve. "Eu queria estar lá fora." "Procurando por Annabeth?" Ele teve um pouco de dificuldade para
prestar atenção em mim. Então ele corou. "Ah, certo. Isso também. É claro." "Por quê?" perguntei. "O que você estava pensando?" Ele bateu seus cascos, inquieto.
"Somente uma coisa que a mantícora falou, sobre a Grande Agitação. Não consigo parar de imaginar... se todos esses poderes antigos estão acordando, talvez... talvez
nem todos sejam malignos." "Quer dizer Pan." Eu me senti meio egoísta, porque esqueci totalmente sobre a ambição da vida de Grover. O deus da natureza havia desaparecido
duzentos anos atrás. Os rumores diziam que ele estava morto, mas os sátiros não acreditavam nisso. Eles estavam determinados a achá-lo. Estiveram procurando em vão
por séculos, e Grover estava convencido que seria ele quem obteria sucesso. Este ano, com Quíron botando todos os sátiros em estado de emergência para achar meio-sangues,
Grover não foi capaz de continuar sua busca. Isso devia estar deixando ele louco. "Deixei a trilha esfriar," ele falou. "Fico inquieto, como se estivesse perdendo
alguma coisa realmente importante. Ele está lá em algum lugar. Simplesmente sinto isso."

Eu não sabia o que falar. Queria encorajá-lo, mas não sabia como. Meu otimismo estava bem pisoteado na neve lá da floresta, junto com todas as esperanças do capture
a bandeira. Antes que eu pudesse responder, Thalia subiu pesadamente as escadas. Ela oficialmente não estava falando comigo agora, mas ela olhou para Grover e disse,
"Fale para o Percy levar a bunda dele lá para baixo." "Por quê?" perguntei. "Ele falou alguma coisa?" Thalia perguntou a Grover. "Hum, ele perguntou por quê." "Dioniso
está convocando o conselho dos líderes de chalé para discutir a profecia," ela falou. "Infelizmente, isso inclui Percy." O conselho tomou lugar em torno de uma mesa
de Ping-Pong na sala de recreação. Dioniso acenou com a mão e forneceu lanches: patê de queijo, bolachas e diversas garrafas de vinho tinto. Então Quíron o lembrou
que vinho era contra as suas restrições e que muitos de nós éramos menores de idade. Sr. D suspirou. Com um estalo de dedos o vinho se transformou em Diet Coke.
Ninguém bebeu isso também. Sr. D e Quíron (na cadeira de rodas) sentaram numa ponta da mesa. Zoe e Bianca di Angelo (que havia se tornado um tipo de assistente pessoal
de Zoe) pegaram a outra ponta. Thalia, Grover e eu sentamos à direita, e os outros conselheiros chefes -- Beckendorf, Silena Beauregard e os irmãos Stoll -- sentaram
na esquerda. Os filhos de Ares deveriam ter mandado um representante também, mas todos eles haviam fraturado algum membro (acidentalmente) durante o capture a bandeira,
cortesia das Caçadoras. Eles estavam descansando na enfermaria. Zoe deu início à reunião com um recado positivo. "Isto é inútil." "Patê de queijo!" Grover falou
subitamente. Ele começou a catar bolachas e bolas de Ping-Pong e a passar cobertura nelas. "Não há tempo para conversa," Zoe continuou. "Nossa deusa precisa de nós.
As Caçadoras devem partir imediatamente." "E ir para onde?" Quíron perguntou. "Oeste!" Bianca falou. Estava impressionado com o quanto ela parecia diferente depois
de apenas poucos dias com as Caçadoras. Seu cabelo preto estava trançado como o de Zoe agora, então você poderia realmente ver o rosto dela. Ela tinha um punhado
de sardas pelo nariz, e seus olhos negros me lembravam vagamente de alguém famoso, mas eu não sabia quem. Parecia que ela estava se exercitando, e sua pele brilhava
fracamente, como a das outras Caçadoras, como se ela estivesse tomando banho de luar líquido. "Você escutou a profecia. Cinco devem ir para oeste até a deusa acorrentada.
Nós podemos reunir cinco caçadoras e ir." "Sim," concordou Zoe. "Ártemis está sendo mantida refém! Nós devemos achá-la e libertá-la." "Você está deixando passar
alguma coisa, como sempre," Thalia falou. "Campistas e Caçadoras combinados vão triunfar. Nós devemos fazer isso juntos." "Não!" disse Zoe. "As Caçadoras não precisam
da vossa ajuda." "Sua," Thalia resmungou. "Ninguém tem falado vossa em, tipo, trezentos anos, Zoe. Se liga." Zoe hesitou, como se estivesse tentando formar a palavra
corretamente. "Sôôôa. Nós não precisamos de sôôôa ajuda." Thalia rolou os olhos. "Esquece."

"Temo que a profecia diga que vocês precisam de nossa ajuda," Quíron disse. "Campistas e Caçadoras devem cooperar." "Ou não devem?" Sr. D disse, sonhador, agitando
sua Diet Coke embaixo do nariz como se tivesse uma bela fragrância. "Um deve se perder. Um deve perecer". Isso soa um pouco macabro, não é? E se vocês falharem porque
tentaram cooperar?" "Sr. D," Quíron suspirou, "com todo o respeito, de que lado você está?" Dioniso ergueu as sobrancelhas. "Desculpe, meu querido centauro. Apenas
tentando ajudar." "Nós devemos trabalhar juntos," Thalia disse, teimosa. "Eu também não gosto disso, Zoe, mas você conhece profecias. Você quer lutar contra uma?"
Zoe fez uma careta, mas eu podia dizer que Thalia tinha marcado um ponto. "Não devemos nos atrasar," Quíron avisou. "Hoje é domingo. Nesta sexta, vinte e um de dezembro,
é o solstício de inverno." "Ah, que prazer," Dioniso murmurou. "Outra chata reunião anual." "Ártemis deve estar presente no solstício," Zoe falou. "Ela tem sido
uma das mais atuantes no conselho, argumentando por ações contra os servos de Cronos. Se ela estiver ausente, os deuses não vão decidir nada. Nós vamos perder outro
ano com preparativos de guerra." "Você está sugerindo que os deuses têm problemas em agir juntos, mocinha?" Dioniso perguntou. "Sim, Lorde Dioniso." Sr. D balançou
a cabeça. "Apenas conferindo. Você está certa, é claro. Continue." "Devo concordar com Zoe," disse Quíron. "A presença de Ártemis no conselho de inverno é de suma
importância. Nós temos apenas uma semana para achá-la. E possivelmente ainda mais importante: localizar o monstro que ela estava caçando. Agora, devemos decidir
quem vai nessa missão." "Três e dois," eu falei. Todos olharam para mim. Thalia até se esqueceu de me ignorar. "Nós devemos ter cinco," eu disse, constrangido. "Três
Caçadoras, dois do Acampamento Meio-Sangue. É mais do que justo." Thalia e Zoe trocaram olhares. "Bem," Thalia disse. "Faz sentido." Zoe grunhiu. "Preferia levar
todas as Caçadoras. Precisaremos de força numérica." "Vocês estariam refazendo o trajeto da deusa," Quíron a lembrou. "Movendo-se rapidamente. Sem dúvida Ártemis
rastreou o cheiro desse monstro raro, o que quer que seja, enquanto ela se movia para oeste. Vocês precisarão fazer o mesmo. A profecia foi clara: A trilha a desgraça
do Olimpo vai lhes mostrar. O que sua senhora falaria? `Caçadoras demais estragam o cheiro'. É melhor um grupo menor." Zoe pegou uma raquete de Ping-Pong e estudou-a
como se fosse decidir em quem ela queria bater primeiro. "Esse monstro -- a desgraça do Olimpo. Estive caçando ao lado de Lady Ártemis por muitos anos, ainda assim
não tenho ideia do que essa fera pode ser." Todos olharam para Dioniso, acho que por ele ser o único deus presente e deuses supostamente sabem das coisas. Ele estava
folheando uma revista de vinhos, mas quando todos se calaram ele olhou de relance, "Bem, não olhem para mim. Sou um deus jovem, lembram? Não acompanho todos esses
monstros antigos e titãs empoeirados. Eles são um terrível assunto de conversa para uma festa." "Quíron," falei, "você não tem nenhuma ideia sobre o monstro?" Quíron
mordeu os lábios. "Tenho muitas ideias, nenhuma é boa. E nenhuma delas faz sentido. Tifão, por exemplo, encaixaria na descrição. Ele foi uma verdadeira desgraça

para o Olimpo. Ou o monstro marinho Ceto. Mas se um desses estivesse se agitando, nós saberíamos. Eles são monstros marinhos do tamanho de arranha-céus. Seu pai,
Poseidon, já teria soado o alarme. Temo que esse monstro possa ser mais ardiloso. Talvez até mais poderoso." "É um perigo bem sério que vocês estão encarando," Connor
Stoll disse. (Gostei de como ele falou vocês e não nós.) "Parece que pelo menos dois dos cinco vão morrer." "Um deve se perder na terra árida," Beckendorf falou.
"Se eu fosse vocês, ficaria longe do deserto." Houve murmúrios de concordância. "E A maldição do Titã um suportará," disse Silena. "O que isso pode significar?"
Vi Quíron e Zoe trocarem olhares nervosos, mas seja o que for que estivessem pensando, eles não compartilharam. "E pelas mãos de um parente um perecerá," Grover
falou entre mordidas de bolas de Ping-Pong e patê de queijo. "Como isso é possível? Qual parente iria matá-los?" Houve um pesado silêncio em volta da mesa. Olhei
de relance para Thalia e imaginei se ela estava pensando o mesmo que eu. Anos atrás, Quíron escutou uma profecia sobre a próxima criança da Grande Árvore -- Zeus,
Poseidon e Hades -- que fizesse dezesseis anos. Supostamente, essa criança tomaria uma decisão que iria salvar ou destruir os deuses para sempre. Por causa disso,
a Grande Árvore fez um juramento depois da Segunda Guerra Mundial de não ter mais filhos. Mas Thalia e eu nascemos mesmo assim, e agora nós dois estávamos próximos
dos dezesseis. Lembrei de uma conversa que tive ano passado com Annabeth. Perguntei a ela, se eu era tão potencialmente perigoso, porque os deuses simplesmente não
me matavam. Alguns dos deuses gostariam de matar você, ela falou. Mas eles estão com medo de ofender Poseidon. Poderia um parente Olimpiano se voltar contra seu
filho meio-sangue? Seria às vezes mais seguro apenas deixá-los morrer? Se em algum momento existiram meio-sangues que precisavam se preocupar com isso, éramos Thalia
e eu. Imaginei se eu deveria ter mandado para Poseidon aquela gravata modelo concha pelo Dia dos Pais, afinal. "Haverá mortes," Quíron decidiu. "Esse tanto nós sabemos."
"Oh, que bom!" Dioniso falou. Todos olharam para ele. Ele olhou de volta inocentemente de dentro das páginas da revista Apreciador de Vinho. "Ah, pinot noir está
fazendo um grande retorno. Não se importem comigo." "Percy está certo," Silena Beauregard falou. "Dois campistas devem ir." "Ah, percebo," Zoe disse sarcasticamente.
"E suponho que tu desejas ser voluntária?" Silena ruborizou. "Não vou a lugar nenhum com as Caçadoras. Não olhe para mim!" "Uma filha de Afrodite não quer ser olhada,"
zombou Zoe. "O que tua mãe diria?" Silena começou a se levantar, mas os irmãos Stoll a puxaram de volta. "Parem com isso," disse Beckendorf. Ele era um cara grande
com uma voz mais grave. Ele não falava muito, mas quando o fazia, as pessoas tendiam a escutar. "Vamos começar com as Caçadoras. Quais são as três de vocês que irão?"
Zoe levantou. "Eu devo ir, é claro, e vou levar Phoebe. Ela é nossa melhor rastreadora." "A garota grande que gosta de bater na cabeça das pessoas?" Travis Stoll
perguntou cautelosamente. Zoe confirmou com a cabeça. "A que botou flechas no meu elmo?" Connor acrescentou. "Sim," Zoe cortou. "Por quê?"

"Ah, nada," disse Travis. "É que nós temos uma camisa para ela da loja do acampamento." Ele mostrou uma grande camisa prateada que dizia ÁRTEMIS A DEUSA DA LUA,
PASSEIO DE CAÇA OUTONO 2002, com uma enorme lista de parques nacionais e coisas abaixo. "É um item de colecionador. Ela estava admirando isto. Você quer dar a ela?"
Eu sabia que os Stolls estavam aprontando algo. Eles sempre estavam. Mas acho que Zoe não os conhecia tão bem quanto eu. Ela apenas suspirou e pegou a camisa. "Como
eu estava falando, vou levar Phoebe. E queria que Bianca fosse." Bianca parecia paralisada. "Eu? Mas... sou tão nova. Eu não seria de nenhuma utilidade." "Tu te
sairás bem," Zoe insistiu. "Não há melhor maneira de te provar." Bianca fechou a boca. Eu me senti meio penalizado por ela. Lembrei da minha primeira missão quando
tinha doze anos. Tinha me sentido totalmente despreparado. Um pouco honrado, talvez, mas muito ressentido e bastante assustado. Percebi que as mesmas coisas estavam
passando pela cabeça de Bianca nesse momento. "E dos campistas?" Quíron perguntou. Os olhos deles encontraram os meus, mas não pude falar o que ele estava pensando.
"Eu!" Grover se levantou tão rápido que se chocou com a mesa de Ping-Pong. Ele limpou migalhas de bolacha e restos de bolas de Ping-Pong de seu colo. "Qualquer coisa
para ajudar Ártemis!" Zoe entortou o nariz. "Acho que não, sátiro. Tu nem ao menos és um meio-sangue." "Mas ele é um campista," Thalia falou. "E ele tem os sentidos
dos sátiros e magia da floresta. Você já consegue tocar uma canção de rastreador, Grover?" "Claro que sim!" Zoe vacilou. Eu não sabia o que era uma canção de rastreador,
mas aparentemente Zoe achava que era uma coisa boa. "Muito bem," Zoe disse. "E o segundo campista?" "Eu irei." Thalia levantou e olhou em volta, desafiando alguém
a questioná-la. Agora, tudo bem, talvez minhas habilidades matemáticas não fossem as melhores, mas de repente me ocorreu que já tínhamos atingido o número cinco,
e eu não estava no grupo. "Ei, espere um pouco," falei. "Eu também quero ir." Thalia não falou nada. Quíron continuava me estudando, com seus olhos tristes. "Ah,"
disse Grover, repentinamente ciente do problema. "Caramba, é, eu esqueci! Percy tem que ir. Eu não quis... Vou ficar. Percy deve ir no meu lugar." "Ele não pode,"
disse Zoe. "Ele é um garoto. Não terei Caçadoras viajando com um garoto." "Vocês viajaram até aqui comigo," eu a lembrei. "Foi uma emergência de curto prazo, e foram
ordens da deusa. Não vou atravessar o país e combater diversos perigos na companhia de um garoto." "E o Grover?" protestei. Zoe balançou a cabeça. "Ele não conta.
Ele é um sátiro. Ele não é tecnicamente um garoto." "Ei!" replicou Grover. "Eu tenho que ir," falei. "Preciso estar nessa missão." "Por quê?" Zoe perguntou. "Por
causa de tua amiga Annabeth?" Eu me senti ficando vermelho. Odiava que todo mundo estivesse me olhando. "Não! Quero dizer, em parte. Apenas sinto que devo ir!" Ninguém
se levantou em minha defesa. Sr. D parecia entediado, ainda lendo sua revista. Silena, os irmãos Stoll e Beckendorf estavam encarando a mesa. Bianca me deu um olhar
de pena.

"Não," Zoe disse terminantemente. "Insisto nisso. Levo um sátiro se for preciso, mas não um herói." Quíron suspirou. "A missão é para Ártemis. As Caçadoras devem
ser permitidas a aprovar seus companheiros." Minhas orelhas estavam zunindo quando me sentei. Sabia que Grover e alguns dos outros estavam olhando para mim simpaticamente,
mas eu não podia retornar o olhar. Apenas fiquei sentado lá enquanto Quíron encerrava o conselho. "Assim seja," ele falou. "Thalia e Grover vão acompanhar Zoe, Bianca
e Phoebe. Vocês devem partir na primeira luz do dia. E que os deuses" -- ele olhou para Dioniso -- "incluindo a presente companhia, esperemos -- estejam com vocês."
Não apareci para o jantar naquela noite, o que foi um erro, porque Quíron e Grover vieram me procurar. "Percy, eu sinto muito!" Grover disse, sentando ao meu lado
no beliche. "Eu não sabia que elas -- que você -- Honestamente!" Ele começou a fungar, e percebi que se não o animasse ele iria começar a berrar ou mastigar meu
colchão. Ele tende a comer objetos da mobília toda vez que fica triste. "Está tudo bem," eu menti. "Sério. Está bem." O lábio inferior de Grover tremeu. "Eu nem
estava pensando... Estava tão concentrado em ajudar Ártemis. Mas eu prometo, vou olhar em todo lugar por Annabeth. Se eu puder achá-la, eu o farei." Concordei com
a cabeça e tentei ignorar a grande cratera que estava se abrindo no meu peito. "Grover," Quíron disse, "você me deixaria ter uma palavra com Percy?" "Claro", ele
fungou. Quíron esperou. "Ah," Grover falou. "Você quis dizer a sós. Claro, Quíron." Ele me olhou, miserável. "Viu? Ninguém precisa de um bode." Ele trotou para fora,
assoando o nariz na manga da camisa. Quíron suspirou e se ajoelhou em suas patas de cavalo. "Percy, eu não tento entender profecias." "É," eu disse. "Bem, talvez
seja porque elas não fazem nenhum sentido." Quíron olhava fixamente a fonte de água salgada gorgolejando no canto do quarto. "Thalia não teria sido minha primeira
escolha para ir nessa missão. Ela é muito impetuosa. Age sem pensar. Ela é muito convicta de si mesma." "Você teria me escolhido?" "Francamente, não," ele disse.
"Você e Thalia são muito parecidos." "Muito obrigado." Ele sorriu. "A diferença é que você é menos autoconfiante que Thalia. Isso pode ser bom ou ruim. Mas uma coisa
eu posso dizer: vocês dois juntos seria algo perigoso." "Nós conseguiríamos lidar com isso." "Do jeito que lidaram no riacho esta noite?" Não respondi. Ele tinha
me pegado. "Talvez seja melhor assim," Quíron refletiu. "Você pode ir para casa com sua mãe no feriado. Se precisarmos de você, nós podemos ligar." "É," falei. "Talvez."
Tirei Contracorrente do meu bolso e pus em cima do criado mudo. Não parecia que eu iria usá-la para nada além de escrever cartões de Natal.

Quando olhou a caneta, Quíron fez uma careta. "Não é surpresa Zoe não querer você por perto, suponho. Não enquanto você estiver carregando essa arma em particular."
Não entendi o que ele queria dizer com isso. Então me lembrei de algo que ele havia me dito há um longo tempo atrás, na primeira vez que me entregou a espada mágica:
Ela tem uma história longa e trágica, que nós não precisamos entrar em detalhes. Queria perguntar a ele sobre isso, mas ele puxou um dracma de ouro de seu alforje
e jogou para mim. "Ligue para sua mãe, Percy. Deixe-a saber que você está indo para casa pela manhã. E, ah, se vale a pena saber... Eu quase me voluntariei para
essa missão. Teria ido, se não fosse pela última frase." "E pelas mãos de um parente um perecerá. É." Nem precisava perguntar. Eu sabia que o pai de Quíron era Cronos,
o maligno Lorde Titã em pessoa. A frase faria perfeito sentido se Quíron fosse na missão. Cronos não se importava com ninguém, incluindo seus próprios filhos. "Quíron,"
eu disse. "Você sabe o que é essa maldição do Titã, não sabe?" Sua face escureceu. Ele fez uma garra sobre seu coração e empurrou para fora -- um antigo gesto para
se proteger contra o mal. "Vamos torcer para que a profecia não signifique o que eu penso. Agora, boa noite, Percy. E sua vez irá chegar. Estou convencido disso.
Não precisa ter pressa." Ele disse sua vez do jeito que as pessoas falam quando querem dizer sua morte. Não sabia se Quíron fez de propósito, mas o brilho em seus
olhos me deixou assustado para perguntar. Fiquei em pé junto à fonte de água salgada, esfregando a moeda de Quíron em minhas mãos. Eu realmente não estava disposto
a ter outro adulto me falando que fazer nada era a melhor coisa que eu podia fazer, mas achei que minha mãe precisava de uma atualização. Finalmente, respirei fundo
e arremessei a moeda. "Ó deusa, aceite minha oferenda." A névoa cintilou. A luz do banheiro era suficiente para fazer um fraco arco-íris. "Mostre-me Sally Jackson,"
eu disse. "Upper East Side, Manhattan." E na névoa estava uma cena que eu não esperava. Minha mãe estava sentada em nossa cozinha com um... cara. Eles estavam rindo
histericamente. Havia uma grande pilha de livros entre eles. O homem tinha, não sei, trinta e poucos anos, com longos cabelos grisalhos e uma jaqueta marrom por
cima de uma camiseta preta. Ele parecia um ator -- como um rapaz que atuaria como um policial disfarçado na televisão. Estava muito surpreso para dizer algo, e por
sorte, minha mãe e o cara estavam muito ocupados rindo para notar minha mensagem de Íris. O rapaz disse, "Sally, você é uma bagunceira. Quer mais vinho?" "Ah, eu
não devo. Pode continuar se quiser." "Na verdade, acho que devo usar seu banheiro. Posso?" "No fim do corredor," ela disse, tentando não rir. O cara ator sorriu,
levantou-se e saiu. "Mãe!" eu disse. Ela pulou tão forte que quase derrubou os livros da mesa. Finalmente ela se concentrou em mim. "Percy! Oh, querido! Está tudo
bem?" "O que você está fazendo?" eu exigi. Ela piscou. "Dever de casa." Então parece que ela entendeu minha expressão facial. "Ah, querido, é apenas o Paul -- hum,
Sr. Bayck. Ele está no meu seminário de redação." "Sr. Baiacu?"

"Bayck. Ele estará de volta em um minuto, Percy. Diga-me o que está errado." Ela sempre sabia quando tinha algo errado. Falei para ela sobre Annabeth. As outras
coisas também, mas girou principalmente em torno de Annabeth. Os olhos de minha mão começaram a lacrimejar. Eu podia dizer que ela estava tentando ao máximo se segurar
por minha causa. "Oh, Percy..." "É. Então eles me falam que não há nada que eu possa fazer. Acho que vou voltar para casa." Ela girou seu lápis entre os dedos. "Percy,
por mais que eu queira que você venha para casa" -- ela suspirou como se estivesse com raiva de si mesma -- "por mais que eu queira a sua segurança, quero que você
entenda uma coisa. Você precisa fazer aquilo que acha que deve fazer." Eu a encarei. "O que você quer dizer?" "Quero dizer, você realmente, lá no fundo, acredita
que precisa ajudar a salvá-la? Você acha que é a coisa certa a fazer? Porque eu sei uma coisa sobre você, Percy. Seu coração está sempre no lugar certo. Escute-o."
"Você... você está falando para eu ir?" Minha mão mordeu os lábios. "Estou falando que... você está ficando muito velho para eu ficar dizendo o que deve fazer. Estou
falando que vou te apoiar, mesmo que o que você decida fazer seja perigoso. Não acredito que estou dizendo isso." "Mãe --" A descarga fez barulho no fim do corredor
do nosso apartamento. "Eu não tenho muito tempo," minha mãe falou. "Percy, qualquer coisa que decidir, eu amo você. E sei que você vai fazer o que for melhor para
Annabeth." "Como você pode ter certeza?" "Porque ela faria o mesmo por você." E com isso, minha mãe passou a mão por cima da névoa, e a conexão se dissolveu, deixando-me
com uma imagem final de seu amigo, Sr. Baiacu, sorrindo para ela. Não me lembro de ter dormido, mas lembro do sonho. Eu estava de volta naquela caverna estéril,
o teto pesado e baixo acima de mim. Annabeth estava ajoelhada debaixo do peso de uma massa escura que parecia uma pilha de rochas. Ela estava cansada demais mesmo
para gritar. Suas pernas tremiam. A qualquer segundo, sabia que ela ficaria sem forças e o teto da caverna desabaria sobre ela. "Como está nossa hóspede mortal?"
uma voz masculina ressoou. Não era Cronos. A voz de Cronos era ríspida e metálica, como uma faca arranhando uma pedra. Já havia escutado-a me insultando várias vezes
antes em meus sonhos. Mas essa voz era mais profunda e baixa, como um contrabaixo. Sua força fazia o chão vibrar. Luke emergiu das sombras. Ele correu até Annabeth,
ajoelhou-se ao lado dela, então olhou de volta para o homem oculto. "Ela está enfraquecendo. Devemos nos apressar." O hipócrita. Como se ele realmente se importasse
com o que aconteceria a ela. A voz grave riu entre dentes. Pertencia a alguém nas sombras, no limite do meu sonho. Então uma mão carnuda empurrou alguém a frente
para dentro da luz -- Ártemis -- suas mãos e pés confinados em correntes de bronze celestial. Respirei com dificuldade. Seu vestido prateado estava rasgado e esfarrapado.
Seu rosto e braços estavam cortados em vários lugares, e ela estava sangrando icor, o sangue dourado dos deuses. "Você ouviu o garoto," falou o homem nas sombras.
"Decida-se!" Os olhos de Ártemis reluziam de raiva. Eu não sabia por que ela simplesmente não arrebentava as correntes, ou desaparecia, mas ela não parecia ser capaz
de fazê-lo. Talvez as correntes a impedissem, ou alguma magia desse sombrio, horrível lugar.

A deusa olhou para Annabeth e sua expressão mudou para preocupação e ofensa. "Como ousa torturar uma donzela dessa maneira!" "Ela vai morrer em breve," Luke disse.
"Você pode salvá-la." Annabeth emitiu um fraco som de protesto. Sentia que meu coração estava sendo enroscado em um nó. Queria correr até ela, mas não podia me mexer.
"Liberte minhas mãos," Ártemis disse. Luke trouxe sua espada, Mordecostas. Com um golpe preciso, ele quebrou as algemas da deusa. Ártemis correu até Annabeth e tomou
o fardo dos seus ombros. Annabeth desabou no chão e ficou lá, tremendo. Ártemis cambaleou, tentando suportar o peso das pedras escuras. O homem nas sombras abafou
uma risada. "Você é tão previsível quanto foi fácil de derrotar, Ártemis." "Você me pegou de surpresa," a deusa falou, esforçando-se debaixo de seu fardo. "Não vai
acontecer de novo." "Realmente não vai," o homem disse. "Agora você está fora do caminho de vez! Eu sabia que você não resistiria em ajudar uma jovem donzela. Esta
é, afinal, sua especialidade, minha querida." Ártemis resmungou. "Você não sabe nada sobre misericórdia, seu porco." "Nisso," o homem disse, "nós podemos concordar.
Luke, você pode matar a garota agora." "Não!" Ártemis gritou. Luke hesitou. "Ela -- ela pode ser útil, senhor. Isca adicional." "Argh! Você realmente acredita nisso?"
"Sim, General. Eles virão atrás dela. Tenho certeza." O homem considerou. "Então as mulheres-dragão podem mantê-la aqui. Assumindo que ela não morra dos ferimentos,
você pode deixá-la viva até o solstício de inverno. Depois disso, se o nosso sacrifício for de acordo com o planejado, a vida dela não significará nada. A vida de
todos os mortais não significará nada." Luke recolheu o corpo inerte de Annabeth e a carregou para longe da deusa. "Você nunca vai encontrar o monstro que procura,"
Ártemis disse. "Seu plano vai falhar." "Quão pouco você sabe, minha jovem deusa," disse o homem nas sombras. "Mesmo agora, suas queridas servas iniciam uma missão
para encontrar você. Elas devem cair direto em minhas mãos. Agora, se nos der licença, temos uma longa jornada a fazer. Devemos saudar suas Caçadoras e ter certeza
de que a missão delas será... desafiadora." A risada do homem ecoou na escuridão, estremecendo o chão até parecer que todo o teto da caverna ia desabar. Acordei
com um solavanco. Tinha certeza de ter escutado uma batida forte. Olhei em volta no chalé. Estava escuro lá fora. A fonte salgada ainda gorgolejava. Nenhum outro
som a não ser o pio de uma coruja no bosque e a distante rebentação na praia. À luz do luar, em meu criado mudo estava o boné do New York Yankees de Annabeth. Olhei
para ele por um segundo e então: BANG! BANG! Alguém, ou alguma coisa, estava esmurrando a minha porta. Segurei Contracorrente e levantei da cama. "Olá?" eu chamei.
THUMP! THUMP! Arrastei-me até a porta. Desencapei a espada, abri a porta, e me encontrei cara a cara com um pégaso negro.

Uou, chefe! Sua voz falou na minha cabeça enquanto ele cavalgava para longe da lâmina da espada. Não quero virar espetinho de cavalo! Suas asas negras se abriram
em alarme, e o vento me empurrou de volta um passo. "Blackjack," falei aliviado, mas um pouco irritado. "É madrugada!" Blackjack respondeu, magoado. Nem tanto, chefe.
São cinco da manhã. Por que você ainda está dormindo? "Quantas vezes eu tenho que falar? Não me chame de chefe." Como quiser, chefe. Você é o cara. Meu número um.
Esfreguei o sono para fora dos meus olhos e tentei não deixar o pégaso ler meus pensamentos. Esse é o problema de ser filho de Poseidon: desde que ele criou os cavalos
da espuma do mar, eu consigo entender a maioria dos animais equinos, mas eles conseguem me entender, também. Às vezes, como no caso de Blackjack, eles meio que me
escolhem. Veja, Blackjack foi prisioneiro a bordo do barco de Luke no verão passado, até que nós causamos uma pequena distração que o permitiu . Eu realmente
tive muito pouco a ver com isso, sério, mas Blackjack me dava os créditos por tê-lo salvado. "Blackjack," eu disse, "você deveria permanecer nos estábulos." Mé,
os estábulos. Você vê Quíron ficando nos estábulos? "Bem... não." Exatamente. Escute, temos outro amigo marinho que precisa de sua ajuda. "De novo?" Sim. Falei aos
cavalos-marinhos que viria pegar você. Resmunguei. Sempre que estava perto da praia, os cavalos-marinhos me pediam para ajudá-los com seus problemas. E eles tinham
muitos problemas. Baleias encalhadas, golfinhos capturados em redes de pesca, sereias com cutículas inflamadas -- eles me chamavam para ir debaixo d'água e ajudar.
"Tudo bem," eu disse. "Estou indo." Você é o melhor, chefe. "E não me chame de chefe!" Blackjack relinchou suavemente. Deve ter sido uma risada. Olhei de volta para
a minha cama confortável. Meu escudo de bronze ainda pendurado na parede, denteado e inutilizável. E no meu criado mudo estava o boné mágico dos Yankees de Annabeth.
Em um impulso, coloquei o boné no meu bolso. Acho que tive um pressentimento, mesmo naquela hora, que eu não voltaria para o meu chalé por um longo, longo tempo.

OITO

EU FAÇO UMA PROMESSA PERIGOSA
Blackjack me deu uma carona até a praia, e admito que foi legal. Estar em um cavalo alado, tocando de leve nas ondas a cem quilômetros por hora com o vento no meu
cabelo e o borrifo do mar no meu rosto -- ei, é melhor que esqui aquático em qualquer dia. Aqui. Blackjack reduziu a velocidade e virou em círculo. Diretamente abaixo.
"Obrigado." Desmontei de suas costas e mergulhei no mar gelado. Estava me sentindo mais confortável fazendo acrobacias como essa nos últimos anos. Podia me mover
praticamente do jeito que eu quisesse dentro d'água, apenas desejando que as correntes marinhas mudassem ao meu redor e me impulsionassem para frente, eu podia respirar
embaixo d'água, sem problemas, e minhas roupas nunca molhavam a não ser que eu quisesse. Disparei para baixo na escuridão. Cinco, dez, quinze metros. A pressão não
era desconfortável. Eu nunca tentei forçar -- para ver se havia um limite para quão profundamente eu podia mergulhar. Sabia que a maioria dos humanos normais não
conseguia passar de sessenta metros sem ser amassado como uma lata de alumínio. Eu deveria estar cego também, tão fundo na água à noite, mas eu conseguia ver o calor
das formas de vida, e o frio das correntes. É difícil descrever. Não era como uma visão comum, mas eu podia dizer onde todas as coisas estavam. Quando cheguei mais
perto do fundo do mar, vi três cavalos-marinhos -- cavalos com rabos de peixe -- nadando em círculo ao redor de um barco revirado. Os cavalosmarinhos eram bonitos
de observar. Suas caudas de peixe reluziam nas cores do arcoíris, brilhando fosforescentes. Suas crinas eram brancas, e eles galopavam pela água do jeito que cavalos
nervosos fazem em uma tempestade. Alguma coisa os estava perturbando. Cheguei mais perto e vi o problema. Uma forma escura -- algum tipo de animal -- estava presa
pela metade debaixo do barco e enroscado em uma rede de pesca, uma dessas grandes redes que se usam em navios pesqueiros para capturar tudo de uma vez. Odiava essas
coisas. Era suficientemente ruim eles afogarem botos e golfinhos, mas eles de vez em quando também capturavam animais mitológicos. Quando as redes ficavam emaranhadas,
alguns pescadores preguiçosos apenas as cortavam e deixavam os animais presos morrerem. Aparentemente esta pobre criatura esteve fertilizando o fundo do mar do Estuário
de Long Island e de algum jeito se enroscou na rede deste barco pesqueiro afundado. Ela tinha tentado sair, mas conseguiu ficar ainda mais desesperadamente presa,
virando o barco no processo. Agora os destroços do casco, que estava apoiado contra uma grande pedra, estavam oscilando e ameaçando desabar em cima do animal enroscado.
Os cavalos-marinhos estavam nadando ao redor freneticamente, querendo ajudar, mas sem saber como. Um estava tentando mastigar a rede, mas dentes de cavalos-marinhos
simplesmente não são feitos para cortar cordas. Cavalos-marinhos são realmente fortes, mas eles não têm mãos, e não são (shhh) tão inteligentes.

Liberte, lorde! Um cavalo-marinho disse quando me viu. Os outros se juntaram, pedindo a mesma coisa. Nadei para olhar mais de perto a criatura enroscada. Primeiramente
pensei que fosse um jovem cavalo-marinho. Já tinha resgatado muitos deles antes. Mas aí eu ouvi um barulho estranho, algo que não pertencia ao ambiente subaquático.
"Mooooooo!" Eu me aproximei da coisa e vi que era uma vaca. Quero dizer... já tinha ouvido falar de vacas marinhas, tipo peixe-boi e coisas assim, mas essa era realmente
uma vaca com a traseira de uma serpente. A metade da frente era um bezerro -- um bebê, com pelo negro e olhos castanhos grandes e tristes, com focinho branco --
e sua metade de trás era uma cauda de serpente preta e marrom com barbatanas correndo do início ao fim, como uma enguia gigante. "Uau, pequenino," eu falei. "De
onde você vem?" A criatura me olhou, triste. "Moooo!" Mas eu não consegui entender seus pensamentos. Apenas falava com cavalos. Nós não sabemos o que é, lorde, um
dos cavalos-marinhos disse. Muitas coisas estranhas estão se agitando. "Sim," murmurei. "Também ouvi falar." Desencapei Contracorrente, e a espada cresceu até o
tamanho total em minhas mãos, sua lâmina de bronze reluzindo no escuro. A vaca-serpente enlouqueceu e começou a se debater contra a rede, seus olhos cheios de terror.
"Uou!" eu disse. "Não vou machucar você! Apenas me deixe cortar a rede." Mas a vaca-serpente se descontrolou de vez e ficou ainda mais enroscada. O barco começou
a inclinar, remexendo a imundice do fundo do mar e ameaçando tombar por cima da vaca-serpente. Os cavalos-marinhos relinchavam em pânico fazendo rebuliço na água,
o que não ajudava. "Ok, ok!" eu disse. Guardei a espada e comecei a falar o mais calmo que podia, para os cavalos-marinhos e a vaca-serpente pararem com o pânico.
Não sabia se era possível ser pisoteado dentro d'água, mas eu não queria realmente descobrir. "Tá legal. Nada de espada. Viu? Sem espada. Pensamentos calmos. Algas
marinhas. Mamãe vaca. Vegetarianismo." Eu duvidava que a vaca-serpente tivesse entendido o que eu estava falando, mas ela respondeu ao tom da minha voz. Os cavalos-marinhos
ainda estavam fazendo drama, mas eles pararam de rodopiar à minha volta bem rapidamente. Liberte, lorde! eles imploravam. "É." eu disse. "Isso eu já entendi. Estou
pensando." Mas como eu poderia libertar a vaca-serpente quando ela (decidi que era provavelmente uma fêmea) entrava em pânico ao avistar uma lâmina? Era como se
ela tivesse visto espadas antes e soubesse o quanto eram perigosas. "Tudo bem," falei aos cavalos-marinhos. "Preciso que vocês todos empurrem do jeito que eu falar."
Primeiro começamos com o barco. Não foi fácil, mas com a força de três cavalos vigorosos nós conseguimos virar os destroços, então não estava mais ameaçando desabar
na vaca-serpente bebê. Depois fui trabalhar na rede, desemaranhando parte por parte, retirando pesos de chumbo e anzóis retorcidos, arrancando nós em torno dos cascos
da vaca-serpente. Levou uma eternidade -- quero dizer, foi pior que a vez em que tive que desemaranhar todos os fios dos meus controles de vídeo game. O tempo

todo continuei conversando com o peixe vaca, falando que tudo estava bem enquanto ela mugia e gemia. "Está tudo bem, Bessie," eu disse. Não me pergunte por que comecei
a chamá-la assim. Apenas parecia um bom nome para uma vaca. "Boa vaca. Vaca simpática." Finalmente, a rede saiu e a vaca-serpente disparou pela água e deu uma feliz
cambalhota. Os cavalos-marinhos relincharam de alegria. Obrigado, lorde! "Moooo!" A vaca-serpente encostou o focinho em mim e me olhou com seus grandes olhos castanhos.
"Sim," eu disse. "Tudo ok. Vaca simpática. Bem... fique longe de problemas." O que me lembrou, eu estava debaixo d'água há quanto tempo? Uma hora, pelo menos. Precisava
voltar para o meu chalé antes que Argo ou as harpias descobrissem que eu estava desobedecendo ao toque de recolher. Disparei para cima e atravessei a superfície
da água. Imediatamente, Blackjack desceu e me deixou segurar em seu pescoço. Ele me levantou no ar e me levou de volta ao litoral. Sucesso, chefe? "Sim. Nós resgatamos
um bebê... ou algo assim. Demorou uma eternidade. Quase fui pisoteado." Bons feitos são sempre perigosos. Você salvou minha pobre crina, não foi? Não pude evitar
pensar no meu sonho, com Annabeth machucada e sem vida nos braços de Luke. Eu estava aqui, resgatando bebês monstros, mas não podia salvar minha amiga. Enquanto
Blackjack voava de volta para o meu chalé, olhei de relance para o refeitório. Vi uma figura -- um garoto agachado atrás de uma coluna grega, como se estivesse se
escondendo de alguém. Era Nico, mas não era alvorada ainda. Nem um pouco perto do horário do café da manhã. O que ele estava fazendo ali? Eu hesitei. A última coisa
que eu queria era mais tempo para Nico me falar sobre seu jogo Mythomagic. Mas algo estava errado. Podia falar pelo jeito como ele estava agachado. "Blackjack,"
eu disse. "Deixe-me bem ali, pode ser? Atrás daquela coluna." Eu quase estraguei tudo. Eu estava subindo os degraus atrás de Nico. Ele não havia me visto. Estava
atrás de uma coluna, espiando pelo canto, toda a atenção voltada para a área de refeições. Eu estava a um metro e meio de distância, prestes a falar O que você está
fazendo? bem alto, quando me ocorreu que ele estava dando uma de Grover: ele estava espiando as Caçadoras. Havia vozes -- duas garotas conversando em uma das mesas
de jantar. A essa hora despropositada da manhã? Bem, a não ser que você seja a deusa da alvorada, eu acho. Tirei o boné mágico de Annabeth do meu bolso e pus na
cabeça. Não me senti nem um pouco diferente, mas quando levantei os braços, não conseguia vê-los. Eu estava invisível. Eu me arrastei até Nico e me esgueirei em
torno dele. Não conseguia ver muito bem as garotas no escuro, mas conhecia as vozes delas: Zoe e Bianca. Parecia que elas estavam discutindo. "Não pode ser curado,"
Zoe estava dizendo. "Não rapidamente, de qualquer maneira." "Mas como isso aconteceu?" Bianca perguntou.

"Uma travessura boba," rosnou Zoe. "Esses garotos Stoll do chalé de Hermes. Sangue de centauro é como ácido. Todo mundo sabe disso. Eles borrifaram a parte de dentro
daquela camiseta do Passeio de Caça de Ártemis com isso." "Isso é terrível!" "Ela vai viver," Zoe disse. "Mas ela vai ficar de cama por semanas com horríveis marcas
de alergia. De forma alguma ela poderá ir. Cabe a mim... e a ti." "Mas a profecia," Bianca disse. "Se Phoebe não pode ir, nós só temos quatro. Teremos que escolher
outro." "Não há tempo," disse Zoe. "Nós devemos partir à primeira luz. Isto é imediatamente. Além do mais, a profecia disse que perderíamos um." "Na terra árida,"
Bianca disse, "mas isso não pode ser aqui." "Pode ser." Zoe disse, mesmo que não soasse convincente. "O acampamento tem fronteiras mágicas. Nada, nem mesmo o clima,
pode entrar sem permissão. Poderia ser uma terra árida." "Mas --" "Bianca, escuta-me," a voz de Zoe estava cansada. "Eu... eu não posso explicar, mas tenho um pressentimento
de que não devemos escolher outra pessoa. Seria muito perigoso. Eles iriam conhecer um fim pior que o de Phoebe. Não quero Quíron escolhendo um campista como nosso
quinto companheiro. E... não quero arriscar outra Caçadora." Bianca estava em silêncio. "Você devia falar para Thalia o resto do seu sonho." "Não. Não iria ajudar."
"Mas se suas suspeitas estiverem corretas, sobre o General --" "Tenho tua palavra de não falar sobre isso." Zoe disse. Ela parecia realmente angustiada. "Nós vamos
descobrir muito em breve. Agora vem. A alvorada está surgindo." Nico saiu do caminho delas. Ele foi mais rápido do que eu. Enquanto as garotas desciam os degraus,
Zoe quase encostou em mim. Ela congelou, os olhos estreitando. Sua mão se arrastou até o arco, mas então Bianca disse, "As luzes da Casa Grande estão acesas. Vamos!"
E Zoe a seguiu para fora do pavilhão. Eu podia dizer o que Nico estava pensando. Ele respirou fundo e estava prestes a correr atrás de sua irmã quando eu tirei o
boné de invisibilidade e disse, "Espere." Ele quase escorregou nos degraus congelados enquanto girava em volta para me achar. "De onde você veio?" "Estive aqui o
tempo todo. Invisível." Ele fez com a boca a palavra invisível. "Uau. Legal." "Como você sabia que Zoe e sua irmã estavam aqui?" Ele ficou vermelho. "Eu as ouvi
andando perto do chalé de Hermes. Eu não... eu não durmo tão bem no acampamento. Então escutei passos, e elas sussurrando. E eu meio que segui." "E agora você está
pensando em segui-las na missão," eu adivinhei. "Como você sabia disso?" "Porque se fosse minha irmã, provavelmente estaria pensando a mesma coisa. Mas você não
pode." Ele olhou desafiador. "Por que sou muito novo?"

"Porque elas não vão deixar. Vão capturá-lo e mandá-lo de volta para cá. E... sim, porque você é muito novo. Você se lembra da mantícora? Haverá muitos outros como
aquilo. Mais perigosos. Alguns dos heróis vão morrer." Seus ombros caíram. Ele jogava o peso de um pé para o outro. "Talvez você esteja certo. Mas, mas você pode
ir por mim." "O que disse?" "Você pode ficar invisível. Você pode ir!" "As Caçadoras não gostam de garotos," eu o lembrei. "Se elas descobrirem --" "Não as deixe
descobrirem. Siga-as invisível. Fique de olho na minha irmã! Você tem que fazer isso. Por favor?" "Nico --" "Você está planejando ir de qualquer jeito, não é?" Eu
queria dizer que não. Mas ele me olhou nos olhos, e de alguma forma eu não consegui mentir para ele. "É," eu disse. "Tenho que achar Annabeth. Tenho que ajudar,
mesmo que elas não queiram." "Não vou dedurar você," ele disse. "Mas você tem que prometer que vai manter minha irmã segura." "Eu... isso é algo muito grande para
prometer, Nico, em uma viagem como essa. Além disso, ela tem Zoe, Grover e Thalia --" "Prometa," ele insistiu. "Vou fazer o meu melhor. Prometo isso." "Vá indo,
então!" ele disse. "Boa sorte!" Era loucura. Eu não tinha arrumado as malas. Não tinha nada além do boné, a espada e as roupas que estava vestindo. Supostamente,
devia ir para minha casa em Manhattan nesta manhã. "Diga a Quíron --" "Vou inventar alguma coisa." Nico sorriu torto. "Sou bom nisso. Pode ir!" Corri, colocando
o boné de Annabeth. Enquanto o sol aparecia, eu me tornei invisível. Cheguei ao topo da Colina Meio-Sangue a tempo de ver a van do acampamento desaparecendo pela
estrada da fazenda, provavelmente Argo levando o grupo da missão até a cidade. Após isso eles estariam por conta própria. Senti uma pontada de culpa, e estupidez,
também. Como eu deveria acompanhá-las? Correndo? Então escutei o bater de imensas asas. Blackjack pousou ao meu lado. Ele começou casualmente a fuçar alguns tufos
de grama que escapavam através do gelo. Se eu fosse adivinhar, chefe, diria que você precisa de um cavalo de fuga. Está interessado? Um caroço de gratidão se formou
na minha garganta, mas eu consegui falar, "Sim. Vamos voar."

NOVE

EU APRENDO COMO CULTIVAR ZUMBIS
O negócio de voar em um pégaso durante o dia é que se você não for cauteloso, você pode causar um sério acidente de trânsito na Via Expressa de Long Island. Tive
que manter Blackjack entre as nuvens, que estavam, felizmente, bem baixas no inverno. Nós voamos ao redor, tentando manter a van branca do Acampamento Meio-Sangue
à vista. E se estava frio no solo, estava extremamente frio no ar, com granizo picando minha pele. Desejava ter trazido algumas das cuecas térmicas laranjas do Acampamento
MeioSangue que eles vendiam na loja do acampamento, mas depois da história de Phoebe e da camisa com sangue de centauro, não estava tão certo se ainda confiava nos
produtos de lá. Nós perdemos a van duas vezes, mas eu tinha um bom pressentimento que eles iriam para dentro de Manhattan primeiro, então não era tão difícil pegar
de novo o rastro deles. O trânsito estava ruim com os feriados e tudo mais. Já era o meio da manhã antes que elas entrassem na cidade. Aterrissei com Blackjack perto
do topo do prédio Chrysler e observei a van branca do acampamento, pensando que iria encostar na estação de ônibus, mas ela apenas continuou dirigindo. "Aonde Argo
os está levando?" eu murmurei. Ah, Argo não está dirigindo, chefe, Blackjack me disse. Aquela garota está. "Qual garota?" A garota Caçadora. Com um tipo de coroa
prateada no cabelo. "Zoe?" Essa mesma. Ei, olhe! Ali tem uma loja de rosquinhas. Podemos pegar alguma coisa para viagem? Tentei explicar para Blackjack que levar
um cavalo alado para uma loja de rosquinhas provocaria um ataque cardíaco em qualquer policial de lá, mas ele não parecia entender. Enquanto isso, a van continuou
serpenteando pelo caminho em direção ao Túnel Lincoln. Nunca tinha me ocorrido que Zoe podia dirigir. Quero dizer, ela não parecia ter dezesseis anos. E, de novo,
ela era imortal. Imaginei se ela tinha uma licença de Nova York, e se tinha, o que dizia na data de nascimento. "Bem," eu disse. "Vamos atrás delas." Estávamos prestes
a pular do prédio Chrysler quando Blackjack relinchou alarmado e quase me jogou. Alguma coisa estava se enrolando na minha perna como uma serpente. Alcancei minha
espada, mas quando olhei para baixo, não havia nenhuma serpente. Vinhas -- videiras -- tinham brotado das rachaduras entre as pedras da construção. Elas estavam
envolvendo as patas de Blackjack, chicoteando meus tornozelos de forma que não podíamos nos mover. "Indo a algum lugar?" Sr. D perguntou. Ele estava inclinado sobre
o prédio com os pés levitando no ar, seu agasalho de pele de leopardo e seu cabelo negro balançando no vento. Alerta de deus! Blackjack gritou. É o cara do vinho!

Sr. D suspirou, exasperado. "A próxima pessoa, ou cavalo, que me chamar de `cara do vinho' vai acabar em uma garrafa de Merlot!" "Sr. D," tentei manter minha voz
calma enquanto as videiras continuavam envolvendo meus tornozelos "O que você quer?" "Oh, o que eu quero? Você pensou, talvez, que o imortal, todo-poderoso diretor
do acampamento não ia perceber você saindo sem permissão?" "Bem... Talvez." "Eu deveria jogar você desse prédio, sem o cavalo alado, e ver o quão heróico você vai
parecer no caminho para baixo." Cerrei os punhos. Sabia que devia manter a boca fechada, mas o Sr. D estava a ponto de me matar ou me arrastar de volta para o acampamento
coberto de vergonha, e eu não suportava qualquer das ideias. "Por que você me odeia tanto? O que eu fiz para você?" Chamas púrpuras tremeluziram em seus olhos. "Você
é um herói, garoto. Não preciso de outra razão." "Eu tenho que ir nessa missão! Tenho que ajudar meus amigos. Isso é algo que você não entenderia!" Hum, chefe, Blackjack
disse nervosamente. Vendo como estamos presos por videiras a quase trezentos metros do chão, você poderia ser mais simpático. As videiras enrolaram-se com mais força
em torno de mim. Abaixo de nós, a van branca estava cada vez mais distante. Logo estaria fora de vista. "Já lhe contei sobre Ariadne?" Sr. D perguntou. "Princesa
jovem e bonita de Creta? Ela gostava de ajudar os amigos, também. De fato, ela ajudou um jovem herói chamado Teseu, também um filho de Poseidon. Ela deu a ele um
novelo de fios mágicos que o permitiu achar seu caminho para fora do Labirinto. E você sabe como Teseu retribuiu?" A resposta que eu queria dar era Eu não me importo!
Mas não achava que isso faria o Sr. D terminar a história mais rápido. "Eles se casaram," eu disse. "Felizes para sempre. Fim." Sr. D zombou. "Nem tanto. Teseu disse
que se casaria com ela. Ele a levou em seu barco e navegou para Atenas. Na metade do caminho de volta, em uma pequena ilha chamada Naxos, ele... Qual é a expressão
que vocês mortais usam hoje em dia?... Ele deu o fora nela. Eu a encontrei lá, você sabe. Sozinha. Coração partido. Chorando rios de lágrimas. Ela tinha desistido
de tudo, deixado para trás tudo que conhecia, para ajudar um jovem herói que a jogou fora como a uma sandália quebrada." "Isso foi errado," eu disse. "Mas aconteceu
há séculos atrás. O que isso tem a ver comigo?" Sr. D me fitou friamente. "Eu me apaixonei por Ariadne, garoto. Curei seu coração partido. E quando ela morreu, fiz
dela minha esposa imortal no Olimpo. Ela espera por mim mesmo agora. Devo voltar para ela quando tiver terminado com esse maldito século de punição no seu acampamento
ridículo." Eu o encarei. "Você... você é casado? Mas eu pensei que você estivesse metido em problemas por perseguir uma ninfa da floresta --" "Meu ponto é que vocês
heróis nunca mudam. Vocês acusam a nós deuses de sermos convencidos. Deviam olhar para si mesmos. Vocês pegam o que querem, usam quem tiverem que usar, e depois
traem todos que estiverem em volta. Então me desculpe se eu não tenho nenhum amor pelos heróis. Eles são um bando de egoístas ingratos. Pergunte a Ariadne. Ou Medéia.
Sobre essa questão, pergunte a Zoe Nightshade." "Como assim, perguntar a Zoe?" Ele balançou a mão em despedida. "Vá. Siga seus tolos amigos."

As vinhas se desenrolaram das minhas pernas. Pisquei sem acreditar. "Você... você está me deixando ir? Assim?" "A profecia diz que pelo menos dois de vocês morrerão.
Talvez eu terei sorte e você será um deles. Mas marque minhas palavras, Filho de Poseidon, vivo ou morto, você não provará ser melhor que os outros heróis." Com
isso, Dioniso estalou os dedos. Sua imagem se dobrou como se fosse de papel. Houve um pop e ele tinha sumido, deixando um suave aroma de uvas que rapidamente foi
soprado pelo vento. Perto demais, Blackjack disse. Concordei com a cabeça, embora por pouco eu não teria ficado menos preocupado se o Sr. D tivesse me arrastado
de volta para o acampamento. O fato de ele ter me deixado ir significava que ele realmente acreditava que nós tínhamos uma grande chance de sermos destruídos e carbonizados
nessa missão. "Vamos, Blackjack," eu disse, tentando soar otimista. "Vou comprar umas rosquinhas para você em Nova Jersey." No fim das contas, não comprei as rosquinhas
para Blackjack em Nova Jersey. Zoe dirigiu para o sul como uma louca, e nós já estávamos em Maryland quando ela finalmente encostou em uma parada de descanso. Blackjack
praticamente despencou do céu, ele estava tão cansado. Vou ficar bem, chefe, ele ofegou. Apenas... apenas recuperando o fôlego. "Fique aqui," falei para ele. "Vou
explorar." `Fique aqui' eu consigo lidar. Posso fazer isso. Coloquei meu boné de invisibilidade e andei até a loja de conveniência. Era difícil não se esgueirar.
Tinha que ficar me lembrando que ninguém podia me ver. Era difícil, também, porque eu tinha que lembrar de sair da frente das pessoas para que elas não trombassem
comigo. Pensei em entrar e me aquecer, talvez pegar uma xícara de chocolate quente ou algo assim. Eu tinha uns trocados no bolso. Podia deixar no balcão. Estava
pensando se a xícara ficaria invisível quando eu a pegasse, ou se ia ter que lidar com um problema de chocolate quente flutuante, quando todo meu plano foi arruinado
por Zoe, Thalia, Bianca e Grover saindo da loja. "Grover, você tem certeza?" Thalia estava dizendo. "Bem... quase certeza. Noventa e nove por cento. Tudo bem, oitenta
e cinco por cento." "E você fez isso com bolotas?" Bianca perguntou, como se não pudesse acreditar. Grover pareceu ofendido. "É um encanto de rastreamento honrado
pelo tempo. Quero dizer. Estou praticamente certo que fiz corretamente." "Washington D.C. fica a quase cem quilômetros daqui," Bianca disse. "Nico e eu..." ela franziu
a testa. "Nós morávamos lá. Isso... Isso é estranho. Eu tinha esquecido." "Não gosto disso," Zoe disse. "Nós devíamos ir direto para oeste. A profecia disse oeste."
"Ah, como se suas habilidades de rastreamento fossem melhores?" rosnou Thalia. Zoe deu um passo na direção dela. "Contestas minhas habilidades, sua serviçal? Tu
não sabes nada sobre ser uma Caçadora." "Ah, serviçal. Você está me chamando de serviçal? Que raios é uma serviçal?" "Uou, vocês duas," Grover disse, nervoso. "Vamos
lá. De novo, não!" "Grover tem razão." Bianca disse. "Washingtin D.C. é nossa melhor aposta." Zoe não parecia convencida, mas concordou com a cabeça, relutante.
"Muito bem. Vamos continuar andando."

"Você dirigindo vai causar a nossa prisão." Thalia resmungou. "Eu pareço mais perto de dezesseis anos que você." "Talvez," Zoe rebateu. "Mas eu dirijo desde que
os automóveis foram inventados. Vamos logo." Enquanto Blackjack e eu continuamos para o sul, seguindo a van, imaginei se Zoe estivera brincando. Eu não sabia quando
os carros tinham sido inventados, mas percebi que era como tempos pré-históricos -- quando as pessoas assistiam TV preto-e-branco e caçavam dinossauros. Quantos
anos Zoe tinha? E sobre o que o Sr. D tinha falado? Qual experiência ruim ela teve com heróis? Enquanto chegávamos mais perto de Washington, Blackjack começou a
ir mais devagar e perder altitude. Ele estava respirando pesadamente. "Você está bem?" perguntei a ele. Tô legal, chefe. Poderia... poderia enfrentar um exército.
"Você não parece tão bem." Subitamente me senti culpado, porque estive correndo com o pégaso por metade do dia, sem parar, tentando acompanhar o trânsito da rodovia.
Mesmo para um cavalo alado, isso tinha que ser duro. Não se preocupe comigo, chefe! Sou um cara durão. Percebi que ele estava bem, mas também percebi que Blackjack
iria cair no chão antes de reclamar, e eu não queria isso. Felizmente, a van começou a desacelerar. Cruzou o Rio Potomac para dentro do centro de Washington. Comecei
a pensar sobre patrulhas aéreas, mísseis e coisas do gênero. Não sabia exatamente como todas essas defesas funcionavam, e não tinha certeza se pégasos apareciam
nos radares militares convencionais, mas não queria descobrir sendo atingido no céu. "Deixe-me ali," disse para Blackjack. "É perto o suficiente." Blackjack estava
tão cansado que nem reclamou. Ele desceu em direção ao Monumento de Washington e me deixou na grama. A van estava apenas alguns quarteirões adiante. Zoe tinha estacionado
no meio-fio. Olhei para Blackjack. "Quero que você volte para o acampamento. Descanse um pouco. Vá pastar. Ficarei bem." Blackjack ergueu sua cabeça, cético. Tem
certeza, chefe? "Você já fez o suficiente," eu disse. "Vou ficar bem. E uma tonelada de obrigados." Uma tonelada de feno, talvez, meditou Blackjack. Soa bom. Tudo
bem, mas tome cuidado, chefe. Tenho um pressentimento que eles não vieram até aqui para conhecer algo amigável e bonito como eu. Prometi tomar cuidado. Então Blackjack
foi embora, dando duas voltas em torno do monumento antes de desaparecer entre as nuvens. Olhei para a van branca. Todos estavam saindo. Grover apontou na direção
de um dos grandes prédios alinhados ao shopping. Thalia confirmou, e os quatro marcharam contra o vento frio. Eu comecei a seguir. Mas então congelei. Uma quadra
depois, a porta de um sedan preto se abriu. Um homem de cabelo cinza e corte militar saiu. Ele estava usando óculos escuros e um sobretudo preto. Agora, talvez em
Washington, você espere ver caras assim em todo lugar. Mas ficou claro para mim que eu tinha visto esse mesmo carro várias vezes na rodovia, indo para o sul. Esteve
seguindo a van.

O sujeito pegou seu telefone celular e falou alguma coisa nele. Então ele olhou em volta, como se estivesse se assegurando de que a orla estava limpa, e começou
a andar pelo shopping na direção dos meus amigos. O pior disso: quando ele se virou para mim, reconheci seu rosto. Era o Dr. Streppe, a mantícora do Westover Hall.
Com o boné de invisibilidade na cabeça, segui Streppe à distância. Meu coração estava acelerado. Se ele tinha sobrevivido à queda daquele penhasco, então Annabeth
devia ter também. Meus sonhos estavam certos. Ela estava viva e sendo mantida prisioneira. Streppe manteve distância de meus amigos, tomando cuidado para não ser
visto. Finalmente, Grover parou na frente de um grande prédio que dizia MUSEU NACIONAL DO AR E ESPAÇO. O Smithsonian! Estive aqui um milhão de anos atrás com minha
mãe, mas tudo pareceu maior naquela vez. Thalia checou a porta. Estava aberta, mas não havia muitas pessoas entrando. Muito frio, e estava fora do período escolar.
Eles deslizaram para dentro. Dr. Streppe hesitou. Não tinha certeza do porquê, mas ele não entrou no museu. Ele virou e partiu através do shopping. Decidi em uma
fração de segundo e o segui. Streppe atravessou a rua e subiu os degraus do Museu de História Natural. Havia uma grande placa na porta. Primeiro achei que dizia
FECHADO PARA EVENTO PIRADO. Então percebi que PIRADO deveria ser PRIVADO. Segui Dr. Streppe e entrei, através de uma enorme câmara cheia de mastodontes e esqueletos
de dinossauros. Havia vozes à frente, vindo de uma série de portas fechadas. Dois guardas estavam em pé do lado de fora. Eles abriram a porta para Streppe, e tive
que correr para entrar antes que fechassem a porta de novo. Dentro, o que eu vi era tão terrível que quase arquejei alto, o que provavelmente teria me matado. Eu
estava em uma imensa sala circular com uma varanda rodeando o segundo andar. Pelo menos uma dúzia de guardas mortais estava na sacada, mais dois monstros -- mulheres
reptilianas com cintura de cobras-duplas em vez de pernas. Eu as tinha visto antes. Annabeth as chamou de dracaenae da Cítia. Mas isso não era o pior. Em pé entre
as mulheres serpentes -- eu podia jurar que ele estava olhando direto para mim -- estava meu antigo inimigo Luke. Ele estava horrível. Sua pele estava pálida e seu
cabelo loiro parecia quase cinza, como se tivesse envelhecido dez anos em apenas alguns meses. O brilho de raiva em seus olhos ainda estava lá, e também a cicatriz
no lado de seu rosto, onde um dragão uma vez o arranhou. Mas agora a cicatriz estava de um vermelho feio, como se tivesse sido reaberta recentemente. Ao seu lado,
sentado de forma que as sombras o ocultassem, estava outro homem. Tudo que eu conseguia ver eram os nós dos seus dedos nos braços dourados da cadeira, como um trono.
"Bem?" perguntou o homem na cadeira. Sua voz era como a que eu tinha escutado no meu sonho -- não tão arrepiante quanto a de Cronos, porém mais profunda e grave,
como se a própria terra estivesse falando. Preenchia toda a sala ainda que ele não estivesse gritando. Dr. Streppe tirou os óculos escuros. Seus olhos de duas cores,
castanho e azul, brilhavam de excitação. Ele fez uma mesura rígida, então falou no seu estranho sotaque francês: "Eles estão aqui, General." "Eu sei disso, seu tolo,"
ressoou o homem. "Mas onde?" "No museu dos foguetes."

"O Museu do Ar e Espaço," Luke corrigiu, irritado. Dr. Streppe olhou fixamente para Luke. "Como quiser, senhor." Tive a sensação que Streppe iria em breve atravessar
Luke com um de seus espinhos ao chamá-lo de senhor. "Quantos?" Luke perguntou. Streppe fingiu não escutar. "Quantos?" o General exigiu. "Quatro, General," Streppe
disse. "O sátiro, Grover Underwood. E a garota com cabelo preto espetado e as -- como se diz -- roupas punks e horrível escudo." "Thalia," Luke disse. "E outras
duas garotas -- Caçadoras. Uma usa uma tiara prateada." "Essa eu conheço," rosnou o General. Todos na sala mudaram de posição, desconfortáveis. "Deixe-me pegá-los,"
Luke disse ao General. "Nós temos mais que suficiente --" "Paciência," o General disse. "Eles já vão estar de mãos cheias. Enviei um coleguinha para mantê-los ocupados."
"Mas --" "Nós não podemos arriscar você, meu garoto." "Sim, garoto," Dr. Streppe disse com um sorriso cruel. "Você é frágil demais para correr o risco. Permita que
eu acabe com eles." "Não." O General levantou de sua cadeira, e eu o olhei pela primeira vez. Ele era alto e musculoso, com pele morena clara e cabelo escuro engomado
para trás. Vestia um caro terno de seda marrom como os rapazes da Wall Street usam, mas você nunca confundiria esse homem com um corretor. Ele tinha um rosto bruto,
ombros largos, e mãos que podiam quebrar um poste ao meio. Seus olhos eram como pedra. Senti como se estivesse olhando para uma estátua viva. Era inacreditável como
ele conseguia sequer se mexer. "Você já falhou comigo, Streppe," ele disse. "Mas, General --" "Sem desculpas!" Streppe recuou. Eu achei que Streppe era assustador
quando o vi pela primeira vez em seu uniforme preto na academia militar. Mas agora, perante o General, Streppe parecia um apalermado soldado aspirante. O General
era pra valer. Ele não precisava de uniforme. Nasceu para ser comandante. "Devia jogar você nas profundezas do Tártaro por sua incompetência," o General disse. "Eu
o enviei para capturar uma criança de um dos três grandes deuses, e você me traz uma magricela filha de Atena." "Mas você me prometeu vingança," Streppe protestou.
"Um comando próprio!" "Eu sou o comandante sênior do Lorde Cronos," o General disse. "E vou escolher os tenentes que me tragam resultados! Foi somente graças a Luke
que recuperamos nosso plano afinal. Agora saia da minha frente, Streppe, até que eu ache outra tarefa inferior para você." O rosto de Streppe ficou roxo de raiva.
Pensei que ele ia começar a espumar pela boca ou atirar espinhos, mas ele apenas fez uma reverência desajeitada e deixou a sala. "Agora, meu garoto," o General se
virou para Luke. "A primeira coisa que devemos fazer é isolar a meio-sangue Thalia. O monstro que procuramos virá então para ela." "As Caçadoras serão difíceis de
enganar," Luke disse. "Zoe Nightshade --" "Não fale o nome dela!" Luke engoliu em seco. "De-desculpe, General. Eu apenas --"

O General o calou com um aceno de sua mão. "Deixe-me mostrar a você, meu garoto, como nós vamos derrotar as Caçadoras." Ele apontou para um guarda no térreo. "Você
tem os dentes?" O rapaz cambaleou para frente com um pote de cerâmica. "Sim, General!" "Plante-os," ele disse. No centro da sala havia um grande círculo de terra,
onde acho que uma exposição de dinossauros devia estar. Olhei nervosamente enquanto o guarda tirava dentes brancos afiados de dentro do pote e os enterrava no solo.
Ele bateu a terra por cima deles enquanto o General sorria friamente. O guarda deu um passo para longe da sujeira e limpou as mãos. "Pronto, General!" "Excelente!
Regue-os, e vamos deixar que farejem sua presa." O guarda pegou um pequeno regador de metal com margaridas pintadas nele, o que era meio bizarro, porque o que ele
derramou não era água. Era um líquido vermelho escuro, e tive a sensação que não era Ponche Havaiano. O solo começou a borbulhar. "Em breve," o General disse, "vou
mostrar a você, Luke, soldados que vão fazer seu exército daquele barquinho parecer insignificante." Luke cerrou os punhos. "Gastei um ano treinando minhas forças!
Quando o Princesa Andrômeda chegar na montanha, eles serão os melhores --" "Rá," o General disse. "Não vou negar que suas tropas vão servir como uma boa guarda de
honra para Lorde Cronos. E você, com certeza, vai ter um papel a desempenhar --" Achei que Luke ficou mais pálido quando o General falou isso. "-- mas sob a minha
liderança, as forças de Lorde Cronos vão aumentar cem vezes. Ninguém poderá nos deter. Contemple minhas definitivas máquinas mortíferas." O solo entrou em erupção.
Dei um passo atrás, nervoso. Em cada lugar que um dente havia sido plantado, uma criatura estava se debatendo para fora da lama. A primeira delas disse: "Miau?"
Era um gatinho. Um pequeno malhado laranja com listras como um tigre. Então apareceu outro, até que havia uma dúzia, rolando e brincando na lama. Todos os encararam
sem acreditar. O General rugiu: "O que é isso? Gatinhos fofinhos? Onde você achou esses dentes?" O guarda que trouxe os dentes recuou de medo. "Da exibição, senhor!
Como você disse. O tigre dente de sabre --" "Não, seu idiota! Falei tiranossauro! Junte essas... essas ferinhas peludas infernais e leve-as para fora. E nunca mais
me deixe ver sua cara de novo." O guarda espantado deixou cair o regador. Ele juntou os gatinhos e desembestou para fora da sala. "Você." O General apontou outro
guarda. "Pegue os dentes certos para mim. AGORA!" O novo guarda saiu correndo para obedecer às ordens. "Imbecis," murmurou o General. "É por isso que não uso mortais,"
Luke disse. "Eles não são confiáveis." "Eles têm a mente fraca, são fáceis de comprar e violentos," o General disse. "Eu os amo." Um minuto depois, o guarda entrou
apressado na sala com suas mãos cheias de dentes pontudos e largos. "Excelente," disse o General. Ele subiu no batente da sacada e pulou, a uma altura de seis metros.

Onde ele aterrissou, o chão de mármore rachou debaixo de seus sapatos de couro. Ele levantou, fazendo uma careta, e esfregou seus ombros. "Maldito torcicolo." "Outra
bolsa quente, senhor?" um guarda perguntou. "Mais Tylenol?" "Não! Vai passar." O General alisou seu terno de seda, depois apanhou os dentes. "Devo fazer isso eu
mesmo." Ele segurou um dos dentes e sorriu. "Dentes de dinossauro -- rá! Esses tolos mortais nem ao menos sabem quando possuem dentes de dragão. E não é qualquer
dente de dragão. Estes vêm da própria antiga Síbaris! Devem servir muito bem." Ele os plantou na terra, doze ao todo. Então ele esvaziou o regador. Regou o solo
com um líquido vermelho, jogou o regador fora e abriu bem os braços. "Ergam-se!" A lama tremeu. Uma única, esquelética mão surgiu da terra, agarrando o ar. O General
olhou para a sacada. "Rápido, você tem o aroma?" "Ssssssim, lorde," uma das mulheres cobra falou. Ela pegou uma faixa de tecido prateado, do tipo que as Caçadoras
usavam. "Excelente," o General disse. "Uma vez que meus guerreiros captem esse aroma, eles vão perseguir seu dono sem descanso. Nada pode pará-los, nenhuma arma
conhecida por meio-sangue ou Caçadora. Eles vão dilacerar as Caçadoras e seus aliados em pedaços. Jogue para cá!" Assim que ele falou isso, esqueletos emergiram
do solo. Havia doze deles, um para cada dente que o General tinha plantado. Não eram nada parecidos com os esqueletos de Halloween, ou do tipo que se vê em filmes
extravagantes. Estes estavam criando carne enquanto eu assistia, tornando-se homens, mas homens com pele cinza desbotada, olhos amarelos e roupas modernas -- camisas
cinza apertadas, calças de exército e botas de combate. Se você não olhasse bem de perto, quase podia acreditar que eram humanos, mas sua carne era transparente
e seus ossos cintilavam por debaixo, como imagens de raio X. Um deles olhou diretamente para mim, observando-me friamente, e eu sabia que nenhum boné de invisibilidade
iria enganá-lo. A mulher cobra soltou o lenço e ele flutuou para baixo em direção à mão do General. Assim que ele o entregasse aos guerreiros, eles iriam caçar Zoe
e as outras até que fossem extintas. Eu não tinha tempo para pensar. Corri e pulei com toda a minha vontade, abrindo caminho entre os guerreiros e capturando o lenço
no ar. "O que é isso?" bradou o General. Aterrissei no pé de um guerreiro esqueleto, que sibilou. "Um intruso," o General rugiu. "Um camuflado na escuridão. Fechem
as portas!" "É Percy Jackson!" Luke gritou. "Só pode ser." Corri para a saída, mas ouvi um som de rasgado e percebi que o guerreiro esqueleto havia tirado um pedaço
da minha manga. Quando olhei de relance para trás, ele estava segurando o tecido perto do nariz, farejando o aroma, passando em volta para seus amigos. Eu queria
gritar, mas não podia. Eu me espremi pela porta justamente quando os guardas a bateram atrás de mim. E então eu corri.

DEZ

EU QUEBRO ALGUNS FOGUETES
Eu corri pelo shopping, sem me atrever a olhar para trás. Eu irrompi no Museu do Ar e Espaço e tirei meu boné de invisibilidade logo que entrei na área de admissão.
A parte principal do museu era uma grande sala com foguetes e aviões pendurados no teto. Três níveis de balcões circundavam, então você podia olhar as exposições
de todas as diferentes alturas. O lugar não estava lotado, somente algumas famílias e alguns grupos de crianças, provavelmente fazendo uma excursão escolar. Eu queria
gritar para que eles saíssem, mas supus que isso só me faria ser preso. Eu tinha que achar Thalia e Grover e as Caçadoras. A qualquer momento, os caras esqueleto
iriam invadir o museu, e eu não achava que eles se acalmariam para um áudio tour. Eu corri para Thalia -- literalmente. Eu estava subindo descontroladamente a rampa
para o balcão superior e me choquei com ela, lançando-a dentro da cápsula espacial de Apolo. Grover gritou em surpresa. Antes que pudesse recuperar meu equilíbrio,
Zoe e Bianca tinham flechas preparadas, apontadas para o meu peito. Seus arcos haviam aparecido do nada. Quando Zoe percebeu quem eu era, ela não pareceu ansiosa
para abaixar seu arco. "Tu! Como te atreves a mostrar tua face aqui?" "Percy!" Grover disse. "Graças aos deuses." Zoe olhou fixamente para ele, e ele ruborizou.
"Quero dizer, hum, caramba. Você não deveria estar aqui!" "Luke," eu disse, tentando recuperar o fôlego. "Ele está aqui." A raiva nos olhos de Thalia imediatamente
derreteu. Ela pôs sua mão em seu bracelete prata. "Onde?" Eu contei a eles sobre o Museu de História Natural, Dr. Streppe, Luke, e o General. "O General está aqui?"
Zoe parecia aturdida. "Isso é impossível! Tu mentes." "Por que eu mentiria? Olhe, não há tempo. Guerreiros esqueleto --" "O quê?" Thalia demandou. "Quantos?" "Doze,"
eu disse. "E isso não é tudo. Aquele cara, o General, ele disse que ia enviar algo, um `colega', para distrair vocês aqui. Um monstro." Thalia e Grover trocaram
olhares. "Nós estávamos seguindo o rastro de Ártemis," Grover disse. "Eu estava certo que trazia aqui. Algum odor monstruoso... Ela deve ter parado aqui procurando
pelo monstro misterioso. Mas nós ainda não achamos nada." "Zoe," Bianca disse nervosamente, "se é o General--" "Não pode ser!" Zoe disparou. "Percy deve ter visto
uma mensagem de Íris ou alguma outra ilusão." "Ilusões não quebram pisos de mármore," eu disse a ela. Zoe respirou fundo, tentando se acalmar. Eu não sabia por que
ela estava levando isso para o lado pessoal, ou como ela conhecia esse General, mas presumi que agora não seria o momento pra perguntar. "Se Percy está dizendo a
verdade sobre os guerreiros esqueleto," ela disse, "nós não temos tempo para discutir. Eles são os piores, os mais horríveis... Nós devemos ir agora."

"Boa idéia," eu disse. "Eu não estou incluindo a ti, garoto," Zoe disse. "Tu não fazes parte dessa missão." "Ei, estou tentando salvar suas vidas!" "Você não deveria
ter vindo, Percy," Thalia disse severamente. "Mas você está aqui agora. Vamos. Vamos voltar para a van." "Esta decisão não é tua!" Zoe atirou. Thalia fechou a cara
para ela. "Você não é a chefe aqui, Zoe. Eu não ligo para o quão velha você é! Você ainda é uma pirralha convencida!" "Tu nunca tiveste sabedoria quando se tratava
de garotos," Zoe rosnou. "Nunca pudeste deixá-los para trás!" Thalia parecia que ia bater em Zoe. Então todo mundo congelou, eu ouvi um rosnado tão alto que parecia
que o motor de um dos foguetes estava arrancando. Abaixo de nós, alguns adultos gritaram. A voz de uma criança pequena guinchou com prazer: "Gatinho!" Algo enorme
veio pela rampa. Era do tamanho de uma pick-up grande, com garras prateadas e um pelo dourado brilhante. Eu havia visto esse monstro antes. Dois anos atrás, eu o
vi brevemente do trem. Agora, ao vivo e em cores, parecia ainda maior. "O leão da Neméia," Thalia disse. "Não se mexam." O leão rugiu tão alto que repartiu meu cabelo.
Seus dentes brilhavam como aço inoxidável. "Separai-vos ao meu comando," Zoe disse. "Tentai mantê-lo distraído." "Até quando?" Grover perguntou. "Até que eu pense
em uma forma de matá-lo. Ide!" Eu desencapei Contracorrente. Flechas assobiavam por mim, e Grover tocava uma cadência tweet-tweet penetrante na sua flauta. Eu me
virei e vi Zoe e Bianca subindo na cápsula de Apolo. Elas estavam disparando flechas, uma após a outra, todas batendo sem ferir no pelo metálico do leão. O leão
bateu fortemente na lateral da cápsula, esparramando as Caçadoras de costas. Grover tocou um frenético, horrível tom, e o leão se virou para ele, mas Thalia entrou
em seu caminho, segurando Aegis, e o leão se retraiu. "ROOOAAAR!" "Hi-yah!" Thalia disse. "Pra trás!" O leão rosnou e arranhou o ar, mas recuou como se o escudo
ardesse em chamas. Por um segundo, eu achei que Thalia tinha tudo sob controle. Então eu vi o leão se agachando, os músculos de sua perna tensionando. Eu tinha visto
lutas suficientes de gatos nos becos em volta do apartamento em Nova Iorque. Eu sabia que o leão ia saltar. "Ei!" gritei. Não sei no que eu estava pensando, mas
eu investi para a fera. Eu só queria afastá-la dos meus amigos. Golpeei com Contracorrente, um bom golpe no flanco que deveria ter cortado o monstro em um miau mix,
mas a lâmina apenas ressoou contra o pelo em uma explosão de faíscas. O leão me procurou com suas garras, rasgando um grosso pedaço do meu casaco. Eu recuei contra
a grade. Ele saltou para mim, meia tonelada de monstro, e eu não tinha escolha salvo me virar e pular. Eu pousei na asa de um antiquado avião prateado, o qual balançou
e quase me derrubou no chão, três andares abaixo. Uma flecha assobiou pela minha cabeça. O leão pulou na aeronave, e as cordas que seguravam o avião começaram a
gemer. O leão balançou fortemente em minha direção, e eu cai na próxima peça, uma estranha aeronave com lâminas como um helicóptero. Eu olhei para cima e vi o leão
rosnar -- dentro de sua boca, língua e garganta rosadas.

Sua boca, eu pensei. Seu pelo era completamente invulnerável, mas se eu pudesse acertá-lo na boca... O único problema era que o monstro se movia muito rapidamente.
Entre suas garras e presas, eu não conseguia chegar perto o suficiente sem ser feito em pedaços. "Zoe!" eu gritei. "Mire a boca!" O monstro bufou. Uma flecha zuniu
por ele, errando completamente, e eu pulei da nave espacial em direção ao topo de uma peça térrea da exposição, um enorme modelo da terra. Eu deslizei para baixo
da Rússia e pulei do equador. O leão da Neméia rosnou e se estabilizou na aeronave, mas o seu peso era muito. Uma das cordas estalou. Conforme o aparato balançou
o leão pulou para o Pólo Norte do modelo da terra. "Grover!" eu gritei. "Libere a área!" Grupos de crianças estavam correndo e gritando. Grover tentou guiá-las para
longe do monstro justamente quando a outra corda da aeronave estalou e a peça espatifou-se no chão. Thalia pulou do segundo piso queixando-se e aterrissou em frente
a mim, do outro lado do globo. O leão nos considerou, tentando decidir qual de nós matar primeiro. Zoe e Bianca estavam acima de nós, arcos prontos, mas elas se
mantinham movendo em volta para ter um bom ângulo. "Sem ângulo claro!" Zoe gritou. "Faze com que abra mais a boca!" O leão rosnou do topo do globo. Eu olhei em volta.
Opções. Eu precisava... A loja de presentes. Eu tinha uma fraca lembrança de minha passagem por aqui quando era uma criancinha. Algo que eu havia feito minha mãe
comprar para mim, e tinha me arrependido. Se eles ainda vendessem aquela coisa... "Thalia," eu disse, "mantenha-o ocupado." Ela concordou severamente. "Hi-yah!"
Ela apontou sua lança e um arco de eletricidade azul em forma de aranha disparou, atingindo o leão na cauda. "ROOOOOOOAR!" O leão se virou e pulou. Thalia rolou
para fora de seu caminho, segurando Aegis para manter o monstro no limite, e eu corri para a loja de presentes. "Não é hora para lembrancinhas, garoto!" Zoe gritou.
Eu me arremessei para a loja, batendo em fileiras de T-shirts, pulando sobre mesas cheias de brilho-do-planeta-escuro e lama espacial. A vendedora não protestou.
Ela estava muito ocupada se escondendo atrás da caixa registradora. Ali! Na parede mais distante -- pacotes prateados brilhantes. Uma prateleira cheia deles. Eu
recolhi todos os tipos que pude achar e corri para fora da loja com os braços cheios. Zoe e Bianca ainda despejavam flechas no monstro, mas inutilmente. O leão parecia
saber que era melhor não abrir muito a boca. Ele vociferou para Thalia, golpeando com suas garras. Ele até mantinha seus olhos apertados em pequenas fendas. Thalia
golpeou o monstro e recuou. O leão a pressionou. "Percy," ela chamou, "seja o que for que você esteja pensando em fazer --" O leão rosnou e a golpeou como um gato
de brinquedo, mandando-a voando para o lado de um foguete Titã. Sua cabeça bateu no metal e ela deslizou para o chão. "Ei!" gritei para o leão. Eu estava muito longe
para atacar, então me arrisquei: arremessei Contracorrente violentamente como uma faca de atirar. Ela não atingiu o leão, mas foi o suficiente para chamar a atenção
do monstro. Ele se virou na minha direção e rosnou.

Só havia um jeito de chegar perto o suficiente. Eu ataquei, e o leão saltou para me interceptar, eu joguei um pacote de comida espacial na sua boca -- um bocado
de parfait de morango congelado e embrulhado em celofane. Os olhos do leão ficaram selvagens como um gato com uma bola de pelo na garganta. Eu não podia culpá-lo.
Eu me lembro de me sentir do mesmo jeito quando experimentei comida espacial quando criança. Aquela coisa era bem nojenta. "Zoe, fique pronta!" eu gritei. Atrás
de mim, eu podia ouvir pessoas gritando. Grover estava tocando outra horrível música em sua flauta. Eu me afastei do leão. Ele conseguiu desengasgar o pacote de
comida espacial e me olhou com puro ódio. "Hora do lanche!" gritei. Ele cometeu o erro de rugir para mim, e eu joguei um sanduíche de sorvete em sua garganta. Felizmente,
eu sempre fui um arremessador muito bom, apesar de beisebol não ser o meu jogo. Antes que o leão pudesse parar de engasgar, eu atirei mais dois sabores de sorvete
e um espaguete seco e congelado. Os olhos do leão saltaram. Ele arregalou sua boca selvagemente e ficou nas patas traseiras, tentando ficar longe de mim. "Agora!"
gritei. Imediatamente, flechas perfuraram a boca do leão -- duas, quatro, seis. O leão refugou ferozmente, virou-se, e caiu para trás. E então ficou quieto. Alarmes
soaram pelo museu. Pessoas debandavam pelas saídas. Seguranças estavam correndo em pânico sem ideia do que estava acontecendo. Grover se ajoelhou ao lado de Thalia
e a ajudou a se levantar. Ela parecia estar bem, só um pouco tonta. Zoe e Bianca pularam do balcão e aterrissaram do meu lado. Zoe me olhou cautelosamente. "Aquela
foi... uma estratégia interessante." "Ei, funcionou." Ela não argumentou. O leão parecia estar derretendo, do jeito que monstros mortos faziam às vezes, até que
nada mais restava além de seu pelo dourado brilhante, e mesmo isso parecia estar encolhendo para o tamanho de um leão normal. "Pega," Zoe me disse. Eu olhei para
ela. "O quê, a pele do leão? Não é, tipo, uma violação dos direitos dos animais?" "É um espólio de guerra," ela me falou. "É teu por direito." "Você o matou," eu
disse. Ela balançou a cabeça, quase sorrindo. "Eu acho que o teu sorvete fez isso. Justo é justo, Percy Jackson. Apanha a pele." Eu a levantei; era surpreendentemente
leve. A pele era suave e macia. Não parecia mesmo como algo que pudesse parar uma lâmina. Conforme eu olhava, o couro mudou e se transformou em um casaco -- um sobretudo
marrom dourado. "Não é exatamente o meu estilo," eu murmurei. "Nós temos que sair daqui," Grover disse. "Os seguranças não vão ficar confusos por muito tempo." Eu
notei pela primeira vez quão estranho era os guardas não terem se apressado para nos prender. Eles estavam indo em todas as direções exceto na nossa, como se estivessem
desesperadamente procurando por algo. Alguns estavam indo de encontro às paredes ou entre eles. "Você fez aquilo?" eu perguntei a Grover.

Ele concordou, parecendo um pouco embaraçado. "Uma pequena música para confundir. Eu toquei um pouco de Barry Manilow. Funciona toda vez. Mas só vai durar alguns
segundos." "Os seguranças não são nossa maior preocupação," Zoe disse. "Olhai." Através das paredes de vidro do museu, eu pude ver um grupo de homens andando pelo
gramado. Homens cinzentos em roupas de camuflagem cinzentas. Eles estavam muito distantes para que pudéssemos ver seus olhos, mas eu pude sentir seus olhares fixos
em mim. "Vão," eu disse. "Eles vão me caçar. Vou distraí-los." "Não," Zoe disse. "Nós vamos juntos." Eu olhei para ela. "Mas, você disse --" "Tu és parte desta missão
agora," Zoe disse de má vontade. "Eu não gosto disso, mas não há mudança no destino. Tu és o quinto membro da missão. E não vamos deixar ninguém para trás."

ONZE

GROVER ARRANJA UMA LAMBORGHINI
Nós estávamos cruzando o Rio Potomac quando avistamos o helicóptero. Era um modelo militar preto e lustroso, como o que vimos no Westover Hall. E estava vindo diretamente
para nós. "Eles conhecem a van," falei. "Temos que despistá-los." Zoe desviou para a pista rápida. O helicóptero estava nos alcançando. "Talvez os militares atirem
neles," Grover disse esperançoso. "Os militares provavelmente acham que é um deles," eu disse. "Em todo caso, como o General pode usar mortais?" "Mercenários," Zoe
disse, amargurada. "É desagradável, mas muitos mortais lutam por qualquer causa desde que sejam pagos." "Mas esses mortais não veem para quem estão trabalhando?"
perguntei. "Não percebem todos os monstros ao seu redor?" Zoe balançou a cabeça. "Não sei o quanto eles veem através da Névoa. Duvido que se importariam se soubessem
a verdade. Às vezes mortais podem ser mais horríveis que monstros." O helicóptero continuava vindo, tendo um momento bem melhor que o nosso pelo meio do trânsito
de Washington D.C. Thalia fechou os olhos e rezou firme. "Ei, Pai. Um relâmpago seria bom agora. Por favor?" Mas o céu continuou cinza e com neve. Nem sinal de uma
trovoada de ajuda. "Ali!" disse Bianca. "Aquele estacionamento!" "Seremos encurralados," Zoe disse. "Acredite em mim," falou Bianca. Zoe disparou através de duas
pistas de trânsito e para dentro do estacionamento de um shopping na margem sul do rio. Nós deixamos a van e seguimos Bianca descendo alguns degraus. "Entrada do
metrô," Bianca disse. "Vamos para o sul. Alexandria." "Qualquer coisa," Thalia concordou. Compramos passagens e passamos pelas catracas, olhando para trás por algum
sinal de perseguição. Alguns minutos depois nós estávamos seguros a bordo de um vagão em direção ao sul, indo para longe de Washington D.C. Quando nosso trem veio
para superfície, pudemos ver o helicóptero rodeando o estacionamento, mas ele não veio atrás de nós. Grover soltou um suspiro. "Bom trabalho, Bianca, pensando no
metrô." Bianca parecia satisfeita. "Sim, bem. Vi essa estação quando eu e Nico passamos por aqui no verão passado. Eu me lembro de ter ficado bastante surpresa em
vê-la, porque não estava lá quando nós moramos na capital." Grover franziu as sobrancelhas. "Nova? Mas aquela estação parecia bem velha." "Eu acho," Bianca disse.
"Mas confiem em mim, no tempo em que moramos aqui quando criancinhas, não havia metrô." Thalia ajeitou-se para frente. "Espere um minuto. Nada de metrô?" Bianca
assentiu.

Agora, eu não sabia nada sobre D.C., mas não via como todo o seu sistema de metrô poderia ter menos de doze anos. Acho que todos estavam pensando a mesma coisa,
porque eles pareciam bem confusos. "Bianca," disse Zoe. "Há quanto tempo atrás..." A voz dela esmoreceu. O barulho do helicóptero estava ficando mais alto de novo.
"Precisamos trocar de trem," eu disse. "Próxima estação." Durante a próxima meia hora, tudo no que pensávamos era escapar em segurança. Trocamos de trem duas vezes.
Eu não tinha idéia para onde estávamos indo, mas depois de um tempo despistamos o helicóptero. Infelizmente, quando finalmente saímos do trem nos encontrávamos no
fim da linha, em uma área industrial com nada além de armazéns e trilhos de ferrovias. E neve. Muita neve. Aparentava estar mais frio aqui. Eu estava contente pelo
meu novo casaco de pele de leão. Vagamos pelo pátio da ferrovia, pensando que poderia haver outro trem de viagem em algum lugar, mas havia apenas fileiras e fileiras
de carros de carregamento, a maioria coberta de neve, como se não tivessem se mexido em anos. Um sem-teto estava junto a uma fogueira acesa em uma lata de lixo.
Nós devemos ter parecido bem patéticos, porque ele nos deu um sorriso banguela e disse, "Tão precisando se aquecer? Venham pra cá!" Nós nos amontoamos ao redor da
fogueira dele, Thalia estava batendo os dentes. Ela disse, "Bem, isso é ó-ó-ótimo." "Meus cascos estão congelados," Grover se lamentou.
"Pés," eu corrigi, por causa do sem-teto. "Talvez devêssemos comunicar o acampamento," Bianca disse. "Quíron --"

"Não," disse Zoe. "Eles não podem mais nos ajudar. Nós devemos terminar a missão." Fixei o olhar miseravelmente no pátio da ferrovia. Em algum lugar, no extremo
oeste, Annabeth estava em perigo. Ártemis estava acorrentada. Um monstro do juízo final estava solto. E nós estávamos presos nas periferias da capital, dividindo
a fogueira com um sem-teto. "Sabe," o sem-teto disse, "você nunca está completamente sem amigos." Seu rosto estava encardido e sua barba emaranhada, mas sua expressão
parecia amigável. "Vocês crianças precisam de um trem que vai para oeste?" "Sim, senhor," eu disse. "Você sabe de algum?" Ele apontou uma mão sebosa. De repente
percebi um trem de carregamento, brilhando e sem neve. Era um daqueles trens que carregam automóveis, com cortinas de malha de aço e três andares de carros dentro.
Ao lado do trem de carga dizia LINHAS SOL OESTE. "Isso é... conveniente," disse Thalia. "Obrigado, hã..." Ela se virou para o homem sem-teto, mas ele tinha sumido.
A lata de lixo à nossa frente estava fria e vazia, como se ele tivesse levado as chamas consigo. Uma hora depois estávamos nos deslocando ruidosamente para oeste.
Não houve problema sobre quem iria dirigir agora, porque todos nós pegamos nossos próprios carros de luxo. Zoe e Bianca estavam esparramadas em um Lexus no andar
de cima. Grover estava brincando de piloto de corrida atrás do volante de uma Lamborghini. E Thalia tinha feito ligação direta no rádio de uma Mercedes SLK preta
para poder escutar as estações de rádio de rock alternativo da capital. "Posso me juntar a você?" perguntei a ela.

Ela deu de ombros, então subi no assento do carona. O rádio estava tocando White Stripes. Eu conhecia a música porque era um dos únicos CDs que eu tinha que minha
mãe gostava. Ela falava que lembrava o Led Zeppelin. Pensar na minha mãe me deixou triste, porque não parecia que eu estaria em casa para o Natal. Talvez eu não
vivesse tanto assim. "Casaco legal," Thalia me disse. Puxei o casacão para me cobrir, agradecido pelo aquecimento. "É, mas o Leão da Neméia não era o monstro que
estávamos procurando." "Nem chegou perto. Temos um longo caminho a percorrer." "O que quer que seja esse misterioso monstro, o General disse que virá atrás de você.
Queriam isolar você do grupo. Aí o monstro apareceria e lutaria com você no mano a mano." "Ele falou isso?" "Bem, alguma coisa assim. É." "Isso é ótimo. Amo ser
usada como isca." "Nenhuma idéia do que o monstro pode ser?" Ela balançou a cabeça sombriamente. "Mas você sabe para onde estamos indo, não sabe? São Francisco.
Era para lá que Ártemis estava indo." Lembrei de algo que Annabeth havia falado durante a dança: como seu pai estava se mudando para São Francisco e não tinha como
ela ir. Meio-sangues não podiam viver lá. "Por quê?" perguntei. "O que tem de tão ruim em São Francisco?" "A Névoa é realmente densa lá, pois é muito perto da Montanha
do Desespero. Magia dos Titãs -- o que restou dela -- ainda resiste. Monstros são atraídos para aquela área de um jeito inacreditável." "O que é a Montanha do Desespero?"
Thalia levantou uma sobrancelha. "Você realmente não sabe? Pergunte para a estúpida da Zoe. Ela é a especialista." Ela olhou fixamente através do pára-brisa. Queria
perguntar sobre o que ela estava falando, mas também não queria soar como um idiota. Odiava a sensação de que Thalia sabia mais do que eu, então fiquei de boca fechada.
O sol da tarde brilhou através da malha de aço da lateral do vagão de carga, fazendo uma sombra no rosto de Thalia. Pensei no quanto ela era diferente de Zoe --
Zoe toda formal e indiferente como uma princesa, Thalia com suas roupas maltrapilhas e comportamento rebelde. Mas havia algo similar entre elas, também. O mesmo
tipo de tenacidade. Nesse momento, sentada nas sombras com uma expressão carregada, Thalia parecia uma das Caçadoras. Então, de repente, eu me dei conta. "É por
isso que você não se entende com Zoe." Thalia franziu a testa. "O quê?" "As Caçadoras tentaram recrutar você," eu presumi. Seus olhos ficaram perigosamente brilhantes.
Achei que ela ia me atirar para fora da Mercedes, mas ela apenas suspirou. "Eu quase me juntei a elas," ela admitiu. "Luke, Annabeth e eu encontramos com elas uma
vez, e Zoe tentou me convencer. Ela quase conseguiu, mas..." "Mas?" Os dedos de Thalia agarraram o volante. "Eu teria que abandonar Luke." "Ah." "Zoe e eu começamos
uma briga. Ela disse que eu estava sendo estúpida. Afirmou que eu iria me arrepender da minha escolha. Disse que Luke ia me desapontar algum dia."

Observei o sol através da cortina de metal. Parecia que estávamos viajando mais rápido a cada segundo -- sombras tremeluzindo como um velho projetor de filmes. "Isso
é desagradável," eu disse. "Difícil admitir que Zoe estava certa." "Ela não estava certa! Luke nunca me desapontou. Nunca." "Teremos que combatê-lo," falei. "Não
há outro caminho." Thalia não respondeu. "Você não o viu ultimamente," avisei. "Sei que é difícil acreditar, mas --" "Farei o que tiver que fazer." "Mesmo que isso
signifique matá-lo?" "Faça-me um favor," ela disse. "Saia do meu carro." Eu me senti tão mal por ela que nem reclamei. No momento em que eu estava prestes a sair,
ela falou, "Percy." Quando olhei para trás, seus olhos estavam vermelhos, mas eu não podia dizer se era de raiva ou tristeza. "Annabeth também queria se juntar às
Caçadoras. Talvez você devesse pensar por qual motivo." Antes que eu pudesse responder, ela levantou os vidros elétricos e me trancou para fora. Sentei no banco
do motorista da Lamborghini de Grover. Grover estava dormindo atrás. Ele finalmente havia desistido de tentar impressionar Zoe e Bianca com sua música de flauta
depois que ele tocou `Hera Venenosa' e fez essa mesma coisa brotar do ar condicionado do Lexus delas. Enquanto observava o sol se pôr, pensei em Annabeth. Estava
com medo de dormir. Preocupado com o que poderia sonhar. "Ah, não fique com medo dos sonhos," uma voz disse à minha direita. Eu olhei para o lado. De algum modo,
não estava surpreso em encontrar o sem-teto do pátio da ferrovia sentado no banco do carona. Seus jeans estavam tão desbotados que eram quase brancos. Seu casaco
estava rasgado, com estofamento saindo. Ele parecia um tipo de ursinho de pelúcia que tinha sido atropelado por um caminhão. "Se não fosse pelos sonhos," ele disse.
"Eu não saberia metade das coisas que sei sobre o futuro. Eles são melhores que os tablóides do Olimpo." Ele pigarreou, então levantou as mãos dramaticamente: "Sonhos
como um podcast Fazendo download pelos meus ouvidos Eles me contam coisas legais." "Apolo?" adivinhei, porque imaginei que ninguém mais poderia fazer um haiku tão
ruim. Ele colocou o dedo nos lábios. "Estou incógnito. Pode me chamar de Fred." "Um deus chamado Fred?" "Hã, bem... Zeus insiste em algumas regras. Sem interferências
quando há uma missão humana. Mesmo quando algo realmente grande está errado. Mas ninguém mexe com a minha irmãzinha. Ninguém." "Você pode nos ajudar, então?" "Shhh.
Já estou ajudando. Você já olhou para fora?" "O trem. Quão rápido estamos indo?" Apolo abafou o riso. "Rápido o suficiente. Infelizmente, estamos ficando sem tempo.
É quase pôr do sol. Mas imagino que atravessaremos um grande pedaço dos Estados Unidos com vocês, pelo menos." "Mas onde está Ártemis?"

Seu rosto escureceu. "Eu sei muita coisa, e vejo muito. Mas mesmo eu não sei isso. Ela está... nublada para mim. Não gosto disso." "E Annabeth?" Ele franziu a testa.
"Ah, quer dizer aquela garota que você perdeu? Hum. Eu não sei." Tentei não ficar com raiva. Sabia que os deuses tinham dificuldade em levar a sério os mortais,
mesmo meio-sangues. Nós vivíamos vidas tão curtas, comparados aos deuses. "E o monstro que Ártemis estava perseguindo?" perguntei. "Você sabe o que era?" "Não."
Apolo disse. "Mas tem um que deve saber. Se vocês ainda não tiverem achado o monstro quando chegarem a São Francisco, procurem por Nereus, o Velho Homem do Mar.
Ele tem uma boa memória e um olho afiado. Ele tem o dom do conhecimento sobre coisas às vezes obscuras para o meu Oráculo." "Mas é o seu Oráculo," protestei. "Não
pode nos dizer o que significa a profecia?" Apolo suspirou. "Você pode da mesma forma pedir a um artista para explicar sua arte, ou pedir a um poeta para explicar
seu poema. Isso acaba com o propósito. O significado somente fica claro através da busca." "Em outras palavras, você não sabe." Apolo checou seu relógio. "Ah, veja
as horas! Tenho que correr. Duvido que possa me arriscar a ajudá-lo de novo, Percy, mas lembre do que eu disse! Durma um pouco! E quando retornar espero um bom haiku
sobre sua jornada!" Queria protestar que não estava cansado e nunca tinha feito um haiku na minha vida, mas Apolo estalou os dedos, e a próxima coisa de que me lembro
era estar fechando os olhos. No meu sonho, eu era outra pessoa. Estava vestindo uma antiga túnica grega, que era arejada demais lá embaixo, e sandálias de couro
laçadas. A pele do Leão da Neméia estava amarrada nas minhas costas como uma capa, e eu estava correndo para algum lugar, sendo puxado ao longo do caminho por uma
garota que segurava firme minha mão. "Depressa!" ela disse. Estava muito escuro para ver o rosto dela claramente, mas podia ouvir o medo em sua voz. "Ele vai nos
encontrar!" Era noite. Um milhão de estrelas resplandeciam no alto. Estávamos correndo pelo meio da grama alta, e o aroma de mil diferentes flores intoxicava o ar.
Era um bonito jardim, ainda assim a garota me guiava através dele como se estivéssemos prestes a morrer. "Não tenho medo," tentei falar para ela. "Devia ter!" ela
disse, puxando-me para perto. Ela tinha longos cabelos negros trançados até as costas. Suas roupas de seda brilhavam fracamente à luz das estrelas. Corremos pelo
lado da colina. Ela me puxou para trás de um arbusto com espinhos e nós caímos, os dois respirando pesadamente. Não sabia por que a garota estava com medo. O jardim
parecia tão pacífico. E eu me sentia forte. Mais forte do que jamais havia me sentido. "Não há necessidade de correr," falei para ela. Minha voz soou mais grave,
muito mais confiante. "Já superei centenas de monstros com as mãos nuas."
"Não esse aqui," a garota disse. "Ladon é muito forte. Você deve dar a volta, subir a montanha até o meu pai. É o único jeito." A dor na voz dela me surpreendeu.
Ela estava realmente preocupada, quase como se ela se importasse comigo

"Não confio no seu pai," eu disse. "Não deveria," a garota concordou. "Você terá que enganá-lo. Mas não pode pegar o prêmio diretamente. Você morrerá."

Eu abafei um riso. "Então por que você não me ajuda, linda? "Eu... eu tenho medo. Ladon irá me parar. Minhas irmãs, se elas descobrirem... vão me renegar." "Então
nada pode ser feito sobre isso." Levantei, esfregando minhas mãos. "Espere," a garota disse. Ela parecia estar agonizando sobre uma decisão. Então, com seus dedos
tremendo, levou as mãos acima da cabeça e arrancou um longo broche branco do seu cabelo. "Se você deve lutar, leve isto. Minha mãe, Pleione, deu para mim. Ela era
filha do oceano, e o poder do oceano está dentro disto. Meu poder imortal." A garota soprou o alfinete e ele brilhou fracamente. Resplandecia à luz das estrelas
como uma concha polida. "Pegue," ela me falou. "E faça disto uma arma." Eu ri. "Um alfinete de cabelo? Como isso vai destruir Ladon, linda?" "Talvez não," ela admitiu.
"Mas é tudo que posso oferecer, se você insiste em ser teimoso." A voz da garota amoleceu meu coração. Abaixei e peguei o broche, e quando o fiz, ele cresceu longo
e pesado em minha mão, até que segurei uma espada de bronze familiar. "Bem equilibrada," eu disse. "Ainda que eu prefira usar apenas as mãos. Como devo chamar essa
lâmina?" "Anaklusmos," a garota falou, triste. "A corrente que pega de surpresa. E antes que você saiba, foi varrido para o mar." Antes que eu pudesse agradecê-la,
houve um som de passos na grama, um sibilo como ar saindo de um pneu, e a garota disse, "Tarde demais! Ele está aqui!" Eu me levantei ereto no banco do motorista
da Lamborghini de Grover. Grover estava balançando o meu braço. "Percy," ele disse. "É de manhã. O trem parou. Vamos!" Tentei mandar embora minha sonolência. Thalia,
Zoe e Bianca já haviam enrolado para cima as cortinas de metal. Lá fora havia montanhas cheias de neve salpicadas de pinheiros, o sol nascendo vermelho entre dois
picos. Pesquei minha caneta de dentro do bolso e prestei atenção nela. Anaklusmos, o nome em grego antigo para Contracorrente. Um modelo diferente, mas eu tinha
certeza que era a mesma lâmina que tinha visto em meu sonho. E tinha certeza de outra coisa também. A garota que eu tinha visto era Zoe Nightshade.

DOZE

EU FAÇO SNOWBOARD COM UM PORCO
Nós chegamos à periferia de uma pequena cidade de esqui localizada nas montanhas. O aviso dizia: BEM VINDO A CLOUDCROFT, NOVO MÉXICO. O ar estava frio e fino. Os
telhados dos chalés estavam cobertos de neve, e grandes montes dela estavam empilhados nas laterais das ruas. Altos pinheiros teciam o vale, formando sombras escuras,
embora a manhã estivesse ensolarada. Mesmo com o meu casaco de pele de leão, eu estava congelando quando chegamos à rua principal, que ficava a mais ou menos 800
metros da linha de trem. Conforme andávamos, contei ao Grover sobre minha conversa com Apolo na noite anterior -- como ele me disse para procurar por Nereus em São
Francisco. Grover olhou apreensivo. "Isso é bom, eu acho. Mas temos que chegar lá antes." Eu tentei não ficar deprimido com as nossas chances. Não queria deixar
Grover em pânico, mas eu sabia que nós tínhamos outro prazo se esgotando, além de salvar Ártemis a tempo de seu concílio dos deuses. O General havia dito que Annabeth
seria mantida viva apenas até o solstício. Isso seria na sexta-feira, distante apenas quatro dias. E ele falara algo sobre um sacrifício. Eu não gostava mesmo de
como isso soava. Nós paramos no meio da cidade. Você podia ver tudo muito bem dali: a escola, algumas lojas e cafés para turistas, algumas cabines de esqui e um
armazém. "Ótimo", Thalia disse, olhando em volta. "Sem estação de ônibus. Sem táxi. Sem aluguel de carros. Sem saída." "Há uma lanchonete!" disse Grover. "Sim,"
Zoe disse. "Café é bom." "E pastéis," Grover disse sonhadoramente. "E papel encerado." Thalia olhou. "Certo. Que tal se vocês forem pegar alguma comida para nós
e Percy, Bianca e eu vamos checar na mercearia. Talvez eles possam nos dar algumas direções." Nós combinamos de nos encontrar em frente à mercearia em quinze minutos.
Bianca não pareceu muito à vontade, mas foi. Na mercearia, nós descobrimos algumas coisas valiosas sobre Cloudcroft: não havia neve suficiente para esquiar, a mercearia
vendia ratos de borracha a um dólar cada, e não havia meio fácil de sair ou entrar da cidade, a menos que você tivesse seu próprio carro. "Você poderia chamar um
táxi de Alamogordo", o balconista falou duvidosamente. "É lá embaixo, na base das montanhas, mas levaria pelo menos uma hora para chegar lá. Custa centenas de dólares."
O balconista parecia muito solitário e eu comprei um rato de borracha. Então voltamos e esperamos na entrada. "Maravilha," Thalia disse. "Eu vou descer a rua e ver
se alguém nas outras lojas tem alguma sugestão." "Mas o balconista disse --" "Eu sei," ela me disse. "Eu vou checar mesmo assim." Eu a deixei ir. Eu sabia como é
ser inquieto. Todos os meio-sangues têm problemas de déficit de atenção por causa de nossos reflexos natos nos campos de batalha. Nós não

podíamos simplesmente ficar esperando. Além disso, eu achava que Thalia ainda estava chateada por causa da nossa conversa noite passada sobre Luke. Bianca e eu ficamos
sozinhos de modo embaraçoso. Quero dizer... eu nunca me senti confortável conversando frente a frente com garotas de qualquer jeito, e eu nunca estive sozinho com
Bianca antes. Eu não sabia bem o que dizer, principalmente agora que ela era uma Caçadora e tudo o mais. "Belo rato," ela disse por fim. Eu o pus na grade do portão.
Talvez atraísse mais clientela para a loja. "Então... o que você tem achado de ser uma Caçadora até agora?" perguntei. Ela franziu os lábios. "Você não está mais
chateado comigo por ter me juntado a elas, está?" "Nah. Desde que, você sabe... você esteja feliz." "Não sei se `feliz' é a palavra certa, com Lady Ártemis desaparecida.
Mas ser uma Caçadora é realmente legal. Eu me sinto mais calma de algum jeito. Tudo parece ter desacelerado ao meu redor. Acho que é a imortalidade." Eu a olhei,
tentando ver alguma diferença. Ela parecia mesmo mais confiante do que antes, mais em paz. Ela já não escondia seu rosto sob um gorro verde. Ela mantinha o cabelo
amarrado atrás, e me olhava bem nos olhos quando falava. Com um calafrio, eu me toquei de que daqui a quinhentos ou mil anos, Bianca di Angelo estaria exatamente
como estava hoje. Ela estaria conversando com outro meio-sangue bem depois da minha morte, mas Bianca ainda pareceria ter doze anos de idade. "Nico não entendeu
minha decisão," Bianca murmurou. Ela me olhou como se quisesse garantia de que estava tudo bem. "Ele vai ficar bem," eu disse. "O Acampamento Meio-Sangue cuida de
várias crianças menores. Eles cuidaram de Annabeth." Bianca fez que sim. "Espero que a encontremos. Annabeth, quero dizer. Ela tem sorte de ter um amigo como você"
"Muito bem fez a ela." "Não se culpe, Percy. Você arriscou sua vida para salvar ao meu irmão e a mim. Quero dizer, isso foi seriamente corajoso. Se eu não tivesse
te conhecido, eu não me sentiria bem em deixar Nico no Acampamento. Eu acho que se há pessoas como você lá, Nico ficará bem. Você é um cara legal." O elogio me pegou
de surpresa. "Mesmo eu tendo te derrubado no capture da bandeira?" Ela riu. "Tá bem. Tirando isso, você é um cara legal." Alguns metros a frente, Groover e Zoe saíram
da lanchonete carregados com pastéis e bebidas. Eu meio que não queria que eles voltassem ainda. Era estranho, mas eu percebi que gostava de conversar com Bianca.
Ela não era tão má. Bem mais fácil de conversar do que Zoe Nightshade, aliás. "Então qual é a história de você e Nico?" perguntei a ela. "Onde vocês estudavam antes
de Westover?" Ela franziu as sobrancelhas. "Eu acho que era um internato em D.C. Parece que foi há muito tempo." "Vocês nunca moraram com seus pais? Quero dizer,
com o mortal?" "Disseram-nos que nossos pais estavam mortos. Havia um fundo pra nós. Muito dinheiro, eu acho. Um advogado viria de vez em quando nos ver. Aí Nico
e eu tivemos que deixar a escola." "Por quê?" Ela uniu as sobrancelhas. "Tínhamos que ir a algum lugar. Eu me lembro que era importante. Viajamos um longo caminho.
Ficamos nesse hotel por algumas semanas. E

depois... não sei. Certo dia um advogado diferente veio nos buscar. Disse que era hora de partirmos. Ele nos levou de volta para o leste, por D.C. Depois a Maine.
E começamos a frequentar Westover". Era uma estória estranha. Porém, Bianca e Nico eram meio-sangues, nada seria normal para eles. "Então você tem cuidado do Nico
praticamente sua vida toda?" perguntei. "Só vocês dois?" Ela assentiu. "É por isso que eu quis tanto aderir às Caçadoras, afinal. Digo, eu sei que é egoísta, mas
eu queria minha própria vida e amigos. Eu amo Nico -- não me entenda mal -- eu só precisava descobrir como seria não ser a irmã mais velha vinte e quatro horas por
dia." Eu pensei sobre o último verão, em como eu me senti quando descobri que tinha um ciclope como irmão mais novo. Eu pude entender o que Bianca disse. "Zoe parece
confiar em você," eu disse. "Sobre o que vocês estavam conversando afinal -- alguma coisa perigosa sobre a missão?" "Quando?" "Ontem de manhã no pavilhão," eu disse,
antes que pudesse me conter. "Alguma coisa sobre o General." Seu rosto escureceu. "Como você... O boné da invisibilidade. Você estava bisbilhotando?" "Não! Quero
dizer, não realmente. Eu só --" Fui salvo de tentar me explicar quando Zoe e Grover chegaram com as bebidas e pastéis. Chocolate quente para Bianca e para mim. Café
para eles. Eu peguei um bolinho de framboesa, e estava tão bom que eu quase pude ignorar o olhar ultrajante que Bianca estava me dando. "Nós devíamos fazer o feitiço
de rastreamento." Zoe disse. "Grover, tens alguma bolota sobrando?" "Umm," Grover resmungou. Ele estava mastigando um bolinho de frutas embrulhado no papel. "Eu
acho que sim. Eu só preciso --" Ele congelou. Eu estava para perguntar o que havia de errado, quando uma brisa quente passou, como uma rajada de primavera perdida
no meio do inverno. Ar fresco temperado com flores do campo e luz do sol. E outra coisa -- quase como uma voz, tentando dizer algo. Um aviso. Zoe arquejou. "Grover,
tua xícara." Grover derrubou sua xícara de café, que era decorada com figuras de pássaros. De repente os pássaros saíram da xícara e voaram livres -- um bando de
minúsculas pombas. Meu rato de borracha guinchou. Ele correu da grade até as árvores -- pelo de verdade e bigode de verdade. Grover desmoronou perto de seu café,
que derretia a neve. Nós nos reunimos em volta dele e tentamos acordá-lo. Ele gemeu e seus olhos tremeluziram. "Ei!" Thalia disse, correndo pela rua. "Eu só... O
que há com Grover?" "Eu não sei," eu disse. "Ele desmaiou." "Uuuuuhhhh," Grover grunhiu. "Bem, levantem-no!" Thalia disse. Ela tinha sua lança na mão. Ela olhou
para trás como se estivesse sendo seguida. "Nós temos que dar o fora daqui." Chegamos ao final da cidade antes que os dois primeiros guerreiros esqueleto aparecessem.
Eles saíram dentre as árvores de cada lado da estrada. Ao invés de

camuflagem cinza, eles usavam agora uniformes azuis da Polícia do Novo México, mas tinham as mesmas peles acinzentadas e transparentes e os olhos amarelos. Eles
sacaram suas armas. Vou admitir que costumava pensar que seria legal aprender como atirar com uma arma, mas mudei de ideia assim que os guerreiros esqueleto apontaram
as deles para mim. Thalia deu um tapa em seu bracelete. Aegis ganhou vida em seu braço, mas os guerreiros não titubearam. Seus brilhantes olhos amarelos me focavam.
Peguei Contracorrente, apesar de não saber bem como ela seria útil contra armas. Zoe e Bianca se apoderaram de seus arcos, mas Bianca estava tendo problemas porque
Grover continuava desfalecendo e se inclinando contra ela. "Recuem." Thalia disse, Nós começamos ­ mas então eu ouvi um tilintar de correntes. Dois outros esqueletos
apareceram na estrada atrás de nós. Estávamos cercados. Imaginei onde estariam os outros esqueletos. Eu vi uma dúzia no Museu Nacional do Ar e do Espaço. Então um
dos esqueletos levou um celular à boca e falou nele. Porém ele não estava falando. Ele fez um som ruidoso, de estalos, como dente seco no osso. De repente eu entendi
o que se passava. Os esqueletos haviam se separado para nos procurar. Estes estavam agora chamando seus irmãos. Em breve teríamos uma festa completa nas mãos. "Está
perto," Grover gemeu. "Está aqui," eu disse. "Não," ele insistiu. "O presente. O presente da Natureza." Eu não sabia sobre o que ele estava falando, mas me preocupei
com sua condição. Ele não estava bem para andar, muito menos para lutar. "Teremos que ir um contra um," Thalia disse. "Quatro deles. Quatro nossos. Talvez eles ignorem
Grover nesse estado." "Concordo," disse Zoe. "A Natureza!" Grover gemeu. Um vento quente veio através do cânion, balançando as árvores, mas mantive meus olhos no
esqueleto. Eu me lembrei do General se vangloriando sobre o destino de Annabeth. Eu me lembrei de como Luke a traiu. Então eu investi. O primeiro esqueleto atirou.
O tempo passou devagar. Não vou dizer que podia ver a bala, mas eu podia sentir sua trajetória, do mesmo jeito que sentia as correntes marítimas. Eu a desviei com
a borda da minha espada e continuei atacando. O esqueleto sacou um cassetete e eu decepei seus braços na altura dos cotovelos. Então passei Contracorrente por sua
cintura e o cortei ao meio. Seus ossos se desmontaram em uma pilha estalando no asfalto. Quase imediatamente, eles começaram a se mover, unindo-se. O segundo esqueleto
bateu os dentes para mim e tentou disparar, mas derrubei sua arma na neve. Pensei que estivesse indo bem, até que os outros dois esqueletos atiraram nas minhas costas.
"Percy!" Thalia gritou. Eu caí de cara na rua. Então percebi uma coisa... eu não estava morto. O impacto das balas foi tremendo, como um empurrão por trás, mas elas
não me machucaram. O pelo do Leão da Neméia! Meu casaco era a prova de balas. Thalia atacou o segundo esqueleto. Zoe e Bianca começaram a disparar flechas no terceiro
e no quarto. Grover ficou lá e levantou as mãos para as árvores, como se quisesse abraçá-las.

Houve um som de colisão na floresta a nossa esquerda, como uma escavadeira. Talvez os reforços dos esqueletos estivessem chegando. Eu me levantei e peguei o cassetete
de policial. O esqueleto que eu havia cortado ao meio já estava totalmente remontado, vindo atrás de mim. Não havia meio de pará-los. Zoe e Bianca disparavam diretamente
em suas cabeças, mas as flechas apenas passavam sibilando através de suas caveiras vazias. Um investiu contra Bianca, e eu pensei que ela estava perdida, mas ela
puxou sua faca de caça e apunhalou o guerreiro no peito. O esqueleto inteiro irrompeu em chamas, deixando uma pequena pilha de cinzas e um distintivo policial. "Como
fizeste aquilo?" Zoe perguntou. "Eu não sei," Bianca disse nervosa. "Golpe de sorte?" "Bem, faze de novo!" Bianca tentou, mas os três esqueletos que sobraram estavam
atentos a ela agora. Eles nos forçaram para trás, deixando-nos ao alcance do cassetete. "Plano?" Eu disse conforme recuávamos. Ninguém respondeu. As árvores atrás
dos esqueletos estavam tremendo. Galhos estavam se quebrando. "Um presente," Grover balbuciou. Então, com um possante rugido, o maior porco que eu já havia visto
entrou na estrada. Era um javali selvagem, nove metros de altura, com um ranhoso focinho rosa e presas do tamanho de canoas. Suas costas eriçadas com pelos marrons,
e seus olhos eram selvagens e furiosos. "REEEEEEEEET", ele guinchou, e jogou os três esqueletos para o lado com suas presas. A força foi tamanha que eles foram voando
sobre as árvores para o flanco da montanha, onde se quebraram em pedaços, fêmures e ossos do braço rodopiando para todos os lados. O porco se virou para nós. Thalia
ergueu sua lança, mas Grover gritou, "Não o mate." O javali grunhiu e deu patadas no chão, pronto para atacar. "É o Javali da Erimantia," Zoe disse, tentando permanecer
calma. "Eu não acho que nós possamos matá-lo." "É um presente," Grover disse. "Uma bênção da Natureza!" O javali disse "REEEEEEEEET!" e moveu suas presas. Zoe e
Bianca saíram do caminho. Eu tive que empurrar Grover, para que ele não fosse arremessado para a montanha na `Presa do Javali Express'. "É, eu me sinto abençoado!"
falei. "Espalhem-se!" Nós corremos em direções diferentes, e por um momento o javali ficou confuso. "Ele quer nos matar!" Thalia disse. "Mas é claro," Grover disse.
"Ele é selvagem!" "Então como é uma bênção?" Bianca perguntou. Parecia uma pergunta justa para mim, mas o porco se ofendeu e a atacou. Ela era mais rápida do que
eu havia imaginado. Ela rolou fora do caminho dos cascos dele e saiu atrás da besta. A besta investiu errado com suas presas e pulverizou o aviso BEM VINDO A CLOUDCROFT.
Eu forcei meu cérebro, tentando me lembrar da lenda do javali. Eu tinha plena certeza de que Hércules havia lutado com essa coisa antes, mas não podia recordar como
ele o havia derrotado. Eu tinha uma vaga memória do javali ter posto abaixo algumas cidades gregas antes que Hércules o vencesse. Eu esperava que Cloudcroft fosse
segurada contra ataques de javalis gigantes.

"Continuai andando!" Zoe gritou. Ela e Bianca corriam em direções opostas. Grover dançou ao redor do javali, tocando sua flauta enquanto o javali bufava e tentava
pegá-lo. Mas Thalia e eu vencemos o prêmio de má sorte. Quando o javali se virou, Thalia cometeu o erro de segurar Aegis em modo defensivo. A visão da cabeça da
medusa fez o javali guinchar injuriado. Talvez parecesse muito com um de seus parentes. O javali nos atacou. Nós apenas conseguimos nos manter à frente dele porque
corremos ladeira acima, e podíamos nos esquivar das árvores enquanto o javali tinha que colocá-las abaixo. Do outro lado da colina, eu vi um antigo trecho de linhas
de trem, parcialmente enterradas na neve. "Por aqui." Eu agarrei o braço de Thalia e corremos pelos trilhos enquanto o javali rugia atrás de nós, escorregando e
deslizando enquanto tentava correr sobre a encosta íngreme. Seus cascos não foram feitos para isso, graças aos deuses. À nossa frente, vi um túnel coberto. Além
dele uma ponte velha sobre um desfiladeiro. Eu tive uma idéia maluca. "Sigam-me!" Thalia desacelerou -- eu não tive tempo de perguntar por que -- mas eu a puxei
e ela seguiu relutante. Atrás de nós, um porco tanque de dez toneladas estava derrubando pinheiros e esmagando rochedos sob seus cascos enquanto nos perseguia. Thalia
e eu entramos no túnel e saímos do outro lado. "Não!" Thalia gritou. Ela ficou branca como gelo. Estávamos na borda do precipício. Abaixo, a montanha descia em um
desfiladeiro de vinte metros recoberto de neve. O javali estava bem atrás de nós. "Vamos!" eu disse. "Vai aguentar o nosso peso, provavelmente." "Eu não posso!"
Thalia berrou. Seus olhos estavam selvagens de medo. O javali esmagava o túnel, destruindo tudo em alta velocidade. Ela olhou para baixo e engoliu em seco. Eu juro
que ela estava ficando verde. Eu não tive tempo para processar o porquê. O javali estava investindo através do túnel, na nossa direção. Plano B. Eu puxei Thalia
e nos pus ao lado da borda da ponte, dentro da lateral da montanha. Nós deslizamos em Aegis como um snowboard, sobre rochas e lama e neve, acelerando montanha abaixo.
O javali foi menos afortunado; ele não conseguiu se virar tão rápido, então todas as dez toneladas de monstro atacaram o fino suporte, o qual arrebentou sob seu
peso. O javali entrou em queda livre no desfiladeiro com um poderoso guincho e aterrissou em um monte de neve com um grande POOOOOOF! Thalia e eu derrapamos para
parar. Estávamos ofegando. Eu estava ferido e sangrando. Thalia tinha pedaços de pinheiro no cabelo. Perto de nós, o javali selvagem estava guinchando e lutando.
Tudo o que eu pude ver foi uma ponta de suas costas. Estava enterrado completamente na neve como um pacote de isopor. Não parecia estar machucado, mas não ia a lugar
algum, de qualquer forma. Eu olhei para Thalia. "Você tem medo de altura." Agora que estávamos salvos na base da montanha, seus olhos tinham a aparência zangada
de sempre. "Não seja estúpido." "Isso explica por que você se apavorou no furgão do Apolo. Por que você não queria falar com ninguém sobre isso" Ela respirou fundo.
Então ela limpou as agulhas de pinheiro do seu cabelo. "Se você contar para alguém, eu juro --" "Não, não," eu disse. "Está bem. É só que... a filha de Zeus, o Senhor
do Céu, com medo de altura?"

Ela estava para enfiar minha cabeça na neve, quando a voz de grover chamou, "Alôôôôôôôô?" "Aqui embaixo!" eu bradei. Alguns minutos depois, Zoe, Bianca e Grover
chegaram até nós. Nós ficamos olhando o javali lutando na neve. "Uma bênção da Natureza," Grover disse, apesar de agora parecer agitado. "Eu concordo," Zoe disse.
"Nós devemos usá-lo." "Espere aí," Thalia disse irritada. Ela ainda parecia como se tivesse perdido uma luta contra uma árvore de Natal. "Explique por que você tem
tanta certeza de que esse porco é uma bênção." Grover olhou adiante, distraído. "É nossa carona para o oeste. Você faz idéia de quão rápido esse javali pode viajar?"
"Divertido," falei. "Como... peões de porco." Grover assentiu. "Nós precisamos montá-lo. Eu queria... eu queria ter mais tempo para olhar em volta. Mas já se foi
agora." "O que se foi?" Grover não pareceu me ouvir. Ele andou até o javali e pulou em suas costas. O javali já estava começando a abrir caminho no monte de neve.
Uma vez que estivesse livre, não haveria como segurá-lo. Grover pegou sua flauta. Ele começou a tocar uma música horrível e jogou uma maçã a frente do javali. A
maçã flutuou e ficou logo acima do focinho do javali, e o javali ficou doido, esforçando-se para pegá-la. "Direção automática," Thalia murmurou. "Ótimo." Ela montou
atrás de Grover, e ainda sobrou bastante espaço para o resto de nós. Zoe e Bianca caminharam para o javali também. "Espere um segundo," eu disse. "Vocês duas sabem
sobre o que Grover estava falando -- sobre essa bênção da natureza?" "É claro," Zoe falou. "Não sentiste no vento? Foi tão forte... eu nunca pensei que sentiria
essa presença novamente." "Que presença?" Ela me encarou como se eu fosse um idiota. "O Senhor da Natureza, é claro. Apenas por um momento, na chegada do javali,
eu senti a presença de Pan."

TREZE

NÓS VISITAMOS O FERRO-VELHO DOS DEUSES
Nós viajamos no javali até o pôr do sol, o que era o máximo que as minhas costas poderiam aguentar. Imagine viajar em uma escova de aço gigante por um leito de cascalho
o dia todo. É o quanto é confortável viajar em um javali. Eu não tinha ideia de quantos quilômetros nós cobrimos, mas as montanhas desapareceram na distância e foram
substituídas por quilômetros de terra seca e plana. A grama ficava espessa enquanto nós galopávamos (javalis galopam?) pelo deserto. Quando a noite caiu, o javali
parou em um riacho, cansado e resfolegando. Ele começou a beber a água lamacenta, então arrancou um cacto saguaro do chão e o mastigou com espinhos e tudo. "Isso
é o mais longe que ele irá," disse Grover. "Precisamos ir embora enquanto ele está comendo." Ninguém discutiu. Nós saímos das costas do javali enquanto ele estava
ocupado devorando cactos. Então gingamos para longe do melhor jeito que pudemos com nossas assaduras de sela. Depois do seu terceiro saguaro e outro gole de água
lamacenta, o javali grunhiu e arrotou, então se virou e galopou de volta em direção ao leste. "Ele gosta mais das montanhas," eu imaginei. "Eu não posso culpá-lo,"
Thalia disse. "Olhe." À nossa frente estava uma estrada de duas pistas coberta pela metade com areia. Do outro lado da estrada estava um grupo de construções muito
pequeno para ser um povoado: uma casa murada, uma loja de tacos que parecia não ter sido aberta desde antes de Zoe Nightshade ter nascido e um escritório dos correios
de reboco branco que tinha uma placa que dizia GILA CLAW, ARIZONA suspensa tortamente acima da porta. Mais além, havia uma cordilheira de colinas... mas então eu
percebi que elas não eram colinas comuns. O interior estava muito plano para isso. As colinas eram enormes montes de carros velhos, ferramentas e outras sucatas.
Era um ferro-velho que parecia não terminar nunca. "Opa," eu falei. "Algo me diz que não vamos encontrar um carro pra alugar aqui," Thalia disse. Ela olhou para
Grover. "Imagino que você não tenha outro javali selvagem na manga?" Grover estava farejando o vento, parecendo nervoso. Ele pegou suas bolotas e as jogou na areia,
então tocou sua flauta. Elas se rearranjaram em um padrão que não fazia sentido para mim, mas Grover olhou preocupado. "Somos nós," ele disse. "Aquelas cinco nozes
ali." "Qual delas sou eu?" perguntei. "A pequena e deformada," Zoe sugeriu. "Ah, cale a boca." "Aquele aglomerado logo ali," Grover disse, apontando para a esquerda,
"aquilo é problema." "Um monstro?" Thalia perguntou. Grover parecia desconfortável. "Eu não farejo nada, o que não faz sentido. Mas as bolotas não mentem. Nosso
próximo desafio..."

Ele apontou na direção do ferro-velho. Com a luz do sol quase inexistente agora, as colinas de metal pareciam algo de outro planeta. Decidimos acampar a noite e
tentar o ferro-velho pela manhã. Nenhum de nós quis mergulhar na caçamba de lixo no escuro. Zoe e Bianca produziram cinco sacos de dormir e colchões de espuma de
suas mochilas. Eu não sei como elas fizeram isso, porque as mochilas eram minúsculas, mas deviam ter sido encantadas para aguentar tanta coisa. Eu havia notado que
seus arcos e aljavas também eram mágicos. Eu nunca tinha pensado sobre isso, mas quando as Caçadoras precisavam deles, eles apenas surgiam nas suas costas. E quando
não eram necessários, eles desapareciam. A noite ficou fria rapidamente, então eu e Grover pegamos tábuas velhas da casa em ruínas e Thalia as fulminou com um choque
elétrico para fazer uma fogueira. Então logo nós estávamos tão confortáveis quanto se pode ficar em uma cidade fantasma em ruínas no meio do nada. "As estrelas apareceram,"
Zoe disse. Ela estava certa. Havia milhões delas, sem as luzes da cidade para tornar o céu laranja. "Incrível," disse Bianca. "Eu nunca tinha realmente visto a Via
Láctea." "Isso não é nada," Zoe disse. "Nos dias antigos, existiam mais. Várias constelações desapareceram devido à luz da poluição humana." "Você fala como se não
fosse humana," eu disse. Zoe levantou uma sobrancelha. "Eu sou uma Caçadora. Eu ligo para o que acontece nos locais selvagens do mundo. Pode-se dizer o mesmo sobre
ti?" "Sobre você," Thalia corrigiu. "Não ti." "Mas se usa você para o início da sentença." "E para o final," Thalia disse. "Sem tu, sem ti. Só você." Zoe jogou suas
mãos para o alto em exasperação. "Eu odeio essa língua. Ela muda muito frequentemente!" Grover suspirou. Ele ainda estava olhando para as estrelas pensando no problema
da poluição. "Se pelo menos Pan estivesse aqui ele poderia consertar as coisas." Zoe concordou tristemente. "Talvez tenha sido o café," Grover disse. "Eu estava
bebendo café, e então o vento veio. Talvez se eu bebesse mais café..." Eu estava certo de que café não tinha nada a ver com o que aconteceu em Cloudcroft, mas eu
não tinha a coragem para contar ao Grover. Eu pensei no rato de borracha e nos pequenos pássaros que de repente ganharam vida quando o vento soprou. "Grover, você
realmente acha que foi Pan? Quero dizer, eu sei que você quer que seja." "Ele nos mandou ajuda," insistiu Grover. "Eu não sei como ou por quê. Mas era a presença
dele. Depois que essa missão acabar, eu vou voltar ao Novo México e beber muito café. É a melhor pista que nós tivemos em dois mil anos, eu estava tão perto." Eu
não respondi. Não queria esmagar as esperanças de Grover. "O que eu quero saber," disse Thalia, olhando para Bianca, "é como você destruiu um daqueles zumbis. Tem
mais um monte deles por aí. Precisamos descobrir como lutar contra eles." Bianca sacudiu a cabeça. "Eu não sei. Eu só o apunhalei e ele ficou em chamas." "Talvez
haja algo especial com a sua faca," eu disse. "É a mesma que a minha," disse Zoe. "Bronze celestial, sim. Mas a minha não os afetou da mesma maneira." "Talvez você
tenha que acertar o esqueleto em um local exato," eu disse.

Bianca parecia desconfortável com todo mundo prestando atenção nela. "Não tem importância," Zoe disse a ela. "Nós vamos achar a resposta. Enquanto isso nós devíamos
planejar nosso próximo movimento. Quando entrarmos no ferro-velho, nós precisamos continuar a oeste. Se pudermos encontrar uma estrada, podemos pegar carona até
a próxima cidade. Eu acho que será Las Vegas." Eu estava a ponto de protestar que eu e Grover tivemos péssimas experiências naquela cidade, mas Bianca foi mais rápida.
"Não!" ela disse. "Lá não!" Ela parecia realmente assustada, como se tivesse caído da escarpa de uma montanharussa. Zoe franziu as sobrancelhas. "Por quê?" Bianca
tomou um fôlego instável. "Eu... eu acho que nós ficamos lá por um tempo. Eu e Nico. Quando estávamos viajando. Então não consigo me lembrar..." De repente eu tive
um pensamento realmente ruim. Eu me lembrei de Bianca ter me contado que Nico e ela estiveram em um hotel por um tempo. Eu encontrei o olhar de Grover e percebi
que ele estava pensando a mesma coisa. "Bianca," eu disse. "O hotel que vocês ficaram. Por acaso se chamaria Lótus Hotel e Cassino?" Os olhos dela se alargaram.
"Como você pode saber disso?" "Ah, ótimo," falei. "Espere," Thalia disse. "O que é o Lótus Cassino?" "Dois anos atrás," eu disse, "Grover, Annabeth e eu ficamos
presos lá. Ele é feito para que você nunca queira sair. Nós ficamos por cerca de uma hora. Quando saímos, cinco dias tinham se passado. Ele faz o tempo acelerar."
"Não," Bianca disse. "Não, isso não é possível." "Você disse que alguém veio e pegou vocês," eu lembrei. "Sim." "Como ele parecia? O que ele disse?" "Eu... eu não
me lembro. Por favor, eu realmente não quero falar sobre isso." Zoe sentou mais à frente, suas sobrancelhas unidas com preocupação. "Tu disseste que Washington D.C
mudou desde que vós estivestes lá no último verão. Tu não te lembras do metrô estar lá." "Sim, mas --" "Bianca," disse Zoe, "podes me dizer o nome do presidente
dos Estados Unidos neste momento?" "Não seja boba," disse Bianca. Ela nos disse o nome certo do presidente. "E quem foi o presidente antes dele?" Zoe perguntou.
Bianca pensou por um momento. "Roosevelt." Zoe engoliu em seco. "Theodore ou Franklin?" "Franklin." disse Bianca. "F.D.R." "Tipo FDR Drive?" eu perguntei. Porque,
sério, essa é a única coisa que sei sobre F.D.R. "Bianca," disse Zoe. "F.D.R não foi o último presidente. Isso foi há cerca de setenta anos atrás." "Isso é impossível,"
disse Bianca. "Eu... eu não sou tão velha." Ela olhou para suas mãos como que para ter certeza de que não estavam enrugadas. Os olhos de Thalia ficaram tristes.
Eu imaginei que ela sabia como era ser tirada do tempo por um período. "Está tudo bem, Bianca, o importante é que você e Nico estão a salvo. Vocês conseguiram sair
de lá."

"Mas como?" eu disse. "Nós ficamos lá por uma hora e nós mal escapamos. Como você pode ter saído depois de ter ficado lá por tanto tempo?" "Eu já disse a você,"
Bianca parecia a ponto de chorar. "Um homem veio e disse que era hora de ir. Então --" "Mas quem? Por que ele fez isso?" Antes que ela pudesse responder, nós fomos
atingidos por uma luz ofuscante vinda da estrada. As luzes de um carro apareceram do nada. Eu estava meio esperançoso de que fosse Apolo, vindo nos dar uma carona
de novo, mas o motor era muito silencioso para a carruagem solar e, além disso, era noite. Nós pegamos nossos sacos de dormir e saímos do caminho assim que uma limusine
mortalmente branca parou na nossa frente. A porta traseira da limusine abriu bem próxima a mim. Antes que eu pudesse me afastar a ponta de uma espada tocou minha
garganta. Eu ouvi o som de Zoe e Bianca armando seus arcos. Quando o dono da espada saiu do carro, eu recuei bem devagar. Eu tive que fazê-lo porque ele estava pressionando
a ponta da espada embaixo do meu queixo. Ele riu cruelmente. "Não está tão rápido agora, não é mesmo, moleque?" Ele era um homem grande com um corte baixo, uma jaqueta
de couro preta, jeans pretos, uma camisa branca e botas de combate. Lentes escurecidas escondiam seus olhos, mas eu sabia o que havia atrás daqueles óculos -- órbitas
vazias preenchidas com chamas. "Ares," eu rosnei. O deus da guerra deu uma olhada nos meus amigos. "Relaxe, pessoal." Ele estalou os dedos e suas armas caíram no
chão. "Este é um encontro amigável." Ele afundou a ponta de sua espada um pouco mais embaixo do meu queixo. "É claro que eu gostaria de ter sua cabeça como um troféu,
mas alguém quer ver você. E eu nunca decapito meus inimigos na frente de uma dama." "Que dama?" Thalia perguntou. Ares olhou para ela. "Bem, bem. Eu ouvi que você
tinha voltado." Ele abaixou sua espada e me empurrou para o lado. "Thalia, filha de Zeus," Ares disse. "Você não está andando em boa companhia." "O que você quer,
Ares?" ela disse. "Quem está no carro?" Ares sorriu, aproveitando a atenção. "Oh, eu duvido que ela queira conhecer o resto de vocês. Particularmente elas." Ele
apontou o queixo na direção de Zoe e Bianca. "Por que vocês não vão todos pegar alguns tacos enquanto esperam? Só vai tomar de Percy alguns minutos." "Nós não vamos
deixá-lo sozinho contigo, Lorde Ares," Zoe disse. "Além disso," Grover constatou, "a loja de tacos está fechada." Ares estalou os dedos de novo. As luzes dentro
da taqueria de repente ganharam vida. As tábuas voaram da porta e o FECHADO se tornou ABERTO. "Você estava dizendo, garoto bode?" "Podem ir," eu disse aos meus amigos.
"Eu vou cuidar disso." Eu tentei parecer mais confiante do que me sentia. Eu não acho que Ares foi enganado. "Vocês ouviram o garoto," disse Ares. "Ele é grande
e forte. Ele tem as coisas sob controle." Meus amigos relutantemente seguiram para o restaurante de tacos. Ares me considerou com ódio e então abriu a porta da limusine
como um chofer. "Entre, moleque," ele disse. "E meça suas maneiras. Ela não perdoa falta de educação como eu."

Quando eu a vi meu queixo caiu. Eu esqueci meu nome. Esqueci quem eu era. Esqueci como falar sentenças completas. Ela estava usando um vestido vermelho de cetim
e seu cabelo estava enrolado em uma cascata de presilhas. Sua face era a mais bonita que eu já havia visto: maquiagem perfeita, olhos deslumbrantes, um sorriso que
iluminaria o lado escuro da lua. Pensando melhor, eu não posso dizer com quem ela se parecia. Nem mesmo de que cor seus olhos ou cabelos eram. Pegue a mais bonita
atriz que você possa pensar. A deusa era dez vezes mais bonita do que ela. Pegue sua cor de cabelo favorita, cor de olho, qualquer coisa. A deusa tinha aquilo. Quando
ela sorriu pra mim, só por um momento ela se pareceu com Annabeth. E depois com uma atriz de televisão por quem eu costumava ter uma queda na quinta série. Então...
bem, você pegou a idéia. "Ah, aí está você, Percy," a deusa disse. "Eu sou Afrodite." Eu escorreguei para o assento em frente a ela e disse algo como: "Um uh gá."
Ela sorriu. "Você é um doce. Segure isto, por favor." Ela me entregou um espelho polido do tamanho de um prato de jantar para que eu segurasse para ela. Ela se inclinou
para frente e retocou seu batom, embora eu não pudesse ver nada de errado com ele. "Você sabe por que está aqui?" Eu quis responder. Por que eu não podia formar
uma sentença completa? Ela era apenas uma mulher. Uma mulher seriamente bonita. Com olhos que pareciam lagoas de nascente. Uau. Eu belisquei meu próprio braço, com
força. "Eu... eu não sei," concluí. "Ah, querido," Afrodite disse. "Ainda em negação?" Fora do carro, eu pude ouvir Ares gargalhando. Eu tive a sensação de que ele
podia ouvir cada palavra que dizíamos. A ideia de ele estar lá fora me deixou com raiva, o que ajudou a clarear minha mente. "Eu não sei sobre o que você está falando,"
eu disse. "Bem, então por que você está nessa missão?" "Ártemis foi capturada!" Afrodite rolou seus olhos. "Ah, Ártemis. Por favor. Fale sobre um caso irremediável.
Digo, se eles fossem sequestrar uma deusa, ela deveria ser linda de tirar o fôlego, não acha? Eu tenho pena dos pobres queridos que tiveram que aprisionar Ártemis.
Cha-to!" "Mas ela estava perseguindo um monstro," eu protestei. "Um monstro realmente, realmente mal. Temos que achá-lo." Afrodite me fez segurar o espelho um pouco
mais alto. Ela parecia ter achado um microscópico problema no canto do seu olho e pincelou a sua máscara. "Sempre algum monstro. Mas meu querido Percy, isso é o
porquê dos outros estarem nessa missão. Eu estou mais interessada em você." Meu coração martelou. Eu não queria responder, mas seus olhos extraíram a resposta da
minha boca. "Annabeth está com problemas." Afrodite sorriu radiante. "Exato." "Eu tenho que ajudá-la," eu disse. "Eu venho tenho esses sonhos." "Ah, você até sonha
com ela! É tão fofo!" "Não! Quero dizer... não foi isso que eu quis dizer." Ela fez um barulho de tsc-tsc. "Percy, eu estou do seu lado. Eu sou a razão de você estar
aqui, no fim das contas."

Eu a fitei. "O quê?" "A camiseta envenenada que os irmãos Stoll deram a Phoebe," ela disse. "Você acha que foi um acidente? Mandar Blackjack para encontrá-lo? Ajudá-lo
a fugir do acampamento?" "Você fez aquilo?" "Claro! Porque, realmente, como essas Caçadoras são chatas! Uma missão por algum monstro blá, blá, blá. Salvar Ártemis.
Deixe-a continuar perdida, eu digo. Mas uma missão pelo amor verdadeiro --" "Espere um segundo, eu nunca disse --" "Ah, meu querido. Você não precisa dizer. Você
sabe que Annabeth estava perto de se unir às Caçadoras, não é?" Eu corei. "Eu não tinha certeza --" "Ela estava a ponto de jogar a vida dela fora! E você, meu querido,
você pode salvá-la disso. É tão romântico!" "Hum..." "Ah, abaixe o espelho," Afrodite ordenou. "Eu pareço bem." Eu não tinha notado que ainda o estava segurando,
mas assim que o abaixei, percebi que meus braços estavam doloridos. "Agora preste atenção, Percy," Afrodite disse. "As Caçadoras são suas inimigas. Esqueça-as e
a Ártemis e ao monstro. Isso não é importante. Você tem que se concentrar em achar e salvar Annabeth." "Você sabe onde ela está?" Afrodite moveu sua mão irritavelmente.
"Não, não, eu deixo os detalhes para você. Mas já faz eras que não temos uma boa história de amor trágica." "Opa, em primeiro lugar, eu nunca disse nada sobre amor.
E segundo, o que é que há com trágica!" "O amor conquista tudo," Afrodite prometeu. "Olhe Helena e Paris. Eles deixaram algo ficar entre eles?" "Eles não começaram
a Guerra de Tróia e fizeram milhares de pessoas morrerem?" "Pfft. Esse não é o ponto. Siga seu coração." "Mas... eu não sei aonde ele está indo. Digo, meu coração."
Ela sorriu simpaticamente. Ela realmente era bonita. E não só por que ela tinha uma linda face ou algo assim. Ela acreditava tanto no amor, que era impossível não
se sentir tonto quando ela falava a respeito. "Não saber é metade da diversão," Afrodite disse. "Esquisitamente doloroso, não é? Não ter certeza de quem você ama
e quem ama você? Oh, vocês crianças! É tão fofo que eu vou chorar." "Não, não," eu disse. "Não faça isso." "E não se preocupe," ela falou. "Eu não vou deixar isso
ser chato e fácil para você. Não, eu tenho algumas surpresas maravilhosas na manga. Angústia. Indecisão. Oh, espere só." "Está tudo realmente bem," eu disse a ela.
"Não precisa se incomodar." "Você é tão fofo. Eu gostaria que todas as minhas filhas pudessem quebrar o coração de um garoto tão amável quanto você." Os olhos de
Afrodite estavam se enchendo de lágrimas. "Agora, é melhor você ir. E seja cuidadoso no território do meu marido, Percy. Não pegue nada. Ele é altamente meticuloso
em relação às suas porcarias e tranqueiras." "O quê?" perguntei. "Você diz Hefesto?" Mas a porta do carro se abriu e Ares pegou meu ombro, colocando-me pra fora
do carro e de volta na noite do deserto.

Minha audiência com a deusa do amor havia acabado. "Você é sortudo, moleque," Ares me afastou da limusine. "Seja grato." "Pelo quê?" "Por nós sermos tão legais.
Se fosse por mim --" "Então por que você não me matou?" eu atirei de volta. Era uma coisa estúpida para se dizer ao deus da guerra, mas estar perto dele sempre me
deixa imprudente e zangado. Ares acenou com a cabeça, como se eu finalmente tivesse dito algo inteligente. "Eu adoraria matar você, sério," ele disse. "Mas veja,
eu estou em uma situação. A conversa no Olimpo é que você pode começar a maior guerra da história. Eu não posso arriscar bagunçar isso. Além disso, Afrodite pensa
que você é algum tipo de astro de novela ou algo assim. Se eu matar você, isso vai me deixar mal com ela. Mas não se preocupe. Eu não esqueci minha promessa. Algum
dia em breve, garoto -- muito em breve -- você irá levantar sua espada pra lutar, e se lembrará da ira de Ares." Eu fechei meus punhos. "Por que esperar? Eu venci
você uma vez. Como aquele tornozelo está se curando?" Ele deu um sorriso torto irônico. "Nada mal, moleque. Mas você não conseguirá nada do mestre das provocações.
Eu vou começar a luta quando eu estiver bem e pronto. Até lá... Dê o fora." Ele estalou os dedos e o mundo deu uma volta completa, girando em uma nuvem de poeira
vermelha. Eu caí no chão. Quando eu me levantei de novo, a limusine se fora. A estrada, o restaurante de tacos, toda a cidade de Gila Claw se fora. Meus amigos e
eu estávamos no meio do ferrovelho, montanhas de metal sucateado espalhadas em todas as direções. "O que ela queria com você?" Bianca perguntou, após eu ter contado
a eles sobre Afrodite. "Ah, hum, não tenho certeza," menti. "Ela disse para ser cuidadoso no ferro-velho do marido dela. Disse para não pegar nada." Zoe estreitou
seus olhos. "A deusa do amor não faria uma viagem especial para contar a ti apenas isso. Sê cuidadoso, Percy. Afrodite já extraviou muitos heróis." "Pela primeira
vez eu concordo com Zoe," Thalia disse. "Você não pode confiar em Afrodite." Grover estava me olhando de um jeito engraçado. Com a empatia e tudo mais, ele podia
geralmente ler minhas emoções, e eu percebi que ele sabia exatamente sobre o que Afrodite conversou comigo. "Então," eu disse ansioso para mudar de assunto, "como
saímos daqui?" "Naquela direção," Zoe disse. "É o oeste." "Como você sabe?" Na claridade da lua cheia eu fiquei surpreso do quão bem eu podia vê-la rolar os olhos
pra mim. "Ursa maior está ao norte," ela disse, "o que significa que lá é o oeste." Ela apontou para o oeste, e então para uma constelação ao norte, que era difícil
de perceber porque havia muitas outras estrelas. "Ah, sim," eu disse. "A coisa do urso." Zoe pareceu ofendida. "Mostra algum respeito. Era um bom urso. Um oponente
digno." "Você age como se fosse real." "Caras," Grover cortou. "Olhem."

Nós havíamos chegado ao topo de uma montanha de sucata. Pilhas de objetos metálicos cintilavam à luz da lua: cabeças quebradas de cavalos de bronze, pernas de metal
de estátuas humanas, carruagens destruídas, toneladas de escudos e espadas e outras armas, junto com coisas mais modernas, como carros que cintilavam ouro e prata,
refrigeradores, máquinas de lavar e monitores de computador. "Uau," disse Bianca. "Aquela coisa... parte dela parece com ouro de verdade." "E é," disse Thalia severamente.
"Como Percy disse, não toque em nada. Esse é o ferrovelho dos deuses." "Sucata?" Grover pegou uma bonita coroa feita de ouro, prata e jóias. Estava quebrada em um
lado, como se tivesse sido partida por um machado. "Você chama isso de sucata?" Ele mordeu uma ponta e começou a mastigar. "É delicioso!" Thalia tomou a coroa de
suas mãos. "Estou falando sério!" "Olhe!" Bianca disse. Ela correu colina abaixo tropeçando em rolos de bronze e pratos de ouro. Ela pegou um arco que resplandecia
prateado à luz da lua. "Um arco de Caçadora!" Ela uivou em surpresa quando o arco começou a encolher, e se tornou um grampo de cabelo com feitio de uma lua crescente.
"É como a espada do Percy!" A expressão de Zoe era severa. "Deixa-o, Bianca." "Mas --" "Está aqui por alguma razão. Qualquer coisa que foi jogada neste ferro-velho
deve permanecer nele. É defeituosa. Ou amaldiçoada." Bianca relutantemente largou o grampo no chão. "Eu não gosto deste lugar," Thalia disse. Ela apertou a haste
de sua lança. "Você acha que seremos atacados por refrigeradores assassinos?" perguntei. Ela me deu uma olhada dura. "Zoe está certa, Percy. Coisas são jogadas aqui
por algum motivo. Agora venha, vamos atravessar este campo." "Está é a segunda vez que você concorda com Zoe," eu murmurei, mas Thalia me ignorou. Nós começamos
a trilhar nosso caminho através das colinas e vales de sucata. As coisas pareciam não ter fim, e se não fosse pela Ursa Maior nós ficaríamos perdidos. Todas as colinas
se pareciam. Eu gostaria de dizer que não mexemos em nada, mas tinha muita sucata legal pra não checarmos algumas. Eu achei uma guitarra elétrica no formato da lira
de Apolo que era tão legal que eu tive que pegá-la. Grover achou uma árvore quebrada feita de metal. Ela foi fatiada em pedaços, mas alguns dos galhos ainda tinham
pássaros dourados, e eles se balançaram quando Grover os pegou, tentando bater suas asas. Finalmente, nós vimos o limite do ferro-velho cerca de um quilômetro a
nossa frente, as luzes de uma auto-estrada se alongando pelo deserto. Mas entre nós e a estrada... "O que é aquilo?" Bianca arquejou. Diante de nós estava uma colina
muito maior e mais longa do que as outras. Era como um morro de metal com o topo plano, da largura de um campo de futebol americano e tão alto quanto os postes do
gol. No final do morro estava uma fileira de dez grossas colunas de metal forçadas hermeticamente juntas. Bianca franziu suas sobrancelhas. "Elas se parecem com
--" "Dedos do pé," disse Grover. Bianca acenou. "Dedos muito, muito largos." Zoe e Thalia trocaram olhares nervosos. "Vamos contornar," Thalia disse. "Bem longe."
"Mas a estrada está logo ali," eu protestei. "É mais rápido escalarmos."

Ping. Thalia preparou sua lança e Zoe sacou seu arco, mas então eu percebi que foi apenas Grover. Ele havia jogado um pedaço de metal sucateado nos dedos e acertou
um, fazendo um longo eco, como se a coluna fosse oca. "Por que fizeste isso?" Zoe exigiu. Grover se encolheu. "Eu não sei. Eu, hã, não gosto de pés falsos?" "Vamos,"
Thalia olhou para mim. "Dar a volta." Eu não argumentei. Os dedos estavam começando a me assustar também. Quero dizer, quem esculpe dedos de metal de mais de três
metros de altura e depois os crava em um ferro-velho? Depois de vários minutos de caminhada, nós finalmente pisamos na auto-estrada, uma abandonada, porém bem iluminada
linha de asfalto negro. "Nós conseguimos," disse Zoe. "Graças aos deuses." Mas aparentemente os deuses não queriam ser agradecidos. Naquele momento, eu ouvi um som
parecido com mil compressores de lixo triturando metal. Eu me virei. Atrás de nós, a montanha de sucata estava em ebulição, erguendo-se. Os dez dedos se moveram
e eu percebi por que eles pareciam dedos. Eles eram dedos. A coisa que se ergueu do metal era um gigante de bronze em uma armadura grega completa. Ele era impossivelmente
alto -- um arranha-céu com pernas e braços. Ele brilhou assustadoramente à luz da lua. Ele olhou para nós e sua face estava deformada. O lado esquerdo estava parcialmente
derretido. Suas juntas rangeram enferrujadas e no seu peito blindado, escrito em grossa poeira por algum dedo gigante, estavam as palavras LAVE-ME. "Talos!" Zoe
arquejou. "Que -- quem é Talos?" eu gaguejei. "Uma das criações de Hefesto," Thalia disse. "Mas não pode ser o original. É muito pequeno. Um protótipo talvez. Um
modelo defeituoso." O gigante de metal não gostou da palavra defeituoso. Ele moveu uma mão para o cinturão de sua espada e desembainhou sua arma. O som dela saindo
da bainha era horrível, metal chiando contra metal. A lâmina tinha mais de trinta metros de comprimento, fácil. Ela parecia enferrujada e cega, mas eu não imaginei
que isso importasse. Ser atingido por aquela coisa seria como ser atingido por um navio de batalha. "Alguém pegou algo," Zoe disse. "Quem pegou algo?" Zoe olhou
para mim acusadoramente. Eu balancei minha cabeça. "Eu sou um monte de coisas, mas eu não sou ladrão." Bianca não disse nada. Eu poderia jurar que ela parecia culpada,
mas eu não tive muito tempo para pensar sobre isso, porque o gigante defeituoso Talos deu um passo na nossa direção, cobrindo metade da distância e fazendo a terra
tremer. "Corram!" Grover gritou. Ótimo conselho, exceto pelo fato de que era inútil. Em um passo lento, aquela coisa poderia nos ultrapassar facilmente. Nós nos
separamos do modo como fizemos com o Leão da Neméia. Thalia armou seu escudo e o segurou no alto enquanto corria na direção da auto-estrada. O gigante brandiu sua
espada e acertou uma fileira de cabos de força, os quais explodiram em faíscas que se espalharam no caminho de Thalia. As flechas de Zoe assobiaram na direção da
face do gigante, mas se despedaçaram inofensivamente contra o metal. Grover zurrou como um bebê bode e escalou uma montanha de metal.

Bianca e eu acabamos perto um do outro, escondendo-nos atrás de uma carruagem quebrada. "Você pegou algo," eu disse. "Aquele arco." "Não!" ela disse, mas a voz dela
estava trêmula. "Devolva!" falei. "Jogue isso fora!" "Eu... eu não peguei o arco! De qualquer maneira, é muito tarde." "O que você pegou?" Antes que ela pudesse
responder, eu ouvi um imenso barulho de rangido, e uma sombra escondeu o céu. "Mova-se!" eu rasguei colina abaixo, Bianca logo atrás de mim, assim que o pé do gigante
estraçalhou uma cratera no lugar onde estávamos nos escondendo. "Ei, Talos!" Grover gritou, mas o monstro levantou sua espada, olhando para Bianca e para mim. Grover
tocou uma rápida melodia em sua flauta. Lá na estrada, as linhas de força caídas começaram a dançar. Eu entendi o que Grover ia fazer um segundo antes de acontecer.
Um dos postes com cabos de força ainda atados voou na direção da parte de trás da perna de Talos e se amarrou em sua panturrilha. As linhas faiscaram e mandaram
um choque de eletricidade para o traseiro do gigante. Talos rodopiou, faiscando e rangendo. Grover havia conseguido alguns segundos para nós. "Vamos!" eu disse a
Bianca, mas ela continuou congelada. Do seu bolso ela tirou uma pequena figura de metal, uma estátua de um deus. "Era... era para Nico. Era a única estátua que ele
ainda não tinha." "Como você pode pensar em Mythomagic em uma hora dessas?" eu disse. Havia lágrimas nos olhos dela. "Jogue isso fora," falei. "Talvez o gigante
nos deixe em paz." Ela largou a estátua relutantemente, mas nada aconteceu. O gigante continuou indo atrás de Grover. Ele apunhalou uma colina de sucata, errando
Grover por alguns metros, mas a sucata fez uma avalanche sobre ele, e então eu não pude vê-lo mais. "Não!" Thalia gritou. Ela apontou sua lança e um arco de relâmpagos
azuis foram lançados, acertando o monstro em seu joelho enferrujado, que falhou. O gigante desmoronou, mas imediatamente começou a se levantar novamente. Era difícil
dizer se ele podia sentir alguma coisa. Não havia nenhuma emoção em sua cara meio derretida, mas eu tive a impressão de que ele estava tão furioso quanto um guerreiro
de metal de vinte andares de altura poderia estar. Ele levantou seu pé para pisotear e eu vi que a sola era igual ao solado de um tênis. Tinha um buraco no calcanhar,
como um grande poço de serviço, e havia palavras vermelhas pintadas ao redor, as quais eu só decifrei quando o pé desceu: APENAS PARA MANUTENÇÃO. "Hora da ideia
maluca," eu disse. Bianca olhou para mim nervosamente. "Qualquer coisa." Eu contei a ela sobre a escotilha de manutenção. "Talvez haja um modo de controlar a coisa.
Botões ou algo do tipo. Eu vou entrar lá." "Como? Você vai ter que ficar embaixo do pé dele! Você vai ser esmagado." "Distraia-o," eu disse. "Eu só tenho que acertar
o tempo." A mandíbula de Bianca travou. "Não. Eu vou." "Você não pode. É nova nisso! Você vai morrer." "É minha culpa que o monstro veio atrás de nós," ela disse.
"É minha responsabilidade. Aqui."

Ela pegou a pequena estátua de deus e apertou contra a minha mão. "Se acontecer alguma coisa, dê isso a Nico. Diga a ele... diga a ele que sinto muito." "Bianca,
não!" Mas ela não estava esperando por mim. Ela correu na direção do pé esquerdo do monstro. Thalia tinha a atenção dele no momento. Ela tinha aprendido que o gigante
era grande, mas lento. Se você pudesse ficar perto dele e não ser esmagado, poderia correr ao redor e continuar vivo. Pelo menos estava funcionando até agora. Bianca
ficou perto do pé do gigante, tentando se equilibrar nas sucatas que balançavam e mexiam com o peso dele. Zoe gritou. "O que é que tu estás fazendo?" "Faça com que
ele levante o pé!" ela disse. Zoe atirou uma flecha na direção da face do monstro e ela voou direto para dentro de uma das narinas. O gigante se endireitou e balançou
sua cabeça. "Ei, Garoto Sucata!" gritei. "Aqui embaixo." Eu corri até o seu dedão e o furei com Contracorrente. A lâmina mágica fez um corte no bronze. Infelizmente,
meu plano funcionou. Talos olhou para baixo e levantou seu pé para me esmagar como um inseto. Não vi o que Bianca estava fazendo. Tive que me virar e correr. O pé
desceu cerca de cinco centímetros atrás de mim e eu fui jogado no ar. Atingi algo duro e me sentei atordoado. Eu tinha sido jogado em um refrigerador de ar do Olimpo.
O monstro estava a ponto de acabar comigo, mas Grover de algum modo conseguiu se livrar da pilha de sucata. Ele tocou sua flauta freneticamente e sua música mandou
outro poste de linha de força castigar a coxa de Talos. O monstro se virou. Grover deveria ter corrido, mas ele devia estar muito cansado pelo esforço de usar tanta
mágica. Ele deu dois passos, caiu e não se levantou mais. "Grover!" Thalia e eu corremos na direção dele, mas eu sabia que era tarde demais pra nós. O monstro levantou
sua espada para esmagar Grover. Então ele parou. Talos acertou sua cabeça de um lado como se ele estivesse ouvindo uma estranha nova música. Ele começou a mover
seus braços e pernas de maneiras estranhas, fazendo a Galinha Funk. Então ele fechou o punho e se deu um soco na cara. "Vai, Bianca!" eu gritei. Zoe pareceu horrorizada.
"Ela está dentro?" O monstro cambaleou, e eu percebi que nós ainda estávamos em perigo. Thalia e eu pegamos Grover e corremos com ele em direção à auto-estrada.
Zoe já estava à nossa frente. Ela gritou, "Como Bianca vai sair?" O gigante se acertou na cabeça mais uma vez e largou sua espada. Uma tremedeira correu por todo
o seu corpo e ele cambaleou na direção dos cabos de força. "Cuidado!" gritei, mas já era muito tarde. O tornozelo do gigante se embolou nas linhas e faíscas azuis
de eletricidade passaram pelo seu corpo. Torci para que o interior fosse isolado. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo lá. O gigante cambaleou de volta ao
ferro-velho, e sua mão direita se soltou, caindo na sucata com um horrível CLANG! Seu braço esquerdo se desprendeu também. Ele estava se partindo nas juntas. Talos
começou a correr. "Espera!" Zoe gritou. Nós corremos atrás dele, mas não havia como nós acompanharmos. Pedaços do robô continuavam caindo, ficando no nosso caminho.

O gigante desmontou de cima a baixo: sua cabeça, seu peito e, finalmente, suas pernas desmoronaram. Quando alcançamos as ruínas nós procuramos freneticamente gritando
o nome de Bianca. Nós engatinhamos entre as vastas partes vazias e as pernas e a cabeça. Nós procuramos até o sol começar a nascer, mas sem sorte. Zoe se sentou
e chorou. Eu estava atordoado por vê-la chorar. Thalia gritou enfurecida e enfiou sua espada na face esmagada do gigante. "Nós podemos continuar procurando," falei.
"Está claro agora. Nós vamos encontrá-la." "Não, nós não vamos," Grover disse miseravelmente. "Aconteceu exatamente como foi previsto." "Do que você está falando?"
perguntei. Ele olhou pra mim com grandes olhos aquosos. "A profecia. Um deve se perder na terra árida." Por que eu não tinha visto isso? Por que eu a deixei ir em
meu lugar? Ali estávamos nós no deserto. E Bianca di Angelo se fora.

CATORZE

EU TENHO UM PROBLEMA REPRESADO
No limite do ferro-velho encontramos um reboque tão velho que deve ter se jogado fora por conta própria. Mas o motor ligou, e ele estava com o tanque cheio, então
decidimos pegá-lo emprestado. Thalia dirigiu. Ela não parecia tão atordoada quanto Zoe ou Grover ou eu. "Os esqueletos ainda estão lá fora," ela nos lembrou. "Precisamos
continuar." Ela navegou pelo deserto, debaixo do céu limpo e azul, a areia tão brilhante que doía olhar. Zoe sentou na frente com Thalia. Grover e eu nos sentamos
no banco traseiro, encostados contra o reboque. O ar estava frio e seco, mas o clima bom parecia um insulto depois de perder Bianca. Minha mão se fechou em volta
da estatueta que tinha custado a vida dela. Eu ainda não podia dizer sequer de que deus ela deveria ser. Nico saberia. Ó, deuses... o que eu ia dizer ao Nico? Queria
acreditar que Bianca ainda estava viva em algum lugar. Mas eu tinha o mau pressentimento de que ela realmente se fora. "Deveria ter sido eu," disse. "Eu devia ter
entrado no gigante." "Não diga isso!" Grover entrou em pânico. "É ruim o suficiente que Annabeth se foi, e agora Bianca. Você acha que eu suportaria se..." Ele fungou.
"Você acha que mais alguém seria meu melhor amigo?" "Ah, Grover..." Ele enxugou os olhos com um pano oleoso que deixou seu rosto sujo, como se tivesse feito pintura
de guerra. "Eu... Eu estou bem." Mas ele não estava bem. Desde o encontro no Novo México -- o que quer que tenha acontecido quando aquele vento selvagem passou --
ele aparentava estar realmente frágil, ainda mais emotivo que o normal. Eu estava com medo de falar com ele sobre isso, pois ele podia começar a berrar. Pelo menos
tem uma coisa boa em ter um amigo que perde o controle mais do que você. Eu percebi que não podia ficar deprimido. Precisava deixar de lado os pensamentos sobre
Bianca e nos manter indo em frente, do jeito que Thalia estava fazendo. Imaginei sobre o que ela e Zoe estavam falando na parte da frente do reboque. O reboque ficou
sem combustível na beirada de um desfiladeiro de rio. Isso estava bem, uma vez que a estrada havia terminado. Thalia saiu e bateu a porta. Imediatamente um dos pneus
furou. "Ótimo. Agora o quê?" Examinei o horizonte. Não havia muito para ver. Deserto em todas as direções, amontoados ocasionais de montanhas áridas apareciam aqui
e ali. O desfiladeiro era a única coisa interessante. O rio em si não era muito grande, talvez uns quarenta metros de largura, água esverdeada com poucas corredeiras,
mas entalhava uma enorme cicatriz no deserto. Os penhascos rochosos desciam longe abaixo de nós. "Há uma trilha," disse Grover. "Podemos chegar ao rio." Tentei ver
sobre o que ele estava falando, e finalmente notei uma minúscula saliência serpenteando ao longo da face do penhasco. "É um caminho para bodes," eu disse.

"E?" ele perguntou. "O resto de nós não é bode." "Nós vamos conseguir," Grover falou. "Eu acho." Pensei sobre isso. Já tinha encarado penhascos antes, mas não gostava
deles. Então olhei para Thalia e vi o quanto ela tinha ficado pálida. O problema dela com alturas... ela nunca conseguiria fazer isso. "Não," eu disse. "Eu, hã,
acho que devemos ir mais longe rio acima." Grover falou, "Mas --" "Vamos," eu disse. "Uma caminhada não vai nos machucar." Olhei de relance para Thalia. Os olhos
dela diziam obrigada de forma breve. Nós seguimos o rio durante quase um quilômetro antes de chegarmos a um declive mais leve que descia até a água. Na margem havia
um serviço de aluguel de canoas que estava fechado para a temporada, mas eu deixei uma pilha de dracmas dourados em cima do balcão e uma nota dizendo PEG duas canoas.
"Devemos subir o rio," Zoe disse. Era a primeira vez que eu a escutava falar desde o ferro-velho, e estava preocupado com como ela parecia mal, como uma pessoa gripada.
"As corredeiras são muito velozes." "Deixe isso comigo," falei. Nós colocamos as canoas na água. Thalia me puxou de lado quando estávamos pegando os remos. "Obrigada
pelo que fez lá atrás." "Não foi nada." "Você realmente pode..." ela indicou as corredeiras com a cabeça. "Você sabe." "Acho que sim. Geralmente sou bom com água."
"Você pode levar Zoe?" ela perguntou. "Acho que, hum, talvez você possa falar com ela." "Ela não vai gostar disso." "Por favor? Não sei se aguento ficar no mesmo
bote que ela. Ela... ela está começando a me preocupar." Era quase a última coisa que eu queria fazer, mas eu assenti. Os ombros de Thalia relaxaram. "Eu te devo
uma." "Duas." "Uma e meia," Thalia disse. Ela sorriu, e por um segundo me lembrei de que na verdade gostava dela quando ela não estava gritando comigo. Ela se virou
e ajudou Grover a botar a canoa na água. No final das contas, nem precisei controlar as correntezas. Logo que entramos no rio, olhei para a beirada do bote e encontrei
um par de náiades me encarando. Elas pareciam garotas adolescentes comuns, do tipo que você encontra no shopping, exceto pelo fato de que estavam embaixo d'água.
Ei, eu disse. Elas fizeram um som borbulhante que deve ter sido uma risadinha. Eu não estava certo. Tinha dificuldade para entender náiades. Estamos subindo o rio,
contei a elas. Vocês acham que podem -- Antes que eu pudesse terminar, cada náiade escolheu uma canoa e começou a empurrar rio acima. Nós partimos tão rápido que
Grover caiu dentro de sua canoa com os cascos balançando no ar. "Odeio náiades," resmungou Zoe. Um jato de água esguichou da traseira do bote e atingiu Zoe na cara.
"Diabinhas!" Zoe buscou seu arco. "Epa," eu disse. "Elas estão apenas brincando." "Malditos espíritos aquáticos. Eles nunca me perdoaram."

"Perdoaram pelo quê?" Ela jogou o arco de volta sobre o ombro. "Foi há muito tempo atrás. Não tem importância." Nós aceleramos rio acima, os penhascos se elevando
de ambos os lados. "O que aconteceu com Bianca não foi culpa sua," disse a ela. "Foi minha culpa. Eu a deixei ir." Pensei que isso daria a Zoe uma desculpa para
começar a gritar comigo. Pelo menos isso poderia sacudi-la para que parasse de se sentir deprimida. Em vez disso, seus ombros caíram bruscamente. "Não, Percy. Eu
a forcei a vir na missão. Eu estava muito ansiosa. Ela era uma poderosa meio-sangue. Tinha um coração gentil, também. Eu... eu pensei que ela seria a próxima tenente."
"Mas você é a tenente." Ela agarrou a alça de sua aljava. Parecia mais cansada do que jamais a tinha visto. "Nada dura para sempre, Percy. Por mais de dois mil anos
eu liderei a Caça, e minha sabedoria não melhorou. Agora a própria Ártemis está em perigo." "Olhe, você não pode se culpar por isso." "Se eu tivesse insistido em
ir com ela --" "Você acha que poderia ter lutado com algo poderoso o bastante para raptar Ártemis? Não há nada que você pudesse ter feito." Zoe não respondeu. Os
penhascos ao longo do rio estavam ficando mais altos. Longas sombras caiam sobre a água, deixando-a muito mais gelada, ainda que o dia estivesse claro. Sem pensar
sobre isso, tirei Contracorrente do meu bolso. Zoe olhou para a caneta e sua expressão era sofrida. "Você fez isso," eu disse. "Quem contou a ti?" "Eu tive um sonho
sobre isso." Ela me estudou. Eu tinha certeza de que ela me chamaria de louco, mas ela apenas suspirou. "Foi um presente. E um engano." "Quem era o herói?" perguntei.
Zoe balançou a cabeça. "Não me faças dizer o nome dele. Jurei nunca mais pronunciálo." "Você age como se eu devesse conhecê-lo." "Tenho certeza que conheces, herói.
Vocês garotos não querem todos ser justamente como ele?" Sua voz estava tão amargurada que decidi não perguntar o que ela quis dizer. Olhei para Contracorrente e,
pela primeira vez, imaginei se era amaldiçoada. "Sua mãe era uma deusa da água?" perguntei. "Sim, Pleione. Ela teve cinco filhas. Minhas irmãs e eu. As Hespérides."
"Essas eram as garotas que viviam em um jardim nos limites do Oeste. Com a árvore de maçãs douradas e um dragão que a guardava." "Sim," Zoe disse, saudosa. "Ladon."
"Mas não eram somente quatro irmãs?" "Agora são. Fui exilada. Esquecida. Obscurecida como se nunca tivesse existido." "Por quê?" Zoe apontou para a minha caneta.
"Porque eu traí minha família e ajudei um herói. Tu também não vais achar isso na lenda. Ele nunca falou sobre mim. Depois que seu ataque direto a Ladon falhou,
dei a ele a ideia de como roubar as maçãs, como enganar meu pai, mas ele levou todo o crédito." "Mas --"

Glub, glub, a náiade falou em minha mente. A canoa estava desacelerando. Olhei à frente, e vi por quê. Isto era o mais longe que elas poderiam nos levar. O rio estava
bloqueado. Uma represa do tamanho de um campo de futebol estava no nosso caminho. "Represa Hoover," disse Thalia. "É enorme." Nós ficamos na beira do rio, olhando
acima para uma curva de concreto que se elevava entre os penhascos. Pessoas estavam caminhando ao longo do topo da represa. Elas eram tão pequenas que pareciam pulgas.
As náiades foram embora resmungando muito -- não com palavras que eu pudesse entender, mas era óbvio que elas odiavam essa represa bloqueando o seu bonito rio. Nossas
canoas flutuaram de volta rio abaixo, rodopiando no rescaldo de uma das aberturas de descarga da represa. "Mais de duzentos metros de altura," eu disse. "Construída
na década de 30." "Cinco milhões de acres cúbicos de água," Thalia falou. Grover suspirou. "Maior projeto de construção dos Estados Unidos." Zoe nos encarou. "Como
vós sabeis tudo isso?" "Annabeth," eu disse. "Ela gostava de arquitetura." "Ela era louca por monumentos," Thalia falou. "Despejava fatos o tempo todo," Grover fungou.
"Tão irritante." "Queria que ela estivesse aqui," falei. Os outros assentiram. Zoe ainda estava olhando estranhamente para nós, mas eu não me importei. Parecia ser
um destino cruel que nós tínhamos chegado até a Represa Hoover, uma das favoritas de Annabeth, e ela não estava aqui para ver. "Nós devíamos subir lá," eu disse.
"Por ela. Apenas para dizer que fomos." "Sois malucos," Zoe decidiu. "Mas é lá que a estrada está." Ela apontou para um imenso estacionamento perto do topo da represa.
"Então, passeio turístico será." Tivemos que andar por quase uma hora antes de acharmos uma passagem que levasse para a estrada. Ela ficava no lado leste do rio.
Então nós caminhamos de volta na direção da represa. Estava frio e ventando no topo. De um lado, um grande lago se espalhava, rodeado por áridas montanhas do deserto.
No outro lado, a represa descia como a mais perigosa rampa de skate do mundo, indo até o rio mais de duzentos metros abaixo, e a água que espumava pelas aberturas
da represa. Thalia andava no meio da estrada, bem longe das beiradas. Grover continuava farejando o vento e parecendo nervoso. Ele não falou nada, mas eu sabia que
ele havia sentindo cheiro de monstros. "Quão perto eles estão?" perguntei. Ele balançou a cabeça. "Talvez não estejam perto. O vento na represa, o deserto ao nosso
redor... o cheiro pode ser carregado por quilômetros. Mas está vindo de várias direções. Não gosto disso." Eu também não. Já era quarta-feira, apenas dois dias antes
do solstício de inverno, e nós tínhamos um longo caminho a percorrer. Não precisávamos de mais nenhum monstro. "Tem uma lanchonete no centro de visitantes." Thalia
disse. "Você esteve aqui antes?" perguntei. "Uma vez. Para ver os guardiões." Ela apontou para o fim da represa. Entalhadas na lateral do penhasco havia uma pequena
praça e duas grandes estátuas de bronze. Elas meio que se pareciam com estatuetas do Oscar aladas.

"Elas foram dedicadas a Zeus quando a represa foi construída," disse Thalia. "Um presente de Atena." Turistas estavam aglomerados em volta delas. Eles pareciam estar
olhando para os pés das estátuas. "O que eles estão fazendo?" perguntei. "Esfregando os dedos," Thalia disse. "Eles acham que traz sorte." "Por quê?" Ela balançou
a cabeça. "Mortais têm ideias malucas. Eles não sabem que as estátuas são consagradas para Zeus, mas sabem que há alguma coisa especial sobre elas." "Quando você
esteve aqui da última vez, elas falaram com você ou algo assim?" A expressão de Thalia escureceu. Eu podia dizer que ela viera aqui antes esperando exatamente isso
-- algum tipo de sinal do seu pai. Alguma ligação. "Não. Elas não fazem nada. São apenas grandes estátuas de metal." Pensei na última grande estátua de metal que
havíamos encontrado. Aquilo não tinha ido muito bem. Mas decidi não tocar no assunto. "Vamos achar a lanchonete represa." Zoe disse. "Devemos comer enquanto podemos."
Grover esboçou um sorriso. "A lanchonete represa?" Zoe piscou. "Sim. O que é engraçado? "Nada," Grover disse, tentando manter a cara firme. "Poderia comer algumas
batatas fritas presas." Até Thalia riu com essa. "E eu preciso usar o banheiro entalado." Talvez fosse o fato de que nós estávamos tão cansados e esgotados emocionalmente,
mas comecei a gargalhar, e Thalia e Grover se juntaram a mim, enquanto Zoe olhava para nós. "Eu não entendo." "Eu quero usar a fonte de água represada." Grover disse.
"E..." Thalia tentou tomar fôlego. "Quero comprar uma camiseta imprensada." Rolei de rir, e continuaria gargalhando o dia inteiro, mas escutei um barulho: "Moooo."
O sorriso derreteu no meu rosto. Imaginei se o barulho estava apenas na minha cabeça, mas Grover também parara de rir. Ele estava olhando ao redor, confuso. "Eu
acabei de escutar uma vaca?" "Uma vaca presa?" riu Thalia. "Não," disse Grover. "É sério." Zoe escutou. "Eu ouço nada." Thalia estava olhando para mim. "Percy, você
está bem?" "Sim," eu disse. "Vão na frente. Eu alcanço vocês daqui a pouco." "O que está errado?" Grover perguntou. "Nada," falei. "Eu... eu apenas preciso de um
minuto. Para pensar." Eles hesitaram, mas acho que eu aparentava estar chateado, porque eles finalmente entraram no centro de visitantes sem mim. Assim que eles
se foram, corri até o limite norte da represa e olhei em volta. "Moo." Ela estava no lago, quase dez metros abaixo, mas eu podia vê-la claramente: minha amiga do
Estuário de Long Island, a vaca-serpente Bessie. Olhei ao redor. Havia grupos de crianças correndo ao longo da represa. Vários cidadãos idosos. Algumas famílias.
Mas ninguém aparentava estar prestando atenção em Bessie ainda. "O que você está fazendo aqui?" perguntei a ela. "Moo!" A voz dela era alarmada, como se estivesse
tentando me avisar sobre algo.

"Como você chegou aqui?" perguntei. Estávamos a milhares de quilômetros de Long Island, centenas de quilômetros no interior. De maneira nenhuma ela poderia ter nadado
até aqui. Ainda assim, aqui estava ela. Bessie nadou em círculo e bateu sua cabeça contra a lateral da represa. "Moo!" Ela queria que eu fosse com ela. Estava me
dizendo para me apressar. "Não posso," disse a ela. "Meus amigos estão lá dentro." Ela olhou para mim com seus tristes olhos castanhos. Então ela fez mais um urgente
"Mooo!", deu uma cambalhota e desapareceu dentro d'água. Eu hesitei. Algo estava errado. Ela estava tentando me dizer isso. Considerei pular por cima da borda e
segui-la, mas então eu fiquei tenso. Os pelos dos meus braços se eriçaram. Olhei abaixo para a estrada da represa em direção ao leste e vi dois homens andando vagarosamente
na minha direção. Eles vestiam roupas de camuflagem cinza que tremeluziam por cima de seus corpos esqueléticos. Eles passaram por um grupo de crianças e as empurraram
para o lado. Uma criança gritou "Ei!". Um dos guerreiros se virou, sua face se transformando momentaneamente em uma caveira. "Ah!" a criança berrou, e todo seu grupo
recuou. Corri para o centro de visitantes. Estava quase nas escadas quando escutei pneus cantando. No lado oeste da represa, um furgão preto desviou rapidamente
para uma parada no meio da estrada, quase batendo em alguns idosos. As portas do furgão se abriram e mais guerreiros esqueleto se precipitaram para fora. Eu estava
cercado. Desci disparado pelas escadas e através da entrada do museu. O segurança no detector de metais berrou "Ei, garoto!" Mas eu não parei. Corri pelo meio das
exibições e me agachei atrás de um grupo de passeio. Procurei pelos meus amigos, mas não conseguia vê-los em lugar nenhum. Onde era a porcaria da lanchonete? "Pare!"
o cara do detector de metais gritou. Não havia outro lugar para ir a não ser o elevador com o grupo de passeio. Eu me esgueirei para dentro assim que a porta se
fechou. "Vamos descer mais de duzentos metros," nossa guia turística falou, animada. Ela era uma guarda-florestal, com longo cabelo preto puxado para trás num rabo-de-cavalo
e óculos coloridos. Acho que ela não percebeu que eu estava sendo perseguido. "Não se preocupem, senhoras e senhores, o elevador dificilmente quebra." "Ele vai até
a lanchonete?" perguntei a ela. Algumas pessoas atrás de mim abafaram o riso. A guia turística me olhou. Alguma coisa no olhar dela fez minha pele formigar. "Para
as turbinas, meu jovem," a moça falou. "Você não estava escutando a minha fascinante apresentação lá em cima?" "Oh, hum, claro. Tem outro jeito de sair da represa?"
"É um beco sem saída," um turista atrás de mim disse. "Pelos céus. O único jeito de sair é pelo outro elevador." As portas se abriram. "Sigam em frente, pessoal,"
a guia turística nos disse. "Outro guarda-florestal está esperando por vocês no fim do corredor. Não tive muita escolha a não ser sair com o grupo. "E meu jovem,"
a guia turística chamou. Olhei para trás. Ela havia tirado seus óculos. Seus olhos eram surpreendentemente cinzas, como nuvens de tempestade. "Existe sempre uma
saída para aqueles inteligentes o bastante para encontrá-la."

As portas se fecharam com a guia turística ainda dentro, deixando-me sozinho. Antes que eu pudesse pensar muito sobre a mulher no elevador, um ding veio do canto.
O segundo elevador estava abrindo, e eu escutei um som inconfundível -- o tinir de dentes esqueléticos. Corri até o grupo turístico, por um túnel entalhado na pedra
sólida. Parecia continuar para sempre. As paredes eram úmidas, e o ar zunia com eletricidade e o rugido da água. Saí em uma sacada em forma de U que dava vista para
esta enorme área de armazéns. Quinze metros abaixo, enormes turbinas estavam ligadas. Era uma sala grande, mas eu não via nenhuma outra saída, a menos que eu quisesse
pular dentro das turbinas e ser triturado para gerar eletricidade. E eu não queria. Outro guia turístico estava falando no microfone, contando aos turistas sobre
os suprimentos de água em Nevada. Rezei para que Thalia, Zoe e Grover estivessem bem. Eles podiam já ter sido capturados, ou estar comendo na lanchonete, completamente
ignorantes de que estávamos sendo cercados. E que estupidez a minha: eu havia me aprisionado num buraco centenas de metros abaixo da superfície. Fiz meu caminho
ao redor da multidão, tentando não parecer óbvio. Havia um corredor no outro lado da sacada -- talvez um lugar onde pudesse me esconder. Mantive minha mão em Contracorrente,
pronto para atacar. No momento em que cheguei ao lado oposto da sacada, meus nervos dispararam. Fiquei de costas para o pequeno corredor e observei o túnel pelo
qual viera. Então, bem atrás de mim eu escutei um agudo Chhh! como a voz de um esqueleto. Sem pensar, destampei Contracorrente e girei, golpeando com minha espada.
A garota que eu tinha acabado de tentar fatiar ao meio ganiu e deixou cair seu guardanapo. "Ó, meu deus!" ela gritou. "Você sempre mata as pessoas quando elas assoam
o nariz?" A primeira coisa que me veio à cabeça foi que a espada não a tinha machucado. Havia passado limpa através do seu corpo, inofensivamente. "Você é mortal!"
Ela olhou para mim incrédula. "O que isso quer dizer? É claro que sou mortal! Como você passou essa espada pela segurança?" "Eu não -- Espere, você pode ver que
é uma espada?" A garota rolou os olhos, que eram verdes como os meus. Ela tinha cabelo crespo castanho avermelhado. Seu nariz também estava vermelho, como se estivesse
gripada. Ela vestia um grande moletom grená de Harvard e jeans cobertos de manchas de canetinhas e pequenos buracos, como se ela usasse o tempo livre para espetá-los
com um garfo. "Bem, ou é uma espada ou é o maior palito de dente do mundo," ela disse. "E por que não me feriu? Quero dizer, não que eu esteja reclamando. Quem é
você? E, uau, o que é isso que você está vestindo? É feito de pelo de leão?" Ela me fez tantas perguntas, tão rápido, que era como se ela estivesse jogando pedras
em mim. Eu não conseguia pensar no que falar. Olhei para as minhas mangas para ver se o casaco do Leão de Neméia tinha de algum jeito voltado a ser pelo, mas continuava
parecendo um casaco marrom de inverno pra mim. Eu sabia que os guerreiros esqueleto ainda estavam me perseguindo. Não havia tempo a perder. Mas eu apenas encarei
a menina ruiva. Então me lembrei do que Thalia fizera no Westover Hall para enganar os professores. Talvez eu pudesse manipular a Névoa. Eu me concentrei bastante
e estalei meus dedos. "Você não vê uma espada," eu disse à garota. "É apenas uma caneta esferográfica." Ela piscou. "Hum... não. É uma espada, seu esquisito." "Quem
é você?" exigi.

Ela retrucou, indignada. "Rachel Elizabeth Dare. Agora, você vai responder às minhas perguntas ou devo gritar pelos seguranças?" "Não!" eu disse. "Quero dizer, estou
meio que com pressa. Estou com problemas." "Com pressa ou com problemas?" "Hum, acho que os dois." Ela olhou sobre os meus ombros e seus olhos se arregalaram. "Banheiro!"
"O quê?" "Banheiro! Atrás de mim! Agora!" Não sei por que, mas eu a escutei. Escorreguei para dentro do banheiro masculino e deixei Rachel Elizabeth Dare permanecer
do lado de fora. Depois, aquilo me pareceu covarde. Também estou quase certo de que salvou minha vida. Ouvi os sons tirintantes e sibilantes dos esqueletos enquanto
eles se aproximavam. Meu aperto se intensificou em Contracorrente. O que eu estava pensando? Eu deixei uma garota mortal lá fora para morrer. Estava me preparando
para irromper e lutar quando Rachel Elizabeth Dare começou a falar no seu jeito de metralhadora automática. "Ó, meu deus! Vocês viram aquele garoto? Já era tempo
de vocês chegarem aqui. Ele tentou me matar! Ele tinha uma espada, pelo amor de Deus. Vocês da segurança deixaram um espadachim lunático entrar em um monumento nacional?
Quero dizer, nossa! Ele correu na direção daquelas coisas das turbinas. Acho que ele foi pela lateral ou algo assim. Talvez tenha caído." Os esqueletos tirintaram
excitadamente. Eu os escutei indo embora. Rachel abriu a porta. "Tudo limpo. Mas é melhor você se apressar." Ela parecia abalada. Sua face estava pálida e suada.
Espiei o canto. Três guerreiros esqueleto estavam correndo em direção ao outro extremo da sacada. O caminho para o elevador estava livre por poucos segundos. "Eu
te devo uma, Rachel Elizabeth Dare." "O que são essas coisas?" ela perguntou. "Pareciam --" "Esqueletos?" Ela assentiu, apreensiva. "Faça um favor a si mesma," eu
disse. "Esqueça isso. Esqueça que alguma vez me viu." "Esquecer que você tentou me matar?" "É. Isso também." "Mas quem é você?" "Percy --" eu comecei a dizer. Então
os esqueletos se viraram. "Tenho que ir!" "Que tipo de nome é Percy Tenho-que-ir?" Eu disparei para a saída. A lanchonete estava repleta de crianças aproveitando
a melhor parte do passeio -- o almoço da represa. Thalia, Zoe e Grover estavam justamente se sentando com suas comidas. "Temos que ir," arquejei. "Agora!" "Mas nós
acabamos de pegar nossos burritos!" Thalia disse. Zoe se levantou, murmurando um antigo insulto grego. "Ele está certo! Olhai." As janelas da lanchonete envolviam
todo o andar de observação, o que nos dava uma linda visão panorâmica do exército de esqueletos que viera nos matar. Contei dois no lado leste da estrada da represa,
bloqueando o caminho para o Arizona. Mais três no lado oeste, guardando Nevada. Todos estavam armados com cassetetes e pistolas.

Mas nosso problema imediato estava bem mais próximo. Os três guerreiros esqueleto que estiveram me perseguindo na sala das turbinas apareciam agora nas escadas.
Eles me viram do outro lado da lanchonete e rangeram seus dentes. "Elevador!" Grover disse. Disparamos naquela direção, mas as portas se abriram com um agradável
ding, e mais três guerreiros pisaram para fora. Todos os guerreiros foram contabilizados, menos o que Bianca tinha explodido em chamas no Novo México. Estávamos
completamente cercados. Então Grover teve uma ideia brilhante, totalmente no estilo Grover. "Guerra de burritos!" ele gritou, e arremessou seu Guacamole Grande no
esqueleto mais próximo. Agora, se você nunca foi atingido por um burrito voador, considere-se sortudo. Em termos de projéteis letais, está no topo da lista junto
com granadas e balas de canhão. O lanche de Grover acertou o esqueleto e derrubou completamente seu crânio de seus ombros. Não tenho certeza do que as outras crianças
na lanchonete viram, mas elas enlouqueceram e começaram a jogar seus burritos e cestas de batatas fritas e refrigerantes umas nas outras, guinchando e gritando.
Os esqueletos tentaram mirar suas armas, mas foi inútil. Corpos e comidas e bebidas estavam voando por toda parte. No caos, Thalia e eu derrubamos os outros dois
esqueletos nas escadas e os mandamos voando para a mesa de condimentos. Então nós todos corremos escada abaixo, Guacamoles Grandes zunindo pelas nossas cabeças.
"E agora?" Grover perguntou quando irrompemos ao ar livre. Eu não tinha uma resposta. Os guerreiros na estrada estavam se aproximando por ambos os lados. Atravessamos
a rua correndo para o pavilhão com as estátuas aladas de bronze, mas isso apenas colocou nossas costas contra a montanha. Os esqueletos se adiantaram, formando um
semicírculo à nossa volta. Seus irmãos da lanchonete estavam correndo para se juntar a eles. Um ainda estava colocando seu crânio de volta sobre os ombros. Outro
estava coberto de catchup e mostarda. Mais dois tinham burritos alojados entre as suas costelas. Eles não pareciam felizes com isso. Sacaram seus cassetetes e avançaram.
"Quatro contra onze," Zoe murmurou. "E eles não podem morrer." "Foi legal me aventurar com vocês," Grover disse, sua voz trêmula. Algo brilhante capturou minha atenção
pelo canto do meu olho. Olhei às minhas costas, para o pé da estátua. "Uau," eu disse. "Os dedos deles realmente são brilhantes." "Percy!" Thalia falou. "Este não
é o momento." Mas não consegui parar de encarar os dois caras gigantes de bronze com altas asas cortantes como abridores de cartas. Eles estavam marrons por sua
exposição ao clima, exceto pelos dedos dos pés, que brilhavam como moedas novas por causa de todas as vezes que as pessoas os esfregaram para ter sorte. Boa sorte.
A benção de Zeus. Pensei sobre a guia turística no elevador. Seus olhos cinzas e seu sorriso. O que ela dissera? Existe sempre uma saída para aqueles inteligentes
o bastante para encontrála. "Thalia," eu disse. "Reze para o seu pai." Ela me olhou fixamente. "Ele nunca responde." "Apenas esta vez," pedi. "Peça ajuda. Acho...
acho que as estátuas podem nos dar alguma sorte." Seis esqueletos ergueram suas armas. Os outros cinco avançaram com cassetetes. Quinze metros de distância. Dez
metros. "Faça logo!" gritei.

"Não!" Thalia disse. "Ele não vai me responder." "Desta vez é diferente!" "Quem disse?" Eu hesitei. "Atena, eu acho." Thalia franziu a testa como se tivesse certeza
que eu havia enlouquecido. "Tente." Grover pediu. Thalia fechou os olhos. Seus lábios se mexeram em uma prece silenciosa. Coloquei minha própria prece para a mãe
de Annabeth, esperando que eu estivesse certo sobre ter sido ela naquele elevador -- sobre ela estar tentando nos ajudar a salvar sua filha. E nada aconteceu. Os
esqueletos se aproximaram. Levantei Contracorrente para me defender. Thalia ergueu seu escudo. Zoe empurrou Grover para trás dela e mirou uma flecha na cabeça de
um esqueleto. Uma sombra caiu sobre mim. Pensei que talvez fosse a sombra da morte. Então percebi que era a sombra de uma asa enorme. Os esqueletos olharam para
cima tarde demais. Um lampejo de bronze, e todos os cinco carregando cassetetes foram varridos para o lado. Os outros esqueletos abriram fogo. Levantei meu casaco
de leão para me proteger, mas nem precisava. Os anjos de bronze passaram à nossa frente e entrelaçaram suas asas como escudos. Balas retiniam nelas como chuva em
teto ondulado. Ambos os anjos golpearam para fora, e os esqueletos saíram voando pela estrada. "Cara, é tão bom levantar!" o primeiro anjo disse. Sua voz soava metálica
e rústica, como se ele não tivesse bebido nada desde que fora construído. "`Cê' vai olhar pros meus dedos?" o outro falou. "Santo Zeus, o que esses turistas estavam
pensando?" Por mais atordoado que eu estivesse com os anjos, eu estava mais preocupado com os esqueletos. Alguns deles estavam se levantando de novo, reagrupando-se,
mãos ossudas tateando por suas armas. "Problema!" eu disse. "Tirem-nos daqui!" Thalia gritou. Os dois anjos olharam para ela. "Filha de Zeus?" "Sim!" "Posso ter
um por favor, Senhorita Filha de Zeus?" um anjo perguntou. "Por favor!" Os anjos olharam um para o outro e encolheram os ombros. "Podia me esticar um pouco," um
decidiu. De repente um deles agarrou Thalia e a mim, o outro agarrou Zoe e Grover, e nós voamos direto para cima, sobre a represa e o rio, os guerreiros esqueleto
diminuindo até serem minúsculos pontos abaixo de nós e o som de tiros ecoando nas laterais das montanhas.

QUINZE

EU LUTO COM O GÊMEO MAU DO PAPAI NOEL
"Avise-me quando acabar," Thalia disse. Seus olhos bem fechados. A estátua estava nos segurando de forma a que não pudéssemos cair, mas ainda assim Thalia agarrava
seu braço como se fosse a coisa mais importante no mundo. "Está tudo bem," prometi. "Estamos... nós estamos muito alto?" Eu olhei para baixo. Abaixo de nós, uma
cordilheira de montanhas nevadas ziguezagueava. Eu estiquei meu pé e chutei a neve de um dos picos. "Não," falei. "Não tão alto." "Nós estamos nas Sierras." Zoe
gritou. Ela e Grover estavam pendurados nos braços da outra estátua. "Eu cacei aqui antes. A essa velocidade, nós devemos estar em São Francisco em algumas horas."
"Hei, hei, Frisco!" nosso anjo disse. "Ei, Chuck! Nós podemos visitar aqueles caras do Monumento Mechanics de novo! Eles sabem como fazer uma festa!" "Ah, cara,"
o outro anjo disse. "Eu já estou lá!" "Vocês já visitaram São Francisco?" eu perguntei. "Nós autômatos precisamos nos divertir de vez em quando, certo?" nossa estátua
disse. "Aquelas máquinas nos levaram para o Museu Young e nos apresentaram para essas damas estátuas de mármore, sabe. E --" "Hank!" a outra estátua Chuck cortou.
"Eles são crianças, cara." "Ah, certo." Se bronze podia corar, eu juro que Hank corou. "De volta ao voo." Nós aceleramos, então eu podia dizer que os anjos estavam
animados. As montanhas se tornaram morros, e então estávamos ziguezagueando sobre propriedades agrícolas e cidades e rodovias. Grover tocava sua flauta para passar
o tempo. Zoe ficou entediada e começou a atirar flechas a esmo em painéis conforme voávamos por eles. Toda vez que ela via uma loja de departamento alvo -- e nós
passamos por várias delas -- ela cravava o letreiro da loja com alguns olhos de touro a cento e sessenta quilômetros por hora. Thalia manteve seus olhos fechados
o tempo todo. Ela murmurava para si mesma um bocado, como se estivesse rezando. "Você fez bem lá trás," eu disse a ela. "Zeus ouviu." Era difícil dizer o que ela
estava pensando com os olhos dela fechados. "Talvez," ela disse. "Como você escapou dos esqueletos na sala do gerador, de qualquer forma? Você disse que eles o encurralaram."
Eu contei a ela sobre a estranha garota mortal, Rachel Elizabeth Dare, que parecia ser capaz de ver através da Névoa. Eu pensei que Thalia ia me chamar de louco,
mas ela apenas assentiu. "Alguns mortais são assim," ela falou. "Ninguém sabe por quê." De repente eu tive uma revelação sobre algo que eu nunca havia considerado.
Minha mãe era assim. Ela viu o Minotauro na Colina Meio-Sangue e soube exatamente o que era. Ela não havia ficado nem um pouco surpresa ano passado quando eu disse
a ela que meu amigo Tyson era realmente um Ciclope. Talvez ela soubesse o tempo todo.

Não é de surpreender que ela tenha temido tanto por mim conforme eu crescia. Ela via através da Névoa melhor do que eu. "Bem. A garota era irritante," eu disse.
"Mas estou feliz que eu não a vaporizei. Isso teria sido ruim." Thalia assentiu. "Deve ser bom ser uma simples mortal." Ela disse isso como se tivesse pensado muito
sobre o assunto. "Onde vocês querem pousar?" Hank perguntou, acordando-me de uma soneca. Eu olhei para baixo e disse, "Uou." Eu havia visto São Francisco em fotografias,
mas nunca ao vivo. Era provavelmente a cidade mais bonita que eu já tinha visto: um tipo menor, e mais limpo de Manhattan, se Manhattan fosse cercada de colinas
verdes e neblina. Havia uma enorme baía e navios, ilhas e veleiros, e a Ponte Golden Gate projetando-se da neblina. Eu me sentia como se devesse tirar uma foto ou
algo assim. Saudações de Frisco. Não Morri Ainda. Queria Que Você Estivesse Aqui. "Lá," Zoe sugeriu. "No Embarcadero Building." "Bem pensado," Chuck disse. "Eu e
Hank podemos nos misturar com os pombos." Nós todos olhamos para ele. "Tô brincando," ele disse. "Nossa, estátuas não podem ter senso de humor?" Como ficou demonstrado,
não havia necessidade de se misturar. Era cedo pela manhã e não havia muitas pessoas ao redor. Nós assustamos um sem-teto na doca quando pousamos. Ele berrou quando
viu Hank e Chuck e fugiu gritando algo sobre anjos de metal de Marte. Nós dissemos adeus aos anjos, que voaram para farrear com seus amigos estátuas. Foi aí que
eu percebi que não tinha ideia sobre o que iríamos fazer em seguida. Nós havíamos chegado à Costa Oeste. Ártemis estava aqui em algum lugar. Annabeth também, eu
esperava. Mas eu não fazia ideia de como achá-las, e amanhã seria o solstício de inverno. E eu também não tinha nenhuma pista sobre qual monstro Ártemis estava caçando.
Imaginava-se que iria nos encontrar durante a missão. Supostamente iria `mostrar a trilha', mas nunca o fez. Agora estávamos empacados na doca das balsas com pouco
dinheiro, sem amigos, e sem sorte. Depois de uma breve discussão, nós concordamos que precisávamos descobrir quem era o misterioso monstro. "Mas como?" perguntei.
"Nereus," Grover disse. Eu olhei para ele. "O quê?" "Não foi isso que Apolo lhe disse para fazer? Achar Nereus?" Eu assenti. Havia esquecido completamente minha
última conversa com o deus do sol. "O velho homem do mar," eu me lembrei. "Eu devo encontrá-lo e forçá-lo a nos dizer o que ele sabe. Mas como vou achá-lo?" Zoe
fez uma cara. "Velho Nereus, é?" "Você o conhece?" Thalia perguntou. "Minha mãe era uma deusa do mar. Sim, eu o conheço. Infelizmente, ele não é difícil de ser encontrado.
É só seguir o cheiro." "O que você quer dizer?" eu perguntei. "Vamos," ela disse sem entusiasmo. "Eu vos mostrarei."

Eu sabia que estava com problemas quando nós paramos na caixa de doações. Cinco minutos depois, Zoe me vestiu com uma esfarrapada camisa de flanela e jeans três
vezes o meu tamanho, tênis vermelhos brilhantes, e um desleixado chapéu colorido. "Ah, é," Grover disse, tentando não estourar de rir, "você parece completamente
imperceptível agora." Zoe acenou com satisfação. "Um típico mendigo." "Muito obrigado," resmunguei. "Novamente, por que estou fazendo isso?" "Eu disse a ti. Para
se misturar." Ela foi na frente no caminho de volta para a margem. Depois de um longo tempo procurando nas docas, Zoe finalmente parou de rastrear. Ela apontou para
um píer onde vários sem-teto estavam amontoados com cobertores, esperando pela cozinha da sopa abrir para o almoço. "Ele vai estar lá embaixo em algum lugar," Zoe
disse. "Ele nunca viaja muito longe da água. Ele gosta de se aquecer durante o dia." "Como eu sei qual deles é ele?" "Investiga," ela disse. "Age como sem-teto.
Vais reconhecê-lo. Ele vai cheirar... diferente." "Ótimo." Eu não quis perguntar por detalhes. "E quando eu o encontrar?" "Agarra-o," ela disse. "E segura firme.
Ele vai tentar qualquer coisa para se livrar de ti. Independente do que ele faça, não o deixa ir. Força-o a dizer-te sobre o monstro." "Nós protegeremos as suas
costas," Thalia disse. Ela pegou algo nas costas da minha camiseta -- um grande monte de fiapos que veio sabe-se-lá-de-onde. "Hãã. Pensando melhor... eu não quero
as suas costas. Mas nós vamos ficar firmes por você." Grover me deu um sinal de aprovação. Eu resmunguei como era bom ter amigos super-poderosos. Então fui para
a doca. Eu baixei meu chapéu e cambaleei como se estivesse prestes a desmaiar, o que não era difícil considerando o quão cansado eu estava. Eu passei pelo nosso
amigo sem-teto do Embarcadero, o qual ainda estava tentando avisar os outros sobre os anjos de metal de Marte. Ele não cheirava bem, mas não cheirava... diferente.
Eu continuei caminhando. Um par de caras encardidos que usavam sacolas de plástico de supermercado como chapéus me checaram quando me aproximei. "Cai fora, garoto!"
um deles balbuciou. Eu me afastei. Eles cheiravam realmente mal, mas somente o ruim usual. Nada fora do comum. Havia uma senhora com um bando de flamingos de plástico
saindo de um carrinho de compras. Ela me olhou como se eu fosse roubar seus pássaros. No final do píer, um cara que parecia ter um milhão de anos passou por uma
faixa de luz. Ele usava pijamas e um roupão esfiapado que provavelmente devia ter sido branco. Ele era gordo, com uma barba branca que havia se tornado amarela,
como uma espécie de Papai Noel, se Noel tivesse rolado da cama e se arrastado por um aterro. E o cheiro dele? Conforme eu cheguei perto, eu congelei. Ele cheirava
mal, certo -- mas oceano mal. Como algas marinhas quentes e peixe morto e salmoura. Se o oceano tinha um lado feio... este cara era esse lado. Eu tentei não passar
mal quando me sentei perto dele como se estivesse cansado. Noel abriu um olho suspeitamente. Eu podia senti-lo me encarando, mas eu não olhei. Eu balbuciei algo
sobre escola estúpida e estúpidos pais, calculando que pareceria razoável. Papai Noel voltou a dormir.

Eu enrijeci. Eu sabia que isso ia parecer estranho. Eu não sabia como os outros sem-teto iriam reagir. Mas eu pulei no Papai Noel. "Ahhhhh!" ele gritou. Eu pretendia
agarrá-lo, mas ao invés disso ele pareceu me agarrar. Era como se ele não estivesse adormecido absolutamente. Ele certamente não agia como um homem velho e fraco.
Ele tinha um aperto de aço. "Ajudem-me!" ele gritou enquanto me espremia até a morte. "Isso é crime!" um dos outros sem-teto gritou. "Garoto rolando com um velho
assim!" Eu rolei, certo -- direto pra baixo do píer até que minha cabeça bateu em um poste. Eu fiquei tonto por um segundo, e o aperto de Nereus afrouxou. Ele estava
fazendo uma pausa. Antes que ele conseguisse, eu recuperei meus sentidos e o ataquei pelas costas. "Eu não tenho dinheiro!" Ele tentou ficar de pé e correr, mas
eu travei meus braços em torno do seu peito. Seu cheiro de peixe podre era horrível, mas eu persisti. "Eu não quero dinheiro," eu disse enquanto ele lutava. "Eu
sou um meio-sangue! Eu quero informação." Isso só o fez se debater mais. "Heróis! Por que vocês sempre vêm atrás de mim?" "Porque você sabe tudo!" Ele rosnou e tentou
me sacudir para fora de suas costas. Era como me segurar a uma montanha russa. Ele batia a sua volta, tornando impossível ficar em pé, mas eu cerrei meus dentes
e apertei mais. Nós fomos em direção à beirada do píer e eu tive uma ideia. "Oh, não!" falei. "A água não!" O plano funcionou. Imediatamente, Nereus gritou em triunfo
e pulou da beirada. Juntos, nós mergulhamos na Baía de São Francisco. Ele deve ter ficado surpreso quando eu apertei com mais força, o oceano me suprindo com energia
extra. Mas Nereus tinha alguns truques também. Ele mudou de forma até que eu estava segurando uma lustrosa foca negra. Eu já ouvi pessoas fazendo piadas sobre tentar
agarrar um porco besuntado, mas eu vou te contar, agarrar uma foca na água é mais difícil. Nereus mergulhou, torcendo e açoitando e espiralando através da água escura.
Se eu não fosse filho de Poseidon, de jeito nenhum teria conseguido segurá-lo. Nereus girou e se expandiu, tornando-se uma baleia assassina, mas eu agarrei sua barbatana
dorsal quando ele irrompeu da água. Todo um grupo de turistas gritou, "Uou!" Eu consegui acenar para a multidão. É, nós fazemos isso todos os dias em São Francisco.
Nereus mergulhou na água e se tornou uma enguia viscosa. Eu comecei a dar um nó nele até que ele percebeu o que eu estava fazendo e voltou para a forma humana. "Por
que você não se afoga?" ele se lamuriou, agredindo-me com seus punhos. "Eu sou filho de Poseidon," eu disse. "Maldito arrivista! Eu estava aqui primeiro!" Finalmente
ele desmoronou na beira da doca. Acima de nós estava um daqueles píers turísticos com lojas alinhadas, como um shopping na água. Nereus estava se agitando e arquejando.
Eu me sentia ótimo. Poderia ter continuado por todo o dia, mas não disse isso a ele. Queria que ele sentisse como se tivesse me dado trabalho. Meus amigos desceram
correndo os degraus do píer. "Tu o pegaste!" Zoe disse. "Você não precisa soar tão surpresa," eu disse. Nereus lastimou-se. "Oh, maravilha. Uma audiência para minha
humilhação! O acordo usual, imagino? Você me deixará ir se eu responder a sua pergunta?" "Eu tenho mais de uma pergunta," falei. "Somente uma pergunta por captura!
Essa é a regra."

Eu olhei para os meus amigos. Isso não era bom. Eu precisava achar Ártemis, e precisava descobrir o que a criatura apocalíptica era. E também precisava saber se
Annabeth ainda estava viva, e como resgatá-la. Como eu poderia perguntar tudo isso em uma questão? Uma voz dentro de mim estava gritando Pergunte sobre Annabeth!
Era com o que eu mais me importava. Mas então eu imaginei o que Annabeth diria. Ela nunca me perdoaria se eu a salvasse e não salvasse o Olimpo. Zoe iria querer
que eu perguntasse sobre Ártemis, mas Quíron nos disse que o monstro era ainda mais importante. Eu suspirei. "Tudo bem, Nereus. Diga-me onde achar este terrível
monstro que pode trazer um fim aos deuses. O que Ártemis estava caçando." O Velho Homem do Mar sorriu, mostrando seus dentes verdes mugosos. "Ah, isso é muito fácil,"
ele disse diabolicamente. "Ele está bem aqui." Nereus apontou para a água aos meus pés. "Onde?" eu disse. "O acordo está completo!" Nereus se regozijou. Com um pop,
ele se tornou um peixe dourado e se arremessou para trás no mar. "Você me enganou!" gritei. "Espere." Os olhos de Thalia se alargaram. "O que é isso?" "MOOOOOOOO!"
Eu olhei para baixo, e lá estava minha amiga a vaca-serpente, nadando perto da doca. Ela cutucou meu calçado e me deu o triste olhar castanho. "Ah, Bessie," eu disse.
"Agora não." "Mooo!" Grover arfou. "Ele diz que seu nome não é Bessie." "Você pode entendê-la... er, entendê-lo?" Grover assentiu. "É uma forma antiga de linguagem
animal. Mas ele diz que o nome dele é o Ofiotauro." "O Ofi-quê?" "Significa vaca serpente em grego," Thalia disse. "Mas o que ele faz aqui?" "Moooooooo!" "Ele disse
que Percy é seu protetor," Grover anunciou. "E ele está fugindo das pessoas más. Disse que eles estão próximos." "Eu estava me perguntando como você captou tudo
isso de um simples moooooo." "Espera," Zoe disse, olhando para mim. "Conheces essa vaca?" Eu estava me sentindo impaciente, mas contei a eles a história. Thalia
balançou sua cabeça em descrença. "E você simplesmente se esqueceu de mencionar isso antes?" "Bem... é." Isso pareceu tolo, agora que ela havia falado, mas as coisas
tinham acontecido tão depressa. Bessie, o Ofiotauro, pareceu um detalhe menor. "Eu sou uma tola," Zoe disse subitamente. "Eu conheço a história!" "Qual história?"
"Da Guerra dos Titãs," ela falou. "Meu... meu pai me contou a lenda, milhares de anos atrás. Está é a besta que estamos procurando." "Bessie?" eu olhei para a vaca-serpente.
"Mas... ele é tão fofo. Ele não poderia destruir o mundo." "Isto é o porquê de estarmos errados," Zoe disse. "Nós vínhamos antecipando um monstro enorme e perigoso,
mas o Ofiotauro não traz o fim dos deuses dessa forma. Ele deve ser sacrificado." "MMMM," Bessie mugiu.

"Eu não acho que ele goste da palavra com S," Grover disse. Eu dei um tapinha na cabeça de Bessie, tentando acalmá-lo. Ele me deixou coçar sua orelha, mas ele estava
tremendo. "Como qualquer um poderia machucá-lo?" falei. "Ele é inofensivo." Zoe assentiu. "Mas há poder em matar um inocente. Um terrível poder. As Parcas fizeram
uma profecia eras atrás, quando esta criatura nasceu. Elas disseram que quem matasse o Ofiotauro e sacrificasse suas entranhas no fogo teria o poder de destruir
os deuses." "MMMMMM!" "Hum," Grover disse. "Talvez pudéssemos evitar falar em entranhas, também." Thalia olhou para a vaca-serpente com espanto. "O poder para destruir
os deuses... como? Eu quero dizer, o que poderia acontecer?" "Ninguém sabe," Zoe disse. "Da primeira vez, durante a Guerra dos Titãs, o Ofiotauro foi na verdade
assassinado por um gigante aliado dos Titãs, mas teu pai, Zeus, enviou uma águia para agarrar as entranhas antes que elas pudessem ser jogadas no fogo. Foi por pouco.
Agora, depois de três mil anos, o Ofiotauro renasceu." Thalia se sentou na doca. Ela esticou sua mão. Bessie foi direto para ela. Thalia colocou sua mão na cabeça
dele. Bessie tremeu. A expressão de Thalia me incomodou. Ela quase parecia... faminta. "Nós temos que protegê-lo," eu disse a ela. "Se Luke puser as mãos nele --"
"Luke não hesitaria," Thalia murmurou. "O poder para derrubar o Olimpo. Isto é... isto é grande." "Sim, é, minha querida," disse a voz de um homem com um sotaque
francês carregado. "E é um poder que você deve libertar." O Ofiotauro fez um som de lamúria e submergiu. Eu olhei para cima. Nós estivéramos tão ocupados conversando,
que permitidos sermos cercados. Parado atrás de nós, seus olhos de duas cores reluzindo cruelmente, estava o Dr. Streppe, a mantícora em pessoa. "Isto é simplesmente
perrr-feito," a mantícora se regozijou. Ele estava usando um roto sobretudo preto sobre seu uniforme da Westover Hall, o qual estava rasgado e manchado. Seu cabelo
cortado em estilo militar havia crescido espigado e gorduroso. Ele não havia se barbeado recentemente, de forma que seu rosto estava coberto por uma penugem prateada.
Basicamente ele não parecia muito melhor que os caras lá na cozinha da sopa. "Há muito tempo, os deuses me baniram para a Pérsia," a mantícora disse. "Eu fui forçado
a furtar comida nos limites do mundo, escondendo-me em florestas, devorando insignificantes fazendeiros humanos em minhas refeições. Eu nunca pude lutar com grandes
heróis. Eu não era temido e admirado nas histórias antigas! Mas agora isso vai mudar. Os Titãs me honrarão, e eu me banquetearei na carne de meio-sangues!" Em ambos
os lados dele estavam dois seguranças armados, alguns dos mortais mercenários que eu havia visto em D.C. Mais dois estavam na próxima doca, para o caso de tentarmos
escapar por lá. Havia turistas por todos os lados -- descendo para a margem do mar, comprando no píer acima de nós -- mas eu sabia que isso não impediria a mantícora
de agir. "Onde... onde estão os esqueletos?" eu perguntei à mantícora. Ele sorriu com escárnio. "Eu não preciso daqueles mortos-vivos estúpidos! O General pensa
que sou inútil? Ele vai mudar de idéia quando eu mesmo derrotar você!"

Eu precisava de tempo para pensar. Eu precisava salvar Bessie. Eu podia mergulhar no mar, mas como poderia realizar uma fuga rápida com uma vaca-serpente de mais
de duzentos quilos? E o que seria dos meus amigos? "Nós já vencemos você antes," eu disse. "Rá! Vocês mal conseguiram lutar comigo com uma deusa do seu lado. E,
aliás... aquela deusa está ocupada no momento. Não haverá ajuda para vocês agora." Zoe encaixou uma flecha e mirou diretamente na cabeça da mantícora. Os guardas
em ambos os lados levantaram suas armas. "Espere!" falei. "Zoe, não!" A mantícora sorriu. "O garoto está certo, Zoe Nightshade. Coloque seu arco de lado. Seria uma
pena matar vocês antes que testemunhem a maior vitória de Thalia." "Do que você está falando?" Thalia rosnou. Ela tinha seu escudo e lança prontos. "Certamente está
claro," a mantícora disse. "Este é o seu momento. Isto é o porquê de Lorde Cronos ter trazido você de volta à vida. Você sacrificará o Ofiotauro. Você trará as entranhas
para o fogo sagrado da montanha. Você ganhará poder ilimitado. E no seu décimo sexto aniversário, você derrubará o Olimpo." Ninguém falou. Fazia um sentido terrível.
Thalia estava a apenas dois dias de fazer dezesseis. Ela era filha de um dos Três Grandes. E aqui estava uma escolha, uma terrível escolha que poderia significar
o fim dos deuses. Era justamente como a profecia disse. Eu não sabia se me sentia aliviado, horrorizado, ou desapontado. Eu não era o garoto da profecia afinal.
O juízo final estava acontecendo agora. Eu esperei que Thalia repreendesse a mantícora, mas ela hesitou. Ela parecia completamente aturdida. "Você sabe que é a escolha
certa," a mantícora disse a ela. "Seu amigo Luke reconheceu isso. Você se reunirá a ele. Vocês governaram este mundo juntos sob a égide dos Titãs. Seu pai a abandonou,
Thalia. Ele não liga para você. E agora você ganhará poder sobre ele. Esmague os Olimpianos sob seus pés, como eles merecem. Chame a besta! Ela virá até você. Use
sua lança." "Thalia," eu disse, "acabe com isso!" Ela olhou para mim do mesmo jeito que na manhã em que acordou na Colina MeioSangue, confusa e incerta. Era quase
como se ela não me conhecesse. "Eu... eu não --" "Seu pai a ajudou," falei. "Ele enviou os anjos de metal. Ele a transformou em árvore para preservar você." Sua
mão apertou o cabo de sua lança. Eu olhei para Grover desesperadamente. Graças aos deuses, ele entendeu o que eu precisava. Ele ergueu sua flauta para sua boca e
tocou uma rápida repetição de notas. A mantícora gritou, "Impeça-o!" Os guardas estavam mirando em Zoe, e antes que eles pudessem perceber que o garoto com a flauta
era o maior problema, das tábuas de madeira aos seus pés brotaram novos ramos que se emaranharam em suas pernas. Zoe soltou duas flechas rápidas que explodiram aos
pés deles em uma nuvem amarela de gás sulfuroso. Flechas de peido! Os guardas começaram a tossir. A mantícora atirou espinhos na nossa direção, mas eles ricochetearam
no meu casaco de leão. "Grover," eu disse, "diga a Bessie para mergulhar fundo e ficar lá!" "Moooooo!" Grover traduziu. Eu podia apenas esperar que Bessie entendesse
a mensagem. "A vaca..." Thalia murmurou, ainda confusa. "Vamos!" eu a puxei conforme corríamos pela escadaria para o shopping center no píer. Nós arrancamos pela
esquina da loja mais próxima. Eu ouvia a mantícora gritando com

seus seguranças, "Peguem-nos!". Turistas gritavam conforme os guardas atiravam cegamente para o ar. Nós nos misturamos no fim do píer. Escondemo-nos atrás de um
pequeno quiosque cheio de souvenires de cristal -- sinos de vento e pescadores sonhadores e coisas do tipo, brilhando à luz do sol. Havia uma fonte perto de nós.
Abaixo, havia um monte de leões-marinhos tomando sol nas rochas. Toda a Baía de São Francisco espalhava-se à nossa frente: a Ponte Golden Gate, a Ilha de Alcatraz,
e as colinas verdes e além para o norte a neblina. Uma imagem perfeita, salvo pelo fato de que estávamos prestes a morrer e o mundo iria acabar. "Vai pelo outro
lado!" Zoe me disse. "Podes escapar pelo mar, Percy. Pede ajuda a teu pai. Talvez possas salvar o Ophiotaurus." Ela estava certa, mas eu não podia fazer isso. "Eu
não vou deixar vocês," falei. "Nós lutaremos juntos." "Você deve avisar o acampamento!" Grover disse. "Pelos menos os deixe saber o que está acontecendo!" Então
eu notei os cristais fazendo arco-íris na luz do sol. Era a fonte perto de mim... "Avisar o acampamento," murmurei. "Boa ideia." Eu desencapei Contracorrente e golpeei
o topo da fonte. Água irrompeu pelo cano cortado e nos borrifou. Thalia se sobressaltou quando a água a atingiu. A névoa pareceu clarear em seus olhos. "Você está
maluco?" ela perguntou. Mas Grover entendeu. Ele já estava procurando em seus bolsos por uma moeda. Ele jogou um dracma de ouro no arco-íris criado pela névoa e
gritou, "Ó deusa, aceite minha oferenda!" A névoa ondulou. "Acampamento Meio-Sangue," eu disse. E lá, tremulando na Névoa ao nosso lado, estava a última pessoa que
eu queria ver: Sr. D, usando agasalho de pele de leopardo e remexendo na geladeira. Ele levantou o olhar preguiçosamente. "Vocês se importam?" "Onde está Quíron!"
eu gritei. "Que grosseria." Sr. D tomou um gole de um jarro com suco de uva. "É assim que você diz oi?" "Oi," emendei. "Nós estamos prestes a morrer! Onde está Quíron?"
Sr. D considerou isso. Eu queria gritar para que ele se apressasse, mas eu sabia que isso não iria funcionar. Atrás de nós, passos e gritos -- a tropa da mantícora
estava se aproximando. "Prestes a morrer," Sr. D meditou. "Que excitante. Temo que Quíron não esteja aqui. Vocês gostariam que eu anotasse o recado?" Eu olhei para
os meus amigos. "Estamos mortos." Thalia apertou sua lança. Ela se parecia novamente como ela mesma zangada. "Então vamos morrer lutando." "Que nobre," Sr. D disse,
segurando um bocejo. "Então qual é o problema, exatamente?" Eu não via no que aquilo faria diferença, mas eu contei a ele sobre o Ofiotauro. "Mmm." Ele estudou o
conteúdo da geladeira. "Então é isso. Entendo." "Você sequer se importa!" gritei. "Você logo nos assistirá morrer!" "Deixe-me ver. Eu acho que estou no humor para
comer pizza esta noite." Eu queria golpear o arco-íris e desconectar, mas eu não tive tempo. A mantícora gritou, "Ali!" E nós estávamos cercados. Dois dos guardas
ficaram atrás dele. Os outros dois apareceram nos telhados das lojas do shopping no píer sobre nós. A mantícora tirou seu

casaco e se modificou para sua verdadeira forma, suas garras de leão se estenderam e sua cauda com espinhos eriçou com farpas venenosas. "Excelente," ele disse.
Ele olhou para a aparição na névoa e bufou. "Sozinhos, sem qualquer ajuda real. Maravilhoso." "Você poderia pedir por ajuda," Sr. D murmurou para mim, como se isso
fosse um pensamento interessante. "Você poderia dizer por favor." Quando javalis selvagens voarem, pensei. De jeito nenhum eu iria morrer implorando a um preguiçoso
como o Sr. D, somente para que ele pudesse gargalhar enquanto todos nós morríamos. Zoe aprontou suas flechas. Grover levantou sua flauta. Thalia ergueu seu escudo,
e eu notei uma lágrima escorrendo pela sua face. Subitamente me ocorreu: isto já havia acontecido a ela. Ela tinha sido encurralada na Colina Meio-Sangue. Ela havia,
de boa vontade, abdicado de sua vida por seus amigos. Mas desta vez, ela não poderia nos salvar. Como eu poderia deixar isso acontecer com ela? "Por favor, Sr. D,"
murmurei. "Nos ajude." Claro, nada aconteceu. A mantícora sorriu. "Poupem a filha de Zeus. Ela logo se juntará a nós. Matem os outros." Os homens ergueram suas armas,
e algo estranho aconteceu. Sabe como você se sente quando todo o sangue se agita na sua cabeça, como se estivesse pendurado de cabeça para baixo e se erguesse rápido
demais? Houve uma agitação como aquela a toda minha volta, e um som como um enorme suspiro. A luz do sol se tingiu de roxo. Eu senti o cheiro de uvas e de algo mais
ácido -- vinho. SNAP! Era o som de várias mentes quebrando ao mesmo tempo. O som da loucura. Um guarda pôs sua pistola entre seus dentes como se fosse um osso e
correu de quatro em volta. Dois outros largaram suas armas e começaram a valsar juntos. O quarto começou a fazer o que parecia uma dança irlandesa. Isso teria sido
engraçado se não fosse tão assustador. "Não!" gritou a mantícora. "Eu mesmo lidarei com vocês!" Sua cauda eriçou, mas as tábuas sob suas patas irromperam em vinhas,
as quais imediatamente começaram a se enroscar ao redor do corpo do monstro, brotando novas folhas e ramos de uvas que amadureceram em segundos conforme a mantícora
guinchava, até que ela foi engolfada por uma grande massa de vinhas, folhas e ramos cheios de uvas roxas. Finalmente as uvas pararam de tiritar, e eu tive a sensação
que em algum lugar lá dentro, a mantícora não existia mais. "Bem," disse Dioniso, fechando a geladeira. "Isso foi divertido." Eu olhei para ele, aterrorizado. "Como
você pôde... Como você fez --" "Tanta gratidão," ele murmurou. "Os mortais ficarão bem. Muita explicação para dar se eu tornasse a condição deles permanente. Eu
detesto escrever relatórios ao meu Pai." Ele olhou ressentidamente para Thalia. "Eu espero que você tenha aprendido a sua lição, garota. Não é fácil resistir ao
poder, é?" Thalia corou como se estivesse envergonhada. "Sr. D," Grover disse admirado. "O senhor... o senhor nos salvou." "Mmm. Não me faça me arrepender disso,
sátiro. Agora ande, Percy Jackson. Eu ganhei no máximo mais algumas horas para vocês." "O Ofiotauro," eu disse. "Pode levá-lo para o acampamento?" Sr. D inalou.
"Eu não transporto carga viva. Isso é problema seu." "Mas para onde nós vamos?"

Dioniso olhou para Zoe. "Ah, eu acho que a caçadora sabe. Vocês devem entrar ao pôr do sol, sabe, ou tudo estará perdido. Agora adeus. Minha pizza está esperando."
"Sr. D," eu disse. Ele levantou uma sobrancelha. "Você me chamou pelo meu nome correto," falei. "Você me chamou de Percy Jackson." "Eu certamente não o fiz, Peter
Johnson. Agora fora com você!" Ele acenou com a mão, e sua imagem desapareceu na névoa. A toda nossa volta, os subordinados da mantícora estavam agindo completamente
amalucados. Um deles havia achado o nosso amigo sem-teto, e eles estavam tendo uma conversa séria sobre anjos metálicos de Marte. Vários outros guardas acossavam
os turistas, fazendo sons de animais e tentando roubar seus sapatos. Eu olhei para Zoe. "O que ele quis dizer... `Você sabe para onde ir'?" Sua face estava da cor
da neblina. Ela apontou para além da baía, além da Golden Gate. Distante, uma única montanha se erguia além da camada de nuvens. "O jardim de minhas irmãs," ela
disse. "Eu devo ir para casa."

DEZESSEIS

NÓS CONHECEMOS O DRAGÃO DO MAU HÁLITO ETERNO
"Nós nunca vamos conseguir," Zoe disse. "Estamos indo muito devagar. Mas não podemos abandonar o Ofiotauro." "Mooo." Bessie disse. Ela nadou ao meu lado enquanto
caminhávamos ao longo da margem do lago. Tínhamos deixado o píer do shopping center bem para trás. Estávamos nos dirigindo para a Ponte Golden Gate, mas era muito
mais longe do que eu havia pensado. O sol já estava mergulhando no oeste. "Não entendo," eu disse. "Por que temos que chegar lá ao pôr do sol?" "As Hespérides são
as ninfas do pôr do sol," Zoe disse. "Só podemos entrar no jardim delas quando o dia muda para noite." "O que acontece se chegarmos tarde?" "Amanhã é o solstício
de inverno. Se perdermos o pôr do sol esta noite, teremos que esperar até a tarde de amanhã. E a essa altura, o Conselho Olimpiano já teria terminado. Devemos libertar
Lady Ártemis hoje à noite." Ou Annabeth será morta, eu pensei, mas não falei. "Precisamos de um carro," Thalia disse. "Mas como fica Bessie?" perguntei. Grover parou
subitamente. "Tenho uma ideia! O Ofiotauro pode aparecer em diferentes ambientes aquáticos, certo?" "Bem, sim," eu falei. "Quero dizer, ele estava no Estuário de
Long Island. Então apareceu de repente na água da Represa Hoover. E agora está aqui." "Então talvez possamos persuadi-lo a voltar para o Estuário de Long Island."
Grover disse. "Aí Quíron pode nos ajudar a levá-lo para o Olimpo." "Mas ele estava me seguindo," eu disse. "Se eu não estiver lá, ele saberia para onde está indo?"
"Moo." Bessie disse, desamparado. "Eu... eu posso mostrar a ele," Grover falou. "Vou com ele." Olhei fixamente para ele. Grover não era nenhum fã de água. Ele quase
tinha se afogado no último verão no Mar de Monstros, e não conseguia nadar muito bem com seus cascos de bode. "Sou o único que consegue conversar com ele," Grover
disse. "Faz sentido." Ele se curvou e disse algo no ouvido de Bessie. Bessie se arrepiou, então fez um som de mugido, contente. "A bênção da Natureza," Grover falou.
"Isso deve ajudar com uma passagem segura. Percy, reze para o seu pai também. Veja se ele nos garante uma travessia a salvo pelos mares." Não entendi como eles poderiam
de algum jeito nadar de volta para Long Island partindo da Califórnia. Mas de novo, monstros não viajam do mesmo jeito que humanos. Já tinha visto muitas provas
disso. Tentei me concentrar nas ondas, no cheiro do oceano, no som da correnteza. "Pai," falei. "Ajude-nos. Leve o Ofiotauro e Grover em segurança até o acampamento.
Proteja-os no mar." "Uma prece como essa precisa de um sacrifício," Thalia disse. "Algo grande."

Pensei por um segundo. Então tirei meu casaco. "Percy," Grover disse. "Tem certeza? Essa pele de leão... é realmente útil. Hércules usou isso!" Logo que ele falou
isso, percebi uma coisa. Olhei de relance para Zoe, que estava me observando cautelosamente. Percebi que sabia quem tinha sido o herói de Zoe -- o que havia arruinado
sua vida, feito com que fosse expulsa da família, e nunca tinha sequer mencionado como ela o ajudara: Hércules, um herói que admirei a minha vida inteira. "Se eu
vou sobreviver," eu disse. "Não será porque tenho uma capa de pele de leão. Não sou Hércules." Joguei o casaco na baía. Voltou a ser uma pele de leão dourada, brilhando
na luz. Então, assim que ela começou a afundar entre as ondas, pareceu se dissolver em luz solar na água. A brisa do mar levou. Grover respirou fundo. "Bem, sem
tempo a perder." Ele pulou na água e imediatamente começou a afundar. Bessie deslizou até o seu lado e deixou Grover segurar em seu pescoço. "Tenham cuidado," falei
para eles. "Nós teremos," Grover disse. "Ok, hum... Bessie? Estamos indo para Long Island. É no leste. Por aquele caminho." "Moooo?" disse Bessie. "Sim," Grover
respondeu. "Long Island. É essa ilha. E... é grande. Ah, vamos logo." "Mooo!" Bessie deu uma guinada para frente. Ele começou a submergir e Grover disse, "Não consigo
respirar debaixo d'água! Achei que tinha mencionado --" Glub! Eles foram para baixo, e esperei que a proteção do meu pai se estendesse para pequenas coisas, como
respiração. "Bom, isso é um problema resolvido," Zoe disse. "Mas como podemos chegar ao jardim das minhas irmãs?" "Thalia está certa," eu disse. "Precisamos de um
carro. Mas não tem ninguém para nos ajudar aqui. A menos que nós, hum, peguemos um emprestado." Não gostei dessa opção. Quero dizer, claro que era uma situação de
vida ou morte, mas ainda assim, era roubo, e era a fronteira para que nos percebessem. "Espere," Thalia falou. Ela começou a remexer em sua mochila. "Existe alguém
em São Francisco que pode nos ajudar. Tenho o endereço aqui em algum lugar." "Quem?" perguntei. Thalia retirou um pedaço amassado de folha de caderno e o segurou
no alto. "Professor Chase. O pai de Annabeth." Depois de escutar as reclamações de Annabeth sobre seu pai durante dois anos, eu esperava que ele tivesse chifres
diabólicos e presas. Eu não esperava que ele estivesse vestindo boné e óculos de aviação à moda antiga. Ele parecia tão estranho, com seus olhos esbugalhados através
dos óculos, que todos nós demos um passo atrás no pórtico da frente. "Olá," ele disse numa voz amigável. "Vocês vieram entregar meus aeroplanos?" Thalia, Zoe e eu
nos entreolhamos com cautela. "Hum, não, senhor." "Droga," ele falou. "Preciso de mais três Sopwith Camels."

"Certo," eu disse, ainda que não tivesse idéia do que ele estava falando. "Somos amigos de Annabeth." "Annabeth?" Ele se empertigou como se tivesse recebido um choque
elétrico. "Ela está bem? Alguma coisa aconteceu?" Nenhum de nós respondeu, mas nossas expressões devem ter dito a ele que algo estava muito errado. Ele tirou seu
boné e os óculos. Ele tinha cabelos cor de areia como Annabeth e intensos olhos castanhos. Ele era bonito, acho, para um cara mais velho, mas parecia que ele não
tinha se barbeado nos últimos dias, e sua camisa estava abotoada errada, então um lado de seu colarinho estava mais alto que o outro. "É melhor vocês entrarem."
Não parecia uma casa pra qual eles tinham acabado de se mudar. Havia robôs LEGO nas escadas e dois gatos dormindo no sofá da sala de estar. A mesa do café estava
cheia de revistas, e o casaco de inverno de uma criancinha estava jogado no chão. A casa inteira cheirava a biscoitos de chocolate recém-assados. Havia jazz vindo
da cozinha. Parecia um tipo bagunçado, feliz de lar -- o tipo de lugar no qual se mora desde sempre. "Pai!" um garotinho gritou. "Ele está desmontando meus robôs."
"Bobby," Dr. Chase chamou, ausente, "não desmonte os robôs do seu irmão." "Eu sou Bobby!" o garotinho protestou. "Ele é o Matthew!" "Matthew," Dr. Chase chamou,
"não desmonte os robôs do seu irmão!" "Ok, pai!" Dr. Chase se virou para nós. "Vamos subir para o meu escritório. Por aqui." "Querido?" uma mulher chamou. A madrasta
de Annabeth apareceu na sala de estar, enxugando as mãos com um pano de prato. Ela era uma bonita mulher asiática com mechas vermelhas nos cabelos amarrados em um
coque. "Quem são nossas visitas?" ela perguntou "Oh," Dr. Chase disse. "Este é..." Ele nos encarou sem expressão. "Frederick," ela censurou. "Você se esqueceu de
perguntar os nomes deles?" Nós nos apresentamos um pouco apreensivos, mas a Sra. Chase parecia realmente legal. Ela perguntou se estávamos com fome. Nós admitimos
que estávamos, e ela disse que iria nos trazer alguns biscoitos, sanduíches e refrigerantes. "Querida," Dr. Chase disse. "Eles vieram por causa de Annabeth." Eu
meio que esperava que a Sra. Chase virasse uma lunática desvairada com a menção de sua enteada, mas ela apenas franziu os lábios e pareceu preocupada. "Tudo bem.
Subam para o escritório e vou levar alguma comida para vocês." Ela sorriu para mim. "Prazer em conhecê-lo, Percy. Ouvi muito sobre você." Escada acima, entramos
no escritório do Dr. Chase e eu disse, "Uau!" A sala era coberta de livros em todas as paredes, mas o que realmente me chamou a atenção foram os brinquedos de guerra.
Havia um grande tabuleiro com miniaturas de tanques e soldados batalhando ao longo de um rio pintado de azul, com colinas e árvores falsas e coisas assim. Aviões
bimotores antigos pendurados em fios presos ao teto, inclinados em ângulos malucos como se estivessem no meio de um combate aéreo. Dr. Chase sorriu. "Sim. A Terceira
Batalha de Ypres. Estou escrevendo um artigo, veja bem, sobre o uso dos Sopwith Camels para bombardear as linhas inimigas. Acredito que eles desempenharam um papel
maior do que lhes foi dado crédito."

Ele arrancou um bimotor de seu fio e varreu com ele o campo de batalha, fazendo barulhos de motor de avião enquanto ele derrubava pequenos soldados alemães. "Oh,
certo," eu disse. Sabia que o pai de Annabeth era um professor de história militar. Ela nunca tinha mencionado que ele brincava com soldadinhos. Zoe se aproximou
e estudou o campo de batalha. "As linhas alemãs estavam mais distantes do rio." Dr. Chase olhou fixamente para ela. "Como você sabe isso?" "Eu estava lá," ela disse
casualmente. "Ártemis queria nos mostrar o quanto a guerra era horrível, o jeito como homens mortais lutavam uns contra os outros. E como era insensato, também.
A batalha foi um desperdício completo." Dr. Chase abriu sua boca em choque. "Você --" "Ela é uma Caçadora, senhor," Thalia falou. "Mas não é por isso que estamos
aqui. Precisamos --" "Você viu os Sopwith Camels?" Dr. Chase disse. "Quantos havia lá? Em quais formações eles voavam?" "Senhor," Thalia interrompeu de novo. "Annabeth
está em perigo." Isso chamou a atenção dele. Ele baixou o bimotor. "É claro," ele disse. "Contem-me tudo." Não foi fácil, mas nós tentamos. Nesse meio tempo, a luz
da tarde foi enfraquecendo do lado de fora. Estávamos ficando sem tempo. Quando terminamos, Dr. Chase desabou na sua cadeira reclinável de couro. Ele entrelaçou
as mãos. "Minha pobre corajosa Annabeth. Devemos nos apressar." "Senhor, precisamos de transporte para o Monte Tamalpais," Zoe disse. "E precisamos imediatamente."
"Eu vou levar vocês. Humm, seria mais rápido voar no meu Camel, mas só tem dois assentos." "Uau, você tem um bimotor de verdade?" eu disse. "Lá no Campo Crissy,"
Dr. Chase falou, orgulhoso. "Essa foi a razão por que tive que me mudar para cá. Meu patrocinador é um colecionador privado com algumas das maiores relíquias da
Primeira Guerra Mundial no mundo. Ele me deixou restaurar o Sopwith Camel --" "Senhor," Thalia disse. "Apenas um carro seria ótimo. E seria melhor se nós fôssemos
sem você. É muito perigoso." Dr. Chase franziu a testa, desconfortável. "Agora espere um minuto, mocinha. Annabeth é minha filha. Perigoso ou não, eu... eu não posso
apenas --" "Lanches," a Sra. Chase anunciou. Ela entrou empurrando a porta com uma bandeja cheia de sanduíches com manteiga de amendoim e geleia, Cocas e biscoitos
frescos saídos do forno, as gotas de chocolate ainda moles. Thalia e eu cheiramos alguns biscoitos enquanto Zoe disse, "Eu posso dirigir, senhor. Não sou tão jovem
quanto pareço. Prometo não destruir teu carro." A Sra. Chase juntou as sobrancelhas. "O que está acontecendo?" "Annabeth está em perigo," Dr. Chase disse. "No Monte
Tam. Eu os levaria, mas... aparentemente não é lugar para mortais." Pareceu que era realmente difícil para ele soltar essa última parte. Esperei que a Sra. Chase
dissesse não. Quero dizer, que pais mortais deixariam três adolescentes menores de idade pegarem emprestado seu carro? Para minha surpresa, a Sra. Chase assentiu.
"Então é melhor eles irem logo." "Certo!" Dr. Chase pulou e começou a apalpar os bolsos. "Minhas chaves..."

Sua esposa suspirou. "Frederick, honestamente. Você perderia a cabeça se não estivesse amarrada dentro do seu chapéu de aviador. As chaves estão penduradas no cabide
perto da porta da frente." "Certo!" Dr. Chase disse. Zoe agarrou um sanduíche. "Obrigada aos dois. Devemos ir. Agora!" Nós passamos apressados pela porta e descemos
as escadas, os Chase bem atrás de nós. "Percy," a Sra. Chase chamou quando eu estava saindo, "diga a Annabeth... Diga que ela ainda tem um lar aqui, você dirá? Lembre-a
disso." Dei uma última olhada na bagunçada sala de estar. Os meio-irmãos de Annabeth espalhando LEGOs e discutindo, o cheiro de biscoitos enchendo o ar. Não era
um lugar ruim, pensei. "Direi a ela," prometi. Nós corremos para o lado de fora até o Volkswagen conversível estacionado na entrada da garagem. O sol estava se pondo.
Percebi que tínhamos menos de uma hora para salvar Annabeth. "Essa coisa não pode ir mais rápido?" Thalia exigiu. Zoe a encarou. "Eu não posso controlar o tráfego."
"Vocês duas parecem a minha mãe," eu disse. "Cala a boca!" elas falaram em uníssono. Zoe costurou por dentro e por fora do trânsito na Ponte Golden Gate. O sol estava
afundando no horizonte quando nós finalmente chegamos em Marin County e saímos da rodovia. As estradas eram estupidamente estreitas, serpenteando através de florestas
e por cima de encostas de colinas e ao redor de beiradas de ravinas íngremes. Zoe não diminuiu a velocidade de jeito nenhum. "Por que tudo cheira como pastilhas
para tosse?" perguntei. "Eucaliptos," Zoe apontou para as enormes árvores à nossa volta. "Aquilo que os coalas comem?" "E monstros," ela disse. "Eles amam mastigar
as folhas. Especialmente dragões." "Dragões mascam folhas de eucalipto?" "Crê em mim," Zoe falou. "Se tivesses hálito de dragão, mascarias eucalipto também." Eu
nem a questionei, mas mantive meus olhos abertos com mais cautela enquanto nos movíamos. À nossa frente erguia-se o Monte Tamalpais. Acho que, em termos de montanhas,
era pequena, mas parecia bem grande enquanto nos dirigíamos a ela. "Então essa é a Montanha do Desespero?" perguntei. "Sim," Zoe disse rispidamente. "Por que eles
a chamam assim?" Ela ficou em silêncio por mais de um quilômetro antes de responder. "Depois da guerra entre os Titãs e os deuses, muitos dos Titãs foram punidos
e aprisionados. Cronos foi fatiado em pedaços e jogado no Tártaro. O braço direito de Cronos, o general de suas forças, foi aprisionado lá em cima, no topo, logo
além do Jardim das Hespérides." "O General," eu disse. Nuvens pareciam rodopiar ao redor do pico, como se a montanha as estivesse sugando para dentro, girando-as
como um pião. "O que está acontecendo lá em cima? Uma tempestade?" Zoe não respondeu. Tive a sensação de que ela sabia exatamente o que as nuvens significavam, e
não gostava disso. "Temos que nos concentrar," Thalia disse. "A Névoa é realmente forte aqui." "Do tipo mágico ou do tipo natural?" perguntei. "Ambas."

As nuvens cinzas espiralavam ainda mais densas sobre a montanha, e continuávamos nos dirigindo diretamente para elas. Estávamos fora da floresta agora, em amplos
espaços de penhascos e grama e pedras e nevoeiro. Olhei de relance abaixo, para o oceano, enquanto passávamos numa curva exagerada, e vi algo que me fez pular do
assento. "Olhem!" Mas nós viramos em um canto e o oceano desapareceu atrás das colinas. "O quê?" perguntou Thalia. "Um grande navio branco," eu disse. "Atracado
perto da praia. Parecia um navio de cruzeiro." Os olhos dela se arregalaram. "O navio de Luke?" Queria falar que não tinha certeza. Poderia ser uma coincidência.
Mas eu sabia bem. O Princesa Andrômeda, navio de cruzeiro demoníaco de Luke, estava atracado naquela praia. Foi por isso que ele mandou seu navio por todo o Canal
do Panamá. Era o único jeito de navegar vindo da Costa Leste até a Califórnia. "Teremos companhia, então." Zoe disse, sombriamente. "O exército de Cronos." Eu estava
prestes a responder, quando de repente os pelos da minha nuca se arrepiaram. Thalia gritou, "Pare o carro. AGORA!" Zoe deve ter sentido que alguma coisa estava errada,
porque ela pisou no freio sem questionar. O Volkswagen amarelo rodou duas vezes antes de parar na beira do penhasco. "Para fora!" Thalia abriu a porta e me empurrou
com força. Nós dois rolamos no chão. No próximo segundo: BOOOM! Um relâmpago brilhou e o Volkswagen do Dr. Chase explodiu como uma granada amarelo canário. Eu provavelmente
teria sido morto pelos estilhaços se não fosse o escudo de Thalia, que apareceu sobre mim. Escutei um barulho parecido com um bateestacas metálico, e quando abri
meus olhos, estávamos rodeados por destroços. Parte do para-lama do Volkswagen tinha empalado a si mesmo na rua. A cobertura de fumaça estava rodando em círculos.
Pedaços de metal amarelo estavam espalhados pelo meio da estrada. Engoli o gosto da fumaça na minha boca e olhei para Thalia. "Você salvou minha vida." "E pelas
mãos de um parente um perecerá" ela murmurou. "Maldito seja. Ele destruiria a mim? A mim?" Levou um segundo para eu perceber que ela falava de seu pai. "Ah, ei,
esse não pode ter sido o relâmpago de Zeus. De jeito nenhum." "De quem, então?" Thalia exigiu. "Eu não sei. Zoe falou o nome de Cronos. Talvez ele --" Thalia agitou
a cabeça, parecendo com raiva e atordoada. "Não. Não foi isso." "Espere," falei. "Onde está Zoe? Zoe!" Ambos levantamos e corremos em volta do Volkswagen explodido.
Nada dentro. Nada em nenhuma direção da estrada. Olhei penhasco abaixo. Nem sinal dela. "Zoe!" gritei. Então ela estava de pé ao meu lado, puxando-me pelo braço.
"Silêncio, tolo! Queres acordar Ladon?" "Quer dizer que já chegamos?" "Bem perto," ela disse. "Segui-me." Camadas de neblina estavam flutuando pela estrada. Zoe
pisou numa delas, e quando a neblina passou, ela não estava mais lá. Thalia e eu nos entreolhamos. "Concentre-se em Zoe," Thalia avisou. "Nós a estamos seguindo.
Vá direto para a neblina e mantenha isso em mente."

"Espere, Thalia. Sobre o que aconteceu lá no píer... Quero dizer, com a mantícora e o sacrifício --" "Não quero falar sobre isso." "Você não teria realmente... você
sabe?" Ela hesitou. "Eu apenas estava chocada. Só isso." "Zeus não mandou aquele relâmpago no carro. Foi Cronos. Ele está tentando te manipular, fazendo você ficar
com raiva do seu pai." Ela respirou fundo. "Percy, sei que você está tentando fazer eu me sentir melhor. Obrigada. Mas vamos lá. Precisamos ir." Ela pisou na neblina,
para dentro da Névoa, e eu segui. Quando a neblina clareou, eu ainda estava na encosta da montanha, mas a estrada era lamacenta. A grama era mais grossa. O pôr do
sol fez um corte vermelho sangue através do mar. O pico da montanha parecia mais próximo agora, rodopiando com nuvens de tempestade e poder bruto. Havia apenas um
caminho até o topo, diretamente à nossa frente. E levava através de um exuberante campo de sombras e flores: os jardins do crepúsculo, exatamente como eu havia visto
em meus sonhos. Se não fosse pelo enorme dragão, o jardim seria o lugar mais bonito que eu já tinha visto. A grama cintilava com luz prateada do entardecer, e as
flores eram de cores tão brilhantes que quase resplandeciam no escuro. Lajotas de mármore preto polidas conduziam em volta dos dois lados de uma macieira do tamanho
de um prédio de cinco andares, cada galho reluzindo com maçãs douradas, e eu não quis dizer maçãs douradas amarelas como na mercearia. Quero dizer maçãs douradas
de verdade. Não consigo descrever por que elas eram tão atraentes, mas logo que senti sua fragrância, soube que uma mordida seria a coisa mais deliciosa que eu já
teria provado. "As maçãs da imortalidade," Thalia disse. "O presente de casamento de Hera dado por Zeus." Queria passar à frente e arrancar uma, salvo pelo dragão
enrolado em volta da árvore. Agora, não sei o que você pensa quando eu digo dragão. O que quer que seja, não é assustador o suficiente. O corpo de serpente era grosso
como um foguete detonador, tremeluzindo com escamas de cobre. Ele tinha mais cabeças do que eu podia contar, como se uma centena de pítons mortíferas estivessem
fundidas juntas. Ele aparentava estar dormindo. As cabeças deitadas enroladas num monte parecido com um espaguete na grama, todos os olhos fechados. Então as sombras
à nossa frente começaram a se mover. Havia uma bela e misteriosa cantoria, como vozes vindas do fundo de um poço. Procurei Contracorrente, mas Zoe deteve minha mão.
Quatro figuras cintilaram para a existência, quatro jovens mulheres que se pareciam muito com Zoe. Todas usavam túnicas gregas brancas. A pele delas era como caramelo.
Sedosos cabelos negros caíam soltos em volta dos ombros. Era estranho, mas eu nunca havia reparado no quanto Zoe era bonita até ver suas irmãs, as Hespérides. Elas
se pareciam exatamente com Zoe -- deslumbrantes, e provavelmente muito perigosas. "Irmãs," Zoe disse. "Não vemos irmã alguma," uma das garotas disse friamente. "Vemos
dois meio-sangues e uma Caçadora. Vós todos deveis morrer em breve." "Você entendeu errado," dei um passo à frente. "Ninguém vai morrer." As garotas me estudaram.
Elas tinham olhos de pedra vulcânica, inexpressivos e completamente negros. "Perseus Jackson," uma delas disse.

"Sim," meditou a outra. "Não vejo por que ele é uma ameaça." "Quem disse que eu era uma ameaça?" A primeira Hespéride olhou rapidamente às suas costas, na direção
do topo da montanha. "Eles temem a ti. Estão descontentes que esta aqui ainda não te matou." Ela apontou para Thalia. "Tentador algumas vezes," Thalia admitiu. "Mas
não, obrigada. Ele é meu amigo." "Não há amigos aqui, filha de Zeus," a garota disse. "Somente inimigos. Regressai." "Não sem Annabeth," Thalia disse. "E Ártemis,"
Zoe disse. "Devemos nos aproximar da montanha." "Sabes que ele vai te matar," a garota disse. "Tu não és páreo para ele." "Ártemis deve ser libertada," insistiu
Zoe. "Deixai-nos passar." A garota balançou a cabeça. "Tu não tens mais nenhum direito aqui. Nós só temos que elevar nossas vozes e Ladon vai acordar." "Ele não
vai me ferir," Zoe disse. "Não? E quanto aos teus supostos amigos?" Então Zoe fez a última coisa que eu esperava. Ela gritou, "Ladon! Acorda!" O dragão se agitou,
brilhando como uma montanha de moedas. As Hespérides ganiram e se dispersaram. A garota líder falou para Zoe, "És louca?" "Nunca tiveste coragem alguma, irmã," Zoe
declarou. "Esse é o teu problema." O dragão Ladon estava se contorcendo agora, uma centena de cabeças chicoteando ao redor, línguas tremeluzindo e provando o ar.
Zoe deu um passo à frente, seus braços levantados. "Zoe, não," Thalia falou. "Você não é mais uma Hespéride. Ele vai matar você." "Ladon é treinado para proteger
a árvore," Zoe disse. "Beirai em volta dos limites do jardim. Subi a montanha. Enquanto eu for uma ameaça maior, ele deverá vos ignorar." "Deverá," falei. "Não é
muito tranquilizador." "É o único jeito," ela disse. "Mesmo nós três juntos não conseguiremos lutar com ele." Ladon abriu suas bocas. O som de cem cabeças sibilando
de uma vez mandou um calafrio pelas minhas costas, e isso foi antes de seu hálito me atingir. O cheiro era como ácido. Fez meus olhos queimarem, minha pele arrepiar,
e meu cabelo ficar todo em pé. Eu me lembrei da vez em que um rato morrera dentro da parede do nosso apartamento em Nova Iorque no meio do verão. Esse fedor era
parecido, exceto que cem vezes mais forte, e misturado com o cheiro de eucalipto mascado. Prometi a mim mesmo naquela hora que nunca iria pedir para a enfermeira
da escola outra pastilha para tosse. Queria sacar minha espada. Mas então me lembrei do meu sonho sobre Zoe e Hércules, e como Hércules havia falhado em um ataque
direto. Decidi confiar no julgamento de Zoe. Thalia foi pela esquerda. Fui pela direita. Zoe caminhou direto para o monstro. "Sou eu, meu dragãozinho," Zoe disse.
"Zoe voltou." Ladon deslocou-se pra frente, então para trás. Algumas bocas se fecharam. Algumas continuaram sibilando. Confusão de dragão. Enquanto isso, as Hespérides
cintilaram e se transformaram em sombras. A voz da mais velha sussurrou, "Tola." "Eu costumava alimentar a ti na mão," Zoe continuou, falando numa voz tranqüila
enquanto dava passos em direção à árvore dourada. "Ainda gostas de carne de cordeiro?" Os olhos do dragão brilharam. Thalia e eu estávamos quase na metade do caminho
em volta do jardim. À frente, eu podia ver uma única trilha pedregosa dirigindo-se acima até o cume negro da montanha. A tempestade rodopiava sobre ele, girando
no topo como se fosse o eixo do mundo inteiro.

Tínhamos quase atravessado o campo quando algo saiu errado. Senti o humor do dragão mudar. Talvez Zoe tivesse chegado perto demais. Talvez o dragão tivesse percebido
que estava faminto. Qualquer que fosse a razão, ele investiu em Zoe. Dois mil anos de treinamento a mantiveram viva. Ela se esquivou de uma série de presas cortantes
e saltou sob outra, serpenteando através das cabeças do dragão enquanto corria em nossa direção, engasgando com o hálito horrível do monstro. Saquei Contracorrente
para ajudar. "Não!" Zoe arquejou. "Correi!" O dragão a acertou do lado, e Zoe gritou. Thalia revelou Aegis, e o dragão sibilou. No momento de indecisão dele, Zoe
correu por nós subindo a montanha, e nós seguimos. O dragão não tentou nos perseguir. Ele sibilou e pisoteou o solo, mas acho que ele era bem treinado para proteger
aquela árvore. Ele não seria fisgado nem pela suculenta perspectiva de comer alguns heróis. Corremos montanha acima enquanto as Hespérides retomavam sua canção nas
sombras atrás de nós. A música não soava tão bonita para mim agora -- parecia mais a trilha sonora para um funeral. No topo da montanha havia ruínas, blocos de granito
e mármore pretos, grandes como casas. Colunas quebradas. Estátuas de bronze que aparentavam terem sido derretidas pela metade. "As ruínas do Monte Ótris," Thalia
sussurrou com receio. "Sim," Zoe disse. "Não estava aqui antes. Isso é ruim." "O que é Monte Ótris?" perguntei, sentindo-me bobo como sempre. "A fortaleza dos Titãs
nas montanhas," Zoe disse. "Na primeira guerra, Olimpo e Ótris eram as duas capitais rivais do mundo. Ótris era --" Ela estremeceu e segurou o lado do corpo. "Você
está ferida," falei. "Deixe-me ver." "Não! Não é nada. Estava dizendo... na primeira Guerra, Ótris foi feita em pedaços." "Mas... como está aqui?" Thalia olhou em
volta cuidadosamente enquanto buscávamos nosso caminho através dos escombros, passando por blocos de mármore e arcadas quebradas. "Ela se move do mesmo jeito que
o Olimpo. Sempre existe nos limites da civilização. Mas o fato dela estar aqui, nesta montanha, não é bom." "Por quê?" "Esta é a montanha de Atlas," Zoe disse. "Onde
ele sustenta--" ela congelou. Sua voz estava rasgada de desespero. "Onde ele costumava sustentar o céu." Tínhamos chegado ao pico. Alguns metros à nossa frente,
nuvens cinzas rodopiavam num denso vórtice, formando um funil de nuvens que quase tocava o topo da montanha, mas ao invés disso descansava nos ombros de uma garota
de doze anos com cabelos castanho avermelhados e um vestido prateado retalhado: Ártemis, suas pernas presas à rocha por correntes de bronze celestial. Foi isto que
vi em meu sonho. Não foi o teto de uma caverna que Ártemis foi forçada a carregar. Foi o teto do mundo. "Minha senhora!" Zoe correu à frente, mas Ártemis disse,
"Pare! É uma armadilha. Vocês devem ir agora." Sua voz estava extenuada. Ela estava banhada em suor. Eu nunca vira uma deusa sentir dor antes, mas o peso do céu
claramente era demais para Ártemis. Zoe estava chorando. Ela correu para frente apesar dos protestos de Ártemis, e forçou as correntes. Uma voz estrondosa falou
atrás de nós: "Ah, que comovente." Nós nos viramos. O General estava lá em pé com seu terno de seda marrom. Ao seu lado estava Luke e meia dúzia de dracaenae carregando
o sarcófago dourado de Cronos.

Annabeth estava do lado de Luke. Ela tinha as mãos algemadas às costas, uma mordaça em sua boca, e Luke estava segurando a ponta de sua espada na garganta dela.
Encontrei os olhos dela, tentando fazer mil perguntas. Contudo, havia apenas uma mensagem que ela estava me enviando: CORRA. "Luke," Thalia rosnou. "Deixe-a ir."
O sorriso de Luke era fraco e pálido. Ele parecia ainda pior do que três dias atrás em D.C. "Essa é uma decisão do General, Thalia. Mas é bom vê-la de novo." Thalia
cuspiu nele. O General abafou uma risada. "Tudo isso pelos velhos amigos. E você, Zoe. Faz muito tempo. Como está minha pequena traidora? Eu vou apreciar matar você."
"Não responda," Ártemis gemeu. "Não o desafie." "Espere um minuto," eu disse. "Você é Atlas?" O General olhou de relance para mim. "Então até o mais estúpido dos
heróis consegue finalmente descobrir alguma coisa. Sim, eu sou Atlas, o general dos Titãs e terror dos deuses. Parabéns. Vou matá-lo em breve, assim que lidar com
essa garota miserável." "Você não vai ferir Zoe," falei. "Eu não vou deixar." O General zombou. "Você não tem o direito de interferir, pequeno herói. Este é um assunto
de família." Eu franzi a testa, "Um assunto de família?" "Sim," Zoe disse friamente. "Atlas é meu pai."

DEZESSETE

EU CARREGO ALGUNS MILHÕES DE QUILOS EXTRAS
A coisa mais horrível era: eu conseguia ver a semelhança familiar. Atlas tinha a mesma expressão régia de Zoe, o mesmo aspecto orgulhoso e frio nos olhos que Zoe
de vez em quando tinha quando ficava com raiva, ainda que nele parecesse cem vezes mais maligno. Ele era todas as coisas que eu originalmente não gostara em Zoe,
sem nada das coisas boas que eu vim a apreciar. "Deixa Ártemis ir," Zoe exigiu. Atlas caminhou mais para perto da deusa acorrentada. "Talvez você queira carregar
o céu por ela, então? Fique à vontade." Zoe abriu a boca para falar, mas Ártemis disse, "Não! Não se ofereça, Zoe! Eu a proíbo!" Atlas sorriu afetado. Ele se ajoelhou
perto de Ártemis e tentou tocar o rosto dela, mas a deusa mordeu, quase arrancando os dedos dele. "Hoo-hoo," Atlas riu. "Você vê, filha? Lady Ártemis gosta de seu
novo trabalho. Acho que terei todos os Olimpianos revezando-se para carregar meu fardo, uma vez que Lorde Cronos governe novamente, e este é o centro do nosso palácio.
Isto vai ensinar àqueles fracotes um pouco de humildade." Olhei para Annabeth. Ela estava tentando desesperadamente me contar alguma coisa. Ela acenou com a cabeça
na direção de Luke. Mas tudo que eu podia fazer era encará-la. Não tinha percebido antes, mas algo nela havia mudado. Seu cabelo louro estava agora com mechas cinzas.
"De carregar o céu," Thalia murmurou, como se tivesse lido minha mente. "O peso deveria tê-la matado." "Não entendo," eu disse. "Por que Ártemis não pode apenas
largar o céu?" Atlas riu. "Quão pouco você entende, jovem. Este é o ponto onde o céu e terra se encontraram pela primeira vez, onde Urano e Gaia deram origem aos
seus poderosos filhos, os Titãs. O céu ainda anseia por abraçar a terra. Alguém deve segurar, senão desabaria sobre este lugar, achatando instantaneamente a montanha
e tudo mais no raio de mais de seiscentos quilômetros. Uma vez que você tenha segurado o fardo, não há escapatória." Atlas sorriu. "Salvo se outra pessoa o tomar
de você." Ele se aproximou de nós, estudando Thalia e a mim. "Então estes são os melhores heróis da época, hum? Não parece desafiador." "Lute conosco," eu disse.
"E veremos." "Os deuses não lhe ensinaram nada? Um imortal não enfrenta um mero mortal diretamente. Está abaixo da nossa dignidade. Luke irá destruí-lo em vez disso."
"Então você é mais um covarde," falei. Os olhos de Atlas brilharam de ódio. Com dificuldade, ele desviou sua atenção para Thalia. "Quanto a você, filha de Zeus,
parece que Luke estava errado sobre você." "Eu não estava errado," Luke afirmou. Ele parecia terrivelmente fraco, e falava cada palavra como se estivesse doendo.
Se eu não o odiasse tanto, quase teria sentido pena dele. "Thalia, você ainda pode se juntar a nós. Chame o Ofiotauro. Ele virá até você. Veja!"

Ele acenou com a mão, e perto de nós um tanque de água apareceu: um reservatório circundado de mármore preto, grande o suficiente para o Ofiotauro. Eu podia imaginar
Bessie naquele tanque. Na verdade, quanto mais eu pensava sobre isso, mais tinha certeza de que podia ouvir Bessie mugindo. Não pense nele! De repente a voz de Grover
estava dentro da minha mente -- a conexão empática. Eu podia sentir as suas emoções. Ele estava à beira do pânico. Estou perdendo Bessie. Bloqueie os pensamentos!
Tentei esvaziar minha mente. Tentei pensar em jogadores de basquete, skates, os diferentes tipos de doces da loja da minha mãe. Tudo menos Bessie. "Thalia, chame
o Ofiotauro," Luke persistiu. "E você será mais poderosa que os deuses." "Luke..." A voz dela estava cheia de dor. "O que aconteceu com você?" "Você não se lembra
de todas as vezes que conversamos? Todas aquelas vezes que amaldiçoamos os deuses? Nossos pais não fizeram nada por nós. Eles não têm o direito de governar o mundo!"
Thalia balançou a cabeça. "Liberte Annabeth. Deixe-a ir." "Se você se juntar a mim," Luke prometeu, "pode ser como nos velhos tempos. Nós três juntos. Lutando por
um mundo melhor. Por favor, Thalia, se você não concordar..." A voz dele vacilou. "É minha última chance. Ele vai usar o outro jeito se você não concordar. Por favor."
Eu não sabia o que ele queria dizer, mas o medo em sua voz pareceu bastante real. Acreditei que Luke estava em perigo. A vida dele dependia que Thalia se juntasse
a sua causa. E eu estava com medo que Thalia acreditasse nisso também. "Não, Thalia," Zoe avisou. "Devemos combatê-los." Luke acenou com a mão novamente, e fogo
apareceu. Um braseiro de bronze, como o do acampamento. Uma chama de sacrifício. "Thalia," eu disse. "Não." Atrás de Luke, o sarcófago dourado começou a brilhar.
Enquanto isso, vi imagens na névoa a toda nossa volta: paredes de mármore preto se erguendo, as ruínas tornando-se inteiras, um terrível e bonito palácio surgindo
em torno de nós, feito de medo e sombra. "Vamos erguer o Monte Ótris aqui mesmo," Luke prometeu, numa voz tão deformada que mal parecia a dele. "Uma vez mais, será
mais forte e maior que o Olimpo. Veja, Thalia. Não somos fracos." Ele apontou na direção do oceano, e meu coração afundou. Marchando, subindo pela encosta da montanha,
vindo da praia onde o Princesa Andrômeda estava atracado, havia um grande exército. Dracaenae e lestrigões, monstros e meio-sangues, cães infernais, harpias, e outras
coisas que eu sequer conseguia nomear. O navio inteiro devia ter sido esvaziado, porque havia centenas, muito mais do que eu tinha visto no último verão. E eles
estavam marchando em nossa direção. Em poucos minutos, estariam aqui. "Esta é só uma prova do que está por vir," Luke disse. "Logo estaremos prontos para invadir
o Acampamento Meio-Sangue. E depois disso, o próprio Olimpo. Tudo que precisamos é da sua ajuda." Por um terrível momento, Thalia hesitou. Ela olhou fixamente para
Luke, seus olhos cheios de dor, como se a única coisa que ela quisesse no mundo fosse acreditar nele. Então ela nivelou sua lança. "Você não é Luke. Não conheço
mais você." "Sim, você conhece, Thalia," ele alegou. "Por favor. Não me faça... não o faça destruir você." Não havia mais tempo. Se aquele exército chegasse ao topo
da colina, seríamos massacrados. Encontrei novamente os olhos de Annabeth. Ela assentiu.

Olhei para Thalia e Zoe, e decidi que não seria a pior coisa do mundo morrer lutando ao lado de amigas como essas. "Agora," eu disse. Juntos, nós atacamos. Thalia
foi direto em Luke. O poder de seu escudo era tão grande que suas mulheres dragão guarda-costas fugiram em pânico, derrubando o caixão dourado e deixando-o sozinho.
Mas apesar de sua aparência doentia, Luke ainda era rápido com sua espada. Ele rosnou como um animal selvagem e contra-atacou. Quando sua espada, Mordecostas, encontrou-se
com o escudo de Thalia, uma esfera de relâmpagos explodiu entre eles, fritando o ar com espirais amarelas de energia. Quanto a mim, fiz a coisa mais estúpida da
minha vida, o que é dizer muito. Ataquei o Lorde Titã Atlas. Ele gargalhou enquanto eu me aproximava. Um enorme dardo apareceu em suas mãos. Sua roupa de seda derreteu
em uma completa armadura grega de batalha. "Venha, então!" "Percy!" Zoe disse. "Cuidado!" Eu sabia sobre o que ela estava me alertando. Quíron me falara há muito
tempo: Imortais são restringidos por regras antigas. Mas um herói pode ir a qualquer lugar, desafiar qualquer um, contanto que tenha ousadia. Uma vez que eu ataquei,
entretanto, Atlas estava livre para atacar em resposta diretamente, com todo seu poder. Brandi minha espada, e Atlas me jogou para o lado com a haste de seu dardo.
Voei pelo ar e bati em um muro negro. Não era mais a Névoa. O palácio estava se erguendo, tijolo por tijolo. Estava se tornando real. "Tolo!" Atlas gritou contente,
golpeando para o lado uma das flechas de Zoe. "Você pensou, simplesmente porque você pôde desafiar aquele insignificante deus da guerra, que você poderia se levantar
contra mim?" A menção de Ares deu um solavanco em mim. Afastei meu atordoamento e investi novamente. Se eu conseguisse chegar àquele tanque de água, poderia dobrar
minha força. A ponta do dardo golpeou em minha direção como uma foice. Levantei Contracorrente, planejando cortar a arma dele na haste, mas meu braço parecia de
chumbo. Minha espada de repente pesava uma tonelada. E me lembrei do aviso de Ares, dito na praia de Los Angeles há tanto tempo atrás: Quando você mais precisar,
sua espada falhará com você. Não agora! Implorei. Mas não fez bem algum. Tentei esquivar, mas o dardo me pegou pelo peito e me mandou voando como um boneco de trapos.
Bati com força no chão, minha cabeça girando. Olhei para cima e descobri que estava aos pés de Ártemis, ainda esforçando-se sob o peso do céu. "Corra, garoto," ela
me falou. "Você deve correr!" Atlas estava aproveitando seu tempo vindo em minha direção. Minha espada se fora. Ela havia escorregado pela beirada do penhasco. Deveria
reaparecer no meu bolso -- talvez em alguns segundos -- mas isso não importava. Já estaria morto até lá. Luke e Thalia estavam lutando como demônios, relâmpagos
crepitando ao redor deles. Annabeth estava no chão, debatendo-se desesperadamente para libertar as mãos. "Morra, pequeno herói," Atlas disse. Ele ergueu seu dardo
para me transpassar. "Não!" exclamou Zoe, e uma saraivada de flechas brotou da fenda axilar na armadura de Atlas.

"ARGH!" Ele berrou e se virou na direção de sua filha. Procurei e senti Contracorrente de volta em meu bolso. Eu não podia enfrentar Atlas, mesmo com uma espada.
Então um calafrio desceu pelas minhas costas. Eu me lembrei das palavras da profecia: A maldição do Titã um suportará. Não tinha esperança de vencer Atlas. Mas havia
outra pessoa que podia ter uma chance. "O céu," falei para a deusa. "Entregue pra mim." "Não, garoto," Ártemis disse. Sua testa estava banhada em suor metálico,
como mercúrio. "Você não sabe o que está pedindo. Vai destruí-lo!" "Annabeth aguentou!" "Ela quase não sobreviveu. Ela teve o espírito de uma verdadeira caçadora.
Você não vai durar tanto." "Vou morrer de qualquer jeito," eu disse. "Entregue o peso do céu!" Não esperei pela resposta dela. Saquei Contracorrente e golpeei as
correntes. Então dei um passo para perto dela e me dei suporte em um joelho -- mantendo as mãos no alto -- e toquei as geladas, pesadas nuvens. Por um momento, Ártemis
e eu suportamos o peso juntos. Era a coisa mais pesada que eu já havia sentido, como se estivesse sendo esmagado embaixo de mil caminhões. Quis recuar da dor, mas
respirei profundamente. Eu posso fazer isso. Então Ártemis deslizou de baixo do fardo, e eu o segurei sozinho. Depois disso, tentei muitas vezes explicar qual foi
a sensação. Não consegui. Todos os músculos do meu corpo queimavam. Meus ossos pareciam estar derretendo. Eu queria gritar, mas não tinha força para abrir minha
boca. Comecei a afundar, cada vez mais perto do chão, o peso do céu esmagando-me. Reaja! A voz de Grover disse dentro da minha cabeça. Não desista. Concentrei-me
na respiração. Se eu ao menos pudesse manter o céu no alto por mais alguns segundos. Pensei em Bianca, que dera sua vida para que pudéssemos estar aqui. Se ela podia
fazer aquilo, eu podia carregar o céu. Minha visão ficou borrada. Tudo estava tingido de vermelho. Eu capturava lampejos da batalha, mas não tinha certeza se estava
vendo claramente. Havia Atlas numa armadura de batalha completa, golpeando com seu dardo, gargalhando insanamente enquanto lutava. E Ártemis, um borrão de prata.
Ela tinha duas cruéis facas de caça, cada uma tão longa quanto seu braço, e ela golpeava o Titã com selvageria, esquivando e saltando com uma graça inacreditável.
Ela parecia mudar de forma enquanto manobrava. Era um tigre, uma gazela, um urso, um falcão. Ou talvez fosse apenas meu cérebro febril. Zoe disparava flechas em
seu pai, mirando nas fendas de sua armadura. Ele rugia de dor cada vez que uma achava seu lugar, mas elas o afetavam como picadas de abelha. Ele apenas ficava mais
irado e continuava lutando. Thalia e Luke continuavam lança contra espada, relâmpagos lampejando em volta deles. Thalia pressionou Luke para trás com a aura de seu
escudo. Mesmo ele não era imune a isso. Ele recuou, estremecendo e rosnando de frustração. "Renda-se!" Thalia gritou. "Você nunca conseguiu me derrotar, Luke." Ele
mostrou os dentes. "Veremos, minha velha amiga." Suor escorria pelo meu rosto. Minhas mãos estavam escorregadias. Meus ombros teriam gritado de agonia se pudessem.
Senti como se as vértebras da minha coluna estivessem sendo soldadas por um maçarico. Atlas avançou, pressionando Ártemis. Ela era rápida, mas a força dele era impossível
de ser parada. Seu dardo atingiu o lugar onde Ártemis estivera uma fração de segundo antes, e uma rachadura se abriu nas rochas. Ele pulou a fissura e continuou
a perseguila. Ela o estava guiando de volta em minha direção. Prepare-se, ela disse na minha mente.

Eu estava perdendo a capacidade de pensar em meio à dor. Minha resposta foi algo como: Agggghh-owwwwwww. "Você luta bem para uma garota," Atlas riu. "Mas você não
é páreo para mim." Ele simulou com a ponta do seu dardo e Ártemis se esquivou. Eu vi o truque chegando. O dardo de Atlas varreu em volta e arrancou as pernas de
Ártemis do chão. Ela caiu, e Atlas trouxe a ponta de seu dardo para matar. "Não!" Zoe gritou. Ela saltou entre seu pai e Ártemis e atirou uma flecha diretamente
na testa do Titã, onde se fixou como um chifre de unicórnio. Atlas bradou de raiva. Ele varreu sua filha para o lado com as costas de sua mão, mandando-a voando
para dentro das rochas negras. Eu quis gritar o nome dela, correr em seu auxílio, mas não conseguia falar ou me mexer. Nem ao menos conseguia ver onde Zoe tinha
aterrissado. Então Atlas se virou para Ártemis com um olhar de triunfo em seu rosto. Ártemis parecia estar ferida. Ela não se levantou. "O primeiro sangue em uma
nova guerra," Atlas se vangloriou. E ele apunhalou para baixo. Rápida como o pensamento, Ártemis agarrou a haste de seu dardo. O objeto atingiu o chão bem ao lado
dela e ela o puxou para trás, usando o dardo como uma alavanca, chutando o Lorde Titã e mandando-o voando sobre ela, eu o vi caindo em cima de mim e percebi o que
aconteceria. Afrouxei minha pegada no céu, e enquanto Atlas me atingia eu não tentei segurar. Eu me deixei ser empurrado para fora do caminho e rolei com tudo. O
peso do céu recaiu sobre as costas de Atlas, quase achatando-o até que ele conseguiu se ajoelhar, debatendo-se para sair debaixo do peso esmagador do céu. Mas era
tarde demais. "Nãããooo!" ele berrou tão forte que sacudiu a montanha. "De novo não!" Atlas estava preso sob seu antigo fardo. Tentei me levantar e caí de novo, tonto
de dor. Meu corpo parecia estar queimando. Thalia acuou Luke na beira do penhasco, mas eles ainda duelavam, próximos ao caixão dourado. Thalia tinha lágrimas nos
olhos. Luke tinha um corte ensanguentado em seu peito e sua face pálida reluzia com o suor. Ele atacou Thalia e ela o acertou com o escudo. A espada de Luke girou
para fora de sua mão e tilintou nas pedras. Thalia pôs a ponta de sua lança na garganta dele. Por um momento, houve silêncio. "Bem?" Luke perguntou. Ele tentou esconder,
mas eu podia escutar medo em sua voz. Thalia tremeu de fúria. Atrás dela, Annabeth veio arrastando-se, finalmente livre de suas amarras. O rosto dela estava machucado
e riscado de sujeira. "Não o mate!" "Ele é um traidor," Thalia disse. "Um traidor!" Atordoado, percebi que Ártemis não estava mais comigo. Ela tinha corrido em direção
às rochas negras onde Zoe caíra. "Nós vamos trazer Luke de volta," Annabeth pediu. "Para o Olimpo. Ele... ele será útil." "É isso que você quer, Thalia?" Luke zombou.
"Voltar para o Olimpo triunfante? Agradar ao seu pai?" Thalia hesitou, e Luke agarrou desesperadamente a lança dela. "Não!" Annabeth gritou. Mas era tarde demais.
Sem pensar, Thalia chutou Luke para longe. Ele perdeu o equilíbrio, terror em seu rosto, e então caiu. "Luke!" Annabeth gritou. Corremos até a beirada do penhasco.
Abaixo de nós, o exército do Princesa Andrômeda parara de espanto. Eles olhavam fixamente para a forma quebrada de Luke nas rochas.

Por mais que eu o odiasse, não aguentava ver. Queria acreditar que ele ainda estava vivo, mas era impossível. A queda era de cinco metros no mínimo, e ele não estava
se mexendo. Um dos gigantes olhou para cima e rugiu, "Matem-nos!" Thalia estava rígida de pesar, lágrimas descendo por sua face. Eu a puxei para trás quando uma
onda de dardos passou por cima de nossas cabeças. Corremos para as rochas, ignorando as maldições e ameaças de Atlas enquanto passávamos. "Ártemis!" gritei. A deusa
olhou para cima, seu rosto quase tão arrasado de pesar quanto o de Thalia. Zoe estava deitada nos braços da deusa. Ela estava respirando. Os olhos dela estavam abertos.
Mas ainda assim... "A ferida está envenenada," Ártemis disse. "Atlas a envenenou?" perguntei. "Não," a deusa disse. "Não Atlas." Ela nos mostrou a ferida no lado
de Zoe. Quase tinha esquecido o arranhão do dragão Ladon. A mordida era muito pior do que Zoe demonstrara. Eu quase não conseguia olhar para o ferimento. Ela tinha
investido na batalha contra seu pai com um corte horrível já extraindo suas forças. "As estrelas," Zoe murmurou. "Não consigo vê-las." "Néctar e ambrosia," eu disse.
"Vamos! Temos que pegar um pouco pra ela." Ninguém se mexeu. Tristeza pairava no ar. O exército de Cronos estava logo abaixo da saliência. Até mesmo Ártemis estava
chocada demais para se mover. Devíamos ter encontrado nossa perdição lá, mas então escutei um estranho zumbido. Assim que o exército de monstros subiu a colina,
um Sopwith Camel desceu rapidamente do céu. "Fiquem longe da minha filha!" Dr. Chase gritou, e suas metralhadoras explodiram com vida, salpicando o chão com buracos
de bala e assustando todo o grupo de monstros num estardalhaço. "Pai?" gritou Annabeth, incrédula. "Corram!" ele falou de volta, sua voz ficando mais fraca enquanto
o avião atacava. Isso sacudiu Ártemis para fora de sua tristeza. Ela encarou o antigo avião, o qual estava agora fazendo a volta para outro bombardeamento. "Um homem
corajoso," Ártemis disse, aprovando de má vontade. "Vamos, devemos tirar Zoe daqui." Ela levou seu berrante aos lábios, e seu som claro ecoou nos vales de Marin.
Os olhos de Zoe estavam tremendo. "Aguente firme!" eu disse a ela. "Vai ficar tudo bem!" O Sopwith Camel atacou de novo. Alguns gigantes jogaram dardos, e um voou
diretamente entre as asas do avião, mas as metralhadoras arderam em chamas. Percebi com admiração que de algum jeito Dr. Chase obtivera bronze celestial para modelar
suas balas. A primeira fileira de mulheres serpente gritou de dor quando uma saraivada da metralhadora as explodiu em poeira amarela sulfurosa. "Esse... é meu pai!"
Annabeth disse, admirada. Não tivemos tempo para apreciar o voo dele. Os gigantes e as mulheres serpente já estavam se recuperando da surpresa. Dr. Chase logo estaria
com problemas. Bem nesse momento, o luar brilhou, e uma carruagem prateada apareceu no céu, puxada pela mais bela rena que eu já vira. Ela aterrissou bem ao nosso
lado. "Subam," Ártemis disse.

Annabeth me ajudou a colocar Thalia a bordo. Então ajudei Ártemis com Zoe. Enrolamos Zoe em um cobertor enquanto Ártemis puxava as rédeas e a carruagem acelerava
para longe da montanha, direto para o céu. "Como o trenó do Papai Noel," murmurei, ainda atordoado de dor. Ártemis levou um tempo para olhar de volta para mim. "De
fato, jovem meio-sangue. E de onde você acha que surgiu a lenda?" Vendo-nos ir embora em segurança, Dr. Chase virou seu bimotor e nos seguiu como uma escolta de
honra. Deve ter sido uma das mais estranhas visões, mesmo para a Área da Baía: uma carruagem prateada puxada por uma rena, escoltada por um Sopwith Camel. Atrás
de nós, o exército de Cronos rugia de raiva conforme se aglomerava no topo do Monte Tamalpais, mas o som mais alto era a voz de Atlas, gritando maldições contra
os deuses enquanto se debatia sob o peso do céu.

DEZOITO

UMA AMIGA DIZ ADEUS
Nós pousamos no Campo Crissy depois de anoitecer. Assim que o Dr. Chase desceu de seu Sopwith Camel, Annabeth correu para ele e lhe deu um enorme abraço. "Pai! Você
voou... você atirou!... ah, meus deuses! Isso foi a coisa mais legal que eu já vi!" O pai dela corou. "Bem, nada mal para um mortal de meia-idade, eu acho." "Mas
balas de bronze celestial! Como você conseguiu aquelas?" "Ah, bem. Você deixou umas armas de meio-sangue no seu quarto em Virginia, da última vez que você... foi
embora." Annabeth abaixou a cabeça, embaraçada. Eu percebi que o Dr. Chase teve muito cuidado para não dizer fugiu. "Eu decidi derreter algumas para fazer cápsulas,"
ele continuou. "Apenas um pequeno experimento." Ele disse isso como se não fosse nada, mas tinha um brilho no olhar. Subitamente, eu entendi por que Atena, Deusa
da Sabedoria e da Tecelagem, gostara dele. No fundo ele era um excelente cientista maluco. "Pai..." Annabeth hesitou. "Annabeth, Percy," Thalia interrompeu. Sua
voz era urgente. Ela e Ártemis estavam ajoelhadas ao lado de Zoe, colocando ataduras nos ferimentos da Caçadora. Annabeth e eu corremos para ajudar, mas não havia
muito que pudéssemos fazer. Nós não tínhamos ambrosia nem néctar. Nenhuma medicina usual ajudaria. Estava escuro, mas eu podia ver que Zoe não parecia bem. Ela estava
tremendo, e o fraco brilho que geralmente a rodeava estava se apagando. "Você não pode curá-la com magia?" perguntei a Ártemis. "Quero dizer... você é uma deusa."
Ártemis pareceu abalada. "A vida é algo frágil, Percy. Se as Parcas decidem cortar a linha, há pouco que eu possa fazer. Mas eu posso tentar." Ela tentou pôr a mão
na lateral do corpo de Zoe, mas Zoe segurou seu pulso. Ela olhou fundo nos olhos da deusa, e uma espécie de entendimento se passou entre elas. "Eu... servi bem a
ti?" Zoe sussurrou. "Com grande honra," Ártemis disse suavemente. "A melhor de minhas ajudantes." O rosto de Zoe relaxou. "Descanso. Afinal." "Eu posso tentar eliminar
o veneno, minha corajosa." Mas naquele momento, eu soube que não era apenas o veneno que a estava matando. Era o golpe final de seu pai. Zoe soubera o tempo inteiro
que a profecia do Oráculo era sobre ela: que ela morreria pelas mãos de um parente. E mesmo assim aceitou a jornada. Ela escolheu me salvar, e a fúria de Atlas a
quebrou por dentro. Ela olhou para Thalia, e pegou sua mão. "Desculpe-me por termos brigado," Zoe disse. "Nós poderíamos ter sido irmãs." "É minha culpa," Thalia
falou, piscando muito. "Você estava certa sobre Luke, sobre heróis, homens -- sobre tudo." "Talvez não sobre todos os homens," Zoe murmurou. Ela sorriu fracamente
para mim. "Ainda tens aquela espada, Percy?"

Eu não conseguia falar, mas tirei Contracorrente do bolso e coloquei a caneta em sua mão. Ela a pegou, satisfeita. "Disseste a verdade, Percy Jackson. Tu não és
como... como Hércules. Sinto-me honrada por carregares esta espada." Um tremor correu pelo seu corpo. "Zoe --" eu disse. "Estrelas," ela sussurrou. "Posso ver as
estrelas novamente, minha senhora." Uma lágrima rolou pela face de Ártemis. "Sim, minha corajosa. Elas estão lindas esta noite." "Estrelas," Zoe repetiu. Seus olhos
se fixaram no céu noturno. E ela não se mexeu mais. Thalia abaixou a cabeça. Annabeth reprimiu um soluço, e seu pai colocou as mãos sobre seus ombros. Eu observei
conforme Ártemis pôs suas mãos em concha sobre os lábios de Zoe e pronunciou algumas palavras em grego antigo. Uma fina linha de fumaça prateada exalou dos lábios
abertos de Zoe e foi parar nas mãos da deusa. O corpo de Zoe cintilou e desapareceu. Ártemis se levantou, proferiu algum tipo de bênção, soprou em suas mãos unidas
e liberou a poeira prateada para o céu. A poeira flutuou, reluzindo, e sumiu. Por um momento eu não vi nada diferente. Então Annabeth engasgou. Olhando acima para
o céu, eu vi que as estrelas estavam mais brilhantes agora. Elas formavam um padrão que eu nunca tinha percebido antes -- uma constelação brilhante que parecia muito
a figura de uma garota -- uma garota com um arco, correndo através do céu. "Deixe o mundo honrá-la, minha Caçadora," Ártemis disse. "Viva para sempre nas estrelas."
Não foi fácil para nós dizer adeus. Os raios e trovões ainda estavam se agitando sobre o Monte Tamalpais ao norte. Ártemis estava tão transtornada que tremeluzia
numa luz prateada. Isso me deixou nervoso, porque se ela de repente perdesse o controle e aparecesse em sua plena forma divina, nós iríamos nos desintegrar ao olhar
para ela. "Eu preciso ir ao Olimpo imediatamente," disse Ártemis. "Não serei capaz de levá-los, mas mandarei ajuda." A deusa pôs a mão no ombro de Annabeth. "Você
foi valente além dos limites, minha garota. Você fará o que é certo." Então ela olhou interrogativamente para Thalia, como se ela não estivesse certa sobre o que
fazer com essa filha mais nova de Zeus. Thalia parecia relutante em olhar para cima, mas algo a compeliu, e ela sustentou o olhar da deusa. Não sei ao certo o que
se passou entre elas, mas o olhar de Ártemis se suavizou com simpatia. Então ela se voltou para mim. "Você foi bem," ela disse. "Para um homem." Eu quis protestar.
Mas então percebi que era a primeira vez que ela não me chamava de garoto. Ela subiu em sua carruagem, que começou a brilhar. Nós desviamos os olhos. Houve um lampejo
prateado, e a deusa se foi. "Bem," Dr. Chase suspirou. "Ela era impressionante; embora eu deva assinalar que ainda prefiro Atena." Annabeth se voltou para ele. "Pai,
eu... eu sinto muito que --" "Shh." Ele a abraçou. "Faça o que for preciso, minha querida. Eu sei que isso não é fácil pra você." Sua voz estava um pouco falha,
mas ele deu a Annabeth um corajoso sorriso. Então eu ouvi o barulho de grandes asas. Três pégasos desceram através da neblina: dois cavalos brancos alados e um puramente
preto. "Blackjack!" chamei.

E aí, chefe! ele saudou. Conseguiu ficar vivo e bem sem mim? "Foi difícil," eu admiti. Eu trouxe Guido e Porkpie comigo. E aí?Beleza? Os outros dois pégasos disseram
em minha mente. Blackjack me olhou com preocupação, e então examinou Dr. Chase, Thalia e Annabeth. "Quer que a gente coloque algum desses manés pra correr?" "Nah,"
eu disse em voz alta. "Esses são meus amigos. Nós precisamos chegar ao Olimpo bem rápido." Sem problemas, Blackjack falou. Exceto pelo mortal ali. Espero que ele
não vá. Assegurei a ele que o Dr. Chase não iria. O professor estava encarando boquiaberto os pégasos. "Fascinante," ele disse. "Mas que maneabilidade! Como a envergadura
das asas compensa o peso do corpo do cavalo, eu pergunto?" Blackjack ergueu sua cabeça. Heeeein? "Porque, se os ingleses tivessem esses pégasos nos ataques da cavalaria
na Crimeia," Dr. Chase falou, "o ataque da brigada da luz --" "Pai!" Annabeth interrompeu. Dr. Chase piscou. Ele olhou para sua filha e sorriu. "Desculpe, querida,
eu sei que você deve ir." Ele lhe deu um último abraço desajeitado e bem-intencionado. Quando ela se virou para montar no pégaso Guido, Dr. Chase a chamou, "Annabeth.
Eu sei... eu sei que São Francisco é um lugar perigoso para você. Mas, por favor, lembre-se que você sempre terá um lar conosco. Nós a manteremos segura." Annabeth
não respondeu, mas seus olhos estavam vermelhos quando ela se virou. Dr. Chase começou a dizer mais, mas pareceu pensar melhor sobre isso. Ele levantou sua mão em
um aceno triste e caminhou pesadamente através do campo escuro. Thalia e Annabeth e eu montamos em nossos pégasos. Juntos nós sobrevoamos a baía e fomos rumo às
colinas orientais. Logo, São Francisco era apenas um brilho crescente atrás de nós, com um ocasional raio lampejando ao Norte. Thalia estava tão exausta que caiu
no sono nas costas de Porpkie. Eu sabia que ela devia estar realmente cansada para dormir em pleno ar, apesar do seu medo de alturas, mas ela não tinha muito com
o que se preocupar. O seu pégaso voava suavemente, ajustando-se de vez em quando para que Thalia ficasse segura em suas costas. Annabeth e eu voávamos juntos, lado
a lado. "Seu pai parece ser legal," eu disse a ela. Estava escuro demais para ver sua expressão. Ela olhou para trás, mesmo que a Califórnia estivesse bem atrás
de nós agora. "Eu acho que sim," ela falou. "Nós discutimos por tantos anos." "É, você disse." "Você acha que eu estava mentindo sobre isso?" Isso soou como um desafio,
mas feito sem força, como se ela estivesse perguntando a si mesma. "Eu não disse que você estava mentindo. É só que... ele parece ser legal. E sua madrasta também.
Talvez eles tenham, hum, ficado mais simpáticos desde a última vez em que você os viu." Ela hesitou. "Eles ainda estão em São Francisco, Percy. Eu não posso viver
tão longe do acampamento." Eu não queria fazer minha próxima pergunta. Estava com medo da resposta. Mas eu perguntei de qualquer jeito. "Então o que você vai fazer
agora?"

Nós voávamos sobre uma cidade, uma ilha de luzes no meio da escuridão. Ela passou por nós tão rápido que podíamos estar em um avião. "Eu não sei," ela admitiu. "Mas
obrigada por me resgatar." "Ei, não foi nada. Nós somos amigos." "Você não acreditou que eu estava morta?" "Nunca." Ela hesitou. "Nem Luke, sabe. Quero dizer...
ele não está morto." Eu a encarei. Não sabia se ela estava desmoronando por causa do estresse ou o quê. "Annabeth, aquela queda foi bem feia. Não há como --" "Ele
não está morto," ela insistiu. "Eu sei disso. Do mesmo jeito que você sabia sobre mim." Essa comparação não me fez muito feliz. As cidades estavam passando rapidamente
agora, ilhas de luz bem juntas, até que toda a paisagem abaixo era um carpete brilhante. A alvorada estava próxima. O céu oriental estava se tornando cinza. E um
pouco acima, um imenso brilho branco e amarelo se estendia à nossa frente -- as luzes de Nova Iorque. E quanto à velocidade, chefe? Blackjack se vangloriou. Ganhamos
feno extra no café da manhã ou o quê? "Você é o cara, Blackjack," eu disse. "Er, o cavalo, quero dizer." "Você não acredita em mim sobre Luke," Annabeth falou, "mas
nós o veremos de novo. Ele está com problemas, Percy. Ele está sob o feitiço de Cronos." Não me senti com humor para discutir, apesar disso ter me deixado zangado.
Como ela ainda podia ter sentimentos por aquele canalha? Como ela podia arranjar desculpas para ele? Ele mereceu aquela queda. Ele mereceu... ok, eu vou dizer, ele
mereceu morrer. Diferente de Bianca. Diferente de Zoe. Luke não podia estar vivo. Não seria justo. "Ali está." A voz de Thalia; ela havia acordado. Ela estava apontando
na direção de Manhattan, que estava aparecendo rapidamente. "Começou." "O que começou?" perguntei. Então eu olhei para onde ela estava apontando. Bem acima do edifício
Empire State, o Olimpo era sua própria ilha de luz, uma montanha flutuante brilhando com tochas e braseiros, palácios de mármore branco reluzindo no céu matinal.
"O solstício de inverno," disse Thalia. "O Conselho dos Deuses."

DEZENOVE

OS DEUSES VOTAM COMO NOS MATAR
Voar era suficientemente ruim para um filho de Poseidon, mas voar direto para o palácio de Zeus, com trovões e relâmpagos rodopiando em volta, era ainda pior. Nós
circulamos sobre o centro de Manhattan, fazendo uma órbita completa em torno do Monte Olimpo. Eu estivera lá apenas uma vez, viajando de elevador até o secreto sexcentésimo
andar do edifício Empire State. Dessa vez, se possível, o Olimpo me fascinou ainda mais. Na escuridão do começo da manhã, tochas e fogueiras faziam os palácios da
encosta da montanha reluzirem em vinte cores diferentes, de vermelho sangue a azul índigo. Aparentemente, ninguém dormia no Olimpo. As ruas retorcidas estavam cheias
de semideuses, espíritos da natureza, e deuses menores fazendo alvoroço, montando carruagens ou liteiras carregadas por ciclopes. O inverno parecia não existir aqui.
Capturei o aroma de jardins em plena florescência, jasmins, rosas e coisas ainda mais doces que eu não sabia o nome. Música flutuava vinda de várias janelas, os
sons suaves de liras e flautas de bambu. Elevando-se no pico da montanha estava o mais grandioso palácio de todos, o reluzente salão branco dos deuses. Nossos pégasos
nos deixaram no pátio externo, em frente a enormes portões de prata. Antes que eu sequer pensasse em bater, os portões se abriram por conta própria. Boa sorte, chefe,
Blackjack disse. "É." Não sabia por que, mas eu tinha uma sensação de condenação. Eu nunca tinha visto todos os deuses juntos. Sabia que qualquer um deles poderia
me reduzir a pó, e alguns deles gostariam de fazê-lo. Ei, se você não voltar, posso usar seu chalé como meu estábulo? Olhei para o pégaso. Só pensando, ele disse.
Desculpe. Blackjack e seus amigos voaram, deixando Thalia, Annabeth e eu sozinhos. Por um minuto nós ficamos lá observando o local, do jeito que ficamos juntos em
frente ao Westover Hall, o que parecia ter acontecido há um milhão de anos. E então, lado a lado, entramos na sala do trono. Doze enormes tronos faziam um U em volta
da lareira central, como o posicionamento dos chalés no acampamento. O teto acima brilhava com constelações -- até mesmo a mais nova, Zoe a Caçadora, fazendo seu
caminho através dos céus com seu arco preparado. Todos os assentos estavam ocupados. Cada deus e deusa tinha cerca de cinco metros, e eu te digo, se você alguma
vez teve uma dúzia de indivíduos todo-poderosos e superenormes voltando seus olhos para você de uma vez... Bem, de repente, enfrentar monstros parecia um piquenique.
"Bem-vindos, heróis," Ártemis disse. "Mooo!" Foi quando eu notei Bessie e Grover.

Uma esfera de água estava pairando no centro da sala, próxima à fogueira da lareira. Bessie estava nadando em volta alegre, balançando sua cauda de serpente e cutucando
com a cabeça as laterais e o fundo da esfera. Ele parecia estar curtindo a novidade de nadar numa bolha mágica. Grover estava se ajoelhando perante o trono de Zeus,
como se tivesse acabado de dar um relatório, mas quando nos viu, ele gritou, "Vocês conseguiram!" Ele começou a correr em minha direção, então se lembrou que estava
dando as costas para Zeus, e olhou pedindo permissão. "Pode ir," Zeus disse. Mas ele não estava realmente prestando atenção em Grover. O lorde do céu estava encarando
atentamente Thalia. Grover trotou até mim. Nenhum dos deuses falou. Cada ruído dos cascos de Grover ecoava no piso de mármore. Bessie fazia estardalhaço em sua bolha
de água. A fogueira central crepitava. Olhei nervosamente para meu pai, Poseidon. Ele estava vestido de forma parecida com a última vez que eu o vira: bermuda de
praia, uma camiseta havaiana e sandálias. Ele tinha o rosto ressecado e bronzeado com uma barba escura e profundos olhos verdes. Eu não tinha certeza de como ele
se sentiria me vendo de novo, mas os cantos de seus olhos enrugaram com linhas de sorriso. Ele acenou com a cabeça como se fosse dizer Está tudo bem. Grover deu
grandes abraços em Annabeth e Thalia. Então ele agarrou meus braços. "Percy, Bessie e eu conseguimos! Mas você tem que convencê-los! Eles não podem fazer isso!"
"Fazer o quê?" perguntei. "Heróis," Ártemis chamou. A deusa deslizou de seu trono e adquiriu tamanho humano, uma jovem garota de cabelo castanho avermelhado, perfeitamente
sossegada em meio aos gigantes Olimpianos. Ela andou em nossa direção, suas roupas prateadas cintilando. Não havia emoção em seu rosto. Ela parecia caminhar em uma
coluna de luar. "O Conselho foi informado dos seus feitos," Ártemis nos disse. "Eles sabem que o Monte Ótris está se erguendo no Oeste. Eles sabem da tentativa de
libertação de Atlas, e dos exércitos reunidos de Cronos. Votamos por agir." Houve um balbuciar e conversas confusas entre os deuses, como se eles não estivessem
todos muito felizes com este plano, mas ninguém protestou. "Ao comando de meu Lorde Zeus," Ártemis disse, "meu irmão Apolo e eu devemos caçar os mais poderosos monstros,
buscando atacá-los antes que eles se unam à causa dos Titãs. Lady Atena deve checar pessoalmente os outros Titãs para ter certeza de que eles não escapem de suas
diversas prisões. Lorde Poseidon obteve permissão para liberar toda sua fúria no navio de cruzeiro Princesa Andrômeda e mandá-lo para o fundo do mar. E quanto a
vocês, meus heróis..." Ela se virou para encarar os outros imortais. "Estes meio-sangues prestaram um ótimo serviço para o Olimpo. Alguém aqui negaria isso?" Ela
olhou em volta para os deuses reunidos, encontrando as faces deles individualmente. Zeus em seu escuro terno risca de giz, sua barba preta limpamente aparada, e
seus olhos faiscando com energia. Ao seu lado se sentava uma bela mulher com cabelo prateado trançado sobre um ombro e um vestido que cintilava cores parecidas com
as das penas de pavão. A Lady Hera. À direita de Zeus, meu pai Poseidon. Ao lado dele, uma grande massa que era um homem com a perna em um suporte de aço, uma cabeça
disforme, uma selvagem barba castanha, fogo tremeluzindo através de suas suíças. O Lorde das Forjas, Hefesto.

Hermes piscou para mim. Ele estava vestindo um terno empresarial hoje, checando mensagens em seu celular caduceu. Apolo estava inclinado para trás em seu trono dourado
usando seus óculos escuros. Ele estava usando fones de iPod, então eu não tinha certeza se ele ao menos estava escutando, mas ele levantou o polegar para mim. Dioniso
parecia entediado, enrolando uma vinha entre os dedos. E Ares, bem, ele estava sentado em seu trono de cromo e couro olhando ameaçadoramente para mim enquanto afiava
uma faca. No lado feminino da sala do trono, uma deusa de cabelos escuros em roupas verdes sentava-se ao lado de Hera em um trono tecido com ramos de macieira. Deméter,
Deusa da Colheita. Ao lado dela se sentava uma bonita mulher de olhos cinzas em um elegante vestido branco. Ela só podia ser a mãe de Annabeth, Atena. Então lá estava
Afrodite, que sorria para mim de propósito e me fez enrubescer contra a minha vontade. Todos os Olimpianos em um só lugar. Tanto poder nesta sala, era um milagre
que o palácio inteiro não explodisse. "Tenho que dizer," Apolo quebrou o silêncio, "essas crianças se saíram muito bem." Ele pigarreou e começou a recitar: "Heróis
ganham louros --" "Hum, sim, primeira classe," Hermes interrompeu, como se estivesse ansioso para evitar a poesia de Apolo. "Todos a favor de não desintegrá-los?"
Algumas mãos subiram na tentativa -- Deméter, Afrodite. "Espere só um minuto," Ares rosnou. Ele apontou para Thalia e para mim. "Esses aí são perigosos. Seria muito
mais seguro, enquanto temos os dois aqui --" "Ares," Poseidon interrompeu. "Eles são heróis notáveis. Não vamos explodir meu filho em pedaços." "Nem minha filha,"
Zeus resmungou. "Ela se saiu bem." Thalia corou. Ela estudou o chão. Eu sabia como ela se sentia. Eu quase nunca falava com meu pai, menos ainda ganhava um elogio.
A deusa Atena pigarreou e sentou mais a frente. "Também estou orgulhosa de minha filha. Mas há um risco de segurança aqui com os outros dois." "Mãe!" Annabeth disse.
"Como você pode --" Atena a cortou com um olhar calmo, mas firme. "É lamentável que meu pai, Zeus, e meu tio, Poseidon, tenham escolhido quebrar seu juramento de
não ter mais filhos. Apenas Hades manteve sua palavra, um fato que acho irônico. Como nós sabemos pela Grande Profecia, crianças dos três deuses mais velhos... como
Thalia e Percy... são perigosas. Mesmo sendo cabeça dura como ele é, Ares tem um argumento." "Certo!" Ares disse. "Ei, espere um minuto. Quem você está chamando
--" Ele começou a se levantar, mas uma videira cresceu ao redor de sua cintura como um cinto de segurança e o puxou de volta. "Oh, por favor, Ares," Dioniso suspirou.
"Poupe a briga para depois." Ares praguejou e arrancou a videira. "Você é quem deve falar, seu velho bêbado. Você seriamente quer proteger esses pirralhos?" Dioniso
olhou para nós enfadonhamente. "Não tenho amor por eles. Atena, você realmente pensa que é mais seguro destruí-los?" "Eu não passo o julgamento," Atena disse. "Apenas
aponto o risco. O que nós fazemos, o Conselho deve decidir." "Eu não vou puni-los," Ártemis falou. "Vou recompensá-los. Se nós destruímos heróis que nos fazem um
grande favor, então não somos melhores que os Titãs. Se esta é a justiça Olimpiana, não terei nada com ela." "Calma, maninha," Apolo disse. "Céus, você precisa relaxar."
"Não me chame de maninha! Eu vou recompensá-los."

"Bem," Zeus resmungou. "Talvez. Mas pelo menos o monstro tem que ser destruído. Concordamos quanto a isso?" Um bocado de cabeças assentindo. Levou um segundo para
eu perceber do que eles estavam falando. Então meu coração se transformou em chumbo. "Bessie? Vocês querem destruir Bessie?" "Mooooooo!" Bessie protestou. Meu pai
franziu a testa. "Você deu o nome de Bessie para o Ofiotauro?" "Pai," eu disse, "ele é apenas uma criatura marinha. Uma criatura marinha realmente legal. Você não
pode destruí-lo." Poseidon mudou de posição, desconfortável. "Percy, o poder do monstro é considerável. Se os Titãs o roubarem, ou --" "Vocês não podem," insisti.
Olhei para Zeus. Eu provavelmente deveria estar com medo dele, mas encarei seus olhos diretamente. "Controlar profecias nunca funciona. Não é verdade? Além do mais
Bess -- o Ofiotauro é inocente. Matar algo desse jeito é errado. É tão errado quanto... Cronos comer seus filhos, apenas por causa de alguma coisa que eles poderiam
fazer. É errado!" Zeus pareceu considerar isto. Seus olhos flutuaram para sua filha Thalia. "E quanto ao risco? Cronos sabe muito bem, se um de vocês sacrificar
as entranhas da fera, teria o poder para nos destruir. Você acha que nós podemos deixar essa possibilidade remanescer? Você, minha filha, vai fazer dezesseis anos
amanhã, justamente como diz a profecia." "Vocês têm que confiar neles," Annabeth falou. "Senhor, você tem que confiar neles." Zeus franziu as sobrancelhas. "Confiar
em um herói?" "Annabeth está certa," Ártemis disse. "E é por isso que devo fazer primeiro a retribuição. Minha fiel companheira, Zoe Nightshade, passou para as estrelas.
Eu devo ter uma nova tenente. E eu pretendo escolher uma. Mas primeiro, Pai Zeus, devo falar com você em particular." Zeus acenou para Ártemis vir à frente. Ele
se inclinou e escutou enquanto ela falava em seu ouvido. Um sentimento de pânico se apoderou de mim. "Annabeth," eu disse em um sussurro. "Não." Ela franziu a testa
para mim. "O quê?" "Olhe, eu preciso te contar uma coisa," continuei. As palavras vieram tropeçando para fora de mim. "Eu não conseguiria aguentar se... Não quero
que você --" "Percy?" ela disse. "Parece que você vai passar mal." E era assim que eu me sentia. Queria falar mais, mas minha língua me traiu. Ela não se movia por
causa do medo em meu estômago. E então Ártemis se virou. "Terei uma nova tenente," ela anunciou. "Se ela aceitar." "Não," eu murmurei. "Thalia," Ártemis disse. "Filha
de Zeus. Você vai se juntar à Caça?" Um silêncio pasmo encheu a sala. Olhei fixamente para Thalia, incapaz de acreditar no que estava ouvindo. Annabeth sorriu. Ela
apertou a mão de Thalia e depois a soltou, como se estivesse esperando por isso o tempo todo. "Eu vou," Thalia disse, firme. Zeus se levantou, seus olhos cheios
de preocupação. "Minha filha, considere bem --" "Pai," ela disse. "Eu não vou fazer dezesseis amanhã. Nunca farei dezesseis. Não deixarei essa profecia ser minha.
Eu fico com minha irmã Ártemis. Cronos nunca mais vai me tentar."

Ela se ajoelhou perante a deusa e iniciou as palavras que eu me lembrava do juramento de Bianca, o que parecia ter acontecido há tanto tempo. "Eu me submeto à deusa
Ártemis. Eu abandono a companhia dos homens..." Depois disso, Thalia fez algo que me surpreendeu quase tanto quanto o juramento. Ela veio até mim, sorriu, e na frente
de toda a assembléia me deu um grande abraço. Eu corei. Quando ela se afastou e apertou meus ombros, eu disse, "Hum... supostamente você não deveria mais fazer isso?
Abraçar garotos, quero dizer?" "Estou honrando um amigo," ela corrigiu. "Eu devo me juntar à Caça, Percy. Eu não sei o que é paz desde... desde a Colina Meio-Sangue.
Eu finalmente sinto que tenho um lar. Mas você é um herói. Você vai ser aquele da profecia." "Ótimo," sussurrei. "Estou orgulhosa de ser sua amiga." Ela abraçou
Annabeth, que estava tentando arduamente não chorar. Então ela até abraçou Grover, que parecia prestes a desmaiar, como se alguém tivesse dado a ele um cupom de
tudo-o-que-você-puder-comer de enchiladas. Então Thalia foi se postar ao lado de Ártemis. "Agora quanto ao Ofiotauro," Ártemis disse. "Este garoto ainda é perigoso,"
Dioniso alertou. "A fera é uma tentação para um grandioso poder. Mesmo se pouparmos o garoto --" "Não," olhei em volta para todos os deuses. "Por favor. Mantenham
o Ofiotauro seguro. Meu pai pode escondê-lo em algum lugar no fundo do mar, ou mantê-lo num aquário aqui no Olimpo. Mas vocês têm que protegê-lo." "E por que nós
deveríamos confiar em você?" atirou Hefesto. "Tenho apenas catorze anos," falei. "Se essa profecia é sobre mim, ainda tem mais dois anos." "Dois anos para Cronos
enganar você," Atena disse. "Muito pode mudar em dois anos, meu jovem herói." "Mãe!" Annabeth disse, exasperada. "É unicamente a verdade, criança. É uma estratégia
ruim manter o animal vivo. Ou o garoto." Meu pai se levantou. "Não terei uma criatura marinha destruída, se eu puder ajudar. E eu posso ajudar." Ele estendeu a mão,
e um tridente apareceu nela: uma haste de bronze de seis metros de comprimento com três pontas de lança que cintilava com uma luz azul aquosa. "Vou garantir pelo
garoto e pela segurança do Ofiotauro." "Você não vai levá-lo para o fundo do mar!" Zeus se levantou abruptamente. "Não deixarei esse tipo de moeda de troca em seu
poder." "Irmão, por favor," Poseidon suspirou. O relâmpago de Zeus apareceu em sua mão, uma lança de eletricidade que encheu a sala inteira com o cheiro de ozônio.
"Está bem," Poseidon disse. "Construirei um aquário para a criatura aqui. Hefesto pode me ajudar. A criatura ficará segura. Nós devemos protegê-la com todos os nossos
poderes. O garoto não nos trairá. Eu garanto isso por minha honra." Zeus pensou sobre isso. "Todos a favor?" Para minha surpresa, muitas mãos se levantaram. Dioniso
se absteve. Assim como Ares e Atena. Mas todos os outros... "Temos uma maioria," Zeus decretou. "E então, já que não vamos destruir esses heróis... Imagino que devemos
homenageá-los. Que comece a celebração do triunfo!"

Existem festas, e existem festas enormes, maiores e de arrasar. E então existem as festas Olimpianas. Se alguma vez você tiver escolha, vá para a Olimpiana. As Nove
Musas deram início às melodias, e percebi que a música era o que você queria que fosse: os deuses podiam escutar as clássicas e os jovens semideuses ouviam hip-hop
ou qualquer outra coisa, e era tudo a mesma trilha sonora. Sem discussões. Sem brigas para mudar a estação de rádio. Apenas pedidos para aumentar o volume. Dioniso
andava em volta fazendo crescer do chão barracas de refrescos, e uma bela mulher caminhava com ele de braços dados -- sua esposa, Ariadne. Dioniso parecia feliz
pela primeira vez. Néctar e ambrosia transbordavam das fontes douradas, e travessas de petiscos mortais lotavam as mesas do banquete. Cálices de ouro cheios com
qualquer bebida que você quisesse. Grover trotou por aí com um prato cheio de latas de alumínio e enchiladas, e seu cálice estava cheio de café expresso duplo com
leite, sobre o qual ele continuava murmurando como um encantamento: "Pan! Pan!" Deuses continuavam chegando para me parabenizar. Fiquei agradecido por eles terem
se reduzido ao tamanho humano, assim eles não esmagavam acidentalmente os convidados debaixo de seus pés. Hermes começou a conversar comigo, e ele estava tão animado
que eu odiava ter que contar a ele o que tinha acontecido com o seu filho menos favorito, Luke, mas antes que eu ao menos reunisse coragem, Hermes recebeu uma ligação
em seu caduceu e foi embora. Apolo me contou que eu poderia dirigir sua carruagem solar a qualquer hora, e se alguma vez eu quisesse aulas de arco e flecha -- "Obrigado,"
falei para ele. "Mas é sério, não sou nada bom no arco e flecha." "Ah, bobagem," ele disse. "Treino com alvos enquanto voamos na carruagem sobre os Estados Unidos?
Melhor diversão que existe!" Dei algumas desculpas e costurei pelos grupos que estavam dançando nos jardins do palácio. Estava procurando por Annabeth. Da última
vez que a vi, ela estava dançando com algum deus menor. Então uma voz masculina atrás de mim disse, "Você não vai me desapontar, espero." Eu me virei e achei Poseidon
sorrindo para mim. "Pai... oi." "Olá, Percy. Você se saiu bem." O elogio dele me deixou desconfortável. Quero dizer, eu me senti bem, mas sabia o quanto ele tinha
se posto no limite, garantindo por mim. Teria sido muito mais fácil deixar os outros me desintegrarem. "Não vou desapontar você," prometi. Ele assentiu. Eu tinha
problemas em ler as emoções dos deuses, mas imaginei se ele tinha algumas dúvidas. "Seu amigo Luke --" "Ele não é meu amigo," eu disse abruptamente. Então percebi
que provavelmente era rude interromper. "Desculpe." "Seu ex-amigo Luke," corrigiu Poseidon. "Ele certa vez prometeu coisas assim. Ele era o orgulho e a alegria de
Hermes. Apenas tenha isso em mente, Percy. Mesmo os mais valentes podem cair." "Luke caiu pra valer," concordei. "Ele está morto." Poseidon balançou a cabeça. "Não,
Percy. Ele não está." Eu o encarei. "O quê?" "Acredito que Annabeth lhe contou isso. Luke ainda vive. Eu vi. Seu barco parte de São Francisco com os restos de Cronos
mesmo agora. Ele vai recuar e reagrupar antes de atacar você novamente. Vou fazer o máximo para destruir o barco dele com

tempestades, mas ele está fazendo alianças com meus inimigos, os antigos espíritos do oceano. Eles vão lutar para protegê-lo." "Como ele pode estar vivo?" falei.
"Com aquela queda ele deveria estar morto!" Poseidon pareceu incomodado. "Eu não sei, Percy, mas tenha cuidado com ele. Ele está mais perigoso do que nunca. E o
caixão dourado ainda está com ele, ainda ganhando força." "E quanto ao Atlas?" eu disse. "O que existe para evitar que ele escape de novo? Ele não poderia apenas
forçar algum gigante ou algo do tipo a carregar o céu por ele?" Meu pai bufou de escárnio. "Se fosse tão fácil, ele já teria escapado há muito tempo. Não, meu filho.
A maldição do céu só pode ser forçada sobre um Titã, uma das crianças de Gaia e Urano. Qualquer outra pessoa deve escolher levar o fardo por sua própria e livre
vontade. Somente um herói, alguém com força, um coração verdadeiro, e grande coragem, faria tal coisa. Ninguém no exército de Cronos se arriscaria a tentar carregar
esse peso, mesmo sob pena de morte." "Luke conseguiu," eu disse. "Ele libertou Atlas. Então ele iludiu Annabeth para salvá-lo e a usou para convencer Ártemis a carregar
o céu." "Sim," Poseidon disse. "Luke é... um caso interessante." Acho que ele queria falar mais, mas bem nesse momento, Bessie começou a mugir do outro lado do jardim.
Alguns semideuses estavam brincando com sua esfera de água, alegremente empurrando para frente e para trás por cima da multidão. "É melhor eu cuidar disso," Poseidon
resmungou. "Não podemos deixar o Ofiotauro ser arremessado por aí como uma bola de praia. Fique bem, meu filho. Não devemos nos falar de novo por algum tempo." E
desse jeito ele se foi. Estava prestes a continuar procurando pela multidão quando outra voz falou. "Seu pai corre um grande risco, sabe." Eu me encontrei frente
a frente com uma mulher de olhos cinzas que se parecia tanto com Annabeth que quase a chamei assim. "Atena," tentei não soar ressentido, depois da forma como ela
me descartara no conselho, mas acho que não escondi muito bem. Ela sorriu secamente. "Não me julgue tão rigorosamente, meio-sangue. Sábios conselhos não são sempre
populares, mas falo a verdade. Você é perigoso." "Você nunca corre riscos?" Ela assentiu. "Eu admito o argumento. Talvez você seja útil. E ainda... seu defeito mortal
pode nos destruir tanto quanto a você mesmo." Meu coração foi parar na minha garganta. Um ano atrás, Annabeth e eu tivemos uma conversa sobre defeitos mortais. Todo
herói tinha um. O dela, ela disse, era orgulho. Ela acreditava que podia fazer qualquer coisa... como carregar o mundo, por exemplo. Ou salvar Luke. Mas eu realmente
não sabia qual era o meu. Atena quase pareceu pesarosa por mim. "Cronos conhece o seu defeito, mesmo que você não. Ele sabe como estudar seus inimigos. Pense, Percy.
Como ele manipulou você? Primeiro, sua mãe foi tirada de você. Depois seu melhor amigo, Grover. Agora minha filha, Annabeth." Ela parou, reprovando. "Em cada caso,
aqueles que você ama foram usados para fisgar você em uma das armadilhas de Cronos. Seu defeito mortal é a lealdade pessoal, Percy. Você não sabe quando é hora de
cortar suas perdas. Para salvar um amigo, você sacrificaria o mundo. No herói da profecia, isso é muito, muito perigoso." Cerrei meus punhos. "Isso não é um defeito.
Só porque eu quero ajudar meus amigos -- "

"Os defeitos mais perigosos são aqueles bons com moderação," ela disse. "O mal é fácil de combater. A falta de sabedoria... isso é muito difícil, certamente." Eu
quis argumentar, mas descobri que não conseguiria. Atena era inteligente demais. "Espero que a decisão do Conselho se prove sábia," Atena disse. "Mas estarei vigiando,
Percy Jackson. Não aprovo sua amizade com a minha filha. Não acho sábio para nenhum dos dois. E você deveria começar a vacilar em suas lealdades..." Ela fixou em
mim seu olhar frio e cinza, e percebi que terrível inimiga Atena seria, dez vezes pior que Ares ou Dioniso ou talvez até meu pai. Atena nunca desistiria. Ela nunca
faria algo precipitado ou estúpido somente porque te odiava, e se ela fizesse um plano para te destruir, ele não falharia. "Percy!" Annabeth disse, correndo através
da multidão. Ela parou abruptamente quando viu com quem eu estava falando. "Oh... Mãe." "Vou deixar vocês," Atena disse. "Por agora." Ela se virou e caminhou pelo
meio da multidão, que se repartia diante dela como se ela estivesse carregando Aegis. "Ela estava sendo difícil com você?" Annabeth perguntou. "Não," falei. "Está...
tudo bem." Ela me estudou com preocupação. Ela tocou a nova mecha cinza em meu cabelo que combinava exatamente com a dela -- nossa dolorosa lembrança por ter carregado
o fardo de Atlas. Havia muito que eu queria falar para Annabeth, mas Atena tirara a confiança de mim. Senti como se tivesse levado um soco no estômago. Não aprovo
sua amizade com a minha filha. "Então," Annabeth disse. "O que você queria me falar mais cedo?" A música estava tocando. Pessoas estavam dançando nas ruas. Eu disse,
"Eu, hã, estava pensando que fomos interrompidos em Westover Hall. E... acho que lhe devo uma dança." Ela sorriu vagarosamente. "Tudo bem, Cabeça de Alga." Então
peguei a mão dela, e não sei o que todo o resto ouvia, mas para mim soava como uma música lenta: um pouco triste, mas talvez um pouco esperançosa, também.

VINTE

EU CONSIGO UM NOVO INIMIGO PARA O NATAL
Antes de deixar o Olimpo, decidi fazer alguns telefonemas. Não foi fácil, mas eu finalmente encontrei uma fonte em um lugar sossegado e enviei uma mensagem de Íris
para meu irmão Tyson, no fundo do mar. Contei a ele sobre nossas aventuras, e Bessie -- ele queria saber todos os detalhes sobre a fofa vaca-serpente bebê -- e eu
assegurei a ele que Annabeth estava segura. Finalmente consegui explicar como o escudo que ele me fez no verão passado foi danificado pelo ataque da mantícora. "Legal!"
falou Tyson. "Isso significa que ele era bom! Salvou sua vida!" "Realmente salvou, grandão," disse. "Mas agora está destruído." "Não destruído," Tyson prometeu.
"Eu vou visitar você e consertar o escudo no próximo verão." A ideia me pegou instantaneamente. Acho que não tinha percebido o quanto eu sentia falta de ter Tyson
por perto. "Sério?" perguntei. "Eles vão deixar você tirar férias?" "Sim! Eu fiz duas mil setecentos e quarenta e uma espadas mágicas," Tyson falou orgulhosamente,
mostrando-me a lâmina mais recente. "O chefe disse `bom trabalho'! Ele vai me deixar tirar o verão todo de folga. Eu vou visitar o acampamento!" Nós falamos algum
tempo sobre os preparativos de guerra e a luta do nosso pai contra os antigos deuses do mar, e todas as coisas legais que poderíamos fazer juntos no próximo verão,
mas então o chefe de Tyson começou a gritar e ele teve que voltar ao trabalho. Eu joguei meu último dracma de ouro e fiz mais uma mensagem de Íris. "Sally Jackson!"
falei. "Upper East Side, Manhattan." A névoa tremulou, e lá estava ela na nossa mesa de cozinha, rindo e segurando as mãos do amigo dela, Sr. Baiacu. Eu me senti
constrangido, e estava prestes a agitar minha mão através da névoa e cortar a ligação, mas antes que eu pudesse, minha mãe me viu. Seus olhos se arregalaram. Ela
soltou a mão do Sr. Baiacu realmente rápido. "Oh, Paul! Você sabe o quê? Eu deixei meu diário na sala de estar. Você poderia pegar para mim?" "Claro, Sally. Sem
problemas." Ele deixou a sala, e instantaneamente minha mãe olhou para mensagem de Íris. "Percy! Você está bem?" "Eu estou, hum, bem. Como vai aquele seminário de
redação?" Ela franziu os lábios. "Está indo bem. Mas isso não é importante. Diga o que aconteceu!" Eu contei a ela o mais rápido que pude. Ela suspirou aliviada
quando ouviu que Annabeth estava salva. "Eu sabia que você podia fazer isso!" ela falou. "Estou tão orgulhosa." "É, bem, é melhor eu deixar você voltar pro seu dever
de casa." "Percy, eu... Paul e eu --" "Mãe, você esta feliz?" A pergunta pareceu surpreendê-la. Ela pensou por um momento. "Sim. Eu realmente estou, Percy. Estar
perto dele me faz feliz."

"Então está bem. Sério. Não se preocupe comigo." A coisa engraçada foi que eu quis dizer aquilo. Considerando a pergunta que eu tinha feito, talvez eu devesse ficar
preocupado com minha mãe. Eu acabara de ver como pessoas ruins eram para as outras, como Hércules foi para Zoe Nightshade, como Luke foi para Thalia. Eu havia conhecido
Afrodite, Deusa do amor, em pessoa, e os poderes dela me assustaram mais do que Ares. Mas vendo minha mãe rindo e sorrindo, depois de todos os anos que ela sofreu
com meu ex-padrasto nojento, Gabe Ugliano, eu não pude evitar me se sentir feliz por ela. "Você promete não chamá-lo de Sr. Baiacu?" ela perguntou. Eu encolhi os
ombros. "Bem, talvez não na frente dele, de qualquer maneira." "Sally?" Sr Bayck a chamou da nossa sala. "Você precisa do de capa verde ou vermelha?" "Acho melhor
eu ir," ela me falou."Vejo você no Natal?" "Você está colocando doce azul na minha meia?" Ela sorriu. "Se você não estiver velho demais pra isso." "Eu nunca estou
velho demais pra doces." "Verei você então." Ela passou a mão na névoa. Sua imagem desapareceu, e eu pensei comigo mesmo que Thalia estivera certa há tantos dias
atrás em Westover Hall: minha mãe realmente era muito legal. Comparada ao Monte Olimpo, Manhattan estava calma. Sexta-feira antes do Natal, mas era de manhã cedo,
e dificilmente alguém estaria na Quinta Avenida. Argo, o chefe de segurança cheio de olhos, apanhou Annabeth, Grover, e a mim no Empire State e nos levou de volta
ao acampamento através de uma leve nevasca. A via expressa de Long Island estava quase deserta. Conforme nós subíamos a Colina Meio-Sangue até o pinheiro onde o
Velocino de Ouro brilhava, eu meio que esperava ver Thalia ali, esperando por nós. Mas ela não estava. Ela já havia partido com Ártemis e o resto das Caçadoras,
para sua próxima aventura. Quíron nos saudou na Casa Grande com chocolate quente e sanduíches de queijo. Grover foi com seus amigos sátiros para espalhar a palavra
sobre nosso estranho encontro com Pan. Dentro de uma hora, os sátiros estavam todos correndo em volta agitados, perguntando onde era a cafeteria mais próxima. Annabeth
e eu nos sentamos com Quíron e alguns dos campistas mais velhos -- Beckendorf, Silena Beauregard, e os irmãos Stoll. Até Clarisse do chalé de Ares estava lá, de
volta da sua missão secreta de exploração. Eu sabia que a missão devia ter sido difícil, porque ela sequer tentou me pulverizar. Ela tinha uma nova cicatriz no queixo,
e seu cabelo sujo e loiro foi cortado curto e irregular, como se alguém a tivesse atacado com uma tesoura cega. "Eu tenho novidades," ela falou inquieta. "Novidades
ruins." "Eu contarei a vocês mais tarde," Quíron falou com uma alegria forçada. "O importante é que vocês prevaleceram, e você salvou Annabeth!" Annabeth sorriu
para mim gratamente, o que me fez olhar para o lado. Por alguma estranha razão, eu me encontrei pensando sobre a Represa Hoover, e a estranha garota mortal que eu
conheci, Rachel Elizabeth Dare. Eu não sabia por que, mas eu ficava relembrando seus comentários irritantes. Você sempre mata as pessoas quando elas assoam o nariz?
Eu estava vivo somente porque tantas pessoas tinham me ajudado, até uma aleatória garota mortal como aquela. Eu sequer havia explicado a ela quem eu era.

"Luke está vivo," falei. "Annabeth estava certa." Annabeth sentou ereta, "Como você sabe?" Eu tentei não me sentir irritado com o interesse dela. Eu contei a ela
o que meu pai falara sobre o Princesa Andrômeda. "Bem," Annabeth se mexeu desconfortável em sua cadeira. "Se a batalha final ocorrer quando Percy tiver dezesseis
anos, pelo menos nós temos mais dois anos para pensar em alguma coisa." Eu tive a impressão que quando ela falou "pensar em alguma coisa", ela quis dizer "fazer
Luke mudar sua conduta", o que me aborreceu ainda mais. A expressão de Quíron era sombria. Sentado perto do fogo em sua cadeira de rodas ele parecia realmente velho.
Quer dizer... ele era realmente velho, mas normalmente ele não aparentava. "Dois anos podem parecer ser um longo tempo," ele disse. "Mas é um piscar de olhos. Eu
ainda espero que você não seja a criança da profecia, Percy. Mas se for, a segunda guerra dos Titãs está próxima. O primeiro ataque de Cronos será aqui." "Como você
sabe?" perguntei. "Por que ele se preocuparia com o acampamento?" "Porque os deuses usam os heróis como ferramentas," Quíron falou simplesmente. "Destrua as ferramentas,
e os deuses ficam sem armas. As forças de Luke virão para cá. Mortais, semideuses, monstros... Nós precisamos estar preparados. As novidades de Clarisse podem nos
dar uma pista sobre como eles irão atacar, mas --" Houve uma batida na porta, e Nico di Angelo entrou na sala respirando pesadamente, suas bochechas vermelhas por
causa do frio. Ele estava sorrindo, mas olhou ao redor ansioso. "Ei! Onde está... onde está minha irmã?" Silêncio absoluto. Eu encarei Quíron. Não podia acreditar
que ninguém havia contado a ele ainda. E então eu entendi a razão. Eles estiveram esperando que nós aparecêssemos, para contar a Nico em pessoa. Essa era a última
coisa que eu queria fazer. Mas eu devia a Bianca. "Ei. Nico." Eu levantei da minha cadeira confortável. "Vamos caminhar, ok? Nós precisamos conversar." Ele recebeu
as noticias em silêncio, o que de alguma forma fez parecer pior. Eu continuei falando, tentando explicar como havia acontecido, como Bianca se sacrificara para salvar
a missão. Mas eu senti como se estivesse somente tornando as coisas piores. "Ela queria que você tivesse isso." Mostrei a pequena estatueta de deus que Bianca tinha
encontrado no ferro-velho. Nico a colocou na palma de sua mão e olhou fixamente para ela. Nós estávamos no pavilhão-refeitório, exatamente onde nós tínhamos conversado
pela última vez antes de eu ir para a missão. O vento estava dolorosamente frio, mesmo com a proteção climática mágica do acampamento. Neve caia levemente nos degraus
de mármore. Eu imaginei fora dos limites do acampamento, devia estar acontecendo uma nevasca. "Você prometeu que iria protegê-la." Nico falou. Ele poderia muito
bem ter me esfaqueado com uma adaga enferrujada. Teria machucado menos do que me lembrar da minha promessa. "Nico," eu disse. "Eu tentei. Mas Bianca se entregou
para salvar o resto de nós. Eu falei para ela não fazer. Mas ela --" "Você prometeu!"

Ele olhou fixamente para mim, os contornos de seus olhos vermelhos. Ele fechou seu punho em volta da estatueta de deus. "Eu não devia ter confiado em você." Sua
voz quebrou. "Você mentiu pra mim. Meus pesadelos estavam certos." "Espere. Que pesadelos?" Ele atirou a estatueta no chão. Ela retiniu pelo mármore gelado. "Eu
odeio você!" "Ela pode estar viva," falei desesperadamente. "Eu não sei ao certo --" "Ela está morta." Ele fechou os olhos. Todo o seu corpo tremia de raiva. "Eu
devia saber disso mais cedo. Ela está nos campos de Asfódelos, diante dos juízes neste exato momento, sendo avaliada. Eu posso sentir isso." "O que você quer dizer,
você pode sentir isso?" Antes que ele pudesse responder, eu ouvi um novo som atrás de mim. Um sibilar, um tirintar que reconheci muito bem. Eu saquei minha espada
e Nico arquejou. Eu me virei e me encontrei encarando quatro guerreiros esqueletos. Eles sorriram um sorriso descarnado e avançaram com suas espadas na mão. Eu não
sei como eles entraram no acampamento, mas isso não importava. Eu nunca conseguiria ajuda a tempo. "Você esta tentando me matar!" Nico gritou. "Você trouxe essas...
essas coisas?" "Não! Quero dizer, sim, eles me seguiram, mas não! Nico, corra. Eles não podem ser destruídos." "Eu não confio em você!" O primeiro esqueleto atacou.
Eu joguei sua lâmina para o lado, mas os outros três continuavam vindo. Eu cortei um ao meio, mas imediatamente ele começou a se juntar. Eu arranquei a cabeça de
outro, mas ele continuou lutando. "Corra Nico!" gritei."Consiga ajuda!" "Não!" Ele pressionou suas mãos nos ouvidos. Eu não poderia lutar com quatro de uma vez,
não se eles não morressem. Eu cortei, girei, bloqueei, estoquei, mas eles continuaram avançando. Era uma questão de segundos antes que os zumbis me dominassem. "Não!"
Nico gritou mais alto. "Vão embora!" O chão tremeu sob mim. Os esqueletos congelaram. Eu saí do caminho no momento em que uma fenda se abriu aos pés dos quatro guerreiros.
O chão se partiu como uma boca aberta. Fogo irrompeu da fissura, e a terra engoliu os esqueletos com um sonoro CRUNCH! Silêncio. No lugar onde os esqueletos estiveram
uma cicatriz de seis metros atravessava o chão de mármore do pavilhão. De outra maneira não havia sinal dos guerreiros. Horrorizado, eu olhei para Nico. "Como você
--?" "Vá embora!" ele gritou. "Eu odeio você! Eu gostaria que você estivesse morto!" O chão não me engoliu, mas Nico desceu os degraus correndo, indo em direção
à floresta. Eu comecei a segui-lo, mas escorreguei e caí nos degraus gelados. Quando me levantei, percebi em que eu havia escorregado. Eu peguei a estátua de deus
que Bianca havia retirado do ferro-velho para Nico. A única estátua que ele não tem, ela falou. O último presente de sua irmã. Eu olhei para ela com pavor, pois
agora eu entendia porque a face me pareceu familiar. Eu já a tinha visto antes. Era a estátua de Hades, Senhor dos Mortos.

Annabeth e Grover me ajudaram a procurar na floresta por horas, mas não havia sinal de Nico di Angelo. "Nós temos que contar a Quíron," Annabeth falou, sem ar. "Não,"
eu disse. Ela e Grover me olharam. "Hum," Grover disse nervoso, "o que você quer dizer com... não?" Eu ainda estava tentando entender por que eu tinha dito aquilo,
mas as palavras saíram de mim. "Nós não podemos deixar ninguém saber. Eu acho que ninguém sabe que Nico é --" "Filho de Hades," Annabeth falou. "Percy, você tem
alguma ideia de como isso é sério? Até Hades quebrou o juramento! Isso é horrível!" "Eu acho que não," falei. "Eu não acho que Hades quebrou o juramento." "O quê?"
"Ele é pai dele," eu disse, "mas Bianca e Nico estiveram fora de circulação por um longo período, antes mesmo da Segunda Guerra Mundial." "O Lótus Cassino!" Grover
falou, e ele contou a Annabeth sobre as conversas que tivéramos com Bianca na missão. "Ela e Nico ficaram presos lá por décadas. Eles nasceram antes do juramento
ser feito." Eu assenti. "Mas como eles saíram?" Annabeth protestou. "Eu não sei," admiti. "Bianca disse que um advogado veio, pegou os dois e os levou para o Westover
Hall. Eu não sei quem fez isso ou por quê. Talvez seja parte dessa coisa de Grande Agitação. Eu não acho que Nico entende quem ele é. Mas nós não podemos sair contando
para ninguém. Nem mesmo para Quíron. Se os Olimpianos descobrirem --" "Isso poderia iniciar uma luta entre eles novamente," Annabeth falou. "Isso é a última coisa
de que precisamos." Grover parecia preocupado. "Mas não se pode esconder coisas dos deuses. Não para sempre." "Eu não preciso esconder para sempre," falei. "Apenas
dois anos. Até eu ter dezesseis." Annabeth empalideceu. "Mas, Percy, isso significa que a profecia pode não ser sobre você. Pode ser sobre Nico. Nós temos que --"
"Não," falei. "Eu escolho a profecia. Será sobre mim." "Por que você está falando isso?" ela gritou. "Você quer ser responsável pelo mundo inteiro?" Era a última
coisa que eu queria, mas não falei isso. Eu sabia que devia dar um passo a frente e reivindicá-la. "Eu não deixarei Nico correr mais nenhum perigo," disse. "Devo
isso a sua irmã. Eu... falhei com os dois. Não vou deixar essa pobre criança sofrer mais." "A pobre criança que te odeia e quer te ver morto," Grover me lembrou.
"Talvez nós possamos encontrá-lo," falei. "Nós podemos convencê-lo que está tudo bem, escondê-lo em algum lugar seguro." Annabeth se arrepiou. "Se Luke chegar nele
--" "Luke não vai," eu disse. "Farei com que ele tenha outras coisas com que se preocupar. Isto é, eu." Eu não tinha certeza se Quíron acreditara na história que
Annabeth e eu contamos. Acho que ele sabia que eu estava escondendo algo sobre o desaparecimento de Nico, mas no final ele aceitou. Infelizmente, Nico não foi o
primeiro meio-sangue a desaparecer.

"Tão jovem," Quíron suspirou, sua mãos na grade da varanda. "Aliás, eu espero que ele tenha sido comido por monstros. Seria melhor do que entrar para o exercito
dos Titãs." A ideia me deixou realmente inquieto. Eu quase mudei minha decisão sobre não contar a Quíron, mas não o fiz. "Você realmente pensa que o primeiro ataque
será aqui?" perguntei. Quíron olhou para a neve que caia nas colinas. Eu consegui ver a fumaça do dragão guardião no pinheiro, o brilho do velocino à distância.
"Isso não acontecerá até o verão, pelo menos," Quíron falou. "Este inverno será difícil... o mais difícil por muitos séculos. É melhor você ir para casa na cidade,
Percy; tente manter sua mente na escola. E descanse. Você precisará de descanso." Eu olhei para Annabeth. "E quanto a você?" Suas bochechas enrubesceram. "Vou tentar
São Francisco, afinal. Talvez eu possa vigiar o Monte Tam, ter certeza que os Titãs não vão tentar mais nada." "Você vai enviar uma mensagem de Íris se alguma coisa
der errado?" Ela assentiu. "Mas eu acho que Quíron está certo. Isso não será até o verão. Luke vai precisar de tempo para recuperar sua força." Eu não gostei de
ter que esperar. Mas então, próximo agosto eu farei quinze anos. Tão perto dos dezesseis que eu não queria pensar sobre isso. "Tudo bem," falei. "Apenas tome cuidado.
E nada de acrobacias malucas com o Sopwith Camel." Ela sorriu timidamente. "Combinado. E, Percy --" Seja o que for que ela ia dizer foi interrompido por Grover,
que cambaleou para fora da Casa Grande, tropeçando em latas. Seu rosto estava desfigurado e pálido, como se ele tivesse visto um fantasma. "Ele falou." Grover gritou.
"Acalme-se, meu jovem sátiro," Quíron disse, confuso. "Qual é o problema?" "Eu... Eu estava tocando música na sala," ele gaguejou, "e bebendo café. Muito, muito
café! E ele falou na minha mente!" "Quem?" Annabeth demandou. "Pan!" Grover se lamentou. "O próprio Senhor da Natureza. Eu o ouvi! Eu tenho que... tenho que encontrar
uma mala." "Ei, ei, ei," falei. "O que ele disse?" Grover olhou para mim. "Apenas três palavras. Ele disse, `Eu espero você...'"

Sabe aquele LIVRO que você tá louco pra ler? Aquele BEST SELLER que todo mundo tá lendo e você ta doidinho por ele?? Ou aquele CLÁSSICO que você precisa pra ESCOLA?
Ou então aquela POESIA pra sua namorada chata que não se contenta com pouca coisa... Quer entender FILOSOFIA? Quer entender MATEMÁTICA? CIÊNCIA? MITOLOGIA? Ou prefere
aquele ROMANCE POLICIAL da Agatha Christie? Ou talvez aquele ROMANCE à estilo Diário da Nossa Paixão? Ou aquele DRAMA À Espera de Um Milagre? Mas tem também aquela
FICÇÃO com VAMPIROS E LOBISOMENS que todo ser racional adora! Quer viajar pra OUTRO MUNDO? É só embarcar nas Fronteiras do Universo! Ou talvez nas Crônicas de Nárnia!
Com um toque de MAGIA de Harry Potter e um pouco do ÉPICO Senhor dos Anéis, ou talvez Eragon. Ou você prefere a TECNOLOGIA de Eu, Robô? Que tal aprender uma NOVA
LINGUA na seção de IDIOMAS? Ou delirar nas CONSPIRAÇÕES de Dan Brown e companhia? Um pouco de FOFOCA? Acesse o blog! Gossip Girl! Quer mais um pouco do Rei do TERROR?
Aqui tem um pouco e muito mais! Ou talvez TEATRO? O ROMÂNTICO E TRÁGICO Romeu e Julieta? Pode ser TAMBÉM Otelo. Oh, pobre Desdêmona... Ou A COMÉDIA dos Erros lhe
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NÃO TEMOS FINS LUCRATIVOS

2009



Rick Riordan - Percy Jackson e os Olimpianos

O ÚLTIMO OLIMPIANO



Este livro ainda não está pronto, é provisório até a revisão oficial.
Mais um livro traduzido pela Máfia dos Livros: cmm=35986512

SUMÁRIO:






AGRADECIMENTOS..............................................................................................3
VOLUNTÁRIOS.......................................................................................................5
CAPÍTULO UM........................................................................................................6
CAPÍTULO DOIS ...................................................................................................19
CAPÍTULO TRÊS ..................................................................................................29
CAPÍTULO QUATRO ...........................................................................................40
CAPÍTULO CINCO ...............................................................................................49
CAPÍTULO SEIS ....................................................................................................56
CAPÍTULO SETE ..................................................................................................67
CAPÍTULO OITO ..................................................................................................77
CAPÍTULO NOVE ................................................................................................85
CAPÍTULO DEZ ..................................................................................................102
CAPÍTULO ONZE ...............................................................................................112
CAPÍTULO DOZE ...............................................................................................119
CAPÍTULO TREZE .............................................................................................131
CAPÍTULO CATORZE .......................................................................................140
CAPÍTULO QUINZE ...........................................................................................154
CAPÍTULO DEZESSEIS .....................................................................................165
CAPÍTULO DEZESSETE ...................................................................................177
CAPÍTULO DEZOITO ........................................................................................186
CAPÍTULO DEZENOVE ....................................................................................191
CAPÍTULO VINTE ..............................................................................................201
CAPÍTULO VINTE E UM ..................................................................................211
CAPÍTULO VINDE E DOIS ...............................................................................215
CAPÍTULO VINTE E TRÊS ..............................................................................222








AGRADECIMENTOS



Mais uma vez, a mafia dos livros impressiona com mais um livro traduzido.
Não seria ético deixar de observar que a mafia é um conjunto, uma comunidade (literalmente), sendo assim todos nós fazemos parte dela, mesmo que sejamos apenas
"comentaristas". Há também aquelas pessoas que contribuíram traduzindo, revisando, montando o e-book, ou de alguma outra forma. Elas merecem mérito e reconhecimento,
por deixaram de fazer muitas coisas de sua vida pessoal para se dedicar a esse e-book, enfrentarem a pressão de todos e o mais importante: dividirem seus conhecimentos
com os outros. Chegará um dia em que vocês serão recompensados. Por enquanto, pedimos que continuem perto de nós, fazendo a felicidade de muitos. Muito obrigado,
de coração, por seus feitos heróicos.

Muito obrigado ao Raul, por ter começado esse grande ciclo de amizades, criando um espaço para as pessoas que prezam a leitura. Que os Deuses te recompensem!

Muito obrigado a todas as pessoas que apoiaram os tradutores e revisores, as que aguentaram e não colocaram pressão nos tradutores que ainda estavam dentro
do prazo. Ás vezes é difícil se conter. The Last Olympian é um livro muito empolgante, o que nos fez comentar "como anda o capítulo tal?", sem querer colocar pressão,
ou talvez, apenas um pouquinho. Mas é difícil para os dois lados, esperar é difícil, mas se não fossem os tradutores e revisores nós não teríamos nem pelo que esperar.
Ter que encarar a tradução não deve ser fácil para ninguém, mas eles aguentam, e isso faz com que eu seja fã deles.

No desenvolvimento desse livro, a amizade entre todos nós se tornou maior e nos tornou mais próximos. Tenho certeza que muitas pessoas riram lendo aquelas
bobagens do nosso "novo Chat" ou se seguraram para não ler os spoilers (aquelas tentações de amarelinho!). Nós nos unimos por uma causa, e essa nos fez mais próximos.
Agora a causa se encerra, mas isso não significa que iremos nos separar. Nós temos uma coisa em comum: A paixão por Percy Jackson e os Olimpianos. Ainda vamos conversar
muito, ainda nos divertiremos, ainda vamos ver os filmes e, talvez, nos encontrar nas estréias. Teremos tempo pela frente. Esse pode ser o último volume de Percy
Jackson e os Olimpianos, mas sabemos que Rick Riordan está nos preparando mais uma saga com Percy. Teremos mais livros para traduzir pela frente, e continuaremos
fazendo o que fazemos agora: Traduzir, Revisar, Colocar Spoilers, Colocar Pressão, Brincar, Apenas conversar. Sendo assim, muito obrigado por nos darem dias mais
felizes.

Sentiremos falta de Percy, Annabeth, Grover, Thalia, Tyson, Luke, Nico, Rachel, Quíron, Zeus, Poseidon, Hades, Atena, Senhor D., Ares, Hera, Perséfone, Afrodite,
Sally, Apolo, Hermes, Ártemis, Deméter, Clarisse, Silena e outros milhares de personagens brilhantes que a mente poderosa de Rick Riordan nos proporcionou. Mas nós
sabemos que isso é apenas o começo, haverá mais.
Agora, aproveitem sua última jornada com Percy Jackson e Os Olimpianos.
Fiquem por perto, e podem ter certeza que eu ficarei,



Gabriela Emanuelli Gonçalves



VOLUNTÁRIOS




Sinceros agradecimentos a todos os revisores, tradutores e colaboradores do projeto de tradução de mais um livro organizado pela . mafia dos livros.

Organização Responsável: mafia dos livros.

Chefe de Tradução: Raul Nogueira Fernandes.
Organização: Felipe Vizentim e Anderson Almeida.
Comando: Felipe Vizentim.
Apoio à Tradução: Raphael Pompeu, Anderson Almeida, Guilherme Macedo, Mariana Albuquerque, Rosane Rodrigues, Cibele Hamburg, Gabriel, Gabriela Gonçalves.
E-Book provisório: Felipe Vizentim e Gustavo Guerra





Tradução: Revisão:
Raphael Pompeu Anderson Almeida
Felipe Vizentim Rosane Rodrigues
Fernando Jéssica Sara
Jane Lucas Silva
Ricardo Pina Cibele Hamburg
Felipe Bergh Lais Curado
Luisa Oliveira Mariana Albuquerque
Ricardo Pina Anna Catherine
Mark Gabriel
Iago
Isabella








CAPÍTULO UM - EU VOU À UM CRUZEIRO COM EXPLOSIVOS

O fim do mundo começou quando um pégaso pousou no capô do meu carro.
Até então eu tinha tido uma tarde ótima. Tecnicamente eu não deveria estar dirigindo porque eu não faria 16 anos por mais uma semana, mas minha mãe e meu
padrasto, Paul, levaram a minha amiga Rachel e eu para uma área privada na praia do litoral sul, e Paul nos emprestou seu Prius para uma volta curta.
Agora, eu sei que você está pensando, Wow, isso foi muito irresponsável da parte dele e blá, blá, blá, blá, mas Paul me conhece muito bem. Ele me viu fatiar
demônios e sair de escolas explodindo, então ele provavelmente achou que dirigir um carro por alguns quilômetros não era a coisa mais perigosa que eu já tinha feito.
De qualquer forma, Rachel e eu estávamos dirigindo. Era um dia quente de Agosto. O cabelo ruivo de Rachel estava preso em um rabo de cavalo e ela usava uma
blusa branca por cima do maiô. Eu nunca a tinha visto usar qualquer coisa além de camisetas maltrapilhas e calças jeans antes, e ela parecia como um milhão de Dracmas
de ouro.
"Oh, pare aqui mesmo!" - Ela me disse.
Nós estacionamos em uma colina em que podíamos ver o Atlântico. O mar sempre é um dos meus lugares favoritos, mas hoje estava especialmente legal - verde
água e suave como vidro, como se meu pai o estivesse mantendo calmo para apenas para nós.
Meu pai, falando nisso, é Poseidon. Ele pode fazer esse tipo de coisa.
"Então." Rachel sorriu para mim. "Sobre aquele convite."
"Oh... Certo." Eu tentei soar excitado. Quer dizer, ela tinha me chamado para ir para a casa de campo da família dela em St. Thomas por três dias. Eu não
recebia muitas ofertas assim. A idéia da minha família de férias chique era um fim de semana em um chalé degradado em Long Island, com alguns filmes alugados e algumas
pizzas congeladas, e agora os pais da Rachel estavam dispostos a me levar com eles para o Caribe.
Além disso, eu realmente precisava de férias. Esse verão tinha sido o mais difícil da minha vida. A idéia de descansar mesmo que por poucos dias era realmente
tentadora.
Ainda assim, alguma coisa grande estava para acontecer a qualquer dia. Agora eu estava esperando alguma missão. Pior ainda, semana que vem era meu aniversário.
Tinha essa profecia que dizia que quando eu fizesse 16 anos, coisas ruins aconteceriam.
"Percy," Ela disse, "Eu sei que o momento é ruim. Mas sempre é ruim para você, certo?".
Ela tinha razão.
"Eu realmente quero ir," Eu afirmei. "É só-"
"A guerra."
Eu assenti. Eu não gostava de falar sobre isso, mas Rachel sabia. Diferentemente da maioria dos mortais, ela podia ver através da Névoa - o véu mágico que
distorce a visão humana. Ela tinha visto monstros. Ela tinha conhecido alguns dos outros meio-sangues que estavam lutando contra os Titãs e seus aliados. Ela até
tinha estado lá no último verão quando o cortado em pedaços, Lorde Kronos, saiu de seu caixão em uma terrível nova forma, e ganhou meu respeito permanente por ter
cravado o olho dele com uma escova de cabelos de plástico azul.
Ela colocou a mão no meu braço. "Só pense nisso, ok? Nós não vamos partir por mais alguns dias. Meu pai..." A voz dela vacilou.
"Ele está complicando a sua vida?"
Rachel sacudiu a cabeça com repugnância. "Ele está tentando ser legal comigo, o que é quase pior. Ele quer que eu vá para a Clairon Ladies Academy no outono."
"A escola onde sua mãe estudou?"
"É uma escola idiota de boas maneiras para garotas de sociedade, lá em New Hampshire. Você consegue me ver em uma escola de boas maneiras?"
Eu admiti que a idéia soava bem estúpida. Rachel gostava de projetos de arte urbana e alimentar os sem-teto e ir a comícios de protesto "Salvem os Pica Paus
de barriga-amarela!" e coisas assim. Eu nunca a tinha visto usar um vestido. Era difícil imaginá-la aprendendo a ser uma socialite.
Ela suspirou. "Ele acha que se fizer algumas coisas legais para mim, eu vou me sentir culpada e desistir."
"É por isso que ele concordou em me deixar ir com vocês nas suas férias?"
"Sim... Mas Percy, você estaria me fazendo um grande favor. Seria muito melhor se você estivesse lá conosco. Além disso, tem uma coisa que eu quero falar--"
"Alguma coisa que você quer falar sobre?" - Eu perguntei -"Você quer dizer... tão sério que teríamos que ir a St. Thomas para falar sobre isso?"
Ela cerrou os lábios. "Olhe, só esqueça isso agora. Vamos fingir que somos duas pessoas normais. Nós saímos para dar uma volta de carro, e estamos vendo o oceano,
e é bom estarmos juntos."
Eu sabia que tinha alguma coisa a incomodando, mas ela sorriu bravamente. A luz do sol fazia o cabelo dela parecer fogo. Nós tínhamos passado bastante tempo
juntos esse verão. Eu não tinha exatamente planejado isso, mas quanto mais sérias as coisas ficavam no campo, mais eu me via precisando ligar para Rachel e fugir,
para ter espaço para respirar. Eu tinha que lembrar a mim mesmo que mundo mortal ainda estava lá, longe de todos os monstros que me usavam como saco de pancadas
pessoal.
"Okay," Eu disse. "Só uma tarde normal e duas pessoas normais."
Ela assentiu. "E então... hipoteticamente, se essas duas pessoas gostassem uma da outra, o quanto custaria para o garoto estúpido beijar a garota, huh?"
"Oh..." Eu me senti como uma das vacas sagradas de Apolo - lentas, burras e muito vermelhas. "Um..."
Eu não posso fingir que não havia pensado sobre Rachel. Ela era muito mais fácil de lidar do que... bem, do que algumas garotas que eu conhecia. Eu não precisava
me esforçar muito, ou prestar atenção no que estava dizendo, ou torturar o meu cérebro para tentar entender o que ela estava tentando dizer. Rachel não escondia
muita coisa. Ela deixava você saber como ela se sentia.
Eu não tenho certeza do que teria feito em seguida - mas eu estava tão distraído, não notei a forma negra gigante descendo do céu até que quatro cascos pousaram
no capô do Prius com um WUMP-WUMP-CRUNCH!
Hey, chefe, disse uma voz em minha cabeça. Carro legal!
O pégaso Blackjack era um velho amigo meu, então eu tentei não ficar irritado pelas crateras que ele tinha acabado de colocar no capô; mas eu não achava
que o meu padrasto ficaria realmente chocado.
"Blackjack" eu suspirei. "O que você--"
Então eu vi quem estava cavalgando em suas costas, e soube que o meu dia estava para ficar muito mais complicado.
"E aí, Percy."
Charles Beckendorf, conselheiro sênior da cabine de Hefesto, faria a maior parte dos monstros chorarem pelas suas mães. Ela era enorme, com músculos definidos
por trabalhar nas forjas todo verão, dois anos mais velho que eu, e um dos melhores campistas fazedores de armamentos. Ele fazia coisas mecânicas realmente engenhosas.
Um mês antes, ele tinha colocado uma bomba de fogo grego no banheiro de um ônibus turístico que estava carregando monstros pelo país. A explosão tinha acabado com
uma legião do mal de Kronos assim que a primeira Harpia deu descarga.
Beckendorf estava vestido para o combate. Ele usava uma couraça de bronze e elmo de guerra com calças de camuflagem pretas e uma espada atada a sua cintura.
Seu saco de explosivos estava lançado sobre seu ombro.
"Está na hora?" Eu perguntei.
Ele assentiu austeramente.
Um amontoado se formou na minha garganta. Eu sabia que isso estava vindo. Estávamos planejando isso há semanas, mas eu meio que esperava que nunca acontecesse.
Rachel olhou para Beckendorf. "Oi"
"Oh, hey. Eu sou Beckendorf. Você deve ser Rachel. Percy me contou... uh, quero dizer ele mencionou você."
Rachel ergueu uma sobrancelha. "Sério? Isso é bom." Ela olhou rapidamente para Blackjack, que estava batendo as patas contra o capô do Prius. "Então eu
acho que vocês têm que ir salvar o mundo agora."
"Algo assim," Beckendorf concordou.
Eu olhei para Rachel desamparado. "Você falaria para a minha mãe--"
"Eu vou falar com ela. Tenho certeza que ela já está acostumada com isso. E explicarei a Paul sobre o capô."
Eu assenti, agradecendo. Eu achei que essa talvez fosse a última vez que Paul fosse me emprestar seu carro.
"Boa sorte." Rachel me beijou antes mesmo que eu pudesse reagir. "Agora, vá indo, meio-sangue. Vá matar alguns monstros para mim."
Minha última visão foi dela sentada no banco do motorista do Prius, de braços cruzados, observando enquanto Blackjack fazia círculos mais e mais altos, carregando
Beckendorf e eu para o céu. Eu me perguntei sobre o que Rachel queria falar comigo, e se viveria o suficiente para descobrir.
"Então," Beckendorf disse, "Eu acho que você não quer que eu mencione essa pequena cena a Annabeth."
"Oh, deuses," eu murmurei. "Nem mesmo pense nisso."
Beckendorf riu, e juntos atravessamos o atlântico.

Já era quase noite quando descobrimos nosso alvo. O Princesa Andrômeda brilhava no horizonte - um enorme cruzeiro iluminado de amarelo e branco. De longe, você
acharia que era apenas um navio de festas, não a sede do lord Titã. Então enquanto se aproxima você poderia notar a gigante figura na proa - uma donzela de cabelos
negros em uma túnica grega, amarrada com correntes com um olhar de horror em sua cara, como se pudesse sentir o fedor de todos os monstros que estava sendo forçada
a carregar.
Ver o navio de novo fez meu intestino se retorcer. Eu quase tinha morrido duas vezes no Princesa Andrômeda. Agora ele estava indo direto para Nova York.
"Você sabe o que fazer?" Beckendorf gritou acima do vento.
Eu assenti. Tínhamos feito testes nos estaleiros de Nova York com navios abandonados. Eu sabia o quão pouco tempo teríamos. Mas também sabia que nossa melhor
chance de acabar com a invasão de Kronos, era antes mesmo dela começar.
"Blackjack," Eu disse, "Nos deixe no pavimento mais baixo da popa.".
Certo, chefe, ele disse. Cara, eu odeio ver esse barco.
Três anos atrás, Blackjack tinha sido escravizado no Princesa Andrômeda até conseguir escapar com uma pequena ajuda dos meus amigos e eu. Eu achei que ele preferiria
ter seu rabo trançado como o My Little Pony do que voltar para cá novamente.
"Não nos espere," Eu disse a ele.
Mas, chefe-
"Confie em mim," Eu disse. "Nós sairemos daqui sozinhos."
Blackjack dobrou suas asas e mergulhou em direção ao barco como um cometa preto. O vento assoviava em meus ouvidos. Eu vi monstros patrulhando os níveis superiores
do navio - dracaenes mulheres-cobra, cães infernais, gigantes, e os demônios humanóides conhecidos como telekines - mas nós passamos por eles tão rápido que nenhum
soou o alarme. Nós estávamos na popa do navio, e Blackjack abriu suas asas, pousando suavemente no deque inferior. Eu desmontei, me sentindo enjoado.
Boa sorte, chefe, Disse Blackjack. Não deixe eles o transformarem em comida de cavalo!
Com isso, meu velho amigo voou para noite. Eu tirei minha caneta do meu bolso e tirei a tampa, e contracorrente se expandiu ao seu tamanho máximo - 90 centímetros
de bronze celestial brilhando nas sombras.
Beckendorf puxou um pedaço de papel de seu bolso. Eu pensei que fosse um mapa ou algo assim. Então eu percebi que era uma fotografia. Ele olhava para ela na
luz fraca - o rosto sorridente de Silena Beauregard, filha de Afrodite. Eles começaram a sair no último verão, depois de anos do resto de nós dizendo "Duh, vocês
gostam um do outro!" Mesmo com todas as missões perigosas, Beckendorf esteve mais feliz esse verão do que eu já o havia visto até então.
"Nós vamos conseguir voltar para o campo," Eu prometi.
Por um segundo eu vi preocupação em seus olhos. Depois ele colocou seu velho sorriso confiante.
"Pode apostar," ele disse. "Vamos explodir Kronos em um milhão de pedaços de novo."
Beckendorf escolheu o caminho. Nós seguimos por um corredor estreito até a escada de serviço, como tínhamos praticado, mas congelamos quando ouvimos barulhos
acima de nós.
"Eu não me importo com que o seu nariz diz!" Disparou uma voz meio-humana, meio canina - um telkhine. "A última vez que você cheirou um meio-sangue, acabou
sendo um sanduíche de carne com pão"
"Sanduíches de carne com pão são bons!" disse uma segunda voz. "Mas isso é cheiro de meio-sangue, juro. Eles estão a bordo!"
"Bah, o seu cérebro não está a bordo!"
Eles continuaram a discutir, mas Beckendorf apontou para as escadas. Nós descemos o mais silenciosamente possível. Dois andares abaixo, as vozes dos telkhines
começaram a sumir.
Finalmente nós chegamos a uma escotilha de metal. Beckendorf falou, sem som algum, "casa das máquinas."
Estava trancada, mas Beckendorf tirou da bolsa alguns cortadores da mochila e quebrou o ferrolho como se fosse feito de manteiga.
Dentro, umas filas de turbinas amarelas do tamanho de silos se agitavam e zuniam. Manômetros de pressão e terminais de computadores revestiam a parede oposta.
Um telkhine estava debruçado sobre o console, mas estava tão envolvido em seu trabalho, que não nos notou. Ele tinha aproximadamente 2 metros de altura, com o pelo
preto marcado e ensebado e pés pequenos e atarracados. Ele rosnava e murmurava enquanto digitava no teclado. Talvez estivesse passando mensagens para seus amigos
no carafeia.com
Eu dei um passo à frente, e ele ficou tenso, provavelmente cheirando alguma coisa errada. Ele saltou para o lado em direção a um grande e vermelho botão de
alarme, mas eu bloqueei seu caminho. Ele me bateu e lutou, mas com um corte de Contracorrente e ele explodiu em pó.
"Um a menos," Disse Beckendorf. "Agora faltam mais uns 500."
Ele me jogou uma jarra de um espesso líquido verde - fogo grego, uma das mais perigosas substâncias mágicas no mundo.Depois ele me jogou outra ferramenta essencial
de heróis meio-sangues - fita adesiva.
"Jogue aquele no console," ele disse. "Eu cuidarei das turbinas."
Nós fomos fazer o trabalho. A sala estava quente e úmida, e em pouco tempo estávamos encharcados de suor.
O barco continuava andando. Sendo o filho de Poseidon e tudo, eu tenho noção perfeita no oceano. Não me pergunte como, mas eu sabia que estávamos 40.19º Norte,
71.90ºOeste, andando a 18 nós, o que significava que o barco chegaria ao porto de Nova York ao amanhecer. Essa seria nossa única chance de pará-lo.
Eu tinha acabado de amarrar uma segunda jarra de fogo grego no painel do console quando ouvi o som de passos no metal - tantas criaturas descendo as escadas
que eu podia ouvi-las acima das máquinas. Não é um bom sinal.
Eu troquei um olhar com Beckendorf. "Quanto tempo?"
"Tempo demais." Ele bateu no próprio relógio, que era o nosso detonador manual. "Eu ainda tenho que conectar o fio do receptor e carregar as cargas. Mais dez
minutos no mínimo."
Julgando pelo som dos passos, nós tínhamos uns dez segundos.
"Eu vou distraí-los," eu disse. "Te vejo no ponto de encontro"
"Percy-"
"Me deseje sorte."
Ele parecia que queria discutir. A idéia toda era entrar e sair sem sermos vistos. Mas nós teríamos que improvisar.
"Boa sorte," ele disse.
Eu passei pela porta.

Meia dúzia de telkhines estava descendo rapidamente as escadas. Eu os atravessei com contracorrente mais rápido do que eles poderiam gritar. Eu continuei subindo
- passei por outro telkhine, que estava tão assustado que derrubou sua lancheira Lil'Demons. Eu o deixei vivo - em parte porque eu achei sua lancheira legal, em
parte para que ele pudesse tocar o alarme e esperava que seus amigos me seguissem ao invés de ir para a sala de máquinas.

Eu passei irrompendo por uma porta no deque seis e continuei correndo. Tenho certeza de que o Hall atapetado um dia deve ter sido muito bonito, mas com os últimos
três anos de ocupação de monstros o papel de parede, carpete, e as portas duplas haviam sido estragadas e arrebentadas, parecia agora mais como a garganta de um
dragão (e sim, infelizmente, falo por experiência própria).
De volta a minha primeira visita ao Princesa Andrômeda, meu velho inimigo Luke tinha mantido alguns turistas iludidos a bordo, envoltos pela Névoa, desse modo
eles não percebiam que estavam em um navio infestado de monstros. Agora eu não via sinal algum de turistas. Eu odiava pensar no que tinha acontecido com eles, mas
eu meio que duvidava que eles tiveram permissão para ir para casa com seus prêmios do bingo.
Eu alcancei o Promenade, um grande shopping que ocupava todo o meio de navio, e eu congelei. No meio do pátio tinha uma fonte. E a fonte estava ocupada por
um caranguejo gigante.
Eu não estou falando "gigante" tipo no por R$7.99 coma-tudo-o-que-conseguir do caranguejo rei do Alasca. Eu estou falando gigante em tipo, maior do que a fonte.
O monstro se ergueu 3 metros fora d'água. Sua casca estava manchada de azul e verde e suas pinças eram maiores do que meu corpo.
Se você já viu a boca de um caranguejo, toda espumosa e nojenta com bigodes, você pode imaginar que este não parecia muito melhor expandido para o tamanho de
um outdoor. Seus lustrosos olhos pretos me encararam, e eu pude ver inteligência neles - e ódio. O fato de eu ser filho do deus do mar não iria me fazer ganhar pontos
com o sr.Crabby.
"FFFFfffffff" ele silibou, a espuma marítima gotejando de sua boca. O cheiro saindo dela era o de uma lata de lixo cheia de peixe que tinha sido deixada ao
sol por uma semana.
Alarmes soaram. Logo eu teria muita companhia e eu tinha que continuar andando.
"Hey, Crabby." Eu fui andando pela borda do pátio. "Eu só vou passar a seu redor e--"
O caranguejo se moveu com uma velocidade absurda. Ele saiu da fonte e veio direto para mim, com as pinças estalando. Eu entrei em uma loja de presentes, destroçando
algumas camisas. Uma pinça esmagou as paredes de vidro e atravessou a sala. Eu voltei para o lado de fora, respirando pesadamente, mas o Sr.Crabby se virou e me
seguiu.
"Ali!" Disse uma voz na bancada acima de mim. "Intruso!"
Se eu quisesse criar uma distração, teria sido bem sucedido , mas não era ali que eu queria lutar. Se eu fosse apanhado no centro do navio, eu viraria comida
de caranguejo.
O crustáceo demoníaco me atacou. Eu o cortei com contracorrente, arrancando a ponta de sua garra. Ele se remexeu e espumou, mas não pareceu muito machucado.
Eu tentei me lembrar alguma coisa das histórias antigas que pudessem me ajudar com essa coisa. Annabeth tinha me dito alguma coisa sobre um caranguejo monstro
- algo sobre Hércules tê-lo esmagado sob seu pé? Isso não ia funcionar aqui. Esse caranguejo era ligeiramente maior do que meus Reeboks.
Então eu pensamento estranho me ocorreu. No natal passado, minha mãe e eu tínhamos trazido Paul Blofis para nosso velho chalé em Montauk, onde íamos desde sempre.
Paul tinha me levado para pescar caranguejos, e quando ele conseguiu uma rede cheia dessas coisas, ele me mostrou como os caranguejos têm uma fissura em seu casco,
bem no meio de suas barrigas feias.
O único problema era chegar na barriga feia.
Eu olhei para a fonte, depois para o chão de mármore, já escorregadio por causa do rastro do caranguejo. Eu estendi minha mão, me concentrando na água, e a
fonte explodiu. Água foi borrifada para todos os lugares, até três andares acima, encharcando os balcões, os elevadores e as janelas das lojas. O caranguejo não
se importou. Ele amava a água. Ele veio de lado até mim, espumando e sibilando, e eu corri direto para ele, gritando, "AHHHHHHHH!"
Logo antes de colidirmos, eu me joguei no chão no estilo Baseball e escorreguei no chão molhado direto para debaixo da criatura. Foi tipo escorregar sob um
veículo armado de sete toneladas. Tudo que o caranguejo tinha que fazer era sentar e me esmagar, mas antes que ele entendesse o que estava acontecendo, eu atingi
a fissura com contracorrente, soltei o punho, e empurrei a mim mesmo para o lado de trás.
O monstro estremeceu e sibilou. Seus olhos se dissolveram. Sua concha se tornou vermelho vivo enquanto seu interior se evaporava. A concha vazia caiu no chão
com um estrondo e se amontoou pesadamente.
Eu não tive tempo para admirar meu trabalho manual. Eu corri para as escadas mais próximas enquanto a minha volta monstros e meio-sangues gritavam ordens e
desembainhavam suas armas. Eu estava de mãos vazias. Contracorrente, sendo mágica, reapareceria no meu bolso mais cedo ou mais tarde, mas por enquanto estava presa
em algum lugar nos destroços do caranguejo, e eu não tinha tempo de reavê-la.
Na área de elevadores do deque oito, duas dracaene se arrastavam no meio do meu caminho. Da cintura para cima, elas eram mulheres com pele verde e escamosa,
olhos amarelos e línguas bifurcadas. Da cintura para baixo tinham dois troncos de cobras ao invés de pernas. Elas seguravam arpões de pesca e redes, e eu sabia por
experiência, que elas poderiam usá-las.
"Oooo queeee é isssso?" Disse uma delas. "Um prêmio para Kronosss!"
Eu não estava com vontade de brincar de quebre-a-cobra, mas na minha frente estava um modelo do navio, do tipo VOCÊ ESTÁ AQUI. Eu arranquei o guia do pedestal
arremessou na primeira dracaena. O barco bateu na cara dela e ela caiu com o navio. Eu passei por cima dela agarrei o arpão de sua amiga, e girei com ela. Ela bateu
no elevador e eu continuei correndo em direção a frente do navio.
"Pegue-o" Ela gritou.
Cães infernais latiram. Uma flecha veio de algum lugar, passando assoviando pelo meu rosto e ficou empalada nos painéis de mogno da parede da escada.
Eu não me importei - desde que os monstros ficassem longe da sala de máquinas e dessem mais tempo a Beckendorf.
Enquanto eu subia a escada correndo, uma criança me atacou descendo.
Ele parecia que tinha acabado de acordar de uma soneca. Sua armadura estava vestida pela metade. Ele puxou sua espada e gritou, "Kronos!" mas ele pareceu
mais assustado do que com raiva. Ele não poderia ter mais do que doze anos - mais ou menos a mesma idade que eu tinha quando cheguei pela primeira vez ao acampamento
meio-sangue.
Esse pensamento me deprimiu. Essa criança estava passando por uma lavagem cerebral - treinada para odiar os deuses e insulta-los por ter nascido meio olímpiano.
Kronos o estava usando, e ainda assim o garoto pensava que eu era seu inimigo.
Sem chance de eu machuca-lo. Eu não precisava de uma arma para isso. Eu entrei dentro do golpe dele, agarrei seu pulso e o bati contra a parede. Sua espada
caiu com ruído de sua mão.
Então eu fiz uma coisa que não tinha planejado. Provavelmente era idiota. Definitivamente comprometeria a missão, mas eu não pude evitar.
"Se você quiser viver," eu disse a ele, "saia desse navio agora. Avise aos outros meio-sangues." Então eu o empurrei pelas escadas e ele desceu dando cambalhotas
até o próximo andar.
Eu continuei subindo.
Más memórias: um corredor passava pela cafeteria. Annabeth, meu meio irmão Tyson, e eu nos esgueiramos por aqui três anos atrás na minha primeira visita.
Eu irrompi para fora do convés principal. Acima da proa o céu estava escurecendo de roxo para preto. Uma piscina brilhava entre duas torres de vidro com
balcões e deques de restaurante. Toda a parte superior do navio parecia deserta.
Tudo que eu tinha que fazer era chegar ao outro lado. Daí eu poderia pegar as escadas e descer até o heliporto - nosso ponto de encontro de emergências.
Com alguma sorte, Beckendorf me encontraria lá. Nós pularíamos para o mar. Meus poderes aquáticos nos protegeriam, e nós detonaríamos os explosivos a um quilometro
e meio de distância.
Eu estava na metade do caminho quando uma voz me fez congelar. "Você está atrasado, Percy."
Luke estava num balcão acima de mim, com um sorriso no rosto e uma cicatriz. Ele usava calças jeans, uma camisa branca e chinelos de dedos, como se ele fosse
apenas um cara normal na época da faculdade, mas seus olhos falavam a verdade. Eles eram como ouro sólido.
"Nós o estivemos esperando por dias." No começo ele parecia normal, como o Luke. Mas então sua cara mudou. Um tremor passou por seu corpo como se ele tivesse
acabado de beber alguma coisa realmente nojenta. Sua voz se tornou mais pesada, e poderosa - a voz do Lorde Titã Kronos. As palavras passaram raspando pela minha
coluna como a lâmina de uma faca. "Agora, se curve diante de mim."
"Yeah, como se isso fosse acontecer," eu murmurei.
Uma multidão de monstros estava em cada lado da piscina como se estivessem esperando por um sinal. Cada um tinha 2 metros e meio de altura com braços tatuados
e armaduras de couro. Arqueiros meio-sangues apareceram no telhado acima de Luke. Dois cães infernais saltaram do balcão oposto e rosnaram para mim. Dentro de segundos
eu estava cercado. Uma armadilha: sem chance de eles terem se colocado em posição tão rápido a menos que soubessem que eu estava vindo.
Eu olhei para Luke, e a raiva ferveu dentro de mim. Eu nem sabia se a consciência de Luke estava ao menos viva dentro daquele corpo. Talvez, o modo como sua
voz mudou... Ou talvez seja apenas Kronos se adaptando a sua nova forma. Eu disse a mim mesmo que isso não importava. Luke já era distorcido e mal desde antes de
Kronos o possuir.
Uma voz em minha mente disse: Eu vou ter que lutar contra ele eventualmente. Por que não agora?
De acordo com a grande profecia, eu deveria fazer uma escolha que salvaria ou destruiria o mundo quando eu fizesse dezesseis anos. Isso aconteceria em apenas
sete dias. Por que não agora? Se eu realmente tivesse o poder, qual diferença que uma semana faria? Eu podia terminar essa ameaça agora mesmo se destruísse Kronos.
Hey, eu já tinha lutado contra monstros e deuses antes.
Como se estivesse lendo meus pensamentos, Luke sorriu. Não, ele era Kronos. Eu tinha que me lembrar disso.
"Avance," ele disse "se você ousar."
A multidão de monstros se dividiu. Eu subi as escadas, meu coração batendo forte. Eu tinha certeza que alguém me apunhalaria pelas costas, mas eles me deixaram
passar. Eu procurei no meu bolso e achei minha caneta esperando. Eu tirei a tampa, e contracorrente se transformou em uma espada.
A arma de Kronos apareceu em suas mãos - uma foice de dois metros de altura, metade bronze celestial, metade aço mortal. Só olhar para aquela coisa fez os
meus joelhos virarem gelatina. Mas antes que eu pudesse mudar de idéia, ataquei.
O tempo diminuiu sua velocidade. Quero dizer literalmente diminuiu a velocidade, porque Kronos tinha esse poder. Eu senti como se estivesse me movendo através
de um xarope. Meus braços estavam tão pesados, que eu mal podia erguer minha espada. Kronos sorriu, agitando sua foice na velocidade normal e esperando que eu me
arrastasse em direção a minha morte.
Eu tentei lutar contra sua magia. Me concentrei no mar a minha volta - a fonte do meu poder. Eu tinha ficado melhor em canalizá-lo através dos anos, mas agora
nada parecia acontecer.
Eu dei mais um passo lento à frente. Gigantes zombaram. Dracaenae chiaram com seu riso.
Hey, oceano, eu invoquei. Agora seria uma boa hora.
De repente eu senti um dor como um puxão no meu intestino. O barco inteiro deu uma guinada lateral, fazendo monstros caírem. Quatrocentos galões de água salgada
saíram de dentro da piscina, encharcando eu e Kronos e todo mundo no deque. A água me revitalizou, quebrando o feitiço do tempo, e eu ataquei diretamente.
Eu assolei Kronos, mas eu ainda era lento demais. Eu cometi o erro de olhar para o rosto dele - o rosto de Luke - um cara que uma vez foi meu amigo. Por mais
que eu o odiasse, era difícil mata-lo.
Kronos não tinha essa hesitação. Ele cortou para baixo com sua foice. Eu saltei para trás, e a lâmina do mal errou por um centímetro, cortando um talho fundo
no deque entre meus pés.
Eu chutei Kronos no peito. Ele tropeçou para trás, mas era mais pesado do que Luke deveria ser. Era como chutar uma geladeira.
Kronos girou sua foice novamente. Eu a interceptei com contracorrente, mas seu golpe era tão poderoso, minha lâmina só pode desviá-lo. A ponta da foice arrancou
fora a manga da minha camisa e arranhou meu braço. Não deve ter sido um corte sério, mas todo o lado do meu corpo explodiu em dor. Eu me lembrei do que um demônio
marinho uma vez tinha dito sobre a foice de Kronos: Cuidado, tolo. Um toque, e a lâmina vai separar sua alma de seu corpo. Agora eu entendi o que ele quis dizer.
Eu não estava apenas perdendo sangue. Eu podia sentir minha força, minha vontade, minha identidade indo embora.
Eu tropecei para trás, mudei a espada para minha mão esquerda, e ataquei desesperadamente. Minha lâmina deveria te-lo atravessado, mas foi desviada do seu estômago
como se eu estivesse atacando mármore sólido. De jeito nenhum que ele deveria ter sobrevivido aquilo.
Kronos riu. "Uma performance pobre, Percy Jackson. Luke me disse que você nunca chegou a ser adversário no esgrima."
Minha visão começou a embaçar. Eu sabia que não tinha muito tempo. "Luke tinha um cabeção," eu disse. "Mas pelo menos era a cabeça dele."
""" ""É uma pena mata-lo agora," lamentou Kronos, " antes que o plano final desabroche. "Eu adoraria ver o terror em seus olhos quando você entendesse como
eu vou destruir o Olimpo."
"Você nunca vai fazer esse barco chegar a Manhattan." Meu braço estava latejando. Minha visão estava manchada por borrões pretos.
"Por que isso agora?" Os olhos dourados de Kronos brilharam. O rosto dele - o rosto de Luke - parecia uma máscara, não natural e acesa por algum poder maligno.
"Talvez você esteja contando com seu amigo com os explosivos?"
Ele olhou para a piscina e chamou
"Nakamura!"
Um adolescente em armadura completa atravessou a multidão. Seu olho esquerdo estava coberto por um tapa-olho preto. Eu o conhecia, é claro: Ethan Nakamura,
o filho de Nêmesis. Eu tinha salvado sua vida no labirinto no verão passado, e em troca, o pequeno punk tinha ajudado Kronos a voltar à vida.
"Sucesso, meu lorde," disse Ethan. "Nós o encontramos, assim como nos foi indicado."
Ele bateu palmas e dois gigantes foram para frente, arrastando Charles Beckendorf entre eles. Meu coração quase parou. Beckendorf tinha um olho inchado e cortes
em todo seu rosto e braços. Sua armadura tinha ido embora e sua camisa estava quase rasgada.
"Não!" Eu gritei.
Beckendorf encontrou me encarou. Ele olhou para a própria mão como se estivesse tentando me dizer alguma coisa. O relógio dele. Eles ainda não o tinham tirado,
e ele era o detonador. Seria possível que os explosivos estivessem armados? Com certeza os monstros os teriam desabilitado imediatamente.
"Nós o encontramos a meia-nau," disse um dos gigantes, "tentando entrar na sala de máquinas. Podemos comê-lo agora?"
"Logo." Kronos encarou Ethan. "Você tem certeza que ele não colocou os explosivos?"
"Ele estava indo para a sala de máquinas, mi lorde."
"Como você sabe disso"?
"Er..." Ethan se mexeu desconfortavelmente. "Ele estava indo naquela direção. E ele nos disse. A bolsa dele ainda está cheia de explosivos."
Devagar, eu comecei a entender. Beckendorf os tinha enganado. Quando ele percebeu que seria capturado, ele virou para fazer parecer que estava indo para o outro
lado. Ele os convenceu de que ainda não tinha alcançado a sala de máquinas. O fogo grego ainda poderia estar armado! Mas isso não tinha muita utilidade a menos que
nós pudéssemos sair do navio e detona-lo.
Kronos hesitou.
Compre a história, eu rezei. A dor no meu braço era tão grande agora que eu mal podia ficar de pé.
"Abram sua mochila," Ordenou Kronos
Um dos gigantes arrancou o saco de explosivos dos ombros de Beckendorf. Ele espiou lá dentro grunhiu, e o virou de cabeça para baixo. Monstros em pânico se
afastaram. Se a bolsa realmente estivesse cheia de fogo grego, todos nós teríamos explodido. Mas o que caiu foi uma dúzia de latas de pêssego.
Eu podia ouvir a respiração de Kronos, tentando controlar a própria raiva.
"Você, por acaso," ele disse "capturou esse maio-sangue perto da cozinha?"
Ethan empalideceu. "Um--"
"E você, por acaso, enviou alguém para realmente CHECAR A SALA DE MÁQUINAS?"
Ethan deu um passo para trás em terror, depois se virou nos calcanhares e correu.
Eu amaldiçoei silenciosamente. Agora nós tínhamos apenas minutos antes que as bombas fossem desarmadas. Eu olhei para Beckendorf e fiz uma pergunta silenciosa:
Quanto tempo?
Ele fechou seus dedos e polegar fazendo um círculo. Nenhum. Não havia atraso algum no timer. Se ele conseguisse apertar o botão do detonador, o navio ia explodir
na hora. Nós nunca conseguiríamos ir para longe o suficiente antes de usá-lo. Os monstros nos matariam primeiro, ou desarmariam os explosivos, ou os dois.
Kronos se virou para mim com um sorriso torto. "Você terá que desculpar meus ajudantes incompetentes, Percy Jackson. Mas isso não importa. Nós temos você agora.
Nós sabíamos que viria a semanas."
Ele estendeu a mão e balançou um pequeno bracelete de prata com um desenho de uma foice - o símbolo do Lorde Titã.
A ferida em meu braço estava enfraquecendo a minha habilidade de pensar, mas eu murmurei, "Aparelho de comunicação... espião no campo."
Kronos riu entre os dentes. "Você não pode contar com seus amigos. Eles sempre vão deixar você na mão. Luke aprendeu essa lição do modo mais duro. Agora largue
a espada e se renda a mim, ou seu amigo morre."
Eu engoli. Um dos gigantes tinha sua mão ao redor do pescoço de Beckendorf. Eu não tinha como resgata-lo, e mesmo se eu tentasse, ele morreria entes que eu
pudesse chegar lá. Ambos morreríamos.
Beckendorf falou sem som algum uma palavra: Vá.
Eu balancei minha cabeça. Não podia abandoná-lo.
O segundo gigante ainda estava mexendo nas latas de pêssego, o que significava que o braço esquerdo de Beckendorf estava livre. Ele o levantou devagar - em
direção ao relógio em seu pulso direito.
Eu queria gritar, NÃO!
Então perto da piscina uma dracaenae sibilou, "O que ele esssstá fazzzzendo? O que é issssso no pulssssssso dele?"
Beckendorf fechou os olhos e levou sua mão em direção a seu relógio.
Eu não tinha escolha. Eu joguei minha espada como uma lança em direção a Kronos. Ela bateu sem machucá-lo em seu pulso, mas o assustou. Eu me espremi por uma
multidão de monstros e pulei pela borda do navio - em direção a água trinta metros abaixo.
Eu ouvi barulho no navio. Monstros gritavam comigo lá de cima. Uma lança passou perto do meu ouvido. Uma flecha penetrou minha coxa, mas eu não tive tempo de
registrar a dor. Eu mergulhei no mar e ordenei as correntes que me levassem para longe, muito longe - cem jardas, duzentas jardas.
Mesmo daquela distância, a explosão sacudiu o mundo. O calor ressecou a parte de trás da minha cabeça. O Princesa Andrômeda explodiu em seus dois lados, uma
bola de fogo verde massiva turvando o céu negro, consumindo tudo.
Beckendorf, eu pensei.
Depois eu apaguei e afundei como uma âncora em direção ao fundo do mar.











CAPÍTULO DOIS - EU CONHEÇO ALGUNS PARENTES SUSPEITOS


Os sonhos de um meio sangue são uma meleca.
O negócio é que eles nunca são apenas sonhos. Eles têm que ser visões, augúrios, e todas aquelas outras coisas místicas que fazem o meu cérebro doer.
Eu sonhei que estava em um palácio negro no topo de uma montanha. Infelizmente, eu o reconheci: o palácio dos titãs no topo do monte Othrys, também conhecido
como monte Tamalpais, na Califórnia. O pavilhão principal estava aberto para a noite, cercado de colunas gregas pretas e estátuas dos Titãs. A luz de tochas brilhava
contra o chão de mármore preto. No centro da sala, um gigante com armadura lutava contra o peso agitado de uma nuvem negra - Atlas, segurando o céu.
Dois outros homens gigantes estavam por perto observando um braseiro de bronze, estudando as imagens nas chamas.
"Foi uma explosão considerável," disse um deles. Ele usava uma armadura negra com botões de prata, como uma noite estrelada. Seu rosto estava coberto com um
elmo de batalha com aríetes, como chifres de cada lado.
"Isso não importa," o outro respondeu. Esse titã estava vestido com vestes douradas, com olhos dourados como Kronos. Todo seu corpo brilhava. Ele me lembrava
a Apollo, Deus do Sol, exceto que a luz do Titã era mais dura, e sua expressão mais cruel. "Os deuses responderam ao desafio. Logo serão destruídos."
As imagens no fogo eram difíceis de serem compreendidas: tempestades, prédios sendo destruídos, mortais gritando em terror.
"Eu irei para o leste para conduzir nossas forças," disse o Titã dourado. "Krios, você deve ficar e guardar o Monte Othrys."
O cara com os chifres de aríetes grunhiu. "Eu sempre fico com os trabalhos idiotas. Lord do Sul. Lord das constelações. Agora eu fico de babá para Atlas enquanto
você fica com toda a diversão."
Debaixo do turbilhão de nuvens, Atlas berrava em agonia. "Deixem-me sair, malditos! Eu sou seu melhor guerreiro. Fique com meu fardo para que eu possa lutar!"
"Quieto!" rosnou o Titã dourado. "Você teve sua chance, Atlas. Você fracassou. Kronos quer você onde você está. Quanto a você, Krios, faça o seu trabalho."
"E se você precisar de mais guerreiros?" Krios perguntou. "Nosso traiçoeiro sobrinho de terno não irá te ajudar muito em uma luta."
O Titã dourado riu. "Não se preocupe com ele. Além disso, os deuses mal podem agüentar nosso primeiro pequeno desafio. Eles não tem idéia de quantos outros
nós temos armazenados. Marque minhas palavras, em poucos dias, o Olimpo será ruínas, e nós vamos nos encontrar aqui de novo para celebrar o amanhecer da Sexta Era!"
O Titã dourado irrompeu em chamas e desapareceu.
"Oh, claro," Krios grunhiu. "Ele pode irromper em chamas. Eu posso usar esses chifres idiotas."
A cena mudou. Agora eu estava do lado de fora do pavilhão, escondido nas sombras de uma coluna grega. Um garoto estava perto de mim, bisbilhotando os titãs.
Ele tinha cabelos pretos e sedosos, pele pálida, e roupas negras - meu amigo Nico di Angelo, o filho de Hades.
Ele olhou direto para mim, sua expressão severa. "Você vê Percy?" ele sussurrou. "Você está ficando sem tempo. Você realmente acha que pode vencê-los sem o
meu plano?"
Suas palavras passaram por mim tão frias quanto o chão do oceano, e meus sonhos escureceram.


"Percy?" disse uma
voz profunda.
Parecia que a minha cabeça havia sido colocada no microondas com uma folha de alumínio. Eu abri meus olhos e vi uma figura grande e sombria se inclinando sobre
mim.
"Beckendorf?" Eu perguntei esperançosamente.
"Não, irmão."
Meus olhos voltaram a ganhar foco. Eu estava olhando para um Ciclope - um rosto disforme, cabelo marrom maltrapilho, um grande olho marrom cheio de preocupação.
"Tyson?"
Meu irmão abriu um sorriso cheio de dentes. "Yay! Seu cérebro funciona!"
Eu não tinha tanta certeza. Meu corpo parecia sem peso e gelado. Minha voz soava errada. Eu podia ouvir Tyson, mas era mais como se eu estivesse ouvindo vibrações
dentro do meu crânio, não os sons normais.
Eu me sentei, e um lençol fino flutuou para longe. Eu estava em uma cama feita de sedosos tecidos de barrilheira, em uma sala com painéis de conchas. Pérolas
brilhantes do tamanho de bolas de basquete flutuavam perto do teto, fornecendo luz. Eu estava debaixo d'água.
Agora, sendo o filho de Poseidon e tudo, eu estava OK com isso. Eu posso respirar perfeitamente debaixo d'água, e minhas roupas nem ao menos se molhavam, a
menos que eu quisesse. Mas ainda era meio chocante quando um tubarão cabeça de martelo passava pela janela do quarto, me cumprimentava, e depois saía calmamente
pela janela oposta.
"Onde--"
"No palácio do papai," disse Tyson.
Sob circunstâncias diferentes, eu estaria excitado. Eu nunca tinha visitado o reino de Poseidon, e estivera sonhando com isso por anos. Mas minha cabeça estava
doendo. Minha camisa ainda estava machada com queimaduras da explosão. Meu braço e minha perna tinham se curado - só entrar no oceano pode fazer isso por mim, dado
tempo suficiente - mas eu ainda sentia como se tivesse sido a bola em um jogo de futebol dos gigantes.
"Quanto tempo--"
"Nós o encontramos ontem a noite," disse Tyson, "afundando na água."
"O Princesa Andrômeda?"
"Fez ka-boom," Tyson confirmou
"Beckendorf estava a bordo. Você encontrou..."
O rosto de Tyson escureceu. "Nem sinal dele. Sinto muito, irmão."
Eu olhei pela janela para a água azul profunda. Beckendorf deveria ir para a faculdade nesse outono. Ele tinha uma namorada, muitos amigos, toda sua vida a
sua frente. Ele tão podia ter partido. Talvez ele tivesse conseguido sair do navio como eu saí. Talvez ele tenha pulado... E o que? Ele não podia sobreviver uma
queda de trinta metros até a água como eu podia. Ele não podia ter colocado distância suficiente entre ele e a explosão.
Eu sabia no meu interior que ele estava morto. Ele tinha se sacrificado para acabar com O Princesa Andrômeda, e eu o havia abandonado.
Eu pensei sobre o meu sonho: os Titãs discutindo sobre a explosão como se ela não importasse Nico di Ângelo me alertando que eu jamais venceria Kronos sem seguir
seu plano - uma idéia perigosa que eu estivera evitando por mais que um ano.
Uma explosão distante sacudiu a sala. Uma luz verde resplandeceu do lado de fora, tornando todo o mar tão claro quanto o meio-dia.
"O que foi isso?" Eu perguntei.
Tyson pareceu preocupado. "Papai irá explicar. Venha, ele está explodindo alguns monstros."


O palácio poderia ter sido a
coisa mais impressionante que eu já havia visto se não estivesse a ponto de ser destruído. Nós nadamos até o fim de um longo corredor e subimos como um tiro para
cima com um gêiser. Enquanto nós passávamos pelos telhados eu peguei fôlego - bom, se você pode pegar fôlego debaixo d'água.
O palácio era tão grande quanto a cidade no monte Olimpo, com pátios grandes e abertos, jardins, e colunas de pavilhões. Os jardins eram esculpidos com colônias
de coral e plantas do mar brilhantes. Vinte ou trinta construções eram feitas de Abalone, branco, mas reluziam com as cores do arco-íris. Peixes e outras criaturas
entravam e saíam pelas janelas. Os caminhos estavam forrados com pérolas brilhantes como enfeites de natal.
O pátio principal estava cheio de guerreiros - sereianos, com rabos de peixe da cintura para baixo e corpos humanos da cintura para cima, exceto pela pele,
que era azul, o que eu não sabia antes. Alguns estavam tratando dos feridos. Alguns estavam afiando lanças e espadas. Um deles passou por nós, nadando com pressa.
Seus olhos eram verde brilhante, como naquela coisa que colocam no Glo-sticks, e seus dentes eram como os de um tubarão. Eles não mostram coisas assim na Pequena
Sereia.
Fora do pátio principal ficavam fortificações largas - torres, paredes, e armas de anti-sítio - mas a maior parte disso tinha sido transformado em ruínas. Outros
estavam ardendo com uma luz verde que eu conhecia bem - fogo grego, que pode queimar mesmo debaixo d'água.
Além disso, o chão marítimo tinha sido engolido pela escuridão. Eu podia ver batalhas raivosas - flashes de energia, explosões, o tremeluzir do choque entre
os exércitos. Um humano normal teria achado escuro demais para enxergar. Inferno, um humano normal teria sido esmagado pela pressão e congelado pelo frio. Mesmo
os meus olhos sensitivos a calor não podiam ver exatamente o que estava acontecendo.
Na ponta do complexo do palácio, um templo com um teto de coral vermelho explodiu, mandando fogo e escombros em câmera lenta para os jardins mais distantes.
Fora da escuridão acima, uma forma enorme apareceu - uma lula maior do que qualquer arranha-céu. Estava cercado por uma nuvem brilhante de poeira - pelo menos eu
achei que fosse poeira, até que percebi que era um enxame de sereianos tentando atacar o monstro. A lula desceu sobre o palácio e deu uma pancada com seus tentáculos,
esmagando toda uma coluna de guerreiros. Então um arco brilhante de luz azul foi atirado do telhado de um dos prédios mais altos. A luz atingiu a lula gigante, e
o monstro se dissolveu como corante na água.
"Papai," disse Tyson, apontando para o lugar de onde o raio tinha vindo.
"Ele fez isso?" De repente eu me senti mais esperançoso. Meu pai tinha poderes incríveis. Ele era o deus do mar. Ele podia lidar com esse ataque, certo? Talvez
ele me deixasse ajudar.
"Você esteve na luta?" Perguntei a Tyson, "Tipo esmagando cabeças com sua impressionante força de Ciclope e tudo mais?"
Tyson fez uma careta, e eu imediatamente soube que eu tinha feito uma pergunta ruim. "Eu estive... consertando armas," ele murmurou. "Venha. Vamos encontrar
papai."


Eu sei que isso
pode soar estranho para as pessoas com, tipo, pais normais, mas eu só tinha visto meu pai quatro ou cinco vezes na minha vida, e nunca por mais do que alguns minutos.
Os deuses gregos não aparecem exatamente para ver os jogos de basquete de seus filhos. Ainda assim, eu pensei que reconheceria Poseidon de cara.
Eu estava errado.
O teto do templo era um deque grande e aberto que tinha sido colocado como centro de comando. Um mosaico no chão mostrava um mapa exato das terras do palácio
e o oceano em volta, mas o mosaico se mexia. Azulejos de pedra colorida representando os diferentes exércitos e monstros marinhos mudavam de lugar quando as forças
mudavam de posição. Construções que desmoronavam na vida real também desmoronavam na figura.
De pé ao lado do mosaico, estudando seriamente a batalha, estava um grupo sortido de guerreiros, mas nenhum deles parecia com o meu pai. Eu estava procurando
por um cara grande com um bronzeado e uma barba preta, usando bermudas e camisa havaiana.
Não tinha ninguém assim lá. Um cara era um sereiano, com duas caldas ao invés de uma. Sua pele era verde e sua armadura possuía botões de pérola. Seu cabelo
preto estava amarrado em um rabo de cavalo, e ele parecia ser jovem - apesar de ser difícil dizer com não-humanos. Eles podiam ter centenas de anos ou três. A seu
lado estava um velho com uma barba branca espessa e cabelos cinza. Sua armadura de batalha parecia ser mais pesada do que ele. Ele tinha olhos verdes e rugas de
sorriso a seu redor, mas não estava sorrindo agora. Ele estava estudando o mapa e se apoiando em um grande bastão de metal. A sua direita estava uma linda mulher
em armadura verde com cabelos negros e chifres estranhos como garras de caranguejo. E tinha um golfinho - apenas um golfinho normal, mas estava olhando intensamente
para o mapa.
"Delphin," disse o velho. "Mande Palaemon e sua legião de tubarões a frente ocidental. Nós temos que neutralizar aqueles leviatãs."
O golfinho falou em uma voz estranha, mas pude entender em minha mente: Sim, lord! Ele foi embora.
Eu olhei com receio para Tyson, depois de novo para o velho.
Não parecia possível, mas... "Pai?" Eu perguntei.
O velho me olhou. Eu reconheci o brilho em seus olhos, mas o rosto... Ele parecia ter envelhecido quarenta anos.
"Olá, Percy."
"O que - o que aconteceu com você?"
Tyson me cutucou. Ele estava sacudindo a cabeça com tanta força que eu tive medo que ela fosse cair, mas Poseidon não pareceu ofendido.
"Está tudo bem, Tyson," ele disse. "Percy, desculpe a minha aparência. A guerra tem sido dura para mim."
"Mas você é imortal," eu disse em voz baixa. "Você pode aparentar... ser o que você quiser."
"Eu retrato o estado do meu reino," ele disse. "E nesse momento esse estado é bem sério. Percy, eu deveria apresentá-lo - eu receio que tenha acabado de perder
meu tenente Delphin, Deus dos Golfinhos. Essa é minha, err, esposa, Amphitrite. Minha querida--"
A mulher na armadura verde olhou friamente para mim, depois cruzou os braços e disse, "Com licença, meu lord. Eu sou necessária na batalha."
Ela nadou para longe.
Eu me senti bem estranho, mas eu acho que não podia culpá-la. Eu nunca tinha pensado muito nisso, mas meu pai tinha uma esposa imortal. Todos os seus romances
com mortais, incluindo a minha mãe... Bem, Amphitrite provavelmente não gostava muito disso.
Poseidon limpou a garganta. "Sim, bem... e este é meu filho Triton. Err, meu outro filho.
"Seu filho e herdeiro," o cara verde corrigiu. Sua calda de peixe dupla farfalhava para frente e para trás. Ele sorriu para mim, mas não havia amizade em seus
olhos. "Olá, Perceu Jackson. Veio ajudar, finalmente?"
Ele agia como se eu estivesse atrasado ou fosse preguiçoso. Se pudesse corar debaixo d'água, eu provavelmente teria corado.
"Me diga o que fazer," Eu disse.
Triton sorriu como se essa fosse uma sugestão fofa - como se eu fosse um cachorro ligeiramente divertido que havia latido para ele ou algo assim. Ele se voltou
para Poseidon. "Eu irei para a linha de rente, Pai. Não se preocupe. Eu não falharei."
Ele assentiu educadamente para Tyson. Por que eu não ganhava esse tipo de respeito? Então ele foi embora rapidamente para mais dentro d'água.
Poseidon suspirou. Ele ergueu seu bastão, e ele se transformou em sua arma normal - um tridente enorme. As pontas brilharam com uma luz azul, e a água a seu
redor ferveu com a energia.
"Eu sinto muito por isso," ele me disse.
Uma serpente do mar gigante apareceu acima de nós e começou a descer em espirais até o telhado. Era laranja brilhante, com uma boca com presas grande o suficiente
para engolir um ginásio.
Mal olhando para cima, Poseidon apontou seu tridente para a fera e atirou energia azul. Ka-boom! O monstro explodiu em um milhão de peixes dourados, todos nadaram
para longe assustados.
"Minha família está ansiosa," Poseidon continuou como se nada tivesse acontecido. "A batalha contra Oceanus está indo mal."
Ele apontou para a borda do mosaico. Com o rabo de seu tridente ele apontou para a imagem de um sereiano maior do que os outros, com chifres de touro. Ele parecia
estar dirigindo uma carruagem puxada por lagostas, e ao invés de uma espada ele brandava uma serpente viva.
"Oceanus," eu disse, tentando me lembrar. "O titã do mar?"
Poseidon assentiu. "Ele era neutro na primeira guerra entre deuses e titãs. Mas Kronos o convenceu a lutar. Isso é... bem, não é um bom sinal. Oceanus não se
comprometeria a lutar a menos que tivesse certeza que escolheria o lado vencedor."
"Ele parece ser estúpido," eu disse tentando soar otimista. "Quero dizer, quem luta com uma cobra?"
"Papai irá amarrá-la em nós," disse Tyson firmemente.
Poseidon sorriu, mas ele parecia fatigado. "Eu aprecio sua fé. Nós estamos em guerra há quase um ano agora. Meus poderes estão sendo postos a prova. E ele ainda
consegue novas forças para jogar contra mim - monstros marinhos tão antigos que eu tinha me esquecido deles."
Eu ouvi uma explosão à distância, mais ou menos uma meia milha. Uma montanha de coral se desintegrou debaixo do peso de duas criaturas gigantes. Eu podia ver
suas formas palidamente. Um era uma lagosta. O outro era um humanóide gigante como os ciclopes, mas estava cercado por uma agitação de membros. A princípio pensei
que ele estivesse usando um monte de polvos gigantes, mas então percebi que eram seus próprios braços - cem braços malhando, lutando.
"Briares!" Eu disse.
Eu estava feliz em vê-lo, mas ele parecia estar lutando pela própria vida. Ele era o último do seu tipo - Os de cem mãos, primos dos Ciclopes. Nós o tínhamos
salvado da prisão de Kronos no último verão, e eu sabia que ele tinha vindo ajudar Poseidon, mas não tinha ouvido falar dele desde então.
"Ele luta bem," disse Poseidon. "Eu queria ter todo um exército como ele, mas ele é único."
Eu observei enquanto Briares rugia com raiva e apanhava a lagosta, que lutava e batia suas pinças. Ele a jogou na montanha de coral, e a lagosta desapareceu
na escuridão. Briares nadou atrás dele, seus cem braços girando como as pás de um barco a
"Percy, nós não temos muito tempo," meu pai disse. "Conte-me de sua missão. Você viu Kronos?"
Eu contei tudo para ele, apesar da minha voz ter ficado abafada quando expliquei sobre Beckendorf. Eu olhei para os pátios abaixo e vi centenas de sereianos
feridos deitados em leitos improvisados. Eu vi filas de corais que tinham virado sepulturas precipitadamente. Eu percebi que Beckendorf não era a primeira morte.
Ele era apenas um de centenas, talvez milhares. Eu jamais havia me sentido tão zangado e desamparado antes.
Poseidon mexeu em sua barba. "Percy, Beckendorf escolheu uma morte heróica. Você não tem culpa disso. O exército de Kronos se desordenará. Muitos foram destruídos."
"Mas nós não o matamos, matamos?"
Enquanto dizia isso, eu sabia que era uma esperança ingênua. Nós podíamos explodir seu navio e desintegrar seus monstros, mas um Lord Titã não seria morto tão
facilmente.
"Não," Poseidon admitiu. "Mas você comprou algum tempo para o nosso lado."
"Tinha meio-sangues naquele navio," eu disse, pensando na criança que tinha visto nas escadas. De alguma forma eu tinha conseguido me concentrar só nos monstros
e Kronos. Eu me convenci que não tinha problema em destruir aquele navio porque eles eram maus, eles estavam navegando para atacar minha cidade e, além do mais,
eles não poderiam ser mortos permanentemente. Monstros só eram vaporizados e se re-formavam eventualmente. Mas meio-sangues...
Poseidon colocou sua mão em meu ombro. "Percy, só tinham alguns poucos guerreiros meio-sangue naquele navio, e todos eles tinham escolhido lutar por Krons.
Talvez alguns tenham escutado seu aviso e escaparam. Se não fizeram isso... escolheram seu próprio caminho."
"Eles sofreram lavagem cerebral!" eu disse. "Agora estão mortos e Kronos ainda está vivo. Isso deveria fazer com que eu me sentisse melhor?"
Eu encarei o mosaico - pequenas explosões de azulejo destruindo monstros de azulejo. Parecia tão fácil quando era só uma figura.
Tyson pôs seu braço a minha volta. Se qualquer outra pessoa tivesse feito isso, eu a teria empurrado, mas Tyson era grande e teimoso demais. Ele me abraçava
quer eu queira quer não. "Não foi sua culpa, irmão. Kronos não explode bem. Da próxima vez vamos usar um bastão grande."
"Percy," meu pai disse. "O sacrifício de Beckendorf não foi em vão. Você dispersou a força da invasão. Nova York ficará segura por um tempo, o que libera os
outros olimpianos para lidarem com a ameaça maior."
"Ameaça maior?" Eu pensei no que o Titã dourado tinha dito em meu sonho: Os deuses responderam ao desafio. Logo serão destruídos.
Uma sombra passou pelo rosto do meu pai. "Você teve tristeza suficiente por um dia. Pergunte a Quíron quando voltar ao acampamento."
"Voltar ao acampamento? Mas você está com problemas aqui. Eu quero ajudar!"
"Você não pode, Percy. Seu trabalho é em outro lugar."
Eu não pude acreditar que estava ouvindo isso. Eu olhei para Tyson para ajuda.
Meu irmão mordeu seu lábio. "Papai... Percy pode lutar com uma espada. Ele é bom."
"Eu sei disso," Disse Poseidon gentilmente.
"Pai, eu posso ajudar," eu disse. "Eu sei que posso. Você não vai se agüentar por muito mais tempo."
Uma bola de fogo foi lançada pelo céu pelas linhas inimigas. Eu pensei que Poseidon iria desviá-la ou algo assim, mas ela pousou no jardim exterior e explodiu,
mandando sereianos dando cambalhotas pela água. Poseidon piscou como se tivesse acabado de ser esfaqueado.
"Volte ao acampamento," ele insistiu. "E diga a Quíron que está na hora."
"De que?"
"Você deve ouvir a profecia. A profecia completa."
Eu não precisava perguntar a ele qual profecia. Eu estivera ouvindo sobre "a grande profecia" por anos, mas ninguém nunca me contava a coisa toda. Tudo que
eu sabia era que eu deveria fazer uma decisão que decidiria o destino do mundo - mas sem pressão.
"E se essa for a decisão?" Eu disse. "Ficar aqui para lutar ou ir embora? E se eu partir e você..."
Eu não podia dizer morrer. Deuses não deveriam morrer, mas eu já tinha visto acontecer. Mesmo se eles não morressem, eles podiam ser reduzidos a quase nada,
exilados, prisioneiros nas profundezas do Tártaro como Kronos tinha sido.
"Percy, você deve ir," Poseidon insistiu. "Eu não sei qual será sua decisão final, mas sua luta está no mundo acima. E por motivo algum você deve falar para
seus amigos no acampamento. Kronos sabia seus planos. Vocês têm um espião. Nós vamos agüentar aqui. Não tempos opção."
Tyson agarrou minha mão desesperadamente. "Sentirei sua falta, irmão!"
Nós olhamos, nosso pai parecer envelhecer outros dez anos. "Tyson, você também tem um trabalho a fazer, meu filho. Eles precisam de você na sala de armas."
Tyson fez outra careta.
"Eu irei." Ele fungou. Ele me abraçou com tanta força que quase quebrou minhas costelas. "Percy tome cuidado! Não deixe os monstros te matarem morto!"
Eu tentei assentir confiantemente, mas isso era demais para o grandão. Ele chorou e nadou para longe em direção a sala de armas, onde seus primos estavam consertando
lanças e espadas.
"Você deveria deixá-lo lutar," eu disse a meu pai. "Ele odeia estar preso na sala de armas. Você não percebe?"
Poseidon sacudiu a cabeça. "Já é ruim o suficiente eu ter que mandá-lo para o perigo. Tyson é jovem demais. Eu devo protegê-lo."
"Você deveria confiar nele" eu disse. "Não tentar protegê-lo."
Os olhos de Poseidon queimaram. Eu pensei que tinha ido longe demais, mas então ele olhou para o mosaico e seus ombros se envergaram. Nos azulejos o sereiano
na carruagem de lagosta estava se aproximando do palácio.
"Oceanus se aproxima..." me pai disse. "Eu devo encontrá-lo em batalha."
Eu nunca tive medo por um deus antes, mas eu não podia ver como meu pai poderia enfrentar Oceanus e vencer.
"Eu agüentarei," Poseidon prometeu. "Eu não desistirei de meu reino. Apenas me diga Percy, você ainda tem o presente de aniversário que lhe dei no verão passado?"
Eu assenti e puxei meu cordão do campo. Ele tinha uma conta para cada verão que eu estive no acampamento meio-sangue, mas desde o verão passado também tinha
um dólar de areia pendurado. Meu pai tinha me dado de presente de aniversário de quinze anos. Ele me disse que eu saberia como "gasta-lo", mas até agora eu não tinha
entendido o que ele quis dizer com isso. Tudo o que eu sabia é que não entrava nas máquinas da cantina da escola.
"O tempo está chegando," ele prometeu. "Com alguma sorte eu te verei no seu aniversário semana que vem, e nós faremos uma celebração apropriada."
Ele sorriu, e por um momento eu vi a velha luz em seus olhos.
Então o mar inteiro ficou escuro na nossa frente, como se uma tempestade de tinta estivesse passando. Um trovão crepitou o que deveria ser impossível debaixo
d'água. Uma enorme presença fria estava se aproximando. Eu senti uma onda de medo passar pelos exércitos abaixo de nós.
"Eu devo assumir minha forma real de Deus," disse Poseidon. "Vá - e boa sorte, meu filho."
Eu quis encorajá-lo, abraçá-lo ou algo assim, mas eu sabia que era melhor não ficar por perto. Quando um deus assume sua forma verdadeira, o poder é tão grande
que qualquer mortal que olhar para ele se desintegrará.
"Adeus, pai," eu consegui.
Então eu me virei. Eu pedi para as correntes marinhas que me ajudassem. A água rodopiava a minha volta, e eu estourei em direção a superfície em velocidade
que fariam um humano normal explodir como um balão.
Quando eu olhei para trás, tudo o que pude ver eram flashes de azul e verde enquanto meu pai lutava com o Titã, e o próprio mar estava dividido pelos dois exércitos.

































CAPÍTULO TRÊS - EU GANHO UMA ESPIADA EM MINHA MORTE.

Se você quer ser popular no acampamento meio-sangue, não volte de uma missão com notícias ruins.
A notícia da minha chegada se espalhou assim que eu saí do oceano. Nossa praia fica no litoral norte de Long Island e é encantada, então a maior parte das
pessoas nem consegue vê-la. Pessoas não simplesmente aparecem na praia a menos que sejam meio-sangues, ou deuses ou entregadores de pizza muito, muito perdidos.
(Isso realmente aconteceu - mas já é outra história.)
De qualquer forma, o vigia que estava trabalhando era Connor Stoll da cabine de Hermes. Quando ele me viu, ele ficou tão excitado que caiu da árvore onde estava.
Então ele soprou o chifre de búzio para sinalizar o acampamento e correu para me cumprimentar.
Connor tinha um sorriso torto que combinava com seu senso de humor torto. Ele é um cara bem legal, mas você sempre deve ficar com uma mão na carteira enquanto
ele está por perto, e não dê a ele, sob circunstância nenhuma, acesso a creme de barbear, a menos que queira achar seu saco de dormir cheio dele. Ele tem cabelo
castanho encaracolado que é um pouco mais curto do que o de seu irmão, Travis, e esse é o único jeito que tenho para diferenciá-los. Os dois são tão diferentes do
meu velho inimigo Luke que é difícil acreditar que são todos filhos de Hermes.
"Percy!" ele gritou. "O que aconteceu? Onde está Beckendorf?"
Então ele viu minha expressão, e seu sorriso derreteu. "Oh, não. Pobre Silena. Santo Zeus, quando ela descobrir..."
Juntos nós subimos as dunas de areia. Algumas centenas de metros à frente, as pessoas já estavam andando em nossa direção. Percy voltou, elas provavelmente
estão pensando. Ele salvou o dia! Talvez tenha trazido souvenires!
Eu parei no pavilhão de refeições e os esperei. Não fazia sentido correr até lá para dizer a eles o perdedor que eu era.
Eu olhei através do vale e tentei me lembrar como o acampamento meio-sangue parecia da primeira vez que eu o vi. Isso parecia ter sido há um zilhão de anos
atrás.
Do pavilhão de refeições, você podia ver praticamente tudo. Colinas circulavam o vale. Na mais alta, a Colina meio-sangue, o pinheiro de Thalia continuava
com o velocino de ouro pendurado em seus galhos, protegendo magicamente o campo de seus inimigos. O dragão de guarda Peleus estava tão grande agora que eu podia
vê-lo daqui - enrolado no tronco da árvore, mandando sinais de fumaça enquanto roncava.
A minha direita estava a floresta. A minha esquerda, o lago da canoagem que brilhava, e a parede de escaladas que ficava incandescente por causa da lava
que passava por ela. Doze cabines - uma para cada deus olímpiano - faziam um padrão de uma ferradura em volta da área comum. Mais ao sul estavam os campos de morango,
a sala de armas e a Casa Grande de quatro andares com sua pintura azul e o cata-vento de águia.
De certa forma, o acampamento não tinha mudado. Mas você não pode ver uma guerra olhando para prédios ou campos. Você a vê nos rostos dos meio-sangues, sátiros
e naídes que estavam subindo a colina.
Não tinham tantos no acampamento quanto a quatro verões atrás. Alguns tinham ido e nunca voltaram. Alguns tinham morrido lutando. Outros - nós tentamos não
falar sobre eles - tinham se juntado ao inimigo.

Os que ainda estavam aqui estavam endurecidos pela batalha e cansados. Tinha pouco riso no campo esses dias. Mesmo a cabine de Hermes não fazia tantas travessuras.
É difícil apreciar as brincadeirinhas de mau gosto quando toda sua vida parecia ser uma.
Quíron galopou para o pavilhão chegando primeiro, o que era fácil para ele, já que era garanhão branco da cintura para baixo. Sua barba tinha crescido desordenada
durante o verão. Ele usava uma camisa verde dizendo MEU OUTRO CARRO É UM CENTAURO e um arco estava pendurado em suas costas.
"Percy!" ele disse. "Graças aos deuses. Mas onde..."
Annabeth entrou correndo logo atrás dele, e irei admitir que meu coração fez uma pequena volta olímpica em meu peito quando eu a vi. Não é que ela tentasse
parecer bonita. Nós estivéramos indo a tantas missões de combate ultimamente, ela mal penteava seu cabelo loiro encaracolado, e ela não ligava para as roupas que
estava usando - geralmente a mesma camisa laranja do acampamento meio-sangue e jeans, e de vez em quando sua armadura de bronze. Seus olhos eram de um cinza tempestuoso.
Na maior parte do tempo, nós não podíamos conversar sem tentar estrangular um ao outro. Apesar disso, só de vê-la me fez ficar ligeiramente embriagado. No verão
passado, logo antes de Luke ter se transformado em Kronos e tudo ter ficado azedo, teve algumas vezes que eu pensei que talvez... Bem, que talvez nós pudéssemos
passar da fase de estrangular-um-ao-outro.
"O que aconteceu?" Ela agarrou meu braço. "O Luke está--"
"O navio explodiu," Eu disse. "Ele não foi destruído. Eu não sei onde--"
Silena Beauregard empurrou através da multidão. Seus cabelos não estavam penteados e ela nem ao menos estava usando maquiagem, o que não era próprio dela.
"Onde está Charlie?" ela exigiu, procurando em volta como se ele pudesse ter se escondido.
Eu olhei desamparado para Quíron.
O velho centauro clareou a garganta. "Silena, minha querida, vamos falar sobre isso na casa grande--"
"Não," ela murmurou. "Não. Não."
Ela começou a chorar e o resto de nós ficou ali, atordoados demais para falar alguma coisa. Nós já havíamos perdido tantas pessoas no verão, mas isso era
pior. Com Beckendorf morto, parecia que alguém tinha roubado a âncora de todo o acampamento.
Finalmente Clarisse da cabine de Ares deu um passo à frente. Ela colocou seu braço ao redor de Silena. Elas tinham a amizade mais estranha do mundo - uma
filha do deus da guerra e uma filha da deusa do amor - mas desde que Silena deu conselhos a Clarisse sobre seu primeiro namorado, Clarisse decidiu que era a guarda-costas
pessoal de Silena.
Clarisse estava vestida em sua armadura de combate cor de sangue, com seu cabelo castanho preso em uma bandana. Ela era tão grande e musculosa quanto um
jogador de Rúgbi, com uma carranca permanente em seu rosto, mas ela falou gentilmente com Silena.
"Vamos, garota," ela disse. "Vamos para a casa Grande. Eu farei um chocolate quente para você."
Todos se voltaram e foram embora em duplas ou trios, em direção as cabines. Ninguém estava exitado para me ver agora. Ninguém queria ouvir falar sobre o
navio explodido.
Apenas Annabeth e Quíron ficaram para trás.
Annabeth varreu uma lágrima de sua bochecha. "Eu estou feliz que você não esteja morto, cabeça de alga."
"Obrigado," eu disse. "Eu também."
Quíron pôs uma mão em meu ombro. "Tenho certeza que você fez tudo que pode Percy. Você irá nos contar o que aconteceu?"
Eu não queria passar por aquilo de novo, mas eu lhes contei a história, incluindo meu sonho sobre os titãs. Eu exclui o detalhe sobre Nico. Nico havia me
feito prometer que eu não contaria a ninguém sobre seu plano até que eu já tivesse resolvido, e o plano era tão assustador que eu não me importava em mantê-lo em
segredo.
Quíron olhou para o vale. "Nós devemos convocar um conselho de guerra. Imediatamente. Para discutirmos sobre esse espião, e outros problemas."
"Poseidon mencionou outra ameaça," eu disse. "Alguma coisa ainda maior do que o Princesa Andrômeda. Eu pensei que poderia ser o desafio que o Titã mencionou
em meu sonho."
Quíron e Annabeth trocaram olhares, como se soubessem alguma coisa que eu não sabia. Eu odiava quando faziam isso.
"Nós também vamos discutir isso," Quíron prometeu.
"Mais uma coisa." Eu respirei fundo. "Quando eu falei com meu pai, ele disse para dizer a você que está na hora. Eu preciso saber a profecia completa."
Os ombros de Quíron se arquearam, mas ele não pareceu surpreso. "Eu temi esse dia. Muito bem. Annabeth, nós vamos mostrar a Percy a verdade - toda ela. Vamos
ao sótão.


Eu estive no sótão da casa grande três vezes antes, o que era três vezes a mais do que eu desejava ter ido.
Uma escada levava até lá de cima. Eu me perguntei como Quíron iria até lá, sendo meio cavalo e tudo, mas ele não tentou.
"Você sabe onde está" ele disse a Annabeth. "Traga para baixo, por favor."
Annabeth assentiu. "Venha, Percy."
O sol estava se pondo do lado de fora, então o sótão estava ainda mais escuro e arrepiante do que o normal. Troféus de heróis antigos estavam empilhados
em todos os lugares - escudos dentados, cabeças decepadas de vários monstros em jarros, um par de dados felpudos em uma placa de bronze que dizia: ROUBADO DO HONDA
CIVIC DE CHRYSAOR, POR GUS, FILHO DE HERMES, 1998.
Eu apanhei uma espada de bronze tão afundada que parecia com a letra M. Eu ainda podia ver manchas verdes no metal do veneno mágico que costumava cobri-la.
A etiqueta estava datada do verão passado. "Ela dizia: Cimitarra de Kampê, destruída na batalha do labirinto."
"Você se lembra de Briares jogando aqueles pedregulhos?" eu perguntei.
Annabeth me lançou um sorriso maldoso. "E Grover causando o Pânico?"
Nós trocamos olhares. Eu pensei em uma época diferente do verão passado, debaixo do monte St.Helens, quando Annabeth pensou que eu ia morrer e me beijou.
Ela limpou a garganta e desviou o olhar. "Profecia."
"Certo." Eu larguei a cimitarra. "Profecia."
Nós andamos até a janela. Em um banquinho de três pernas estava o Oráculo - uma múmia murcha em um vestido colorido. Tufos de cabelos pretos estavam agarrados
em seu crânio. Olhos vidrados encaravam o nada em sua cara semelhante a couro. Só olhar para ela fez minha pele se arrepiar.
Se você quisesse deixar o campo durante o verão, você costumava ter que vir aqui para uma missão. Esse verão, a regra tinha sido deixada de lado. Campistas
saíam o tempo todo em missões de combate. Nós não tínhamos escolha se quiséssemos parar Kronos.
Ainda assim eu me lembrava bem demais da névoa verde estranha - o espírito do oráculo - que vivia dentro da múmia. Ela parecia sem vida agora, mas sempre
que falava uma profecia, ela se mexia. Às vezes uma névoa saía de sua boca e criava formas estranhas. Uma vez ela já tinha até deixado o sótão e dado uma voltinha
como zumbi na floresta para entregar uma mensagem. Eu não tinha certeza do que ela ia fazer em relação "a grande profecia". Eu meio que esperava que ela começasse
a sapatear ou algo assim.
Mas ela apenas estava lá como se estivesse morta - o que ela estava.
"Eu nunca entendi isso," eu sussurrei
"O que?" perguntou Annabeth.
"Porque é uma múmia."
"Percy, ela não costumava ser uma múmia. Por centenas de anos o espírito de Oráculo viveu dentro de uma bela donzela. O espírito passava de geração em geração.
Quíron me disse que ela era assim há cinqüenta anos." Annabeth apontou para a múmia. "Mas ela foi a última."
"O que aconteceu?"
Annabeth começou a dizer alguma coisa, mas depois mudou de idéia aparentemente. "Vamos apenas fazer nosso trabalho e sair daqui."
Eu olhei nervosamente para a cara murcha do oráculo. "Então o que agora?"
Annabeth se aproximou da múmia e estendeu as palmas.
"Ò Oráculo, já é tempo. Eu peço pela Grande Profecia."
Eu estendi os braços eu mesmo, mas a múmia não se mexeu. Ao invés disso Annabeth se aproximou e desabotoou um de seus cordões. Eu nunca tinha prestado muita
atenção a suas jóias e coisa e tal. Mas quando Annabeth se voltou para mim, ela estava segurando uma bolsa de couro - como uma bolsa nativo-americana de remédios,
fechada com uma corda com penas. Ela abriu a bolsa e tirou um rolo de pergaminho que não era maior do que seu dedo.
"Sem chance," eu disse. "Você quer dizer que todos esses anos, eu estive perguntando sobre essa profecia estúpida, e estava bem aqui em volta do pescoço dela?"
"Ainda não era tempo," disse Annabeth. "Acredite em mim, Percy, eu li isso quando tinha 10 anos de idade, e ainda tenho pesadelos sobre isso."
"Ótimo." Eu disse. "Posso lê-la agora?"
"Lá em baixo no conselho de guerra," disse Annabeth. "Não na frente da... você sabe."
Eu olhei para os olhos vidrados do oráculo, e decidi não discutir. Nós descemos as escadas para nos juntarmos aos outros. Eu não sabia disso naquela época,
mas essa seria a última vez que eu entraria no sótão.


Os conselheiros seniores tinham se reunido em volta da mesa de Ping-Pong. Não me pergunte por que, mas a sala de recreação tinha se tornado o quartel-general
não oficial para conselhos de guerra. Quando Annabeth, Quíron e eu entramos, entretanto, parecia mais com uma competição de gritos.
Clarisse ainda estava vestindo a armadura completa. Sua lança elétrica estava presa em suas costas. (Na verdade sua segunda lança elétrica, já que eu tinha
quebrado a primeira. Ela chamava a lança de "mutiladora." Nas suas costas, todos os outros a chamavam de "perdedora.") Ela tinha um elmo em forma de javali debaixo
de seu braço e uma faca em seu cinto.
Ela estava no meio de uma gritaria com Michael Yew, o novo conselheiro de Apollo, o que parecia meio engraçado já que Clarisse é quase trinta centímetros mais
alta. Michael tinha assumido a cabine de Apollo depois de Lee Fletcher ter morrido na batalha verão passado. Ele me lembrava um detetive, com um nariz pontudo e
feições marcadas - Provavelmente porque fazia muita carranca ou porque passava muito tempo olhando para a flecha em um arco.
"É a nossa pilhagem!" ele gritava, ficando na ponta dos pés para que pudesse encarar Clarisse. "Pode beijar minha alijava!"
Ao redor da mesa, pessoas estavam tentando não rir - os irmãos Stool, Pollux da cabine de Dionísio, Katie Gardner de Deméter. Até Jake Mason, o apressadamente
escolhido novo conselheiro de Hefesto, abriu um pequeno sorriso. Apenas Silena Beauregard não prestava muita atenção. Ela se sentou ao lado de Clarisse e encarava
ociosamente a rede de Ping-Pong.
Seus olhos estavam vermelhos e inchados. Uma xícara de chocolate quente jazia intocada na sua frente. Parecia injusto que ela tivesse que estar aqui. Eu não
podia acreditar que Clarisse e Michael estavam de pé a seu lado, discutindo sobre alguma coisa tão estúpida como uma pilhagem, quando ela tinha acabado de perder
Beckendorf.
"PAREM COM ISSO!" Eu gritei. "O que vocês estão fazendo?"
Clarisse me lançou um olhar ameaçador. "Diga ao Michael para não ser um idiota egoísta."
"Oh, isso é perfeito, vindo de você," disse Michael.
"A única razão para eu estar aqui é para apoiar Silena!" gritou Clarisse. "De outra forma eu estaria de volta a minha cabine."
"Do que vocês estão falando?" eu demandei.
Pollux clareou a garganta. "Clarrise tem se recusado a falar com qualquer um de nós até que seu, hum, problema seja resolvido. Ela não fala nada há três dias."
"Tem sido ótimo," disse Travis Stool cortante.
"Que problema?" eu perguntei.
Clarisse se virou para Quíron. "Você está no comando, certo? A minha cabine ganha o que quer ou não?"
Quíron bateu seus cascos. "Minha querida, como eu já expliquei, Michael está certo. A cabine de Apolo tem mais direito. Além disso, nós temos problemas mais
importantes--"
"Claro," Clarisse rebateu. "Sempre há problemas mais importantes do que o que Ares precisa. Nós só devemos aparecer e lutar quando vocês precisarem de nós,
e não reclamarmos!"
"Isso seria legal," murmurou Connor Stoll
Clarisse pegou sua faca. "Talvez eu devesse perguntar ao sr.D--"
"Como você sabe," Quíron interrompendo, seu tom ligeiramente zangado agora, "nosso diretor, Dionísio, está atarefado com a guerra. Ele não pode ser chateado
com isso."
"Entendo," disse Clarisse. "E os conselheiros seniores? Algum de vocês está do meu lado?"
Ninguém estava sorrindo agora. Nenhum deles encontrou o olhar de Clarisse.
"Ótimo." Clarisse se virou para Silena. "Eu sinto muito. Eu não pretendia entrar nisso quando você acabou de perder... De qualquer forma eu me desculpo. Com
você. Ninguém mais."
Silena não pareceu registrar suas palavras.
Clarisse atirou sua faca em cima da mesa de Ping-Pong. "Todos vocês podem lutar essa guerra sem Ares. Até eu ter minha satisfação ninguém da minha cabine vai
erguer um dedo para ajudar. Se divirtam morrendo."
Os conselheiros estavam chocados demais para dizer qualquer coisa enquanto Clarisse saía da sala como uma tempestade.
Finalmente Michael Yew disse, "Que alívio."
"Você está brincando?" protestou Katie Gardner. "Isso é um desastre!"
"Ela não pode estar falando sério," disse Travis. "Pode?"
Quíron assentiu. "Seu orgulho foi ferido. Ela vai se acalmar eventualmente." Mas ele não pareceu convencido.
Eu queria perguntar com que diabos Clarisse estava com tanta raiva, mas eu quando olhei para Annabeth e ela falou sem emitir som um "Te conto mais tarde."
"Agora," Quíron continuou, "se vocês puderem conselheiros. Percy trouxe algo que eu acho que todos devem escutar. Percy - a grande profecia.".

"Um meio-sangue filho de um dos três cães..."
"Er... Percy?" Annabeth interrompeu. "Isso é grandes, não cães."
"Oh, certo," eu disse. Ser disléxico é uma marca de um meio-sangue, mas às vezes eu realmente odiava isso. Quanto mais nervoso eu fico, o pior minha leitura
é. "Um meio-sangue de um dos três grandes deuses... chegará aos dezesseis contra todas as chances..."
Eu hesitei, encarando as próximas linhas. Uma impressão gelada começou em meus dedos como se o papel estivesse congelando.
"E verá o mundo em um sono sem fim,"
"A alma do herói, pela lâmina amaldiçoada será ceifada"
De repente contracorrente pareceu mais pesada no meu bolso. Uma lâmina amaldiçoada? Quíron uma vez me disse que Contracorrente tinha trazido tristeza a muitas
pessoas. Seria possível que minha própria espada me mataria? E como o mundo entraria em um sono sem fim, a menos que isso significasse morte?"
"Percy," estimulou Quíron. "Leia o resto."
Minha boca parecia cheia de areia, mas eu falei as últimas duas linhas.
"Uma única escolha deverá... deverá terminar seus dias."
"O olimpo per-perseguir--"
"Preservar", disse Annabeth gentilmente. "Significa salvar."
"Eu sei o que significa," eu resmunguei. "O olimpo preservar ou arrazar."
A sala estava silenciosa. Finalmente Connor Stoll disse, "Levantar é bom, não é?"
"Não levantar," disse Silena. Sua voz estava baixa, mas eu estava surpreso de ouvi-la falar qualquer coisa. "A-r-r-a-z-a-r significa destruir."
"Obliterar," disse Annabeth. "Aniquilar. Transformar em pó."
"Entendemos." Meu coração parecia de chumbo. "Obrigado."
Todos estavam olhando para mim - com preocupação, ou pena, ou talvez um pouco de medo.
Quíron fechou os olhos como se estivesse fazendo uma oração. Em forma de cavalo, sua cabeça quase tocava as luzes da sala de recreação. "Você vê agora, Percy,
o porquê de termos achado que seria melhor não te contar a profecia completa. Você tinha peso o suficiente em seus ombros--"
"Sem perceber que eu morreria de qualquer forma no final?" Eu disse. "Yeah, eu entendi."
Quíron me olhou tristemente. O cara tinha trezentos anos de idade. Ele tinha visto centenas de heróis morrerem. Ele podia não gostar disso, mas estava acostumado.
Ele provavelmente sabia melhor do que eu, ao tentar me tranqüilizar.
"Percy," disse Annabeth. "Você sabe que as profecias sempre têm um duplo significado. Pode não significar literalmente a sua morte."
"Com certeza," eu disse. "Uma única escolha deverá terminar seus dias. Isso tem toneladas de significados, certo?"
"Talvez nós possamos impedir," ofereceu Jake Mason. "A alma do herói, pela lâmina amaldiçoada será ceifada. Talvez nós possamos achar essa lâmina amaldiçoada
e destruí-la. Soa como a foice de Kronos, certo?
Eu não tinha pensado nisso, mas não importava se a lâmina amaldiçoada era contracorrente ou a foice de Kronos. De qualquer forma, eu duvidava que pudéssemos
parar a profecia. Uma lâmina estava destinada a ceifar minha alma. Como regra geral, eu preferia não ter minha alma ceifada.
"Talvez nós devêssemos deixar Percy pensar sobre essas linhas," disse Quíron. "Ele precisa de tempo--"
"Não." Eu dobrei a profecia e a meti em meu bolso. Eu me senti desafiado e com raiva, apesar de não saber de quem eu estava com raiva. "Eu não preciso de tempo.
Se eu morrer, eu morro. Eu não posso me preocupar com isso, certo?"
As mãos de Annabeth estavam tremendo um pouco. Ela não em olhava nos olhos.
"Vamos continuar," eu disse. "Nós temos outros problemas. Nós temos um espião."
Michael Yew fez uma carranca. "Um espião?"
Eu contei a eles o que tinha acontecido no Princesa Andrômeda - Como Kronos sabia de antemão que viríamos, como ele tinha me mostrado o pingente de prata em
forma de foice que ele usava para se comunicar com alguém no campo.
Silena começou a chorar novamente, e Annabeth colocou um braço em seus ombros.
"Bem," disse Connor Stoll desconfortavelmente, "nós suspeitávamos que tivesse um espião há anos, certo? Alguém continuou a passar informação para Luke - como
a localização do Velocino de Ouro a dois anos atrás. Deve ser alguém que o conhecia bem."
Inconscientemente, ele olhou para Annabeth. Ela tinha conhecido Luke melhor do que qualquer um é claro, mas Connor desviou o olhar rapidamente. "Um, quero dizer,
poderia ser qualquer um."
"Sim." Katie Gardner encarou os irmãos Stoll. Ela desgostava deles desde que eles decoraram o telhado de grama de Demeter com coelhinhos da páscoa de chocolate.
"Como um dos irmãos de Luke."
Travis e Connor começaram a discutir com ela.
"Parem!" Silena bateu na mesa com tanta força que seu chocolate quente derramou. "Charlie está morto e... vocês estão todos discutindo como criancinhas!" Ela
abaixou a cabeça e começou a soluçar.
Chocolate quente caía da mesa de Ping-Pong. Todos pareciam envergonhados.
"Ela está certa," disse Pollux finalmente. "Acusar um ao outro não ajuda. Nós precisamos manter os olhos abertos para um colar com pingente de foice. Se Kronos
tinha um, o espião provavelmente tem também."
Michael Yew grunhiu. "Nós temos que achar esse espião antes de planejarmos nossa próxima operação. Explodir o Princesa Andrômeda não irá dete-lo para sempre."
"Realmente," Disse Quíron. "De fato seu próximo ataque já está vindo."
Eu franzi minhas sobrancelhas. "Você quer dizer a "ameaça maior" que Poseidon mencionou?"
Ele e Annabeth trocaram um olhar, Está na hora. Eu já mencionei que odeio quando eles fazem isso?
"Percy," disse Quíron, "nós não queríamos lhe dizer até você voltar para o campo. Você precisava de umas férias com seus... amigos mortais"
Annabeth corou. Eu entendi que ela sabia que eu estivera saindo com Rachel, e eu me senti culpado. Então eu me senti com raiva por estar me sentindo culpado.
Eu tinha permissão para ter amigos fora do campo, certo? Não era como se...
"Me conte o que aconteceu," eu disse.
Quíron pegou um cálice de bronze da mesa de lanches. Ele jogou água dentro do prato quente onde geralmente derretíamos queijo nacho. Vapor subiu, fazendo um
arco-íris de cores fluosflorecentes. Quíron tirou um Dracma de ouro de sua algibeira, o jogou na névoa, e murmurou, "O Íris, Deusa do Arco Íris, nos mostre a ameaça."
A névoa estremeceu. Eu vi a imagem familiar de um vulcão oculto - o monte St. Helens. Enquanto eu olhava, o lado da montanha explodiu. Fogo, cinza, e lava saíram.
Uma voz de telejornal estava dizendo "- ainda maior do que a erupção do ano passado, e os geólogos avisam que a montanha pode não ter terminado."
Eu sabia tudo sobre a erupção do ano passado. Eu a tinha causado. Mas essa explosão era muito pior. A montanha estava destruindo a si mesma, ruindo pelo lado
de dentro. Uma forma enorme saiu da fumaça e da lava como se estivesse saindo de um bueiro. Eu esperava que a Névoa impedisse os humanos de ver claramente, porque
o que eu vi teria causado pânico e motins nos Estados Unidos inteiro.
O gigante era maior do que qualquer outra coisa que eu já havia encontrado. Mesmo meus olhos de meio-sangue não podia ver sua forma exata através das cinzas
e do fogo, mas era vagamente humanóide e tão grande que podia ter usado o prédio Chrysler como bastão de Baseball. A montanha tremeu com um som horrível, como se
o monstro estivesse rindo.
"É ele," eu disse. "Typhson."
Eu estava esperando seriamente que Quíron fosse dizer alguma coisa boa, tipo Não, aquele é o nosso amigo gigante Leroy! Ele irá nos ajudar! Mas estava sem essa
sorte. Ele simplesmente assentiu. "O monstro mais horrível de todos, a maior ameaça que os deuses já enfrentaram. Ele se libertou de debaixo da montanha enfim. Mas
essa cena é de dois dias atrás. Isso é o que está acontecendo hoje."
Quíron balançou sua mão e a imagem mudou. Eu vi um monte de nuvens de tempestade passando através das planícies do meio-oeste. Raios tremeluziam. Linhas de
tornados destruíam tudo em seu caminho - arrancando casas e trailers, arremessando carros como se fossem de brinquedo.
"Inundações monumentais," um locutor estava dizendo. "Cinco estados declararam áreas de risco enquanto a tempestade anormal continua indo para o leste, continuando
seu caminho de destruição." As câmeras deram zoom em uma coluna de tempestade arrasando alguma cidade do meio-oeste. Eu não podia dizer qual era. Dentro da tempestade
eu podia ver o gigante - apenas relances de sua forma verdadeira: um braço esfumação, uma mão escura do tamanho de um bairro da cidade. Seu rosnar zangado passou
pelas planícies como uma explosão nuclear. Outras formas menores se lançavam através das nuvens, circulando o monstro. Eu vi flashes de luz, e eu percebi que o gigante
estava tentando afastá-los. Eu estreitei os olhos e pensei ter visto uma biga dourada voando para dentro da escuridão. Então algum tipo de ave enorme - uma coruja
monstruosa - mergulhou para atacar o gigante.
"Esses são... os deuses?" eu disse.
"Sim, Percy," disse Quíron. "Eles estiveram lutando contra ele por dias agora, tentando diminuir seu ritmo. Mas Typhson continua seguindo em frente - em direção
a Nova York. Em direção ao Olimpo."
Eu deixei isso se enterrar. "Quanto tempo até que ele chegue aqui?"
"A menos que os deuses o impeçam? Talvez cinco dias. A maior parte dos olímpianos está lá... exceto seu pai, que tem uma guerra própria para lutar."
"Mas então quem está guardando o Olimpo?"
Connor Scoll sacudiu a cabeça. "Se Typhson chegar a Nova York, não importará quem está guardando o Olimpo."
Eu pensei sobre as palavras de Kronos no navio: Eu adoraria ver o terror em seus olhos quando você perceber como eu vou destruir o Olimpo.
Era disso que ele estava falando: Um ataque de Typhson? Com certeza era aterrorrizante o suficiente. Mas Kronos estava sempre nos enganando, guiando nossa atenção
para o lugar errado. Isso parecia ser óbvio demais para ele. E em meu sonho, o titã dourado tinha falado sobre vários outros desafios que estavam vindo, como se
Typhson fosse apenas o primeiro.
"É um truque," eu disse. "Nós temos que alertar os deuses. Alguma outra coisa vai acontecer."
Quíron me olhou gravemente. "Alguma coisa pior do que Typhson? Eu espero que não."
"Nós temos que defender o Olimpo," eu insisti. "Kronos tem outro ataque planejado."
"Ele tinha," Travil Stoll me lembrou. "Mas você afundou o navio dele."
Todos estavam olhando para mim. Eles queriam algumas boas notícias. Eles queriam acreditar que pelo menos eu tinha dado a eles alguma esperança.
Eu olhei para Annabeth. Eu podia dizer que estávamos pensando a mesma coisa: E se o Princesa Andrômeda fora um truque? E se Kronos tinha nos deixado afundar
o navio para que baixássemos nossa guarda?
Mas eu não ia dizer isso na frente de Silena. O namorado dela tinha se sacrificado por aquela missão.
"Talvez você esteja certo," eu disse, apesar de não acreditar naquilo.
Eu tentei imaginar como as coisas podiam piorar muito. Os deuses estavam no meio-oeste lutando contra um monstro gigante que quase os derrotara uma vez antes.
Poseidon estava debaixo d'água e perdendo uma guerra contra o titã do mar Oceanus. Kronos ainda estava por aí. O olimpo estava virtualmente desprotegido. Os semideuses
do acampamento meio-sangue estavam por si só com um espião em nosso meio.
Oh, e de acordo com uma profecia antiga, eu iria morrer quando eu fizesse dezesseis anos - o que aconteceria em cinco dias, o tempo exato que Typhson estava
suposto para chegar à Nova York. Quase tinha me esquecido disso.
"Bem," disse Quíron, "eu acho que foi o suficiente por uma noite."
Ele acenou com a mão e o vapor desapareceu. A batalha tempestuosa entre Typhon e os deuses desapareceu.
"Isso é atenuar a situação," eu murmurei.
E a reunião de guerra foi suspensa.














CAPÍTULO QUATRO - NÓS QUEIMAMOS UMA MORTALHA DE METAL

Eu sonhei que Rachel Elisabeth Dare estava jogando dardos em meu retrato.
Ela estava de pé em seu quarto... Okay, volta a fita. Eu tenho que explicar que Rachel não tem um quarto. Ela tem o último andar da mansão da família dela,
que é uma pedra marrom renovada no Brooklin. O "quarto" dela era um loft enorme com luz industrial de janelas do chão ao teto. Era mais ou menos duas vezes maior
do que o apartamento da minha mãe.
Algum rock muito alto saia do seu sistema de som Bose. Até onde eu sabia, a única regra de Rachel sobre música era que duas músicas em seu ipod não podiam
se parecer, e todas elas tinham que ser singulares..
Ela usava um kimono, e seu cabelo estava frisado, como se ela estivesse estado dormindo. Sua cama estava bagunçada. Lençóis estavam jogados em cima de alguns
cavaletes artísticos. Roupas sujas e papéis de barras energéticas velhos estavam espalhados pelo chão, mas quando se tem um quarto tão grande assim, a bagunça não
parece tão ruim. Pelas janelas todo o céu noturno de Manhattan.
O retrato que ela estava atacando era uma pintura minha lutando contra o gigante Antaeus. Rachel a tinha pintado há alguns meses atrás. Minha expressão na figura
era feroz - perturbadora até - então era difícil saber se eu era o mocinho ou o bandido, mas Rachel disse que era assim que eu parecia logo depois da batalha.
"Meio-sangues," Rachel murmurou enquanto ela jogava outro dardo na tela. "E suas estúpidas missões."
A maioria dos dardos caía, mas alguns ficavam. Um ficou preso no meu queixo como um cavanhaque.
Alguém bateu na porta de seu quarto.
"Rachel!" Um homem gritou. "O que diabos você está fazendo? Desligue esse-"
Rachel pegou seu controle remoto e desligou a música. "Entre!"
Seu pai entrou, franzindo as sobrancelhas e piscando por causa da luz. Ele tinha cabelos cor de ferrugem um pouco mais escuros do que os de Rachel. Estava esmagado
de um lado como se tivesse perdido uma guerra contra seu travesseiro. Ele usava pijamas de seda azul com o monograma "WD" no bolso. Sério, quem tinha pijamas manografados?
"O que está acontecendo?" Ele demandou. "São três da manhã."
"Não conseguia dormir," disse Rachel.
No retrato, um dardo caiu do meu rosto. Rachel escondeu o resto em suas costas, mas o Sr. Dare notou.
"Então... Eu devo presumir que seu amigo não vai para St. Thomas?" Era assim que o Sr.Dare me chamava. Nunca de Percy. Somento seu amigo. Ou jovemzinho se estivesse
falando comigo, o que ele fazia raramente.
Rachel bateu as sobrancelhas. "Eu não sei."
"Nós partiremos de manhã," seu pai disse. "Se ele ainda ao se decidiu--"
"Ele provavelmente não vem," disse Rachel miseravelmente. "Feliz?"
O Sr. Dare colocou suas mãos atrás das costas. Ele olhou para o quarto com uma expressão stern. Eu imaginei que ele fazia isso na sala de reuniões de sua empresa
e fazia com que seus empregados ficassem preocupados.
"Você ainda está tendo sonhos ruins?" ele perguntou. "Dores de cabeça?"
Rachel jogou seus dardos no chão. "Eu nunca deveria lhe ter contado sobre isso."
"Eu sou seu pai," ele disse. "Estou preocupado com você."
"Preocupado com a reputação da família," Rachel murmurou.
Seu pai não reagiu - talvez por que ele já tivesse ouvido aquele comentário antes, ou talvez porque fosse verdade.
"Nós podíamos chamar o dr. Arkwright," ele sugeriu. "Ele te ajudou a superar a morte de seu hamster."
"Eu tinha seis anos naquela época," ela disse. "E não, pai, eu não preciso de um terapeuta. Eu só..." Ela sacudiu a cabeça desamparada.
Seu pai parou na frente das janelas. Ele olhou para o céu de Nova York como se fosse o dono dela - o que não era verdade.Ele só era dono de uma parte.
"Vai ser bom para você ir embora," ele decidiu. "Você teve algumas influências não saudáveis."
"Eu não vou para a Clarion Ladies Academy," disse Rachel. "E meus amigos não são da sua conta."
Sr. Dare sorriu, mas não era um sorriso acolhedor. Ela mais como um, Algum dia você vai perceber o quão tola você soa.
"Tente dormir um pouco."Ele urgiu. "Nós estaremos na praia amanhã a noite. Será divertido."
"Divertido," repetiu Rachel. "Divertidíssimo."
Seu pai saiu do quarto. Ele deixou a porta aberta atrás dele.
Rachel encarou o meu retrato. Então ela andou em direção ao cavalete a seu lado, que estava coberto com um lençol.
"Eu espero que sejam sonhos," ela disse.
Ela descobriu o cavalete. Nele estava um esboço rápido, mas Rachel era uma boa artista. A pintura era definitivamente Luke mais novo. Ele tinha uns nove anos,
com um sorriso largo e nenhuma cicatriz em seu rosto. Eu não fazia idéia sobre como Rachel podia saber como ele se parecia naquela época, mas o retrato era tão bom
que eu tinha uma sensação que ela não estava adivinhando. Do que eu sabia da vida de Luke ( o que não era muito), a gravura o mostrava logo antes dele ter descoberto
que era um meio-sangue e ter fugido de casa.
Rachel encarou o retrato. Depois ela descobriu o próximo cavalete. Essa pintura era ainda mais perturbadora. Ela mostrava o Empire State Building com raios
a sua volta. A distância uma tempestade negra estava chegando, com uma mão gigante saindo das nuvens. Na base do prédio uma multidão estava reunida... mas não era
uma multidão normal de turistas e pedestres. Eu vi lanças, dardos, e bandeiras - a armadilhagem de um exército.
"Percy," Rachel murmurou, como se soubesse que eu estava escutando, "o que está acontecendo?"
O sonhou se desvaneceu, e a última coisa que eu me lembrava era desejar poder responder a sua pergunta.

Na manhã
seguinte eu quis ligar para ela, mas não tínhamos telefones no campo. Dionísio e Quíron não precisavam de uma linha terrena. Eles apenas ligavam para o Olimpo com
uma mensagem de Íris quando precisavam de alguma coisa. E quando meio-sangues usavam celulares, os sinais agitavam cada monstro dentro de mil milhas. Era como mandar
um sinal: Estou aqui! Por favor reorganizer a minha cara! Mesmo dentro das fronteiras seguras do campo, não é esse o tipo de anúncio que quereríamos fazer.
A maior parte dos meio-sangues ( exceto por Annabeth e mais alguns outros) nem ao menos tem celulares. E eu definitivamente não podia dizer a Annabeth, "Hey,
me empresta seu celular para que eu possa ligar para Rachel!" Para fazer ua ligação eu precisaria sair do campo e andar muitas milhas até a loja de conveniências
mais próxima. Mesmo se Quíron me deixasse ir, quando eu chegasse lá, Rachel já estaria em um avião para St. Thomas.
Eu comi sozinho um café da manhã deprimente na mesa de Poseidon. Eu fiqui encarando a fissura no chão de mármore onde há dois anos atrás Nico tinha banido vários
esqueletos com sede se sangue para o submundo. A memória não melhorou exatamente o meu apetite.

Depois do café, Annabeth e eu andamos para inspecionar as cabines . Na verdade, era a vez de Annabeth fazer as inspeções. Minha tarefa matinal era meio que analisar
os relatórios para Quíron. Mas considerando que nós dois odiávamos nossos trabalhos, nós decidimos faze-los juntos então não seria tão detestável.
Nós começamos na cabine de Poseidon, que era basicamente apenas eu. Eu tinha feito meu beliche naquela manhã ( bem, mais ou menos) e endireitado o chifre de
minotauro na parede, então eu dei a mim mesmo um quatro de cinco.
Annabeth fez uma careta. " Você está sendo generoso demais." Ela usou a ponta de trás de seu lápis para pegar um velho par de shorts de corrida.
Eu o arrebatei para longe. "Ei, me deu tempo. Eu não tenho o Tyson para limpar para mim nesse verão."
"Três de cindo." Disse Annabeth. Eu sabia melhor do que discutir, então continuamos. Eu tentei passar por alguns relatórios da pilha de Quíron enquanto andávamos.
Tinham mensagens de meio-sangues, espíritos da natureza, e sátiros de todo o país, escrevendo sobre a atividade de monstros recente. Elas eram bastante deprimentes,
e meu cérebro com ADHD não gostava de se concentrar em coisas deprimentes.
Pequenas batalhas estavam aparecendo em todos os lugares. O recrutamento do campo estava em zero. Sátiros estavam com problemas para achar novos meio-sangues
e levá-los para a Colina meio-sangue por causa da quantidade de monstros que estavam rondando o país. Nossa amiga Thalia, que comandava as caçadoras de Ártemis,
não tinha sido vista há meses, e se Ártemis sabia o que acontecera a elas, ela não estava dividindo a informação.
Nós visitamos a cabine de Afrodite, que obviamente ganhou um cinco de cinco. As camas estavam perfeitamente feitas. As roupas nos baús de todos estavam divididas
por cores. Flores frescas estavam florescendo nas janelas. Eu queria tirar um ponto porque todo o lugar fedia a perfume de marca, mas Annabeth me ignorou.
"Ótimo trabalho como habitual, Silena," disse Annabeth.
Silena assentiu desatenta. A parede atrás de sua cama estava decorada com retratos de Beckendorf. Ela sentou em seu beliche com uma caixa de chocolates em
seu colo, e eu lembrei que seu pai era dono de uma loja de chocolates no Village, que era como ela tinha chamado a atenção de Afrodite.
"Você quer um bombom?" perguntou Silena. "Meu pai os mandou. Ele pensou - ele pensou que eles talvez me animassem."
"Eles são bons?" Eu perguntei.
Ela sacudiu a cabeça. "Eles tem gosto de papelão."
Eu não tinha nada contra papelão, então tentei um. Annabeth passou. Nós prometemos a Silena que a veríamos mais tarde e continuamos andando.
Enquanto cruzávamos as áreas comuns, uma briga estourou entre as cabines de Ares e Apollo. Alguns campistas de Apollo armados com bombas de fogo voaram por
cima da cabine de Ares em uma biga puxada por dois pégasos. Eu nunca tinha visto a carruagem antes, mas parecia ser bastante boa. Logo, o telhado de Ares estava
queimando, e as Naíades do lago de canoagem correram para jogar água nele.
Então os campistas de Ares fizeram uma maldição, e as flechas de todas as crianças de Apollo viraram borracha. O pessoal de Apollo continuava atirando no pessoal
de Ares eram devolvidas.
Dois arqueiros correram, sendo perseguidos por uma criança raivosa de Ares que estava gritando em poesia: "Curse-me, eh? I'll make you pay!/ I don't want to
rhyme all day!" (Me amaldiçoou, eh? Vou fazer você pagar, não quero ficar rimando o dia todo!")
Annabeth suspirou. "Não isso de novo. A última vez que a cabine da Apollo amaldiçoou uma cabine, levou uma semana para os versos pararem."
Eu estremeci. Apollo era o deus da poesia, assim como o do arco e flecha, e eu já o tinha escutado recitar em pessoa. Eu quase preferia ser atingido por uma
flecha.
"Sobre o que eles estão brigando de qualquer forma?" Eu perguntei.
Annabeth me ignorou enquanto escrevia em sua lista de inspeção, dando a ambas as cabine um de cinco.
Eu me vi a encarando, o que era idiota já que eu já há havia visto um bilhão de vezes. Ela e eu estávamos com mais ou menos a mesma altura esse verão, o que
era um alívio. Ainda assim, ela parecia tão mais madura. Era meio intimidante. Quero dizer, claro, ela sempre havia sido fofa, mas ela estava começando a ficar seriamente
linda.
Finalmente ela disse, "Aquela biga voadora."
"O que?"
"Você perguntou sobre o que eles estavam lutando."
"Oh. Oh, certo."
"Eles a capturaram em um ataque-surpresa na Filadélfia semana passada. Alguns dos meio-sangues de Luke estavam com essa biga voadora. A cabine de Apollo a
apreendeu durante a batalha, mas a cabine de Ares estava liderando o ataque. Eles estão brigando por ela desde então."
Nós nos desviamos quando a biga de Michael Yew mergulhou como uma bomba em um campista de Ares. O campista de Ares tentou esfaqueá-lo e amaldiçoa-lo
em versos. Ele era bem criativo sobre rimar palavras amaldiçoadas.
"Nós "estamos lutando por nossas vidas," Eu disse," e eles estão brigando sobre alguma biga idiota."
"Eles vão esquecer isso," disse Annabeth. "Clarisse voltará a razão."
Eu não tinha tanta certeza. Isso não parecia a Clarisse que eu conhecia.
Eu analisei mais alguns relatórios e nós inspecionamos outras cabines. Deméter conseguiu um quatro. Hefesto ganhou um três e provavelmente merecia menos, mas
com a perda de Beckendorf e tudo, nós os demos uma folga. Hermes conseguiu um dois, o que não era surpresa. Todos os campistas que não sabiam quem eram seus pais
deuses eram jogados na cabine de Hermes, e já que os deuses eram meio esquecidos, aquela cabine estava sempre superlotada.
Finalmente nós chegamos a cabine de Athena, que estava ordenada e limpa como o habitual. Livros estavam arrumados nas prateleiras. As armas estavam polidas.
Mapas de batalhas e esquemas estavam decorando as paredes. Apenas o beliche de Annabeth estava bagunçado. Estava coberto de papéis, e seu laptop de prata ainda estava
ligado.
"Vlacas," murmurou Annabeth, que era basicamente chamar a si mesma de idiota em grego.
Seu segundo no comando, Malcolm, suprimiu um sorriso. "Yeah, um... nós limpamos todo o resto. Não sabia se era seguro mexer em suas notas."
Isso provavelmente foi inteligente. Annabeth tinha uma faca de bronze que ela reservava somente para monstros e pessoas que mexiam em suas coisas.
Malcolm sorriu para mim. "Nós vamos esperar lá fora enquanto vocês terminam a inspeção." Os campistas de Athena saíram em fila pela porta enquanto Annabeth
limpava seu beliche.
Eu troquei o peso dos pés desconfortável e fingi ler mais alguns relatórios. Tecnicamente, mesmo durante a inspeção, era contra as regras do campo dois campistas
ficarem...tipo sozinhos em uma cabine.
Essa regra tinha aparecido muito quando Silena e Beckendorf começaram a namorar. E eu sei que alguns de vocês devem estar pensando, Não são todos os meio-sangues
parentes pelo lado deus, e isso não faz namorar ser nojento? Mas a coisa é, a parte deus de nossa família não conta, geneticamente falando, já que os deuses não
tem DNA. Um meio-sangue nunca pensaria em namorar alguém que tivesse o mesmo deus como pai. Tipo duas pessoas da cabine de Athena? Sem chance. Mas uma filha de Afrodite
com um filho de Hefesto? Eles não têm parentesco. Então não tem problema.
De qualquer forma, por alguma razão estranha eu estava pensando sobre isso enquanto observava Annabeth se endireitar. Ela fechou seu laptop, que tinha sido
dado a ela como um presente do inventor Dédalo no verão passado.
Eu clareei minha garganta. "Então... conseguiu alguma informação boa desse negócio?"
"Demais, ela disse. "Dédalo tinha tantas idéias, eu podia passar cinqüenta anos apenas tentando compreende-las todas."
"Yeah," eu murmurei. "Isso seria divertido."
Ela arrumou seus papéis - a maior parte desenhos de prédios e algumas notas escritas a mão. Eu sabia que ela queria ser uma arquiteta algum dia, mas eu tinha
aprendido do jeito difícil a não pergunta sobre seu trabalho. Ele iria começar a falar sobre ângulos e juntas de paredes de suportes até que meus olhos se envidraçassem.
"Você sabe..." ela colocou seus cabelos atas das orelhas, como ela faz quando está nervosa. "Toda essa coisa com Beckendorf e Silena. Ela meio que faz você
pensar. Sobre...o que é importante. Sobre perder pessoas que são importantes."
Eu assenti. Me cérebro começou a se concentrar em pequenos detalhes aleatórios, como o fato dela ainda estar usando aqueles brincos de corujas de prata dados
pelo pai, que era esse professor esperto de história em São Francisco.
"Um...yeah." eu balbuciei. "Tipo...está tudo legal com a sua família?"
Okay, pergunta realmente estúpida, mas hey, eu estava nervoso.
Annabeth pareceu desapontada, mas assentiu.
"Meu pai queria me levar para a Grécia esse verão," ela disse desejosamente." Eu sempre quis ver--"
"O Partenon," eu lembrei
Ela conseguiu sorrir. "Yeah."
"Está tudo bem. Haverão outros verões, certo?"
Assim que eu disse isso, eu percebi que era um acabamento estúpido. Eu estava encarando o fim dos meus dias. Dentro de uma semana, o Olimpo poderia cair. Se
a Era dos Deuses realmente acabasse, o mundo como conhecíamos se dissolveria no caos. Meio-sangues seriam caçados até sua extinção. Não haveriam mais verões para
nós.
Annabeth encarou sua lista de inspeção. "Três de cinco" ela murmurou, "por uma conselheira chefe desleixada. Venha. Vamos terminar seus relatórios e devolve-los
a Quíron."
A caminho da casa grande, nós lemos o último relatório, que era manuscrito em uma folha de bordo de um sátiro no Canadá. Se possível, a nota fez eu me sentir
ainda pior.
"Caro Grover," eu li em voz alta. "As florestas fora de Toronto estão sendo atacadas por um texugo do mal gigante. Tentei fazer como você sugeriu e convocar
o poder de Pan. Sem efeito. Muitas árvores de Naíades destruídas. Recuando para Ottawa. Por favor mande um conselho. Onde você está? - Gleeson Hedge, protetor."
Annabeth fez uma careta. "Você não ouviu nada dele? Mesmo com o link empático?
Eu sacudi a cabeça desejosamente.
Desde o último verão, quando o deus Pan morreu, nosso amigo Grover tinha se afastado mais e mais. O conselho dos anciões o tratava como um exilado, mas Grover
ainda viajava por toda a costa leste, tentando espalhar a palavra sobre Pan e convencer os espíritos de natureza a protegerem seus próprios pequenos pedaços da natureza.
Ele só tinha voltado ao campo algumas vezes pare visitar sua namorada, Juniper.
A última vez que soube ele estava no Central Park organizando as dríades, mas ninguém tinha visto ou ouvido falar dele em dois meses. Nós tentamos mandar mensagens
de Íris. Elas nunca chegavam. Eu tinha um link empático com Grover, então eu esperava que eu soubesse se alguma coisa ruim acontecesse com ele. Grover tinha me dito
uma vez que se ele morresse o link empático poderia me matar também. Mas eu não tinha certeza se isso era verdade ou não.
Eu me perguntei se ele ainda estava em Manhattan. Então eu pensei sobre o meu sonho do esboço de Rachel - nuvens negras se aproximando da cidade, um exército
reunido ao redor do Empire State Building.
"Annabeth." Eu a segurei perto da quadra de tetherball. Eu sabia que estava pedindo por problemas, mas eu não sabia em quem mais confiar. Além disso, eu sempre
tinha dependido de Annabeth para conselhos. "Escute, eu tive esse sonho sobre, um, Rachel..."
Eu contei a ela a coisa toda, mesmo a estranha figura de Luke quando criança.
Por um tempo ela não disse nada. Depois ela enrolou sua lista de inspeção tão apertada que a rasgou. "O que você quer que eu diga?"
"Não tenho certeza. Você é a melhor estrategista que eu conheço. Se você fosse Kronos e estivesse planejando essa guerra, o que você faria em seguida?"
"Eu usaria Typhson como uma distração. Então eu atacaria o Olimpo diretamente, enquanto os deuses estão no oeste."
"Assim como na pintura de Rachel."
"Percy," ela disse com a voz apertada, "Rachel é apenas uma mortal."
"Mas e se o sonho dela for verdade? Aqueles outros titãs - eles disseram que o Olimpo seria destruído em questão de dias. Eles disseram que eles tinha vários
ouros desafios. E sobre aquela figura de Luke como uma criança--"
"Nós apenas estaremos que estar preparados."
"Como?" eu disse. "Olhe para o nosso acampamento. Nós não conseguimos nem ao menos evitar lutarmos uns contra os outros. E eu estou destinado a ter a minha
alma estúpida dilacerada."
Ela jogou sua lista no chão. "Eu sabia que nós não deveríamos ter mostrado a profecia a você." A voz dela estava raivosa e magoada. "Tudo que ela fez foi assustar
você. Você foge das coisas quando fica assustado."
Eu a encarei, completamente aturdido. "Eu? Fujo?"
Ela chegou na minha cara. "Sim, você. Você é um covarde, Percy Jackson!"
Nós estávamos nariz a nariz. Seus olhos estavam vermelhos, e eu de repente entendi que quando ela me chamava de covarde, talvez ela não estivesse falando sobre
a profecia.
"Se você não gosta de nossas chances," ela disse, "talvez você devesse ir naquelas férias com Rachel."
"Annabeth--"
"Se você não gosta de nossa companhia."
"Isso não é justo!"
Ela me empurrou para passar direto por mim e foi tempestuosamente para os campos de morango. Ela atingiu a bola de tetherball enquanto passou e a mandou girando
raivosamente em volta da baliza.
Eu gostaria de dizer que o meu dia melhorou a partir daí. É claro que não melhorou.
Naquela tarde nós tivemos uma assembléia na fogueira do campo para queimar a mortalha de Beckendorf e fazer nossas despedidas. Até as cabines de Ares e Apollo
decretaram uma trégua temporária para poderem comparecer.
A mortalha de Beckendorf era filha de linhas de metal, como uma cota de correntes. Eu não vi como poderia queimar, mas as Fates deveriam estar ajudando. O metal
derreteu no fogo e se transformou em fumaça dourada, que adentrou o céu. As chamas da fogueira do acampamento sempre refletiam o humor dos campistas, e hoje elas
queimavam pretas.
Eu esperava que o espírito de Beckendorf fosse parar no Elísio. Talvez ele até escolhesse renascer e tentar o Elísio em três vidas diferentes para que ele pudesse
alcançar as Ilhas de Blest, que eram como o quartel-general de festas definitivas. Se alguém as merecia, era Beckendorf.
Annabeth partiu sem me dizer uma palavra. A maior pare dos campistas voltou a suas atividades da tarde. Eu só fiquei ali encarando as chamas morrerem. Silena
se sentou perto chorando, enquanto Clarisse e seu namorado, Chris Rodriguez, tentavam conforta-la.
Finalmente eu consegui coragem para ir até lá. "Hey, Silena, eu realmente sinto muito."
Ela fungou. Clarisse me encarou, mas ela sempre encara todo mundo. Chris mal olhava paras mim. Ele tinha sido um dos homens de Luke até Clarisse te-lo resgatado
no verão passado, e eu acho que ele ainda se sentia culpado em relação a isso.
Eu clareei minha garganta. "Silena, você sabe que Beckendorf carregava sua foto. Ele olhou para ela logo antes de irmos para a batalha. Você significava muito
para ele. Você fez o último ano o melhor da vida dele."
Silena soluçou.
"Bom trabalho, Percy."
"Não, está tudo bem," disse Silena. "Obriga... Obrigada, Percy. Eu devo ir."
"Você quer companhia?" Perguntou Clarisse.
Silena sacudiu a cabeça e saiu correndo.
"Ela é mais forte do que parece," murmurou Clarisse, quase que consigo mesma. "Ela sobreviverá."
"Você poderia ajudar com isso," eu sugeri. "Você poderia honrar a memória de Beckendorf lutando conosco."
Clarisse procurou sua faca, mas não estava mais ali. Ela há tinha jogado na mesa de Ping-Pong na casa grande.
"Não é problema meu," rosnou ela. "Minha cabine não recebe honra, eu não luto."
Eu notei que ela não estava rimando. Talvez ela não estivesse por perto quando seus companheiros de cabine foram amaldiçoados, ou ela tinha uma forma de quebrar
o feitiço. Com um calafrio eu me perguntei se Clarisse podia ser a espiã de Kronos no campo. Era por isso que ela estava mantendo sua cabine fora da luta? Mas por
mais que eu não gostasse de Clarisse, espionar para os Titãs não parecia ser seu estilo.
"Tudo bem," eu disse a ela. "Eu não queria trazer isso a tona, mas você me deve uma. Você estaria apodrecendo em uma caverna de um Ciclope no mar de monstros
se não fosse por mim."
Ela fez um som desagradável. "Qualquer outro favor, Percy. Não isso. A cabine de Ares foi desrespeitada vezes demais. E não pense que eu não sei o que as pessoas
falam sobre mim nas minhas costas."
Eu queria dizer, Bem, isso é verdade. Mas mordi minha língua.
"Então, o que - você vai simplesmente deixar Kronos nos esmagar?" eu perguntei.
"Se você quer tanto a minha ajuda, diga a Apolo para nos dar a biga."
"Você é tão um bebezão."|Eu disse.
Ela me atacou, mas Chris entrou entre nós. "Whoa, pessoal," ele disse. "Clarisse, você sabe, talvez ele tenha razão."
Ela olhou sarcasticamente para ele. "Não você também!" Ela saiu pisando firme, com Chris em seus calcanhares.
"Hey espere! Eu só quis dizer - Clarisse, espere!"
Eu assisti as últimas fagulhas da fogueira de Beckendorf subirem para o céu da tarde. Depois eu me dirigi para a arena de treinamentos com espadas. Eu precisava
de um tempo, e queria ver uma velha amiga.





CAPÍTULO CINCO - EU DIRIJO O MEU CACHORRO PARA DENTRO DE UMA ÁRVORE

Mrs. O' Leary me viu antes de eu vê-la, o que era um truque muito bom considerando que ela é do tamanho de um caminhão de lixo. Eu entrei na arena, e uma parede
de escuridão bateu em mim.
"WOOF!"
A próxima coisa que eu sabia era que estava imprensado no chão com uma pata gigante no meu peito e uma língua superdimensionada lambendo a minha cara.
"Ow!" eu disse. "Hey, garota. É bom te ver também. Ow!"
Levou alguns minutos para Mrs.O'Leary se acalmar e sair de cima de mim. Até lá eu já estava bem encharcado de baba de cachorro. Ela queria brincar de ir buscar,
então eu peguei um escudo de bronze e o joguei do outro lado da arena.
Falando nisso, Mrs. O' Leary é o único cão infernal amigável do mundo. Eu meio que tinha herdado ela quando seu dono anterior morreu. Ela morava no campo, mas
Beckendorf...bem, Beckendorf costumava tomar conta dela quando eu estava fora. Ele tinha fundido o osso de bronze para mascar favorito de Mrs. O' Leary. Ele tinha
forjado sua coleira com pequenas carinha felizes e uma etiqueta de identificação. Próximo a mim, Beckendorf era seu melhor amigo.
Pensar sobre isso me fez ficar triste de novo, mas eu joguei o escudo mais algumas vezes porque Mrs. O'Leary insistiu.
Logo ela começou a latir - um som ligeiramente mais alto do que uma artilharia de armas - como se ela precisasse sair para uma caminhada. Os outros campistas
não achavam engraçado quando ela ia ao banheiro na arena. Tinha causado mais do que um sem sorte acidente de escorregão. Então eu abri os portões da arena, e ela
foi direto para a floresta.
Eu corri atrás dela, não muito preocupado que ela estivesse na frente. Nada na floresta podia ameaçar Mrs. O' Leary. Mesmo os dragões e escorpiões gigantes
fugiam quando ela se aproximava.
Quando eu finalmente a achei, ela não estava usando o banheiro. Ela estava em uma clareira familiar onde o conselho dos anciões uma vez tinha colocado Grover
em julgamento. O lugar não parecia muito bem. A grama tinha virado amarela. Os três tronos de topiário tinham perdido todas as folhas. Mas não foi isso que me surpreendeu.
No meio da clareira estava o trio mais estranho que eu já havia visto: Juniper a ninfa da árvore, Nico di Angelo, e um muito velho, muito gordo sátiro.
Nico era o único que não parecia assustado pela aparência de Mrs. O' Leary. Ele estava bastante parecido com quando o vira em meu sonho - uma jaqueta de aviação,
jeans pretos, e uma camisa com esqueletos dançantes nela, como um daqueles retratos do Dia dos Mortos. Sua espada de ferro infernal estava pendurada a seu lado.
Ele tinha só doze anos, mas parecia muito mais velho e triste.
Ele assentiu quando me viu, depois voltou a coçar as orelhas de Mrs. O'Leary. Ela cheirou suas pernas como se ele fosse a coisa mais interessante desde os bifes
de costeleta. Sendo o filho de Hades, ele provavelmente esteve viajado por todos os lugares que cães infernais adoravam.
O velho sátiro não parecia nem um pouco tão feliz. "Alguém poderia - o que esta criatura do submundo está fazendo na minha floresta!" Ela sacudiu seus braços
e trotou em seus cascos como se a grama estivesse quente. "Você aí, Percy Jackson! Essa fera pertence a você?"
"Desculpe-me, Leneus," eu disse. "Esse é seu nome, certo?"
O sátiro revirou os olhos. Seu pêlo era de uma cinza de coelho e uma teia de aranha crescia entre seus chifres. Sua barriga o teria feito um pára-choques de
carro invencível. "Bem, é claro que sou Leneus. Não me diga que esqueceu um membro do conselho tão rapidamente. Agora, chame a sua besta!"
"WOOF!" disse Mrs. O' Leary alegremente.
O velho sátiro engoliu. "Faça isso ir embora! Juniper, eu não irei ajuda-la sob essas circunstâncias."
Juniper se voltou para mim. Ela era bonita de um jeito Dríade, com seu vestido fino roxo e seu rosto traquina, mas seus olhos estavam tingidos de verde com
a crolofila chorada.
"Percy," ela inalou. "Eu estava perguntando sobre Grover. Eu sei que alguma coisa aconteceu. Ela não ficaria longe tanto tempo se não estivesse em problemas.
Eu estava esperando que Leneus--"
"Eu disse a você!" o sátiro protestou. "Você está melhor sem aquele traidor."
Juniper bateu o pé. "Ele não é um traidor! Ele é o sátiro mais corajoso do mundo, e eu quero saber onde ele está!"
"WOOF!"
Os joelhos de Leneus começaram a bater. "Eu... Eu não responderei perguntas com esse cão infernal cheirando a minha cauda!"
Nico parecia estar tentando não desmaiar. "Eu passearei com o cachorro," ele se voluntariou.
Ele assobiou, e Mrs. O' Leary foi andando atrás dele até o fim da clareira.
Leneus xingou indignamente e escovou os galhos de sua camisa. "Agora, como eu estava tentando explicar, jovem dama, seu namorado não mandou relatório algum
desde que votamos em que fosse exilado."
"Você tentou votar para que fosse exilado," eu corrigi. "Quíron e Dionísio o pararam."
"Bah! Eles são membros honorários do conselho. Não foi um voto apropriadamente."
"Vou contar a Dionísio que você disse isso."
Leneus ficou pálido. "Eu só quis dizer... Agora olhe aqui, Jackson. Isso não é problema seu."
"Grover é meu amigo," eu disse. "Ele não estava mentindo a você sobre a morte de Pan. Eu a vi eu mesmo. Você estava apenas assustado demais para aceitar a verdade."
Os lábios de Leneus tremeram. "Não! Grover é um mentiroso e é bom se ver livre dele. Nós estamos melhor sem ele."
Eu apontei para os tronos murchos. "Se as coisas estão indo tão bem, onde estão seus amigos? Parece que o seu conselho não anda se reunindo ultimamente."
"Maron e Silenus...Eu...Eu tenho certeza que voltarão." Disse ele, mas pude ouvir o pânico em sua voz. "Nós estamos apenas tirando algum tempo para pensar.
Tem sido um ano muito inquietante."
"Vai ficar muito mais inquietante," eu prometi.
"Leneus, nós precisamos de Grover. Tem que haver um modo que possa encontra-lo com sua magia." Os olhos do velho sátiro piscaram. Estou dizendo a vocês que
não ouvi nada. Talvez ele esteja morto."
Juniper engoliu um soluço.
"Ele não está morto," eu disse. "Eu posso sentir isso."
"Links empáticos," disse Leneus desdenhando. "Muito pouco confiáveis."
"Então pergunte por aí, " eu insisti. "Ache-o. Tem uma guerra chegando. Grover estava preparando os espíritos da natureza."
"Sem a minha permissão! E essa guerra não é nossa."
Eu o peguei pela camisa, o que seriamente não era o meu normal, mas a cabra velha estava me deixando com raiva. "Escute, Leneus. Quando Kronos atacar, ele terá
uma cambada de cães infernais. Ele vai destruir tudo em seu caminho - mortais, deuses,meio-sangues. Você acha que ele vai deixar os sátiros livres? Você deveria
ser um líder. Então LIDERE. Vá lá fora e veja o que está acontecendo. Ache Grover e traga algumas notícias a Juniper. Agora, VÁ!"
Eu não o empurrei muito forte, mas ele era meio mega-pesado. Ele caiu em sua bunda peluda, depois se remexeu até seus cascos e correu com sua barriga gingando.
" Grover jamais será aceito! Ele morrerá um exilado!"
Quando ele desapareceu nos arbustos, Juniper piscou seus olhos. "Eu sinto muito, Percy. Eu não queria te envolver. Leneus ainda é um Lord da natureza. Você
não quer fazer dele um inimigo."
"Sem problemas,' eu disse. "Eu tenho inimigos piores do que sátiros acima do peso."
Nico voltou até onde estávamos. "Bom trabalho, Percy. Julgando pela trilha de pelos de cabra, eu diria que você o sacudiu bastante."
Eu temia que eu soubesse o porque de Nico estar ali, mas eu tentei sorrir. "Bem vindo de volta. Você veio aqui só para ver Juniper?'
Ele corou. "Um, não. Isso foi um acidente. Eu meio que... caí no meio da conversa deles."
"Ele nos assustou até a morte!" Disse Juniper. "Saiu direto das sombras. Mas, Nico, você é filho de Hades, e tudo. Você tem certeza de que não ouviu nada sobre
Grover?"
Nico mudou o peso da perna. "Juniper, como eu tentei dizer a você... mesmo se Grover morresse, ele iria reencarnar como alguma outra coisa da natureza. Eu não
posso sentir coisa assim, só almas mortais."
"Mas se você ouvir qualquer coisa?" ela pediu, colocando suas mãos nos braços dele. "Qualquer coisa mesmo?"
As bochechas de Nico ficaram ainda mais vermelhas. "Uh, pode apostar. Eu manterei meus ouvidos abertos."
"Nós o encontraremos, Juniper," eu prometi. "Grover está vivo, tenho certeza. Deve haver alguma razão simples para ele não ter nos contatado."
Ela assentiu sombriamente. "Eu odeio não ser capaz de deixar a floresta. Ele pode estar em qualquer lugar, e eu estou presa aqui esperando. Oh, se aquela cabra
tola tiver se machucado--"
Mrs. O'Leary se virou e ganhou interesse no vestido de Juniper.
Juniper uivou. "Oh, não você não vai! Eu sei sobre cachorros e árvores. Já fui!"
Ela se foi com um poof em névoa verde. Mrs. O'Leary pareceu desapontada, mas ela arrastou-se para achar outro alvo, deixando Nico e eu sozinhos.
Nico jogou sua espada no chão. Um pequeno monte de ossos de animais irrompeu do chão. Eles se uniram e se transformaram em um rato do campo de esqueletos correram
para longe. "Eu senti muito ao ouvir sobre Beckendorf."
Um caroço se formou em minha garganta. "Como você--"
"Eu conversei com seu fantasma."
"Oh... Certo." Eu nunca me acostumaria com o fato que esse garoto de doze anos de idade passasse mais tempo falando com os mortos do que com os vivos. "Ele
disse alguma coisa?"
"Ele não te culpa. Ele adivinhou que você estaria se espancando, e ele disse que você não deveria."
"Ele vai tentar renascer? '
Nico sacudiu a cabeça. "Ele vai ficar no Elísio. Disse que estava esperando por alguém. Não tenho certeza do que ele quis dizer, mas ele parece estar OK com
a própria morte."
Isso não era muito conforto, mas era alguma coisa.
"Eu tive uma visão que você estavam no Monte Tam," eu disse a Nico. "Isso era--"
"Real," ele disse. "Eu não pretendia espionar os Titãs, mas eu estava nas redondezas."
"Fazendo o que?"
Nico puxou o cinto de sua espada. "Seguindo uma pista de... você sabe, minha família."
Eu assenti. Eu sabia que seu passado era um assunto dolorido. Até dois anos atrás, ele e sua irmã Bianca estavam congelados no tempo em um lugar chamado Lótus
Hotel e Cassino. Eles tinham estado lá por tipo setenta anos. Eventualmente, um advogado misterioso os resgatou e os colocou em um internato, mas Nico não se lembrava
de sua vida antes do cassino. Ele não sabia nada sobre sua mãe. Ele não sabia quem o advogado era, ou o porque eles tinham estado congelados no tempo ou permitidos
a saírem. Depois que Bianca morreu e deixou Nico sozinho, ele tinha estado obsessivo por encontrar respostas.
"Então como foi?' eu perguntei. "Alguma sorte."
"Não," ele murmurou. "Mas eu talvez tenha uma nova pista em breve."
"Que pista?"
Nico mordeu seu lábio. "Isso não é importante agora. Você sabe porque estou aqui."
Uma sensação de pavor começou a se formar em meu peito. Desde que Nico primeiramente me ofereceu seu plano para vencer Kronos no verão passado, eu tinha tido
pesadelos sobre isso. Ele aparecia de vez em quando e me pressionava por uma resposta, mas eu continuava adiando.
"Nico, eu não sei," eu disse. "Me parece extremo demais."
"Nós temos Typhson chegando em, o que... uma semana? A maior parte dos outros titãs está a solta agora e do lado de Kronos. Talvez esteja na hora de pensar
extremamente."
Eu olhei de volta para o campo. Mesmo dessa distância eu podia ouvir as cabines de Ares e Apolo brigando de novo, jogando maldições e jorrando poesias ruins.
"Não há competição contra exército Titã," disse Nico. "Você sabe disso. Isso tem que ser entre você e Luke. E só há um modo no qual você pode vencer Luke."
Eu me lembrei da luta no Princesa Andromeda. Eu estive desesperadamente derrotado. Kronos quase tinha me matado com um único corte em meu braço, e eu nem pude
feri-lo. Contracorrente tinha sido desviada em sua pele.
"Nós podemos te dar o mesmo poder," Nico urgiu. "Você ouviu a Grande Profecia. A menos que queira ter sua alma arrancada por uma lâmina maldita..."
Eu me perguntei como Nico sabia da grande profecia - provavelmente com algum fantasma.
"Você não pode prevenir uma profecia," eu disse.
"Mas pode lutar contra ela." Nico tinha uma luz estranha e faminta em seus olhos. "Você pode se tornar invencível."
"Talvez nós devêssemos esperar. Tentar lutar sem--"
"Não!" Nico rosnou. "Tem que ser agora!"
Eu o encarei. Eu não viu seu temperamento se incendiar assim há muito tempo. "Um, você tem certeza que está tudo bem?"
Ele respirou profundamente. "Percy, só o que eu quero dizer... quando a luta começar, nós não seremos capazes de fazer a jornada. Essa é nossa última chance.
Sinto muito se estou pressionando demais, mas há dois anos atrás minha irmã deu sua vida para te proteger. Eu quero honrar isso. Faça tudo o que precisar ser feito
para permanecer vivo e derrotar Kronos."
Eu não gostava da idéia. Então me lembrei de Annabeth me chamando de covarde, e fiquei com raiva.
Nico tinha razão. Se Kronos atacasse Nova York, os campistas não seriam páreo para suas forças. Eu tinha que fazer alguma coisa. O jeito de Nico era perigoso
- talvez até mortal. Mas poderia me dar uma luta mais justa.
"Tudo bem," eu decidi. "O que faremos primeiro?"
Seu sorriso frio e arrepiante fez eu me arrepender de ter aceitado. "Primeiro nós vamos precisar refazer os passos de Luke. Nós precisamos saber mais sobre
seu passado, sua infância."
Eu tremi pensando no retrato de Rachel em meu sonho - um sorridente Luke de nove anos de idade. "Por que nós precisamos saber disso?"
"Eu explicarei quando chegarmos lá," disse Nico. "Eu já rastreei sua mãe. Ela mora em Conneticut."
Eu o encarei. Eu nunca tinha pensado muito no progenitor mortal de Luke. Eu tinha conhecido seu pai, Hermes, mas sua mãe...
"Luke fugiu quando era realmente novo," eu disse. "Eu não achei que sua mãe estivesse viva."
"Oh, ela está viva." O modo como disse isso me fez perguntar o que havia de errado com ela. Que tipo de pessoa horrível ela poderia ser?
"Okay..." eu disse. "Então como chegamos a Conneticut? Eu posso chamar Blackjack--"
"Não." Nico fez uma carranca. "Pegasus não gostam de mim, e o sentimento é recíproco. Mas não há necessidade de voar." Ele assoviou e Mrs. O' Leary veio das
árvores.
"Sua amiga pode ajudar." Nico coçou a cabeça dela. "Você ainda não tentou viajar nas sombras?"
"Viajar nas sombras?"
Nico sussurrou no ouvido de Mrs. O' Leary. Ela inclinou a cabeça, subitamente alerta.
"Suba a bordo," Nico me disse.
Eu nunca tinha considerado montar em um cachorro antes, mas mrs. O' Leary certamente era grande o suficiente. Eu subi em seu dorso e segurei sua coleira.
"Isso a deixará muito cansada," Nico alertou, "então você não pode fazê-lo constantemente. E funciona melhor a noite. Mas todas as sombras são parte de uma
mesma substância. Só há uma escuridão, e as criaturas do submundo podem usá-la como uma estrada, ou porta."
"Eu não entendo," eu disse.
"Não." Disse Nico. "Eu demorei um longo tempo para aprender. Mas Mrs. O' Leary sabe. Diga a ela onde ir. Diga a ela Westport, a casa de May Castellan."
"Você não vem?"
"Não se preocupe," ele disse. "Encontro você lá."
Eu estava um pouco nervoso, mas eu me inclinei sobre o ouvido de Mrs. O 'Leary. "Okay, garota. Uh, você pode me levar a Westport, Conneticut? A casa de May
Castellan?"
Mrs. O' Leary cheirou o ar. Ela olhou para dentro da floresta. Então ela se inclinou para frente, direto para o oco de uma árvore.
Logo antes de colidirmos, nós passamos por dentro de sombras tão frias quanto o lado escuro da lua.







































CAPITULO SEIS - MEUS BISCOITOS SAEM QUEIMADOS

Eu não recomendo viajar pelas sombras se você tem medo de:
a) Escuro.
b) Arrepios gelados por sua espinha.
c) Barulhos estranhos.
d)
Ir tão rápido ao ponto de parecer que seu rosto vai desgrudar.

Em outras palavras, achei incrível. Num minuto, eu não conseguia ver nada. Só conseguia sentir o pelo da Senhora O'Leary e meus dedos entrelaçados nos fios
de bronze de sua coleira de cachorro.
No minuto seguinte, as sombras transformaram-se em uma nova cena. Estávamos em um penhasco nos bosques de Connecticut. Ao menos, parecia Connecticut pelas
últimas vezes que estive lá: muitas árvores, muros baixos de pedras, casas enormes. Sob um dos lados do penhasco, uma estrada surgia por entre um desfiladeiro. Sob
outro lado tinha o jardim de alguém. A propriedade era grande - mais mato do que grama. Era uma casa branca de dois andares colonial. Mesmo a propriedade sendo do
outro lado da colina da estrada, era como se a casa estivesse no meio do nada. Eu conseguia ver a luz brilhando pela janela da cozinha. Um velho balanço pendia abaixo
de uma macieira.
Eu não conseguia imaginar viver numa casa assim, com jardim e tudo. Eu tinha vivido em um apartamento minúsculo ou em um dormitório de escola por toda minha
vida. Se essa era a casa de Luke, eu me perguntava por que ele algum dia quis fugir.
Senhora O'Leary cambaleou. Eu me lembrava do que Nico havia dito sobre as viagens pelas sombras cansá-la, então eu desci de suas costas. Ela bocejou, mostrando
grandes dentes que botariam medo até em um T.rex, depois rodou em um círculo e deitou tão forte que o chão tremeu.
Nico apareceu bem ao meu lado, como se as sombras tivessem escurecido e criado ele. Ele cambaleou, mas eu o segurei pelo braço.
"Estou bem," ele virou-se, fixando seus olhos.
"Como você fez isso?"
"Prática. Umas poucas corridas pelas paredes. Poucas viagens acidentais para a China"
Senhora O'Leary começou a ressonar. Se não fosse pelo barulho do tráfego atrás de nós, tenho certeza que ela teria acordado toda vizinhança.
"Você vai tirar um cochilo também?" eu perguntei a Nico.
Ele balançou sua cabeça. "A primeira vez em que viajei pelas sombras, eu dormi por uma semana. Agora ela só me deixa um pouco sonolento, mas eu não consigo
viajar por mais de duas vezes em uma noite. Senhora O'Leary não vai a lugar algum por enquanto."
"Então conseguimos um bom tempo em Connecticut." Eu olhei para a casa branca colonial. "E agora?"
"Tocamos a campainha," Nico disse.


Se eu fosse a mãe de Luke, não teria aberto a porta no meio da noite para duas crianças estranhas. Mas eu não tinha nada a ver com a mãe de Luke.
Eu soube disso antes mesmo de nós chegarmos à porta. A calçada era rodeada por aqueles bichinhos de pelúcia que você vê em lojas de presente. Havia miniaturas
de leões, porcos, dragões, hidras, até mesmo um pequeno Minotauro, enrolado em uma fralda de Minotauro. Em razão das condições em que ele estava, a criaturazinha
devia de estar sentada ali já há um longo tempo - desde que a neve derreteu com a chegada da primavera, pelo menos. Uma das hidras tinha uma arvorezinha nascendo
por entre seu pescoço.
A frente da varanda era cheia de mensageiros dos ventos. Pedaços de vidros brilhantes e metal tilintavam com a brisa. Fios de cobre tilintavam igual a água,
o que me lembrou que eu precisava usar o banheiro. Não sei como a Senhora Castellan conseguia suportar esse barulho todo.
A porta da frente era pintada de turquesa. O nome CASTELLAN estava escrito em inglês, e abaixo em Grego: ?t????t?? f???????.
Nico olhou para mim. "Preparado?"
Ele mal tocou na porta quando ela escancarou-se.
"Luke!" a senhora choramingou feliz.
Ela parecia com alguém que gostava de ficar metendo o dedo em tomadas. Seu cabelo branco estava em tufos em pé por sua cabeça. Seu avental rosa tinha marcas
de queimado e manchas de cinzas. Quando ela sorria, seu rosto parecia ser esticado de um jeito não natural, e a luz forte em seus olhos me fez perguntar se ela era
cega.
"Oh, meu menininho!" Ela abraçou Nico. Eu estava tentando entender por que ela pensava que Nico era Luke (eles não tinham nada a ver), foi quando ela sorriu
para mim e disse, "Luke!"
Ela esqueceu totalmente de Nico e me deu um abraço. Ela cheirava a biscoitos queimados. Ela era tão magra quanto um espantalho, mas isso não a impediu de
quase me esmagar.
"Entre!" ela insistiu. "Seu almoço já está pronto!"
Ela nos empurrou pra dentro. A sala era mais estranha do que o jardim. Espelhos e velas ocupavam cada lugar vazio. Eu não podia olhar pra lugar algum sem
ver meu reflexo. Acima da lareira, um pequeno Hermes pendia do segundo ponteiro de um relógio. Eu tentei imaginar o deus mensageiro se apaixonando por essa senhora,
mas a idéia era muito bizarra.
Então eu notei uma porta retrato na lareira, e congelei. Era idêntico ao desenho de Rachel - Luke por volta de uns nove anos, com cabelo loiro e um grande
sorriso sem dois dentes. A falta da cicatriz em seu rosto o fez parecer como uma pessoa diferente - descontraído e feliz. Como Rachel podia saber dessa foto?
"Por aqui, querido!" Senhora Castellan me levou para os fundos da casa. "Oh, eu disse pra eles que você viria. Eu sabia!"
Ela nos sentou na mesa da cozinha. Empilhado no balcão, havia centenas - eu digo centenas mesmo - de vasilhas com sanduíches de pasta de amendoim e geléia.
Os do fundo eram verdes e embolorados como se eles tivessem lá há muito tempo. O cheiro me lembrava do meu armário da sexta série - e isso não era muito bom.
Em cima do fogão havia formas de biscoitos. Cada uma tinha dúzias de biscoitos queimados. Na pia tinha montanhas de garrafas de Kool-Aid. Um bichinho da
Medusa estava sobre a torneira como se ela estivesse protegendo a bagunça.
Senhora Castellan estava cantarolando enquanto pegava a pasta de amendoim e geléia, começando a fazer novos sanduíches. Algo estava queimando no forno. Tive
a sensação de que mais biscoitos estavam a caminho.
Sobre a pia, colocados ao redor da janela, havia dúzias de recortes de figuras de revistas e matérias de jornais - fotos de Hermes dos logos da FTD Flores
e Lavadores à Jato, fotos de caduceus de anúncios médicos.
Meu coração apertou. Eu queria sair daquele lugar, mas a Senhora Castellan continuava sorrindo para mim enquanto ela fazia os sanduíches, como se ela estivesse
certificando-se de que eu não fugiria.
Nico tossiu. "Hum, Senhora Castellan?"
"Sim?"
"Precisamos perguntar sobre seu filho."
"Ah, sim! Eles me disseram que ele não voltaria. Mas eu não acreditei." Ela apertou minha bochecha com carinho, me dando listras de pasta de amendoim.
"Qual foi a última vez que você viu ele?" Nico perguntou.
Seus olhos perderam o foco.
"Ele era muito novo quando se foi," ela disse melancolicamente. "Terceira série. É muito jovem para fugir! Ele disse que voltaria para o almoço. E eu esperei.
Ele gostava de sanduíches de pasta de amendoim, biscoitos e Kool-Aid. Ele voltará para o almoço logo..." Então ela olhou para mim e sorriu. "Por que, Luke, aí está
você! Você está lindo. Você tem os olhos de seu pai."
Ela virou para as fotos de Hermes sobre a pia. "Agora, esse é um bom homem. Sim, ele é. Ele vem me visitar, você sabe."
O relógio tiquetaqueava na sala. Eu limpei a pasta de amendoim de meu rosto e olhei para Nico suplicantemente, tipo, Podemos sair daqui?
"Senhora," Nico disse. "O que, uh...o que aconteceu com seus olhos?"
Seu olhar parecia desfocado - como se ela estivesse tentando focar ele por um caleidoscópio. "Por que, Luke, você sabe da história. Foi bem antes de você
nascer, não foi? Eu sempre fui especial, capaz de ver pela...o-que-todos-chamam.
"A Névoa?" Eu disse.
"Sim, querido." Ela concordou animadamente. "E eles me ofereceram um emprego importante. Pelo quão especial eu era!"
Eu olhei para o Nico, mas ele parecia tão confuso quanto eu.
"Que tipo de trabalho?" Eu perguntei. "O que aconteceu?"
A Senhora Castellan franziu a testa. Sua faca pairou sobre o sanduíche. "Meu querido, não funcionou, não é? Seu pai me avisou para não tentar. Ele disse
que era muito perigoso. Mas eu tinha que tentar. Era meu destino! E agora...eu ainda não consigo tirar as imagens da minha cabeça. Elas fazem as coisas parecerem
tão estranhas. Você gostaria de alguns biscoitos?"
Ela tirou a forma do forno e despejou um monte de biscoitos de lascas de chocolate carbonizados.
"Luke era tão carinhoso," Senhora Catellan murmurou. "Você sabe que ele foi embora para me proteger. Ele disse que se ele partisse, os monstros parariam
de me ameaçar. Mas eu disse a ele que os monstros não eram problema! Eles sentavam na calçada o dia todo, e eles nunca entravam." Ela pegou a Medusa de pelúcia do
parapeito da janela. "Eles entravam, Dona Medusa? Não, sem problema algum." Ela olhou para mim alegremente. "Estou tão feliz que você tenha voltado para casa. Sabia
que você não iria me decepcionar!"
Eu afundei em minha cadeira. Eu me imaginei como Luke, sentado nessa mesa, oito ou nove anos, e começando a perceber que minha mãe não estava realmente ali.
"Senhora Castellan," eu disse.
"Mãe," ela corrigiu.
"Hum, sim. Você já viu o Luke desde que ele saiu de casa?"
"Mas é claro!"
Eu não sabia se ela estava imaginando isso ou não. De tudo o que eu sabia, sempre que o carteiro batia na sua porta, ele era o Luke. Mas Nico se endireitou
esperançosamente.
"Quando?" ele perguntou. "Quando Luke visitou a senhora da última vez?"
"Bem, foi...Oh meu deus..." uma sombra passou por seu rosto. "Da última vez, ele estava tão diferente. Uma cicatriz. Uma cicatriz horrível, e sua voz estava
cheia de dor..."
"Seus olhos," eu disse. "Eles estavam dourados?"
"Dourado?" Ela piscou. "Não. Que bobagem. Luke tem olhos azuis. Lindos olhos azuis!"
Então Luke tinha vindo aqui mesmo, e isso tinha acontecido antes do último verão - antes dele se tornar Cronos.
"Senhora Catellan?" Nico pôs sua mão no velho ombro da mulher. "Isso é muito importante. Ele te pediu algo?"
Ela se endireitou como se tentasse se lembrar. "Minha - minha benção. Não é meigo?" Ela olhou para nós insegura. "Ele estava indo para o rio, e ele disse
que precisava da minha benção. Eu a dei para ele. É claro que dei."
Nico olhou para mim triunfantemente. "Obrigado, senhora. Essa era a informação que nós -"
Senhora Catellan ofegou. Ela se dobrou, e sua bandeja de biscoitos caiu no chão. Nico e eu pulamos da mesa.
"AHHHH" ela endireitou-se. Eu me afastei e quase cai por cima da mesa, por causa de seus olhos - eles estavam com um brilho verde.
"Minha criança," ela falou com uma voz muito mais profunda. "Deve protegê-lo! Hermes, ajude! Meu filho não! Não é o seu destino - não!"
Ela pegou Nico pelos ombros e começou a chacoalhá-lo como se fosse para fazê-lo entender. "Não o seu destino!"
Nico deu um grito engasgado e a afastou. Ele pegou no punho de sua espada. "Percy, precisamos sair -"
De repente a Senhora Castellan caiu. Eu deslizei para frente e a peguei antes que ela pudesse bater no tampo da mesa. Eu consegui colocá-la numa cadeira.
"Senhora C.?" perguntei.
Ela murmurou algo incompreensível e sacudiu a cabeça. "Jesus. Eu...eu deixei os biscoitos cair. Que descuido meu."
Ela piscou, e seus olhos voltaram ao normal - ou pelo menos, o que eles eram antes. O brilho verde tinha ido embora.
"Você está bem?" eu perguntei.
"Mas é claro, meu querido. Estou bem. Por que pergunta?"
Eu olhei para Nico, ele mexeu sua boca, falando a palavra Sair.
"Senhoria C., você estava nos contando algo," eu disse. "Algo sobre seu filho."
"Estava?" ela disse sonhadoramente. "Sim, seus olhos azuis. Estávamos falando de seus olhos azuis. Um belo rapaz!"
"Temos que ir," Nico disse com urgência. "Diremos a Luke...uh, diremos a ele que você mandou um oi."
"Mas vocês não podem ir!" Senhora Castellan bateu os pés, e eu me afastei. Era ridículo sentir medo de uma senhora, mas o modo como sua voz mudou, o modo
como ela chacoalhou Nico...
"Hermes chegará logo," ela prometeu. "Ele vai querer ver seu garoto!"
"Talvez da próxima vez," eu disse. "Obrigado por - " Eu olhei para os biscoitos queimados no chão. "Obrigado por tudo."
Ela tentou nos parar, oferecer Kool-Aid, mas eu tinha que sair daquela casa. Na varanda, ela agarrou minha cintura e eu quase pulei. "Luke, se cuide pelo
menos. Me prometa que você vai se cuidar."
"Eu irei...mãe.
Aquilo a fez sorrir. Ela soltou minha cintura, e enquanto ela fechava a porta da frente eu podia ouvir ela falando para as velas: "Você ouviram isso? Ele
se cuidará. Eu disse a vocês que ele iria!"
Enquanto a porta fechava, Nico e eu corremos. Os bichinhos de pelúcia da varanda pareciam sorrir para nós enquanto passávamos.
De volta ao penhasco, Senhora O'Leary parecia ter encontrado uma amiga.
Uma agradável fogueira crepitava em um anel de rochas. Uma garota por volta dos oito anos estava sentada com pernas cruzadas próxima a Senhora O'Leary, acariciando
as orelhas do cão infernal.
A garota tinha um cabelo castanho cinzento e vestia um vestido simples marrom. Ela usava um lenço sobre sua cabeça, então ela parecia uma criança pioneira
- como o fantasma de Os Pioneiros ou algo assim. Ela mexeu no fogo com um graveto, e ele pareceu brilhar um vermelho mais forte do que o fogo normal.
"Olá," ela disse.
Meu primeiro pensamento foi: um monstro. Quando você é um semideus e você encontra uma garotinha meiga sozinha na floresta - essa é uma ótima hora de você
pegar sua espada e atacar. Mas, o encontro com a Senhora Castellan havia me abalado muito.
Mas Nico se curvou para a menina. "Olá de novo, Senhora."
Ela me estudou com os olhos tão vermelhos quanto bolas de fogo. Eu decidi que o mais seguro era me curvar.
"Sente-se, Percy Jackson," ela disse. "Vocês gostariam de jantar?"
Depois de olhar sanduíches de pasta de amendoim mofados e biscoitos queimados, eu não estava com muito apetite, mas a garota balançou sua mão e um piquenique
apareceu em cima do fogo. Havia pratos de roast beef, batatas fritas, cenouras amanteigadas, pão fresco, e um monte de outras comidas que eu não via fazia um tempo.
Meu estômago começou a roncar. Esse era o tipo de comida caseira que as pessoas supostamente deveriam ter, mas elas nunca tinham. A garota fez um biscoito de um
metro e meio aparecer para Senhora O'Leary, que começou a deixá-lo em migalhas.
Sentei perto de Nico. Pegamos nossa comida, e eu estava prestes a comer quando eu pensei melhor.
Tirei parte da minha comida para as chamas, do mesmo jeito que fazíamos no acampamento. "Para os deuses," eu disse.
A garotinha sorriu. "Obrigada. Na oferta da chama, eu tenho um pouco de cada sacrifício, você sabe."
"Eu te reconheço agora," eu disse. "Quando eu cheguei ao acampamento pela primeira vez, você estava sentada perto do fogo, no meio do pavilhão."
"Você não parou para conversar," a garota se lembrou melancolicamente. "Alas, a maioria nunca o fazem. Nico falou comigo. Ele foi o primeiro em muitos anos.
Todos apressados. Sem tempo para visitar a família."
"Você é Héstia," eu disse. "A Deusa das Chamas."
Ela concordou.
Ok...assim ela parecia ter oito anos. Eu não perguntei. Aprendi que deuses assumem a forma do que quiserem.
"Minha senhora," Nico perguntou, "por que você não está com os outros Olimpianos, lutando contra Tifão?"
"Eu não sou muito de briga." Seus olhos vermelhos faiscaram. Eu percebi que eles só estavam refletindo as chamas. Eles eram ocupados por fogo - mas não como
os olhos de Ares. Os olhos dela eram cômodos e quentes.
"Além do mais," ela disse, "alguém tem que manter as chamas caseiras acesas, enquanto os deuses estão ausentes."
"Então você está protegendo o Monte Olimpo?" eu perguntei.
"'Proteger' pode ser uma palavra muito forte. Mas se você precisar de algum lugar quente e comida caseira, você é bem vindo. Agora coma."
Meu prato estava cheio antes que eu percebesse. Nico começou rapidamente.
"Isso aqui está muito bom," eu disse. "Obrigado, Héstia."
Ela acenou com a cabeça. "Vocês fizeram uma boa visita a Senhora Castellan?"
Por um momento eu havia me esquecido da velha senhora com seus olhos brilhantes e seu sorriso maníaco, o modo como ela de repente pareceu estar possuída.
"O que ela tem de errado, exatamente?" eu perguntei.
"Ela nasceu com um dom," Héstia disse. "Ela pode ver através da Névoa."
"Como minha mãe," eu disse. E eu também pensei: Igual a Rachel. "Mas aquela coisa brilhando em seus olhos -"
"Alguns lidam com a maldição da visão melhores que os outros," a deusa disse tristemente. "Por um tempo, a Senhora Castellan teve muitos talentos. Ela atraiu
a atenção de Hermes. Eles tiveram um lindo bebezinho. Durante um curto tempo, ela foi feliz. E então ela foi longe demais."
Lembrei do que a Senhora Castellan havia dito: Eles me ofereceram um trabalho importante... Não funcionou. Perguntei-me que tipo de trabalho a deixou assim.
"Em um minuto ela estava toda feliz," eu disse. "E depois ela enlouqueceu sobre o destino de seu filho, como se ela soubesse que ele tivesse virado Cronos.
O que aconteceu para... ela se dividir daquele jeito?"
O rosto da deusa escureceu. "Essa é uma história que eu não gosto de contar. Mas a Senhora Castellan viu demais. Se você quer entender o Luke, primeiro
você tem que entender sua família."
Eu pensei nas tristes fotos de Hermes coladas acima da pia da Senhora Castellan. Perguntava-me se ela já era louca quando Luke era pequeno. Aqueles olhos
verdes poderiam assustar seriamente uma criança de nove anos. E se Hermes nunca o tenha visitado, o deixado sozinho com sua mãe durante todos esses anos...
"Não me surpreendo por Luke ter fugido," eu disse. "Digo, não foi certo deixar sua mãe assim, mas ainda - ele era só uma criança. Hermes não devia tê-los
abandonado."
Héstia acariciou atrás das orelhas de Senhora O'Leary. O cão infernal abanou seu rabo e acidentalmente bateu em uma árvore.
"É fácil julgar os outros," Héstia alertou. "Mas você seguiria os passos de Luke? Procurar pelos mesmos poderes?
Nico abaixou seu prato. "Não temos escolha, minha senhora. É o único jeito de Percy ter uma chance."
"Hum." Héstia abriu suas mãos e o fogo zuniu. Chamas atingiram dez metros de altura no ar. O calor me atingiu no rosto. Depois o fogo voltou ao normal.
"Nem todos os poderes são incríveis." Héstia olhou para mim. "Às vezes o maior poder que tem é o poder de ceder. Você acredita em mim?"
"Aham," eu disse. Qualquer coisa para ela manter as chamas como estavam.
A deusa sorriu. "Você é um bom herói, Percy Jackson. Não é muito orgulhoso. Eu gosto disso. Mas você ainda tem muito que aprender. Quando Dionísio se tornou
um deus, eu dei meu trono para ele. Era o único jeito de evitar uma guerra interna entre os deuses."
"Isso desequilibrou o Conselho," eu lembrei. "De repente havia sete caras e cinco garotas."
Héstia deu de ombros. "Essa era a melhor solução, não a perfeita. Agora eu controlo o fogo. Eu desapareço vagarosamente nos fundos. Ninguém jamais escreverá
poemas épicos sobre os feitos de Héstia. A maioria dos semideuses nem param para falar comigo. Mas isso não importa. Eu mantenho a paz. Eu cedo quando é necessário.
Você é capaz de fazer isso?"
"Eu não entendo o que você quer dizer."
Ela me estudou. "Talvez ainda não. Mas em breve entenderá. Você continuará com sua missão?"
"É por isso que você está aqui - para me alertar sobre o caminho?"
Héstia balançou sua cabeça. "Estou aqui porque quando tudo falha, quando todos os outros deuses tiverem ido para a guerra, serei a única restante. Casa.
Fogo. Eu sou a última Olimpiana. Você deve se lembrar de mim quando você encarar a sua última decisão."
Eu não gostei do modo como ela falou última.
Olhei para Nico, e depois de volta aos olhos acolhedores de Héstia. "Eu tenho que continuar minha senhora. Eu tenho que parar Luke... digo Cronos."
Héstia acenou. "Muito bem. Eu não posso ser de muita ajuda, além do que eu já te disse. Mas desde que você se sacrifique por mim, eu posso retornar para
seu próprio fogo. Te verei de novo, Percy, no Olimpo."
Seu tom era agourento, talvez nosso próximo encontro não fosse muito feliz.
A deusa balançou sua mão e tudo desapareceu.


De repente eu estava em casa. Nico e eu estávamos sentados no sofá do apartamento de minha mãe no Upper East Side. Essas eram as boas notícias. As más notícias
eram que o resto da sala estava ocupada por Senhora O'Leary.
Eu ouvi um grito abafado do quarto. A voz de Paul disse, "Quem pôs essa parede de pelo no caminho da porta?"
"Percy?" minha mãe chamou. "Você está aqui? Está tudo bem?"
"Estou aqui!" eu gritei.
"WOOF!" Senhora O'Leary tentou virar para achar minha mãe, derrubando todos os quadros das paredes. Ela só havia encontrado minha mãe uma vez (longa história),
mas ela a ama.
Demorou um tempo, mas finalmente conseguimos que as coisas dessem certo. Depois de destruir a maioria dos móveis da sala e provavelmente ter deixado nossos
vizinhos muito irritados, conseguimos tirar meus pais do quarto para cozinha, onde sentamos à mesa. Senhora O'Leary ainda ocupando toda a sala, mas ela estava com
a cabeça na porta da cozinha, então ela podia nos ver, o que a deixou feliz. Minha mãe jogou para ela um bife tamanho família pelo chão, que desapareceu na sua boca.
Paul serviu limonada para o resto de nós enquanto eu contava sobre nossa visita à Connecticut.
"Então é verdade." Paul me olhava como se ele nunca tivesse me visto antes. Ele estava vestindo seu roupão branco, agora coberto por pelo de cão infernal,
e seu cabelo grisalho estava bagunçado em várias direções. "Todo o negócio de monstros, e ser um semideus... então é mesmo verdade."
Eu concordei. Eu tinha contado a Paul no último outono, quem eu era. Minha mãe tinha me dado uma força. Mas até esse momento, eu não achei que ele realmente
tivesse acreditado em nós.
"Desculpe sobre Senhora O'Leary," eu disse "por ter destruído a sala e tudo mais."
Paul gargalhou como se ele estivesse contentíssimo. "Você está brincando? Isso é incrível! Digo, quando eu vi as pegadas no Prius, eu pensei que talvez fosse
verdade. Mas isso!"
Ele acariciou o focinho de Senhora O'Leary. A sala chacoalhava - BOOM, BOOM, BOOM - que poderia ser o batalhão da SWAT arrombando a porta ou a Senhora O'Leary
abanando seu rabo.
Eu não pude conter o sorriso. Paul era um cara muito legal, mesmo ele sendo meu professor de Inglês assim como meu padrasto.
"Obrigado por não pirar," eu disse.
"Ah, mas eu estou pirando," ele garantiu, com seus olhos bem abertos. "Eu só acho isso incrível!"
"É, bem," eu disse, "talvez você não fique tão animado quando ouvir o que vai acontecer."
Eu contei a Paul e minha mãe sobre Tifão, e os deuses, e a batalha que estava prestes a acontecer. Depois eu disse a eles o plano de Nico.
Minha mãe apertou seus dedos em volta do copo de limonada. Ela estava vestindo seu roupão de flanela azul, e seu cabelo estava amarrado para trás. Ela tinha
começado a escrever um romance, como ela sempre quis fazer há anos, e eu poderia dizer que ela estava escrevendo até tarde da noite, porque os círculos embaixo de
seus olhos estavam mais escuros do que o de costume.
Atrás dela, na janela da cozinha, a renda lunar brilhava com um tom prateado no vaso de flores. Eu trouxe a planta mágica da Ilha de Calypso no verão passado,
e ela florescia muito sobre os cuidados de minha mãe. O cheiro sempre me acalmava, mas também me deixava triste, porque me fazia lembrar de amigos perdidos.
Minha mãe respirou fundo, como se ela estivesse pensando em como me dizer não.
"Percy, é muito perigoso," ela disse. "Até mesmo para você."
"Mãe, eu sei. Eu poderia morrer. Nico me explicou isso. Mas se nós não tentarmos -"
"Todos morreremos," Nico disse. Ele não tinha tocado em sua limonada. "Senhora Jackson, não teremos chance contra uma invasão. E haverá uma invasão."
"Uma invasão em Nova Iorque?" Paul disse. "Isso é possível? Como não poderemos ver...os monstros?"
Ele disse a palavra como se ainda não acreditasse que ela fosse real.
"Eu não sei," eu admiti. "Eu não vejo como Cronos conseguirá marchar por Manhattan, mas a Névoa é forte. Tifão está atravessando o país agora mesmo, e os
mortais pensam que ele é um conjunto de tempestades."
"Senhora Jackson," Nico disse, "Percy precisa de sua benção. O processo tem que começar desse jeito. Eu não tinha certeza antes de conhecer a mãe de Luke,
mas agora estou certo. Isso já foi feito com sucesso duas vezes. Ambas as vezes, a mãe teve que dar a sua benção. Ela tem que estar disposta a deixar seu filho se
arriscar."
"Você quer que eu abençoe isso?" Ela balançou sua cabeça. "É loucura. Percy, por favor -"
"Mãe, eu não consigo fazer isso sem você."
"E se você sobreviver esse... esse processo?"
"Então eu irei para guerra," eu disse. "Eu contra Cronos. E só um de nós sobreviverá."
Eu não disse a profecia completa - sobre a minha alma ser cortada ao meio e ser o fim de meus dias. Ela não precisava saber que eu estava provavelmente amaldiçoado.
Eu só podia esperar que eu fosse capaz de parar Cronos e salvar o resto do mundo antes de eu morrer.
"Você é o meu filho," ela disse melancolicamente. "Eu não posso só..."
Eu teria que insistir para fazê-la concordar se eu queria ela de acordo. Mas eu também não queria. Eu me lembrava da pobre Senhora Castellan em sua cozinha,
esperando seu filho voltar para casa. E eu percebi o quão sortudo eu era. Minha mãe sempre esteve comigo, sempre tentando fazer as coisas o mais normal possível,
até com deuses e monstros e essas coisas. Ela tolerava eu sair em aventuras, mas agora eu estava pedindo sua benção para algo que provavelmente me mataria.
Eu olhei para os olhos de Paul, e algum tipo de compreendimento passou entre nós.
"Sally." Ele pôs suas mão nas mãos de minha mãe. "Eu não posso afirmar saber tudo o que você e Percy passaram todos esses anos. Mas parece que... que Percy
está fazendo algo nobre. Eu gostaria de ter essa coragem."
Senti um bolo em minha garganta. Eu não recebia tantos elogios assim.
Minha mãe olhou para sua limonada. Ela parecia estar tentando não chorar. Eu pensei no que Héstia havia dito, sobre o quão difícil era ceder, e eu percebi
que talvez minha mãe estivesse descobrindo isso agora.
"Percy," ela disse, "eu te dou minha benção."
Eu não senti nada de diferente. Nenhum brilho mágico encheu a cozinha, nem nada disso.
Eu olhei para Nico.
Ele parecia mais ansioso do que nunca, mas ele acenou com a cabeça. "Está na hora."
"Percy," minha mãe disse. "Uma última coisa. Se você...se você sobreviver a essa luta com Cronos, me mande um sinal." Ela revirou sua bolsa e me deu seu
celular.
"Mãe," eu disse, "você sabe que semideuses e celulares -"
"Eu sei," ela disse. "Mas só por precaução. Se você não tiver em condições de ligar...talvez só um sinal que eu pudesse ver em qualquer lugar de Manhattan.
Pra eu saber que você está bem."
"Como Teseo," Paul sugeriu. "Ele deveria ter acendido velas brancas quando ele chegou em casa em Atenas."
"Tirando que ele esqueceu," Nico disse. "E seu pai pulou do telhado do palácio em desespero. Mas fora isso, é uma ótima ideia."
"Que tal uma bandeira ou um lume?" minha mãe disse. "Do Olimpo - O Empire State."
"Algo azul," eu disse.
Tivemos piadas durante anos sobre comida azul. Era minha cor favorita, e minha mãe se desvirava por causa do meu senso de humor. Todo ano, meu bolo de aniversario,
meu ovo da Páscoa, minhas bengalas de açúcar de Natal, tudo tinha que ser azul.
"Sim," minha mãe concordou. "Eu estarei de olho em um sinal azul. E eu tentarei evitar pular de telhados de palácios."
Ela me deu um último abraço, e eu tentei não me sentir como se fosse uma despedida. Eu dei as mãos ao Paul. Depois Nico e eu caminhos pela porta da cozinha
e olhamos para Senhora O'Leary.
"Desculpe, garota," eu disse. "Hora da viagem pelas sombras de novo."
Ela gemeu e cruzou suas patas em cima de seu focinho.
"Pra onde agora?" perguntei a Nico. "Los Angeles?"
"Não precisa," ele disse. "Existe uma entrada mais perto pra o Mundo Inferior."






CAPÍTULO SETE - MINHA PROFESSORA DE MATEMÁTICA ME DA UMA CARONA

Nós surgimos no Central Park, logo ao norte da Lagoa. Sra. O'Leary parecia bem cansada enquanto ela caminhava com dificuldade em direção à um aglomerado de rochas.
Ela começou a farejar em volta, e eu estava com medo que ela marcasse seu território, mas Nico disse, "Está tudo bem. Ela apenas sente o cheiro do caminho de casa."
Eu franzi a testa. "Através das rochas?"
"O Submundo tem duas entradas principais," Nico disse, "Você conhece a que fica em Los Angeles."
"A travessia de Caronte."
Nico concordou com a cabeça. "A maioria das almas vai por aquele caminho, mas há uma passagem menor, mais difícil de encontrar. A Porta de Orfeu."
"O cara com a harpa."
"Cara com a lira," corrigiu Nico, "Mas sim, ele mesmo. Ele usou sua música para encantar a terra e abrir uma nova passagem para dentro do Submundo. Ele cantou seu
caminho direto no Palácio de Hades e quase fugiu com a alma de sua esposa."
Eu me lembrava da história. Orfeu não deveria olhar para trás quando estava guiando sua esposa de volta para o mundo, mas é claro que ele fez isso. Era uma daquelas
típicas histórias: "então-eles-morreram-fim" que sempre faziam nós semideuses nos sentirmos emotivos e confusos.
"Então esta é a porta de Orfeu?" tentei ficar impressionado, mas ainda parecia uma pilha de pedras para mim, "Como se abre isso?"
"Precisamos de música," Nico disse, "Você canta bem?"
"Hum, não. Você não pode apenas, tipo, falar para ela abrir? Você é o filho de Hades e tudo mais."
"Não é tão fácil. Precisamos de música."
Eu estava bem certo que se tentasse cantar, tudo que eu causaria seria uma avalanche.
"Tenho uma idéia melhor." me virei e chamei "GROVER!"

Nós esperamos um longo tempo. Sra. O'Leary se enrolou e tirou uma soneca. Eu podia ouvir os grilos no bosque e uma coruja piando. O trânsito zunia ao longo da Av.
Central Park West. Cascos de cavalo galopavam numa passagem próxima, talvez uma patrulha da cavalaria policial. Eu tinha certeza que eles iam amar achar duas crianças
passando o tempo no parque à uma da madrugada.
"Não deu certo." Nico disse finalmente.
Mas eu tive um pressentimento. Minha conexão empática estava realmente formigando pela primeira vez em meses, o que significava que um bocado de gente tinha mudado
de repente para o Nature Channel, ou Grover estava próximo.
Fechei meus olhos e me concentrei. Grover.
Eu sabia que ele estava em algum lugar no parque. Porque eu não podia sentir suas emoções? Tudo que eu tinha era um zumbido fraco na base do meu crânio.
Grover, eu pensei mais insistentemente.
Hmm-hmmmm, alguma coisa falou.
Uma imagem veio à minha cabeça. Vi uma grande árvore de olmo bem fundo na floresta, bem fora das passagens principais. Raízes nodosas envolviam o solo, fazendo uma
espécie de cama. Deitado com seus braços cruzados e seus olhos fechados estava um sátiro. De primeira eu não pude ter certeza que era Grover. Ele estava coberto
de ramos e folhas, como se ele estivesse dormindo lá há um bom tempo. As raízes pareciam estar se modelando ao redor dele, vagarosamente puxando ele para dentro
da terra.
Grover, eu disse, Acorde.
Ummh-zzzzz.
Cara, vocês está coberto de sujeira. Acorde!
Sonolento, sua mente murmurou.
COMIDA sugeriu. PANQUECAS!
Seus olhos se abriram. Um borrão de pensamentos preencheu minha cabeça como se ele estivesse de repente no modo acelerado. A imagem se dispersou, e eu quase caí.
"O que aconteceu?" Nico perguntou.
"Eu consegui. Ele está... é. Ele está vindo."
Um minuto depois a árvore ao nosso lado estremeceu. Grover caiu dos galhos, bem em cima de sua cabeça.
"Grover!" gritei.
"Woof!" Sra. O'Leary olhou para cima, provavelmente imaginando se íamos brincar de pegar com o sátiro.
"Blah-haa-haa!" Grover baliu.
"Você está bem, cara?"
"Oh, estou ótimo." ele esfregou a testa. Seus chifres tinham crescido tanto que saíam quase dois centímetros acima de seu cabelo enrolado. "Eu estava no outro lado
do parque. As dríades tiveram essa grande ideia de me passar através das árvores para chegar até aqui. Elas não entendem muito bem de altura."
Ele sorriu e ficou em pé - bem, em cascos, na verdade. Desde o último verão, Grover tinha parado de tentar se disfarçar como humano. Ele nunca mais tinha usado boné
ou pés falsos. Ele nem ao menos usava jeans, já que ele tinha pernas peludas de bode da cintura para baixo. Sua camisa tinha uma imagem do livro Onde estão as coisas
selvagens. Estava coberta de sujeira e seiva de árvore. Sua barbicha parecia mais cheia, quase a de um homem adulto (ou bode?) e ele estava tão alto quanto eu agora.
"Bom ver você, Homem-G." eu disse "Você se lembra do Nico."
Grover acenou com a cabeça para Nico, então me deu um grande abraço. Ele cheirava a grama recém cortada.
"Perrrrcy!" ele baliu "Senti saudades de você! Senti saudade do acampamento. Eles não servem enchiladas muito boas nos territórios selvagens."
"Eu estava preocupado." eu disse "Onde você esteve nos últimos dois meses?"
"Os últimos dois-" o sorriso de Grover desapareceu "Os últimos dois meses? Do que você está falando?"
"Nós não ouvimos nada de você" eu disse "Juniper está preocupada. Nós mandamos mensagens de Íris, mas-"
"Espere um pouco," ele olhou para as estrelas acima como se estivesse tentando calcular sua posição, "Qual é esse mês?"
"Agosto."
A cor foi sugada de seu rosto. "Isso é impossível. É Junho. Eu apenas deitei para tirar um cochilo e..." ele agarrou meus braços, "Eu lembro agora! Ele me nocauteou.
Percy, nós temos que pará-lo!"
"Uou!" eu disse, "Acalme-se. Conte o que aconteceu."
Ele respirou fundo.
"Eu estava... Estava andando na floresta perto do lago Harlem Meer. E eu senti esse tremor na terra como se algo poderoso estivesse por perto."
"Você pode sentir coisas assim?" perguntou Nico.
Grover concordou. "Desde a morte de Pã, eu posso sentir quando algo está errado com a natureza. É como se meus ouvidos e olhos fossem mais aguçados quando estou
na Natureza. Em todo caso, comecei a seguir o cheiro. Esse homem com um longo casaco preto estava andando pelo parque, e percebi que ele não criava nenhuma sombra.
Ele meio que tremeluzia enquanto se mexia."
"Como uma miragem?" perguntou Nico.
"Sim," disse Grover, "E toda vez que ele passava por humanos-"
"Os humanos desmaiavam," disse Nico, "Se curvavam e iam dormir."
"Isso mesmo! Então depois que ele ia embora, eles se levantavam e continuavam seus afazeres como se nada tivesse acontecido."
Eu olhei fixamente para Nico. "Você conhece esse cara de preto?"
"Temo que sim," disse Nico "Grover, o que aconteceu?"
"Eu segui o cara. Ele ficou olhando para os prédios em volta do parque como se estivesse fazendo estimativas ou algo assim. Uma garota atleta passou correndo, e
se curvou na calçada e começou a roncar. O homem de preto pôs sua mão na testa dela como se estivesse medindo sua temperatura. Então ele continuou andando. Nesse
momento, eu sabia que ele era um monstro ou algo ainda pior. Eu o segui até dentro deste bosque, até a base de uma grande árvore de olmo. Eu estava prestes a convocar
algumas dríades para me ajudar a capturá-lo quando ele se virou e..."
Grover engoliu em seco. "Percy, o rosto dele. Eu não podia decifrar o rosto dele porque ficava mudando. Só de olhar para ele fiquei sonolento. Eu disse, 'O que você
está fazendo?' Ele disse, 'Apenas dando uma olhada ao redor. Você deve sempre fazer o reconhecimento do campo de batalha antes da guerra.' Eu disse algo realmente
inteligente, como: 'Essa floresta está sob minha proteção. Você não vai começar nenhuma batalha aqui!' E ele gargalhou. Ele disse, 'Você tem sorte que eu estou guardando
minha energia para o evento principal, pequeno sátiro. Vou apenas garantir a você uma curta soneca. Bons sonhos.' E essa é a última coisa que eu me lembro."
Nico expirou. "Grover, você conheceu Morfeus, o Deus dos Sonhos. Você tem sorte de alguma vez ter acordado."
"Dois meses." Grover gemeu, "Ele me pôs para dormir por dois meses."
Tentei envolver minha mente com o significado disso. Agora fazia sentido porque nós não tínhamos conseguido entrar em contato com Grover todo esse tempo.
"Porque as ninfas não tentaram acordar você?" perguntei.
Grover deu de ombros. "A maioria das ninfas não são muito boas com o tempo. Dois meses para uma árvore não é nada. Elas provavelmente pensaram que não havia nada
errado."
"Nós temos que descobrir o que Morfeus estava fazendo no parque." eu disse, "Eu não gosto dessa coisa de 'evento principal' que ele mencionou."
"Ele está trabalhando para Cronos." Nico disse, "Nós já sabemos disso. Uma grande parte dos deuses menores está. Isso apenas prova que haverá uma invasão. Percy,
temos que continuar com o nosso plano."
"Esperem," disse Grover, "Que plano?"
Nós contamos a ele, e Grover começou a puxar com força os pelos de sua perna.
"Vocês não estão falando sério." disse ele, "O Submundo de novo, não."
"Não estou pedindo para você vir, cara." eu prometi, "Sei que você acabou de acordar. Mas precisamos de alguma música para abrir a porta. Você pode fazer isso?"
Grover pegou sua flauta de bambu. "Acho que posso tentar. Eu sei algumas músicas do Nirvana que podem separar pedras. Mas, Percy, você tem certeza que quer fazer
isso?"
"Por favor, cara." eu disse, "Significaria muito. Pelos velhos tempos?"
Ele choramingou. "Pelo que eu me lembro, nos velhos tempos nós quase morríamos várias vezes. Mas tudo bem, nada vem aqui."
Ele botou a flauta nos lábios e tocou uma música penetrante, animada. As rochas tremeram. Mais algumas estrofes, e elas se abriram tortuosamente, revelando uma fenda
triangular.
Eu espiei para dentro. Degraus conduziam para baixo, dentro da escuridão. O ar cheirava a mofo e morte. Trouxe de volta memórias ruins da minha viagem pelo Labirinto
no ano passado, mas este túnel parecia ainda mais perigoso. Ele levava direto para a terra de Hades, e isso era quase sempre uma viagem só de ida.
Virei para Grover. "Obrigado... Eu acho."
"Perrrrcy, Cronos realmente vai invadir?"
"Eu queria poder falar melhor, mas sim. Ele vai."
Pensei que Grover ia mastigar de ansiedade sua flauta de bambu, mas ele se endireitou e arrumou a camisa. Eu não pude evitar pensar no quanto ele era diferente do
velho e gordo Leneus. "Devo animar os espíritos da natureza, então. Talvez nós possamos ajudar. Vou ver se nós conseguimos achar esse Morfeus."
"Também é melhor contar para Juniper que você está bem."
Os olhos dele se arregalaram. "Juniper! Oh, ela vai me matar!"
Ele tinha começado a correr, mas voltou desengonçado e me deu mais um abraço. "Tenha cuidado lá embaixo! Volte vivo!"
Assim que ele fora embora, Nico e eu acordamos Sra. O'Leary de seu cochilo.
Quando ela farejou o túnel, ficou animada e liderou o caminho escada abaixo. Era um ajuste bem apertado. Esperava que ela não ficasse presa. Não imaginava quantos
Dranos nós precisaríamos para desencalhar um cão do inferno espremido na metade de um túnel que leva ao Submundo.
"Pronto?" Nico me perguntou, "Vai ficar tudo bem. Não se preocupe."
Ele soava como se estivesse tentando convencer a si mesmo.
Olhei de relance para as estrelas, imaginando se alguma vez eu as veria de novo. Então nós mergulhamos na escuridão.

As escadas continuavam eternamente - estreitas, íngremes e escorregadias. Estava completamente escuro exceto pelo brilho da minha espada. Tentei ir devagar, mas
Sra. O'Leary tinha outras ideias. Ela saltava à frente, latindo alegremente. O som ecoava pelo túnel como balas de canhão, e eu notei que nós não pegaríamos ninguém
de surpresa até que chegássemos no fundo. Nico ficou para trás, o que eu achei estranho.
"Você está bem?" perguntei a ele.
"Ótimo." o que era aquela expressão no rosto dele... dúvida?
"Apenas continue andando," ele disse.
Eu não tinha muita escolha. Segui Sra. O'Leary para dentro das profundezas. Depois de outra hora, comecei a escutar o barulho de um rio. Nós emergimos na base de
um penhasco, numa planície de areia vulcânica preta. À nossa direita, o Rio Styx irrompia das pedras e rugia para baixo por uma cascata de corredeiras. À nossa esquerda,
bem longe na escuridão, fogueiras queimavam nas plataformas de Érebos, as grandes muralhas negras do reino de Hades.
Eu estremeci. Eu tinha estado aqui pela primeira vez quando tinha doze anos, e somente a companhia de Annabeth e Grover havia me dado coragem para continuar indo
em frente. Nico não ajudaria tanto como o negócio da "coragem". Ele mesmo parecia pálido e preocupado.
Apenas Sra. O'Leary estava feliz. Ela correu ao longo da praia, pegou aleatoriamente um osso de uma perna humana, e voltou em minha direção. Ela colocou o osso aos
meus pés e esperou que eu jogasse.
"Hum, talvez depois, garota." olhei fixamente para as águas escuras, tentando segurar meus nervos, "Então, Nico... Como nós fazemos isso?"
"Temos que entrar pelos portões primeiro."
"Mas o rio está bem aqui."
"Tenho que pegar uma coisa." ele disse, "É o único jeito."
Ele saiu marchando sem esperar.
Eu franzi a testa. Nico não tinha mencionado nada de entrar pelos portões. Mas agora que estávamos aqui, eu não sabia mais o que fazer. Relutante, segui-o pela praia
em direção aos grandes portões negros.
Filas de mortos estavam paradas do lado de fora esperando para entrar. Deve ter sido um dia pesado para funerais, porque até mesmo a fila MORTE-PASSE FÁCIL estava
lotada.
"Woof!" disse Sra. O'Leary. Antes que eu pudesse pará-la ela saltou em direção ponto de inspeção de segurança. Cérbero, o cão de guarda de Hades, apareceu da escuridão
- um rottweiler de três cabeças tão grande que fazia Sra. O'Leary parecer um poodle de brinquedo. Cérbero era metade transparente, então é realmente difícil vê-lo
até que ele esteja perto o bastante para matar você, mas ele agiu como se não se importasse conosco. Ele estava muito ocupado dizendo olá para Sra. O'Leary
"Sra. O'Leary, não!" gritei para ela, "Não cheire... Oh, cara."
Nico sorriu. Então olhou para mim e sua expressão se tornou toda séria novamente, como se ele tivesse lembrado algo desagradável. "Venha. Eles não vão nos dar problema
algum na fila. Você está comigo."
Eu não gostava disso, mas nós passamos pelos espíritos da segurança e entramos nos Campos de Asfódelos. Tive que assobiar três vezes para Sra. O'Leary antes que
ela deixasse Cérbero sozinho e corresse até nós.
Nós caminhamos por campos negros de grama pontuados com álamos pretos. Se eu realmente morresse em alguns dias como a profecia havia dito, eu acabaria ficando aqui
para sempre, mas tentei não pensar nisso.
Nico marchou à frente, nos levando cada vez mais perto do palácio de Hades.
"Ei!" eu disse, "Já entramos pelos portões. Onde nós estamos-"
Sra. O'Leary rosnou. Uma sombra apareceu acima de nós - algo escuro, frio e fedendo a morte. Aquilo desceu rapidamente e aterrissou no topo de um álamo.
Infelizmente, eu a reconheci. Ela tinha uma cara enrugada, um chapéu de tricô azul, e um vestido de veludo amassado. Asas de morcego parecendo de couro abriam-se
às suas costas. Seus pés possuíam presas afiadas, e em suas mãos com garras de bronze ela segurava um chicote flamejante e uma bolsa de lã escocesa.
"Sra. Dodds." eu disse.
Ela pôs os caninos à mostra. "Bem vindo de volta, querido."
Suas duas irmãs - as outras duas Fúrias - desceram em velocidade e se acomodaram ao lado dela nos galhos do álamo.
"Você conhece Alecto?" Nico me perguntou.
"Se você quer dizer a feiosa do meio, sim." eu disse, "Ela era minha professora de matemática."
Nico concordou, como se isso não o surpreendesse. Ele olhou para as Fúrias e respirou fundo. "Eu fiz o que meu pai pediu. Leve-nos para o palácio."
Eu fiquei tenso. "Espere um segundo, Nico. O que você..."
"Temo que essa seja minha nova vantagem, Percy. Meu pai me prometeu informações sobre minha família, mas ele quer ver você antes de nós usarmos o rio. Sinto muito."
"Você me enganou?" eu estava tão irado que não conseguia pensar. Eu investi contra ele, mas as Fúrias foram velozes. Duas delas desceram rapidamente e me seguraram
pelos braços. Minha espada caiu da minha mão, e antes que soubesse, eu estava balançando a quase vinte metros do chão.
"Oh, não fique se debatendo, querido." minha velha professora de matemática cacarejou no meu ouvido, "Eu odiaria soltar você."
Sra. O'Leary latiu furiosamente e pulou, tentando me alcançar, mas nós estávamos muito alto.
"Diga para Sra. O'Leary se comportar." avisou Nico. Ele estava pairando perto de mim nas garras da terceira Fúria, "Não quero que você se machuque, Percy. Meu pai
está esperando. Ele quer apenas conversar."
Eu queria falar para Sra. O'Leary atacar Nico, mas isso não teria feito nenhum bem, e Nico estava certo sobre uma coisa: meu cachorro poderia se ferir se tentasse
provocar uma briga com as Fúrias.
Eu rangi meus dentes. "Sra. O'Leary, sentada! Está tudo bem, garota."
Ela ganiu e girou em círculos, olhando para mim.
"Tudo bem, traidor." eu rosnei para Nico, "Você tem seu prêmio. Leve-me para o estúpido palácio."
Alecto me largou que nem um saco de nabos no meio do jardim do palácio.
Era bonito de uma maneira esquisita. Árvores brancas esqueléticas cresciam de vasilhas de mármore. Canteiros de flores transbordavam com plantas douradas e pedras
preciosas. Um par de tronos, um de osso e um de prata, ficava na varanda com uma vista dos Campos de Asfódelos. Teria sido um lugar legal para passar uma manhã de
sábado se não fosse o cheiro de enxofre e os gritos de almas torturadas ao longe.
Guerreiros esqueletos guardavam apenas a saída. Eles vestiam fardas esfarrapadas de combate no deserto do exército dos Estados Unidos e carregavam fuzis M16.
A terceira Fúria depositou Nico ao meu lado. Então as três se acomodaram no topo do trono esquelético. Eu resisti ao impulso de estrangular Nico. Elas apenas iam
me parar. Eu teria que esperar pela minha vingança.
Olhei fixamente para os tronos vazios, esperando alguma coisa acontecer. Então o ar tremeluziu. Três figuras apareceram - Hades e Perséfone em seus tronos e uma
mulher mais velha em pé entre eles. Eles pareciam estar no meio de uma discussão.
"-falei para você que ele era um vagabundo." a mulher mais velha disse.
"Mãe!" replicou Perséfone.
"Nós temos visita!" bradou Hades, "Por favor!"
Hades, um dos meus deuses menos favoritos, alisou suas vestes negras, as quais eram cobertas com as faces aterrorizadas dos condenados. Ele tinha pele pálida e os
olhos intensos de um maluco.
"Percy Jackson." ele disse com satisfação, "Enfim."
Rainha Perséfone me estudou curiosamente. Já tinha visto ela uma vez antes no inverno, mas agora no verão ela parecia uma deusa totalmente diferente. Ela tinha cabelos
pretos lustrosos e cálidos olhos castanhos. Seu vestido tremeluzia com cores. Espécimes de flores no tecido mudavam e desabrochavam - rosas, tulipas, madressilvas.
A mulher em pé entre eles era obviamente a mãe de Perséfone. Ela tinha os mesmos cabelos e olhos, mas parecia mais velha e austera. Seu vestido era dourado, da cor
de um campo de trigo. O cabelo dela era entrelaçado com gramas secas, então aquilo me lembrava uma cesta de vime. Imaginei que se alguém acendesse um fósforo perto
dela, ela estaria com sérios problemas.
"Hmmph" a mulher mais velha disse, "Semideuses. Justamente o que precisamos."
Ao meu lado, Nico se ajoelhou. Queria ter minha espada para que pudesse cortar for a sua cabeça estúpida. Infelizmente, Contracorrente ainda estava lá fora em algum
ligar dos campos.
"Pai." disse Nico, "Fiz como você pediu."
"Você demorou." resmungou Hades, "Sua irmã teria feito um trabalho melhor."
Nico baixou a cabeça. Se eu não estivesse com tanta raiva daquele esquisitinho, eu teria sentido pena dele.
Olhei fixamente para o deus dos mortos. "O que você quer, Hades?"
"Conversar, é claro." o deus torceu sua boca em um sorriso cruel, "Nico não falou para você?"
"Então toda essa missão foi uma mentira. Nico me trouxe aqui embaixo para me matar."
"Oh, não." disse Hades, "Temo que Nico tenha sido bem sincero sobre querer ajudar você. O garoto é tão honesto quanto fechado. Eu simplesmente o convenci a pegar
um pequeno desvio e trazer você aqui primeiro."
"Pai." disse Nico, "Você prometeu que não faria mal ao Percy. Você disse que se eu o trouxesse, você me contaria sobre meu passado - sobre minha mãe."
Rainha Perséfone suspirou dramaticamente. "Nós podemos, por favor, não falar daquela mulher na minha presença?"
"Desculpe-me, minha pombinha." disse Hades, "Tive que prometer algo para o garoto."
A mulher mais velha pigarreou. "Eu avisei você, filha. Esse canalha Hades não presta. Você poderia ter casado com o deus dos médicos ou o deus dos advogados, mas
nããão. Você tinha que comer a romã."
"Mãe..."
"E ficar presa no Submundo!"
"Mãe, por favor..."
"E agora já e Agosto, e você volta para casa como deveria? Você alguma vez pensa sobre sua pobre e solitária mãe?"
"DEMÉTER!" gritou Hades, "Já basta. Você é uma convidada em minha casa."
"Oh, isso é uma casa?" ela disse, "Você chama esse depósito de lixo de casa? Faz a milha filha viver nessa escura, úmida..."
"Falei para você." disse Hades, rangendo os dentes, "Há uma guerra no mundo acima. Você e Perséfone estão melhores aqui comigo."
"Com licença." eu entrei na conversa, "Mas se você vai me matar, pode fazer isso logo?"
Os três deuses olharam para mim.
"Bem, esse aqui tem atitude." observou Deméter.
"De fato." concordou Hades, "Adoraria matá-lo."
"Pai!" Nico disse, "Você prometeu."
"Marido, nós falamos sobre isso." censurou Perséfone, "Você não pode sair por aí incinerando todos os heróis. Além disso, ele é corajoso. Eu gosto disso."
Hades rolou os olhos. "Você gostava daquele camarada Orfeu também. Olhe como aquilo terminou. Deixe-me matar ele, só um pouquinho."
"Pai, você prometeu!" disse Nico, "Você disse que queria apenas conversar com ele. Você disse que se eu o trouxesse, você explicaria."
Hades deu um olhar ameaçador, alisando as dobras de sua roupa. "E assim devo. Sua mãe - o que eu posso lhe dizer? Ela era uma mulher maravilhosa." ele desconfortavelmente
olhou de relance para Perséfone, "Perdoe-me, minha querida. Quero dizer para uma mortal, é claro. O nome dela era Maria di Angelo. Ela era de Veneza, mas seu pai
era um diplomata em Washington, D.C. Foi lá que a conheci. Quando você e sua irmã eram jovens, era um tempo ruim para os filhos de Hades. A Segunda Guerra Mundial
estava ganhando forma. Algumas das minhas, ah, outras crianças estavam liderando o lado perdedor. Pensei que era melhor tirar vocês do caminho de prejuízo."
"Foi por isso que você nos escondeu no Cassino Lótus?"
Hades deu de ombros. "Vocês não envelheceram. Vocês não perceberam que o tempo estava passando. Esperei o tempo certo para tirar vocês de lá."
"Mas o que aconteceu com a nossa mãe? Porque eu não me lembro dela?"
"Não é importante." Hades vociferou.
"O quê? É claro que é importante. E você tinha outros filhos... Porque nós fomos os únicos mandados embora? E quem era o advogado que nos tirou de lá?"
Hades rangeu os dentes. "Você faria bem sem escutar mais e falar menos, menino. Quanto ao advogado..."
Hades estalou os dedos. No topo de seu trono, a Fúria Alecto começou a mudar até ser um homem de meia-idade num terno risca de giz com uma maleta. Ela - ele - parecia
estranha agachando-se no ombro de Hades.
"Você!" disse Nico.
A Fúria cacarejou. "Eu faço advogados e professoras muito bem."
Nico estava tremendo. "Mas porque você nos libertou do cassino?"
"Você sabe por quê." disse Hades, "Não pode ser permitido que esse filho idiota de Poseidon seja a criança da profecia."
Eu catei um rubi da planta mais próxima e joguei em Hades. O objeto afundou em sua roupa sem causar danos.
"Você devia estar ajudando o Olimpo!" eu disse, "Todos os outros deuses estão lutando contra Tifão, e você está apenas sentado aqui-"
"Esperando as coisas desenrolarem." finalizou Hades, "Sim, está correto. Quando foi a última vez que o Olimpo me ajudou, meio-sangue? Quando foi a última vez que
uma criança minha foi bem-vinda como um heroi? Bah! Porque eu deveria me apressar e ajudá-los? Vou ficar aqui com minhas forças intactas."
"E quando Cronos vier atrás de você?"
"Deixe ele tentar. Ele estará enfraquecido. E meu filho aqui, Nico-" Hades olhou para ele com desgosto, "Bem, ele não é muito agora, vou lhe confirmar. Seria melhor
se Bianca tivesse sobrevivido. Mas dê a ele mais quatro anos de treinamento. Nós podemos segurar até lá, certamente. Nico fará dezesseis anos, como diz a profecia,
e então ele fará uma decisão que salvará o mundo. E eu serei o rei dos deuses."
"Você está louco." eu disse, "Cronos irá destruir você, logo depois que ele terminar de pulverizar o Olimpo."
Hades estendeu as mãos. "Bem, você terá a chance de descobrir, meio-sangue. Porque você irá esperar essa guerra nas minhas masmorras."
"Não!" disse Nico, "Pai, não foi esse nosso acordo. E você não me contou tudo!"
"Eu contei tudo o que você precisa saber." disse Hades, "Quanto ao nosso acordo, eu falei com Jackson. Não fiz mal a ele. Você obteve sua informação. Se você queria
um acordo melhor, deveria ter me feito jurar no Styx. Agora, vá para o seu quarto!" ele acenou com a mão, e Nico sumiu.
"Aquele garoto precisa comer mais." resmungou Deméter, "Ele está muito magrinho. Precisa de mais cereais."
Perséfone rolou os olhos. "Mãe, já chega de cereais. Meu lorde Hades, tem certeza que não quer deixar esse pequeno heroi ir embora? Ele é espantosamente corajoso."
"Não, minha querida. Poupei a vida dele. Isso é o bastante."
Tinha quase certeza que Perséfone ficar do meu lado. A corajosa, bela Perséfone iria me tirar disso.
Ela deu de ombros, indiferente. "Tudo bem. O que temos para o café da manhã? Estou faminta."
"Cereais." Deméter disse.
"Mãe!" as duas mulheres desapareceram num redemoinho de flores e trigo.
"Não se sinta tão mal, Percy Jackson." disse Hades, "Meus fantasmas me deixam bem informado sobre os planos de Cronos. Posso lhe garantir que você não teve chance
de pará-lo a tempo. Ao fim desta noite, será tarde demais para o seu precioso Monte Olimpo. A armadilha será posta em prática."
"Que armadilha?" eu exigi, "Se você sabe sobre isso, faça alguma coisa! Pelo menos me deixe falar para os outros deuses!"
Hades sorriu. "Você é destemido. Vou lhe dar crédito por isso. Divirta-se no meu calabouço. Vamos checar você novamente em - oh, cinqüenta ou sessenta anos."




CAPÍTULO OITO - EU TOMO O PIOR BANHO DE TODOS.

Minha espada reapareceu no meu bolso.
É, excelente timing. Agora eu podia atacar as paredes o tanto quanto eu quisesse. Minha cela não tinha barras, nem janelas e nem mesmo uma porta. Os guardas-esqueleto
me jogaram com força contra uma parede, e a cela se tornou sólida ao meu redor. Eu não tinha certeza se o quarto não permitia a entrada de ar. Provavelmente. As
masmorras de Hades foram feitas para gente morta, e eles não precisam respirar. Então esqueça cinqüenta ou sessenta anos. Eu estaria morto em cinqüenta ou sessenta
minutos. Enquanto isso, se Hades não estivesse mentindo, alguma grande armadilha iria acontecer em New York até o final do dia e não havia nada que eu pudesse fazer
sobre isso.
Eu sentei no chão de pedra, me sentindo infeliz.
Eu não me lembro de apagar. Deveria ser por volta das sete da manhã, horário mortal, e eu passara por muita coisa.
Eu sonhei que estava na varanda da casa de praia de Rachel em St. Thomas. O sol estava nascendo no Caribe. Dúzias de ilhas cobertas com árvores pontilhavam o
mar, e velas brancas atravessavam a água. O cheiro de ar salgado me fez pensar se eu veria o mar novamente.
Os pais de Rachel sentavam-se na mesa do pátio enquanto um chef pessoal preparava omeletes para eles. Sr. Dare vestia um terno de linho branco. Ele estava lendo
The Wall Street Journal. A mulher no lado oposto da mesa era provavelmente a Sra. Dare, se bem que tudo o que eu conseguia ver dela eram unhas rosa-choque e um exemplar
do Condé Nast Traveler. Por quê ela estava lendo sobre férias enquanto estava de férias, eu não tinha certeza.
Rachel estava na varanda reclamando e suspirando. Ela usava uma bermuda e a camiseta dela de van Gogh. (Sim, Rachel estava tentando me ensinar alguma coisa sobre
arte, mas não fique muito impressionado. Eu só me lembrei do nome do cara porque ele cortou sua orelha fora.)
Eu imaginava se ela estava pensando sobre mim, e como era uma droga eu não estar com eles nas férias. Eu sabia que era sobre isso o que eu estava pensando.
Então, a cena mudou. Eu estava em St. Louis, no pé do Arco. Eu já estive lá antes. Na verdade, eu quase caí para a morte ali antes.
Por toda a cidade, uma tempestade avançava ? uma parede de negro absoluto com relâmpagos atravessando o céu. Há algumas quadras de distância, sirenes de veículos
de emergência soaram com suas luzes brilhando. Uma coluna de poeira subiu de um monte de entulho, que eu percebi ser um prédio desabando.
Uma repórter próxima estava gritando no microfone: "Oficias estão descrevendo isso como uma falha estrutural, Dan, embora ninguém saiba se está relacionado com
a tempestade."
Vento bagunçava o cabelo dela. A temperatura estava caindo rapidamente, tipo dez graus desde que eu chegara ali.
"Felizmente, o prédio tinha sido abandonado para demolição," ela disse. "Mas a polícia evacuou todos os prédios ao redor por medo de que o desabamento possa
recomeçar?"
Ela vacilou enquanto um poderoso ronco cortou os céus. Um golpe de relâmpago atingiu o centro da escuridão. Toda a cidade tremeu. O ar brilhou, e cada pelo do
meu corpo ficou em pé. O impacto foi tão forte e eu soube que só uma coisa poderia ter feito aquilo: o raio-mestre de Zeus. Deveria ter vaporizado seu alvo, mas
a nuvem escura só cambaleou para trás. Um punho feito de fumaça apareceu no meio das nuvens. Ele esmagou outra torre, e tudo desmoronou como blocos de montar.
A repórter gritou. Pessoas corriam pelas ruas. Luzes de emergência brilhavam. Eu vi uma faixa prateada no céu ? uma carruagem puxada por renas, mas não era Papai
Noel que dirigia. Era Ártemis, guiando a tempestade, atirando flechas de luz lunar na escuridão. Um impetuoso cometa dourado cruzou o caminho dela... talvez seu
irmão Apolo.
Uma coisa estava clara: Tifon conseguira chegar ao Rio Mississippi. Ele já atravessara metade dos EUA, deixando um rastro de destruição, e os deuses estavam
apenas o atrasando.
A montanha de escuridão surgiu acima de mim. Um pé do tamanho do Estádio Yankee estava prestes a me esmagar quando uma voz sibilou, "Percy!"
Eu me levantei rápida e cegamente. Antes de estar completamente acordado, eu tinha Nico pregado no chão da cela com a ponta da minha espada na garganta dele.
"Queria... resgatar...," ele engasgou.
Raiva me acordou depressa. "Ah, é? E por que eu deveria confiar em você?"
"Sem... escolha?" ele gaguejou.
Eu queria que ele não dissesse algo tão lógico como aquilo. Eu o deixei ir.
Nico se enroscou numa bola e fez sons de vômito enquanto sua garganta se recuperava. Finalmente ele ficou de pé, olhando minha espada desconfiadamente. A própria
lâmina dele estava embainhada. Eu supus que se ele quisesse me matar, ele teria feito isso enquanto eu dormia. Mesmo assim, eu ainda não confiava nele.
"Nós temos que sair daqui," ele disse.
"Por que?" eu disse. "O seu pai quer conversar comigo de novo?
Ele prendeu a respiração. "Percy, eu juro pelo Rio Styx, eu não sabia o que ele estava planejando."
"Você sabe como seu pai é!"
"Ele me enganou. Ele prometeu?" Nico estendeu as mãos. "Ouça... agora mesmo, nós temos que ir. Eu pus os guardas para dormir, mas isso não vai durar muito."
Eu quis estrangulá-lo de novo. Infelizmente, ele estava certo. Nós não tínhamos tempo para discutir, e eu não poderia escapar sozinho. Ele apontou para a parede.
Uma seção inteira desapareceu, revelando um corredor.
"Vamos lá." Nico me guiou.
Eu quis ter o boné de invisibilidade de Annabeth, mas como se revelou, eu não precisei dele. Toda vez que um guarda-esqueleto entrou no nosso caminho, Nico só
apontava para eles, e seus olhos brilhantes se ofuscavam. Infelizmente, quanto mais Nico fazia isso, mais cansado ele aparentava ficar. Nós andamos por um labirinto
de corredores cheio de guardas. Quando chegamos numa cozinha cheia de cozinheiros e empregados-esqueleto, eu estava praticamente carregando Nico. Ele conseguiu pôr
todos os mortos para dormir, mas ele mesmo quase desmaiou. Eu o arrastei para fora da entrada dos empregados e dentro dos Campos de Asfódelos.
Eu quase me senti aliviado quando ouvi o som de gongos de bronze vindos do castelo.
"Alarmes," Nico murmurou sonolento.
"O que nós fazemos?"
Ele bocejou e então franziu as sobrancelhas como se tentasse se lembrar. "O que acha de... correr?"

Correr com um filho inerte de Hades era mais como participar de uma corrida de três pernas com uma boneca de pano de tamanho natural. Eu o carreguei, segurando minha
espada na minha frente. Os espíritos dos mortos abriram caminho como se o bronze celestial fosse fogo.
O som de gongos soou por todo o campo. Adiante elevavam-se os muros do Érebo, mas quanto mais andávamos, mais longe elas pareciam. Eu estava quase desmaiando
de exaustão quando ouvi um familiar "WOOOOOF!"
Sra, O'Leary surgiu de lugar nenhum e corria em círculos ao nosso redor, pronta para brincar.
"Boa garota!" Eu disse. "Você pode nos dar uma carona até o Styx?"
A palavra Styx a fez ficar excitada. Ela provavelmente pensou que eu quis dizer gravetos. Ela pulou algumas vezes, caçou a própria cauda só para nos ensinar
quem era o chefe, e então se acalmou o suficiente para que eu conseguisse empurrar Nico para as costas dela. Eu subi a bordo, e ela correu na direção dos portões.
Ela passou diretamente pela filha de Morte Expressa, mandando os guardas pelos ares e fazendo mais alarmes dispararem. Cérbero letiu, mas ele soou mais alegre do
que zangado, como: Posso brincar também?
Felizmente, ele não nos seguiu, e a Sra. O'Leary continuou correndo. Ela não parou até que estivéssemos distantes rio acima e os fogos de Érebo tivessem desaparecido
na névoa.

Nico deslizou de cima das costas da Sra. O'Leary e tropeçou para dentro de um monte de areia escura.
Eu peguei um quadrado de ambrosia ? parte da comida-divina de emergência que eu sempre levava comigo. Estava um pouco ferrada, mas Nico mastigou.
"Hm," ele resmungou. "Melhor."
"Seus poderes drenam muito de você," eu notei.
Ele concordou sonolentamente. "Com grande poder... vem grande necessidade de tirar uma soneca. Me acorde depois."
"Whoa, cara zumbi." Eu o segurei antes que ele desmaiasse de novo. "Nós estamos no rio. Você tem que me dizer o que fazer."
Eu dei a ele meu último pedaço de ambrosia, o que era um pouco perigoso. O troço pode curar semideuses, mas também pode nos reduzir a cinzas se comermos demais.
Felizmente, pareceu funcionar. Nico balançou a cabeça algumas vezes e ergueu-se com esforço.
"Meu pai vai vir logo," ele disse. "Nós devíamos nos apressar."
A correnteza do Rio Styx rodopiou com objetos estranhos ? brinquedos quebrados, diplomas rasgados, corsages de formaturas murchos ? todos os sonhos que as pessoas
tinham jogado fora quando passaram da vida para a morte. Olhando para a água negra, eu podia pensar em mais ou menos três milhões de lugares onde eu preferiria nadar.
"Então... eu só mergulho?"
"Você tem que se preparar antes," Nico disse, "ou o rio vai destruir vocês. vai queimar seu corpo e alma."
"Parece divertido," eu murmurei.
"Isso não é brincadeira," Nico alertou. "Só há uma maneira de você ficar conectado a sua vida mortal. Você tem que..."
Ele olhou para trás de mim e seus olhos se arregalaram. Eu me virei e me encontrei cara-a-cara com um guerreiro grego.
Por um segundo eu pensei que fosse Ares, porque esse cara parecia exatamente com o deus da guerra ? alto e moreno, com uma cara cruel e cheia de cicatrizes e
cabelo cortado rente a cabeça escuro. Ele vestia uma túnica branca e armadura de bronze. Ele segurava um elmo de guerra com uma pluma em cima embaixo do grasso.
Mas os olhos dele eram humanos ? um verde pálido, como um mar raso ? e uma flecha coberta de sangue saindo da panturrilha esquerda dele, logo acima do tornozelo.
Eu era horrível com nomes gregos, mas até eu conhecia o maior guerreiro de todos os tempos, que tinha morrido de um calcanhar ferido.
"Aquiles," eu disse.
O fantasma concordou com a cabeça. "Eu avisei ao outro para não seguir meu caminho. Agora aviso você."
"Luke? Você falou com Luke?"
"Não faça isso," ele disse. "O tornará poderoso. Mas também o tornará fraco. A sua perícia em combate vai ser maior do que a dos mortais, mas as suas fraquezas,
as suas falhas, crescerão também."
"Você quer dizer que eu terei um calcanhar ruim?" Eu disse. "Eu não poderia, tipo, usar algo além de sandálias? Não se ofenda."
Ele olhou para o seu pé sangrento. "O calcanhar é somente minha fraqueza física, semideus. Minha mãe, Tétis, me segurou por aqui quando me afundou no Styx. O
que me matou realmente foi a minha própria arrogância. Cuidado! Volte!"
Ele quis dizer realmente aquilo. Eu podia ouvir o arrependimento e a amargura na voz dele. Ele estava tentando de verdade me livrar de um destino terrível.
Então de novo, Luke tinha estado aqui, e ele não tinha ido embora.
Era por isso que Luke foi capaz de receber o espírito de Cronos sem ter seu corpo desintegrado. Foi assim que ele preparara a si mesmo, e o motivo pelo qual
ele parecia impossível de matar. Ele tinha se banhado no Rio Styx e tomado os poderes do maior guerreiro humano, Aquiles. Ele era invencível.
"Eu tenho que fazer," eu disse. "De outra forma eu não tenho chance."
Aquiles abaixou a cabeça. "Que os deuses saibam que eu tentei. Herói, se você tem de fazer isso, concentre-se no seu ponto mortal. Imagine um ponto em seu corpo
onde restará vulnerabilidade. Esse é o lugar onde a sua alma vai ancorar o seu corpo ao mundo. Será sua maior fraqueza, mas também sua única esperança. Nenhum homem
deve ser completamente invulnerável. Perca a visão do que o mantém mortal e o Rio Styx vai queimá-lo até cinzas. Você não mais existirá."
"Eu não acho que você possa me dizer o ponto mortal de Luke?"
Ele me olhou impaciente. "Prepare-se, garoto tolo. Quer você sobreviva ou não, você selou seu destino!"
Com esse pensamento feliz, ele desapareceu.
"Percy," Nico disse. "Talvez ele tenha razão."
"Essa foi a sua ideia."
"Eu sei, mas agora que estamos aqui?"
"Só espere na margem. Se alguma coisa acontecer a mim... Bem, talvez Hades vai ter o desejo concedido, e você será a criança da profecia no fim das contas."
Ele não pareceu contente com isso, mas eu não liguei.
Antes que eu pudesse mudar de ideia, me concentrei no extremo de minhas costas ? um ponto pequeno, exatamente oposto ao meu umbigo. Era bem defendido quando
eu usava armadura. Seria difícil atingir por acidente, e poucos inimigos iriam mirar ali de propósito. Nenhum lugar era perfeito, mas esse pareceu certo para mim,
e muito mais digno do que, tipo, minha axila ou algo assim.
Eu imaginei uma corda, uma corda de bungee-jumping me conectando ao mundo por esse pequeno lugar em minhas costas. E eu pisei dentro do rio.

Imagine pular dentro de um fosso cheio de ácido fervente. Agora multiplique essa dor por cinqüenta. Você ainda não estará perto de entender como é nadar no Styx.
Eu planejei andar devagar e corajosamente como um herói de verdade. Assim que a água tocou minhas pernas, meus músculos viraram geléia e eu caí de cara na correnteza.
Eu submergi completamente. Pela primeira vez na vida, eu não podia respirar debaixo d'água. Eu finalmente entendi o pânico de se afogar. Cada nervo do meu corpo
queimava. Eu estava dissolvendo na água. Eu vi rostos ? Rachel, Grover, Tyson, minha mãe ? mas eles desbotaram assim que surgiram.
"Percy," minha mãe disse. "Eu te dou a minha bênção."
"Fique seguro, irmão!" Tyson implorou.
"Enchiladas!" Grover disse. Eu não tinha certeza de onde isso tinha vindo, mas não pareceu ajudou muito.
Eu estava perdendo a briga. A dor era muita. Minhas mãos e pés estavam derretendo na água, minha alma estava sendo retirada do meu corpo. Eu não conseguia lembrar
de quem era. A dor que a foice de Cronos me causara não era nada comparada com isso.
A corda, uma voz familiar disse. Lembre-se da sua linha da vida, idiota!
De repente eu senti um puxão no final de minhas costas. A correnteza me puxava, mas não me levava mais para longe. Eu imaginei um fio em minhas costas amarrando-me
a margem.
"Aguente firme, Cabeça de Alga." Era a voz de Annabeth, muito mais clara agora. "Você não vai se afastar de mim assim tão fácil."
A corda ficou mais forte.
Eu podia ver Annabeth agora ? estava descalça acima de mim no píer da lagoa das canoas. Eu tinha caído da minha canoa. Era isso. Ela estava estendendo a mão para
me ajudar a subir, e ela estava tentando não rir. Vestia a camisa laranja do acampamento e jeans. O cabelo dela estava enfiado no boné dos Yankees, o que era estranho
porque isso deveria deixá-la invisível.
"Você é tão idiota às vezes." Ela sorriu. "Venha. Pegue minha mão."
Memórias vieram flutuando de volta para mim ? afiadas e mais coloridas. Eu parei de dissolver. Meu nome era Percy Jackson. Eu me levantei e peguei a mão de Annabeth.
De repente eu saltei para fora do rio. Eu desmoronei na areia, e Nico se moveu para trás em surpresa.
"Você está bem?" ele perguntou pausadamente. "Sua pele. Oh, deuses. Você está ferido!"
Meus braços estavam vermelho-vivo. Eu sentia que cada centímetro do meu corpo tinha sido fervido em fogo baixo.
Eu olhei ao redor procurando Annabeth, mesmo sabendo que ela não estava ali. Tinha parecido tão real.
"Estou bem... eu acho." A cor da minha pele voltara ao normal. A dor diminuíra. Sra. O'Leary apareceu e me cheirou com preocupação. Aparentemente, meu cheiro
era realmente interessante.
"Você se sente mais forte?" Nico perguntou.
Antes que eu pudesse decidir como me sentia, uma voz explodiu, "ALI!"
Um exército de mortos marchou em nossa direção. Uma centena de esqueletos de legionários romanos liderava o caminho com escudos e lanças. Atrás deles vieram
o mesmo números de casacos-vermelhos britânicos com baionetas fixas. No meio da tropa, o próprio Hades dirigia uma carruagem negra e dourada puxada por cavalos de
pesadelos, os olhos deles ardendo sem chamas.
"Você não escapará dessa vez, Percy Jackson!" Hades berrou. "Destruam-no!"
"Pai, não!" Nico gritou, mas era tarde demais. A linha de frente de romanos zumbis abaixaram as lanças e avançaram.
Sra. O'Leary rosnou e ficou pronta para bater. Talvez foi isso que me "acordou". Eu não queria que eles machucassem meu cachorro. Além, eu estava cansado de
Hades ser um grande valentão. Se eu fosse morrer, eu devo cair lutando.
Eu berrei, e o Rio Styx explodiu. Um mini-tsunami negro esmagou todos os legionários. Lanças e escudos voaram por todo canto. Zumbis romanos começaram a dissolver,
fumaça subindo de seus elmos de bronze.
Os casacos-vermelhos baixaram suas baionetas, mas eu não esperei por eles. Eu investi.
Foi a coisa mais estúpida que eu fiz. Cem mosquetes atiraram contra mim, perto demais. Todos erraram. Eu entrei na linha deles e comecei a atacar com Contracorrente.
Baionetas investiram. Espadas cortaram. Armas recarregaram e atiraram. Nada me tocou.
Eu girei através das fileiras, transformando os casacos-vermelhos em poeira, um depois do outro. Minha mente entrou em piloto automático: apunhalar, cortar,
desviar, rolar. Contracorrente não era mais uma espada. Era um arco de pura destruição.
Eu abri caminho através da linha inimiga e saltei para dentro da carruagem. Hades ergueu seu bastão. Um raio de energia escura veio em minha direção, mas eu
o desviei com minha lâmina e golpeei-o. Ambos, o deus e eu, tombamos para fora da carruagem.
A próxima coisa que eu soube foi que meu joelho estava plantado no peito de Hades. Eu estava segurando o colarinho de seus robes reais em um pulso, e a ponta
da minha espada estava posicionada direto sobre o rosto dele.
Silêncio. O exército não fez nada para defender seu mestre. Eu olhei para trás e percebi porque. Nada havia sobrado deles a não ser armas na areia e pilhas de
uniformes fumarentos, vazios. Eu havia destruído todos eles.
Hades engoliu em seco. "Agora, Jackson, escute..."
Ele era imortal. Não havia como eu matá-lo, mas deuses podem ser feridos. Eu sabia disso em primeira mão, e eu tinha calculado que uma espada no rosto não deveria
ser tão bom.
"Só porque eu sou uma boa pessoa," eu rosnei mostrando os dentes, "eu vou deixar você ir. Mas primeiro, me conte sobre aquela armadilha!"
Hades derreteu em nada, me deixando segurando robes pretos vazios.
Eu xinguei e me levantei, respirando pesadamente. Agora que o perigo passara, eu percebi o quão cansado estava. Todos os músculos do meu corpo doíam. Eu olhei
para baixo, para minhas roupas. Elas estavam cortadas em pedaços e cheias de buracos de balas, mas eu estava bem. Nenhuma marca em mim.
A boca de Nico estava aberta, pendurada. "Você acabou de... com uma espada... você acabou de?"
"Eu acho que a coisa do rio funcionou," eu disse.
"Ai, caramba," ele disse sarcasticamente. "Você acha?"
Sra. O'Leary ladrou feliz e balançou a cauda. Ela pulou em volta, farejando uniformes vazios e caçando ossos. Eu levantei o robe de Hades. Eu ainda podia ver
faces atormentadas brilhando na luz trêmula do tecido.
Eu andei até a beirada do rio. "Fique livre."
Eu soltei o robe na água e assisti enquanto ele rodopiava, dissolvendo na correnteza.
"Volte para seu pai," eu disse a Nico. "Diga a ele que ele me deve por deixá-lo ir. Descubra o que está acontecendo no Monte Olimpo e o convença a ajudar.
Nico olhou para mim. "Eu... eu não posso. Ele vai me odiar agora. Quero dizer... ainda mais."
"Você tem que fazer isso," eu disse. "Você me deve também."
As orelhas dele ficaram vermelhas. "Percy, eu disse a você que sentia muito. Por favor... me deixe ir com você. Eu quero lutar."
"Você ajudará mais aqui embaixo."
"Você quer dizer que não confia mais em mim," ele disse tristemente.
Eu não respondi. Eu não sabia o que queria dizer. Eu estava muito atordoado pelo o que eu tinha acabado de fazer para pensar com clareza.
"Só volte para seu pai," eu disse, tentando não soar tão áspero. "Tente persuadi-lo. Você é a única pessoa que é capaz de fazê-lo ouvir."
"Esse é um pensamento deprimente." Nico suspirou. "Tudo bem. Eu vou fazer meu melhor. Além disso, ele também está escondendo algo de mim sobre minha mãe. Talvez
eu consiga descobrir o que."
"Boa sorte. Agora eu e Sra. O'Leary temos que ir."
"Onde?" Nico perguntou.
Eu olhei para a entrada da caverna e pensei sobra a longa subida até voltar ao mundo dos vivos. "Começar essa guerra. É hora de achar Luke."

















CAPÍTULO NOVE - DUAS COBRAS SALVAM MINHA VIDA

Eu amo Nova Iorque. Você pode saltar do submundo em pleno Central Park, chamar um táxi, virar a quinta avenida de cabeça para baixo com um gigantesco cão do inferno
galopando bem atrás de você, e ninguém te olha engraçado. É claro, a névoa ajuda.
As pessoas provavelmente não poderiam ver a Sra. O'leary, ou talvez eles pensassem que era um grande, carregado e amigável caminhão.
Eu corri o risco de usar o celular de minha mãe, para chamar Annabeth pela segunda vez.
A primeira vez quando estava no túnel, mas só consegui ouvir a secretária eletrônica. Eu me surpreendi com a qualidade do sinal, visto que eu estava no centro do
mundo mitológico e tudo, só não quero saber quanto vai dar a conta por estar ligando errado.
Desta vez, Annabeth atendeu.
"Hei," eu disse. "Você pegou a minha mensagem?" "Percy, onde esteve? Sua mensagem não dizia quase nada! Ficamos preocupados!" "Mais tarde eu te conto," eu disse,
mas como eu ia fazer aquilo não tinha idéia. "Onde você está?"
"Estamos a caminho como você pediu, quase no túnel da Queens Midtown. Percy, o que está planejando? Já deixou o campo praticamente indefeso, e não há
o caminho dos deuses." "Confie em mim," eu disse ". "Vejo vocês lá."
Eu desliguei. Minhas mãos estavam tremendo. Eu não tinha certeza se
era uma reação do meu mergulho no Styx, ou antecipando o que estava prestes a fazer.
Se isso não funcionar, mesmo sendo invulnerável não ia conseguir me safar de ser explodido em pedaços. Era tarde, quando o táxi me deixou no Edifício Empire State.
Sra. O'Leary andava para cima e para baixo na quinta avenida, lambendo táxis e cheirando carrinhos de cachorro quente.
Ninguém parecia notá-la, embora as pessoas olhassem confusas quando ela chegava perto demais.

Eu assobiei para ela, então vi três vans brancas puxando o freio ao mesmo tempo. Dizia Serviço de entrega de morangos Delphi, que era o nome fantasia do acampamento
meio-sangue. Eu sabia que eles entregavam nossas frutas frescas na cidade, mas nunca tinha visto três vans ao mesmo tempo.

Argus vinha dirigindo a primeira van, nosso chefe de segurança de muitos olhos, as outras duas estavam sendo dirigidas pelas harpias que basicamente eram demônios,
metade humanos metade Galinha com péssimas atitudes.
Usamos as harpias principalmente para a limpeza do acampamento, mas elas estavam se saindo muito bem no centro da cidade no meio do tráfego.

Abriram as portas. Um punhado de campistas começou a saltar para fora,
alguns deles procuravam um pouco de ar puro depois da longa viagem. Eu
fiquei feliz que tantos tinham chegado: Pollux, Silena Beauregard, os irmãos
Stoll, Michael Yew, Jake Mason, Katie Gardner, e Annabeth, juntamente com a maioria dos seus irmãos.
Quíron saiu da van por último. Sua metade cavalo estava compactada por meio de magia dentro de sua cadeira de rodas, então ele usou o elevador adaptado na van. Ninguém
do chalé de Ares estava aqui, mas eu tentei não ficar com muita raiva. Clarisse era uma obstinada idiota. Fim da história.
Eu fiz uma contagem: Quarenta campistas, nem todos muito preparados para lutar uma guerra, mas ainda era o maior grupo de meios-sangues que já tinha visto fora do
acampamento. Todo mundo parecia nervoso, e eu entendia o por quê. Nós estávamos enviando uma aura de semideuses tão forte, que todos os monstros ao nordeste dos
Estados Unidos, saberiam que estávamos aqui.
Eu olhei para suas faces - Eu estive com eles por muitos verões, entretanto uma voz sussurrava em minha mente: Um deles é um espião, mas eu não podia pensar sobre
isso agora, eles eram meus amigos e eu precisava deles.

Então me lembrei do sorriso maligno de Cronos. Não vão poder contar com seus amigos, eles irão te decepcionar.
Annabeth veio até mim. Ela estava vestida de preto com camuflagem de bronze celestial, sua faca presa ao seu braço e sua bolsa do laptop pendurada em seus ombros,
pronta para guerra, ou navegar na Internet, o que vier primeiro.

Ela franziu as sobrancelhas. "O que foi?" "O que foi o quê?" Eu perguntei.
"Você está olhando para mim de um jeito engraçado."
Realmente, eu estava pensando sobre a minha estranha visão de Annabeth me puxando do rio Styx. "É, uh, nada."
Eu virei para o resto do grupo. "Obrigado por todos estarem aqui. Quíron, depois de você".Meu velho mentor balançou sua cabeça. "Eu vim para desejar-lhe
sorte, meu rapaz. Mas eu não posso visitar o Olimpo sem ser convidado."

"Mas você é o nosso líder."
Ele sorriu. "Eu sou o seu treinador, o seu professor. Isso não é o mesmo que ser o seu líder. Vou reunir os aliados que eu puder. Não pode ser demasiado tarde para
eu convencer os meus irmãos centauros a nos ajudar."
Entretanto, você chamou os campista aqui, Percy. "Você é o líder."
Eu queria protestar, mas todos estavam olhando para mim com expectativa, mesmo Annabeth. Eu tomei fôlego. "Ok, como eu disse a Annabeth ao telefone, alguma coisa
ruim vai acontecer esta noite."

Algum tipo de armadilha. Temos que conseguir uma audiência com Zeus e convencê-lo a defender a cidade. Lembre-se, não podemos receber um "não, como resposta."
Eu pedi para Argus ficar de olho na Sra. O'Leary, por que nenhum dos outros parecia feliz com a idéia.

Quíron apertou a minha mão. "Você vai se sair bem, Percy. Basta lembrar-se de seus pontos fortes e tome cuidado com suas fraquezas."
Isso soou igual ao que Aquiles havia me dito.
Então me lembrei que Quíron tinha ensinado Aquiles. Isso exatamente não me tranqüilizava, mas eu assenti com a cabeça e esbocei um sorriso confiante.

"Vamos", eu disse aos campistas.
O guarda de segurança estava sentado atrás de uma mesa no saguão, lendo um livro preto com desenho de flores nos cantos. Ele nos olhou quando ouviu o som metálico
de nossas armas e escudos depositados bem em sua frente, "Grupo escolar? Estamos prestes a fechar." "Não! "Eu disse: seiscentésimo andar."


Ele ficou nos observando. Seus olhos tinham um pálido azul, e ele era careca. Eu não poderia dizer se ele era humano ou não, mas ele parecia ver nossas armas, acho
que ele não era enganado pela névoa.

"Não há seiscentésimo, rapaz:" Ele disse com um tom como se não acreditasse no que estava falando." "Vão embora".
Eu me inclinei sobre sua mesa. "Quarenta semideuses podem atrair uma
enorme quantidade de monstros. Você realmente quer que fiquemos aqui no seu saguão?"

Ele pensou nisso. Então apertou um botão, soou uma buzina e um portão de segurança se abriu. "Sejam rápidos." "Você não quer que passemos por detectores de metais",
eu adicionei.
"Uhm, não:" ele concordou. "Elevador da direita. Acho que você conhece o caminho."
Eu joguei para ele um Dracma de ouro e marchamos.
Decidimos que seria necessário, duas viagens para caber todos no elevador. Fui com o primeiro grupo.
Uma música diferente estava tocando desde minha última visita, "Stayin Alive", da velha Discoteca. Uma imagem aterrorizante apareceu em minha mente, de Apolo
com calças boca de sino e uma camisa de seda apertada.
Fiquei feliz quando finalmente as portas do elevador se abriram.

Em frente de nós, no meio de nuvens, um caminho de pedras flutuantes levava até o Monte Olimpo, que pairava a dois mil metros sobre Manhattan. Eu já fui no monte
Olimpo, mas é sempre de tirar o fôlego.
As mansões ao lado da montanha reluziam a ouro e branco.

Jardins floresciam em uns cem terraços. Fumaça com aroma de rosas subiam dos braseiros alinhados nas ruas tortuosas. E uma fica camada de neve cobria o palácio
principal dos deuses. Parecia tão majestoso como nunca.
Mas alguma coisa parecia errada. Percebi que a montanha estava silenciosa, sem música, sem vozes, sem riso.
Annabeth me estudou. "Você parece diferente...", ela decidiu.
"Aonde exatamente você foi?"

O elevador abriu as portas novamente, o segundo grupo de meios-sangues se juntou a nós. "Conto mais tarde," Eu disse."Vamos".
Nós pegamos nosso caminho pela estrada de pedras suspensa no céu, através das ruas do Olimpo. As lojas estavam fechadas. Os parques estavam vazios.
Um casal de Musas sentadas em um banco tocava Liras flamejantes, mas seus corações não pareciam alegres.
Um solitário Ciclope varria a rua com uma vassoura de raiz de carvalho. Uma pequena deusa nos avistou de sua varanda e esquivou-se para o interior, fechando
sua porta.
Passamos por um grande arco com estátuas de mármore, Zeus e Hera, em ambos os lados. Annabeth fez uma careta para a rainha dos deuses.

"Eu a odeio;" Murmurou.
"Ela amaldiçoou você ou algo assim?" Eu perguntei. No Último ano Annabeth viu o lado ruim de Hera, desde então não tinha falado muito sobre o assunto. "Nada demais",
disse ela. "Seu animal sagrado é a vaca, né?" "Certo".
"Então, ela manda as vacas depois de mim"
Tentei não rir. "Vacas? Em São Francisco?"

"Oh, sim. Normalmente eu não as vejo, mas elas deixam um pequeno presente em todo o lugar, no nosso quintal, na calçada, nos corredores da escola. Tenho que ter
cuidado onde piso." "Olhem!" Pollux gritou, apontando para o horizonte.
"O que é isso?"
Nos todos congelamos. Luzes azuis rasgavam o anoitecer em direção Olimpo como minúsculos cometas. Pareciam estar vindo de toda a cidade, em linha reta na direção
da montanha, quando se encontravam emitiam um zumbido. Nós ficamos ali assistindo por vários minutos e não parecia estar causando qualquer dano, mas ainda assim
era estranho.

"Lembravam miras laser;"Michael Yew murmurou. "Estão mirando em nós." "Vamos para o palácio:" eu disse.
Ninguém estava guardando a sala dos deuses. O portão de ouro e prata estava totalmente aberto. Nossos passos ecoavam enquanto caminhávamos na sala do trono.


Claro, "sala" realmente não é preciso vigiá-las. O local era do tamanho do parque Madison Square. Bem acima, brilhavam constelações em azul. Doze tronos gigantes
e vazios se situavam em forma de um U em volta de uma lareira. Em um canto, um globo do tamanho de uma casa pairava no ar, e no interior nadava Mióides, meu amigo
Ofiotauro, meio-vaca, meio-serpente.
"Moooo!", Disse alegremente, girando em um círculo.
Apesar de todas as coisas sérias acontecendo, eu tive que sorrir.

Há dois anos eu gastei muito tempo tentando salvar o Ofiotauro dos Titãs, estava feliz em vê-lo novamente. Ele parecia gostar de mim também, mesmo que quando
o conheci pensei que fosse uma garota e coloquei o nome de Bessie.
"Ei cara", eu disse. "Eles estão te tratando bem?"
"Moooo", Bessie respondeu.

Começamos a andar ao redor dos tronos, então uma voz de mulher disse, "Olá novamente Percy Jackson. Você e seus amigos são bem vindos."
Héstia estava parada em frente à lareira, atiçando o fogo com uma vara. Ela usava o mesmo tipo de vestido marrom simples que usara antes, mas agora era uma
mulher crescida.

Eu a saudei. "Lady Héstia." Meus amigos seguiram meu exemplo.
Héstia me considerou com seus grandes olhos flamejantes. "Eu vi até onde você foi com seu plano. Está carregando a maldição de Aquiles." Os campistas começaram
a murmurar entre si, "O que você disse? O que, a respeito de Aquiles?"
"Você deve ter cuidado", Héstia me falou. "Você conquistou muito em sua jornada. Mas ainda está cego em relação a mais importante verdade. Talvez um vislumbre
lhe esclareça."

Annabeth me cutucou. "Um... do que ela está falando?"
Eu fitei os olhos de Héstia e uma imagem correu pela minha mente: Eu vi um beco escuro entre paredes de tijolos de armazéns, em uma das portas numa placa se
lia RICHMOND IRONWORKS.
Dois meios-sangues encolhidos nas sombras, um garoto de 14 e uma garota de 13 anos.

Eu consegui ver que o garoto era Luke. A garota era Thalia, filha de Zeus.
Eu estava vendo uma cena do passado quando os dois estavam em
em fuga, antes de Grover os encontrar.
Luke carregando uma faca de bronze. Thalia tinha sua lança e o escudo do terror, Aegis. Luke e Thalia pareciam famintos e magros, com os olhos de animais selvagens,
como se eles estivessem sendo atacados.
"Tem certeza?" Thalia perguntou.

Luke assentiu. "Há alguma coisa aqui em baixo. Eu sinto".
Um estrondo ecoou do beco, como se alguém tivesse batido em uma folha de metal.
Os meios-sangues rastejaram em frente. Velhas grades estavam amontoadas na doca.
Thalia e Luke aproximaram-se com suas armas prontas. Uma cortina ondulada tremia de forma estanha como se algo estivesse atrás dela.

Thalia olhou para Luke. Ele estava silenciosamente contando. Um, dois, três! Ele puxou rápido, a cortina e uma pequena garota voou para cima dele com um martelo.
"Whoa!" Luke disse.
A menina tinha cabelos loiros emaranhados e estava usando calça de pijama de flanela. Ela não poderia ter vantagem contra eles, mas ela teria afundado a cabeça de
Luke se ele não tivesse sido tão rápido.

Ele agarrou seu pulso, o martelo caiu no chão de cimento.
A pequena menina lutou e chutou. "Não há mais monstros! Foram embora!" "Está tudo bem!" Luke lutando para segurá-la. "Thalia, abaixe seu escudo. Você está assustando
ela."
Thalia deu uma batida em Aegis, que encolheu e virou uma pulseira de prata.
"Ei, está tudo certo", disse ela. "Não vamos te machucar. Eu sou Thalia, e este é o Luke."

"Monstros"!
"Não." Luke falou"Mas sabemos tudo sobre os monstros. Lutamos com eles também."
Lentamente, a menina parou de bater. Estudou Thalia e Luke com olhos grandes cinzentos e inteligentes.
"Vocês são iguais a mim?" Disse ela suspeita.

"Sim", disse Luke. "Somos... bem, é difícil de explicar, mas lutamos contra os monstros. Onde está sua família?" "A minha família me odeia", a menina disse." Eles
não me querem. Eu fugi."
Thalia e Luke fecharam os olhos. Eu sabia que ambos sabiam exatamente o que ela estava dizendo.
"Qual é o seu nome, garota?" Thalia perguntou. "Annabeth."
Luke sorriu. "Bonito nome. Te digo uma coisa, Annabeth do rosto bonito. Nós poderíamos usar uma lutadora como você ".
Os olhos de Annabeth brilharam. "Vocês poderiam?" "Oh, sim." Luke virou sua faca ao contrário e ofereceu o cabo a ela. "Você gosta de uma verdadeira arma degoladora
de monstros?"

"É bronze celestial. Funciona muito melhor do que um martelo".
Em outras circunstâncias, oferecer uma faca a uma garota de sete anos de idade, não seria uma boa idéia, mas quando se é um meio-sangue, podemos jogar fora algumas
regras. Annabeth agarrou a cabo.

"Facas são apenas para os mais rápidos e bravos guerreiros," Luke explicou. "Ela não têm alcance ou o poder de uma espada, mas são fáceis de esconder e podem encontrar
pontos fracos na armadura de seus inimigos. Um guerreiro inteligente possui uma faca. Eu Tenho a sensação de que você é muito inteligente".
Annabeth olhava para ele com adoração. "Eu sou"!

Thalia forçou um sorriso. "É melhor nos irmos, Annabeth. Nós
temos uma casa segura sobre o Rio James. Vamos te dar comida e roupas."
"Você não... você não vai me levar de volta à minha família?"
disse ela. "Promete?"

Luke colocou a mão sobre seu ombro. "Você é parte da nossa família agora. E eu prometo que não vou deixar nada te machucar. E não vou desapontá-la, você vai gostar
de nós. Fechado?" "Fechado!" Annabeth disse feliz.
"Agora, vamos", Thalia disse. "Não podemos nos demorar!"

A cena deslocou-se. Os três semideuses estavam correndo através de um bosque. É deve ter sido vários dias depois, talvez mesmo semanas. Todos eles pareciam abatidos,
como se eles tivessem passado por algumas batalhas. Annabeth estava de roupas novas, jeans e uma jaqueta grande do exército.

" Só mais um pouco!" Luke falou. Annabeth tropeçou, e ele pegou a mão dela. Thalia vinha na retaguarda, brandindo seu escudo como ela estive perseguindo a coisa
que estava atrás deles. Ela estava mancando da perna esquerda.
Subiram num cume e olharam para o outro lado, vendo uma casa branca colonial. Devia ser a casa dos Castellans.
"Certo," Luke disse, respirando com dificuldade. "Só vou entrar para pegar alguns alimentos e medicamentos, esperem aqui."
" Luke, tem certeza?"Thalia perguntou. "Você jurou que nunca mais voltaria aqui. Se ela te apanhar"- "Nós não temos escolha!" murmurou. "Eles queimaram nossa casa
mais próxima e segura. E você tem que tratar essa perna ferida."

"Esta é a sua casa?" Annabeth disse com espanto.
"Foi a minha casa:" Luke murmurou. "Acredite em mim, se
não fosse uma emergência".
" Sua mãe é tão horrível assim?" Annabeth perguntou. "Posso conhecê-la?"
"Não!" Luke rangeu os dentes.

Annabeth se encolheu surpresa com a raiva de Luke.
"Eu... me desculpe",ele disse. "Espere aqui. Eu prometo que tudo ficará bem. Nada vai te machucar. Eu vou voltar".
Um flash dourado e brilhante iluminou a floresta. Os semideuses recuaram, e voz de homem rugiu, "Você não deveria ter voltado para casa".A visão se desfez.
Meus joelhos amoleceram, mas Annabeth me agarrou. "Percy! O que aconteceu?"
" Você viu isso?" Eu perguntei. "Ver o quê?"

Eu olhei para Héstia, mas o rosto da deusa era inexpressivo.
Lembrei-me de algo que ela me disse na floresta: Se você quer entender seu inimigo Luke, deve entender sua família. Mas por que ela tinha me mostrado essas cenas?
"Quanto tempo estive fora?" Eu murmurei.

Annabeth levantou suas sobrancelhas. "Percy, você não foi a lugar nenhum. Você só olhou para Héstia um segundo e desmaiou".
Eu podia sentir que todos olhavam para mim. Não podia dar ao luxo de
fraquejar. Seja lá o que for o significado das visões, eu tinha que me manter focado em nossa missão.

"Uhm, Lady Héstia," eu disse, "Nos temos negócios urgentes - nós precisamos ver-" "Sabemos o que você precisa", disse a voz de um homem. Eu estremeci, porque era
a mesma voz que eu ouvi na visão.
Um deus apareceu próximo a Héstia. Ele parecia ter uns vinte e cinco anos, cabelo encaracolado, cor de sal e pimenta, e feições élficas. Ele usava uma roupa de piloto
militar de vôo, com pequenas asas de pássaro vibrando em seu capacete e botas negras de couro. Em seu braço havia duas longas serpentes vivas entrelaçadas.
" Eu deixarei vocês agora", disse Héstia. Ela curvou-se diante do aviador
e desapareceu no meio de uma fumaça. Eu entendi porque ela estava tão ansiosa para ir. Hermes, o mensageiro dos Deuses, não parecia feliz.
"Olá, Percy".Sua sobrancelha enrugou-se como se estivesse irritado comigo, e eu me perguntava se saberia algo de minha visão. Eu queria perguntar por que ele foi
a casa de Luke aquela noite, e o que tinha acontecido depois de tê-lo capturado.
Lembrei-me da primeira vez que eu conheci Luke no acampamento meio-sangue.

Eu perguntei a ele se havia alguma vez conhecido o seu pai, olhou para mim e disse amargamente, uma vez. Mas pela expressão de Hermes era melhor eu não perguntar
nada. Eu me curvei sem jeito. "Senhor Hermes".
É claro, uma das serpentes disse na minha mente. Não vai falar oi pra nós. Só porque somos serpentes. George, a outra serpente censurou. Seja educado.

"Olá, George," eu disse. "Oi, Martha."
" Trouxe-nos um rato?" George perguntou.
"George, pára com isso", Martha disse. "Ele anda ocupado demais para procurar ratos?" George disse. "Isso é muito chato."
Eu decidi que era melhor não entrar em debate com o George.

"Uhm, Hermes",eu disse. "Temos que falar com Zeus. É importante".
Hermes olhava friamente. "Eu sou o seu mensageiro. Posso levar sua mensagem?"
Atrás de mim, os outros semideuses agitaram-se. Isto não está saindo como eu planejei. Talvez devesse falar com Hermes em particular... "Vocês", eu disse. "Por que
vocês não vão fazer uma patrulha na cidade? Verifiquem as defesas. Vejam quem deixou o Olimpo. Encontrem Annabeth e eu aqui em trinta minutos."

Silena amarrou a cara. "Mas..." "Essa é uma boa idéia", Annabeth disse. "Connor e
Travis, você lideram".
Os Stolls pareciam gostar daquilo, lhes fora entregue uma responsabilidade importante em frente do seu pai. Eles nunca lideraram nada, exceto corrida de papel higiênico.
"Então vamos",Travis disse. Eles levaram todos para fora da sala do trono, deixando-me com Annabeth e Hermes.

"Meu senhor",disse Annabeth. "Cronos vai atacar Nova Iorque. Você deve suspeitar que. Minha mãe deve ter previsto".
" Sua mãe," Hermes grunhiu. Ele coçou suas costas com o seu caduceu, e George e Martha reclamaram, "ow,ow,ow."
"Não me fale de sua mãe, jovem senhorita. Ela é a razão do por que estou aqui e todo o resto. Zeus não queria que deixássemos a linha de frente. Mas sua mãe não
parava de incomodá-lo e continuou, "É uma armadilha, é uma distração, blá, blá, blá:
Ela disse que faria tudo sozinha, mas Zeus não queria que um grande número de estrategistas deixassem o seu lado então ninguém mais saiu, poderíamos estar lutando
neste momento contra Typhon. E então naturalmente ele mandou-me para falar com você".

" Mas é uma armadilha!"Annabeth insistiu. "Zeus é cego por acaso?" ·Raios atravessaram os céus.
"Cuidado com os comentários, menina," Hermes alertou." Zeus não é cego nem surdo. Ele não deixou o Olimpo indefeso."
" Mas há esses raios azuis-"

" Sim, sim. Eu os vi. Alguma travessura daquela insuportável deusa da magia, Hécate, eu aposto, mas você pode ter certeza que não está causando nenhum dano. O Olimpo
tem uma forte defesa mágica. Além disso, Aeolos, o rei dos ventos, mandou o seu mais poderoso servo guardar a cidade, ninguém a não ser os deuses do Olimpo pode
entrar pelo ar. Seriam derrubados do céu."
Eu levantei minha mão. "Hum ... E a materialização, coisas que vocês Deuses costumam fazer?"

"Essa é uma forma de transporte aéreo também, Jackson. Muito rápido, mas o deus do vento é mais rápido. A não ser que Cronos queira tomar o Olimpo, ele vai ter que
marchar por toda a cidade, fora que terá que subir de elevado! Você pode imaginar ele fazendo isso?"
Hermes fez parecer bastante ridículo, imagine hordas de monstros subindo de elevador, vinte de cada vez, ouvindo "Stayin 'Alive." Mesmo assim, eu não gostei da idéia.

"Talvez alguns de vocês poderiam voltar", sugeri.
Hermes balançou a cabeça impacientemente. "Percy Jackson, você não compreende. Typhon é o nosso maior inimigo". "Eu pensei que era Cronos."
Os olhos de Hermes brilharam. "Não, Percy. Nos velhos tempos, Typhon quase derrubou o Olimpo. Ele é marido de Equidna-"
" A conheci no arco ", Eu murmurei. "Nada agradável:"
" É o pai de todos os monstros. Nós nunca poderemos esquecer o quanto ele esteve próximo em nos destruir, e como ele foi humilhado. éramos mais poderosos nos velhos
tempos. Agora nem podemos esperar a ajuda de Poseidon, por que ele tem sua própria guerra para lutar.
Hades se senta em seu reino e não faz nada, Demeter e Perséfone seguem o seu exemplo. Temos que juntar o poder remanescente e opor-se a gigante tempestade.
Não podemos dividir nossas forças, nem esperar até que ele chegue a Nova Iorque".

Temos que batalhar com ele agora. E estamos fazendo progressos."
" Progresso?"Eu disse. "Ele quase destruiu St. Louis."
" Verdade", Hermes admitiu. "Mas ele destruiu apenas metade do Kentucky. Ele está diminuindo agora. Perdeu o poder." Eu não queria argumentar, mas soou como se Hermes
tentasse convencer a si mesmo. No canto, o Ofiotauro mugia tristemente.

"Por favor, Hermes",Annabeth falou. "Disse que a minha mãe viria. Ela deixou alguma mensagem para nós?" " Mensagens," ele murmurou. "" Será um excelente trabalho",
disseram-me. "Sossegado. Com um monte de adoradores: Humph. Ninguém se importa com o que tenho a dizer. As mensagens são sempre sobre as outras pessoas."

Ratos, George meditou. Entrei nessa pelos ratos.
Shhhh, Martha o repreendeu. Nós nos importamos com o que tem a dizer Hermes. Certo George? Oh, absolutamente. Podemos voltar para a batalha agora? Eu quero entrar
no modo laser de novo. É divertido. "Silêncio os dois, Hermes grunhiu."

O deus olhou para Annabeth, que estava implorando com os seus olhos cinza.
"Bah",Hermes disse. "Sua mãe disse para te avisar que você está por sua conta.
Você deve ficar em Manhattan sem a ajuda dos deuses. Como se eu não soubesse disso. Por que eles pagam para ela ser a deusa da sabedoria, eu realmente não
tenho certeza".

"Mais alguma coisa"? Annabeth perguntou.
"Ela disse que você deveria tentar o plano vinte e três. Disse que saberia o significado".O rosto de Annabeth ficou pálido. É óbvio que ela sabia o que significava,
e pelo jeito não gostou. "Vá em frente:"
"Última coisa, "Hermes olhou para mim." Ela disse para te falar Percy: "Lembre-se dos rios. E algo sobre ficar longe de sua filha."
Não tenho certeza cujo rosto estava mais vermelho: O de Annabeth, ou o meu.
"Obrigado, Hermes," Annabeth disse. "E eu... eu queria dizer que... Eu sinto muito por Luke".
O deus endureceu sua expressão, como se ele tivesse virado mármore.
"Você poderia não ter tocado neste assunto," Annabeth deu um passo atrás nervosamente. "Desculpe"? "Desculpas não ajudam!"
George e Martha enrolaram-se em volta do caduceus, que brilhou e se transformou em algo que parecia suspeitosamente como um marcador de gado com alta voltagem na
ponta.

"Você deveria tê-lo salvado quando teve chance",Hermes grunhiu para Annabeth. "Você é a única que poderia ter ajudado".
Eu tentei ficar entre eles. "Você está falando do quê? Annabeth nunca..."
"Não defenda ela, Jackson!" Hermes virou o marcador de gado na minha direção. "Ela sabe exatamente do que estou falando".

"Você é quem deveria se culpar!" Eu deveria ter mantido minha boca fechada, mas tudo que eu pensava naquele momento era desviar a atenção dele para longe de Annabeth.
Ele não estava bravo comigo, ele estava bravo com ela. "Talvez se você não tivesse abandonado Luke e sua mãe!"
Hermes levantou seu marcador de gado. Ele começou a crescer até chegar a uns três metros de altura. Pensei, bem é isso.

Mas, quando se preparou para o ataque, George e Martha se inclinaram e falaram algo bem perto de seus ouvidos.
Hermes serrou seus dentes. Ele baixou o marcador de gado e ele voltou às dimensões de um bastão.

"Percy Jackson", ele disse, "Apenas por que carrega a maldição de Aquiles, vou poupá-lo. Você está nas mãos do destino agora. Nunca mais fale assim comigo. Você
não tem idéia de quanto eu tenho sacrificado, o quanto..."
Sua voz quebrou, e ele voltou a dimensões humanas.
"Meu filho, meu maior orgulho... minha pobre Mai...".

Ele parecia devastado e eu não sabia o que dizer.
Um minuto atrás ele estava pronto para nos evaporar. Agora, ele parecia que estava precisando de um abraço.
"Olhe Senhor Hermes;" eu disse. ''Desculpe, mas eu preciso
saber. O que aconteceu com a Mai?
Ela disse algo sobre o destino de Luke, e seus olhos- "
Hermes olhou furioso para mim, e minha voz vacilou.
O olhar em seu rosto não era realmente de raiva, era de dor. Profunda e incrível dor. "Eu vou deixá-los agora".Ele falou. "Tenho uma guerra para lutar."
Ele começou a brilhar. Eu me afastei e puxei Annabeth, porque ela ainda estava congelada de choque. "Boa sorte Percy", Martha a serpente sussurrou.
Hermes brilhou como a luz de uma super nova. Então ele desapareceu.
Annabeth sentou-se aos pés do trono da sua mãe e chorou.

Eu queria confortá-la, mas eu não sabia como.
"Annabeth". Eu disse," não é sua culpa. Eu nunca tinha visto
Hermes agir dessa forma. Eu acho ... Eu não sei ... provavelmente se sente culpado por Luke. Ele está procurando alguém para culpar. Não sei por que ele atacou
você. Você não fez nada para merecer isso. "
Annabeth limpou os olhos. Ela fixou seu olhar na lareira como se fosse sua pira funerária.

Eu falei meio constrangido. "Hum, você não fez, certo?"
Ela não respondeu. A faca de bronze celestial presa ao seu braço era a mesma de minha visão. Todos esses anos, eu não percebi que foi um presente de Luke.
Eu perguntei a ela muitas vezes porque preferiu lutar com uma faca, em vez de uma espada, e ela nunca me respondeu.

Agora eu sabia.
"Percy", disse ela. "O que você quis dizer sobre a mãe de Luke? Você a conheceu?"
Eu assenti com relutância. "Nico e eu visitamos ela. Ela era um pouco... diferente". Descrevi Mai Castellan, e no momento estranho em que seus olhos começaram a
brilhar e ela falou sobre o destino de seu filho.

Annabeth amarrou a cara. "Isso não faz sentido. Mas por que razão foram visitá-la," Os olhos dela se ampliaram." Hermes disse que você carrega a maldição de Aquiles.
Héstia disse a mesma coisa. Você... você se banhou no rio Styx? "
"Não mude de assunto." "Percy, sim ou não?" "Hum... talvez um pouco."

Contei a história de Hades e Nico, e como eu derrotei um exército dos mortos. Pulei a parte da visão dela puxando-me para fora do rio. Eu ainda não entendia muito
bem esta parte, e só de pensar nisso, deixava envergonhado.
Ela balançou sua cabeça em descrença "Você tem alguma idéia de como isso foi perigoso"?

"Eu não tive escolha", disse. "É a única maneira de eu me igualar a Luke".
"Você quer dizer... di immortales é claro! É por isso que o Luke não morreu. Ele foi para o Styx e... Oh não, Luke. O que ele estava pensando?"
"Então agora você está preocupado com Luke de novo," Eu protestei.
Ela olhou mim e eu apenas me afastei. "O quê?" "Esquece isso", eu murmurei.

Apenas gostaria de saber, o que significava aquilo que Hermes tinha dito sobre ela não ter salvado Luke, quando teve chance. Claramente, ela não havia me contado
tudo. Mas no momento eu não estava com vontade de perguntar. A última coisa que eu queria saber era mais alguma coisa sobre a sua história e de Luke.

"O ponto é, ele não morreu no Styx", eu disse. "E Nem eu. Agora eu tenho que enfrentá-lo. Temos de defender Olimpo".
Annabeth estava estudando minha cara, como se estivesse tentando ver alguma mudança desde o meu mergulho no Styx. "Eu acho que você está certo. Minha mãe falou"
- "Plano vinte e três".

Ela mexeu na mochila e puxou o laptop de Dédalo. O símbolo Delta em azul brilhava na tela, enquanto ele ligava.
Ela abriu alguns arquivos e começou a ler.
"Aqui está", disse ela. "Deuses, temos um monte de trabalho a fazer".
"Uma invenção de Dédalo?" "Um monte de invenções... perigosas. Se a minha mãe quer que eu use este plano, ela deve saber que as coisas estão muito ruins."

Ela olhou pra mim. "Sobre a mensagem para você: Lembre-se dos rios? O que será que significa." Eu balancei minha cabeça. Como de costume, não tinha nenhuma
idéia que os deuses estavam me dizendo. Qual rio eu deveria me lembrar?
Do Styx? Do Mississipi? Então os irmãos Stoll entraram correndo na sala do trono.
"Você precisa ver isto," disse Connor. "Agora".

As luzes azuis no céu tinham parado, de início eu não entendia qual era o problema.
Os outros campistas se reuniram em um pequeno parque na borda da montanha. Eles estavam enfileirados em um parapeito, olhando para baixo em Manhattan. Alinhados
ao parapeito havia vários binóculos, onde se depositava um Dracma de ouro para enxergar toda a cidade.

Todos os binóculos estavam ocupados. Eu olhei para baixo na cidade. Eu podia ver quase tudo a partir daqui, o East River e pelo rio Hudson carving a forma
de Manhattam, a linha das ruas, as luzes dos arranha-céus, o trecho escuro do Central Park, no norte.
Tudo parecia normal, mas algo estava errado. Sentia em meus ossos antes de perceber o que era. "Eu não... ouço nada"; Annabeth disse. Esse era o problema.
Ainda nesta altura, nos deveríamos estar ouvindo o barulho de milhões de pessoas se movimentando pela cidade, milhares de veículos e máquinas, o zumbido que faria
uma grande metrópole.

Você não pensa nisso quando mora em Nova Iorque, mas está sempre lá. Mesmo na calada da noite, Nova Iorque nunca é silenciosa. Mas agora estava.
Senti como se o meu melhor amigo tivesse subitamente caído morto.
"O que vocês fizeram"? Minha voz soou angustiada e com muita raiva. "O que fizeram à minha cidade"?

Eu empurrei Michael Yew para o lado e peguei o binóculo para dar uma olhada.
Nas ruas abaixo, o tráfego tinha parado.
Os pedestres estavam deitados sobre as calçadas, ou agachados perto das portas. Não havia nenhum sinal de violência, nada destruído, nada disso. Era como se
todas as pessoas em Nova Iorque, tinham simplesmente decidido parar o que eles estavam fazendo e desmaiar.

"Eles estão mortos?" Silena perguntou com espanto.
Meu estômago gelou. Uma linha da profecia tocou meus ouvidos: E veja o mundo cair num sono infinito. Lembrei-me da história de Grover, sobre o encontro com Morfeu
o Deus do sono no central. Você tem sorte, estou guardando minhas energias para o evento principal.
"Morto não", eu disse. "Morfeu pôs toda a ilha de Manhattam para dormir. A invasão já começou".





































CAPÍTULO DEZ - EU CONSIGO NOVOS AMIGOS

Senhora O'Leary era a única feliz com a cidade toda adormecida.
Nós a encontramos farejando uma carrocinha de cachorro quente, enquanto o dono estava deitado na calçada, chupando seu dedo.
Argus estava nos esperando com suas centenas de olhos bem abertos. Ele não disse nada. Ele nunca dizia. Acho que era por que ele tinha um olho na sua língua.
Mas seu rosto deixava claro que ele estava pirando.
Eu o disse o que tínhamos aprendido no Olimpo e como os deuses não se apressariam para o resgate. Argus rolou seus olhos com desgosto, o que pareceu muito
psicodélico, uma vez que todo seu corpo rolou.
"É melhor você voltar ao acampamento." Eu disse a ele. "Proteja ele o máximo que você puder."
Ele apontou para mim e levantou sua sobrancelha, debochando.
"Eu vou ficar bem." Eu disse.
Argus concordou, como se essa resposta o satisfizesse. Ele olhou para Annabeth e fez um círculo no ar com seu dedo.
"Sim," Annabeth concordou. "Acho que está na hora."
"Hora de quê?" Eu perguntei.
Argus voltou-se para sua van. Ele tirou um escudo de bronze e o entregou a Annabeth. Ele parecia um escudo normal - daqueles que usamos para capturar a bandeira.
Mas quando Annabeth o apoiou no chão, o reflexo do metal polido mudou entre o céu, prédios e até para a Estátua da Liberdade - lugares que nem estavam perto de nós.
"Whoa," Eu disse. "Um escudo vídeo."
"Uma das idéias de Dédalo." Annabeth disse. "Eu fiz o Beckendorf fazer antes que -" Ela olhou para Selena. "Hum, de qualquer forma, o escudo muda de acordo
com a luz do dia ou a luz da lua de qualquer lugar do mundo para criar um reflexo. Você pode ver qualquer alvo tanto sobre o sol ou a lua, contanto que uma luz natural
esteja o tocando. Olhe."
Nós nos aproximamos enquanto Annabeth se concentrava. De primeiro as imagens mexiam-se, então eu fiquei um pouco enjoado só de ver. Estávamos no Zoológico
do Central Park, depois ela virou para a East 60th, passando pela Bloomingdale's, depois virando na Terceira Avenida.
"Whoa," Connor Stoll disse. "Pra trás. Aproxime bem ali."
"O quê?" Annabeth disse nervosamente. "Você viu invasores?"
"Não, bem ali - A Doceria do Dylan." Connor sorriu para seu irmão. "Cara, está aberta. E todos estão dormindo. Você está pensando no que eu estou pensando?"
"Connor!" Katie Gardner o repreendeu. Ela pareceu sua mãe, Demeter. "Isso é sério. Você não vai assaltar uma loja de doces no meio de uma guerra!"
"Desculpa," Connor murmurou, mas não parecia muito envergonhado.
Annabeth passou sua mão na frente do escudo, e outra cena apareceu: FDR Drive, passando pelo rio na Lighthouse Park.
"Isso nos mostrará a cidade inteira." Ela disse. "Obrigado Argus. Espero poder te ver novamente no acampamento... Algum dia."
Argus grunhiu. Ele me deu uma olhada que obviamente significava Boa sorte, pois precisará dela, então ele entrou na van. Ele e as duas harpias motoristas deram
a volta, costurando entre grupos de carros que enchiam a rua.
Eu assoviei para Senhora O'Leary, e ela veio pulando.
"Ei garota!" Eu disse. Você se lembra do Grover? O sátiro que nos achou no parque?"
"WOOF!"
Esperei que isso significasse Claro que lembro! E não, Você tem mais cachorros quentes?
"Eu preciso de você para encontrá-lo," Eu disse. "Certifique-se que ainda estará acordado. Vamos precisar da ajuda dele. Entendeu? Encontre Grover!"
Senhora O'Leary me deu um beijo lambuzado, que parecia desnecessário. Ela correu para o norte.
Pollux agachou-se perto de um oficial de polícia adormecido. "Eu não entendo. Por que não dormimos também? Por que só os mortais?"
"Esse é um ataque muito grande," Silena Beauregard disse. "O quão maior for o ataque, mais fácil é de se resistir. Se você quiser fazer milhões de mortais
dormirem, você tem que arremessar uma camada muito fina de mágica. Mas com os semideuses é bem mais difícil."
Eu olhei para ela. "Quando que você aprendeu tanto de mágica?"
Silena ficou vermelha. "Eu não passo o tempo todo no meu vestiário."
"Percy," Annabeth chamou. Ela ainda estava olhando para o escudo. "Seria bom você ver isso."
A imagem no bronze mostrava Long Island Sound perto da Guarda de LA. Uma frota de lanchas vinha nas águas escuras direto para Manhattan. Cada barco estava
cheio de semideuses em armaduras completas. Na traseira do barco líder, uma bandeira roxa erguia-se com uma foice preta ondulando com a brisa da noite. Eu nunca
tinha visto aquela bandeira antes, mas não era difícil de imaginar-se de quem era: A bandeira de batalha de Cronos.
"Façam uma varredura no perímetro da ilha," Eu disse. "Rápido."
Annabeth mudou a cena para o porto. A Balsa Staten Island estava arando perto da Ellis Island. O deque estava cercado de Dracaenae e um bando de Cães Infernais.
Nadando na frente do barco, havia um monte de mamíferos marinhos. De primeira, pensei que eles fossem golfinhos. Depois eu vi seus rostos de cachorro e espadas presas
à suas cinturas, então percebi que eles eram Telequines - demônios do mar.
A cena mudou de novo: o litoral de Jersey, bem na entrada do Túnel Lincoln. Centenas de monstros diferentes estavam marchando pelas ruas do tráfego parado:
gigantes com seus bastões, Ciclopes Trapalhões, alguns Dragões, e só pra dificultar, uma Segunda Guerra Mundial - um tanque Sherman de época, tirava todos carros
do seu caminho enquanto rumava pelo túnel.
"O que esta acontecendo com os mortais lá fora?" Eu disse. "É o país todo que está dormindo?"
Annabeth franziu a sobrancelha. "Eu não sei, mas é estranho. O máximo que posso dizer sobre essas imagens, é que Manhattan inteira está adormecida. E em um
raio de oitenta quilômetros ao redor da ilha, o tempo está passando muito, muito devagar. O quão mais perto você chega de Manhattan, mas ela fica lenta."
Ela me mostrou outra cena - Uma estrada de Nova Jersey. Era Sábado à noite, então o tráfego não estava tão ruim como ele costuma estar em final de semana.
Os motoristas pareciam acordados, mas os carros estavam se movendo um quilômetro e meio por hora. Pássaros voavam em câmera lenta.
"Cronos," Eu disse. "Ele está retardando o tempo."
"Hécate deve estar ajudando." Katie Gardner disse. "Olhe como os carros estão se afastando das saídas, como se eles estivessem tendo uma mensagem subconsciente
para dar meia volta."
"Eu não sei." Annabeth parecia muito frustrada. Ela odiava não saber. "Mas de algum jeito eles cercaram Manhattan por um véu mágico. O mundo lá fora nem deve
imaginar que tem algo de errado. Qualquer mortal que viesse para Manhattan ia ficar tão devagar que eles não saberiam o que estaria acontecendo."
"Como moscas no âmbar," Jake Mason murmurou.
Annabeth concordou. "Não deveríamos esperar nenhuma ajuda a caminho."
Eu me virei para meus amigos. Eles pareciam petrificados e horrorizados, e eu não podia os culpar. O escudo tinha nos mostrado pelo menos trezentos inimigos
a caminho. E havia quarenta de nós. E estávamos sozinhos.
"Tudo bem," Eu disse. "Iremos proteger Manhattan."
Silena mexeu em sua armadura. "Hum, Percy, Manhattan é enorme."
"Nós iremos proteger ela." Eu disse. "Temos que protegê-la."
"Ele está certo," Annabeth disse. "Os Deuses do vento devem manter as tropas de Cronos longe do Olimpo pelo ar, então ele tentará uma invasão por solo. Temos
que cercar as entradas para a ilha."
"Eles têm barcos." Michael Yew lembrou.
Um formigamento elétrico passou por minhas costas. De repente eu me lembrei do conselho de Atena: Lembre-se dos rios.
"Eu cuido dos barcos." Eu disse.
Michael franziu as sobrancelhas. "Como?"
Só deixa comigo." Eu disse. "Precisamos cercar as pontes e os túneis. Vamos supor que eles tentem invadir o centro primeiro, pelo menos como sua primeira tentativa.
Seria o melhor caminho para o Edifício Empire State. Michael, leve o chalé de Apolo para a Ponte de Williamsburg. Katie, leve os do chalé de Demeter para o Túnel
do Brooklyn-Battery. Plante arbustos de espinhos e envenene o túnel. Faça o que tiverem que fazer, mas os mantenham longe de lá. Connor, leve a metade do chalé de
Hermes e proteja a Ponte do Brooklyn. E nada de parar para roubar ou saquear!"
"Ahhhh!" O chalé todo de Hermes reclamou.
"Silena, leve o chalé de Afrodite para o Queens - o Metrô."
"Ai meus Deuses," uma das irmãs disse. "A Quinta Avenida já é tão nossa! Nós poderíamos melhorar, e os monstros, tipo, eles odeiam o cheiro de Givenchy."
"Nada de atrasos," Eu disse. "E... sobre o negócio do perfume, se você acha que vai funcionar."
Seis filhas de Afrodite me beijaram na bochecha de entusiasmo.
"Ok, chega!" Eu fechei meus olhos, tentando me lembrar do que eu tinha esquecido. "O Túnel Holland. Jake, leve o chalé de Hefesto pra lá. Use o Fogo Grego,
monte armadilhas. Tudo o que você puder."
O chalé inteiro grunhiu em aprovação.
"A Ponte 59th Street" eu disse. "Clarisse -"
Eu cambaleei. Clarisse não estava aqui. O chalé inteiro de Ares, decisão de Clarisse, eles estavam sentados no acampamento."
"Faremos isso," Annabeth firmou-se, me salvando do silêncio embaraçoso. Ela virou-se para seus irmãos. "Malcolm, leve o chalé de Atena, com o plano vinte e
três, durante o caminho, igual ao que eu te mostrei. Mantenha posição."
"Você que manda."
"Eu irei com Percy," Ela disse. "Depois eu me junto com vocês, ou iremos aonde precisarem de nós."
Alguém no fundo do grupo disse. "Sem desvios, vocês dois."
Havia alguns risinhos, mas eu resolvi deixar essa passar.
"Tudo bem," Eu disse. "Mantenham-se com seus celulares."
"Não temos celulares." Silena protestou.
Eu me abaixei, peguei um BlackBerry feminino e entreguei a Silena. "Você tem agora. Todos vocês sabem o número de Annabeth, né? Se vocês precisarem de nós,
pegue um celular e nos ligue. Use-o uma vez, jogue-os fora, e pegue um emprestado se for necessário. Isso deverá dificultar os monstros de pegar um de vocês."
Todos sorriam, conforme eles iam gostando da idéia.
Travis limpou sua garganta. "Hum, se encontrarmos um celular muito legal mesmo -"
"Não, você não pode pegá-lo." Eu disse.
"Ah, cara."
"Calma Percy," Jake Mason disse. "Você esqueceu do Túnel Lincoln."
Eu xinguei um pouco. Ele estava certo. Um tanque Sherman e centenas de monstros estavam marchando por esse túnel neste exato momento, e eu concentrei nossa
força toda em qualquer outro lugar.
Então a voz de uma garota chamou do outro lado da rua: "Que tal você deixar esse com agente?"
Eu nunca fiquei tão feliz por ouvir alguém em toda minha vida. Um bando de garotas adolescentes cruzava a Quinta Avenida. Elas estavam vestindo camisas brancas,
calças cinzas camufladas, e botas de luta. Todas tinham espadas em seus lados, e arcos nas costas, com flechas preparadas. Uma alcatéia de lobos brancos rodeava
seus pés, e muitas das garotas tinham falcões caçadores em seus braços.
A garota na liderança tinha cabelos espetados pretos e uma jaqueta de couro preta. Ela tinha um arco prateado na cabeça, como se fosse uma tiara de princesa,
o que não combinou com seus brincos de caveira ou sua camisa Morte para Barbie mostrando uma pequena boneca da Barbie com uma flecha na sua cabeça.
"Thalia!" Annabeth chorou.
A filha de Zeus sorriu. "As caçadoras de Ártemis, informando serviço".


Havia abraços e cumprimentos por todos os lados... Ou pelo menos Thalia era amigável. As outras caçadoras não gostavam de estar perto de campistas, especialmente
os garotos, mas elas não atiraram em nenhum de nós, o que pra elas já era uma grande saudação de boas-vindas.
"Por onde você andou no último ano?" Eu perguntei a Thalia. "Você parece duas vezes mais com as Caçadoras agora!"
Ela riu. "Longa, longa história. Eu aposto que minhas aventuras foram mais perigosas do que as suas, Jackson."
"Uma grande mentira." Eu disse.
"Veremos," Ela me garantiu. "Depois que isso acabar, você, annabeth e eu: cheesburgers e fritas no hotel na West 57th."
"Le Parker Meridien," Eu disse. "Você está dentro. E Thalia, obrigado".
Ela deu de ombros. "Esses monstros nem vão saber o que os atingiu. Caçadoras, andando".
Ela tocou no seu bracelete de prata e seu escudo Aegis abriu-se na forma completa. A cabeça da Medusa de ouro no centro era tão horrível, que todos os campistas
se afastaram. As Caçadoras desceram a avenida, seguidas por seus lobos e falcões, e eu tinha a sensação que o Túnel Lincoln estava a salvo por enquanto.
"Graças aos deuses," Annabeth disse. "Mas se não conseguirmos bloquear os rios destes barcos, os guardas das pontes e túneis serão inúteis".
"Você tem razão," Eu disse.
Olhei para os campistas, todos estavam sorrindo e determinados. Eu tentei não me sentir como se essa fosse a última vez que eu os fosse ver todos juntos.
"Vocês são os maiores heróis do milênio." Eu disse a eles. "Não importa quantos monstros venham até você. Lutem bravamente, e venceremos." Eu levei Contracorrente
e gritei. "Pelo Olimpo!"
Eles gritaram em resposta, e nossas quarenta vozes ecoaram pelos prédios do Centro. Por um momento soou como bravura, mas rapidamente sumiu no silêncio de
dez milhões de pessoas em Nova Iorque.



Annabeth e eu não tínhamos escolhido nossos carros, mas eles estavam presos pára-choque por pára-choque no trânsito. Nenhuma das engrenagens estava funcionando,
o que era estranho. Era como se os motoristas tivessem tido tempo de desligar a ignição antes de eles pegarem no sono. Ou talvez Morfeu tivesse o poder de pôr as
ignições para dormir também. A maioria dos motoristas tinha tentado puxar o freio antes de terem dormido, mas mesmo assim as estradas ainda eram muito cheias para
andar.
Finalmente encontramos um mensageiro encostado na parede de tijolos, ainda escarranchando-se em sua Vespa vermelha. Nós o descemos da scooter e o colocamos
na calçada.
"Foi mal, cara," Eu disse. Com alguma sorte eu conseguiria trazer essa scooter a vida. E se eu não conseguisse, isso importaria muito, pois a cidade seria
destruída.
Eu dirigi com Annabeth atrás de mim, segurando-me pela cintura. Nós ziguezagueamos pela Broadway com nossas engrenagens zunindo pela calma estranha. Os únicos
sons eram os celulares tocando de vez enquanto - como se eles tivessem ligando para cada um, como se Nova Iorque fosse uma viveiro eletrônico gigante.
Nosso progresso estava devagar. Freqüentemente passávamos por pedestres que tinham adormecido na frente do carro, e os mudamos só por precaução. Uma vez nós
paramos para apagar o cartaz de uma loja de rosquinhas que tinha pegado fogo. Poucos minutos depois, tivemos que resgatar um carrinho de bebê que estava descendo
rua abaixo sem controle. Então vimos que não tinha nenhum bebê dentro - só o poodle de alguém. Vá entender. Nós o prendemos seguramente numa porta e continuamos
a correr com a moto.
Estávamos passando pelo Madison Square Garden quando Annabeth disse, "Encoste."
Eu parei no meio da East 23rd. Annabeth pulou e correu para o parque. Quando eu a alcancei, ela estava olhando uma estátua de bronze em um pedestal de mármore
vermelho. Eu passei por aqui umas mil vezes e nunca tinha notado.
O cara estava sentado numa cadeira com suas pernas cruzadas. Ele vestia um terno antigo - Estilo de Abraham Lincoln - com uma gravata borboleta, um palitó
e essas coisas. Um monte de livros estava entulhado embaixo de sua cadeira. Ele segurava uma pena de escrita em uma mão e uma chapa de metal com pergaminhos na outra.
"Por que nos importar sobre..." Eu apertei os olhos para ver o nome no pedestal. "William H. Steward?"
"Seward," Annabeth corrigiu. "Ele foi um governador de Nova Iorque. Um semideus insignificante - filho de Hebe, eu acho. Mas isso não é importante. A estátua
que importa."
Ela subiu no banco do parque e examinou a base da estátua.
"Não me diga que é um autômato ," Eu disse.
Annabeth sorriu. "A maioria das estátuas da cidade são autômatos. Dédalo os plantou aqui, no caso dele precisar de um exército."
"Para atacar o Olimpo ou defendê-lo?"
Annabeth franziu a testa. "Ambos. Esse era o plano vinte e três. Ele poderia ativar uma estátua e todas as estátuas da cidade seriam ativadas, até formar-se
um exército. Embora seja perigoso. Você sabe o quão imprevisíveis os autômatos são."
"Aham." Eu disse. Nós tivemos nossa parte de más experiências com eles. "Você realmente está pensando em ativá-los?"
"Eu tenho as anotações de Dédalo," Ela disse. "Eu acho que posso... Ah, vamos lá."
Ela pressionou o botão de Seward, e a estátua levantou-se, com a sua pena e papel a mão.
"O que ele vai fazer?" Eu murmurei. "Fazer um memorando?"
"Shh," Annabeth. "Olá, William."
"Bill," Eu sugeri.
"Bill... Ah cala a boca." Annabeth me disse. "A estátua inclinou sua cabeça, olhando para nós com olhos de metal azuis.
Annabeth limpou sua garganta. "Olá, er, Governador Seward. Seqüência de comando: Dédalo Vinte Três. Defender Manhattan. Começar ativação."
Seward pulou de seu pedestal. Ele caiu tão forte no chão, que seus sapatos racharam a calçada. Depois ele saiu correndo para o oeste.


"Ele provavelmente vai acordar Confucius," Annabeth supôs.
"O quê?" Eu disse.
"Outra estátua, na Divisa. O negócio é que eles continuarão acordando um ao outro até todos estiverem ativados".
"E depois?"
"Espero que eles defendam Manhattan."
"Eles sabem que nós não somos os inimigos?"
"Eu acho que sim."
"Isso é bem animador." Pensei em todas as estátuas de bronze nos parques, plazas, e prédios de Nova Iorque. Devia ter centenas, talvez milhares.
Então uma bola de um brilho verde explodiu no céu da noite. Fogo Grego, em algum lugar no East River.
"Bem, teremos que nos apressar." Eu disse. E corremos com a Vespa.


Estacionamos do lado de fora da Battery Park, na parte mais baixa de Manhattan onde o Hudson e East Rivers se encontravam na baía.
"Espere aqui," Eu disse a Annabeth.
"Percy, você não deveria ir sozinho."
"Bem, ao menos que você respire debaixo d'água..."
Ela suspirou. "Às vezes você é tão irritante."
"Igual a quando estou certo? Acredite em mim, eu ficarei bem. Eu tenho a maldição de Aquiles agora. Eu sou essas coisas de invencível e tal."
Annabeth não pareceu convencida. "Só cuide-se. Não quero que nada aconteça com você. Digo, por que precisamos de você para batalha."
Eu sorri. "De volta em um flash."
Eu desci pela costa e pulei na água.
Pra vocês, os que não são deuses da água, não saiam nadando pelo Porto de Nova Iorque. Ele não era tão imundo na época da minha mãe, mas aquela água provavelmente
faria crescer um novo olho em você ou ter filhos mutantes quando crescer.
Eu mergulhei na escuridão, nadando para o fundo. Eu tentei achar o ponto em que as duas correntes dos rios pareciam iguais - onde eles se tocavam para formar
a baía. Eu imaginei que essa era o melhor lugar para se conseguir a informação.
"EI!" eu gritei em minha melhor voz debaixo d'água. O som ecoou na escuridão. "Eu ouvi dizer que vocês são tão poluídos que têm vergonha de mostrar suas caras.
É verdade?"
Uma corrente fria chegou pela baía, trazendo lixo e lodo.
"Eu ouvi que o East River é o mais tóxico." Eu continuei. "Mas o Hudson cheira pior. Ou tem outro tipo por perto?"
A água brilhou. Alguma coisa poderosa e irritada estava me observando agora. Eu podia sentir sua presença... Ou talvez duas presenças.
Estava com medo de ter calculado mal os insultos. Como que eles iam me destruir sem aparecer? Mas esses eram os deuses dos rios de Nova Iorque. Eu imaginei
que seu instinto seria quebrar minha cara.
De fato, duas formas gigantes apareceram na minha frente. De primeira eles eram como colunas de lodo de um marrom escuro, mais densa do que a água ao seu redor.
Então apareceram pernas, braços e rostos carrancudos.
A criatura da esquerda parecia diferente, como um Telequine. Suas feições eram de um peixe-lobo. Seu corpo era vagamente igual a uma foca - sua pele lisa preta
com pés e mãos de barbatanas. Seus olhos brilhavam com um verde radiante.
O cara na direita era mais humano. Ele estava vestido com trapos e águas marinhas, com um casaco feito de garrafas com tampinhas e velhos plásticos de engradados.
Seu rosto estava manchado com algas, e sua barba enorme. Seus olhos azuis profundos queimavam em raiva.
A foca, que tinha que ser o deus do East River, disse, "Você está tentando se matar, criança? Ou você só é muito burro?"
O espírito barbudo do Hudson debochou. "Você é o experte em estupidez, East."
"Cuidado, Hudson." East grunhiu. "Fique do seu lado da ilha e se preocupe com seus negócios."
"Ou o quê? Você vai jogar outro balde de lixo em cima de mim?"
Eles flutuavam rodeando-os, prontos para lutar.
"Calma aí!" Eu gritei. "Nós temos um problema maior."
"A criança está certa." East ganiu. "Vamos matá-lo juntos, depois nós lutamos entre a gente."
"Gostei da idéia." Hudson disse.
Antes que eu pudesse protestar, milhares de pedaços de lixo surgiram do fundo e vieram direto a mim de ambas as direções: vidros quebrados, pedras, latas,
pneus.
Eu esperava por isso mesmo. A água na minha frente juntou-se como um escudo. Os restos batiam em mim inofensivamente. Só um pedaço entrou - um grande pedaço
de vidro que atingiu meu peito e provavelmente teria me matado, mas ele se despedaçou em minha pele.
Os dois deuses do rio olharam para mim.
"Filho de Poseidon?" East perguntou.
Eu concordei.
"Tomou um banho no Styx?" Hudson perguntou.
"Sim."
Ambos fizeram sons de desgosto.
"Perfeito," East disse. "Agora como o matamos?"
"Nós poderíamos eletrocutá-lo," Hudson respondeu. "Se pelo menos pudéssemos encontrar uns cabos -"
"Escutem-me!" Eu disse. "O exército de Cronos está invadindo Manhattan!"
"E você acha que já não sabemos disso?" East perguntou. "Eu posso sentir seus barcos agora mesmo. Eles estão quase cruzando."
"Sim," Hudson concordou. "Tem uns monstros esquisitos cruzando as minhas águas também."
"Então os pare." Eu disse. "Afunde-os. Afunde seus barcos."
"Por que deveríamos?" Hudson grunhiu. "Eles que invadam o Olimpo. Por que nos importaríamos?"
"Pois eu posso pagar vocês." Eu peguei o dólar de areia que meu pai tinha me dado de aniversário.
Os olhos dos deuses arregalaram-se.
"É meu!" East disse. "Devolva-me, criança, e eu prometo que nenhuma das escórias de Cronos adentrará no meu rio."
"Esquece isso," Hudson disse. "O dólar de areia é meu, ao menos que você queira que eu deixe todos esses navios atravessarem o meu rio."
"Temos um acordo," Eu dividi o dólar em dois. Uma onda de água limpa saiu da nota, como se toda poluição tivesse se dissolvido.
"Vocês terão cada parte," Eu disse. "Em troca que vocês mantenham todas as tropas de Cronos longe de Manhattan."
"Ah cara," Hudson choramingou, tentando pegar o dólar de areia. "Faz tanto tempo em que eu era limpo."
"O poder de Poseidon," East River murmurou. "Ele é um idiota, mas sabe como varrer a poluição."
Eles olharam um pro outro e depois falaram juntos: "É um acordo."
Eu dei para cada um a metade do dólar, o qual eles seguraram reverenciosamente.
"Hum, os invasores?" Eu perguntei.
East balançou suas mãos. "Eles afundarão."
Hudson estalou seus dedos. "Muitos cães infernais darão um mergulho."
"Obrigado," Eu disse. "Fiquem limpos."
Enquanto eu subia para superfície, East chamou. "Ei criança, sempre que você tiver um dólar de areia pra gastar, volte. Se você estiver vivo."
"Maldição de Aquiles." Hudson bufou. "Eles sempre acham que os salvará, né?".
"Se ele ao menos soubesse," East concordou. Ambos riram dissolvendo-se em água.

De volta à superfície, Annabeth estava falando em seu telefone, mas ela desligou assim que me viu. Ela parecia muito abalada.
"Funcionou," eu disse a ela. "Os rios estão salvos."
"Bom," Ela disse. "Por que temos outros problemas. Michael Yew acabou de ligar. Outra tropa esta marchando pela ponte de Williamsburg. O chalé de Apollo precisa
de ajuda. E Percy, o monstro que está liderando os inimigos... É o Minotauro.




















CAPÍTULO ONZE- NÓS QUEBRAMOS UMA PONTE


Afortunadamente, Blackjack estava atento.
Eu fiz o meu melhor assovio, passados alguns minutos duas formas circulavam pelo céu. Elas se pareciam com falcões à primeira vista, mas a medida que iam descendo
eu pude ver as pernas de pégasos galopando.
Yo, chefe. Blackjack aterrissou a trote, seu amigo Porkpie bem do meu lado. Cara, pensava que esses ventos dos deuses iam nos levar a Pennsilvanya até dissermos
que era sobre você.
"Obrigado por virem," Disse a ele. "Por que os pégasos galopam enquanto voam mesmo?"
Blackjack retrucou. Por que os humanos balançam os braços enquanto caminham? Fazemos. Se sente bem. Não é?
"Temos que ir ao Williamsburg Bridge," Eu disse.
Blackjack abaixou seu pescoço. Você vai concertar, chefe. Nós voamos por ele no caminho até aqui e não parecia bem. Vamos nessa!

No caminho para a ponte, um nó se formou na boca do meu estômago. O Minotauro foi um dos primeiros monstros que eu havia derrotado. Quatro anos atrás ele quase matou
minha mãe no Monte Meio-Sangue. Eu ainda tinha pesadelos com isso.
Eu estava esperando que ele ficasse morto por alguns séculos, mas como eu deveria saber, minha sorte não iria manter.
Nós vimos a batalha depois que acabamos com os nossos guerreiros individuais. Era mais de meia noite agora, mas a ponte brilhava com luz. Carros em chamas. Arcos
de fogo correndo em várias direções com flechas ardentes e lanças dirigidas.
Nós fomos por uma passagem curta, e eu vi os campistas de Apollo se retirando. Eles se escondiam atrás de carros e atiravam no exército que se aproximava. Mandando
flechas explosivas e fogo grego na estrada, construindo barricadas de fogo o tanto quanto podiam, retirando motoristas dormindo de dentro dos seus carros para afastá-los
do caminho da dor. Mas o inimigo continuava avançando. Toda uma linha de batalha de dracnaes marchava à frente, seus escudos alinhados com lanças saindo do topo.
Uma flecha ocasional acertava um de seus corpos de cobra, ou seu pescoço, ou um pedaço da sua amadura, e a azarada mulher cobra se desintegraria mas a maioria das
flechas de Apollo acertava a sua barreira de escudos.
Cerca de cem ou mais monstros marchavam na sua direção.
Hordas do submundo saltavam à linha de batalha de tempos em tempos. A maioria foi destruída por flechas, mas uma pegou um campista de Apollo e o levou embora. Eu
não pude ver o que aconteceu com ele depois. Eu não queria saber.
"Aqui!" Annabeth chamou do seu pégaso.
Com certeza, no meio da legião invasora estava o Velho Cabeça de Carne.
A última vez que eu vi o Minotauro, ele estava vestindo nada mais que suas cuecas apertadas. Eu não sabia por quê. Talvez fora levantado da sua cama para me perseguir.
Dessa vez ele estava preparado para a batalha.
Da cintura para baixo, ele usava um equipamento grego de batalha padrão - um avental de couro e retalhos de metal, e torresmos de bronze cobrindo as suas pernas,
sandálias acondicionadas de couro. A parte de cima era de touro - cabelo e couro e músculo, que levavam a uma cabeça tão grande que deveria ter caído apenas com
o peso dos chifres. Ele parecia maior desde a última vez que eu o vi. - três metros ao todo. Um machado de lâmina dupla estava agarrado em suas costas, ele estava
impaciente para usá-lo. Por um instante pensei que havia me visto circundando a sua cabeça (ou me cheirado, seria mais apropriado, a sua visão era ruim), ele gritou
e pegou uma limusine branca.
"Blackjack mergulhe!" Eu gritei.
O quê? O pégaso perguntou. Nada pode... Santa comida de cavalo!
Estávamos pelo menos a cem pés de altura, mas a limosine estava navegando ao nosso encontro, girando seu para-choque como um bumerangue de 10 toneladas, Annabeth
e Porkpie desviaram loucamente à esquerda, enquanto Blackjack dobrou suas asas e mergulhou. A limo me errou por uns três centímetros. Ela limpou as linhas de suspensão
da ponte e caiu no East River.
Monstros vaiavam e gritavam, o Minotauro pegou um outro carro.
"Deixe-nos atrás das linhas de Apollo" Eu disse a Blackjack. "Mantenha-se atento e saia do perigo."
Eu não vou discutir, chefe!
Blackjack pousou atrás de um ônibus caído, onde vários campistas estava se escondendo. Annabeth e eu descemos pouco depois que os pégasos tocaram o chão. Então Blackjack
e Porkpie sumiram no céu da noite.
Michael Yew correu até nós. Ele era definitivamente o menor comandante que já havia visto. Ele tinha uma ferida no seu braço. Sua cara de furão estava manchada e
com fuligem, sua aljava estava quase vazia, mas sorria como se estivéssemos passando um grande momento.
"Ainda bem que se juntaram a nós," Ele disse. "Onde estão os outros reforços?"
"Por enquanto somos nós," Eu disse.
"Então estamos mortos," Ele disse.
"Você ainda tem sua biga voadora?" Perguntou Annabeth.
"Nah," Michael respondeu. "Ficou no acampamento. Eu disse a Clarisse que ela poderia tê-la. De qualquer jeito, você sabe? Não vale mais a pena lutar, mas ela disse
que era tarde demais. Nós insultamos a sua honra pela última vez ou alguma coisa estúpida dessas."
"Pelo menos você tentou," Eu disse.
Michael deu de ombros. "Yeah, bem, eu a chamei de alguns nomes quando ela disse que não ia lutar. Duvido que tenha ajudado. Lá vêm os feios!"
Ele pegou uma flecha e a atirou no inimigo. A flecha deu um grito no vôo. Quando aterrissou, fez uma explosão como um acorde em uma guitarra ampliada pelos maiores
amplificadores do mundo. O carro mais próximo explodiu. Monstros deixaram suas armas caírem e levaram suas mãos aos seus ouvidos pela dor. Outros correram. Outros
se desintegraram no ato.
"Essa foi minha última flecha sônica," Disse Michael.
"Presente do seu pai?" Perguntei. "O deus da música?"
Michael sorriu perverso. "Musica alta pode te fazer mal. Desafortunadamente, as vezes mata."
Com certeza mais monstros se reagruparam, balançando confusos.
"Temos que recuar," Disse Michael. "Tenho Kayla e Austin colocando mais armadilhas embaixo da ponte."
"Não," Eu disse. "Coloque seus campistas em suas posições e espere meu sinal. Vamos mandar os inimigos de volta pro Brooklyn."
Michael riu. "Como planeja fazer isso?"
Eu tirei minha espada.
"Percy," Annabeth falou. "Deixe-me ir com você."
"Muito perigoso," Eu disse. "Além do mais eu preciso de você com o Michael para organizar as linhas de defesa. Eu distraio os monstros. Você reagrupa aqui. Mova
os mortais sonolentos fora do caminho. Você pode ir eliminando os monstros enquanto estão focados em mim. Se alguém é capaz de fazer isso, é você."
Michael bufou. "Muito obrigado."
Mantive meus olhos em Annabeth.
Ela concordou relutante. "Tudo bem. Vá em frente."
Antes que pudesse perder minha coragem, eu disse, "Eu não ganho um beijo de boa sorte? É um tipo de tradição, certo?"
Eu imaginei ela me dando um soco. Ao invés disso ela puxou a sua faca e olhou para o exercito vindo em nossa direção. "Volte com vida, cabeça de alga, então veremos."
Imaginei que seria a minha melhor opção, sai de trás do ônibus escolar. Caminhava pela ponte com a visão plana, em linha reta em direção ao inimigo.

Quando o Minotauro me viu, seus olhos arderam em ódio. Ele berrou - o som era algo parecido com um grito, um mooo, e um realmente alto arroto.
"Hey, Garoto Bife" Eu atirei de volta. "Eu já não tinha te matado?"
Ele bateu com o punho no teto de um Lexus, e o amassou como uma folha de alumínio.
Algumas dracnaes atiraram dardos ardentes. Bati-as para um lado. Um cão infernal apareceu, e eu iludido. Eu poderia esfaqueá-lo, mas hesitei.
Essa não é Mrs. O'Leary, Lembrei a mim mesmo. Esse é um monstro selvagem. Ele vai matar a mim e a todos os meus amigos.
Ele atacou de novo, desta vez eu trouxe Contracorrente em um arco mortal. O cão infernal desintegrou em poeira e pele.
Mais monstros vieram depois - cobras e gigantes e telkhines - mas o Minotauro rugiu para eles, então recuaram.
"Um contra um?" Eu chamei. "Como nos velhos tempos?"
As suas narinas tremeram. Ele precisava seriamente de um pacote de Aloe Vera Kleenex no bolso da sua armadura. Porque seu nariz estava vermelho, molhado e muito
mal. Ele tirou seu machado e o balançou em volta.
Foi um lindo eu-vou-te-destripar-como-um-peixe, ou algo do tipo. Cada uma das suas lâminas gêmeas foi moldada com um ômega ? - a última letra do alfabeto grego.
Talvez porque a lâmina fosse a última coisa que as suas vitimas viam em suas vidas. O cabo era quase do mesmo tamanho do Minotauro, bronze revestido com couro. Amarrados
embaixo de cada lâmina havia muitos colares. Percebi que eram do acampamento Meio-Sangue, tirados de semideuses derrotados.
Eu estava tão louco, eu imaginei meus olhos brilhando iguais aos do Minotauro. Eu levantei minha espada. O exercito de monstros animado pelo Minotauro, mas o som
morreu assim que eu desviei seu golpe e cortei seu machado ao meio, bem no meio dos pegas.
"Moo?" Ele resmungou.
"HAAA," Eu me virei e o chutei no focinho. Ele cambaleou para trás, tentando recuperar o equilíbrio, depois abaixou a cabeça para vir à carga.
Ele nunca teve chance. Minha espada rapidamente - cortou um chifre, depois o outro. Ele tentou me agarrar. Eu rolei para o lado, pegando metade do seu machado quebrado.
Os outros monstros recuaram em um silêncio petrificado, fazendo um circulo ao nosso redor. O Minotauro gritou de raiva. Ele nunca foi muito esperto desde o início,
mas a sua raiva o fez irresponsável. Ele carregou a mim, eu corri para a borda da ponte, na ruptura de uma linha de dracnaes.
O Minotauro sentiu o cheiro da vitória. Ele achava que eu estava tentando fugir. Suas legiões vibravam. Na ponta da ponte me virei e preparei o machado contra a
sua carga. O Minotauro nem sequer diminuiu a velocidade.
CRUNCH!
Ele olhou para baixo surpreso para ver a pega do seu machado saindo da sua armadura.
"Obrigado por jogar," Disse a ele.
Levantei-o pelos seus pés e o atirei para um lado da ponte. Mesmo quando caiu estava se desintegrando tornando-se areia, sua essência voltando para o Tártaro.
Virei-me contra o seu exercito. Agora eram uns cento e noventa e nove contra um. Eu fiz uma coisa natural. Eu fui contra eles.

Você está querendo me perguntar como essa coisa de "invencível" funciona: eu magicamente desviei de todas as armas, ou se elas me batiam não acabavam me ferindo.
Honestamente, eu não me lembro. Tudo que eu sei era que eu não ia deixar aqueles monstros invadirem a minha cidade.
Eu cortava as armaduras como se fossem de papel. Mulheres serpente explodiram. Cães infernais derreteram nas sombras. Eu cortei e esfaqueei e fiz um turbilhão, poderia
ter até rido uma ou duas vezes - um riso louco que assustou tanto a mim quanto a meus inimigos. Eu estava ciente dos campistas de Apollo atrás de mim atirando flechas
perturbando a cada tentativa do inimigo de se recuperar. Finalmente os monstros viraram e fugiram - cerca de vinte ficaram vivos de duzentos.
Eu segui com os campistas de Apollo sobre meus calcanhares.
"Sim!" Gritou Michael Yew. "Era disso que eu estava falando."
Nós nos dirigimos de volta pelo lado Brooklyn da ponte. O céu estava ficando pálido a leste. Eu podia ver a estação de transporte à minha frente.
"Percy!" Gritou Annabeth. "Você já os derrotou. Os puxou pra trás! Nós passamos dos limites!"
Uma parte de mim sabia que ela estava certa, mas eu estava indo tão bem, queria destruir até o último monstro.
Depois eu vi a multidão na base da ponte. Os monstros recuando em direção aos reforços. Era um grupo pequeno, uns trinta ou quarenta semideuses em armadura de batalha,
montado em cavalos esqueléticos. Um deles tinha uma faixa roxa sobre o desenho de uma foice em preto.
O cavaleiro que liderava trotou à frente. Ele tirou o seu elmo, e eu reconheci Cronos em pessoa, seus olhos como ouro derretido.
Annabeth e os campistas de Apollo vacilaram. Os monstros haviam alcançado a linha do Titã e foram absorvidos pela nova força. Cronos olhou em nossa direção. Ele
estava a um quarto de milha, mas eu pude ver seu sorriso.
"Agora," Eu disse. "Nós recuamos."
Os homens do Lorde Titã ergueram suas espadas e avançaram. Os cascos dos seus cavalos esqueléticos batendo contra o pavimento. Os nossos arqueiros dispararam uma
saraivada, trazendo baixas ao inimigo, mas eles continuavam avançando.
"Recuem!" Eu disse aos meus amigos. "Eu seguro eles."
Em questão de segundos eles estavam ao meu lado.
Michael e seus arqueiros tentaram recuar, mas Annabeth continuava bem do meu lado, lutando com sua faca e seu escudo espelhado, lentamente voltamos ao topo da ponte.
Cronos e sua cavalaria giravam ao nosso redor, cortando e gritando insultos. O próprio Titã avançava vagarosamente, como se tivesse todo o tempo do mundo. Sendo
o senhor do tempo, acho que ele podia. Tentei ferir seus homens, mas não matá-los, isso me retrasou. Mas estes não eram monstros, eram semideuses que caíram na magia
de Cronos. Eu não podia ver seus rostos embaixo dos seus elmos de batalha, mas provavelmente eram alguns dos meus amigos. Eu cortei as pernas de seus cavalos esqueléticos,
e fiz suas montarias esqueléticas desintegrarem. Depois dos primeiros semideuses darem o seu melhor desceram e me enfrentaram em pé.
Annabeth e eu estávamos ombro a ombro, em direções opostas. Uma imagem sombria passou por mim, e ousou avançar. Blackjack e Porkpie estavam chutando os nossos inimigos
nos seus elmos como grandes pássaros kamikaze.
Nós fizemos isso até a metade da ponte, até que algo estranho aconteceu. Eu senti um calafrio pela minha espinha, como se alguém velho avisasse sobre alguém caminhando
pelo seu túmulo. Atrás de mim Annabeth chorava de dor.
"Annabeth." Eu me virei a tempo de vê-la cair, parando seu braço. Um semideus estava parado com uma faca ensangüentada sobre ela.
Em um flash eu entendi o que estava acontecendo. Ele havia tentado me acertar pelas costas. Julgando pela posição da sua lâmina ele teria me pego - talvez por pura
sorte - nas minhas costas, o meu único ponto fraco.
Annabeth havia interceptado a faca com seu próprio corpo.
Mas por quê? Ela não sabia do meu ponto fraco. Ninguém sabia.
Eu fixei meu olhar no semideus inimigo. Ele usava um tapa-olho sob o seu elmo: Ethan Nakamura, o filho de Nemesis. De alguma forma ele havia sobrevivido à explosão
do Princesa Andrômeda. Eu bati no seu rosto com a minha espada tão forte que dentei o seu elmo.
"Para trás." Eu cortei o ar com um amplo arco, mandando os outros semideuses para longe de Annabeth. "Ninguém toca nela!"
"Interessante." Cronos disse.
Ele avançou sobre mim no seu cavalo esquelético, sua foice em uma mão. Ele estudou a cena minuciosamente como se pudesse sentir que eu estava perto da morte, como
um lobo que fareja o medo.
"Lutou bravamente," Percy Jackson "Mas é hora de se render... ou a menina morre."
"Percy, não." Annabeth gemeu. Sua camisa estava encharcada com sangue. Eu tinha que tirá-la daqui.
"Blackjack!" Eu gritei.
Tão rápido como a luz ele mergulhou e apertou seus dentes nas tiras da armadura de Annabeth. Eles subiram e se afastaram do rio tão rápido que o inimigo nem pôde
reagir.
Cronos resmungou "Eu ainda vou fazer sopa de pégaso. Mas nesse meio tempo..." Ele desmontou, a sua foice brilhando na luz do amanhecer. "Eu vou resolver para que
outro semideus seja morto."
Recebi o seu primeiro impacto com Contracorrente, o impacto abalou a ponte, mas não me afetou. O seu sorriso oscilou.
Com um grito, chutei as suas pernas bem embaixo dele. Sua foice deslizou sobre o pavimento. Eu Cortei para baixo, mas ele se recuperou e sua foice voltou para suas
mãos.
"Então..." Ele me estudou, olhando levemente irritado. "Você teve a coragem de visitar o Styx. Eu tive que pressionar Luke de várias maneiras para convencê-lo. Você
tinha pedido o meu corpo hospedeiro uma vez... Mas não importa. Eu estou ainda mais poderoso. Eu sou um TITÃ"
Ele atingiu a ponte com a base da sua foice, e uma onde de puro vigor me jogou para trás. Carros foram carregados. Mesmo os homens de Luke foram jogados para longe
ao longo da borda da ponte. Cordas de suspensão chicoteavam em volta, e eu escorreguei meio caminho de volta para Manhattan.
Eu tinha uma base para meus pés. O restante dos campistas de Apolo tinha voltado para o começo da ponte, com exceção de Michael Yew, que estava agarrado a um dos
fios de suspensão a alguns metros de mim. Colocou sua última flecha em seu arco.
"Michael, vá!" Eu gritei.
"Percy, a ponte!" Ele respondeu. "Já está fraca!"
Eu não entendi de primeira, então eu olhei para baixo e vi fissuras no pavimento. Pedaços da estrada estavam meio derretidos pelo fogo grego. A ponte tinha tomado
uma surra de Cronos e de flechas explosivas.
"Quebre-o!" Michael gritou. "Use o seu poder!"
Foi um pensamento terrível - de maneira alguma aquilo ia funcionar - mas eu cortei a ponte com Contracorrente. A lâmina mágica afundou até o cabo no asfalto. Água
salgada jorrava da fissura. Havia feito um gêiser. Puxei a minha espada da fissura. A ponte tremeu e começou a desintegrar. Pedaços do tamanho de casas caiam no
East River. Os semideuses de Cronos gritaram em alarme e correram de volta. Alguns batiam em seus próprios pés. Poucos segundos depois, havia um abismo de uns quinze
metros aberto na Ponde de Williamsburg entre Cronos e eu.
As vibrações cessaram. Os homens de Cronos correram de volta e olharam os cento e trinta pés de queda até o rio.
Eu não me sentia seguro então. Os cabos de suspensão ainda estavam em chamas. Os homens que poderiam atravessar teriam que ter muita coragem. Ou talvez Cronos tivesse
uma magia para concertar a lacuna.
O Lorde Titã estudou o problema. Olhou para trás ao sol nascente. Então sorrio do outro lado do abismo. Ele ergueu a sua foice e fez uma saudação de escárnio. "Até
esta noite Jackson."
Ele montou no seu cavalo, fez um circulo e cavalgou. Seis metros atrás havia um arco caído. O seu proprietário estava longe de ser visto.
"Não!" Eu vasculhei os destroços do meu lado da ponte. Olhei para baixo da ponte. Nada. Eu gritei de raiva e frustração. O som ficou para sempre na quietude da manhã.
Eu estava prestes a assoviar para vasculhar com Blackjack, quando o telefone da minha mãe tocou. A tela de LCD anunciou que eu tinha uma chamada de Finklestein &
Associados - provavelmente um semideus ligando de um telefone emprestado.
Eu atendi esperando por boas noticias. Com certeza eu estava errado.
"Percy!" Silena Beauregard soou como se estivesse chorando. "Plaza Hotel. É melhor você vir rápido e trazer um curandeiro da cabine de Apollo. É... é Annabeth."








CAPÍTULO DOZE - RACHEL FAZ UM ACORDO RUIM

Eu agarrei Will Solace do chalé de Apolo e falei para o resto dos irmãos dele continuar procurando Michael Yew. Nós pegamos emprestada uma Yamaha FZI de um
motoqueiro adormecido e dirigimos para o Hotel Plaza em velocidades que teriam causado um ataque cardíaco na minha mãe. Eu nunca tinha dirigido uma moto antes, mas
não era muito mais difícil do que montar um pégaso.
Ao longo do caminho, notei vários pedestais vazios que normalmente guardavam estátuas. O plano vinte e três parecia estar dando certo. Eu não sabia se isso
era bom ou ruim.
Demorou apenas cinco minutos para que chegássemos ao Plaza - um hotel à moda antiga feito de pedras brancas com um teto empenado azul, situado no canto sudeste
do Central Park.
Taticamente falando, o Plaza não era o melhor lugar para um quartel general. Não era o prédio mais alto da cidade, ou o mais centralizado. Mas tinha um estilo
antiquado e atraíra muitos semideuses famosos ao longo dos anos, como os Beatles e Alfred Hitchcock, então pensei que estávamos em boa companhia.
Eu disparei com a Yamaha por cima do meio-fio e desviei para uma parada na frente da fonte do lado de fora do hotel.
Will e eu desembarcamos. A estátua no topo da fonte chamou, "Oh, ótimo. Suponho que você quer que eu vigie sua moto também!"
Ela era um bronze tamanho família em pé no meio de uma tigela de granito. Ela vestia apenas um lençol de bronze em volta de suas pernas, e ela estava carregando
uma cesta com frutas de metal. Eu nunca tinha prestado muita atenção nela antes. Mas de novo, ela nunca tinha falado comigo antes.
"Você deveria ser Deméter?" eu perguntei.
Uma maçã de bronze voou por cima da minha cabeça.
"Todo mundo pensa que eu sou Deméter!" ela reclamou. "Eu sou Pompona, a Deusa Romana da Fartura, mas porque você iria se importar? Ninguém se importa com
os deuses menores. Se vocês se importassem com os deuses menores, não estariam perdendo essa guerra! Três vivas para Morfeus e Hécate, eu digo!"
"Vigie a moto," falei para ela.
Pompona esbravejou em latim e arremessou mais frutas enquanto Will e eu corremos em direção ao hotel.
Eu nunca tinha estado de verdade dentro do Plaza. O saguão era impressionante, com candelabros de cristal e as pessoas ricas desmaiadas, mas eu não prestei
muita atenção. Um par de Caçadoras nos indicou a direção para os elevadores, e nós fomos para as suítes da cobertura.
Semideuses tinham tomado completamente os últimos andares. Campistas e Caçadoras estavam espatifados nos sofás, lavando-se nos banheiros, e ajudando-se com
lanches e refrigerantes dos frigobares. Um casal de lobos cinzentos estava bebendo água das privadas. Estava aliviado ao ver que muitos dos meus amigos tinham sobrevivido
durante a noite, mas todo mundo parecia abatido.
"Percy!" Jake Mason bateu no meu ombro.
"Nós estamos recebendo relatórios-"
"Depois," eu disse. "Onde está Annabeth?"
"No terraço. Ela está viva, cara, mas..."
Eu o empurrei e passei por ele.
Sob diferentes circunstâncias eu teria amado a vista do terraço. Via-se diretamente abaixo na direção do Central Park. A manhã estava clara e brilhante - perfeita
para um piquenique ou uma caminhada, ou praticamente qualquer coisa menos combater monstros.
Annabeth estava deitadanuma poltrona. Sua face estava pálida e ensopada de suor. Ainda que ela estivesse coberta com lençóis, ela tremia. Silena Beauregard estava
enxugando sua testa com um pano frio.
Will e eu nos empurramos pelo meio de um grupo de filhos de Atena. Will desamarrou as ataduras de Annabeth para examinar a lesão, e eu quis desmaiar. O sangramento
havia parado, mas o golpe parecia profundo. A pele em volta do corte estava num tom de verde horrível.
"Annabeth..." eu me engasguei. Ela tinha levado aquela facada por mim. Como eu deixei isso acontecer?
"Veneno na adaga," ela balbuciou. "Meio estúpido da minha parte, huh?
Will Solace expirou de alívio. "Não é tão ruim, Annabeth. Alguns minutos a mais e nós estaríamos com problemas, mas o veneno ainda não passou do ombro. Apenas fique
parada. Alguém me passe um pouco de néctar."
Eu peguei um cantil. Will limpou a ferida com a bebida divina enquanto eu segurava a mão de Annabeth.
"Ai," ela disse. "ai, ai!" Ela agarrou meus dedos tão forte que eles ficaram roxos, mas ela ficou parada, como Will pediu. Silena murmurou palavras de incentivo.
Will pôs um pouco de pasta prateada sobre a ferida e sussurrou palavras em grego antigo - um hino para Apolo. Então ele aplicou bandagens frescas e levantou-se trêmulo.
A cura deve ter tirado muito de sua energia. Ele parecia quase tão pálido quanto Annabeth.
"Isso deve bastar," ele disse. "Mas nós vamos precisar de alguns suprimentos mortais."
Ele pegou uma parte dos artigos de papelaria do hotel, rabiscou algumas anotações, e entregou para um dos filhos de Atena. "Há uma Duane Reade na Quinta Avenida.
Normalmente eu nunca roubaria-"
"Eu roubaria," Travis se voluntariou.
Will olhou fixamente para ele. "Deixem dinheiro ou dracmas para pagar, o que quer que vocês peguem, mas isso é uma emergência. Tenho a sensação que teremos muito
mais pessoas para tratar."
Ninguém discordou. Não havia quase nenhum semideus que já não tivesse sido machucado... exceto eu.
"Vamos lá, pessoal," Travis Stoll disse. "Vamos dar algum espaço para Annabeth. Temos uma farmácia para saquear... quero dizer, visitar."
Os semideuses se misturaram de volta para dentro. Jake Mason agarrou meu ombro quando estava saindo. "Nós vamos conversar depois, mas está sob controle. Estou usando
o escudo de Annabeth para manter um olho nas coisas. O inimigo recuou ao nascer do sol; não tenho certeza porque. Nós temos um vigia em cada ponte e túnel."
"Obrigado, cara," eu disse.
Ele concordou com a cabeça. "Apenas use o seu tempo."
Ele fechou as portas do terraço atrás de si, deixando Silena, Annabeth e eu sozinhos.
Silena pressionou um pano gelado na testa de Annabeth.
"Isso é tudo minha culpa."
"Não," Annabeth disse fracamente. "Silena, como isso é culpa sua?"
"Eu nunca servi para nada no acampamento," ela murmurou. "Não como você ou Percy. Se eu fosse uma lutadora melhor..."
A boca dela tremeu. Desde que Beckendorf morreu ela vinha piorando, e toda vez que eu a via, isso me deixava todo zangado de novo. A expressão dela me relembrava
o vidro - como se ela fosse quebrar a qualquer minuto. Jurei a mim mesmo que se eu encontrasse o espião que custou a vida do namorado dela, eu o daria a Sra. O'Leary
como brinquedo de mastigar.
"Você é uma campista grandiosa," falei para Silena. " Você é a melhor cavaleira de pégasos que nós temos. E você se dá bem com as pessoas. Acredite em mim, qualquer
pessoa que consegue ser amiga da Clarisse tem talento."
Ela me encarou com se eu tivesse lhe dado uma ideia. "É isso mesmo! Nós precisamos do chalé de Ares. Eu posso falar com Clarisse. Eu sei que posso convencê-la a
nos ajudar. Deixe-me tentar."
Eu troquei olhares com Annabeth. Ela concordou levemente. Eu não gostava da ideia. Eu não achava que Silena tinha alguma chance de convencer Clarisse a lutar. Por
outro lado, Silena estava tão distraída nesse momento que apenas machucaria a si mesma na batalha. Talvez mandá-la de volta para o acampamento daria a ela algo para
se concentrar.
"Tudo bem," falei para ela. "Não consigo pensar em ninguém melhor para tentar."
Silena jogou seus braços em volta de mim. Então ela recuou, desajeitada, fitando Annabeth. "Hum, desculpe. Obrigada, Percy! Não vou decepcionar você!"
Assim que ela saiu, me ajoelhei perto de Annabeth e senti sua testa. Ela ainda estava queimando.
"Você fica uma gracinha quando está preocupado," ela murmurou. "Suas sobrancelhas ficam dobradas juntinhas."
"Você não vai morrer enquanto eu lhe devo um favor," eu disse. "Porque você tomou aquela facada?"
"Você teria feito o mesmo por mim."
Era verdade. Acho que nós dois sabíamos disso. Ainda assim, eu sentia como se alguém estivesse espetando meu coração com uma fria vara de metal. "Como você sabia?"
"Sabia o quê?"
Olhei em volta para ter certeza que estávamos sozinhos. Então eu me curvei perto dela e sussurrei: "Meu ponto de Aquiles. Se você não tivesse levado aquela facada,
eu teria morrido.
Ela ficou com um olhar distante. Sua respiração tinha cheiro de uvas, talvez por causa do néctar. "Eu não sei, Percy. Eu apenas tive essa sensação de que você estava
em perigo. Onde... onde é o ponto?"
Eu não deveria contar a ninguém. Mas era Annabeth. Se eu não pudesse confiar nela, não podia confiar em ninguém.
"Na parte de baixo da minha costa."
Ela levantou a mão. "Onde? Aqui?"
Ela pôs a mão na minha coluna, e minha pele formigou. Eu movi os dedos dela até o único ponto que me ligava à minha vida mortal. Mil voltes de eletricidade pareceram
arquear através do meu corpo.
"Você me salvou," eu disse. "Obrigado."
Ela removeu sua mão, mas eu continuei segurando-a.
"Então você me deve," ela disse fracamente. "O que mais é novidade?"
Nós observamos o sol cobrir a cidade. O trânsito deveria estar pesado à essa hora, mas não havia carros buzinando, nem multidões se alvoroçando pelas calçadas.
Bem longe, eu podia ouvir o eco de um alarme de carro pelas ruas. Uma pluma de fumaça negra ondulou no céu em algum lugar sobre o Harlem. Eu imaginei quantos fogões
tinham sido deixados acesos quando o encanto de Morfeus atingiu; quantas pessoas tinham pegado no sono no meio da preparação do jantar. Logo, logo haveria mais incêndios.
Todos em Nova York estavam em perigo - e todas aquelas vidas dependiam de nós.
"Você me perguntou por que Hermes estava com raiva de mim," Annabeth disse.
"Ei, você precisa descansar-"
"Não, eu quero contar para você. Isso está me incomodando há um bom tempo." Ela mexeu seu ombro e estremeceu. "Ano passado, Luke veio me ver em San Francisco."
"Em pessoa?" senti como se ela tivesse acabado de me acertar com uma marreta. "Ele veio até sua casa?"
"Isso foi antes de nós entrarmos no Labirinto, antes..."
Ela vacilou, mas eu sabia o que ela queria dizer: antes que ele se transformasse em Cronos. "Ele veio sob uma bandeira de trégua. Ele falou que queria apenas cinco
minutos para conversar. Ele parecia assustado, Percy. Ele me falou que Cronos ia usá-lo para conquistar o mundo. Ele disse que queria fugir, como nos velhos tempos.
Ele queria que eu fosse com ele."
"Masvocê não acreditou nele."
"É claro que não. Pensei que era um truque. Ainda mais... bem, muitas coisas tinham mudado desde os velhos tempos. Falei para Luke que não tinha jeito. Ele ficou
irado. Ele disse... ele disse que eu deveria lutar com ele ali mesmo, porque era a última chance que eu teria."
A testa dela começou a suar de novo. A história estava tomando muito de sua energia.
"Está tudo bem," eu disse. "Tente descansar um pouco."
"Você não entende, Percy. Hermes estava certo. Talvez se eu tivesse ido com ele, poderia ter mudado a cabeça dele. Ou - ou eu tinha uma faca. Luke estava desarmado.
Eu podia ter-"
"Matado ele?" eu disse. "Você sabe que isso não teria sido correto."
Ela fechou os olhos bem apertados. "Luke disse que Cronos iria usá-lo como uma pedra para pisar. Foram exatamente essas as palavras dele. Cronos iria usar Luke,
e se tornar ainda mais poderoso."
"Ele fez isso," eu disse. "Ele possuiu o corpo de Luke."
"Mas e se o corpo de Luke for apenas uma transição? E se Cronos tem um plano para ficar ainda mais poderoso? Eu poderia ter parado ele. A guerra é minha culpa."
A história dela me fez sentir como se eu estivesse de volta ao Styx, dissolvendo lentamente. Lembrei do último verão, quando o deus de duas cabeças, Janus, tinha
avisado Annabeth que ela teria que fazer uma escolha importante - e isso foi depois que ela viu Luke. Pã também havia dito algo a ela: Você fará um papel grandioso,
ainda que talvez não seja o papel que você imaginou.
Eu queria perguntar a ela sobre a visão que Héstia tinha me mostrado, sobre os primórdios dela com Thalia e Luke. Eu sabia que tinha algo a ver com a minha profecia,
mas não entendia o quê.
Antes que eu pudesse tomar coragem, a porta do terraço se abriu. Connor Stoll passou para dentro.
"Percy." Ele olhou rapidamente para Annabeth como se não quisesse falar nada de mal na frente dela, mas eu podia falar que ele não estava trazendo notícias boas.
"Sra. O'Leary acabou de chegar com Grover. Acho que você deve falar com ele."

Grover estava fazendo um lanche na sala de estar. Ele estava vestido para batalha com uma camisa blindada feita de casca de árvore e nós retorcidos, com sua clava
de madeira e sua flauta de bambu pendurados em seu cinto.
O chalé de Deméter tinha rapidamente armado um bufê completo nas cozinhas do hotel - tudo desde pizza até sorvete de abacaxi. Infelizmente, Grover estava comendo
a mobília. Ele já tinha mastigado o estofamento de uma cadeira extravagante e agora estava roendo o descanso de braço.
"Cara," eu disse, "nós estamos apenas pegando emprestado este lugar."
"Blah-há-há!" Ele tinha a cara coberta de estofamento. "Desculpe, Percy. É que... é a mobília de Luís XVI. Deliciosa. Além disso, eu sempre como mobília quando estou-"
"Quando você está nervoso," eu disse. "É, eu sei. Então, o que está acontecendo?"
Ele fez bateu seus cascos no chão. "Escutei sobre Annabeth. Ela está...?"
"Ela vai ficar bem. Está descansando."
Grover respirou fundo. "Isso é bom. Eu mobilizei a maioria dos espíritos da natureza na cidade - bem, aqueles que vão me escutar, de qualquer modo." Ele esfregou
a testa. "Eu não tinha a mínima ideia que pinhões podiam doer tanto. De todo jeito, nós vamos ajudar o máximo que conseguirmos."
Ele me falou sobre os combates que tinha visto. A maioria deles estava cobrindo a parte superior da cidade, onde nós não tínhamos semideuses suficientes. Cães do
inferno haviam aparecido em todos os tipos de lugares, fazendo viagens na sombra para dentro das nossas linhas, e as dríades e sátiros estiveram lutando contra eles.
Um jovem dragão aparecera no Harlem, e uma dúzia de ninfas da floresta morreu antes do monstro ser finalmente derrotado.
Enquanto Grover falava, Thalia entrou na sala com duas de suas tenentes. Ela assentiu para mim de modo ameaçador, saiu para conferir Annabeth, e voltou para dentro.
Ela escutou enquanto Grover completou seu relatório - os detalhes ficando cada vez piores.
"Nós perdemos vinte sátiros contra alguns gigantes no Forte Washington," ele disse, sua voz tremendo. "Quase metade dos meus parentes. Espíritos dos rios afogaram
os gigantes no final, mas..."
Thalia pôs o arco em seu ombro. "Percy, as forças de Cronos ainda estão se reunindo em cada ponte e túnel. E Cronos não é o único Titã. Uma de minhas Caçadoras avistou
um homem enorme numa armadura dourada agrupando um exército na costa de Nova Jersey. Eu não tenho certeza de quem ele é, mas ele irradia poder que nem um Titã ou
um deus."
Eu me lembrei do Titã dourado dos meus sonhos - aquele no Monte Otris que tinha irrompido em chamas.
"Ótimo," eu disse. "Alguma notícia boa?"
Thalia deu de ombros. "Nós lacramos os túneis de metrô para dentro de Manhattan. Minhas melhores preparadoras de armadilhas tomaram conta disso. Além disso, parece
que o inimigo está esperando anoitecer para atacar. Acho que Luke" - ela se segurou - "quero dizer, Cronos precisa de tempo para se regenerar após cada batalha.
Ele ainda não está conformado com sua forma atual. Está tomando muito de seu poder para deixar o tempo mais devagar em volta da cidade.
Grover assentiu. "A maioria das forças dele são mais poderosas à noite, também. Mas eles estarão de volta após o pôr-do-sol." Tentei pensar claramente. "Ok. Alguma
palavra dos deuses?"
Thalia balançou a cabeça. "Eu sei que Lady Ártemis estaria aqui se pudesse. Atena também. Mas Zeus ordenou que elas ficassem ao seu lado. A última vez que escutei,
Tifão estava destruindo o vale do Rio Ohio. Ele deve alcançar os Apalaches por volta de meio-dia."
"Então na melhor das hipóteses," eu disse, "nós temos mais dois dias antes que ele chegue."
Jake Mason pigarreou. Ele permaneceu lá tão silenciosamente que quase esqueci que ele estava na sala.
"Percy, mais uma coisa," ele disse. "O jeito que Cronos apareceu na Ponte Williamsburg, como se soubesse que você estava indo para lá. E ele transferiu suas forças
para os nossos pontos mais fracos. Logo que partimos, ele mudou a tática. Ele quase nem tocou o Túnel Lincoln, onde as Caçadoras estavam fortes. Ele buscou o nosso
lugar mais fraco, como se soubesse."
"Como se ele tivesse informação de dentro," eu disse. "O espião."
"Que espião?" exigiu Thalia.
Eu falei para ela do amuleto dourado que Cronos tinha me mostrado, o dispositivo de comunicação.
"Isso é ruim," ela disse. "Muito ruim."
"Poderia ser qualquer um," Jake disse. "Todos nós estávamos lá quando Percy deu as ordens."
"Mas o que nós podemos fazer?" perguntou Grover. "Revistar todos os semideuses até encontrar um amuleto em forma de foice?"
Todos eles olharam para mim, esperando uma decisão. Eu não podia demonstrar o quanto me sentia em pânico, ainda que as coisas parecessem sem esperança.
"Nós continuamos lutando," eu disse. "Não podemos ficar obcecados com esse espião. Se nós suspeitarmos uns dos outros, vamos apenas nos separar mais. Vocês todos
foram incríveis noite passada. Eu não poderia pedir um exército mais corajoso. Vamos fazer um rodízio de vigias. Descansem enquanto podem. Nós temos uma longa noite
à nossa frente."
Os semideuses balbuciaram em concordância. Eles seguiram seus caminhos separados para dormir ou comer ou consertar suas armas.
"Percy, você também," Thalia disse. "Nós vamos manter um olho nas coisas. Vá deitar. Nós precisamos de você em boa forma para hoje à noite."
Eu não argumentei muito. Achei o próximo quarto e desabei na cama com dossel. Pensei que estava muito ligado para dormir, mas meus olhos fecharam quase imediatamente.
No meu sonho, vi Nico di Angelo sozinho nos jardins de Hades. Ele tinha acabado de cavar um buraco num dos canteiros de Perséfone, o que eu achei que não faria a
rainha muito feliz.
Ele despejou um cálice de vinho dentro do buraco e começou a entoar um cântico. "Deixe os mortos sentirem o gosto de novo. Deixe-os ascender e pegar esta oferenda.
Maria di Angelo, mostre-se.
Fumaça branca se acumulou. Uma figura humana se formou, mas não era a mãe de Nico. Era uma garota de cabelos pretos, pele cor de azeitona, e roupas prateadas de
uma Caçadora.
"Bianca," disse Nico. "Mas-"
Não convoque nossa mãe, Nico, ela alertou. Ela é o único espírito que você está proibido de ver.
"Por que?" ele exigiu. "O que nosso pai está escondendo?"
Dor, Bianca disse. Ódio. Uma maldição que se estende até a Grande Profecia.
"O que você quer dizer?" disse Nico. "Eu preciso saber!"
O conhecimento irá apenas machucar você. Lembre-se do que eu disse: guardar rancor é uma falha mortal para as crianças de Hades.
"Eu sei disso," disse Nico. "Mas eu não sou o mesmo que costumava ser, Bianca. Pare de tentar me proteger!"
Irmão, você não entende-
Nico passou a mão através da névoa, e a imagem de Bianca se dissipou.
"Maria di Angelo," ele disse novamente. "Fale comigo!"
Uma imagem diferente se formou. Era uma cena ao invés de um único fantasma. Na névoa, eu vi Bianca e Nico criancinhas, brincando no saguão de um hotel elegante,
perseguindo um ao outro em volta de colunas de mármore.
Uma mulher estava sentada em um sofá próximo. Ela usava um vestido negro, luvas e um chapéu preto com véu que nem uma estrela de cinema dos anos 40. Ela tinha o
sorriso de Bianca e os olhos de Nico.
Em uma cadeira ao lado dela sentava um homem largo e oleoso em um terno risca de giz. Chocado, percebi que era Hades. Ele estava se inclinando em direção à mulher,
usando as mãos enquanto falava, como se estivesse agitado.
"Por favor, minha querida," ele disse. "Você deve vir para o Submundo. Não me importo com o que Perséfone pensa! Posso mantê-la a salvo lá."
"Não meu amor." Ela falava com um sotaque italiano. "Criar nossas crianças na terra dos mortos? Não vou fazer isso."
"Maria, me escute. A guerra na Europa virou os outros deuses contra mim. Uma profecia foi feita. Minhas crianças não estão mais seguras. Poseidon e Zeus me forçaram
a um acordo. Nenhum de nós nunca mais deve ter filhos semideuses."
"Mas você já tem Nico e Bianca. Certamente-"
"Não! A profecia avisa de uma criança que vai fazer dezesseis anos. Zeus decretou que os filhos que tenho atualmente devem ser levados ao Acampamento Meio-Sangue
para treinamento apropriado, mas eu sei o que ele quer dizer. No máximo eles serão vigiados, aprisionados e tornados contra o seu pai. Ainda mais provável, ele não
vai correr o risco. Não vai permitir que minhas crianças semideusas façam dezesseis anos. Ele vai achar um jeito de destruí-las, e eu não vou arriscar isso!'
"Certamente," disse Maria. "Nós vamos ficar juntos. Zeus é un imbecile."
Eu não pude deixar de admirar a coragem dela, mas Hades olhou nervosamente para o teto. "Maria, por favor. Eu falei para você, Zeus me deu o prazo máximo de semana
passada para entregar as crianças. A ira dele vai ser horrível, e eu não posso escondê-la para sempre. Enquanto você estiver com as crianças, também vai estar em
perigo."
Maria sorriu, e de novo era esquisito o tanto que ela parecia com sua filha. "Você é um deus, meu amor. Você vai nos proteger. Mas eu não levarei Nico e Bianca para
o Submundo."
Hades torceu as mãos. "Então, há uma outra opção. Conheço um lugar no deserto onde o tempo não passa. Eu poderia mandar as crianças para lá, apenas por um tempo,
para a segurança delas, e nós poderíamos ficar juntos. Eu vou construir um palácio dourado para você à margens do Styx."
Maria di Angelo riu gentilmente. "Você é um homem bondoso, meu amor. Um homem generoso. Os outros deuses deveriam vê-lo assim como eu, e ele não o temeriam tanto.
Mas Nico e Bianca precisam da mãe deles. Além disso, são apenas crianças. Os deuses não os machucariam de verdade."
"Você não conhece minha família," Hades disse sombriamente. "Por favor, Maria, eu não posso te perder."
Ela tocou os lábios dele com os dedos. "Você não vai me perder. Espere por mim enquanto eu pego minha bolsa. Vigie as crianças."
Ela beijou o lorde dos mortos e se levantou do sofá. Hades observou ela subir as escadas como se cada passo dela para longe o causasse dor.
Um momento depois, ele ficou tenso. As crianças pararam de brincar como se tivessem sentido algo também.
"Não!" disse Hades. Mas mesmo os seus poderes divinos foram muito lentos. Ele apenas teve tempo de erguer um muro de energia negra em volta das crianças antes do
hotel explodir.
A força foi tão violenta, que a imagem de névoa inteira dissolveu. Quando focou de novo, vi Hades ajoelhado nas ruínaW, segurando a forma quebrada de Maria di Angelo.
Fogueiras ainda ardiam em volta dele. Relâmpagos brilhavam pelo céu, e trovões soavam.
Pequeno Nico e Bianca olhavam fixamente para sua mãe, sem compreender. A Fúria Aleco apareceu entre eles, sibilando e batendo suas asas encouraçadas. As crianças
não pareciam notá-la.
"Zeus!" Hades balançou seu punho para o céu. "Vou destruí-lo por isso! Vou trazer ela de volta!"
"Meu lorde, você não pode," Alecto avisou. "Você dentre todos os imortais deve respeitar as leis da morte."
Hades ardeu de raiva. Pensei que ele ia mostrar sua forma verdadeira e vaporizar seus próprios filhos, mas no último momento ele pareceu retomar o controle.
"Leve-os," ele disse para Alecto, segurando um soluço. "Limpe as memórias deles no rio Lete e leve-os para o Hotel Lótus. Zeus não irá feri-los naquele lugar."
"Como queira, meu lorde." Alecto disse. "E o corpo da mulher?"
"Leve ela também," ele disse amargamente. "Dê a ela os rituais antigos."
Alecto, as crianças e o corpo de Maria se dissolveram em sombras, deixando Hades sozinho nas ruínas.
"Eu avisei você," disse uma nova voz.
Hades se virou. Uma garota num vestido multicolorido estava em pé próximo aos restos fumegantes do sofá. Ela tinha um curto cabelo preto e olhos tristes. Ela não
tinha mais que doze anos. Eu não a conhecia, mas ela parecia estranhamente familiar.
"Você ousa vir aqui?" rosnou Hades. "Eu deveria reduzir você a pó!"
"Você não pode," disse a garota. "O poder de Delfos me protege."
Com um calafrio, percebi que estava olhando para o Oráculo de Delfos, no tempo em que ela estava viva e jovem. De algum jeito, vendo ela assim era ainda mais assustador
do que vê-la como uma múmia.
"Você matou a mulher que eu amava!" esbravejou Hades. "Sua profecia nos levou a isso!"
Ele foi para cima da garota, mas ela não recuou.
"Zeus ordenou a explosão para matar as crianças," ela disse, "porque você desafiou a vontade dele. Eu não tenho nada a ver com isso. E eu avisei você para escondê-los
mais cedo."
"Eu não podia! Maria não deixaria! Além disso, eles eram inocentes."
"Todavia, eles são seus filhos, o que os faz perigosos. Mesmo que você os guarde no Hotel Lótus, você apenas adia o problema. Nico e Bianca nunca vão poder retornar
ao mundo para que não completem dezesseis anos."
"Por causa da sua tão famosa Grande Profecia. E você me forçou a fazer um juramento para não ter outros filhos. Você me deixou sem nada!"
"Eu prevejo o futuro," a garota disse. "Eu não posso mudá-lo."
Fogo negro acendeu os olhos do deus, e eu sabia que estava vindo algo ruim. Eu quis gritar para a garota se esconder ou correr.
"Então, Oráculo, escute as palavras de Hades," ele rugiu. "Talvez você não possa trazer Maria de volta. Tampouco eu posso trazer uma morte precoce a você. Mas sua
alma continua mortal, e eu posso amaldiçoá-la."
Os olhos da garota se arregalaram. "Você não iria-"
"Eu juro," disse Hades, "enquanto minhas crianças permanecerem exiladas, enquanto eu me comportar sob a maldição da sua Grande Profecia, o Oráculo de Delfos nunca
terá outro hospedeiro mortal. Você nunca descansará em paz. Nenhum outro vai tomar seu lugar. Seu corpo irá murchar e morrer, e ainda assim o espírito do Oráculo
estará trancado dentro de você. Você irá pronunciar suas profecias amargas até que você se desintegre toda. O Oráculo irá morrer com você!"
A garota gritou, a imagem enevoada explodiu em pedaços. Nico caiu de joelhos no jardim de Perséfone, sua face branca de choque. Parado à sua frente estava o verdadeiro
Hades, elevando-se em suas vestes negras e franzindo as sobrancelhas para seu filho.
"E apenas o que," ele perguntou para Nico, "você pensa que está fazendo?"
Uma explosão negra preencheu meus sonhos. Então o cenário mudou.
Rachel Elizabeth Dare estava andando ao longo de uma praia de areia branca. Ela vestia um maiô com uma camisa amarrada à sua cintura. Seus ombros e rosto estavam
queimados de sol.
Ela se ajoelhou e começou a escrever com o dedo na areia molhada. Achei que minha dislexia estava agindo até que percebi que ela estava escrevendo em grego antigo.
Aquilo era impossível. O sonho tinha que ser falso. Rachel terminou algumas palavras e murmurou, "O quê no mundo?"
Eu consigo ler grego, mas eu apenas reconheci uma palavra antes que o mar levasse embora: ?e?se??. Meu nome: Perseus.
Rachel se levantou abruptamente e recuou para longe da onda.
"Oh, deuses," ela disse. "É isso que significa."
Ela se virou e correu, chutando areia para trás enquanto se apressava para voltar para a casa de campo de sua família.
Ela saltou os degraus do pórtico, respirando com dificuldade. O pai dela olhou por cima de seu Jornal da Wall Street.
"Papai." Rachel marchou até ele. "Nós temos que voltar."
A boca de seu pai se contorceu, como se ele estivesse tentando se lembrar de como sorrir. "Voltar? Nós acabamos de chegar."
"Há problemas em Nova York. Percy está em perigo."
"Ele ligou para você?"
"Não... não exatamente. Mas eu sei. É um pressentimento."
Sr. Dare dobrou seu jornal. "Sua mãe e eu estivemos planejando essas férias por um longo tempo."
"Não estiveram não! Vocês dois odeiam a praia! Vocês apenas são muito teimosos para admitir."
"Agora, Rachel-"
"Estou lhe dizendo que há algo de errado em Nova York! A cidade inteira... não sei o quê exatamente, mas está sob ataque."
O pai dela suspirou. "Acho que teríamos escutado algo desse tipo nos jornais."
"Não," Rachel insistiu. "Não esse tipo de ataque. Você já recebeu alguma ligação desde que chegamos aqui?"
O pai dela franziu a testa. "Não... mas é final de semana, no meio do verão."
"Você sempre recebe ligações," disse Rachel. "Você precisa admitir que isso é estranho."
O pai dela hesitou. "Nós não podemos apenas ir embora. Nós gastamos muito dinheiro."
"Olhe," disse Rachel. "Papai... Percy precisa de mim. Preciso entregar uma mensagem. É vida ou morte."
"Que mensagem? Do que você está falando?"
"Não posso lhe dizer."
"Então você não pode ir."
Rachel fechou os olhos como se estivesse tomando coragem. "Pai... deixe-me ir, e eu faço um acordo com você."
Sr. Dare sentou-se mais à frente. Acordos eram uma coisa que ele entendia.
"Estou escutando."
"Academia Clarion para Moças. Eu - eu vou para lá no outono. Não vou nem reclamar. Mas você precisa me levar de volta para Nova York agora."
Ele ficou em silêncio por um longo tempo. Então ele abriu seu telefone e fez uma ligação.
"Douglas? Prepare o avião. Nós estamos partindo para Nova York. Sim... imediatamente."
Rachel jogou seus braços em volta dele, e seu pai pareceu surpreso, como se ela nunca o tivesse abraçado antes.
"Vou lhe retribuir, papai!"
Ele sorriu, mas sua expressão era fria. Ele a estudou como se não estivesse olhando sua filha - apenas a jovem moça que ele queria que ela fosse, uma vez que a Academia
Clarion tivesse transformado ela.
"Sim, Rachel," ele concordou. "Certamente você vai."
A cena desvaneceu. Eu murmurei no meu sonho: "Rachel, não!"
Eu ainda estava me debatendo e virando quando Thalia me acordou com sacudidas.
"Percy," disse ela. "Venha logo. Já é fim de tarde. Nós temos visitas."
Eu sentei, desorientado. A cama era tão confortável, e eu odiava dormir no meio do dia.
"Visitas?" eu disse.
Thalia assentiu sombriamente. "Um Titã quer ver você, sob uma bandeira de trégua. Ele tem uma mensagem de Cronos."































CAPÍTULO TREZE - UM TITÃ ME DÁ UM PRESENTE

Nós podíamos ver a bandeira branca a meia milha de distância, ela era do tamanho de uma baliza de futebol, carregada por um gigante de nove metros com uma pele
azul e cabelos de um branco gelado.
"Um Hyperborean," Disse Thalia. "Os gigantes do norte. É um mau sinal que eles estejam do lado de Cronos. Geralmente eles são pacíficos."
"Você os conhece?" Eu disse.
"Mmm. Há uma grande colônia em Alberta. Você não vai querer entrar em uma guerra de bolas de neve com esses caras."
À medida que o gigante se aproximava, eu pude ver três formas humanas do seu lado: um meio-sangue de armadura, um demônio empusa vestida de negro com seu cabelo
flamejante e um homem alto em um smoking. A empusa pegou o braço do cara de smoking, então eles pareciam um casal em direção a um show da Broadway ou algo do tipo
- exceto pelo cabelo flamejante e as presas.
O grupo caminhou prazerosamente em direção ao Hecksher Playground. Os balanços e as quadras de baseball estavam vazios. O único som vinha da fonte no Unpire
Rock.
Olhei para Grover. "O cara de smoking é o Titã?"
Ele assentiu nervosamente. "Ele parece um mago. Eu odeio magos. Eles geralmente têm coelhos."
Eu o olhei assustado. "Você tem medo de coelhinhos?"
"Blah-hah-hah. Eles são grandes provocadores. Sempre roubando aipo dos sátiros indefesos."
Thalia tossiu.
"O quê?" Grover demandou.
"Nós vamos trabalhar na sua fobia de coelhinhos depois." Eu disse. "Eles estão vindo."
O homem de smoking deu um passo a frente. Ele era mais alto que um humano médio - cerca de sete pés. O seu cabelo estava colocado em um rabo de cavalo. Grandes
óculos escuros cobriam seus olhos, mas o que chamou minha atenção era a sua pele, estava cheia de arranhões. Como se um pequeno animal tivesse o atacado - um hamster
realmente muito, muito louco.
"Percy Jackson," ele disse em uma voz sedosa "É uma grande honra."
A sua amiga empusa assobiou para mim. Ela provavelmente havia ouvido sobre eu ter destruído duas amigas suas no verão passado.
"Minha queria," o Cara de Smoking disse a ela. "Por que não fica confortável por ali, em?"
Ela largou seu braço e se arrastou até um banco de praça.
Eu dei uma olhadela para o semideus ao lado do Cara de Smoking. Eu não conseguia reconhecê-lo no seu novo elmo, mas era meu velho guarda-costas Ethan Nakamura.
O seu nariz parecia um tomate amassado da nossa briga na ponte Williamsburg. Isso me fez sentir melhor.
"Hey, Ethan!" Eu disse. "Você parece bem."
Ele me olhou fixamente.
"À trabalho," o Cara de Smoking estendeu sua mão. "Sou Prometheu."
Eu estava surpreso com o gesto. "O ladrão-de-fogo? O cara acorrentado com os corvos?
Prometheu estremeceu. Ele tocou nos arranhões do seu rosto. "Por favor, não mencione os corvos. Mas sim, eu roubei o fogo dos deuses e dei aos teus antecessores.
Em retorno, o sempre piedoso Zeus me acorrentou em uma pedra e me torturou eternamente."
"Mas-"
"Como fiquei livre? Hercules o fez, eras atrás, como você vê. Eu sou o fraquinho dos heróis, alguns de vocês podem ser civilizados."
"Diferente da sua companhia, você diz," Eu notei.
Eu estava olhando para Ethan, mas Prometheu aparentemente olhou para a empusa.
"Oh, demônios não são tão ruins," ele disse. "Você só tem que mantê-los bem alimentados. Agora, Percy Jackson, vamos negociar."
Ele me levou até uma mesa de piquenique e nós sentamos. Thalia e Grover parados atrás de mim.
O gigante azul encostou a sua bandeira em uma arvore, e distraidamente começou a brincar no parquinho. Ele passou nas barras de macaco e as quebrou, mas ele
não parecia enfurecido. Ele apenas franziu o cenho e disse, "Uh-oh," Então foi até a fonte e quebrou a bacia de concreto na metade "Uh-oh." A água congelou quando
tocou seus pés. Um monte de bichos de pelúcia estava pendurado no seu cinto - o cara grande que ganha prêmios em um árcade. Ele me lembrou Tyson, e a idéia de lutar
com ele me deixou mal.
Prometheu sentou na minha frente e cruzou os dedos. Ele tinha um olhar sério, gentil e sábio. "Percy, a sua posição é fraca. Você sabe que não é capaz de agüentar
outro assalto."
"Veremos."
Prometheu olhou doido, como ele realmente se sentia com o que havia acontecido comigo. "Percy, eu sou o Titã da premonição, eu sei o que vai acontecer."
"Também o Titã do conselho astuto," Grover colocou. "Ênfase no astuto."
Prometheu sacudiu os ombros. "É verdade, sátiro. Mas eu apoiei os deuses na última guerra. Eu disse a Cronos 'Você não tem a força. Você vai perder.' E eu estava
certo. Então você vê, eu sei escolher o lado vencedor. Dessa vez eu estou indo com Cronos."
"Porque Zeus acorrentou você em uma pedra," Eu supus.
"Em parte, sim. Não vou negar que quero vingança. Mas essa não é a única razão de eu apoiar Cronos. É a escolha mais sábia. Eu estou aqui para que você possa
ouvir a razão."
Ele desenhou um mapa na mesa com o seu dedo. Onde quer que ele tocasse, aparecia uma linha dourada, brilhando no concreto. "Essa é Manhattan. Nós temos tropas
aqui, aqui, aqui e aqui. Nós sabemos seus números. Em números estamos em vinte contra um."
"O espião te mantém informado," Eu imagino.
Ele sorriu desculpando-se. "Em qualquer taxa, nossas forças vêm aumentando a cada dia. Hoje a noite, Cronos vai atacar. Você vai lutar bravamente, mas não há
forma de agüentar toda Manhattan. Você vai ser forçado a recuar até o prédio do Empire State. Então você vai ser destruído. Eu vi isso. Vai acontecer."
Eu passei pela imagem que Rachel havia desenhado nos meus sonhos - um exército na base do Empire State. Eu lembrei as palavras da menina Oráculo dos meus sonhos:
"Eu vejo o futuro. Eu não posso mudá-lo." Prometheu falou com muita certeza que era difícil não acreditar nele.
"Não vou deixar isso acontecer," Eu disse.
Prometheu escovou um pontinho para fora da lapela do seu smoking. "Entenda, Percy, você está relutando a Guerra de Tróia aqui. Padrões se repetem na historia.
Eles reaparecem como os monstros. Uma grande batalha. Dois exércitos. A única diferença, dessa vez você está defendendo. Vocês são Tróia. Você sabe o que aconteceu
com os Troianos, não é?"
"Então vocês vão enfiar um cavalo de madeira nos elevadores do prédio Empire State?" Eu perguntei. "Boa sorte."
Prometheu sorriu. "Tróia foi completamente destruída, Percy. Você não vai querer que isso aconteça aqui. Fique no lugar, e Nova Iorque vai ser poupada. Suas
forças vão ter anistia garantida. Eu vou pessoalmente me assegurar da sua segurança. Deixe Cronos pegar o Olimpo. Quem se importa? Tifão vai destruí-lo de qualquer
maneira."
"Certo," Eu disse. "E eu tenho que acreditar que Cronos vai poupar a cidade."
"Tudo que ele quer é o Olimpo," Prometheu prometeu. "O poder dos deuses está ligado aos seus lugares de poder. Você viu o que aconteceu ao palácio subaquático
de Poseidon quando foi atacado."
Eu vacilei, lembrando quão velho e decrépito estava meu pai.
"Sim," Prometheu disse tristemente. "Eu sei quão difícil foi para você. Quando Cronos destruir o Olimpo os deuses vão cair. Eles vão ficar tão fracos que serão
facilmente destruídos. Cronos vai fazer isso de preferência enquanto Tifão mantém os Olimpianos distraídos no leste. Varias vidas serão perdidas. Mas não cometa
nenhuma erro, o melhor que pode fazer é se acalmar. Depois de amanhã Tifão vai chegar a Nova Iorque, e vocês não terão nenhuma chance. Os deuses e o Monte Olimpo
serão destruídos, isso pode ser ainda pior. Muito, muito pior para você e sua cidade. De qualquer maneira, os Titãs irão ter o controle."
Thalia bateu seu punho contra a mesa. "Eu sirvo Artemis. As Caçadoras vão lutar até o seu último suspiro. Percy, você com certeza não vai aceitar essa bola de
meleca, ou vai?"
Eu vi Prometheu avançando nela, mas ele sorriu. "A sua coragem te dá credito, Thalia Grace."
Thalia retrucou. "Esse é o sobrenome da minha mãe. Eu não uso ele."
"Se você deseja," Disse Prometheu casualmente. Eu podia dizer o que estava acontecendo por baixo da sua pele. Eu nunca havia ouvido o sobrenome de Thalia. De
alguma forma ele conseguia fazer tudo parecer normal. Menos misterioso e poderoso.
"De qualquer forma," Ele disse "Você não precisa ser minha inimiga. Eu sempre fui auxiliar da humanidade."
"Isso é um monte de esterco de Minotauro," Thalia disse. "Quando os primeiros humanos foram sacrificados para os deuses, você trapaceou ficando com a maior parte.
Você nos deu fogo para incomodar os deuses, não porque se importava conosco."
Prometheu sacudiu a cabeça. "Você não entende. Eu ajudei a moldar o seu caráter."
Um pedaço de argila apareceu em suas mãos. Rapidamente o transformou em um boneco com braços e pernas. O pequeno homem não tinha olhos, mas cambaleava sobre
a mesa batendo-se nos dedos de Prometheu. "Eu venho sussurrando nos ouvidos dos homens desde o começo da sua existência. EU represento a sua curiosidade, o seu sendo
de exploração, a sua inventividade. Deixe-me te ajudar, Percy. Faça isso e eu darei um novo presente à humanidade - uma nova revelação que irá movê-la para frente
assim como o fogo fez. Você não pode fazer este tipo de avanço com os deuses. Eles nunca permitirão isso. Mas esta pode ser uma nova era de ouro para vocês. Ou..."
Ele bateu e o homem de argila virou uma panqueca.
O gigante azul roncou. "Uh-oh." Sobre o banco do parque, a empusa mostrou os seus dentes em um sorriso.
"Percy, você sabe que os Titãs e os seus descendentes não são todos maus," Prometheu disse. "Você deve conhecer Calypso."
Minha face ficou quente. "Isso é diferente."
"Quanto? Tanto quanto eu, ela não fez nada de errado, mas mesmo assim ela foi exilada para sempre simplesmente por ser filha de Atlas. Nós não somos os seus
inimigos. Não deixe que o pior aconteça," Ele advogou. "Nós te oferecemos paz."
Eu olhei para Ethan Nakamura. "Você deve odiar isto. Se nós fizermos o acordo, você não terá vingança. Você não vai matar a nós todos. Não é isso que você quer?"
O seu olho bom se alargou. "Tudo que eu quero é respeito, Jackson. Os deuses nunca me deram isso. Você me queria para ir ao seu estúpido acampamento, passando
meu tempo amontoado no chalé de Hermes porque eu não sou importante? Nunca reconhecido?"
Ele soou como Luke quanto tentou me matar na floresta no acampamento quatro anos atrás. A memória fez minha mão doer onde o escorpião havia me picado.
"Sua mãe é a deusa da vingança," Eu disse a Ethan. "Temos que respeitar isso?"
"Nemesis está para balancear! Quando uma pessoa tem sorte de mais, ele a puxa para baixo."
"Foi por isso que ela pegou o seu olho?"
"Foi pagamento," Ele grunhiu. "Em troca, ela jurou que um dia faria pender a balança do poder. Eu traria respeito aos deuses menores. Um olho é um pequeno preço
a pagar."
"Grande mãe."
"Ao menos ela manteve a sua palavra, ao contrario dos Olimpianos. Ela sempre paga as suas dividas - boas ou ruins."
"É!" Eu disse. "Então eu salvo a sua vida, e você me paga levantando Cronos. Isso é bom."
Ethan agarrou o punho da sua espada, mas Prometheu o deteve.
"Bem, bem," o Titã disse. "Estamos em uma missão diplomática."
Prometheu me estudou tentando entender a minha raiva. Então ele acenou com a cabeça como se tivesse pegado algo do meu cérebro.
"Incomoda-te o que aconteceu com Luke," ele decidiu. "Hestia não te mostrou toda a historia. Talvez você me entende..."
O Titã se estendeu.
Thalia chorou um aviso, mas antes que eu pudesse raciocinar, o dedo médio de Prometheu tocou a minha testa.

•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

De repente eu estava de volta à sala de May Castellan. Velas cintilaram sobre a lareira, refletidas nos espelhos ao longo das paredes. Através da porta da cozinha
eu podia ver Thalia sentada à mesa enquanto a Sra. Castellan enfaixava a sua perna ferida. Uma Anabeth de sete anos de idade sentava ao seu lado. Brincando coma
a Medusa de pelúcia.
Hermes e Luke sentavam separados na sala.
A face do deus parecia liquida à luz das velas, como se não soubesse que face adotar. Ele estava vestido em um uniforme da marinha com seus Reeboks alados.
"Por que se mostra agora?" Luke demandou. Ele parecia tenso, como se esperasse uma briga. "Todos esses anos eu venho chamando por você, pedindo para que você
aparecesse, e nada. Você me abandonou com ela." Ele apontou para a cozinha como se não pudesse olhá-la muito menos dizer seu nome.
"Luke, não a desonre," Hermes advertiu. "A sua mãe fez o melhor que pôde. É minha culpa, eu não quis intervir no seu caminho. Os filhos dos deuses têm que encontrar
os seus próprios caminhos."
"Então isso é o melhor para mim. Crescendo nas ruas, cuidando de mim mesmo, lutando com monstros."
"Você é meu filho," Hermes disse. "Eu conheço as suas habilidades. Quando eu era um bebê, eu me arrastei pelo meu berço para-"
"Eu não sou um deus! Somente uma vez, você poderia ter dito alguma coisa. Poderia ter me ajudado quando..." ele tomou um ar de entendimento, baixando a sua voz
para que ninguém na cozinha pudesse ouvir "Quando ela tinha um dos seus ataques me balançando e dizendo coisas malucas sobre o meu destino. Quando eu tentava me
esconder no armário então ela me encontrava com esses... esses olhos brilhosos. Você nunca se importou se eu estava assustado? Você alguma vez entendeu por que eu
fugi?"
Na cozinha, Sra. Castellan falava animada, colocando Kool-Aid para Thalia e Anabeth enquanto contava as historias de quando Luke era bebê. Thalia coçava a sua
bandagem na perna nervosamente. Anabeth passou para a sala de estar e levou um biscoito para Luke para que ele vê-se. Ela mexeu os lábios, Podemos ir agora?
"Luke, eu realmente me importo," Hermes disse calmamente. "Mas os deuses não podem interferir diretamente nos afazeres dos humanos. Essa é uma das Leis Antigas.
Especialmente com os seus destinos..." A sua voz foi desaparecendo. Fitando os candelabros se lembrando de algo desconfortante.
"O quê?" Luke disse. "O que sobre meu destino?"
"Você provavelmente não vai voltar," Hermes calou. "Isso te aborrece tanto. De qualquer modo, eu falei com Quirón no Acampamento Meio-Sangue e pedi para que
mandasse um sátrio recolher vocês."
"Nós estamos indo bem sem a sua ajuda," Luke grunhiu. "Agora, o que você estava falando do meu destino?"
As assas nos Reeboks alados de Hermes lutaram nervosamente. Ele estudou o seu filho como se tentasse gravar o seu rosto, e de repente uma sensação fria passou
por mim. Percebi que Hermes sabia o que os murmúrios de May Castellan significavam. Eu não sabia muito bem como, mas ao olhar para ele eu tinha absoluta certeza.
Hermes sabia o que havia acontecido a Luke algum dia, porque ele havia se tornado mau.
"Meu filho," Ele disse. "Eu sou o deus dos viajantes, o deus das estradas. Se eu sei de algo. É que você tem que trilhar seu próprio caminho, embora isso quebre
o meu coração."
"Você não me ama."
"Eu me prometi... Eu te amo. Vá para o acampamento. Eu posso ver que tens uma aventura perto. Talvez você possa matar a hidra, ou roubar a maçã de Hesperides.
Você vai ter a chance de ser um herói antes..."
"Antes do que?" A voz de Luke titubeou. "O que fez minha mãe ficar assim? O que vai acontecer comigo? Se você me ama, conte-me."
Hermes apertou o rosto. "Eu não posso."
"Então você não se importa," Luke gritou.
Na cozinha, a conversa morreu abruptamente.
"Luke," May Castellan chamou. "É você? Meu filhinho está bem?"
Luke se virou para esconder o seu rosto, mas eu pude ver as lágrimas nos seus olhos. "Estou bem. Eu tenho uma nova família. Eu não preciso de nenhum de vocês."
"Eu sou seu pai," Hermes insistiu.
"Um pai supostamente tinha que estar por perto. Eu nunca conheci você. Thalia, Anabeth, vamos! Estamos saindo!"
"Meu menino, não vá!" May Castellan chamou atrás dele. "Eu tenho o seu almoço preparado."
Luke saiu como uma tempestade pela porta. Thalia e Anabeth desajeitadas atrás dele. May Castellan tentou segui-lo, mas Hermes a puxou de volta.
Sobre a visão da porta batida. May Castellan caiu sobre os braços de Hermes e começou a se balançar. Seus olhos abriram - brilhando verdes - e ela desesperada,
agarrou os ombros de Hermes.
"Meu filho!" Ela silvou em uma voz seca. "Perigo. Destino terrível."
"Eu sei, meu amor," Hermes disse suavemente. "Acredite em mim, eu sei."

A imagem se afastou. Prometheu tirou o dedo da minha testa.
"Percy?" Thalia perguntou. "O que... O que foi isso?"
Percebi que estava inundado em suor.
Prometheu balançou a cabeça simpaticamente. "Terrível, não é? Os deuses sabem o que está por vir, e mesmo assim não fazem nada, nem pelos seus filhos. Quanto
eu tentei fazer com que eles te contassem a tua profecia, Percy Jackson? Você acredita que o seu pai não sabe o que vai te acontecer?"
Eu estava muito abatido para responder.
"Perrrcy," Grover advertiu. "Ele está brincando com a tua mente, tentando te deixar bravo."
Grover podia ler emoções, então talvez ele pudesse dizer o que Prometheu estava fazendo.
"Você realmente culpa o seu amigo Luke?" o Titã me perguntou. "E o que sabe sobre você, Percy? Você poderia estar sendo controlado pelo seu destino? Cronos te
ofereceu uma melhor escolha."
Eu fechei os meus punhos. Eu odiava o que Prometheu havia me mostrado, eu odiava Cronos ainda mais. "Eu te dou um acordo. Diga a Cronos para retirar o seu ataque,
deixar o corpo de Luke Castellan, e voltar para as profundezas do Tártaro. Então talvez não tenha que destruí-lo."
A empusa sibilou. O seu cabelo explodiu em chamas frescas, mas Prometheu apenas suspirou.
"Se você mudar de idéia," ele avisou. "Eu tenho um presente para você."
Um vaso grego apareceu sobre a mesa. Ele tinha uns noventa centímetros de altura e trinta de largura, ornamentado com desenhos geométricos em preto e branco.
A sua superfície lisa estava com um arnês.
Grover bufou quando o viu.
Thalia tossiu. "Esse não é -"
"Sim," Prometheu disse. "Você o reconhece."
Olhando para o vaso tive uma sensação de medo, mas não sabia o porquê.
"Isso pertenceu a minha cunhada," Prometheu explicou. "Pandora."
Algo se formou dentro de mim. "A da caixa de Pandora?"
Prometheu assentiu. "Eu não sei como esse negocio da caixa começou. Nunca foi uma caixa, isso é um pithos, um jarro de quebra-cabeça. Eu suponho que o pithos
de Pandora tenha o mesmo significado, mas nunca soube disso. Sim, ela abriu este jarro, que contém mais dos demônios que estão atacando a humanidade - medo, morte,
fome e doença."
"Não se esqueça de mim," a empusa falou.
"Realmente." Prometheu concedeu. "A primeira empusa que foi aprisionada neste jarro continua com Pandora. Mas o que eu acho mais interessante nesta historia
- Pandora sempre foi responsável. Ela foi punida por ser curiosa. Os deuses te fizeram saber disso em uma lição: a humanidade não tem que explorar. Eles não questionam
perguntas. Eles fazem o que lhes dizem. Na verdade, Percy, este jarro prisão foi feito por Zeus e os outros deuses. Isso foi por vingança a mim e a toda a minha
família - meu pobre e simples irmão Epimetheu e a sua esposa Pandora. Os deuses sabiam que ela abriria o jarro. Eles estavam esperando para punir toda a humanidade
e nós."
Eu pensei nos meus sonhos com Hades e Maria di Angelo. Zeus havia destruído um prédio inteiro apenas por dois semideuses. - só para salvar a sua própria pele,
porque ele estava com medo da profecia. Ele matou uma mulher inocente, e provavelmente não perdeu nenhuma noite de sono por isso. Hades não era melhor. Ele não era
poderoso o suficiente para ter sua vingança sobre Zeus, então ele puniu o Oráculo, transformando uma moça bonita em uma múmia. E Hermes... Por que ele abandonou
Luke? Por que ele não advertiu Luke? Ou então não deixou que se tornasse mal?
Provavelmente Prometheu estava brincando com minha mente.
Mas e se ele estivesse certo? Minha mente ponderou. O que torna os deuses melhores que os Titãs?
Prometheu tampou a boca do jarro de Pandora. "Somente falta um espírito ser libertado do jarro de Pandora."
"Esperança," Eu disse.
Prometheu olhou esperançoso. "Muito bem, Percy. Elpis, o Espírito da Esperança, não irá abandonar a humanidade. Esperança não sai se não lhe for dada permissão.
Ela só pode ser libertada por uma criança homem."
O Titã passou o jarro através da mesa.
"Eu te dou isso para que se lembre como os deuses são," ele disse. "Liberte Elpis, se você quiser. Mas se o que você quer ver é destruição, sobre sofrimento
fútil, então abra o jarro. Deixe Elpis ir. Liberte a esperança, eu te asseguro que irá se surpreender. Eu prometo que Cronos vai ser suave. Ele vai deixar os sobreviventes."
Eu olhei para o jarro e tive uma sensação muito ruim. Eu imaginei Pandora e estava totalmente ADHD, como eu. Eu nunca podia deixar as coisas sozinhas. Eu odiava
a tentação. O que se essa era a minha chance? Talvez a profecia se fosse ou mantivesse esse jarro fechado.
"Eu não quero a coisa," eu grunhi.
"Muito tarde," Prometheu avisou. "O presente foi dado, não tem volta atrás."
Ele parou, a empusa veio atrás dele e se postou sobre o seu braço.
"Morrain!" Prometheu chamou o gigante azul. "Nós estamos indo, pegue a sua bandeira."
"Uh-oh," o gigante disse.
"Ver-te-emos prontamente, Percy Jackson," Prometheu prometeu. "De uma forma ou de outra."
Ethan Nakamura me deu uma ultima olhada de ódio. Quando a patrulha se foi e passou a linha do Central Park, tudo pareceu como se fosse uma tarde ensolarada
de Domingo.






























CAPÍTULO CATORZE - PORCOS VOAM

De volta ao Plaza, Thalia me puxou de lado. "O quê Prometeu te mostrou?".
Relutante, eu contei a ela sobre a visão na casa de May Castellan. Thalia coçou sua perna como se estivesse lembrando-se dessa velha ferida.
"Foi uma noite ruim", ela admitiu. "Annabeth era tão pequena, eu não acho que ela realmente entendeu o que viu. Ela sabia apenas que Luke estava triste".
Eu olhei o Central Park pela janela. Alguns pequenos incêndios ocorriam no norte, mas mesmo assim a cidade parecia estranhamente pacífica. "Você sabe o que
aconteceu com a May Castellan? Quero dizer -".
"Eu sei o que você quer dizer", Thalia disse. "Eu nunca vi ocorrer nenhum, um, episódio, mas Luke me contou sobre os olhos brilhantes, as coisas estranhas
que ela falava. Ele me fez prometer nunca contar. O que causou, eu não faço ideia. Se Luke sabia, ele nunca me disse".
"Hermes sabia", eu disse. "Algo fez May ver partes do futuro de Luke, e Hermes entendeu o que aconteceria - como ele se transformaria em Cronos".
Thalia franziu a sobrancelha. "Você não pode ter certeza disso. Lembre-se de que Prometeu estava manipulando o que você via, Percy, mostrando o lado negativo.
Hermes amava Luke. Eu diria apenas de olhar para o rosto dele. E Hermes estava lá olhando May, cuidando dela. Ele não era inteiramente mau".
"Ainda não está certo", eu insisti. "Luke era apenas uma criança. Hermes nunca o ajudou, nunca o impediu de fugir".
Thalia pôs seu arco no ombro. Novamente fiquei espantado com o fato de ela não envelhecer mais. Você poderia quase ver um brilho prateado em volta dela - a
bênção de Ártemis.
"Percy", ela disse. "Você não pode começar a sentir pena de Luke. Todos nós temos coisas duras com que lidar. Todos os semideuses têm. Nossos pais raramente
estão por perto. Mas Luke fez escolhas ruins. Ninguém o forçou a fazer aquilo, na verdade -".
Ela olhou pela sala para ter certeza de que estávamos sozinhos. "Eu estou preocupada com Annabeth. Se ela tiver que enfrentar Luke na batalha, eu não sei se
conseguirá. Ela sempre teve uma quedinha por ele".
Sangue subiu até o meu rosto. "Ela vai ficar bem".
"Eu não sei. Depois daquela noite, depois que deixamos a casa da mãe dele? Luke nunca mais foi o mesmo. Ele ficou imprudente e carrancudo, como se tivesse
que provar algo. Quando Grover nos encontrou e tentou nos levar ao Acampamento... bom, uma parte do motivo de termos nos metido em tantas encrencas é porque Luke
não se cuidava. Annabeth não via aquilo como um problema. Luke era seu herói. Ela apenas entendeu que seus pais o deixaram triste e passou a defende-lo. Ela ainda
defende. Tudo que estou dizendo... não caia na mesma armadilha. Luke se entregou a Cronos agora. Nós não podemos pegar leve com ele".
Eu olhei os incêndios no Harlem, e me perguntei quantos mortais que dormiam estariam em perigo por causa das más escolhas de Luke.
"Você está certa", eu disse.
Thalia bateu de leve no meu ombro. "Eu vou olhar as Caçadoras e descansar antes do pôr-do-sol. Você deveria tentar também".
"A última coisa que eu preciso é de mais sonhos".
"Eu sei, acredite em mim". Sua expressão sombria me fez imaginar com o que ela estaria sonhando. Era um problema comum entre os semideuses: quanto mais perigosa
ficava a situação, piores os sonhos ficavam. "Mas Percy, não sabemos quando teremos outra chance de descansar. Será uma noite longa - talvez nossa última noite".
Eu não gostei, mas sabia que ela estava certa. Eu assenti cansado e entreguei o vaso de Pandora a ela. "Me faça um favor. Tranque isso no cofre do hotel, ta?
Eu acho que sou alérgico a pithos".(pithos - tipo de vaso de cerâmica da Grécia antiga, ver no Google imagens).
Thalia sorriu. "Você quem manda".
Eu encontrei a cama mais próxima e desmaiei. Mas é claro, o sono só trouxe mais pesadelos.

Eu vi o palácio submarino do meu pai. O exército inimigo estava mais perto agora, entrincheirado apenas algumas centenas de jardas do lado de fora do palácio.
As fortalezas tinham sido completamente destruídas. O templo que meu pai tinha suado como quartel general queimava em fogo grego.
Eu olhei para a sala de armas, onde meu irmão e outros Ciclopes estavam na pausa para o almoço, comendo enormes jarras de cookies com manteiga de amendoim
(e não me pergunte qual o gosto delas embaixo d'água, pois eu não queria saber). Conforme eu olhava, a parede exterior explodiu. Um guerreiro ciclope cambaleou para
dentro, tendo colapsos na mesa do almoço. Tyson se ajoelhou para ajudar, mas era muito tarde. O ciclope se dissolveu em areia do mar.
Gigantes inimigos tentaram entrar pela fenda aberta, e Tyson pegou o porrete do ciclope caído. Ele gritou algo para seus companheiros - provavelmente "Por
Poseidon!" - mas com sua boca cheia de manteiga de amendoim ficou como - "PUH PTEH BUN!" Seus irmãos pegaram martelos e cinzéis, gritaram "MANTEIGA DE AMENDOIM!"
e atacaram atrás de Tyson na batalha.
Então a cena mudou. Eu estava com Ethan Nakamura no campo inimigo. O que eu vi me deu arrepios, em parte porque o exército era imenso, em parte porque eu conhecia
o lugar.
Estávamos no sertão de Nova Jersey, numa estrada desintegrada, cheia de empresas velhas e outdoors esfarrapados. Uma cerca pisoteada cercava um grande jardim
repleto de estátuas de cimento. O outdoor no armazém estava difícil de ler, pois estava em vermelho cursivo, mas eu sabia o que estava escrito: EMPÓRIO DE ANÕES
DE JARDIM DA TIA EME.
Eu não pensava naquele lugar havia anos. Estava claramente abandonado. As estátuas estavam quebradas e pichadas de preto. Um sátiro de cimento - O Tio Ferdinand
de Grover - tinha perdido o braço. Parte do telhado tinha cavidades. Um grande aviso em amarelo na porta dizia: CONDENADO.
Centenas de barracas e fogueiras forravam a propriedade. Na maioria monstros, mas havia mercenários humanos e alguns semideuses também. Uma bandeira preta
e roxa estava hasteada fora do empório, guardada por dois hiperbóreos.
Ethan estava agachado perto da primeira fogueira. Outros semideuses sentavam com ele, amolando suas espadas. A porta do armazém se abriu, e Prometeu saiu.
"Nakamura", ele chamou. "O mestre gostaria de falar contigo".
Ethan levantou cautelosamente. "Aldo de errado?".
Prometeu sorriu. "Você terá que perguntar a ele".
Um dos outros semideuses abafou um riso. "Foi bom ter conhecido você".
Ethan arrumou sua bainha e entrou no armazém.
Com exceção do buraco no telhado, o lugar estava exatamente como eu lembrava. Estátuas de pessoas aterrorizadas estavam congeladas no centro. Na lanchonete,
as mesas de piquenique haviam sido arrastadas de lado. Entre o distribuidor de sodas e de rosquinhas quentes estava um trono dourado. Cronos estava lá, com sua foice
no colo. Ele usava jeans e uma camiseta, e com sua expressão ele parecia quase humano - como a versão mais jovem de Luke que eu vi na visão, pedindo a Hermes para
contar seu destino. Então Luke viu Ethan, e seu rosto formou um sorriso bem inumano. Seus olhos dourados brilharam.
"Bem, Nakamura. O que você achou da missão diplomática?".
Ethan hesitou. "Eu estou certo de que o lorde Prometeu é mais apto a falar -".
"Mas eu perguntei pra você".
O olho bom de Ethan disparou para frente e para trás, notando os guardas que rodeavam Cronos. "Eu... eu não acho que Jackson se renderá. Jamais".
Cronos assentiu. "Algo mais que você queira me dizer?".
"N-não, senhor".
"Você parece nervoso, Ethan".
"Não, senhor. É só que... eu ouvi falar que este era o albergue da-".
"Medusa? Sim, pura verdade. Lugar adorável, não é? Infelizmente, Medusa não se reformou desde que Jackson a matou, então não se preocupe em se juntar à coleção
dela. Além disso, há forças muito mais perigosas nesta sala".
Cronos olhou um Lestrigão gigante que mastigava ruidosamente algumas batatas fritas. Cronos acenou com a mão e o gigante congelou. Uma batata frita permanecia
suspensa a meio caminho de sua boca.
"Por que transformá-los em pedra", Cronos disse, "quando se pode parar o próprio tempo?".
Seus olhos dourados fitaram o rosto de Ethan. "Agora, me conte outra coisa. O que aconteceu ontem à noite na ponte Williamsburg?".
Ethan tremeu. Gotas de suor brotavam em sua testa. "Eu... eu não sei, senhor".
"Sim, você sabe". Cronos levantou de seu trono. "Quando você atacou Jackson, algo aconteceu. Algo não estava certo. A garota, Annabeth, pulou em sua frente".
"Ela queria salva-lo".
"Mas ele é invulnerável", Cronos disse baixinho. "Você mesmo viu".
"Eu não posso explicar. Talvez ela esqueceu".
"Ela esqueceu", Cronos disse. "É, deve ser isto. Oh, querido. Eu esqueci que meu amigo é invulnerável e levei uma facada por ele. Oops. Diga-me, Ethan, o que
você estava mirando quando o atacou?".
Ethan franziu a sobrancelha. Ele fechou o punho como se estivesse segurando uma lâmina, e fingiu uma estocada. "Eu não tenho certeza, senhor. Tudo ocorreu
muito rápido. Eu não estava mirando um lugar específico".
Cronos tamborilou sua foice com os dedos. "Eu vejo", ele disse friamente. "Se sua memória melhorar, eu vou querer -".
De repente o senhor dos Titãs estremeceu. O gigante na ponta da sala descongelou e a batata frita caiu em sua boca. Cronos recuou e sentou de novo em seu trono.
"Meu lorde?" Ethan arriscou.
"Eu-" A voz era fraca, mas apenas por um momento era a de Luke. Então sua expressão endureceu. Ele esticou as mãos e flexionou os dedos vagarosamente, como
se estivesse forçando-os a obedecê-lo.
"Não é nada", disse ele, sua voz inflexível e fria novamente. "Um pequeno desconforto".
Ethan umedeceu os lábios. "Ele ainda o confronta, não? Luke -".
"Tolice", Cronos cuspiu. "Repita essa mentira, e eu corto sua língua fora. A alma do garoto foi quebrada. Estou apenas me acostumando aos imites desta forma.
É necessário descansar. É chato, mas nada além de um inconveniente temporário".
"Como... como você disse, meu senhor".
"Você!", Cronos apontou sua foice a uma dracaena com armadura e uma coroa verdes. "Rainha Sess, não?".
"Ssssssim, meu lorde".
"A nossa surpresinha está pronta para ser liberada?".
A dracaena descobriu as presas. "Oh, ssssssim, meu lorde. É uma linda sssssurpresssa".
"Excelente", Cronos disse. "Diga ao meu irmão Hyperion para mover nossas forças ao sul até o Central Park. Os meio-sangues ficarão tão confusos que não saberão
como se defender. Vá agora, Ethan. Trabalhe sua memória. Conversaremos de novo quando tivermos tomado Manhattam".
Ethan se curvou, e meus sonhos mudaram uma última vez. Eu vi a Casa Grande do acampamento, mas era numa época diferente. A casa era vermelha, e não azul. Os
campistas na quadra de vôlei tinham cabelos do início dos anos 90, o que deveria servir para manter os monstros longe.
Quíron estava no portão, conversando com Hermes e uma mulher com um bebê no colo. O cabelo de Quíron era mais curto e mais escuro. Hermes usava sua roupa de
corrida habitual e seu tênis alado. A mulher era alta e bonita. Ela era loira, olhos brilhantes e um sorriso amigável. O bebê em seus braços contorcia-se como se
a última coisa que quisesse era estar no Acampamento Meio-Sangue.
"É uma honra tê-la aqui", Quíron disse para a mulher, mas ele parecia nervoso. "Faz muito tempo que não permitem a entrada de uma mortal no Acampamento".
"Não a encoraje", Hermes resmungou. "May, você não pode fazer isto". Ela não se parecia nem um pouco com a velha que eu conheci. Ela parecia cheia de vida
- o tipo de pessoa que poderia sorrir e fazer todos a sua volta se sentirem bem.
"Oh, não se preocupe tanto", May disse, balançando o bebê. "Você precisa de um Oráculo, não precisa? O último está morto a, o que, vinte anos?".
"Mais", Quíron disse gravemente.
Hermes esticou os braços, exasperado. "Eu não te contei a estória pra você imitar. É perigoso. Quíron, diga a ela".
"É", Quíron avisou. "Por muitos anos eu proibi qualquer um de tentar. Nós não sabemos exatamente o que aconteceu. Os humanos vêm perdendo a capacidade de hospedar
o Oráculo".
"Nós já passamos por isso", May disse. "E eu sei que posso fazer isso. Hermes, esta é a minha chance de fazer algo bom. Eu recebi o dom da visão por algum
motivo".
Eu queria gritar para May Castellan parar. Eu sabia o que estava para acontecer. Eu finalmente percebi porque sua vida tinha sido destruída. Mas eu não podia
falar ou me mexer.
Hermes parecia mais machucado do que preocupado. "Você não poderia se casar se você se tornasse o Oráculo", ele reclamou. "Você não poderia me ver mais".
May pôs sua mão no braço dele. "Eu não posso tê-lo para sempre, posso? Você vai seguir em breve. Você é imortal".
Ele começou a protestar, mas ela pôs sua mão em seu peito. "Você sabe que é verdade! Não tente poupar meus sentimentos. Além do mais, nós temos uma criança
linda. Eu ainda posso cuidar do Luke se eu for o Oráculo, certo?".
Quíron tossiu. "Sim, mas de qualquer maneira, eu não sei como isso afetará o espírito do Oráculo. Uma mulher que já pariu um filho - até onde eu sei, isso
nunca foi feito antes. Se o espírito não aceitar -".
"Ele irá", May insistiu.
Não, eu queria gritar. Não vai.
May Castellan beijou o bebê e o entregou a Hermes. "Já volto".
Ela deu um último sorriso confiante a eles e subiu as escadas.
Quíron e Hermes permaneceram em silêncio. O bebê gritava.
Um brilho verde saiu pelas janelas da casa. Os campistas param de jogar vôlei e olharam para o sótão. Um vento frio soprou pelos campos de morango.
Hermes deve ter sentido também. Ele chorou. "Não! NÃO!".
Ele entregou o bebê a Quíron e saiu correndo até o portão. Antes que ele alcançasse a porta, a tarde ensolarada foi cortada por um terrível grito de May Castellan.

Eu acordei tão depressa que bati com a cabeça no escudo de alguém.
"Ow!".
"Desculpa, Percy", Annabeth estava parada em frente a mim. "Eu estava para te acordar".
Eu esfreguei minha cabeça, tentando limpar as visões perturbadoras. De repente muitas coisas fizeram sentido para mim: May Castellan havia tentado se tornar
o Oráculo. Ela não sabia da maldição de Hades que prevenia o espírito de Delfos de se hospedar em outra pessoa. Nem Quíron nem Hermes. Eles não perceberam que, ao
tentar conseguir o fardo, May ficaria maluca, atormentada com colapsos onde seus olhos brilhariam em verde e ela vislumbraria pedaços do futuro de seu filho.
"Percy?", Annabeth perguntou. "O que há de errado?".
"Nada", eu menti. "O que... o que você está fazendo nesta armadura? Você deveria estar descansando".
"Ah, eu estou bem", ela disse, mas ainda parecia pálida. Ela mal mexia seu braço direito. "O néctar e a Ambrósia deram um jeito em mim".
"Uh-huh. Sério, você não pode ir lá fora e lutar".
Ela me ofereceu sua mão boa e me ajudou a levantar. Minha cabeça latejava. Lá fora, o céu estava roxo e vermelho.
"Você vai precisar de cada pessoa que tiver", ela disse. "Eu acabei de olhar no meu escudo. Há um exército -".
"Marchando em direção ao Central Park", eu disse. "Sim, eu sei".
Eu contei parte dos meus sonhos. Eu deixei de fora a visão de May Castellan, pois era perturbadora demais pra falar. Eu também deixei passar a especulação
de Ethan sobre Luke lutar contra Cronos dentro de seu corpo. Eu não queria alimentar as esperanças de Annabeth.
"Você acha que Ethan suspeita de seu ponto fraco?", ela perguntou.
"Eu não sei", admiti. "Ele não disse nada a Cronos, mas se ele descobrir -".
"Nós não podemos deixar".
"Vou bater mais forte na cabeça dele da próxima vez", eu sugeri. "Alguma ideia sobre o que seria a surpresa de Cronos?".
Ela balançou a cabeça. "Eu não vi nada no escudo, mas não gosto de surpresas".
"Concordo".
"Então", ela disse, "você vai discutir sobre eu me juntar a vocês?".
"Nah. Você acabou de me convencer".
Ela deu risada, o que foi bom de ouvir. Eu peguei minha espada e fomos nos juntar às tropas.

Thalia e os conselheiros nos esperavam no reservatório. As luzes da cidade brilhavam no crepúsculo. Eu acho que muitas delas estavam no timer automático. Candeeiros
ardiam nas margens dos lagos, fazendo a água e as árvores parecerem ainda mais fantasmagóricos.
"Eles estão vindo", Thalia confirmou apontando uma flecha para o norte. "Um dos meus batedores acabou de me informar que eles já cruzaram o Rio Harlem. Não
houve modo de pará-los. O exército", ela se encolheu. "É imenso".
"Nós vamos segurá-los no Parque", eu disse. "Grover, está pronto?".
Ele assentiu. "Tão preparado como jamais estaremos. Se meus espíritos podem pará-los em algum lugar, é lá".
"Sim, nós vamos!", disse uma outra voz. Um sátiro muito velho e gordo espremeu-se entre a multidão, tropeçando em sua própria lança. Ele vestia uma armadura
de casca de árvore que só cobria metade de sua barriga.
"Leneus?", eu disse.
"Não fique tão surpreso", ele xingou. "Eu sou o líder do concílio e você me pediu para achar Grover. Bom, eu o encontrei e não vou deixar um mero exilado liderar
os sátiros sem a minha ajuda!".
Grover tirou sarro de Leneus pelas costas, mas ele riu como se fosse o salvador do dia. "Jamais temeis! Nós vamos mostrar aos titãs!".
Eu não sabia se ria ou se ficava com raiva, mas consegui me manter firme. "Um... é. Bem, Grover, você não estará sozinho. Annabeth e a cabine de Atena postarão
guarda aqui. E eu e... Thalia?"
Ela me deu um tapinha no ombro. "Não diga mais nada. As Caçadoras estão prontas".
Eu olhei para os outros conselheiros. "Isto vos deixa com um trabalho tão importante quanto. Vocês devem guardar as outras entradas para Manhattam. Vocês sabem
o quão complicado o Cronos é. Ele tentará nos distrair com o exército grande e se infiltrar por outro lugar. Vocês devem garantir que isso não ocorra. Cada cabine
já escolheu sua ponte ou túnel?".
Os conselheiros assentiram friamente.
"Então vamos", eu disse. "Boa caçada a todos!".

Nós ouvimos o exército antes de enxergá-lo.
O barulho era como uma barragem de canhões combinados com um estádio de futebol lotado - como se todos os patriotas da Nova Inglaterra estivessem nos atacando
com bazucas.
Ao norte do reservatório, a vanguarda inimiga avançou pelas árvores - um guerreiro numa armadura dourada liderando um batalhão de Lestrigões gigantes com enormes
machados de bronze. Centenas de outros monstros vinham logo atrás deles.
"Posições!", Annabeth gritou.
Seus colegas de chalé subiram. A ideia era quebrar o exército inimigo em volta do reservatório. Para chegar até nós, eles teriam que vir pela trilha, o que
significava que eles teriam de marchar em fila indiana por cada lado da água.
A primeira vista, o plano parecia funcionar. O inimigo se dividiu e avançou pela margem. Quando eles estavam na metade do caminho, nossas defesas agiram. A
pista de caminhada explodiu em fogo Grego, incinerando muitos monstros instantaneamente. Outros dispararam ao redor, envoltos em chamas verdes. Os campistas de Atenas
jogaram ganhos nos Gigantes e os puxaram até caírem no chão.
Das árvores da direita, as Caçadoras dispararam uma saraivada de flechas prateadas na linha inimiga, destruindo vinte ou trinta dracaenae, mas mais marcharam
atrás delas. Um raio estalou pra fora dos céus e incinerou um Lestrigão até virar cinzas, e eu pensei que a Thalia devia estar fazendo uso daquela coisa de ser filha
de Zeus.
Grover pegou sua flauta e tocou uma rápida melodia. Um rugido veio do bosque, como se toda arvore, pedra ou arbusto estivessem brotando espíritos. Dríades e
sátiros se juntaram e atacaram. As árvores envolveram os monstros, esmagando-os. Grama se elevou em volta dos arqueiros inimigos. Pedras voaram e acertaram os rostos
das dracaenae.
O inimigo forçou o passo adiante. Gigantes esmagaram árvores e as náiades desapareciam enquanto suas fontes de vida eram destruídas. Cães infernais investiram
contra lobos de madeira, derrubando-os. Os arqueiros inimigos retaliaram e uma Caçadora caiu de um galho no alto.
"Percy!", Annabeth pegou meu braço e apontou para o reservatório. O Titã de dourado não estava esperando suas forças chegarem. Ele estava atacando diretamente
contra nós, caminhando sobre a superfície da água.
Uma bomba de fogo Grego explodiu bem em cima dele, mas ele estendeu a mão e tirou as chamas do ar.
"Hyperion", Annabeth disse com temor. "O senhor da luz. Titã do Oriente".
"Ruim?", eu adivinhei.
"Perto de Atlas, ele é o maior dos guerreiros Titãs. No passado, quatro Titãs controlaram os quatro cantos do mundo. Hyperion ficou com o leste - o mais poderoso.
Ele era o pai de Hélio, o primeiro deus do Sol".
"Vou mantê-lo ocupado", prometi.
"Percy, mesmo que você não conseguir -".
"Apenas mantenha nossas forças unidas".
Nós nos fixamos no reservatório por um bom motivo. Eu me concentrei na água e senti seu poder fluindo em mim.
Eu avancei contra Hyperion, correndo através da água. É, meu camarada. Dois podem jogar o jogo.
A 6 metros de distância, Hyperion ergueu sua espada. Seus olhos eram como quando eu os vi no meu sonho - tão dourado quanto os de Cronos, mas mais brilhantes
como mini sóis.
"O deus do mar é um fedelho", ele falou. "Foi você quem entregou o céu ao Atlas de novo?".
"Não foi difícil", eu disse. "Vocês Titãs são tão brilhantes quanto minhas meias de ginástica".
Hyperion rosnou. "Você quer brilho?".
Seu corpo se transformou numa coluna de luz e calor. Eu desviei o olhar, mas continuei cego.
Instantaneamente eu ergui Contracorrente - bem a tempo. A espada de Hyperion colidiu contra a minha. A onda de choque emanou uma onda de 3 metros sobre a superfície
do lago.
Meus olhos ainda queimavam. Eu tive que acabar com a luz dele.
Concentrei-me na onda e a forcei a voltar. Logo antes do impacto, eu saltei pra cima num jato d'água.
"AHHHHHH!" As ondas encontraram Hyperion e ele submergiu, sua luz se extinguindo.
Eu caí na água enquanto Hyperion lutava para se manter de pé. Escorria água de sua armadura dourada. Seus olhos não chamejavam mais, mas ainda pareciam assassinos.
"Você há de queimar, Jackson!" Ele rugiu.
Nossas espadas se encontraram novamente e o ar se encheu de ozônio.
A batalha ainda corria a nossa volta. No flanco direito, Annabeth liderava um ataque com seus irmãos. No esquerdo, Grover e seus espíritos da natureza se reagrupavam,
infernizando os inimigos com arbustos e ervas daninhas.
"Chega de jogos", Hyperion me disse. "Lutamos na terra".
Eu estava para dizer um comentário inteligente, como "Não", quando o Titã gritou. Uma parede de força se chocou contra mim no ar - o mesmo truque que Cronos
havia usado na ponte. Eu fui arremessado cerca de trezentas jardas para trás e capotei no chão. Se não fosse pela minha invulnerabilidade, eu teria quebrado cada
osso do meu corpo.
Eu fiquei de pé e lamentei. "Eu realmente odeio quando os Titãs fazem isso".
Hyperion se aproximou de mim numa velocidade cegante.
Eu me concentrei na água, adquirindo forças.
Hyperion atacou. Ele era rápido e poderoso, mas não parecia que ele acertaria o golpe. O chão em volta do pé dele continuava a pegar fogo, mas eu continuava
a apagá-lo logo em seguida.
"Pare!", o Titã rugiu. "Pare com esse vento!".
Eu não entendi bem o que ele quis dizer. Eu estava ocupado demais lutando.
Hyperion tropeçou como se estivesse sendo puxado de volta. Água jorrou em seu rosto, ferroando-lhe os olhos. O vento aumentou, e Hyperion cambaleou para trás.
"Percy?", Grover me disse espantado. "Como você está fazendo isso?".
Fazendo o que? Eu pensei.
Então eu olhei para baixo e percebi que estava no centro do meu próprio furacão. Nuvens de vapor d'água girava ao meu redor, ventos tão fortes que feriam Hyperion
e amassava a grama num raio de vinte jardas. Guerreiros inimigos arremessaram javalis contra mim, mas eles voaram de lado.
"Encantador", eu sussurrei. "Mas um pouco mais!".
Relâmpagos cintilaram ao meu redor. As nuvens enegreceram e a chuva girou mais depressa. Eu me aproximei de Hyperion e o levantei do chão.
"Percy!", Grover falou de novo. "Traga ele aqui".
Eu bati e golpeei, deixando meus reflexos me controlarem. Hyperion mal podia se defender. Seus olhos continuavam tentando se acender, mas o Furacão apagava
as chamas.
Entretanto, eu não poderia segurar uma tempestade dessas pra sempre. Eu podia sentir meu poder se esvaindo. Com um último esforço, eu propulsei Hyperion sobre
o campo até onde Grover estava.
"Não deixarei que brinquem comigo!", Hyperion gritou.
Ele começou a se levantar, mas Grover pegou sua flauta e começou a tocar. Leneus o acompanhou. Pelo bosque, cada sátiro entrou na melodia - uma melodia estranha,
como um rio correndo sobre pedras. O chão se rasgou sob os pés de Hyperion. Raízes nodosas envolveram suas pernas.
"O que é isso?" Ele protestou. Ele tentou se livrar das raízes, mas ainda estava fraco. As raízes engrossaram até que ele parecia estar usando botas de madeira.
"Parem com isso!", ele gritou. "Sua mágica florestal não é párea para um Titã!".
Mas quanto mais ele se contorcia, mais as raízes cresciam. Elas se enrolaram em seu corpo, transformando ele numa casca. Sua armadura dourada se misturou com
a madeira, fazendo parte de um grande tronco.
A música continuou. O exército de Hyperion recuou com espanto enquanto seu líder era absorvido. Ele esticou os braços que se tornaram galhos, de onde saíram
galhos menores e folhas. A árvore cresceu mais e mais até que apenas o rosto do Titã era visível no meio do tronco.
"Vocês não podem me aprisionar!", ele berrou. "Eu sou Hyperion! Eu sou -".
A casca cobriu seu rosto.
Grover tirou a flauta da boca. "É um belo carvalho".
Muitos outros sátiros desmaiaram de exaustão, mas eles cumpriram bem seus trabalhos. O lorde Titã estava completamente coberto por um carvalho. O tronco tinha
pelo menos seis metros de diâmetro, com galhos tão grandes quanto qualquer um no parque. A árvore parecia estar ali há séculos.
O exército do Titã começou a bater em retirada. Aplausos vieram da cabine de Atenas, mas nossa vitória foi cantada precipitadamente.
Porque só aí Cronos mostrou sua surpresa.

"REEEEET!".
O guincho penetrou Manhattam. Semideuses e monstros congelaram.
Grover olhou para mim em pânico. "Por quê este som se parece com... não pode ser!".
Eu sabia o que ele estava pensando. Dois anos atrás nós recebemos um "presente" de Pan - um javali gigante que nos carregou pelo sudoeste (depois de tentar
nos matar). O javali tinha um guincho parecido, mas o que nós tínhamos ouvido agora parecia maior e mais estridente, quase como se... como se o javali tivesse uma
namorada aborrecida.
"REEEEEET!" Uma criatura gigantesca e rosa planou sobre o reservatório - um dirigível do dia de ação de graças com asas.
"Um porco!", Annabeth exclamou. "Protejam-se!".
Os semideuses fugiram enquanto a porca atacava. Suas asas eram rosas como as de um flamingo, combinando perfeitamente com seu tom de pele, mas era impossível
pensar nela como uma graça enquanto seus cascos batiam no chão, raspando num dos irmãos de Annabeth. O porco pisou e destruiu cerca de meio acre de árvores, arrotando
uma nuvem de gases nocivos. Ele decolou de novo, voando em círculos para um novo ataque.
"Não me diga que aquela coisa é da mitologia Grega!", eu disse.
"Receio que sim", Annabeth disse. "O Porco Clasmoniano. Ele aterrorizou cidades na Grécia Antiga".
"Deixa-me adivinhar", eu disse. "Hércules o derrotou".
"Não", disse ela. "Até onde eu sei, nenhum herói conseguiu derrotá-lo".
"Perfeito", eu murmurei.
O exército Titã estava se recuperando do choque. Acho que eles perceberam que o porco não estava atrás deles.
Nós tínhamos apenas segundos antes que eles estivessem prontos para lutar, e nossas forças ainda estavam em pânico. Toda vez que o porco arrotava, os espíritos
da natureza de Grover ganiam e voltavam pras florestas.
"Aquele porco tem que ir embora". Eu peguei um gancho de um dos irmãos de Annabeth. "Eu dou conta dele. Vocês cuidam do exército. Empurrem-nos de volta!".
"Mas Percy", Grover disse. "E se nós não pudermos?".
Eu vi o quão cansado ele estava. A mágica tinha realmente drenado suas forças. Annabeth não parecia muito melhor depois de ter lutado com o ombro machucado.
Eu não sei como as Caçadoras estavam se saindo, mas o flanco direito do inimigo estava agora entre elas e nós.
Eu não queria deixar meus amigos na pior, mas aquele porco era o mais difícil. Ele destruiria tudo: edifícios, árvores, mortais adormecidos. Ele tinha que
ser parado.
"Recue se precisar", eu disse. "Apenas atrasem-nos. Eu voltarei assim que puder".
Antes que pudesse mudar de ideia, eu estava girando o gancho como um laço. Quando o porco veio para a próxima investida, eu arremessei com toda a minha força.
O gancho enroscou-se na base da asa do porco. Ele gritou de raiva e se afastou, levando a corda comigo junto para o céu.

Se você tiver que andar pelo Central Park, sugiro que pegue o metrô. Porcos voadores são mais rápidos, mas muito mais perigosos.
O porco sobrevoou o Plaza Hotel, direto até o cânion da quinta avenida. Meu plano brilhante era subir na corda até o porco e montar suas costas. Infelizmente
eu estava muito ocupado balançando e me desviando dos postes e das laterais dos prédios.
Outra coisa que eu aprendi: uma coisa é subir uma corda na academia. Outra é você tentar subir uma corda balançando presa à asa de um porco enquanto você voa
a 160 quilômetros por hora.
Nós voamos em zigue-zague em direção sul até a Avenida Park.
Chefe! Hei chefe! Entrando no meu campo de visão eu vi Blackjack se aproximando e tomando cuidado para não acertar as asas do porco.
"Cuidado!", eu avisei.
Monta aí! Blackjack relinchou. Eu pego você...eu acho.
Não era muito tranqüilizador. O Grand Central jazia logo a frente. Na entrada, a gigantesca estátua de Hermes, que eu acredito não ter sido ativada por causa
da altura. Eu estava voando em direção a ela numa velocidade desintegradora de semideuses.
"Fique alerta", eu falei pro Blackjack. "Eu tive uma ideia".
Oh, eu odeio as suas ideias.
Eu me joguei para o lado com toda a força. Ao invés de me esmagar contra a estátua, eu girei em torno dela, enrolando a corda nos braços dela. Eu pensei que
isso prenderia o porco, mas eu subestimei a força cinética de um porco de trinta toneladas em pleno vôo. Assim que o porco arrancou a estátua do pedestal, eu o deixei
ir. Hermes foi dar uma voltinha, tomando meu lugar como carona do porco, e eu caí em queda livre até a rua.
Naquele segundo eu me lembrei de quando minha mãe trabalhava numa loja de doces no Grand Central. Eu pensei em como seria ruim terminar como uma massa estatelada
no chão.
Então uma sombra passo sob mim e então thump - eu estava nas costas do Blackjack. Não era o tipo de transporte mais confortável. Na verdade, quando eu gritei
"OW!", minha voz saiu uma oitava acima do normal.
Desculpe, chefe, Blackjack grunhiu.
"Sem problemas", eu gani. "Siga aquele porco!".
O leitão virou a direita na 42ª Leste e estava voando de volta para a Quinta Avenida. Quando ele passou pelos telhados, eu podia ver alguns incêndios aqui
e ali na cidade. Meus amigos estavam tendo sérios problemas. Cronos estava atacando em vários lugares. Mas naquele momento, eu tinha meus próprios problemas.
A estátua de Hermes ainda estava amarrada. Ela continuava batendo nos prédios e balançando. O porco passou por uma oficina, e Hermes bateu numa caixa d'água
no telhado, esparramando água e madeira pra todo lado.
Então me ocorreu algo.
"Chegue mais perto", eu falei pro Blackjack.
Ele relinchou em protesto.
"Só a uma distância razoável", eu disse. "Eu preciso falar com a estátua".
Agora eu tenho certeza que você está perdido, chefe, Blackjack disse, mas fez o que eu pedi. Quando eu estava perto o suficiente para olhar o rosto da estátua,
eu disse: "Olá Hermes! Sequência de comando: Dédalo Vinte e Três. Matar Porcos Voadores. Começar ativação!".
Imediatamente a estátua começou a mexer as pernas. Ela parecia confusa ao perceber que não estava mais no Terminal Grand Central. Ao invés disso, ela estava
voando, presa a uma corda e a um porco gigante. Ela arrebentou uma parte de uma parede de tijolos, o que eu acho que a deixou meio brava. Ela balançou a cabeça e
começou a subir na corda.
Eu olhei de volta para a rua. Estávamos nos aproximando da biblioteca municipal, com os grandes leões de mármore flanqueando as entradas. De repente, eu tive
um pensamento irado: As estátuas de pedra poderiam ser autômatos também? Parecia louco, mas...
"Mais rápido", eu falei pro Blackjack. "Fique a frente do porco. Insulte-o".
Um chefe -.
"Confie em mim", eu disse. "Eu posso fazer isso... eu acho".
Oh, claro. Engane o cavalo.
Blackjack explodiu adiante pelo ar. Ele podia voar realmente rápido quando quisesse. Ele chegou a frente do porco, que tinha um Hermes de metal nas costas.
Blackjack relinchou. Você fede como presunto! Ele deu um coice no focinho do porco com seu casco traseiro e mergulhou. O porco rugiu de raiva e seguiu.
Nós paramos a alguns passos da biblioteca. Blackjack diminuiu o suficiente para eu desmontar, depois continuou em direção a porta.
Eu gritei: "Leões! Sequência de comando: Dédalo Vinte e Três. Matar Porcos Voadores. Iniciar ativação!".
Os leões ficaram e me fitaram. Eles deviam achar eu estava brincando com eles. Mas então: "REEEEEET!".
O enorme monstro leitão cor de rosa aterrou com um baque, rachando a calçada. Os leões o encaram, não acreditando em sua sorte e decalcaram. Ao mesmo tempo,
um Hermes muito raivoso pulou na cabeça do porco e começou a bater impiedosamente nela com um caduceus. Os leões tinham garras bem antipáticas.
Eu peguei Contracorrente, mas não havia muito que fazer. O porco se desintegrou diante de meus olhos. Eu quase me senti culpado. Esperei que ele encontrasse
o javali dos sonhos no Tártaro.
Quando o porco se esvaiu totalmente em areia, a estátua de Hermes e os leões ficaram confusos.
"Vocês podem defender Manhattam agora", eu falei, mas eles não pareciam me ouvir. Eles começaram a correr pela Park Avenue, e eu imaginei que eles continuariam
a procurar porcos voadores ate que alguém os desativasse.
Hey, chefe, Blackjack disse. Podemos fazer uma pausa para comer Donuts?
Eu limpei o suor da sobrancelha. "Eu adoraria, grandão, mas a luta ainda está rolando".
Na verdade, eu podia senti-la chegando mais perto. Meus amigos precisavam de ajuda. Eu montei Blackjack e nós voamos na direção dos sons das explosões.



































CAPÍTULO QUINZE - QUIRON IMPRESSIONA NA FESTA

O centro da cidade era uma zona de guerra. Voávamos sobre pequenas batalhas, que estavam espalhadas por toda parte.
Um gigante rasgava arvores em Bryant Park com tanta violência que as Dríades eram atiradas longe como nozes. Fora do Waldorf Astoria, uma estátua de bronze
de Benjamin Franklin foi fatiada por um enorme cão do inferno como se fosse um rolo de jornal. Um trio de campistas de Hefesto combatia um esquadrão de dracaenae
no meio do Rockfeller Center.

Eu fiquei tentado em parar e ajudar, mas soube que a partir da fumaça e do barulho, a verdadeira ação tinha se deslocado mais para o Sul. As nossas defesas estavam
desmoronando. O inimigo estava nos cercando ao redor do Empire State Building.
Fizemos uma rápida limpeza ao redor daquela área. As Caçadoras tinham criado uma linha defensiva na 37th, apenas três quadras ao norte do Olympus. No leste em Park
Avenue, Jake Mason e alguns outros Campistas de Hefesto, levavam um exército de estátuas contra o inimigo. Para o oeste, os campistas de Demetra e os espíritos da
natureza liderados por Grover, estavam na Sexta Avenida em uma floresta atrasando um esquadrão de semideuses de Cronos.
O sul estava limpo por enquanto, mas os flancos do exército inimigo já estavam se movimentando para lá. Em alguns minutos estaríamos totalmente cercados.

"Temos que descer onde eles mais precisarem de nós", eu murmurei.
Isso significa em qualquer lugar, chefe.
Na 33rd com o túnel da Avenida do Parque, eu avistei um estandarte com uma familiar coruja de prata no meio de uma feroz batalha.
Annabeth e duas de suas irmãs travando uma luta com um gigante do norte.
"Lá!" Eu falei para Blackjack. Ele mergulhou em direção da Batalha. Eu saltei de suas costas e aterrissei na cabeça do gigante.
Quando o gigante olhou para cima, eu deslizei pelo seu rosto, rasgando seu nariz no caminho para baixo com contracorrente.
RAWWWR! "O gigante recuou, sangue azul escorria de suas narinas. Eu caí no pavimento e corri. O gigante soprou uma nuvem branca de neblina, e a temperatura caiu.
O local onde eu havia caído à poucos segundos estava revestido de gelo, e eu estava coberto por flocos brancos como uma rosquinha de açúcar.
" Ei, feioso." Annabeth gritou. Eu esperava que fosse para o gigante e não pra mim.
O garotão azul gritou e virou na direção dela, expondo as partes desprotegidas de suas pernas. Eu voltei e o esfaqueei bem atrás do joelho.
WAAAAH! "O gigante do norte entortou. Esperei que virasse para meu lado, mas ele congelou. Quero dizer que ele literalmente virou para um bloco sólido de gelo. Nesse
ponto eu o acertei novamente, apareceram fissuras em seu corpo. Elas foram ficando maior até que o gigante se despedaçou em uma enorme montanha de cacos azuis
.
"Obrigado." Annabeth contraiu-se, tentando tomar fôlego.
"O porco?"
" Costeletas de porco," eu disse.
"Deus". Ela flexionou seu ombro. Obviamente, a ferida ainda a estava incomodando, mas ela levantou seus olhos e disse. ''Eu estou bem, Percy. Vamos lá! "Ainda tem
muitos inimigos para a gente enfrentar."
Ela tinha razão. A próxima hora foi um borrão. Lutei como nunca antes havia lutado, atravessei por legiões de dracaenae, matando dúzias de telkhines com cada ataque,
destruindo empousai s e batendo em montes de semideuses inimigos. Não importavam quantos eu vencia, mais deles tomavam seu lugar.
Annabeth e eu corremos de quadra para quadra, tentando nos certificar de nossas defesas ainda estavam lá. Muitos de nossos amigos estavam caídos e feridos nas calçadas.
E muitos haviam desaparecido.
Com o cair da noite a lua ficou mais alta, nós fomos obrigado a recuar pé após pé, até que restava apenas uma quadra de distância em qualquer direção para chegar
ao Empire State Building. Em certo ponto Grover estava próximo de mim, golpeando as mulheres cobras na cabeça com sua clava. Em seguida, ele desapareceu no meio
da multidão, e desta vez era Thalia, fazendo os monstros recuarem com o poder da magia de seu escudo. Sra. O'leary corria para todo o lugar, pegando um Lestrigão
gigante em sua boca, e lançando para cima como se fosse um Frisbee. Annabeth usou seu boné de invisibilidade para se colocar atrás das linhas inimigas. Havia sempre
um monstro com um olhar surpreso e desintegrando- se em seguida sem razão aparente, eu sabia que tinha sido Annabeth. Mas ainda não era suficiente.
"Mantenha suas posições!" Katie Gardner gritou, em algum lugar da minha esquerda.
O problema era que havia muito poucos de nós para deter tantos inimigos. A entrada para o Olympus estava a vinte pés de mim. Um anel de semideuses corajosos, caçadoras
e espíritos da natureza guardavam as portas. Eu bati, cortei e destrui tudo que estava em meu caminho, estava muito cansado, não poderia estar em todo lugar ao mesmo
tempo.
Atrás das tropas inimigas, a poucos quarteirões a leste, uma luz começou a brilhar. Eu pensei que era o nascer do sol.
Percebi que era Cronos avançando em nossa direção em uma carruagem dourada. Uma dezena de Lestrigões gigantes seguravam tochas à sua frente. Dois gigantes do norte
carregavam estandartes preto e roxo.
O senhor Titã parecia forte e descansado, os seus poderes estavam em plena força. Ele avançava devagar, deixando-nos para desgastar cada vez mais.
Annabeth apareceu ao meu lado. "Temos recuar para o portão. E mantê-lo a todo custo!"
Ela tinha razão. Eu estava prestes a dar a ordem quando ouvi uma trombeta de caça.
Ele soou através dos ruídos da batalha como um alarme de incêndio.
Um coro de trombetas responderam ao redor de nós, ecoando em todos os prédios de Manhattan.
Eu dei uma olhada para Thalia, mas ela amarrou a cara.
" Não são as caçadoras," assegurou-me. "Estamos todas aqui."
" Então, quem?"
O som das trombetas aumentou. Eu não sabia de onde vinha por causa do eco, mas soou como se um exército inteiro se aproximasse.
Fiquei com medo, poderia ser mais inimigos, mas as forças de Cronos pareciam tão confusas quanto nós. Os gigantes abaixaram suas clavas. As Dracaenae sibilaram.
Mesmo Cronos e sua guarda de honra pareciam desconfortáveis.
Então, em nossa esquerda, uns cem monstros gritaram de uma só vez.
O flanco norte inteiro de Cronos marchou em nossa direção. Pensei que
estávamos condenados, mas não atacaram. Eles passaram por nós e se juntaram aos aliados do Sul. Novos toques de trombetas chacoalharam a noite. O ar tremulou.
Em um borrão de movimentos, surgiu toda uma cavalaria que parecia ter chegado na velocidade da luz. " Yeah, baby!"uma voz gritou. "Festa!"
Um chuva de setas passou por cima de nossas cabeças e encontraram nossos inimigos, vaporizando centenas de demônios. Mas estas não eram setas normais. Eles faziam
um zumbido enquanto voavam tipo WHEEEEEE! Algumas tinham um cata-vento preso a elas. Outras tinham luvas de boxe ao invés de pontas.
" Centauros!"Annabeth gritou.
O partido dos Pôneis armados explodiu no meio de nós com uma confusão de cores: Camisas tingidas de arco-íris, perucas afro, enormes óculos escuros e caras pintadas
para a guerra. Alguns tinham slogans escritos em suas costas como CAVALOS MANDAM ou CHUPA CRONOS.
Centenas deles encheram o quarteirão. Meu cérebro não conseguia processar tudo ao mesmo tempo, mas eu sabia que se eu fosse o inimigo, estaria correndo.
"Percy!"Quiron gritou através daquele mar de centauros selvagens.
Ele estava vestido de armadura da cintura para cima, com seu arco nas mãos, abriu um sorriso de satisfação. "Desculpe pelo atraso!"
"CARAS!"Outro centauro gritou. "conversem mais tarde. HORA DE DETONAR OS MONSTROS! "
Ele engatilhou e apontou uma arma de paintball de cano duplo, atirando em seguida algo brilhante e rosa explodindo um cachorro do inferno. A bala de tinta devia
ter alguma mistura de bronze celestial, porque logo que o cachorro do inferno foi atingido, ele gritou e se dissolveu em uma poça rosa e preta.
"Partido dos pôneis!"um centauro gritou. "SUL DA FLORIDA! "
Do outro lado do campo de batalha, uma segunda voz fanhosa gritou de volta, "TEXAS, DIVISÃO CENTRAL!"
"HAWAII, POR NOSSA CONTA!"uma terceira gritou.
Foi a coisa mais linda que eu já vi. Todo o exército dos Titãs virou e fugiu, empurrados para trás por uma avalanche de tiros de paintball, setas, espadas, e tacos
de baseball. Os centauros pisavam em tudo no seu caminho.
"Pare de correr, seus idiotas!"Cronos gritou. "Fiquem em ACKK!"
Esta última parte foi porque um gigante do norte entrou em pânico e sentou em cima dele.
O senhor do tempo desapareceu embaixo de uma enorme bunda azul.
Eles os empurraram por vários quarteirões até que Quiron gritou, "Parem! mantenhan suas posições, parem!"
Não foi fácil, mas finalmente a ordem chegou às últimas fileiras de centauros, e eles começaram a parar, deixando o inimigo escapar.
"Quiron é inteligente", Annabeth disse, limpando o suor de seu rosto. "Se prosseguir-mos, vamos nos espalhar demais. Precisamos nos reagrupar."
" Mas e os inimigos-"
" Eles não estão derrotados", ela concordou. "Mas já vai amanhecer. Pelo menos ganhamos algum tempo:"
Eu não gostei de ter recuado, mas eu sabia que ela estava certa. Eu assistia a dois Telkhines fugindo em direção a East River. Depois, me virei e relutantemente
comandei a volta para o Empire State Building.
Criamos um perímetro de duas quadras, com uma tenda de comando no Empire State Building. Quiron nos informou que o Partido dos Pôneis tinham enviado filiados de
quase todos os estados da união: Quarenta da Califórnia, dois de Rhode Island, trinta de Illinois. . . Cerca de quinhentos no total tinham respondido ao convite
e mesmo com tantos, não poderíamos defender mais do algumas quadras.
"Cara," disse um centauro chamado Larry. Sua camiseta o identificava como GRANDE CHEFE SUPER LEGAL, divisão novo México.
"Isso foi mais divertido do que a nossa última convenção em Las Vegas!"
" Sim," disse Owen de Dakota do Sul. Ele usava uma jaqueta negra de couro e um capacete antigo da segunda guerra. "Nos acabamos com eles!"
Quiron bateu nas costas de Owen. "Você fez bem, meu amigo, mas não vamos nos descuidar. Cronos não pode ser subestimado. Agora por que você não vai visitar o restaurante
na 33rd e toma um bom café da manhã. Tomar café? Eu ouvi dizer que a divisão de Delaware encontrou uma reserva de cerveja de raiz."
" Cerveja de raiz!" Saíram no galope um quase atropelando o outro. Quiron sorriu.
Annabeth deu-lhe um grande abraço, e Sra. O'Leary uma lambida no seu rosto.
"Yek," Grunhiu ele. "Chega desse, cão. Sim, estou feliz de vê-lo também."
" Quiron, obrigado." eu disse. "Por salvar o dia."
Ele encolheu os ombros. ''Lamento por termos demorado. Centauros viajam rápido, como sabem. Podemos curvar a distância quando galopamos. Mesmo assim, reunir todos
não foi tarefa fácil."
" O partido dos pôneis não é exatamente organizado. "'
" Como vocês conseguiram atravessar as defesas mágicas em torno da cidade? "Annabeth perguntou.
" Elas nos atrasaram um pouco", admitiu Quiron, "mas eu acho que elas foram principalmente destinadas a manter os mortais de fora. Cronos não quer os fracos seres
humanos no caminho de sua grande vitória."
" Então talvez outros reforços possam chegar", eu disse esperançoso. Quiron passou a mão em sua barba. "Talvez, mas o tempo é curto. Logo que Cronos reagrupar, ele
irá atacar novamente.
Desta vez, sem o elemento surpresa de nosso lado... "
Eu percebi o que ele quis dizer. Cronos não foi derrotado. Não por muito tempo. Eu meio que tinha esperança que ele havia sido achatado pela enorme bunda do gigante
do norte, mas por dentro eu sabia. Ele iria voltar, no mais tardar esta noite.
" E Typhon?"Eu perguntei.
O rosto de Quiron escureceu. "Os deuses estão cansados. Dionísio foi incapacitado ontem. Typhon abateu sua carruagem e o Deus do vinho caiu em algum lugar dos Apalachis.
Ninguém o viu desde então. Hefesto também está fora de ação. Ele foi jogado tão violentamente de uma batalha que acabou criando um novo lago na Virginia do Oeste.
Ficará bem em breve, mas não o suficiente para ajudar. Os outros ainda lutam. Eles conseguiram atrasar a chegada de Typhon. Mas o monstro não pode ser detido. Ele
vai estar em Nova York, mais ou menos nesta hora amanhã. Então ele e Cronos combinaram suas forças- "
Então que chances teremos?"Eu disse. "Nós nem podemos agüentar mais um dia."
" Teremos que agüentar", Thalia falou. "Tenho algumas novas idéias de armadilhas para defender o perímetro."
Ela parecia exausta. Sua camisa estava untada de sujeira e pó de monstro, cambaleando um pouco, mas ainda conseguindo se manter em pé.
"Eu vou ajudá-la; 'Quiron decidiu." Preciso me assegurar que meus irmãos não irão longe demais com a cerveja de raiz."
Pensei "longe demais" o Partido dos Pôneis merecia a comemoração, mas Quiron já estava a meio galope, deixando Annabeth e eu sozinhos.
Ela limpou o lodo de monstro de sua faca. Eu a vi fazer isso centenas de vezes, mas eu nunca pensei sobre o porquê ela cuidava tão bem da lâmina.
"Pelo menos a sua mãe está bem," Eu falei. "Se você chama lutar com Typhon é estar bem." Ela olhou bem para mim. "Percy, mesmo com os centauros ajudando, estava
pensando."
" Eu sei. "Tive um mau pressentimento que essa poderia ser a nossa última oportunidade de conversar, e eu senti que havia um milhão de coisas que eu não tinha
dito a ela. "Escute, houve uma ... uma visão que Hestia me mostrou."'
"Você quer dizer sobre Luke?"
Talvez tenha sido só um palpite, mas eu estava sentindo que Annabeth sabia onde eu queria chegar. Talvez ela também tenha tido sua própria visão.
"Sim," eu disse. "Você, Thalia e Luke. A primeira vez que se encontraram. E a vez que encontraram Hermes."
Annabeth colocou sua faca na bainha. "Luke prometeu que nunca iria deixar ninguém me machucar. Ele disse... ele disse que seríamos uma nova família, e seria a melhor."
Os olhos dela me lembraram aquela menina de sete anos de idade, em um beco escuro, com medo, desesperada por um amigo.
"Thalia falou comigo hoje mais cedo;" eu disse. "Ela tem medo-"
" Que eu não possa enfrentar Luke," ela disse lastimosamente.
Eu assenti. "Mas há outra coisa que você deveria saber.
Ethan Nakamura achava que Luke ainda estava vivo dentro de seu corpo, talvez até lutando com Cronos por seu controle. "
Annabeth tentava esconder, mas eu quase poderia vê-la analisando a possibilidade disso, talvez até começasse a ter esperanças.
"Eu não queria te contar," Eu admito. Ela olhou para o Empire State Building. "Percy, por tanto tempo na minha vida, eu senti que tudo estava mudando, todo o tempo.
Eu não tinha ninguém que podia confiar."
Eu assenti. Isso é algo que a maioria dos semideuses poderia compreender.
"Eu fugi quando eu tinha sete anos,"disse ela." Então, com Luke e Thalia, eu pensei que tinha encontrado uma família, mas fomos separados quase imediatamente. O
que estou dizendo ... Odeio quando as pessoas me decepcionam, quando as coisas são temporárias. Eu acho que é por isso que eu quero ser uma arquiteta. "
"Para construir algo permanente", eu disse. "Um monumento para durar milhares de anos."
Ela fitou os meus olhos. "Eu acho que isso soa como a minha falha moral de novo."
" Anos atrás, no mar de monstros," Annabeth disse que sua maior falha era o orgulho, pensando que poderia viver sem se fixar em nada ou a ninguém.
Eu mesmo vi um vislumbre do seu desejo mais profundo, mostrado a ela pela magia das Sereias. Annabeth tinha imaginado sua mãe e pai juntos, em frente de uma recém
-
reconstruída Manhattan, projetado por ela. E Luke estava lá também, bom novamente e bem vindo em sua nova casa.
"Acho que eu entendo como se sente," eu disse. "Mas Thalia está certa. Luke já traiu você tantas vezes. Ele era mal antes mesmo de conhecer Cronos. Eu não quero
que você se machuque novamente. Annabeth apertou seus lábios. Eu poderia dizer que ela estava tentando não ficar furiosa. "E você vai entender se eu te disse que
ainda tenho esperanças que vocês estejam errados."
Olhei para longe. Eu senti que tinha feito o meu melhor, mesmo assim não me sentia bem com isso.
Do outro lado da rua, os campistas de Apollo tinha criado um campo hospital para atender dezenas de feridos- campistas e quase todas as caçadores. Eu assistia ao
trabalho médico,
e pensava nas nossas pequenas chances de defender o Olympus...
E de repente: Eu não estava mais lá.
Eu estava parado em um Bar, grande e sujo, paredes pretas, luzes de neon por todo o lado, e um monte de adultos festejando. Um banner atrás do bar dizia FELIZ ANIVERSÁRIO,
BOBBY EARL. Música sertaneja tocando nos auto falantes. Grandes caras de jeans e camisas de trabalho lotavam o bar. Garçonetes levando tabuleiros de bebidas e gritando
umas para as outras. Era exatamente o lugar que minha mãe nunca deixaria eu ir.
Eu estava próximo ao fundo da sala, junto aos banheiros (que não cheiravam tão bem) perto de um par de máquinas antigas de fliperama.
"Ah Deus, você está aqui", disse o homem, para a máquina de Pac-Man. ''Eu vou pegar uma Coca Diet."
Ele era um homem atarracado, em uma camisa havaiana parecida com pele de leopardo, shorts roxo, tênis vermelho, meias pretas, que não faziam ele se misturar com
a multidão. Seu nariz era vermelho brilhante. Uma bandagem estava em torno de sua cabeça sobre os cabelos pretos e curtos, como se ele estivesse recuperando de uma
concussão.
Eu pisquei. "Oi Senhor D?" Ele suspirou, sem tirar os olhos do jogo. "Realmente, Peter Johnson, quanto tempo demorou para me reconhecer? "
"O tempo exato para você acertar meu nome, "Eu murmurei" Onde estamos?" "O que você acha? na festa de aniversário de Bobby Earl", disse Dionísio.
"Algum adorável lugar rural da América."
" Eu pensei que Typhon tinha te abatido do céu. Eles disseram que você se arrebentou na aterrissagem."
" Sua preocupação é comovente. Me arrebentei mesmo. Muito dolorosamente. Na realidade, parte de mim ainda está enterrado sob uns cem pés de escombros em uma mina
de carvão abandonada. Ainda vai levar muitas horas para eu ter força suficiente para me curar. Apesar disso, parte da minha consciência está aqui."
"Em um bar, jogando Pac-Man."'
"Hora de lazer", disse Dionísio. "Certamente você já ouviu falar disso.
Sempre que há uma festa, a minha presença é invocado. Por causa disto, eu posso existir em muitos locais diferentes de uma só vez. O único problema foi encontrar
uma festa. Não sei se você está cientes de quão sério as coisas estão fora de sua pequena e segura bolha em Nova York-"
" Pequena bolha segura?"
"-mas acredite, os mortais aqui fora, no coração da América estão em pânico. Typhon tem aterrorizado eles. Muito poucos estão festejando. Aparentemente Bobby Earl
e seu amigos,
foram abençoados por um tempo. Eles ainda não descobriram que o mundo está acabando."
"Então ... eu não estou mesmo aqui?"
"Não. Em um momento vou lhe enviar de volta a sua normal e insignificante vida, e será como se nada tivesse acontecido."
"E por que você me chamou?"
Dionísio suspirou. "Oh, eu não queria você em particular.
Qualquer um de seus amigos heróis idiotas serviria. Atá a garota-Annie."
"Annabeth."
"O ponto é que," ele disse, "Eu trouxe você aqui para uma advertência. Estamos em perigo. "
"Pô,"'eu disse." Não tinha percebido ainda. Obrigado. "
Ele olhou para mim e esqueceu momentaneamente o seu jogo. O Pac-Man foi comido pelo fantasma vermelhinho.
"ERRE ES Korakas, Blinky!" Dionísio me amaldiçoou. "Eu vou ter sua alma! "
"Hum, é só um jogo de vídeo game." eu disse.
"Isso não é desculpa! Você está arruinando meu jogo, Jorgenson! "
"Jackson".
"Que seja! Agora ouça, a situação é mais grave do que você imagina. Se Olympus cair, não só os deuses que desapareceram."
"Mas tudo que estiver conectado ao nosso legado também irá desaparecer!"
"A estrutura de sua pequena e fraca civilização."
O jogo emitiu um som e o Senhor D passou para o nível 254.
"Ha!" gritou. "Tome isto, você seu pixel malvado!"
"hum, a estrutura de nossa civilização; Eu repeti.
"Sim, sim. Sua sociedade irá se dissolver. Talvez não logo, mas marque minhas palavras, o caos dos Titãs significará o fim da civilização ocidental. Arte, Direito,
degustação de vinho, música, vídeo, camisas de seda, calcinhas de veludo preto, todas as coisas que fazem a vida valer à pena irão desaparecer! "
"Então, porque os deuses não vem correndo para nos ajudar?" Eu disse.
"Devemos juntar nossa forças no Olimpo. Esquecer Typhon". Ele batia os dedos impacientemente. "Você esqueceu da minha Coca Diet."
"Deus, você é irritante." Consegui a atenção de uma garçonete e pedi a estúpida Coca. Coloquei na conta do Bobby Ear.
O senhor D bebeu um longo gole. Seus olhos nunca deixando o vídeo game. "A verdade, Pierre-"
"Percy ".
"-Os deuses nunca irão admitir, mas realmente precisamos de vocês mortais para salvar o Olympus. Percebe, nos somos manifestações de sua cultura. Se vocês não se
importarem o suficiente para salvar o Olympus- "
"Como Pan; 'Eu disse," dependendo dos sátiros para salvar a natureza."
"Sim, isso mesmo. Vou negar que eu te disse, naturalmente, mas os deuses precisam dos heróis. Eles sempre precisaram. Caso contrário porque nos manteríamos crianças
chatas como você no acampamento."
"Eu me sinto tão querido. Obrigado."
"Use o treinamento que te ensinei." "Que treinamento?"
"Você sabe. Todas essas técnicas de herói e... Não! " Senhor D bateu no videogame. "Na pari i eychi! O último nível!"
Ele olhou para mim, e um fogo púrpuro bruxuleou em seus olhos.
"Pelo que me lembro, eu previ uma vez que você iria revelar-se tão egoísta como todos os outros heróis humanos. Bem, aqui está a sua oportunidade de prova que eu
estava errado."
" Certo, fazer você ficar orgulhoso está no topo de minha lista."
" Você deve salvar o Olympus, Pedro! Deixe Typhon para os Olimpianos e salve os nossos tronos. Deve ser assim! "
"Ótimo. Foi uma boa conversa. Agora, se você não se importa, meus amigos estão me esperando-" "Não, ainda tem mais; " O senhor D alertou. "Cronos ainda não alcançou
sua força plena. O corpo do mortal era apenas uma medida temporária."
" Nós tipo que presumimos isto."
"E você também deve presumir que dentro de um dia no máximo, Cronos vai queimar o corpo do mortal e assumir sua verdadeira forma de rei Titã?"
"E isso significaria..."
Dionísio pareceu misericordioso. "Você conhece as verdadeiras formas dos deuses."
"Sim. Você não pode olhar para eles sem fritar."
"Cronos ficará dez vezes mais poderoso. Sua simples presença incineraria você, e uma vez que ele esteja de volta, vai dar mais poder aos outro Titãs."
" Eles estão fracos agora, em comparação com o que logo se tornarão, a menos que você possa detê-los. O mundo cairá, os deuses morrerão, e eu nunca baterei
o Recorde dessa estúpida máquina."
Talvez eu devesse ter ficado petrificado, mas honestamente, já estava tão assustado quanto poderia agüentar.
"Posso ir agora"' Perguntei.
"Uma última pergunta. Meu filho Pollux. Ele está vivo?"
Pestanejei. "Sim, ele está."
"Eu apreciaria muito se você pudesse protegê-lo para mim. Perdi seu irmão Castor no ano passado-"
"Eu me Lembro." Fiquei olhando para Dionísio com a idéia que ele poderia ser um bom pai. Eu pensei em quantos Olimpianos pensavam em seus filhos semideuses
neste momento. "'Farei o meu melhor."
"O seu melhor," murmurou Dionísio. "Bem, não me conforta muito."
" Vá agora. Você tem algumas surpresas sórdidas para tratar, e eu vou derrotar essa máquina!"
"Surpresas sórdidas?"
Ele mexeu sua mão, e o bar desapareceu.
Eu voltei para a Quinta Avenida. Annabeth não tinha se movido. Ela não deu nenhum sinal de que algo estranho havia acontecido.
Ela me olhou de cara amarrada. "O quê?"
"... Não, Digo." "Nada, eu acho."
Eu olhei avenida abaixo, me perguntando o que o Senhor D queria dizer com surpresas desagradáveis. Como é que poderia piorar?
Meus olhos repousavam sobre um surrado carro azul. O capô havia sido mordido, como se alguém pegasse um martelo e fizesse algumas crateras. Minha pele arrepiou.
Porque esse carro parecia familiar? Então eu percebi que era um Prius. O carro de Paul.
Fiquei petrificado. "Percy!" Annabeth falou. "O que está havendo?"
Paul estava desmaiado no banco do motorista. Minha mãe ao lado dele roncando. Minha mente parecia mingau. Como eu não tinha visto isso antes? Eles deviam
estar aqui, sentados no meio do transito por mais de um dia, e nos batalhando ao seu redor, e nem sequer notei.
"Eles... eles devem ter visto aquelas luzes azuis no céu"
Eu puxei as portas, mas estavam bloqueadas. "Eu preciso tirá-los daí."
"Percy." Annabeth disse suavemente.
"Eu nem deixei ela terminar!" Parecia um louco batendo no para brisas. "Tenho que tirá-los. Eu Tenho-"
"Percy, apenas... Apenas espere." Annabeth acenou para Quiron, que estava conversando com alguns centauros uma quadra abaixo.
"Nós podemos empurrar o carro para uma rua lateral, tudo bem? Eles ficaram bem."
Minhas mãos tremiam. Depois de tudo que eu tinha passado ao longo desses últimos dias, sentindo-me tão estúpido e fraco, mas vendo meus pais ali, daquele jeito,
me fez querer quebrar tudo.
Quiron galopou até nós. "O que é... Ah, meu Deus. Estou vendo."
"Eles estavam vindo nos encontrar,"'eu disse." Minha mãe deve ter sentido que algo estava errado."
"Provavelmente", disse Quiron. "Mas, Percy, eles vão ficar bem. "
"A melhor coisa que podemos fazer por eles é manter-nos concentrados em nosso trabalho."
Então, eu notei uma coisa no banco traseiro do Prius, o meu coração disparou. Afivelado com o cinto de segurança, no banco estava uma jarra grega preta e branca
com cerca de três pés de altura. Sua tampa estava embrulhada em um arnês de couro.
"De jeito nenhum", eu murmurei.
Annabeth colocou sua mão na janela para enxergar melhor. "Isto é impossível! Eu pensei que você tinha deixado no Plaza."
"Fechado em um cofre," eu concordei.
Quiron viu a jarra e arregalou os olhos. "Isso não é-"
"A jarra de Pandora". Eu contei a ele sobre o meu encontro com Prometeu. "Então, o jarro é seu." Quiron me disse amedrontado. "Ele seguirá você e vai tentá-lo a
abri-lo, não importa onde você o abandone. Ela irá aparecer quando você estiver mais fraco."
Como agora, eu pensei. Olhando para os meus pais impotentes.
Eu imaginei Prometeu rindo, tão ansioso para ajudar a nós pobres mortais. Dou-lhe Esperança, eu saberei quando você estiver se rendendo. Eu prometo que Cronos será
leniente.
Subiu uma raiva dentro de mim. Puxei contracorrente e atravessei a janela do lado do motorista como se estivesse cortando plástico.
"Vou colocar o carro em ponto morto." Eu disse. "Vamos tirar ele da rua. E levar esta estúpida jarra para o Olympus." Quiron assentiu. "Um bom plano. Mas, Percy..."
Seja o que for que fosse dizer, vacilou. Um som mecânico com batidas repetidas, aumentava conforme chegava mais perto - o chop-chop-chop de um helicóptero.
Em uma normal segunda-feira pela manhã em Nova Iorque, isto não teria sido grande coisa, mas após dois dias de silêncio, um helicóptero mortal, era a coisa mais
esquisita que eu estava ouvindo. A poucas quadras a leste, os monstros do exército de Cronos, gritaram zombarias quando o helicóptero entrou em vista. Era um modelo
civil pintado de vermelho escuro, com um logo "DE" brilhando em verde ao lado. As palavras sob o logotipo eram demasiado pequenas para ler, mas eu sabia que elas
diziam: DARE ENTERPRISES.
Fiquei emudecido. Olhei Annabeth e poderia diz ela reconheceu o logotipo também. Seu rosto estava tão vermelho como o helicóptero.
"O que é que ela está fazendo aqui?" Annabeth quis saber. "Como que ela passou da barreira?"
"Quem?" Quiron parecia confuso. "Que mortal seria louco o suficiente." De repente, o helicóptero inclinou em nossa frente.
"O encanto de Morpheus!" Quiron disse. "O tolo piloto mortal esta dormindo."
Eu assisti com horror quando o helicóptero adernava para o lado, caindo na direção de uma fila de edifícios de escritórios. Mesmo se ele não batesse, os deuses do
ar provavelmente o derrubariam por estar tão perto do Empire State Building.
Não sabia o que fazer, mas Annabeth assobiou para Guido o Pégasos que desceu nem sei de onde. Você chamou um cavalo bonitão? Ele perguntou.
"Vamos, Percy." Annabeth gritou. "Temos que salvar sua amiga."'





















CAPÍTULO DEZESSEIS - SOMOS AJUDADOS POR UM LADRÃO

Aqui está minha definição para não divertido. Voar em um pegasus direto para um helicóptero sem-controle. Se Guido não fosse um excelente piloto, teríamos
virado confete.
Eu podia ouvir Rachel gritando lá dentro. De algum jeito, ela não tinha caído no sono, mas eu podia ver o piloto deitado sobre os controles, balançando pra
frente e pra trás, enquanto o avião ia direto para um edifício empresarial.
"Idéias?" Eu perguntei a Annabeth.
"Você terá que pegar o Guido e sair." ela disse.
"E o que você vai fazer?"
Em resposta, ela disse. "Hyah!" e Guido mergulhou.
"Pato!" Annabeth gritou.
Passamos tão perto das hélices, que senti a força delas no meu cabelo. Voamos pelo lado do helicóptero, e Annabeth segurou a porta.
Foi então que as coisas deram errado.
As asas de Guido bateram contra o helicóptero. Ele despencou comigo em suas costas, deixando Annabeth pendurada na aeronave.
Eu estava tão aterrorizado que mal conseguia pensar, mas enquanto Guido rodopiava, pude ter um lampejo de Rachel puxando Annabeth para dentro.
"Pouse aqui!" Eu gritei para Guido.
Minha asa, ele gemeu. Está quebrada.
"Você consegue!" Eu tentei me lembrar desesperadamente do que Silena tinha dito nas aulas de vôo de pegasus. "Apenas relaxe a asa. Estique ela e plane."
Cai feito uma pedra - direto para o asfalto, noventa metros abaixo. Na ultima hora, Guido estendeu suas asas. Eu vi os rostos boquiabertos dos centauros,
olhando para nós. Então saímos de nosso mergulho, navegando uns cinqüenta metros, e caindo sobre o asfalto - pegasus sobre semideus.
Ow! Guido gemeu. Minhas pernas. Minha cabeça. Minhas asas.
Quiron galopou com sua mala de primeiros socorros, e começou a trabalhar no pegasus.
Eu levantei. Quando olhei para cima, meu coração foi pra minha garganta. O helicóptero estava a segundos de bater no lado do edifício.
Então, por milagre, o helicóptero desviou sozinho. Ele girou em um circulo e planou. Lentamente, ele começou a descer.
Pareceu demorar anos, mas finalmente o helicóptero pousou no meio da Quinta Avenida. Eu olhei para o pára-brisa, e não podia consegui acreditar no que eu
estava vendo. Annabeth estava nos controles.


Eu corri enquanto as hélices paravam de rodar. Rachel abriu a porta lateral e saiu do lado do piloto.
Rachel ainda estava vestida como nas férias, com shorts de praia, uma camisa, e sandálias. Seu cabelo estava embaraçado e seu rosto estava verde devido à
corrida de helicóptero.
Annabeth saiu por ultimo.
Eu olhei para ela com admiração. "Eu não sabia que você sabia voar de helicóptero."
"E nem eu," ela disse. "Meu pai é louco por aviação. E também, Dédalo tinha algumas anotações sobre máquinas voadoras. Eu só dei o meu melhor nos controles."
"Você salvou minha vida." Rachel disse.
Annabeth flexionou seu ombro machucado. "É, bem... Mas não vamos fazer disso um hábito. O que você está fazendo aqui, Dare? Você sabe de nada melhor do que
voar numa zona de guerra?"
"Eu -" Rachel olhou para mim. "Eu tinha que estar aqui. Eu sabia que Percy estava em problemas."
"Estava certa," Annabeth grunhiu. "Bem, se vocês me desculparem, eu tenho alguns amigos injuriados para cuidar. Ainda bem que você pôde parar, Rachel."
"Annabeth -" eu chamei.
Ela desapareceu.
Rachel sentou no meio fio, e colocou sua cabeça entre as mãos. "Desculpe-me Percy. Eu não queria... Eu sempre estrago tudo."
Era meio difícil discutir com ela, embora eu estivesse feliz que ela estivesse a salvo. Eu olhei na direção onde Annabeth tinha ido, desaparecido no meio
da multidão. Eu não conseguia acreditar no que ela tinha feito - salvado a vida de Rachel, aterrissado um helicóptero, e ido embora como se não houvesse nada demais.
"Tudo bem," Eu disse a Rachel, mas minhas palavras pareciam vazias. "Então, qual era a mensagem que você queria me contar?"
Ela congelou. "Como você sabe disso?"
"Um sonho."
Rachel não pareceu surpresa. Ela puxou seus shorts de praia. Eles estavam cobertos por desenhos, que não eram o de costume dela, mas estes símbolos eu reconhecia:
Letras gregas, imagens de contas de campistas, desenhos de monstros e rostos de deuses. Eu não entendia como Rachel podia saber sobre isso. Ela nunca esteve no Olimpo
ou no Acampamento Meio Sangue.
"Eu tenho visto coisas também," ela murmurou. "Digo, não através da Névoa. Isso é diferente. Eu tenho desenhado imagens, escrito textos -"
"Em grego antigo," eu disse. "Você sabe o que elas significam?"
"Era sobre isso que eu queria falar com você. Eu esperava que... Bem, se você tivesse vindo nas férias com agente, eu esperava que você pudesse me ajudar
a descobrir o que estava acontecendo comigo."
Ela olhou para mim suplicadamente. Seu rosto estava bronzeado pela praia. Seu nariz estava descascando. Eu ainda não conseguia superar o choque de ela esta
aqui em pessoa. Ela forçou sua família a encurtar suas férias, concordado em entrar em uma escola horrível, e voado em um helicóptero direto para uma batalha de
monstros só para me ver. Do seu modo, ela era tão corajosa quanto Annabeth.
Mas o que estava acontecendo com ela e essas suas visões, realmente estavam me enlouquecendo. Talvez fosse algo que acontece com todos os mortais que podem
ver pela Névoa. Mas minha mãe nunca tinha falado sobre algo assim. E as palavras de Hestia sobre a mãe de Luke continuavam voltando a minha cabeça: May Castellan
foi longe demais. Ela tentou ver muito.
"Rachel," Eu disse. "Eu gostaria de saber. Talvez pudéssemos perguntar a Quiron -"
Ela recuou como se tivesse levado um choque. "Percy, algo esta prestes a acontecer. Uma trapaça que termina em morte."
"Como assim? Morte de quem?"
"Eu não sei," ela olhou para os lados nervosamente. "Você não sente?"
"Essa era a mensagem que você queria me contar?"
"Não." Ela hesitou. "Desculpe-me. Eu não estou sendo clara, mas esse pensamento veio até mim. A mensagem que escrevi na praia era diferente. Ela tinha seu
nome escrito."
"Perseus," Eu lembrei. "Em grego antigo."
Rachel concordou. "Eu não sei o que significa. Mas eu sei que é importante. Você tem que ouvi-la. Ela dizia: Perseus, você não é o herói."
Eu olhei para ela como se tivesse me batido. "Você viajou milhares de quilômetros para me dizer que eu não sou o herói?"
"É importante," ela insistiu. "Isso afetará o que você faz."
"Não o herói da profecia?" Eu perguntei. "Não o herói que derrota Cronos? O que você ta querendo dizer?"
"Des... Desculpe-me, Percy. Isso é tudo o que sei. Eu tinha que te dizer por que -"
"Bem!" Quiron veio galopando. "Essa deve ser a Senhorita Dare."
Eu queria gritar para ele ir embora, mas é claro que eu não poderia. Eu tentei manter meu controle. Senti-me como se tivesse outro furacão pessoal rodando
ao meu redor.
"Quiron, Rachel Dare," eu disse. "Rachel, esse é o meu professor Quiron."
"Olá," Rachel disse melancolicamente. Ela não parecia muito surpresa por Quiron ser um centauro.
"Você não esta adormecida Senhorita Dare," ele percebeu. "E ainda você é uma mortal?"
"Eu sou uma mortal," ela concordou, como se fosse uma conclusão obvia. "O piloto adormeceu assim que passamos pelo rio. Eu não sei por que eu não dormi.
Eu só sabia que eu tinha que estar aqui, para avisar Percy."
"Avisar o Percy?"
"Ela tem visto coisas," Eu disse. "Escrevendo textos e fazendo desenhos."
Quiron levantou uma sobrancelha. "Verdade? Conte-me."
Ela disse a ele o mesmo que tinha me dito.
Quiron acariciou sua barba. "Senhorita Dare... Talvez devêssemos conversar."
"Quiron," falei sem pensar. Eu tive uma horrível visão do Acampamento Meio Sangue na década de noventa, e os gritos de May Castellan vindos do sótão. "Você...
Você ajudará Rachel, não é? Digo, você a avisará que ela tem que tomar cuidado com essa coisa. Sem ir muito longe."
Sua calda balançou como quando ele fica muito ansioso. "Sim, Percy. Eu darei o meu melhor para entender o que está acontecendo e aconselhar Senhorita Dare,
mas isso deverá levar um tempo. Enquanto isso, você deve descansar. Nós colocamos o carro dos seus pais em segurança. O inimigo parece estar aguardando por enquanto.
Nós espalhamos camas pelo Empire State Bulding. Descanse um pouco."
"Todo mundo continua me falando pra descansar," Eu lamentei. "Eu não preciso dormir."
Quiron forçou um sorriso. "Você já se olhou recentemente, Percy?"
Eu olhei para minhas roupas, que estavam queimadas, despedaçadas, em farrapos, devido a minha ultima noite de batalhas. "Eu pareço um morto," Admiti. "Mas
você acha que eu consigo dormir depois de tudo o que aconteceu?"
"Você deve ser invulnerável em combate," Quiron censurou, "mas isso só deixa seu corpo cansado mais rápido. Eu me lembro de Aquiles. Sempre que aquele garoto
não estava lutando, ele estava dormindo. Ele devia tirar umas vinte sonecas por dia. Você, Percy, precisa de seu descanso. Você pode ser nossa única esperança."
Eu queria dizer que eu não era a única esperança deles. De acordo com Rachel, eu nem ao menos era o herói. Mas o olhar nos olhos de Quiron deixava claro
que ele não levaria um não como resposta.
"Claro," Eu lamentei. "Fale."
Eu me arrastei para o Edifício Empire State. Quando eu olhei para trás, Rachel e Quiron estavam conversando sério, como se eles estivessem discutindo os
preparativos do funeral.
Dentro do saguão, eu encontrei uma cama vazia e caí, certo de que eu não seria capaz de dormir. Um segundo depois, meus olhos se fecharam.

Em meus sonhos, eu estava de volta aos jardins de Hades. O senhor dos mortos andava de um lado para o outro, segurando sua orelha enquanto Nico o seguia,
balançando os braços.
"Você tem que fazer."
Demeter e Persephone sentavam atrás deles na mesa de café-da-manhã. Ambos pareciam entediados. Demeter despejava pedaços molhados de trigo em quatro grandes
tigelas. Persephone estava mudando os arranjos de flores magicamente na mesa, mudando as flores de vermelho para amarelo para bolinhas.
"Eu não tenho que fazer nada!" Os olhos de Hades brilharam. "Eu sou um deus!"
"Pai," Nico disse. "Se o Olimpo cair, a segurança de seu palácio não vai adiantar. Você vai desaparecer também."
"Eu não sou um Olimpiano!" Ele gritou. "Minha família já deixou isso bem claro."
"Você é," Nico disse. "Quer você queria, ou não."
"Você viu o que eles fizeram com sua mãe," Hades disse. "Zeus a matou. E você quer que eu ajude a eles? Eles merecem o que vier."
Persephone suspirou. Ela passou seus dedos pela mesa, transformando, distraidamente, o faqueiro em rosas. "Poderíamos não falar dessa mulher, por favor?"
"Você sabe o que ajudaria esse garoto?" Demeter meditou. "Agricultura."
Persephone rolou os olhos. "Mãe -"
"Seis meses atrás, um arado. Um edifício, singular."
Nico se pôs diante de seu pai, forçando Hades a encará-lo. "Minha mãe sabia de família. Foi por isso que ela não quis nos deixar. Você não pode abandonar
sua família porque eles fizeram algo horrível. Você causou coisas horríveis a eles também."
"Maria morreu!" Hades lembrou a ele.
"Você não pode se excluir dos outros deuses!"
"Fiz isso muito bem durante milhares de anos."
"E isso o fez sentir melhor?" Nico disse. "Aquela maldição do Oráculo te ajudou de qualquer jeito? Guardar mágoa é um erro fatal."
"Para semideuses! Eu sou imortal, o-todo-poderoso! Eu não ajudaria os outros deuses nem que eles me implorassem, se Percy Jackson implorasse -"
"Você é tão rejeitado quanto eu sou!" Nico gritou. "Pare de guardar rancor por isso e faça algo de útil uma vez na vida. Esse será o único jeito de eles
te respeitarem!"
A palma da mão de Hades se encheu com fogo negro.
"Vá em frente," Nico disse. "Me torre. É o que os outros deuses esperam de você mesmo. Prove a eles que estão certos."
"Sim, por favor," Demeter pediu. "Acabe com ele."
Persephone suspirou. "Ah, eu não sei. Eu preferiria lutar em uma guerra a comer outra tigela de cereal. Isso é um tédio."
Hades uivou em ódio. Sua bola de fogo atingiu uma arvore prata bem do lado de Nico, derretendo-a em uma poça de um liquido de metal.
E meus sonhos mudaram.
Eu estava parado do lado de fora das Nações Unidas, cerca de meio quilometro a oeste do Edifício Empire State. Os exércitos do Titã tinham armado um exercito
ao redor do complexo UN. Os mastros estavam levantados com troféus horríveis - capacetes e partes de armaduras de campistas derrotados. Ao longo da Quinta Avenida,
gigantes afiavam seus machados. Telequines reparavam suas armaduras improvisadas.
Cronos andava no topo do Plaza, segurando sua foice, assim suas dracaenae guardas mantinham distancia. Ethan Nakamura e Prometeu estavam perto, fora de alcance.
Ethan estava agitado com as correias de seu escudo, mas Prometeu parecia tão calmo e sereno quanto jamais foi em seu smoking.
"Odeio esse lugar," Cronos grunhiu. "Nações Unidas. Como se a humanidade pudesse se unir. Lembre-me de pôr a baixo esse edifício depois de destruirmos o
Olimpo."
"Sim senhor." Prometeu sorriu como se a raiva de seu senhor o tivesse acalmado. "Destruiremos os estábulos no Central Park também? Eu sei o quanto os cavalos
o aborrecem."
"Não deboche de mim, Prometeu! Esses malditos centauros vão lamentar ter se intrometido. Eles servirão de alimento pros cães infernais, começando por aquele
meu filho - o fracote do Quiron."
Prometeu deu de ombros. "Aquele fracote destruiu um exercito de telequines com suas flechas."
Cronos levantou sua foice e cortou um mastro ao meio. As cores nacionais do Brasil caíram sobre o exercito, amassando uma dracaenae.
"Nós o destruiremos." Cronos berrou. "Essa é a hora de libertar o drakon. Nakamura, você fará isso."
"S-sim, senhor. Ao por do sol?"
"Não," Cronos disse. "Imediatamente. As defesas do Olimpo estão machucadas seriamente. Eles não esperaram um ataque rápido. Além do mais, sabemos que esse
drakon eles não podem matar."
Ethan pareceu confuso, "Senhor?"
"Não se preocupe Nakamura. Só faça o que eu pedi. Eu quero o Olimpo em ruínas na hora em que Tifão chegar à Nova Iorque. Acabaremos com os deuses completamente."
"Mas, meu senhor," Ethan disse. "Sua regeneração."
Cronos apontou para Ethan, e o semideus congelou.
"Parece," Cronos disse. "que eu preciso de regeneração?"
Ethan não respondeu. Algo difícil de fazer quando você esta congelado.
Cronos estalou seus dedos e Ethan caiu.
"Em breve," O Titã grunhiu, "esse corpo em breve será desnecessário. Não descansaremos com a vitória tão perto. Agora, vai!"
Ethan saiu cambaleando.
"Isso é perigoso, senhor," Prometeu avisou. "Não seja apressado."
"Apressado? Eu definhei por três mil anos nas profundezas do Tártaro, e você me chama de apressado? Eu cortarei Percy em milhares de pedacinhos."
"Vocês já se encontraram três vezes," Prometeu lembrou. "E você ainda diz que isso está alem da dignidade de um Titã lutar com um mero mortal. Eu me pergunto
se esse seu corpo mortal está influenciando você, fraquejando seu julgamento."
Cronos virou seus lhos brilhantes para o outro Titã. "Você está me chamando de fraco?"
"Não, meu senhor. Eu só disse que -"
"Sua lealdade está dividida?" Cronos perguntou. "Talvez você sinta falta de seus velhos amigos, os deuses. Você quer se juntar a eles?"
Prometeu empalideceu. "Eu retiro o que disse, meu senhor. Suas ordens serão feitas." Ele se virou para os exércitos e gritou, "PREPAREM-SE PARA BATALHA!"
As tropas começaram a se agitar.
De algum lugar atrás do composto UN, um rugido de raiva chacoalhou a cidade - o som de um drakon andando. O barulho era tão horrível que me acordou, e eu
percebi que ainda podia ouvi-lo a quilômetros de distância.
Grover parou ao meu lado, parecendo nervoso. "O que foi isso?"
"Eles estão vindo," Eu disse a ele. "E estamos em apuros."

O chalé de Hefesto estava com o Fogo Grego. O chalé de Apolo e as Caçadoras estavam armados com suas flechas. A maioria de nós já havia tomado tanta ambrosia
e néctar que não agüentávamos mais.
Tínhamos dezesseis campistas, quinze Caçadoras, e meia dúzia de sátiros estavam na área de combate. O resto tinha se refugiado no Olimpo. Os Pôneis Festeiros
estavam tentando se alinhar, mas eles estavam rindo e brincando e todos eles cheiravam a cerveja amanteigada. Os Texanos estavam enfrentando os do Colorado. Os Missouri
estavam dividindo terreno com os Illinois. As chances eram bem grandes de que o exercito acabaria lutando entre si do que com o inimigo.
Quiron galopou com Rachel em suas costas. Eu senti uma pontada de raiva, porque Quiron nunca da uma carona a alguém, e nunca a um mortal.
"Seus amigos aqui têm uma noção horrível, Percy." Ele disse.
Rachel corou. "Algumas das coisas que eu vi em minha cabeça."
"Um drakon," Quiron disse. "Um drakon Lydiano, para ser exato. O tipo de monstro mais antigo e perigoso."
Eu olhei para ela. "Como você sabe disso?"
"Eu não tenho certeza," Rachel admitiu. "Mas esse drakon tem um destino particular. Ele tem que ser morto por uma criança de Ares."
Annabeth cruzou os braços. "Como é possível você saber disso?"
"Eu só vi. Não sei explicar."
"Bem, vamos rezar para que você esteja errada." Eu disse. "Porque nós temos um pequeno número de crianças de Ares..." Uma lembrança horrível me correu, e
eu amaldiçoei o Grego Antigo.
"O que?" Annabeth perguntou.
"O espião," Eu disse a ela. "Cronos disse, Sabemos que eles não podem derrotar com o drakon. O espião tem o mantido informado. Cronos sabe que o chalé de
Ares não esta conosco. Ele pegou um monstro que não podemos pegar de propósito."
Thalia fechou a cara. "Se eu por acaso por as mãos nesse espião, ele vai se arrepender amargamente. Talvez possamos mandar outro mensageiro para o acampamento
-"
"Eu já fiz isso," Quiron disse. "Blackjack está a caminho. Mas se Selena não for capaz de convencer Clarisse, Eu duvido que Blackjack consiga -"
Um rugido fez o chão tremer. Parecia bem perto.
"Rachel," Eu disse. "Entre no edifício."
"Eu quero ficar."
Uma sombra bloqueou o sol. Depois da rua, o drakon deslizava pelo lado de um arranha-céu. Ele rugiu, e milhares de janelas despedaçaram-se.
"Pensando duas vezes," Rachel disse baixinho. "Vou entrar."
* * *

Deixe-me explicar: Havia dragões, e depois ainda tinha drakons.
Drakons são muitos milênios mais antigos do que dragões. A maioria não tem asas. A maioria não cospe fogo (embora alguns cuspam). Todos são venenosos. Todos
são imensamente fortes, com escamas mais fortes que titânio. Seus olhos podem te paralisar; não como o tipo te-transformar-em-pedra da Medusa, mas a paralisia tipo,
oh-meus-deuses-aquela-cobra-gigante-vai-me-comer, que é bem pior.
Nós tínhamos tido aulas de lutas contra drakons, mas não tinha como se preparar para uma serpente de sessenta metros, tão largo quanto um ônibus escolar
descendo pelo lado de um edifício, seus olhos como faróis e sua boca cheia de dentes bem afiados, grandes como presas de elefante.
Eu quase senti falta do porco voador.
Entretanto, o exercito inimigo avançava pela Quinta Avenida. Fizemos o melhor para tirar os carros do caminho, para manter os mortais a salvo, mas isso só
facilitou a aproximação do inimigo. Os Pôneis Festeiros balançavam suas caldas nervosamente. Quiron galopava de cima para baixo em seus territórios, encorajando
para ficarem firmes e pensarem na vitoria e cervejas amanteigadas, mas eu percebi que a qualquer segundo eles entrariam em pânico e fugiriam.
"Deixa o drakon comigo." Minha voz suou como um pequeno guincho. Depois eu gritei mais alto: "DEIXA O DRAKON COMIGO! Todos os outros se alinhem contra o
exercito inimigo!"
Annabeth veio para perto de mim. Ela tinha posto seu capacete de coruja sobre seu rosto, mas eu podia dizer que seus olhos estavam vermelhos.
"Você vai me ajudar?" Eu perguntei.
"É isso o que eu faço," ela disse tristemente. "Eu ajudo meus amigos."
Eu me senti um tremendo idiota. Eu queria puxá-la para um canto e dizer a ela que eu não queria que Rachel estivesse ali, que essa não foi minha idéia, mas
eu não tinha tempo.
"Fique invisível," Eu disse. "Procure por aberturas em sua armadura, enquanto eu o mantenho ocupado. Cuide-se."
Eu assoviei. "Senhora O'Leary, Atenção!"
"ROOF!" Meu cão infernal correu por entre as frotas de centauros e me deu uma lambida que suspeitamente cheirava a pizza de pepperoni.
Saquei minha espada e fomos de encontro ao monstro.


O drakon estava a três andares acima de nós, deslizando pelos lados do edifício como se eles medissem nossas forças. Onde quer que ele olhasse, centauros
congelavam de medo.
Do lado norte, o exercito inimigo avançou em direção aos Pôneis Festeiros, e nossa armada se desfez. O Drakon pulou, engolindo três centauros californianos
em uma só bocada, antes mesmo de eu conseguir me aproximar.
Senhora O'Leary se jogou pelo ar - uma sombra negra mortal com dentes e garras. Normalmente, um cão infernal se jogando é uma visão horrível, mas perto do
drakon, Senhora O'Leary parecia uma bonequinha de dormir para crianças.
Suas garras bateram inofensivamente nas escamas do drakon. Ela atingiu a garganta do monstro mas não conseguiu fazer nem um arranhão. Entretanto, seu peso
foi o suficiente para tirar o drakon da lateral do edifico. Eles caíram atrapalhadamente e bateram na calçada, cão infernal e serpente enroscaram-se. O drakon tentou
morder Senhora O'Leary, mas ela estava muito perto da boca da serpente. Veneno espalhou-se por todo canto, levando centauros a sujeira e uns poucos monstros, mas
Senhora O'Leary passou ao redor da cabeça da serpente, arranhando e mordendo.
"YAAAH!" Eu cravei Contracorrente bem no olho esquerdo do monstro. O brilho ficou escuro. O drakon sibilou e ergueu-se e voltou ao ataque, mas eu rolei pro
lado.
Ele arrancou um pedaço do tamanho de uma piscina do asfalto. Ele se virou pra mim com seus olhos bom, e eu olhei para seus dentes, então não paralisei. Senhora
O'Leary fez seu melhor para conseguir distraí-lo. Ela pulou na cabeça do monstro arranhando-o como uma grande peruca preta irritada.
O restante da batalha não estava indo bem. Os centauros tinham entrado em pânico devido ao ataque dos gigantes e demônios. Uma camisa laranja do acampamento
apareceu no meio do mar de batalha, mas rapidamente desapareceu. Flechas voavam. Ondas de fogo explodiam em ambos os exércitos, mas estavam se aproximando cada vez
mais da entrada do Edifício Empire State. Estávamos perdendo terreno.
De repente Annabeth materializou-se nas costas do drakon. Seu boné caiu de sua cabeça assim que ela cravou sua faca de bronze em uma fissura nas escamas
da serpente.
O drakon rugiu. Ele cambaleou, derrubando Annabeth.
Eu a alcancei, antes que ela caísse no chão. Eu a tirei do caminho assim que a serpente rolou, esmagando um poste bem onde ela estava.
"Obrigada," ela disse.
"Eu te disse pra tomar cuidado!"
"É, bem, PATO!"
Ela virou-se para me salvar. Ela me pegou assim que os dentes do monstro passaram por cima de minha cabeça. Senhora O'Leary se jogou contra o rosto do drakon
para chamar sua atenção, e nós saímos do caminho.
Enquanto isso nossos aliados estavam recuados nas portas do Edifício Empire State. Todo o exercito inimigo estava os cercando.
Estávamos sem opção. Não tinha mais ajuda chegando. Annabeth e eu teríamos que recuar antes que fossemos cortados do Monte Olimpo.
Então eu ouvi um estrondo no norte. Não era um som que você costuma ouvir em Nova Iorque, mas eu reconheci imediatamente: rodas de bigas.
Uma voz de garota gritou, "ARES!"
E uma dúzia de bigas de guerra entrou na batalha. Cada uma continha uma bandeira vermelha com o símbolo de uma cabeça de urso. Cada tinha um par de cavalos
esqueletos as puxando com crinas de fogo. Trinta novos guerreiros no total, armaduras brilhantes e olhos cheios de ódio, apontavam suas lanças como um - como uma
parede da morte.
"As crianças de Ares!" Annabeth disse em surpresa. "Como Rachel sabia?"
Eu não tinha uma resposta. Mas na liderança, tinha uma garota com uma armadura vermelha familiar, seu rosto coberto por um capacete de cabeça de urso. Ela
segurava no ar uma lança que estalava com eletricidade. Clarisse tinha vindo pro resgate. Enquanto a metade das bigas atacava o exercito de monstros, Clarisse liderou
os outros seis direto pro drakon.
A serpente ergueu-se e tentou se livrar de Senhora O'Leary. Meu pobre animalzinho atingiu a lateral do edifício com um ganido. Eu corri para ajudá-la, mas
a serpente já tinha se recomposto para nova ameaça. Mesmo com um só olho, seu brilho foi suficiente pra paralisar dois motoristas das bigas. Eles bateram numa fila
de carros. As outras quatro bigas continuaram avançando. O monstro mostrou suas presas e teve uma boca cheia de dados de bronze celestial.
"EEESSSSS!!!!" Ele gritou, o que provavelmente devia ser um Owwww! Na língua do drakon.
"Ares, comigo!" Clarisse gritou. Sua voz pareceu mais aguda do que o normal, mas eu acho que não era uma surpresa, levanto em conta que ela estava lutando.
No outro lado da rua, a chegada de seis bigas deu uma nova esperança aos Pôneis Festeiros. Eles se animaram nas portas do Edifício Empire State e deixou
o exercito inimigo confuso.
Enquanto isso, as bigas de Clarisse cercaram o drakon. Lanças quebravam-se na pele do monstro. Cavalos esqueletos cuspiam fogo. Mais duas bigas foram derrubadas,
mas os guerreiros simplesmente se colocavam de pé, sacavam suas espadas, e iam ao trabalho. Eles atacavam fissuras nas escamas da criatura. Eles escapavam do veneno
como se eles estivessem treinado por toda sua vida, que é claro, eles tinham.
Ninguém poderia dizer que os campistas de Ares não eram corajosos. Clarisse estava à frente, atacando com sua lança no rosto do drakon, tentando cegar seu
outro olho. Mas assim que olhei, algo começou a dar errado. O drakon engoliu um dos campistas de Ares com uma bocada. Ele jogou um para um lado e jogou veneno num
terceiro, que entrou em pânico, com sua armadura derretendo.
"Temos que ajudar," Annabeth disse.
Ela estava certa. Eu estava lá parado em espanto. Senhora O'Leary tentou levantar mas ganiu de novo. Uma de suas patas estava sangrando.
"Fique ai, garota," Eu disse a ela. "Você já ajudou muito."
Annabeth e eu pulamos nas costas do monstro e corremos até sua cabeça, tentando desviar sua atenção de Clarisse.
Seus colegas de cabine jogavam dardos, a maioria quebrava, mas algumas se alojavam nos dentes do monstro. Ele fechava sua mandíbula até sua boca estar cheia
de sangue verde, um veneno amarelo espumante, e cacos de armas.
"Você consegue!" gritei para Clarisse. "Uma criança de Ares está destinada a matá-lo!"
Através de seu capacete, eu podia ver seus olhos - mas não conseguia dizer se estava certo. Seus olhos azuis brilhavam de medo. Clarisse nunca ficou assim.
E ela não tinha olhos azuis.
"ARES!" ela gritou, naquela voz aguda. Ela ergueu sua lança e atacou o drakon.
"Não," eu murmurei. "ESPERE!"
Mas o monstro olhou para ela - quase como contente - e jogou veneno bem em seu rosto.
Ela gritou e caiu.
"Clarisse!" Annabeth pulou das costas do monstro e correu para ajudar, enquanto os outros campistas tentaram defender seus consultores caídos.
Eu cravei Contracorrente entre duas das escamas da criatura e chamei sua atenção para mim.
Eu fui empurrado, mas me mantive em pé. "ANDA, sua estúpida lagartixa! Olhe pra mim!"
A partir daí, eu não vi nada alem de dentes. Eu recuei e joguei veneno, mas eu não conseguia machucar a coisa.
Pelo canto dos meus olhos, eu pude ver uma biga voadora vinda pela Quinta Avenida.
Então alguém correu ao nosso encontro. Uma voz de garota, chorosa, cheia de dor, "NÃO! Maldito seja, POR QUÊ?"
Eu hesitei em olhar, mas o que eu vi não fazia sentido. Clarisse estava deitada no chão, onde estava caída. Sua armadura derretida com o veneno. Annabeth
e os campistas de Ares estavam tentando tirar seu capacete. Ajoelhada perto deles, com seu rosto coberto por lagrimas, estava uma garota em roupas do acampamento.
Era... Clarisse.
Minha cabeça rodou. Por que eu não percebi isso antes? A garota na armadura de Clarisse era muito mais magra, não tão alta. Mas por que alguém fingiria ser
Clarisse?
Eu estava tão aturdido, que o drakon quase me partiu ao meio.
"POR QUÊ?" A Clarisse verdadeira exigiu, segurando a outra garota em seus braços enquanto os campistas tentavam remover seu capacete corroído por veneno.
O drakon tirou sua cabeça da parede de tijolos e rugiu em fúria.
"Cuidado!" Chris avisou.
Ao invés de vir em minha direção, o drakon virou-se na direção da voz de Chris. Ele mostrou suas presas para o grupo de semideuses.
A Clarisse verdadeira olhou para o drakon, seu rosto coberto por puro ódio. Eu só vi um olhar assim tão intenso uma vez em minha vida. Seu pai, Ares, tinha
feito a mesma expressão quando eu o enfrentei em um combate sozinho.
"VOCÊ QUER MORRER?" Clarisse gritou para o drakon. "POIS BEM, ENTAO VENHA!"
Ela pegou sua lança das mãos da garota caída. Sem nenhuma armadura ou escudo, ela avançou para o drakon.
Eu tentei vencer a distancia para ajudar, mas Clarisse era muito rápida. Ela pulou para o lado assim que o monstro atacou, pulverizando o chão na frente
dela. Foi quando ela pulou na cabeça da criatura. Enquanto ele se erguia, ela cravou sua lança no olho bom da criatura com tanta força que ela partiu a ponta, libertando
toda a mágica da arma.
Eletricidade percorreu a cabeça da criatura, causando um tremor em todo seu corpo. Clarisse pulou, rolando seguramente pela calçada, enquanto fumaça fervia
em sua boca. A carne do drakon se dissolveu, e ele caiu em uma armadura escamosa vazia.
O restante de nós olhava para Clarisse em admiração. Eu nunca vi ninguém derrubar um monstro tão grande sozinho. Mas Clarisse não parecia se importar. Ela
correu ao encontro da garota que tinha roubado sua armadura.
Annabeth finalmente conseguiu retirar o capacete da menina. Todos nós nos juntamos: Os campistas de Ares, Chris, Clarisse, Annabeth e eu. A batalha ainda
continuava pela Quinta Avenida, mas naquele momento, não existia nada, exceto nosso pequeno circulo e a garota caída.
Suas feições, uma vez belas, estavam totalmente deformadas pelo veneno. Eu poderia dizer que nenhum néctar ou ambrosia a salvaria.
Algo está prestes a acontecer. As palavras de Rachel soavam em meus ouvidos. Uma trapaça que termina em morte.
Agora eu sabia do que ela estava falando, e eu sabia quem tinha liderado o chalé de Ares à batalha.
Eu olhava para o rosto inerte de Silena Beauregard.

CAPÍTULO DEZESSETE - EU SENTO NO BANCO QUENTE

"O que você estava pensando?" Clarisse deitava a cabeça de Silena em seu colo.
Silena tentou engolir, mas seus lábios estavam secos e rachados. "Você não entende... ouça. O Chalé... Só seguiriam você."
" Então, você roubou minha armadura. "Clarisse disse incrédula." Esperou até eu e Chris sairmos em patrulha, e roubou minha armadura e fingiu ser eu. "Ela olhou
para seus irmãos.
"E nenhum de vocês notaram?"
Os campistas de Ares tiveram um súbito interesse em suas botas de combate.
"Não os culpe." Silena disse." Eles queriam... queriam acreditar que eu era você."
"Sua estúpida garota de Afrodite", Clarisse soluçou. "Você enfrentou um Drakon? Por quê?"
"Tudo minha culpa," Silena disse. Uma lágrima corria pelo lado de seu rosto. "O Drakon, Charlie morreu... O acampamento estava em perigo-"
"Pare!" Clarisse disse. "Isso não é verdade."
Silena abriu sua mão. Na palma estava uma pulseira de prata com um desenho de uma foice, a marca de Cronos.
Um frio envolveu meu coração. "Você era a espiã."'
Silena tentou assentir. "Eu gostava de Charlie,
Luke era legal comigo. Ele era tão encantador. Bonito.
Depois de um tempo, eu não queria mais ajudá-lo, mas ele me ameaçou se contasse. Ele jurou... Ele jurou que eu iria salvar vidas. Menos pessoas iriam se machucar.
Disse-me que não faria mal... para o Charlie. Ele mentiu para mim."
Eu encontrei os olhos de Annabeth. Ela estava pálida. Parecia como se alguém tivesse simplesmente arrancado o mundo debaixo de seus pés.
Atrás de nós, a batalha rugia.
Clarisse gritou para seus irmãos. "Vão ajudar os centauros. Proteja as portas. VÃO!"
Eles saíram às pressas para se juntar à luta.
Silena respirava pesado e dolorosamente. "Perdoe-me."
"Você não vai morrer." Clarisse insistiu.
"Charlie... "Os olhos de Silena estavam a um milhão de milhas de distância.
"Vejo Charlie..."
Ela não falou novamente.
Clarisse segurou-a e chorou. Chris colocou uma mão em seu ombro.
Finalmente Annabeth fechou os olhos de Silena.
"Temos que lutar." A voz Annabeth estava sensível. Ela deu sua vida para nos ajudar. "Agora temos que honrá-la."
Clarisse fungou e limpou o nariz. "Ela foi uma heroína, entendeu? Uma heroína."
Eu concordei. "Vamos Clarisse."
Ela pegou uma espada de um de seus irmãos caídos.
"Cronos vai pagar".
Eu gostaria de dizer que afastei o inimigo do Empire State Building. A verdade é que Clarisse fez todo o trabalho. Mesmo sem sua armadura e a lança, ela era um demônio.
Montou em sua carruagem e foi direto para o exército dos Titãs esmagando tudo em seu caminho.
Ela estava muito inspirada, até os centauros em pânico começaram a reunir-se.
Caçadoras tirando flechas dos mortos e lançando uma após a outra no inimigo. Os campistas do chalé de Ares cortavam e picavam os monstros, e eles estavam adorando.
Os monstros começaram a recuar para a 35th avenida.
Clarisse foi à carcaça de Drakon e passou uma corda através dos olhos por dentro da cabeça do monstro. Chicoteou seus cavalos e decolou arrastando Drakon atrás da
carruagem como se fosse um dragão chinês de ano novo. Ela se lançou contra o inimigo, gritando insultos e ousando abrir caminho entre eles. Enquanto cavalgava, percebi
que estava literalmente radiante. Uma aura de fogo vermelho tremulava ao seu redor.
"A bênção de Ares." Thalia disse. ''Eu nunca vi isso antes em outra pessoa."
Por um momento, Clarisse estava invencível como eu. O inimigo jogava lanças e flechas, mas nada a acertava.
"EU SOU CLARISSE, MATADORA DE DRAKONS", ela gritou.
"Eu vou matar todos vocês! Onde está Cronos? Tragam-no! Será que ele é um covarde?"
"Clarisse!"Eu gritei. "Pare. Recue!"
"Qual é o problema, senhor Titã?"ela gritou. "VENHA ATÉ AQUI!"
Não houve nenhuma resposta dos inimigos. Aos poucos, eles recuaram para trás de uma parede de escudos das Dracanaes.
Enquanto Clarisse circulava em volta da Quinta Avenida, ninguém ousou cruzar o seu caminho. Um Drakon de duzentos pés de comprimento batia contra o pavimento fazendo
um barulho como de mil facas raspando o concreto.
Enquanto isso atendemos nossos feridos, trazendo-os para o interior do átrio. Muito tempo depois que o inimigo já havia recuado e saído de nossa vista, Clarisse
ainda subia e descia a avenida com o seu terrível troféu, exigindo a presença de Cronos.
Chris disse: "Vou ficar de olho nela. Vai cansar daqui a pouco. "Daí a levo para dentro."
"E o acampamento? Eu perguntei. "Tem alguém lá?"
Chris balançou a cabeça. "Só Argus e os espíritos da natureza."
"Peleu o dragão ainda está guardando a árvore."
"Eles não vão durar muito tempo." eu disse. "Mas eu fiquei feliz que vocês vieram."
Chris assentiu tristemente. "Lamento que tenhamos demorado tanto. Eu conversei muito com Clarisse. Nosso acampamento ficará sem defesa se vocês morrerem. Todos os
nossos amigos estão aqui. Sinto muito por Silena..."
"Minhas Caçadoras vão ajudá-los a ficar de guarda." Thalia disse.
"Annabeth e Percy, você devem ir para o Olimpo. "Eu tenho uma sensação de que eles precisam de vocês lá em cima, para definir nossa defesa final."
O porteiro havia desaparecido do lobby. O livro virado para baixo estava sobre a mesa e a cadeira vazia. O resto do lobby, no entanto, estava coalhado de campistas
feridos, caçadoras e sátiros.
Connor e Travis Stoll nos encontraram no elevador.
"É verdade?" Connor perguntou. "Sobre Silena?"
Eu concordei. "Ela morreu como heroína."
Travis pareceu meio desconfortável. "Humm, eu também ouvi-"
"Chega" eu insisti. "Fim da história." "Certo." Travis resmungou. "Escute, achamos que o exército inimigo terá problemas em subir pelo elevador. Terão que ir em
pequenos grupos. E os gigantes não vão caber."
"Essa é a nossa maior vantagem." eu disse. "Há alguma maneira de desativar o elevador?"
"É mágico." Travis disse." Normalmente você precisaria de um cartão-chave, mas o porteiro desapareceu. Isso significa que as defesas também estão comprometidas.
Qualquer pessoa pode entrar no elevador e acioná-lo. "Então temos que mantê-los longe das portas," eu disse. "Nós vamos bloquear a portaria."
"Precisamos de reforços." Travis disse." Eles não param de atacar. Daqui a pouco vão nos esmagar." "Não há reforços." Connor queixou-se.
Olhei para fora e vi a Sra. O'leary, comprimindo sua cara na porta de vidro e enquanto dava uma boa cheirada, lambuzava tudo com sua baba de cão do inferno.
" Talvez não seja verdade," eu disse.
Fui para fora e passei a mão no focinho da Sra. O'leary.
Quiron enfaixou uma de suas patas, ainda estava mancando. Seu pêlo emaranhado e sujo de lama, folhas, pedaços de pizza, e sangue seco de monstro.
"Ei, menina." Tentei parecer otimista. "Eu sei que você está cansada, mas tenho que te pedir mais um grande favor."
Debrucei-me ao lado dela e sussurrei em seu ouvido. Depois que a Sra. O'Leary se afastou, voltei para junto de Annabeth no lobby. No caminho até o elevador, vi Grover,
ajoelhado sobre um sátiro gordo e muito ferido. "Leneus!"Eu disse.
O velho sátiro estava horrível. Seus lábios estavam azuis. Ele tinha uma lança quebrada espetada na barriga e as pernas peludas de bode torcidas num ângulo doloroso.
Ele tentou se concentrar em nós, mas não creio que tenha nos visto.
" Grover?"murmurou.
" Eu estou aqui, Leneus." Apesar de todas as coisas horríveis que Leneus tinha dito a ele, lágrimas negras escorriam pela face de Grover.
"Será que não poderemos ganhar?"
"Humm, sim. "Grover mentiu." Graças a você, Leneus. Nós expulsamos o inimigo para longe."
"Falei para você," o velho sátiro resmungou. "Verdadeiro líder. Verdad..."
Ele fechou os olhos pela última vez.
Grover engoliu seco. Colocou a mão na testa de Leneus e falou uma benção antiga. O corpo do velho sátiro dissolveu, até que tudo que restou foi um pequeno broto
em cima de um montinho de solo fresco.
"Um louro," Grover disse em reverência. "Ah, esse velho bode sortudo."
Ele pegou a muda em suas mãos. "Eu devo... Plantá-la no Jardim do Olimpo."
"Nós estamos indo para lá:" eu disse. "Vamos." Musica orquestrada tocava no elevador enquanto subia. Eu lembrei a minha primeira vez aqui no Monte Olimpo, quando
eu tinha doze anos. Annabeth e Grover não estavam comigo. Fiquei contente que estivessem comigo agora. Eu tinha uma sensação de que poderia ser a nossa última aventura
juntos.
"Percy", Annabeth disse calmamente. "Você estava certo sobre Luke." Foi a primeira vez que ela tinha falado desde a morte de Silena Beauregard. Ela mantinha os
olhos fixos no visor do elevador, que piscavam os números mágicos: 400, 450, 500.
Grover e eu nos olhamos.
"Annabeth," eu disse. "Me desculpe-"
"Você tentou me avisar." Sua voz estava trêmula. "Luke não é bom. Eu não acreditei em você até... Até que eu ouvi como ele usou Silena. Agora eu sei. Espero que
esteja feliz."
"Na verdade não."
Ela colocou a cabeça contra a parede do elevador e não olhou para mim.
Grover embalava seu rebento de louro em suas mãos. "Bem... Claro, é bom estarmos juntos de novo. Discutindo. Aterrorizados. Ah, olha. É o nosso andar."
As portas abriram e pisamos na passarela suspensa.
Deprimente, não é uma palavra que geralmente a gente descreve o Monte Olimpo, mas é o que parecia agora. Nenhum fogareiro aceso.
As janelas estavam às escuras. As ruas estavam desertas e as portas trancadas. Havia movimento somente nos parques, onde haviam sido criados hospitais de campanha.
Will Solace e outros campistas de Apollo cuidando de um amontoado de feridos. As Náiades e dríades tentavam ajudar, usando a natureza, canções mágicas de curar queimaduras
e envenenamento.
Grover foi plantar a muda de loureiro, Annabeth e eu tentávamos animar os feridos. Passei por um sátiro com uma perna quebrada, um semideus que estava enfaixado
da cabeça aos pés e um corpo coberto pela mortalha dourada da cabine de Apolo. Eu não sabia quem estava ali embaixo. Não queria descobrir.
Meu coração parecia que fora arrancado, mas nós tentávamos achar coisas positiva para dizer.
"Vai estar em pé para lutar com os Titãs daqui a pouco tempo!"Eu disse a um campista.
" Você está ótimo," Annabeth disse a outro.
" Leneus transformou-se em um arbusto!"Grover falou com um gemido de sátiro.
Achei o filho de Dioniso Pollux, encostado contra uma árvore. Ele tinha um braço quebrado, mas o resto parecia bem.
" Eu ainda posso lutar com a outra mão,"" ele disse, cerrando os dentes.
"Não", eu disse. "Você já fez o suficiente. Eu quero que fique aqui e ajude com os feridos."
"Mas!"
"Prometa-me que vai ficar em segurança", eu disse. "Tudo bem? Um favor pessoal."
Ele franziu a testa com incerteza. Não era como se fôssemos bons amigos, nem nada, mas eu não ia contar que era um pedido de seu pai. Isso iria apenas constrangê-lo.
Finalmente ele prometeu, e quando voltou a se sentar, eu poderia dizer que estava mais aliviado.
Annabeth, Grover e eu continuamos caminhando em direção ao palácio.
Cronos vai chegar aqui. Tão logo tome o elevador e eu não tinha dúvida que ele chegaria, de uma forma ou de outra ele irá destruir a sala do trono, o centro de poder
dos deuses".
As portas de bronze se abriram. Nossos passos ecoaram no chão de mármore. As constelações brilhavam friamente no teto do hall. O fogo do braseiro esta baixo com
um maçante brilho vermelho. Hestia, sob a forma de uma pequena menina com vestes marrons, debruçada na borda, tremia. O Ophiotaurus nadava tristemente em sua esfera
de água. Ele soltou um tímido moo, quando me viu.
A claridade do braseiro projetava sombras assustadoras nos trono, como se fosse mãos malignas os agarrando.
Aos pés do trono de Zeus, olhando para as estrelas estava RacheEllizabeth Dare. Segurando um vaso grego de porcelana.
"Rachel?"Eu disse. "Hmm, o que você está fazendo com isso?"
Ela olhou para mim como se estivesse saindo de um sonho. "Eu encontrei isso? É a jarra de Pandora, não é?"
Seus olhos brilhavam mais do que o habitual, e eu tive um presentimento ruim como de muitos sanduíches e biscoitos queimando.
" Por favor, coloque o vaso no chão," eu disse.
" Posso ver esperança dentro dele." 'Rachel passou os dedos sobre os desenhos da cerâmica. "Tão frágil".
" Rachel."
Minha voz pareceu trazê-la de volta à realidade. Ela largou o vaso, e eu peguei. Senti a cerâmica tão fria quanto gelo.
" Grover," Annabeth murmurou. "Vamos pedir aos escudeiros para dar uma volta ao redor do palácio. Talvez possamos encontrar mais algum fogo grego ou quem sabe algumas
armadilhas de Hefesto."
"Mas-"
Annabeth deu uma cotovelada nele.
"Certo!" Ele uivou. "Eu adoro armadilhas de Hefesto!"
Ele arrastou-se para fora da sala do trono.
Mais perto do braseiro, Héstia estava encolhida em seu manto, balançando para frente e para trás. "Venha," eu falei para Rachel. "Eu quero que você conheça alguém."
Sentamos ao lado da deusa. "Lady Hestia, eu disse.
" Olá, Percy Jackson," a deusa murmurou.
"Está frio". "Difícil de manter o fogo aceso."
"Eu sei", eu me sentei. "Os Titãs estão perto."
Hestia olhou para Rachel. "Olá, minha querida, finalmente você veio a nossa casa."
Rachel piscou. "Você estava me esperando?"
Hestia estendeu as mãos, e as brasas brilharam.
Eu vi imagens no fogo: Minha mãe, Paul e eu comendo um delicioso e reconfortante jantar na mesa da cozinha; os meus amigos e eu ao redor da fogueira no acampamento
Meio-sangue, cantando canções e assando marshmallows; Rachel e eu dirigindo o Prius de Paul ao longo da praia.
Eu não sabia se Rachel via as mesmas imagens, mas seus ombros estavam tensos. O calor do fogo parecia espalhar-se através dela.
"Para reivindicar o seu lugar na família", Hestia disse a ela," "Você deve deixar as distrações de lado."" É a única maneira de você sobreviver."
Rachel assentiu. "Eu... "Eu entendo."
"Espere", eu disse. "Do que ela está falando?"
Rachel deu um suspiro. "Percy, quando cheguei aqui... Eu pensei que tinha vindo por você. Mas não era. Você me... "Ela balançou a cabeça.
"Espere. Agora eu sou uma distração? Isso porque eu não sou o herói ou coisa assim?"
''Eu não sei se poderei descrever com palavras", ela disse." Estive atraída por você porque. . . Porque você abriu a porta para tudo isso. "Ela apontou para a sala
do trono." Eu precisava
compreender a minha própria visão. Mas você e eu juntos não fazia parte dela. Nossos destinos não estão interligados. Eu acho que no fundo você sabia disso também."
Olhei para ela. Talvez eu não fosse o cara mais brilhante do mundo quando se tratava de garotas, mas estava muito claro que Rachel acabara de me dar um fora, que
era ruim considerando que nos nunca estivemos realmente juntos.
"Então... E aí." eu disse"." Obrigado por me trazer para Olimpo.Vejo você por aí. É isso que você está dizendo? "Rachel olhou para o fogo.
"Percy Jackson," disse Hestia. "Rachel disse a você tudo que ela podia. Seu momento está chegando, e sua decisão se aproxima rapidamente. Você está preparado? "
Eu queria dizer que não, não estava nem perto de estar preparado.
Olhei para jarra de Pandora, e pela primeira vez eu tinha necessidade de abri-la. Esperança parecia bem inútil para mim, mesmo agora. Muitos de meus amigos estavam
mortos. Rachel me deu um fora. Annabeth estava zangado comigo. Meus pais estavam dormindo nas ruas em algum lugar, enquanto um exército de monstros cercava o prédio.
O Olimpo estava à beira da queda, e eu já tinha visto tantas coisas cruéis que os deuses haviam feito.
Zeus destruindo Maria di Angelo, Hades amaldiçoando o ultimo Oráculo, Hermes virando as costas para Luke, mesmo quando soube que seu filho se tornaria mal.
Renda-se, a voz de Prometeu sussurrou no meu ouvido.
Caso contrário, seu lar será destruído. Seu precioso acampamento irá queimar.
Então olhei para Héstia. Seus olhos vermelhos brilhavam calorosamente. Eu me lembrei das imagens que eu tinha visto da minha casa, amigos e família, todos que eu
me importava.
Lembrei-me de algo que Chris Rodriguez havia dito: Não há nenhum jeito de defender o acampamento se vocês morrerem. Todos os nossos amigos estão aqui. E Nico, ao
lado do seu pai, Hades. E se o Olimpos cair, Você não se importa com a segurança de seu próprio palácio.
Ouvi passos. Annabeth e Grover voltaram para a sala do trono e pararam quando nos viram. Eu provavelmente tinha um olhar muito estranho em meu rosto.
"Percy?" Annabeth não parecia mais com raiva, apenas preocupada. "Devemos, hum, ir embora de novo?"
De repente, senti como se alguém tivesse me injetado aço.
Eu entendi o que tinha que fazer.
Olhei para Rachel "Você não vai fazer nada estúpido, não é? Quero dizer... Você já falou com Quiron, certo?"
Ela esboçou um leve sorriso. "Você está preocupado que eu faça algo estúpido? "
"Bem eu quero dizer... Você vai ficar bem?"
" Eu não sei," admitiu ela. "Isso depende de você salvar o mundo, herói."
Peguei o jarro de Pandora. Um espírito de esperança flutuava dentro de mim, tentando aquecer o recipiente frio.
"Hestia", eu disse: "Eu dou isto a você como uma oferenda."
A deusa inclinou a cabeça. "Eu sou uma deusa menor. Por que você confiaria em mim?"
" Você é a última Olimpiana," eu disse. "E o mais importante."
"E o que seria, Percy Jackson?"
"Porque a esperança sobrevive melhor no coração", eu disse.
"Guarde-o para mim, eu não quero ficar tentado a desistir novamente."
A deusa sorriu. Ela pegou o frasco em suas mãos e começou a brilhar. O fogo do braseiro ficou um pouco mais brilhante.
"Bem feito, Percy Jackson," disse ela. "Que os deuses abençoem você."
"Estamos prestes a descobrir." Olhei para Annabeth e Grover. "Vamos pessoal."
Eu marchei em direção trono do meu pai.
O trono de Poseidon estava logo à direita de Zeus, mas não era tão grande. O assento de couro preto moldado estava anexado a um pedestal giratório, com um
par de argolas de ferro na lateral para fixação de uma vara de pescar (ou um tridente). Basicamente parecia uma cadeira em um barco em alto mar, que você se senta
se quiser caçar tubarões, marlins ou monstros marinhos.
Deuses em seu estado natural têm cerca de vinte pés de altura, de modo que eu poderia apenas alcançar à borda do assento se eu esticasse os braços.
"Ajude-me," eu disse a Annabeth e Grover.
"Você está louco?" Annabeth perguntou.
"Provavelmente", eu admiti.

"Percy", disse Grover, "os deuses realmente não apreciam pessoas sentadas em seus tronos. Quero dizer, você será transformado em uma montanha de cinzas, vai gostar
disso?"
"Eu preciso chamar a atenção deles," eu disse. "É a única maneira."
Eles trocaram olhares inquietos.
"Bem," Annabeth disse," isso vai chamar a atenção deles."
Eles uniram suas armas para fazer um degrau, então me impulsionei para o trono. Senti-me como um bebê balançando os pés muito altos do chão. Olhei em volta e tudo
estava sombrio. Os tronos vazios. Fiquei imaginando como seria estar sentado no conselho olimpiano- Tanto poder, mas também tantas opiniões diferentes, onze outros
deuses querendo apenas seguir seu caminho. Seria fácil ficar paranóico e olhar só para os próprios interesses, especialmente se eu fosse Poseidon. Sentado em seu
trono, Eu senti como se tivesse todo o mar ao meu comando-milhas e milhas de oceano se agitando com poder e mistério. Por que Poseidon deveria ouvir alguém? Por
que ele não deveria ser o maior dos doze?
Então sacudi minha cabeça. Concentrei-me.
O trono tremeu. Uma onda vigorosa de raiva atingiu minha mente: QUEM OUSA-
A voz parou abruptamente. A raiva cedeu, o que foi ótimo, porque só essas duas palavras quase fritaram minha mente.
Percy. A voz de meu pai ainda estava com raiva, mas controlada. O que, exatamente, você está fazendo no meu trono?
"Me desculpe, Pai," eu disse. "Eu precisava chamar sua atenção."

Fez uma coisa muito perigosa. Mesmo sendo você. Se eu não tivesse
olhado antes de detonar, você seria agora um pudim de água do mar.
''Me desculpe," eu disse de novo. "Ouça, as coisas estão bravas por aqui."
Eu contei o que estava acontecendo. Então falei sobre o meu plano.
Sua voz ficou em silêncio por um longo tempo.
Percy, o que você pede é impossível. O meu palácio-
"Papai, Kronos enviou um exército para lutar com você de propósito. "Ele quer separá-lo dos outros deuses, porque ele sabe que você pode fazer a diferença."
Seja como for, ele está atacando a minha casa.
"Eu estou na sua casa," eu disse. "Olimpo."
O chão tremeu. Uma onda de indignação tomou conta de minha mente. Eu pensei que tinha ido longe demais, mas depois o tremor abrandou. No fundo da minha ligação mental,
ouvi explosões subaquáticas e sons de gritos de guerra: Bramidos de Cyclopes, grito de tritões.
"E Tyson está bem?" Eu perguntei.
A questão parecia ter pegado meu pai de surpresa. Ele está bem. Fazendo muito melhor do que eu esperava. Embora "manteiga de amendoim" seja um grito de guerra bem
estranho.
"Você o deixou lutar?"
Não mude de assunto! Está ciente do que está me pedindo para fazer? O meu palácio será destruído.
"E o Olimpo poderá ser salvo."
Você tem alguma idéia de quanto tempo eu trabalhei na reforma deste palácio? A sala de jogos levou seiscentos anos.
"Papai-"
Muito bem! Será feito como me pede. Mas meu filho, reze para isto funcionar.
"Estou já estou rezando. Eu estou falando com você, certo?"
Ah. . . Sim. Bem pensado. Anfitrite-aproximando!
O som de uma grande explosão destroçou nossa conexão.
Eu escorreguei para baixo aos pés do trono. Grover me olhava nervosamente. "Você está bem? empalideceu e... começou a soltar fumaça."
"Não mesmo!" Então olhei para os meus braços. Vapor estava saindo pelas mangas de minha camisa. O cabelo de meus braços estava chamuscado.
"Se você ficou lá por mais tempo", Annabeth disse, "Quase entrou em combustão espontânea. Espero que a conversa tenha valido pena?"
Muu, disse o Ophiotaurus em sua esfera de água.
"Nós vamos descobrir em breve," eu disse.
Só então as portas da sala do trono se abriram.
Thalia marcharam para dentro. Seu arco partido em duas metades e seu aljave vazio.
"Você tem que vir agora," disse-nos. "O inimigo está avançando. E Cronos está liderando."













CAPÍTULO DEZOITO - MEUS PAIS VIRAM SOLDADOS
Pela hora que nós chegamos à rua, já era tarde demais. Campistas e Caçadoras estavam caídos feridos no chão. Clarisse deve ter perdido uma luta com um gigante
Hiperbóreo, porque ela e sua carruagem estavam congeladas num bloco de gelo.Os centauros não estavam em nenhum lugar à vista. Ou eles entraram em pânico e fugiram
ou tinham sido desintegrados. O exército Titã rodeou o prédio, ficando a talvez seis metros das portas. A vanguarda de Cronos estava liderando: Ethan Nakamura, a
rainha dracaena em sua armadura verde, e dois Hiperbóreos. Eu não vi Prometeu. Aquela doninha pegajosa estava provavelmente se escondendo no quartel general deles.
Mas Cronos em pessoa estava em pé bem na frente, com sua foice na mão. A única coisa no caminho dele era...Quíron," Annabeth disse, sua voz trêmula.Se Quíron nos
escutou, ele não respondeu. Ele tinha uma flecha preparada, mirando direto no rosto de Cronos.Logo que Cronos me viu, seus olhos dourados chamejaram. Todos os músculos
do meu corpo congelaram. Então o lorde Titã virou sua atenção de volta para Quíron.
"Saia da frente, filhinho."Ouvir Luke chamar Quíron de filho já era bem estranho, mas Cronos pôs desprezo em sua voz, como se filho fosse a pior coisa que
ele pudesse pensar."Temo que não," o tom de Quíron era calmo como aço, do jeito que ele fica quando está realmente irado.Tentei me mexer, mas meus pés pareciam concreto.
Annabeth, Grover e Thalia estavam se esforçando também, como se estivessem presos do mesmo jeito."Quíron!"disse Annabeth.
"Cuidado!"A rainha dracaena ficou impaciente e atacou. A flecha de Quíron voou diretamente entre seus olhos e ela evaporou no lugar, sua armadura vazia fazendo
barulho no asfalto. Quíron buscou outra flecha, mas sua aljava estava vazia. Ele jogou o arco fora e sacou a espada. Eu sabia que ele odiava lutar com uma espada.
Nunca foi sua arma favorita. Cronos segurou um sorriso. Ele avançou um passo, e a metade cavalo de Quíron escorregou nervosamente. Seu rabo se agitou para frente
e para trás." Você é um professor," Cronos zombou. "Não um herói." "Luke era um herói," disse Quíron. "Ele era um dos bons, até que você o corrompeu." TOLO!" a voz
de Cronos chacoalhou a cidade. "Você encheu a cabeça dele com promessas vazias. Você disse que os deuses se importavam comigo!" "Comigo," notou Quíron. "Você disse
comigo.
Cronos pareceu confuso, e naquele momento, Quíron ficou chocado. Foi uma boa manobra - uma finta seguida por uma pancada na cara. Eu mesmo não poderia ter
feito melhor, mas Cronos era rápido. Ele tinha todas as habilidades de combate de Luke, o que era bastante. Ele bateu a espada de Quíron para o lado e gritou, "PARA
TRÁS!Uma luz branca ofuscante explodiu entre o Titã e o centauro. Quíron voou no lado do prédio com tanta força que a parede se desfez e desabou em cima dele. "Não!"
Annabeth lamentou. O encanto de congelamento se quebrou. Nós corremos na direção de nosso professor, mas não havia sinal dele. Thalia e eu cavamos desamparados entre
os tijolos enquanto uma séria de risadas horríveis correu pelo exército do Titã. "VOCÊ!" Annabeth se virou para Luke. "Pensar que eu... que eu pensava-" Ela sacou
sua faca. "Annabeth, não."
Tentei segurar o braço dela, mas ela se livrou de mim.Ela atacou Cronos, e o sorriso presunçoso dele sumiu. Talvez alguma parte de Luke lembrou que ele costumava
gostar dessa garota, costumava cuidar dela quando ela era pequena. Enfiou sua faca entre as presilhas da armadura dele, bem na clavícula. A lâmina devia ter mergulhado
até o peito dele. Ao invés disso ela ricocheteou. Annabeth se contorceu, apertando seu braço contra o estômago. O solavanco deve ter sido suficiente para deslocar
o ombro ruim dela. Eu a arranquei de volta enquanto Cronos balançava sua foice, fatiando o ar onde ela estava.Ela brigou comigo e gritou, "Eu ODEIO você!" Eu não
tinha certeza para quem ela estava falando - para mim ou Luke ou Cronos. Lágrimas listraram a poeira no rosto dela."Tenho que lutar com ele," eu disse a ela."É minha
luta também, Percy!"Cronos gargalhou. "Tanta coragem. Posso ver porque Luke queria poupar você. Infelizmente, isso não será possível." Ele ergueu sua foice. Eu me
preparei para defender, mas antes que Cronos pudesse golpear, o uivo de um cachorro atravessou o ar de algum lugar atrás do exercito do Titã.
"Arrooooooooo!" Era muito para esperar, mas eu chamei "Sra. O'Leary?" As forças inimigas se agitaram inquietas. Então a coisa mais estranha aconteceu. Eles
começaram a se afastar, liberando uma passagem através da rua como se alguma coisa atrás deles os estivesse forçando a isso. Logo havia um corredor livre no centro
da Quinta Avenida. De pé no fim do quarteirão estava meu cão gigante e uma pequena figura numa armadura negra. "Nico?" eu chamei."ROWWF!" Sra. O'Leary saltou em
minha direção, ignorando o rosnado dos monstros de ambos os lados. Nico caminhou em frente. O exército inimigo recuava perante ele como se ele irradiasse morte,
o que com certeza ele fazia.Através do protetor facial de seu capacete em forma de caveira, ele sorriu.
"Recebi sua mensagem. É tarde demais para me juntar à festa?" "Filho de Hades," Cronos cuspiu no chão. "Você ama tanto a morte que quer experimentá-la?" "A
sua morte," disse Nico, "seria ótima para mim." "Eu sou imortal, seu tolo! Escapei do Tártaro. Você não tem nenhum negócio aqui, e nenhuma chance de viver." Nico
sacou sua espada - um metro de ferro demoníaco cruel e afiado, negro como um pesadelo. "Eu não concordo."O solo tremeu. Rachaduras apareceram na estrada, nas calçadas
e nas laterais dos prédios. Mãos esqueléticas agarravam o ar enquanto os mortos arranhavam seu caminho dentro do mundo dos vivos. Havia milhares deles, e enquanto
eles emergiam, os monstros do Titã se assustaram e começaram a recuar. "MANTENHAM SUA POSIÇÃO!" exigiu Cronos. "Os mortos não são ameaças para nós."O céu ficou escuro
e frio.
Sombras engrossaram. Uma severa corneta de guerra soou, e enquanto os soldados mortos formavam fileiras com suas armas e espadas e lanças, uma enorme carruagem
troava descendo a Quinta Avenida. Ela parou ao lado de Nico. Os cavalos eram sombras vivas, moldadas da escuridão. A carruagem era incrustada com obsidiana e ouro,
decorada com cenas de mortes dolorosas. Segurando as rédeas estava o próprio Hades, Lorde dos Mortos, com Deméter e Perséfone montadas atrás dele.Hades vestia uma
armadura preta e uma capa da cor de sangue fresco. No topo de sua cabeça pálida estava o elmo da escuridão: uma coroa que irradiava puro terror. Ela mudava de forma
enquanto eu olhava - de cabeça de dragão para um círculo de chamas negras para uma grinalda de ossos humanos.
Mas essa não era a parte assustadora. O elmo alcançou a minha mente e inflamou meus piores pesadelos, meus medos mais secretos. Eu quis rastejar para um buraco
e me esconder, e eu podia dizer que o exército inimigo se sentia do mesmo jeito. Somente o poder e a autoridade de Cronos impediam a fuga de suas linhas de soldados.Hades
sorriu friamente. "Olá, pai. Você parece... jovem." "Hades," rugiu Cronos. "Espero que você e as senhoras vieram para jurar sua obediência.""Temo que não." Hades
suspirou. "Meu filho aqui me convenceu que talvez eu deva priorizar a minha lista de inimigos." Ele olhou de relance para mim com desgosto. "Mesmo o quanto eu não
goste de certos semideuses emergentes, isso não faria o Olimpo cair. Eu sentiria falta de brigar com meus irmãos. E se há alguma coisa em que nós concordamos - é
que você era um pai TERRÍVEL." "Verdade," murmurou Deméter. "Sem valorização da agricultura." "Mãe!" reclamou Perséfone.
Hades sacou sua espada, uma lâmina infernal de dois gumes esculpida com prata. "Agora lute comigo! Por hoje a Casa de Hades vai ser chamada de salvadores
do Olimpo." "Eu não tenho tempo para isso," rosnou Cronos. Ele golpeou o solo com sua foice. Uma rachadura se estendeu em ambas as direções, rodeando o Empire State
Building. Um muro de força cintilou ao longo da linha da fenda, separando a vanguarda de Cronos, meus amigos e eu da massa dos dois exércitos. "O que ele está fazendo?"
eu balbuciei."Nos trancando dentro," disse Thalia. "Ele está derrubando as barreiras mágicas ao redor de Manhattan - cortando fora somente o prédio e nós."Bem claramente,
fora da barreira, motores de carros voltaram à vida. Pedestres acordavam e encaravam incompreensivos os monstros e zumbis em volta deles. Não sei falar o que eles
viram através da Névoa, mas tenho certeza que era bem assustador. Portas de carro se abriram. E no fim do quarteirão, Paul Blofis e minha mãe saíram do Prius deles."Não,"
eu disse. "Não..."Minha mãe podia ver através da Névoa.
Eu podia dizer pela expressão dela que ela entendia o quanto as coisas estavam
sérias. Eu esperava que ela tivesse o bom senso de correr. Mas ela me olhou
nos olhos, falou algo para Paul, e eles correram direto em nossa direção.Eu não podia gritar. A última coisa que eu queria era direcionar a atenção de Cronos para
ela.Felizmente, Hades causou uma distração. Ele investiu contra o muro de força, mas a carruagem dele bateu de frente e capotou. Ele se levantou, xingando, e atingiu
o muro com energia negra. A barreira segurou. "ATAQUEM!" ele rugiu.Os exércitos dos mortos colidiram com os monstros do Titã. A Quinta Avenida explodiu num caos
absoluto. Mortais gritavam e corriam para se proteger. Deméter balançou sua mão e uma coluna inteira de gigantes se transformou num campo de trigo. Perséfone transformou
as lanças das dracaenae em girassóis. Nico cortava e retalhava seu caminho pelo meio do inimigo, tentando proteger os pedestres da melhor maneira que podia.
Meus pais correram em minha direção, esquivando de monstros e zumbis, mas não havia nada que eu poderia fazer para ajudá-los."Nakamura," disse Cronos. "Acompanhe-me.
Gigantes - cuidem deles." Ele apontou para meus amigos e eu. Então ele se esgueirou para dentro do saguão.Por um segundo eu estava paralisado. Estive esperando uma
briga, mas Cronos me ignorou completamente como se eu não fosse digno de preocupação. Isso me deixou furioso.O primeiro gigante Hiperbóreo tentou me esmagar com
seu porrete. Eu rolei entre suas pernas e apunhalei Contracorrente no seu traseiro. Ele se despedaçou numa pilha de cacos de gelo.
O segundo gigante soprou granizo em Annabeth, que mal conseguia ficar em pé, mas Grover a puxou para fora do caminho enquanto Thalia foi ao trabalho. Ela
correu para cima das costas do gigante como uma gazela, fincou suas facas de caça através do monstruoso pescoço azul dele, e criou a maior escultura de gelo sem
cabeça do mundo.Eu olhei de relance para fora da barreira mágica. Nico estava lutando no caminho em direção à minha mãe e Paul, mas eles não estavam esperando por
ajuda. Paul pegou uma espada de um herói caído e fez um trabalho bem legal mantendo uma dracaena ocupada. Ele a apunhalou nas vísceras, e ela desintegrou. "Paul?"
eu disse com admiração.
Ele se virou na minha direção e sorriu. "Espero que seja um monstro isso que eu acabei de matar. Eu era um ator Shakespeariano na faculdade! Peguei um pouco
de esgrima!"Eu gostava dele ainda mais por causa daquilo, mas então um gigante Lestrigão investiu contra a minha mãe. Ela estava remexendo num carro de polícia abandonado
- talvez procurando pelo rádio de emergência - e estava virada de costas. "Mãe!" eu gritei.Ela girou quando o monstro estava quase em cima dela. Eu pensei que a
coisa nas mãos dela era um guarda-chuva até que ela engatilhou a bomba e o tiro da escopeta jogou o gigante seis metros para trás, direto na espada de Nico. "Boa."
Disse Paul.
"Quando você aprendeu a atirar com uma escopeta?" eu exigi.Minha mãe soprou o cabelo pra fora do rosto. "Cerca de dois segundos atrás. Percy, nós vamos ficar
bem. Vá!" "Sim," concordou Nico, "nós cuidaremos do exército. Você tem que pegar Cronos!" "Vamos, Cabeça de Alga!" disse Annabeth. Eu assenti.Então eu olhei para
a pilha de escombros ao lado do prédio.Meu coração revirou. Eu tinha me esquecido de Quíron. Como eu pude fazer isso?"Sra. O'Leary," eu disse. "Por favor, Quíron
está ali embaixo. Se alguém pode tirar ele de lá, você pode. Encontre-o! Ajude ele!"Eu não tenho certeza do quanto ela entendeu, mas ela saltou para a pilha e começou
a cavar. Annabeth, Thalia, Grover e eu corremos para os elevadores.






































CAPÍTULO 19 - NÓS DESTRUÍMOS A CIDADE ETERNA.

A ponte para o Olimpo estava dissolvendo. Nós saímos do elevador para o caminho de mármore, e imediatamente rachaduras apareceram em nossos pés.
"Pulem!" Grover disse, e isso era fácil para ele, já que ele era parte bode montanhês.
Ele saltou para a próxima tábua de pedra enquanto as nossas se inclinavam perigosamente.
"Deuses, eu odeio alturas!" Thalia gritou no que eu e ela pulamos. Mas Annabeth não estava na forma de pular. Ela tropeçou e gritou "Percy!"
Eu agarrei a sua mão e o pavimento caiu, ruiu até virar poeira. Por um segundo eu pensei que ela puxaria nós dois para baixo. Os pés dela balançaram no ar. Sua
mão começou a escorregar até que eu a segurasse somente pelos dedos. Então Grover e Thalia agarraram minhas pernas, e eu encontrei força extra. Annabeth não iria
cair.
Eu a puxei para cima e nós nos deitamos tremendo no pavimento. Eu não tinha percebido que nós tínhamos envolvido-nos com nossos braços até que ela enrijeceu
do nada.
"Hm, obrigada," ela murmurou.
Eu tentei dizer Não há de que, mas veio como, "Uh, duh."
"Continuem se movendo!" Grover me arrastou pelo ombro. Nós nos desembaraçamos e corremos através da ponte do céu enquanto mais pedras se desintegravam e caíam
na escuridão. Nós chegamos na beirada da montanha assim que a seção final desmoronou.
Annabeth olhou para trás até o elevador, que estava agora totalmente fora de alcanço - um conjunto de portas de metal polido em suspensão no ar, atado a nada,
seiscentos andares acima de Manhattan.
"Nós estamos abandonados," ela disse. "Por nós mesmos."
"Blah-há-há!" Grover disse. "A conexão entre Olimpo e América está dissolvendo. Se falhar-"
"Os deuses não vão estar se mudando para outro país dessa vez," Thalia disse. "Esse será o fim do Olimpo. O fim mesmo."
Nós corremos por ruas. Mansões estavam queimando. Estátuas tinham sido derrubadas. Árvores nos parques tinham sido destruídas até só sobrarem farpas. Parecia
que alguém tinha atacado a cidade com um cortador de grama gigante.
"A foice de Cronos," eu disse.
Nós seguimos o tortuoso caminho até o palácio dos deuses. Eu não me lembrava que a estrada era tão longa. Talvez Cronos estivesse fazendo tempo ir mais devagar,
ou talvez fosse só o pavor que me atrasava. Todo o topo da montanha estava em ruínas - tantos prédios e jardins bonitos tinham desaparecido.
Alguns deuses menores e espíritos da natureza tinham tentado parar Cronos. O que sobrou deles estava espalhado ao longo da estrada: armaduras amassadas, roupas
rasgadas, lanças e espadas quebradas ao meio.
Algum lugar a nossa frente, a voz de Cronos rosnou: "Tijolo por tijolo! Essa foi minha promessa. Derrubar TIJOLO POR TIJOLO!"
Um templo com uma cúpula dourada de repente explodiu. A cúpula subiu como uma tampa de bule e destruiu-se em um bilhão de pedaços, fazendo chover entulho por
toda a cidade.
"Aquilo era um santuário para Ártemis," Thalia resmungou. "Ele vai pagar por isso."
Nós estávamos correndo debaixo do arco de mármore com estátuas gigantes de Zeus e Hera quando toda a montanha gemeu, balançando de lado exatamente como um barco
numa tempestade.
"Atenção!" Grover ganiu. O arco se desintegrou. Eu olhei para cima em tempo de ver uma carrancuda Hera de vinte toneladas vir para cima de nós. Annabeth e eu
teríamos sido esmagados, mas Thalia se meteu entre nós e nós aterrissamos fora de perigo.
"Thalia!" Grover chorou.
Quando a poeira clareou e a montanha parou de bambolear, nós a encontramos ainda viva, mas com as pernas imobilizadas abaixo da estátua.
Nós tentamos desesperadamente movê-la, mas isso levaria alguns ciclopes. Quando nós tentamos puxar Thalia para fora daquilo, ela gritou de dor.
"Eu sobrevivi todas essas batalhas," ela resmungou, "e eu sou derrotada por um estúpido monte de pedra!"
"É Hera," Annabeth disse em ultraje. "Ela tem feito isso durante todo o ano. A estátua dela teria me matado se você não nos tivesse tirado do caminho."
Thalia fez uma careta. "Bem, não fiquem aí! Eu vou ficar bem. Vão!"
Nós não queríamos deixá-la, mas eu podia ouvir Cronos rindo enquanto ele se aproximava do hall dos deuses. Mais prédios explodiram.
"Nós voltaremos," eu prometi.
"Eu não vou a lugar nenhum," Thalia gemeu.
Uma bola de fogo irrompeu no lado da montanha, bem perto de onde os portões para o palácio ficavam.
"Nós temos que correr," eu disse.
"Eu não acho que você quis dizer fugir," Grover murmurou esperançosamente.
Eu corri na direção do palácio, Annabeth logo atrás de mim.
"Eu estava com medo disso," Grover suspirou, e clip-clopou atrás de nós.

As portas do palácio eram grandes o suficiente para deixarem um navio de cruzeiro cruzá-las, mas elas tinham sido tiradas de suas dobradiças e esmagadas como se
não pesassem nada. Nós tivemos de escalar uma grande pilha de pedras quebradas e metais retorcidos para entrarmos.
Cronos estava no meio da sala do trono, seus braços abertos, olhando para o céu estrelado como se estivesse roubando-o. A risada dele ecoou ainda mais alto do
que tinha sido no abismo do Tártaro.
"Finalmente!" ele berrou. "O Conselho Olimpiano - tão orgulhoso e poderoso. Qual assento de poder eu devo destruir primeiro?"
Ethan Nakamura estava em um lado, tentando sair do caminho da foice de se mestre. A lareira estava quase apagada, só algumas brasas brilhando profundamente nas
cinzas. Héstia não estava em lugar nenhum para ser vista. Nem Rachel. Eu esperava que ela estivesse bem, mas eu vira tanta destruição que eu estava com medo de pensar
sobre isso. O ofiotauro nadou na sua esfera de água na esquina mais distante da sala, sabiamente não fazendo barulho, mas não demoraria muito até que Cronos o notasse.
Annabeth, Grover e eu demos um passo à frente dentro da iluminação das tochas. Ethan nos viu primeiro.
"Meu lorde," ele avisou.
Cronos se virou e sorriu através do rosto de Luke. Exceto por seus olhos dourados, ele parecia exatamente como ele era quatro anos atrás quando me dera as boas-vindas
ao Chalé de Hermes. Annabeth fez um som de dor na parte traseira de sua garganta, como se algum otário a tivesse socado.
"Eu devo destruí-lo primeiro, Jackson?" Cronos perguntou. "É essa escolha que você fará - lutar comigo e morrer ao invés de se curvar? Profecias nunca terminam
bem, você sabe."
"Luke lutaria com uma espada," eu disse. "Mas eu acho que você não tem a habilidade dele."
Cronos fungou. Sua foice começou a mudar, até que ele segurava a velha espada de Luke, Malvada, que é metade aço, metade bronze celestial.
Próxima a mim, Annabeth engasgou como se ela tivesse acabado de ter uma ideia. "Percy, a lâmina!" Ela desembainhou sua faca. "A alma do herói, lâmina amaldiçoada
deve colher."
Eu não entendi porque ela estava me relembrando dessa linha da profecia naquele momento. Não era exatamente um apoio moral, mas antes que eu pudesse dizer qualquer
coisa, Cronos levantou sua espada.
"Espere!" Annabeth gritou.
Cronos veio até mim como um tornado.
Meus instintos me dominaram. Eu me esquivei e cortei e ataquei, mas eu senti que era como lutar com uma centena de espadachins. Ethan se abaixou para um lado,
tentando ficar atrás de mim até que Annabeth o interceptou. Eles começaram a lutar, mas eu não pude me concentrar em como ela estava se saindo. Eu estava vagamente
ciente de Grover tocando suas flautas de bambu. O som me encheu de calor e coragem - pensamentos sobre luz do sol e um céu azul e uma calma clareira, algum lugar
bem distante da guerra.
Cronos me encurralou no trono de Hefesto - um gigante mecânico do tipo garoto preguiçoso coberto com rodas dentadas douradas e prateadas. Cronos investiu e eu
me dirigi para pular no assento. O trono tremeu e cantarolou com mecanismos secretos. Modo de defesa, avisou. Modo de defesa.
Isso não podia ser bom. Eu pulei na direção da cabeça de Cronos no que o trono soltou gavinhas de eletricidade em todas as direções. Uma acertou Cronos no rosto,
fazendo-o arquear seu corpo e sua espada.
"ARG!" Ele ficou sobre os joelhos e soltou Malvada.
Annabeth viu sua chance. Ela chutou Ethan para fora do caminho dela e avançou contra Cronos. "Luke, escute!"
Eu queria gritar com ela, dizer a ela que era louca por tentar chamar Cronos à razão, mas não havia tempo. Cronos a atingiu com força. Annabeth voou para trás,
batendo no trono da mãe dela e deslizando até o chão.
"Annabeth!" eu gritei.
Ethan Nakamura se ergueu. Ele agora estava entre Annabeth e eu. Eu não poderia lutar com ele sem virar minhas costas para Cronos.
A música de Grover assumiu um tom mais urgente. Ele se moveu na direção de Annabeth, mas ele não podia se mover com mais rapidez e continuar a música. Pequenas
raízes cresceram entre as rachaduras das pedras de mármore.
Cronos apoiou-se em um joelho. O cabelo dele queimava lentamente. O rosto dele estava coberto com queimaduras de eletricidade. Ele chegou a sua espada, mas dessa
vez ela não voou para suas mãos.
"Nakamura!" ele gritou. "Hora de se pôr a prova. Você conhece a fraqueza secreta de Jackson. Mate-o, e você terá recompensas além do imaginado."
Os olhos de Ethan se dirigiram para meu tronco, e eu tinha certeza que ele sabia. Mesmo que ele não pudesse me matar ele mesmo, tudo o que tinha de fazer era
contar a Cronos. Eu não poderia me defender para sempre.
"Olhe ao seu redor, Ethan," eu disse. "O fim do mundo. É essa recompensa que você quer? Você realmente quer tudo destruído - o bom com o mal? Tudo?"
Grover estava quase com Annabeth agora. A grama crescia no chão. As folhas estavam com quase três centímetros de comprimento, como um monte de bigodes.
"Não há trono para Nêmesis," Ethan murmurou. "Sem trono para minha mãe."
"Isso é verdade!" Cronos tentou se levantar, mas cambaleou. Acima da sua orelha esquerda, um pouco de cabelo loiro ainda queimava. "Derrube-os! Eles merecem
sofrer."
"Você disse que sua mãe era a deusa do equilíbrio," eu relembrei-o. "Os deuses menores merecem algo melhor, Ethan, mas destruição total não é equilíbrio. Cronos
não constrói. Ele só destrói."
Ethan olhou para o trono fervente de Hefesto. A música de Grover ainda soava, e Ethan vacilou ao ouvi-la, como se a música estivesse enchendo-o com nostalgia
- o desejo de ver um belo dia, de estar em qualquer lugar menos aqui. Seu olho bom piscou.
E então ele investiu... mas não contra mim.
Enquanto Cronos ainda estava de joelhos, Ethan derrubou sua espada no pescoço do Lorde Titã. Deveria tê-lo matado instantaneamente, mas a lâmina se despedaçou.
Ethan caiu para trás, segurando seu estômago. Um fragmento de sua própria lâmina ricocheteou e perfurou sua armadura.
Cronos levantou-se instável, olhando para seu servo. "Traição," ele rosnou.
A música de Grover ainda era tocada, e a grama cresceu ao redor do corpo de Ethan. Ethan olhou para mim, seu rosto tenso de dor.
"Merecem algo melhor," ele engasgou. "Se eles somente... tivessem tronos-"
Cronos pisou com força, e o chão se rompeu ao redor de Ethan Nakamura. O filho de Nêmesis caiu por uma fissura até o coração da montanha - direto à céu aberto.
"Foi demais para ele." Cronos pegou sua espada. "E agora o resto de vocês."

Meu único pensamento era mantê-lo longe de Annabeth.
Grover estava ao lado dela agora. Ele tinha parado de tocar e estava alimentando-a com ambrosia.
Em todo lugar que Cronos pisava, as folhas enrolavam-se ao redor de seus pés, mas Grover parara sua mágica cedo de mais. As folhas não eram fortes ou grossas
o suficiente para fazer algo além do que irritar o titã.
Nós lutamos através da lareira, chutando brasas e faíscas. Cronos cortou um resto de armadura do trono de Ares, que por mim estava bem, mas então ele se virou
para o trono do meu pai.
"Oh, sim," Cronos disse. "Esse aqui vai dar uma ótima lenha para a minha nova lareira!"
Nossas lâminas fizeram uma chuva de faíscas. Ele era mais forte que eu, mas por um momento eu senti o poder do oceano em meus braços. Eu o empurrei para trás
e ataquei de novo - cortando com Contracorrente com tanta força que cortei um pedaço da couraça da armadura dele.
Ele bateu os pés de novo e o tempo abrandou. Eu tentei atacar mas eu estava me movendo na velocidade de uma geleira. Cronos se virou calmamente, segurando sua
respiração. Ele examinou o talho em sua armadura enquanto eu me debatia, amaldiçoando-o silenciosamente. Ele poderia tomar todas as pausas que desejasse. Ele poderia
me congelar no lugar conforme quisesse. Minha única esperança era que o esforço o drenasse. Se eu pudesse derrotá-lo...
"É tarde demais, Percy Jackson," ele disse. "Comporte-se."
Ele apontou para a lareira, e as brasas brilharam. Uma folha de fumaça cinza surgiu do fogo, formando imagens como numa mensagem de Íris. Eu vi Nico e meus pais
na Quinta Avenida, lutando uma batalha desesperada, cercado por inimigos. No fundo, Hades lutava na sua carruagem negra, convocando onda após onda de zumbis do subterrâneo,
mas as forças do Titã pareciam ser igualmente sem fim. Enquanto isso, Manhattan estava sendo destruída. Mortais, agora completamente acordados, estavam correndo
em terror. Carros derrapavam e batiam.
A cena mudou, e eu vi algo ainda mais assustador.
Uma coluna de tempestade estava se aproximando do Rio Hudson, movendo-se com velocidade através da costa de Jersey. Carruagens circundavam-na, envolvidas em
combate com a criatura na nuvem.
Os deuses atacaram. Relâmpagos apareceram. Flechas de ouro e prata foram arremessadas na direção da nuvem como se fossem foguetes e explodiram. Devagar, a nuvem
se dispersou e eu vi Tifão claramente pela primeira vez.
Eu sabia que por todo o tempo que vivesse (que poderia nem ser tão longo assim) eu nunca seria capaz de tirar a imagem da minha cabeça. A cabeça de Tifão mudava
com freqüência. A cada momento ele era um monstro diferente, cada um mais horrível que o outro. Olhar para seu rosto me deixaria louco, então eu me concentrei no
corpo dele, o que não era muito melhor. Ele era humanóide, mas a sua pele me lembrou um sanduíche de carne que ficou no armário de alguém durante todo o ano. Ele
era verde malhado com bolhas do tamanho de prédios, e com marcas enegrecidas por ter ficado eras preso em um vulcão. As mãos dele eram humanas, mas com garras, como
as de uma águia. Suas pernas eram escamosas e reptilianas.
"Os Olimpianos estão dando seu último esforço," riu Cronos. "Que patético."
Zeus jogou um raio de sua carruagem. A explosão levantou o mundo. Eu podia sentir o choque do Olimpo, mas quando a poeira assentou, Tifão ainda estava de pé.
Ele cambaleou um pouco, com uma cratera fumarenta no topo de sua cabeça sem forma, mas ele rosnou de raiva e continuou avançando.
Minhas pernas começaram a soltar-se. Cronos não pareceu notar. Sua atenção estava concentrada na luta e em sua vitória final. Se eu pudesse me manter por alguns
segundos, e meu pai mantesse sua palavra...
Tifão pisou no Rio Hudson e mal afundou seu tornozelo.
Agora, eu pensei, implorando para a imagem na fumaça. Por favor, tem que acontecer agora.
Como um milagre, uma concha em forma de chifre soou da figura nevoenta. O chamado do oceano. O chamado de Poseidon.
Ao redor de Tifão, o Rio Hudson entrou em erupção, tremendo com ondas de doze metros. Fora da coluna de água, uma nova carruagem apareceu - essa era puxada por
massivos hipocampos, que nadavam no ar com a mesma facilidade do que na água. Meu pai, brilhando com uma aura azulada de poder, fez um círculo ao redor das pernas
do gigante. Poseidon não era mais um homem velho. Ele parecia consigo mesmo novamente - bronzeado e forte com uma barba escura. No que ele balançou seu tridente,
o rio respondeu, formando um funil de nuvens ao redor do monstro.
"Não!" Cronos berrou depois de um momento de silêncio chocado. "NÃO!"
"AGORA, MEUS IRMÃOS!" A voz de Poseidon estava tão alta que eu não tinha certeza que a ouvia pela imagem de fumaça ou se ela cruzara toda a cidade. "STRIKE PARA
O OLIMPO!"
Guerreiros surgiram do rio, guiando, nas ondas, tubarões gigantes e dragões e cavalos marinhos. Era uma legião de ciclopes, e liderando-os batalha adentro estava...
"Tyson!" Eu gritei.
Eu sabia que ele não poderia me ouvir, mas eu olhei para ele com admiração. Ele tinha magicamente crescido. Ele tinha de ter 9 metros, tão grande quanto seus
primos mais velhos, e pela primeira vez ele estava vestindo uma armadura de batalha completa. Galopando atrás dele estava Briares, O De Cem Mãos.
Todos os ciclopes seguravam enormes cumprimentos de correntes de ferro negras - grandes o suficiente para ancorar um navio de batalha - com ganchos no final.
Eles as giraram como cordas e começaram a aprisionar Tifão, arremessando cordas ao redor das pernas e braços da criatura, usando a maré para continuarem circundando-o,
prendendo o monstro. Tifão chacoalhou e rosnou e atacou as correntes, empurrando alguns ciclopes para fora de suas montarias; mas havia correntes demais. O grande
peso do batalhão de ciclopes começou a trazer Tifão para baixo. Poseidon jogou seu tridente e atingiu o monstro na garganta. Sangue dourado, icor imortal, jorrou
do talho, formando uma cachoeira maior do que um arranha-céu. O tridente voou de volta para a mão de Poseidon.
Os outros deuses investiram com força renovada. Ares se levantou e atingiu Tifão no nariz. Ártemis atirou no monstro uma dúzia de flechas prateadas direto no
olho. Apolo atirou uma saraivada de flechas em chamas no monstro. E Zeus continuou acertando Tifão com raios, até que finalmente, devagar, a água subiu, levando
Tifão como se fosse um cocô, e ele começou a afundar com o peso das correntes. Tifão gritou em agonia, batendo com tanta força que as ondas varreram a costa de Jersey,
alagando prédios de cinco andares e derrubando a Ponte George Washington - mas abaixaram conforme meu pai abriu um túnel especial para ele - um redemoinho de água
sem fim que o levaria diretamente ao Tártaro. A cabeça do gigante afundou num espiral fervente, e ele fora embora.
"BAH!" Cronos gritou. Ele passou sua espada através da fumaça, dissipando a imagem.
"Eles estão vindo para cá," eu disse. "Você perdeu."
"Eu ainda nem comecei."
Ele avançou numa rapidez cegante. Grover - o sátiro corajoso e estúpido que era - tentou me proteger, mas Cronos o empurrou ele de lado como se fosse uma boneca
de pano.
Eu pisei de lado e investi debaixo da guarda de Cronos. Era um bom truque. Infelizmente, Luke o conhecia. Ele amorteceu o impacto e me desarmou usando um dos
primeiros movimentos que me ensinara. Minha espada deslizou pelo chão e caiu diretamente na fissura aberta.
"PARE!" Annabeth veio de lugar nenhum.
Cronos se virou para encará-la e atacou com Malvada, mas de algum jeito Annabeth aparou o impacto com a guia de sua adaga. Era um movimento que somente o mais
rápido e habilidoso lutador de faca poderia realizar. Não me pergunte de onde ela achou força, mas ela pisou mais próximo dele, as lâminas se cruzando, e por um
momento ela ficou cara-a-cara com o Lorde Titã, segurando-o quieto.
"Luke," ela disse cerrando os dentes. "Eu entendo agora. Você tem que confiar em mim.
Cronos rosnou em ultrage. "Luke Castellan está morto! O corpo dele vai se queimar assim que eu assumir minha forma verdadeira!"
Eu tentei me mexer, mas meu corpo congelou de novo. Como podia Annabeth, machucada e quase morta de exaustão, ter a força para lutar com um titã como Cronos?
Cronos investiu contra ela, tentando mover sua lâmina, mas ela o segurou, os braços dela tremendo no que ele forçava a espada na direção do pescoço dela.
"Sua mãe," Annabeth rosnou. "Ela viu o seu destino."
"Servir a Cronos!" O titã gritou. "Esse é o meu destino."
"Não!" Annabeth insistiu. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas, mas eu não sabia se eram lágrimas de dor ou tristeza. "Esse não é o fim, Luke. A profecia:
ela viu o que você faria. É sobre você!"
"Eu vou te esmagar, criança!" Cronos berrou.
"Você não vai," Annabeth disse. "Você prometeu. Você está segurando Cronos até agora."
"MENTIRAS!" Cronos empurrou de novo, e dessa vez Annabeth perdeu o equilíbrio. Com sua mão livre, Cronos esbofeteou seu rosto, e ela deslizou para trás.
Eu convoquei toda a minha força. Eu tentei me levantar, mas era como segurar o peso do céu de novo.
Cronos passou por Annabeth, sua espada levantada.
Sangue apareceu no canto da boca dela. "Família, Luke. Você prometeu."
Eu dei um doloroso passo à frente. Grover estava novamente de pé, perto do trono de Hera, mas ele parecia vacilar ao andar também. Antes de que qualquer um de
nós conseguíssemos chegar perto de Annabeth, Cronos parou.
Ele olhou para a faca nas mãos de Annabeth, o sangue em seu rosto. "Promessa."
Então ele engasgou como se não pudesse respirar. "Annabeth..." Mas não era a voz do titã. Era a voz de Luke. Ele cambaleou para frente, como se não pudesse controlar
o próprio corpo. "Você está sangrando..."
"Minha faca." Annabeth tentou erguer a adaga, mas escapou de sua mão. Seu braço estava estendido num ângulo engraçado. Ela olhou para mim, implorando, "Percy,
por favor..."
Eu podia me mover de novo.
Eu andei adiante e peguei a faca dela. Eu bati Malvada para fora das mãos de Luke, e a joguei na lareira. Luke quase não prestou atenção em mim. Ele avançou
na direção de Annabeth, mas eu me pus entre ele e ela.
"Não toque nela," eu disse.
Raiva passou pelo rosto dele. A voz de Cronos murmurou: "Jackson..." Era a minha imaginação, ou todo o corpo dele estava brilhando, virando ouro?
Ele engasgou de novo. A voz de Luke: "Ele está mudando. Ajudem. Ele... ele está quase pronto. Ele não precisará mais do meu corpo. Por favor-"
"NÃO!" Cronos berrou. Ele procurou por sua espada, mas estava na lareira, brilhando entre as brasas.
Ele bamboleou na direção dela. Tentei impedi-lo, mas ele me empurrou com tanta força que eu aterrissei perto de Annabeth e bati minha cabeça na base do trono
de Atena.
"A faca, Percy," Annabeth sussurrou. Sua respiração estava fraca. "Herói... lâmina amaldiçoada..."
Quando minha visão voltou a foco, eu vi Cronos pescando sua espada. Então ele berrou de dor e derrubou-a. Suas mãos estavam fumarentas e queimadas. O fogo da
lareira cresceu em vermelho-vivo, como se a foice não fosse compatível com ele. Eu vi a imagem de Héstia tremulante nas cinzas, olhando para Cronos com desaprovação.
Luke se virou e desmoronou, agarrando suas mãos arruinadas. "Por favor, Percy..."
Eu me ergui em meus pés. Eu andei na direção dele com a faca. Esse era o plano.
Luke pareceu saber o que eu estava pensando. Ele torceu os lábios. "Você não pode... não pode fazer por si mesmo. Ele vai quebrar o meu controle. Ele vai se
defender. Só a minha mão. Eu sei onde. Eu posso... posso mantê-lo sob controle."
Ele estava definitivamente brilhando agora, sua pele começando a soltar fumaça.
Eu levantei a faca para atacar. Então eu olhei para Annabeth, Grover segurando-a em seus braços, tentando protegê-la. E eu finalmente entendi o que ela estava
tentando me dizer.
Você não é o herói, Rachel tinha dito. Vai afetar o que você fará.
"Por favor," Luke rosnou. "Sem tempo."
Se Cronos revelasse sua forma verdadeira, não haveria como Pará-lo. Ele faria Tifão parecer um valentão de parquinho.
A linha da grande profecia ecoou em minha cabeça: A alma do herói, lâmina amaldiçoada deve colher. Todo o meu mundo ficou de cabeça para baixo e eu entreguei
a faca a Luke.
Grover ganiu. "Percy? Você está... hm..."
Louco. Insano. Fora do meu juízo perfeito. Provavelmente.
Mas eu só vi enquanto Luke agarrou o punho.
Eu fiquei a frente dele - indefeso.
Ele soltou as tiras da armadura, expondo um pequeno pedaço da sua pele logo abaixo do seu braço esquerdo, um lugar que seria bem difícil de atingir. Com dificuldade,
ele se esfaqueou.
Não era um corte profundo, mas Luke uivou. Os olhos dele brilharam como lava. A sala do trono tremeu, me fazendo perder o equilíbrio e cair. Uma aura de energia
cercou Luke, ficando cada vez mais e mais brilhante. Eu fechei meus olhos e senti a força de algo como uma explosão nuclear pinicar minha pele e rachar meus lábios.
Fez-se silêncio por um longo tempo.
Quando abri meus olhos, eu vi Luke estendido na lareira. No chão ao seu redor estava um círculo enegrecido de cinzas. A foice de Cronos tinha se liquefeito em
metal líquido e estava brilhando entre as brasas da lareira, que agora brilhavam como um forno de ferreiro.
O lado esquerdo de Luke estava sangrando. Os olhos dele estavam abertos - olhos azuis, do jeito que eles costumavam ser. Sua respiração arquejou profundamente.
"Boa... lâmina," ele crocitou.
Eu me ajoelhei ao seu lado. Annabeth veio até nós apoiando-se em Grover. Os dois tinham lágrimas nos olhos.
Luke olhou para Annabeth. "Você sabia. Eu quase matei você, mas você sabia..."
"Shhh." A voz dela tremeu. "Você foi um herói no final, Luke. Você irá para o Elísio."
Ele balançou a cabeça fracamente. "Pensando... renascer. Tentar três vezes. Ilhas dos Afortunados."
Annabeth fungou. "Você sempre se esforçou demais."
Ele levantou a mão queimada. Annabeth tocou as impressões digitais dele.
"Você..." Luke tossiu e seus lábios tingiram-se de vermelho. "Você me amou?"
Annabeth enxugou as lágrimas. "Houve um tempo em que eu pensei que... bem, eu pensava..." Ela olhou para mim, como se ela estivesse bebendo do fato de eu estar
ali. E eu percebi que fazia a mesma coisa. O mundo estava desmoronando, e a única coisa com que realmente importava para mim era que Annabeth estava viva.
"Você era como um irmão para mim, Luke," ela disse suavemente. "Mas eu não te amei."
Ele concordou, como se ele esperasse aquilo. Ele estremeceu de dor.
"Nós podemos pegar ambrosia," Grover disse. "Nós podemos-"
"Grover," Luke engoliu. "Você é o sátiro mais valente que eu já conheci. Mas não. Não há cura..." Outra tosse.
Ele agarrou a manga da minha camisa, e eu pude sentir o calor de sua pele como se fosse fogo. "Ethan. Eu. Todos os indeterminados. Não deixe... Não deixe acontecer
de novo.
Seus olhos estavam raivosos, mas suplicantes também.
"Não deixarei," eu disse. "Eu prometo."
Luke assentiu e sua mão tornou-se fraca.
Os deuses apareceram alguns minutos depois em todas as suas regalias de guerra, trovejando sala do trono adentro e esperando uma batalha.
O que eles encontraram foram Annabeth, Grover, e eu estagnados ao redor do corpo quebrado de um meio-sangue, na indistinta e quente luz da lareira.
"Percy," meu pai me chamou, receio em sua voz. "O que... o que é isso?"
Eu me virei e encarei os Olimpianos.
"Nós precisamos de uma mortalha," eu anunciei, minha voz embargada. "Uma mortalha para o filho de Hermes."






CAPÍTULO VINTE - GANHAMOS PRÊMIOS FABULOSOS



As moiras levaram o corpo de Luke. Eu não via as senhoras há anos, desde que eu testemunhara elas cortarem um fio da vida na barraca de frutas do outro lado
da rua, quando eu tinha doze anos. Elas me assustaram naquela época, e elas me assustaram agora - três avós fantasmagóricas com bolsas com fios de lã e agulhas de
tricô.
Uma delas olhou para mim, e mesmo que ela não tenha dito nada, minha vida passou literalmente por meus olhos. De repente eu estava com meus doze anos. Depois,
virei um homem de meia idade. Em seguida, velho e murcho. Toda minha força deixou meu corpo, e eu vi minha própria lapide e uma cova aberta, um caixão sendo abaixado
na terra. Tudo isso aconteceu em menos de um segundo.
Está feito, ela disse.
A Moira levantou um pedaço de fio azul - e eu sabia que era o mesmo que eu tinha visto há quatro anos atrás, o fio da vida que eu as vi cortar. Eu pensei
que era minha vida. Agora eu sabia que era a de Luke. Elas tinham me mostrado a vida que teria que ser sacrificada para concertar as coisas.
Elas recolheram o corpo de Luke, agora enrolado em uma mortalha branca e verde, e começaram a levá-lo para fora do salão dos tronos.
"Espere," Hermes disse.
O deus mensageiro estava vestido em um conjunto de roupas gregas brancas clássicas, sandálias, e um capacete. As asas de seu capacete batiam enquanto ele
andava. As cobras George e Martha enroscaram-se pelo caduceu, murmurando, Luke, pobre Luke.
Eu pensei em May Castellan, sozinha em sua cozinha, assando biscoitos e fazendo sanduíches para o filho que nunca mais voltaria para casa.
Hermes destapou o rosto de Luke e beijou sua testa. Ele murmurou algumas palavras em grego antigo - uma benção final.
"Adeus," ele sussurrou. Então ele acenou a cabeça, permitindo que as Moiras levassem o corpo de seu filho.
Enquanto elas saiam, eu pensei na Grande Profecia. As linhas agora faziam sentido para mim. A alma de um herói, a lâmina amaldiçoada vai tirar. O herói era
Luke. A lâmina amaldiçoada era a faca que ele havia dado a Annabeth anos antes - amaldiçoada porque Luke tinha quebrado sua promessa e traído seus amigos. Uma única
escolha decidirá o fim de seus dias. Minha escolha, a dar a ele a faca, e acreditar, assim como Annabeth, que ele ainda era capaz de concertar as coisas. O Olimpo
perecerá ou cairá. Por ter se sacrificado, ele tinha salvado o Olimpo. Rachel estava certa. No fim, eu não fui mesmo o herói. E sim Luke.
E eu entendi outra coisa: Quando Luke tinha decidido ir ao Rio Styx, ele tinha que focar em algo importante que o mantivesse em sua vida mortal. Ao contrario
ele teria se dissolvido. Eu tinha visto Annabeth, e eu tinha a sensação que ele também tinha visto-a. Ele tinha imaginado a cena que Hestia me mostrou - dele em
seus dias bons com Thalia e Annabeth, quando ele prometeu que eles seriam uma família. Machucar Annabeth na batalha tinha chocado ele e o feito lembrar-se da promessa.
Tinha permitido sua consciência mortal de tomar o controle novamente e vencer Cronos. Seu ponto fraco - Seu calcanhar de Aquiles - tinha nos salvado.
A meu lado, os joelhos de Annabeth tremiam. Eu a peguei, mas ela chorou de dor, e eu percebi que eu tinha pegado em seu braço machucado.
"Ah deuses," eu disse. "Annabeth, desculpe-me."
"Tudo bem," ela disse assim que desmaiava em meus braços.
"Ela precisa de ajuda!" eu gritei.
"Deixa comigo." Apollo aproximou-se. Sua armadura brilhava tanto que era difícil de olhar para ele, e seus óculos Ray - Bans ajustados e seu sorriso perfeito
o faziam parecer um modelo masculino para armaduras de guerra. "Deus da cura, a seu serviço."
Ele passou sua mão pelo rosto de Annabeth e murmurou um encanto. Imediatamente suas contusões sumiram. Seus cortes e cicatrizes desapareceram. Seu braço
endireitou-se e ela suspirou em seu sono.
Apollo sorriu. "Ela ficará bem em alguns minutos. Tempo suficiente para compor um poema sobre nossa vitória: 'Apollo e seus amigos salvaram o Olumpo.' Boa,
não?"
"Obrigado Apollo." Eu disse. "Eu, humm, deixarei você continuar com sua poesia."
As próximas poucas horas foram turvas. Eu lembrei da promessa que fiz para minha mãe. Zeus nem piscou um olho quando eu contei a ele meu pedido estranho.
Ele estalou seus dedos e disse que o topo do Edifício Empire State estava agora pintado de azul. A maioria dos mortais se perguntaria o que aquilo significava, mas
minha mãe saberia: Eu tinha sobrevivido. O Olimpo estava salvo.
Os deuses foram concertar a sala dos tronos, que foi muito rápido até com doze super poderosos em trabalho. Grover e eu cuidamos dos machucados, e uma vez
a ponte sobre o céu reformada, nós cumprimentamos nossos amigos que sobreviveram. Os ciclopes tinham salvado Thalia da estatua caída. Ela estava de muletas, mas
ela estava bem. Connor e Stroll tinham conseguido uns pequenos arranhões. Eles me prometeram que eles não tinham roubado muito a cidade. Eles me disseram que meus
pais estavam bem, embora eles não fossem permitidos de entrar no Monte Olimpo. Senhora O'Leary tinha tirado Quiron dos escombros e o levado de volta ao acampamento.
Os Stolls pareciam um pouco preocupados com o centauro, mas pelo menos ele estava vivo. Katie Gardner disse que ela tinha visto Rachel Elizabeth Dare correr pra
fora do Edifício Empire State no fim da batalha. Rachel parecia ilesa, mas ninguém sabia para onde ele tinha ido, o que também me deixou preocupado.
Nico di Ângelo chegou ao Olimpo como um herói bem vindo, seu pai logo atrás dele, tirando o fato que Hades só deveria visitar o Olimpo só solstício de inverno.
O deus dos mortos pareceu surpreso quando seus parentes vieram dar palmadinhas em suas costas. Duvido que ele jamais tenha recebido uma recepção tão entusiasmada
antes.
Clarisse entrou marchando, ainda tremendo pelo tempo que ficou no cubo de gelo, e Ares gritou. "Essa é minha garota!"
O deus da guerra acariciou o cabelo dela, e a pôs em suas costas, chamando-a de melhor guerreira que ele jamais viu. "Aquele drakon rastejador? É DAQUILO
que eu to falando!"
Ela pareceu muito cansada. Tudo o que ela conseguia fazer era concordar e piscar, como se ela temesse que ele começasse a acertar ela, mas de vez em quando
ela sorria.
Hera e Hephestus passaram por mim, enquanto Hephaestus tinha ficado um pouco irritado por eu subir em seu trono, embora ele tenha dito "um ótimo trabalho,
como sempre."
Hera suspirou em desdém. "Acho que eu não destruirei você e aquela garotinha,"
"Annabeth salvou o Olimpo," eu disse a ela. "Ela convenceu Luke a parar Cronos."
"Humm," sensível, Hera girou pra longe. Mas eu sabia que nossas vidas estavam salvas, pelo menos por enquanto.
A cabeça de Dionísio ainda estava presa em uma bandagem. Ele me olhou da cabeça aos pés e disse. "Bem, Percy Jackson. Eu vi Pollux sair dessa, então eu acho
que você não é totalmente incompetente. Isso tudo é graças ao meu treinamento, eu suponho."
"Hum, sim, senhor." Eu disse.
Senhor D. concordou. "Como agradecimento por minha bravura, Zeus cortou minha pena naquele horrível acampamento pela metade. Agora só me faltam cinqüenta
anos ao invés de cem."
"Cinqüenta anos, hein?" Eu tentei imaginar ter que aturar Dionísio até eu ser um homem velho, supondo-se que eu vivesse até lá.
"Não se anime, Percy," ele disse e eu percebi que ele estava dizendo meu nome corretamente. "Eu ainda planejo fazer de sua vida um inferno."
Eu não consegui não sorrir. "Naturalmente."
"Então estamos entendidos." Ele se virou e começou a concertar seu trono de vinhas, que tinha sido queimado.
Grover ficou ao meu lado. De vez em quando ele caía no choro. "Tantos espíritos da natureza mortos, Percy. Tantos."
Eu pus meus braços em volta de seu ombro e dei a ele um lenço para soar o nariz. "Você fez um ótimo trabalho, Super G. Nós voltaremos dessa vez. Plantaremos
novas arvores. Limparemos os parques. Seus amigos reencarnarão em um lugar melhos."
Ele fungou desajeitadamente. "Eu... Eu espero. Mas foi difícil o suficiente animá-los antes. Eu ainda sou um rejeitado. Eu mal consigo fazer alguém me ouvir
sobre Pan. Agora eles vão me ouvir de novo alguma vez? Eu os levei a um massacre."
"Eles ouvirão," eu prometi. "Porque você se importa com eles. Você se importa com a Natureza como nenhum outro faz."
Ele tentou sorrir. "Obrigado Percy. Espero... Espero que você saiba que eu tenho muito orgulho de ser seu amigo."
Eu apertei seus braços. "Luke estava certo sobre uma coisa, Super G. Você é o sátiro mais corajoso que eu já conheci."
Ele corou, mas antes que ele pudesse dizer alguma coisa, cornetas de chifre soaram. O exercito de Poseidon marchou até a sala dos tronos.
"Percy!" Tyson gritou. Ele veio até mim com seus braços abertos. Felizmente ele tinha diminuído a seu tamanho normal, então seu abraço era igual a um trator,
e não a fazenda toda.
"Você não esta morto!" ele disse.
"É," eu concordei. "Incrível, não?"
Ele bateu as palmas e riu feliz. "Eu também não estou morto. AHA! Nós acorrentamos Tifão. Foi divertido!"
Atrás dele, uns cinqüenta ciclopes armados riram e concordaram e abraçaram-se.
"Tyson nos guiou." Disse um. "Ele é corajoso!"
"O mais corajoso dos ciclopes!" outro gritou.
Tyson corou. "Não foi nada."
"Eu vi você!" eu disse. "Você estava incrível!"
Eu achei que o pobre do Grover fosse desmaiar. Ele morre de medo de ciclopes. Mas ele segurou os nervos e disse. "É, humm... Três vivas para o Tyson!"
"YAAAAARRRRRRR!" os ciclopes rugiram.
"Por favor, não me coma." Grover murmurou, mas eu acho que ninguém o ouviu.
As cornetas de chifre soaram de novo. Os ciclopes separaram-se e meu pai entrou na sala dos tronos em sua armadura de guerra com seu tridente brilhando em
suas mãos.
"Tyson!" ele gritou. "Muito bem, meu filho. E Percy -" Seu rosto ficou rígido. Ele apontou seus dedos para mim, e por um segundo eu pensei que ele fosse
me evaporar. "Eu te perdôo por sentar em meu trono. Você salvou o Olimpo!"
Ele abriu os braços e me deu um abraço. Eu percebi, um pouco envergonhado, que eu nunca tinha abraçado meu pai antes. Ele era quente - como um humano normal
- e cheirava a praia e brisa fresca marítima.
Quando ele se afastou, ele sorriu para mim. Senti-me tão bem, admito que eu chorei um pouco. Acho que até esse momento eu não tinha permitido a mim mesmo
de perceber o quão terrível eu tinha sido nos últimos anos.
"Pai -"
"Shh," ele disse. "Nenhum herói está salvo do medo, Percy. E você superou qualquer herói. Nem mesmo Hercules -"
"POSEIDON!" uma voz rugiu.
Zeus tinha sentado em seu trono. Ele olhava pela sala para moeu pai enquanto os outros deuses entravam e tomavam seus acentos. Até Hades estava presente,
sentado em uma cadeira de pedra simples na frente da lareira. Nico sentava de pernas cruzadas aos pés de seu pai.
"Bem, Poseidon?" Zeus grunhiu. "Você se importa de participar do conselho com agente, meu irmão?"
Pensei que Poseidon fosse ficar furioso, mas ele me olhou apenas e piscou. "Ficaria honrado, Senhor Zeus."
Acho que milagres acontecem. Poseidon sentou-se em seu trono marítimo, e o Conselho Olimpiano começou.

Enquanto Zeus falava - um longo discurso sobre a bravura dos deuses etc. - Annabeth entrou e parou perto de mim. Ela parecia bem para alguém que tinha acabado
de desmaiar.
"Perdi muita coisa?" ela sussurrou.
"Ninguém está planejando nos matar." Eu sussurrei de volta.
"Hoje pela primeira vez."
Eu ia sentar, mas Grover me cutucou porque Hera estava nos dando um olhar de despreso.
"Falando por meus irmãos," Zeus disse. "estamos agradecidos" - ele limpou sua garganta como se as palavras fossem difíceis de sair - "er, agradecidos pela
ajuda de Hades."
O deus dos mortos acenou. Ele tinha um olhar complacente em seu rosto, mas eu acho que tinha recebido o merecido. Ele acariciou seu filho Nico nos ombros,
e Nico parecia mais feliz do que ele jamais esteve.
"E, é claro," Zeus continuou, embora parecesse que suas calças estivessem queimando. "devemos... humm... agradecer a Poseidon."
"Desculpe-me, irmão," Poseidon disse. "O que você disse?"
"Devemos agradecer a Poseidon," Zeus murmurou. "Sem ele... Teria sido difícil de -"
"Difícil?" Poseidon perguntou inocentemente.
"Impossível," Zeus disse. "Impossível de se derrotar Tifão."
Os deuses murmuraram concordando e levantando suas armas em aprovação.
"O que nos deixa," Zeus disse. "com apenas a importância de agradecer aos nossos jovens heróis semideuses, que defenderam o Olimpo muito bem - mesmo tendo
uns poucos amassados em meu trono."
Ele chamou Thalia à frente primeiro, sendo ela sua filha, e prometido ajudá-la no preenchimento da formação das Caçadoras.
Artemis sorriu. "Você foi bem, minha tenente. Você me deixou orgulhosa, e todas as Caçadoras que desapareceram em meus serviços nunca serão esquecidas. Elas
irão para o Elísio, tenho certeza."
Ela olhou direto para Hades.
Ele deu de ombros. "Provavelmente."
Artemis continuou olhando para ele.
"Tudo bem," ele grunhiu. "Eu farei seus processos de aplicação."
Thalia encheu-se de orgulho. "Obrigada, minha senhora." Ela curvou-se para os deuses, até Hades, e depois ela saiu, ficando do lado de Artemis.
"Tyson, filho de Poseidon!" Zeus chamou. Tyson parecia nervoso, mas ele foi para o meio do Conselho, e Zeus falou.
"Ele não parece sentir falta de muitas refeições, parece?" Zeus murmurou. "Tyson, por sua bravura na guerra, e por liderar os ciclopes, você está promovido
a general dos exércitos do Olimpo. Daqui pra frente, você deverá liderar seu exercito para uma batalha sempre que for requerido pelos deuses. E você terá um novo...
Hum... Que tipo de arma você desejaria? Uma espada? Um machado?"
"Um Galho!" Tyson disse, mostrando seu bastão quebrado.
"Muito bem," Zeus disse. "Nós lhe daremos um novo, er, galho. O melhor galho que possa ser encontrado."
"Hoooray!" Tyson choramingou, e todos os ciclopes aplaudiram e puseram ele em suas costas enquanto ele se juntava a eles.
"Grover Underwood dos sátiros." Dionísio chamou.
Grover aproximou-se nervosamente.
"Ah, pare de mastigar sua camisa," Dionísio repreendeu. "Honestamente, eu não vou te tostar. Por sua bravura e sacrifício e blá, blá, blá, e desde que tivemos
nossas desafortunadas férias, os deuses decidiram nomeá-lo um membro do Conselho do Casco Fedido."
Grover caiu pra trás.
"Ah, ótimo." Dionísio suspirou, enquanto muitas náiades vinham ajudar Grover. "Bem, quando ele acordar, alguem diga a ele que ele não será mais um rejeitado,
e que todos os sátiros, náiades, e outros espíritos da natureza, daqui pra frente terão que tratá-lo como o Senhor da Natureza, com todos direitos, privilégios,
e honras, blá, blá, blá. Agora, por favor, levem-no para fora antes que ele acorde e comece a rebaixa-se.
"COMIIIIIIIIIIIIIDA." Grover gemeu, enquanto os espíritos da natureza o levavam embora.
Percebi que ele ficaria bem. Ele acordaria com o Senhor da Natureza rodeado com um monte de náiades cuidando dele. A vida podia ser pior.
Athena chamou. "Annabeth Chase, minha filha."
Annabeth apertou meu braço, e depois se aproximou e ficou aos pés de sua mãe.
Athena sorriu. "Você, minha filha, superou todas as expectativas. Usou toda sua inteligência, sua força, e sua coragem para defender essa cidade, e nosso
lugar de poder. Chamou-nos a atenção, o fato do Olimpo estar, bem... Um lixo. O Senhor Titã causou muito estrago que terá que ser reparado. Podemos reconstruir com
mágica, é claro, e fazê-lo exatamente igual ao que era antes. Mas os deuses acham que a cidade pode ser melhorada. Então aproveitaremos essa oportunidade. E você,
minha filha, fará essas melhorias."
Annabeth olhou para cima, surpresa. "Minha... Minha senhora?"
Athenas sorriu com um sorriso torcido. "Você é uma arquiteta, não é? Você tem estudado as próprias técnicas de Dédalo. Quem melhor pra redesenhar o Olimpo
e fazer dele um monumento que durará por outra eternidade?"
"Você quer dizer que... Eu posso desenhar o que eu quiser?"
"O que seu coração desejar." A deusa disse. "Faça-nos uma cidade que dure eras."
"Contanto que você coloque bastantes estátuas de mim." Apollo adicionou.
"E de mim." Afrodite concordou.
"Ei, e de mim!" Ares disse. "Grandes estátuas com grandes espadas e -"
"Chega," Athena interrompeu. "Ela já entendeu. Levanta-se, minha filha, arquiteta oficial do Olimpo."
Annabeth entrou em transe e veio até mim.
"Hora de ir," Eu disse a ela, sorrindo.
Pela primeira vez ela estava sem palavras. "Eu... Eu tenho que começar a planejar... Pegarei papéis e, humm, lápis -"
"PERCY JACKSON!" Poseidon anunciou. Meu nome ecoou pela sala.
Todos os murmúrios cessaram. A sala estava em silencio exceto pelo som do fogo da fogueira. Os olhos de todos estavam em mim - todos os deuses, semideuses,
os ciclopes, os espíritos. Eu andei para o meio da sala dos tronos. Hestia sorriu para mim, encorajadamente. Ela estava em forma de garota agora, e ela parecia feliz
e contente por estar sentada perto do fogo de novo. Seu sorriso me deu coragem para continuar caminhando.
Primeiro eu me curvei para Zeus. Depois, fiquei aos pés do meu pai.
"Levante-se, meu filho." Poseidon disse.
Eu levantei dificilmente.
"Um grande herói deve ser recompensado." Poseidon disse. "Há alguém aqui que negaria que meu filho é merecedor?"
Eu esperei por alguém se pronunciar. Os deuses nunca concordam em nada, e muitos deles ainda nem olhavam para mim, mas nenhum protestou.
"O Conselho concorda," Zeus disse. "Percy Jackson, você terá direito há um presente dos deuses."
Eu hesitei. "Um presente?"
Zeus concordou sorrindo. "Eu sei o que você pedira. O melhor presente de todos. Sim, se você quiser, ele será dado a você. Os deuses nunca concederam esse
presente a um herói em séculos, mas Perseus Jackson - se você desejar - você poderá se tornar um deus. Imortal. Você servirá como o líder de seu pai para sempre."
Eu olhei para ele, petrificado. "Hum... Um deus?"
Zeus rolou os olhos. "Um deus menor, aparentemente. Mas sim. Com o consenso de todo o Conselho, eu posso torná-lo imortal. Então terei que aturá-lo para
sempre."
"Humm" Ares meditou. "Quer dizer que eu posso esmagá-lo em polpa na hora que eu quiser, e ele sempre voltará para mais. Gostei da ideia."
"Eu aprovo," Athena disse, embora ela estivesse olhando para Annabeth.
Eu olhei para trás. Annabeth estava tentando não me olhar nos olhos. Seu rosto estava pálido. Eu voltei há dois anos atrás, quando eu pensei que ela fosse
se juntar a Arthemis e tornar-se uma Caçadora. Eu estive na beira de um ataque de pânico, achando que eu a perderia. Agora ela estava igual a mim.
Pensei nas Três Moiras, e o modo como vi minha vida em um flash. Eu poderia evitar tudo isso. Sem envelhecer, sem morte, sem o corpo em um túmulo. Eu poderia
ser um adolescente para sempre, em alta condição, poderoso, e imortal, servindo a meu pai. E poderia ter poder e vida eterna.
Quem poderia recusar isso?
Depois olhei para Annabeth de novo. Pensei nos meus amigos do acampamento: Charles Beckendorf, Michael Yew, Silena Beauregard, e tantos outros estavam mortos
agora. Pensei em Ethan Nakamura e Luke.
E eu sabia o que fazer.
"Não." Eu disse.
O Conselho estava em silencio. Os deuses olharam entre si, como se eles tivessem ouvido mal.
"Não?" Zeus disse. "Você está... Negando nosso presente generoso?"
Havia um tom perigoso em sua voz, como se uma tempestade estivesse pronta para explodir.
"Estou honrado e tudo," Eu disse. "Não me entendam mal. É só que... Eu ainda tenho muito que viver. Eu odiaria chegar ao meu segundo ano."
Os deuses estavam olhando para mim, mas Annabeth estava com suas mãos sobre a boca. Seus olhos estavam brilhando. Típico para esse momento.
"Eu quero um presente, entretanto." Eu disse. "Você promete conceder meu desejo?"
Zeus pensou sobre isso. "Se estiver dentro de nossos poderes."
"Está," Eu disse. "E nem é difícil. Mas eu preciso que você prometa pelo Rio Styx."
"O que?" Dionísio choramingou. "Você não acredita em nós?"
"Uma vez, alguém me disse," Eu disse, olhando para Hades, "Você sempre deve fazer um acordo justo."
Hades deu de ombros. "Culpado."
"Muito bem!" Zeus berrou. "Em nome do Conselho, juramos pelo Rio Styx conceder seu pedido aceitável contanto que esteja dentro de nossos poderes."
Os outros deuses murmuraram em aprovação. Um trovão rugiu, chacoalhando a sala do trono. O acordo estava feito.
"De agora em diante, eu quero que vocês reconheçam propriamente as crianças de deuses," Eu disse. "Todas as crianças... De todos os deuses."
Os Olimpianos mexeram-se inconfortáveis.
"Percy," meu pai disse. "o que exatamente você quer?"
"Cronos não teria libertado-se se ele não fosse por tantos semideuses que se sentiam abandonados por seus pais," eu disse. "Eles sentiam raiva, ressentimento,
e sem amor, e eles tinham bons motivos."
As narinas reais de Zeus inflaram. "Você ousa acusar -"
"Sem crianças indeterminadas," eu disse. "Quero que vocês prometam reclamar todas suas crianças - todas suas crianças semideuses - quando elas tiverem prestes
a fazer treze anos. Elas não serão jogadas no mundo vivendo por conta própria e a mercê de monstros. Eu quero que elas reclamadas e tragas ao acampamento para que
elas possam ser treinadas direito, e poder sobreviver."
"Agora, espere um momento," Apollo disse, mas eu já estava engatado.
"E os deuses menores," Eu disse. "Nemesis, Hecate, Morpheus, Janus, Hebe - todos eles merecem um perdão geral e um ligar no Acampamento Meio Sangue. Suas
crianças não devem ser ignoradas. Calypso e os outros filhos pacíficos de Titãs devem ser perdoados também. E Hades -"
"Você está me chamando de um deus menor?" Hades berrou.
"Não, meu senhor," Eu disse rapidamente. "Mas suas crianças não devem ser excluídas. Elas devem ter um chalé no acampamento. Nico provou isso. Semideuses
sem ser reclamados não deverão ser jogados no chalé de Hermes, perguntando quais são os seus pais. Eles terão seu próprio chalé, por todos os deuses. E sem mais
o pacto dos Três Grandes. Não funciona mesmo. Vocês tm que parar de tentar se livrar dos semideuses poderosos. Nós os treinaremos e os aceitaremos. Todas as crianças
de deuses serão bem vindas e tratadas com respeito. Esse é meu pedido."
Zeus bufou. "Tudo isso?"
"Percy," Poseidon disse. "Você pediu muito. Você supôs muito."
"Vocês estão presos pelo juramento," eu disse. "Todos vocês."
Recebi muitos olhares de aço. Estranhamente, foi Athena que falou: "O garoto está certo. Nós tivemos sido imprudentes ignorando nossas crianças. Isso mostrou
uma fraqueza estratégica nessa guerra e quase causou nossa destruição. Percy Jackson, eu tinha minhas dúvidas sobre você, mas talvez," - ela olhou para Annabeth,
e depois falou como se as palavras tivessem um gosto amargo - "Talvez eu estivesse errada. Eu voto para que aceitemos o plano do garoto."
"Humph," Zeus disse. "Ouvir o que fazer por uma mera criança. Mas eu suponho que..."
"Todos a favor." Hermes disse.
Todos os deuses levantaram as mãos.
"Hum, obrigado." Eu disse.
Eu me virei, mas antes que eu pudesse sair, Poseidon chamou. "Guarda de Honra."
Imediatamente os ciclopes vieram para frente e fizeram duas filas dos tronos às portas - um corredor para eu passar. Eles ficaram em guarda."
"Salve, Perseus Jackson," Tyson disse. "Herói do Olimpo... E meu grande irmão!"







































CAPÍTULO VINTE E UM - BLACKJACK É ROUBADO

Annabeth e eu estávamos tomando nosso rumo quando eu esbarrei com Hermes num jardim fora do palácio. Ele olhava fixamente uma mensagem de Íris numa fonte.
Eu olhei para Annabeth. "Te encontro no elevador".
"Tem certeza?", então ela estudou meu rosto. "Sim, você tem certeza".
Hermes não pareceu notar minha aproximação. As mensagens de Íris estavam passando tão rápidas que eu mal pude entendê-las. Notícias mortais se alteravam entre:
cenas da destruição de Tifão, os rastros de nossa batalha por Manhattam, o presidente fazendo um discurso, o prefeito de Nova Iorque, alguns veículos de guerra descendo
a Avenida das Américas.
"Incrível", Hermes murmurou. Ele olhou para mim. Ele se virou para mim. "Três mil anos, e eu nunca vou acabar com o poder da Névoa... e a ignorância mortal".
"Obrigado, eu acho".
"Ah, não você. Aliás, eu estive pensando, a recusa da imortalidade".
"Eu fiz a escolha certa".
Hermes me fitou curiosamente, então voltou sua atenção para a mensagem de Íris. "Olhe para eles. Eles já decidiram que Tifão foi uma série de tempestades.
Quem dera. Eles não descobriram como todas as estátuas de Manhattam foram removidas de seus suportes e feitas em pedaços. Eles continuam mostrando uma foto de Susan
B. Anthony estrangulando Frederick Douglass. Mas eu acho que eles encontrarão uma explicação lógica para isso".
"Quão ruim está a cidade?".
Hermes deu de ombros. "Surpreendentemente, não tão ruim. Os mortais estão aturdidos, é claro. Mas isso é Nova Iorque. Eu nunca vi um grupo de humanos tão vivos.
Eu imagino que tudo voltará ao normal em algumas semanas; e é claro, eu estarei ajudando".
"Você?".
"Eu sou o mensageiro dos deuses. É meu dever monitorar o que os humanos falam e, se necessário, fazê-los entender o que está acontecendo. Vou tranquilizá-los.
Acredite em mim, eles vão falar que foi um terremoto, ou uma oscilação do Sol. Qualquer coisa, mas não a verdade".
Ele parecia implacável. George e Martha se enrolaram em seus caduceus, mas estavam silenciosas, o que me fez imaginar que Hermes estava realmente realmente
bravo. Eu provavelmente deveria ficar em silêncio, mas falei: "Eu lhe devo desculpas".
Hermes me olhou suspeito. "E por quê seria?".
"Eu pensei que você fosse um pai ruim", eu disse. "Eu pensei que você tivesse abandonado o Luke por saber seu destino e feito nada para ajudá-lo".
"Eu sabia o destino dele", Hermes falou miseravelmente.
"Mas você sabia além da parte ruim - que ele se tornaria mal. Você entendeu o que ele faria no fim. Você sabia que ele faria a escolha certa. Mas você não poderia
contar a ele, poderia?".
Hermes encarou a fonte. "Ninguém pode lidar com o destino, Percy, nem mesmo um deus. Se eu tivesse contado a ele o que estava por vir, ou tentado influenciar
suas escolhas, teria tornado as coisas ainda piores. Ficar quieto, ficar longe dele... foi a coisa mais difícil que eu já fiz".
"Você teve de deixar que ele escolhesse seu próprio caminho", eu disse, "e que ele tivesse sua participação na salvação do Olimpo".
Hermes suspirou. "Eu não deveria ter ficado bravo com Annabeth. Quando Luke a visitou em São Francisco... bem, eu sabia que ela estava no destino dele. Eu previ
demais. Eu pensei que talvez ela pudesse fazer o que eu não podia e salvar Luke. Quando ela recusou ir com ele, eu mal pude conter minha raiva. Eu devia saber melhor.
Eu estava furioso comigo mesmo".
"Annabeth o salvou", eu disse. "Luke morreu um herói. Ele deu a vida para acabar com Cronos".
"Eu aprecio suas palavras, Percy, mas Cronos não morreu. Não se pode matar um Titã".
"Então -".
"Eu não sei", ele grunhiu. "Nenhum de nós sabe. Viram areia. Dispersam ao vento. Com sorte, ele reformará tão fraco que jamais conseguirá formar uma consciência
de novo, muito menos um corpo. Mas não acredite que ele está morto, Percy".
Meu estômago deu um solavanco. "Mas e quanto aos outros Titãs?".
"Escondendo-se", Hermes disse. "Prometeu enviou a Zeus uma carta com um pedido de desculpas por aliar-se a Cronos. 'Eu estava tentando minimizar os danos',
blá blá blá. Ele terá que ficar de cabeça baixa por alguns anos, se for esperto. Krios fugiu e o monte Othrys se desintegrou em ruínas. Oceanus recuou quando ficou
claro que Cronos perderia. Entretanto, meu filho Luke morreu. Ele acreditou que eu não me importava com ele. Eu nunca vou me perdoar".
Hermes golpeou a mensagem de Íris com o caduceus, e ela desapareceu.
"Há muito tempo atrás", eu disse, "você me disse que a coisa mais difícil em ser um deus era não poder ajudar os filhos. Você também me disse que não se pode
abandonar a família, por mais tentador que seja".
"E agora você sabe que eu sou um hipócrita?".
"Não, você estava certo. Luke te amava. No fim, ele percebeu seu destino. Eu acho que ele percebeu porque você não podia ajudá-lo. Ele se lembrou do que era
importante".
"Tarde demais para ele e para mim".
"Você tem outros filhos. Honre Luke reconhecendo-as. Todos os deuses podem fazer isto".
Hermes deu de ombros. "Eles tentarão, Percy. Oh, tentaremos manter nossas promessas. E talvez por um tempo as coisas melhorem. Mas nós deuses não somos bons
em manter juramentos. Você nasceu de uma promessa quebrada, né? Eventualmente nos tornaremos esquecidos. Sempre iremos".
"Vocês podem mudar".
Hermes riu. "Depois de três milênios, você acha que os deuses podem mudar suas naturezas?".
"Sim", eu disse. "Eu acho".
Ele pareceu surpreso. "Você acha... que Luke realmente me amava? Depois de tudo que aconteceu?".
"Tenho certeza".
Hermes encarou a fonte. "Dar-te-ei uma lista de meus filhos. Há um garoto em Wisconsin. Duas garotas em Los Angeles. Alguns outros. Você cuidará para que eles
vão para o acampamento?".
"Prometo", eu disse. "E não me esquecerei".
George e Martha se entrelaçavam no caduceu. Eu sabia que cobras não podiam rir, mas elas pareciam estar tentando.

Outra deusa me esperava no caminho para sair do Olimpo. Atena me esperava de braços cruzados e uma expressão que me fez pensar Uh-oh. Ela estava agira de jeans
e uma blusa branca, mas ela não parecia menos preparada para uma guerra. Seus olhos cinzas brilharam.
"Bem, Percy", ela disse. "Você continuará mortal".
"Um, sim senhora".
"Eu saberia suas razões".
"Eu queria ser um cara comum. Queria crescer. Ter, você sabe, uma experiência escolar normal".
"E minha filha?".
"Eu não podia deixá-la", admiti, a garganta seca. "Ou Grover," eu adicionei rapidamente. "Ou-".
"Poupe-me". Atena ficou mais perto de mim, e eu podia sentir sua áurea fazendo minha pele coçar. "Eu avisei você antes, Percy Jackson, que ao salvar um amigo
você destruiria o mundo. Eu estava errada. Você parece ter salvado seus dois amigos e o mundo. Eu te dei o benefício da dúvida. Não se confunda".
Só para deixar mais claro, ela irrompeu em chamas e desapareceu, carbonizando parte da minha camiseta.

Annabeth me esperava no elevador. "Por quê você está cheirando fumaça?".
"Longa estória", eu disse. Juntos descemos ao térreo. Nenhum de nós disse nada. A música era horrível - Neil Diamond ou algo do tipo. Eu deveria ter pedido
isso aos deuses também: músicas mais legais no elevador.
Quando chegamos ao lobby, eu vi minha mãe e Paul discutindo com o cara da secretaria, que tinha voltado ao trabalho.
"Estou te dizendo", minha mãe gritou. "Nós temos que subir! Meu filho -" Então ela me viu e seus olhos se arregalaram. "Percy!".
Ela me tirou a respiração.
"Nós vimos o prédio ficando azul", ela disse. "Mas você não descia. Você subiu horas atrás!".
"Ela estava ficando meio ansiosa", Paul disse.
"Ta tudo bem", prometi enquanto minha mãe abraçava Annabeth. "Ta tudo bem agora".
"Senhor Blofis", Annabeth disse. "Foi um golpe de espada malvado, o seu".
Paul deu de ombros. "Parecia a coisa a ser feita. Mas Percy, é mesmo... quero dizer, essa história de sexcentésimo andar?".
"Olimpo", eu disse. "Sim".
Paul olhou o prédio sonhadoramente. "Eu gostaria de ver isso".
"Paul", minha mãe falou. "Não é para mortais. De qualquer maneira, o importante é que estamos salvos. Todos nós".
Eu estava quase relaxando. Tudo parecia perfeito. Annabeth e eu estávamos bem. Minha mãe e Paul sobreviveram. O Olimpo estava salvo.
Mas a vida de um semideus nunca é fácil. Então Nico correu pela rua, e sua expressão me disse que havia algo de errado.
"É a Rachel", ele disse. "Acabei de esbarrar com ela na 32th Avenida".
Annabeth franziu a sobrancelha. "O que é que ela fez dessa vez?".
"É pra onde ela foi", Nico disse. "Eu disse a ela que ela morreria se tentasse, mas ela insistiu. Ela apenas pegou Blackjack e -".
"Ela pegou meu Pegasus?".
Nico assentiu. "Ela está indo para o Acampamento Meio-Sangue. Ela disse que tinha que chegar no Acampamento".



















CAPÍTULO VINTE E DOIS - EU SOU ATIRADO

Ninguém rouba o meu pegasus. Nem mesmo Rachel. Eu não tinha certeza se estava mais com raiva, surpreso ou preocupado.
"O que ela estava pensando?" Annabeth disse enquanto corríamos para o rio. Infelizmente, tive uma idéia muito boa, e ela me apavorou.
O trânsito estava horrível. Todo mundo foi para as ruas observar os danos de guerra. As sirenes da polícia pranteavam em cada bloco. Não havia possibilidade de pegar
um táxi, e o Pegasus tinha voado. Eu me conformaria com alguns pôneis de festa, mas eles desapareceram junto com a maioria da cerveja de raiz no centro da cidade.
Então corremos, atravessando uma multidão de mortais confusos que se aglomeravam nas calçadas.
"Ela não vai conseguir atravessar as defesas", Annabeth disse.
"Peleus vai comê-la."
Eu não tinha pensado nisso. A névoa não enganaria Rachel como a maioria das pessoas. Ela seria capaz de encontrar o acampamento sem problemas, mas eu tinha esperança
que as fronteiras mágicas a manteria fora como um campo de força. Não me ocorreu que Peleus poderia atacá-la.
"Temos que nos apressar". Olhei para Nico. "Eu suponho que você não poderia evocar alguns cavalos esqueleto."

Ele ofegava enquanto corria. "Estou tão cansado... não poderia convocar um osso do de cachorro."
Passamos pelo aterro com dificuldade e finalmente chegamos à costa, e eu soltei um sonoro assovio. Eu estava odiando fazer isso. Porque mesmo com o dólar de areia
que eu tinha dado para o East River para uma limpeza mágica, a água aqui ainda era poluída. Eu não queria deixar nenhum animal marinho doente, mesmo assim eles vieram
ao meu apelo.
Três linhas apareceram na água cinzenta, e um bando de cavalos marinhos subiu à superfície. Eles relincharam infelizes, sacudindo a lama do rio de suas crinas. Eram
lindas criaturas, com cauda de peixe multicolorido e a cabeça e patas de garanhão branco. O cavalo marinho na frente era muito maior do que os outros, um ajuste
para um passeio de Cíclope.
"Arco-íris!" Eu falei. "Como vai amigo?"
Ele relinchou se queixando.
"Sim, eu sinto muito," eu disse. "Mas é uma emergência. Nós precisamos chegar ao acampamento."
Ele bufou.
"Tyson?" Eu disse. "Tyson está bem, eu sinto muito que ele não esteja aqui. Ele agora é um grande general do exército Cyclope."
"NEEEEIGGGGHFJ
" Sim, eu tenho certeza que ele ainda vai lhe trazer maçãs. Agora, sobre esta carona..."
Em um momento, Annabeth, Nico e eu estávamos cruzando o East River mais rápido do que um Jet Ski. Muito velozes, passamos por debaixo da ponte suspensa (Throgs Neck
Bridge) em direção à Long Island.

Parecia uma eternidade até que vimos a praia do acampamento. Agradecemos os cavalos do mar, pulamos para terra firme só para descobrir que Argus esperava por nós.
Ele estava na areia com os braços cruzados e cem olhos nos fitando seriamente.
"Ela está aqui?"Eu perguntei.
Ele acenou com a cara amarrada.
" Está tudo bem?"Annabeth disse.
Argus balançou a cabeça.
Nós o seguimos pela trilha. Foi surreal estar de volta ao acampamento, porque tudo parecia tão pacífico: sem edifícios queimando, sem campistas feridos. Os chalés
brancos à luz do sol, e o orvalho brilhando nos campos. Mas o lugar estava praticamente vazio. Até na Casa Grande, havia algo definitivamente errado.
Luzes verde disparavam de todas as janelas, assim como eu havia visto no meu sonho sobre Mai Castellan. Névoa -do tipo mágica -girava em torno do jardim. Quiron
estava em seu estado natural de cavalo, cercado por um bando de sátiros na quadra de vôlei. Blackjack batia os cascos nervosamente na grama.
Não me culpe chefe! Ele suplicou quando me viu. A menina estranha me fez fazer isso!
Rachel Elizabeth Dare estava no topo dos degraus da varanda. Seus braços estavam levantados como se ela estivesse esperando alguém dentro da casa jogar bola com
ela.
"O que ela está fazendo?"Annabeth perguntou. "Como é que ela passou pelas barreiras?"
"Ela voou," um dos sátiros disse, olhando em tom acusatório para Blackjack. "Passou direto pelo dragão e pelos limites da barreira mágica."
"Rachel!"Eu chamei, mas os sátiros me detiveram quando tentei chegar mais perto.
"Percy, não," Chiron advertiu. Ele retrocedeu quando tentou se mover. Seu braço esquerdo estava em uma tipóia, suas duas patas traseiras estavam em talas, e sua
cabeça estava envolta em bandagens. "Você não pode interromper."
"Pensei que você havia explicado todos os perigos para ela!"
"Eu fiz. E a convidei para vir aqui."
Olhei para ele, incrédulo. "Você disse que nunca deixaria ninguém tentar novamente! Você disse-"
"Eu sei o que eu disse Percy. Mas eu estava errado. Rachel teve uma visão sobre a maldição de Hades. Ela acredita que pode ser quebrada agora. Ela me convenceu
de que merecia uma chance."
"E se a maldição não for quebrada? Se Hades não conseguiu o que queria, ela pode ficar louca!"
A névoa mágica girava em torno de Rachel. Ela tremia como se estivesse entrando em choque.
" Hey!"Eu gritei, "Pare." Eu corri na direção dela, ignorando os sátiros. Eu cheguei a dez pés de Rachel e bati em algo, como se tivesse acertado uma bola de praia
invisível. Eu caí na grama e me recuperei.
Rachel abriu os olhos e se virou. Parecia que estava sonâmbula, como se ela pudesse me ver, mas apenas em um sonho.
"Está tudo bem." Sua voz parecia longe. "É por isso que eu vim."
"Você vai ser destruída!"
Ela balançou a cabeça. "Eu pertenço a este lugar, Percy. Eu finalmente entendi o porquê."
May Castellan havia feito a mesma coisa.
Eu tinha que pará-la, mas eu não conseguia sequer chegar a seus pés.
A porta estava escancarada, luz verde jorrada lá de dentro.
Eu reconheci o cheiro antigo e quente da cobras.
A névoa parecia centenas de cobras de fumaça, enrolando nas colunas da varando e ondulando ao redor da casa. Em seguida, o oráculo apareceu na porta.
A múmia ressequida se arrastando para frente no seu vestido arco-íris. Ela parecia pior do que o habitual, como se fosse possível. O cabelo dela estava caindo em
penachos. Sua pele curtida rachando como assento desgastado de ônibus. Seus olhos vidrados olhavam fixamente para o espaço, me arrepiei quando vi que ela estava
indo na direção de Rachel.
Rachel estendeu os braços. Ela não parecia assustada.
"Você tem esperado muito tempo," Rachel disse." Mas agora estou aqui."
O sol brilhou mais intensamente. Um homem apareceu acima flutuando no ar um cara loiro com uma toga branca, com óculos escuros e um sorriso arrogante.
"Apolo", eu disse.
Ele piscou para mim, mas levantou o dedo aos lábios.
"Rachel Elizabeth Dare", disse ele. "Você tem o dom da profecia. Mas também é uma maldição. Tem certeza de que quer isso?"
Rachel assentiu. "É meu destino."
"Você aceita os riscos?"
"Aceito."
"Que assim seja," o Deus disse.
Rachel fechou os olhos. "Eu aceito este papel. Comprometo-me com Apolo deus dos oráculos. Abro os meus olhos para o futuro e abraço o passado. Eu aceito o espírito
de Delphi, voz dos Deuses, orador dos mistérios, vidente do destino."
Eu não sabia de onde ela tirava estas palavras, mas fluiu dela como névoa espessa. Uma coluna verde de fumaça, como uma serpente enorme, saiu da boca da múmia e
deslizou para baixo da escada, envolvendo carinhosamente os pés de Raquel. A múmia do Oráculo desintegrou, caindo no chão, restou apenas um monte de pó e um velho
vestido colorido. A névoa envolveu todo o corpo de Rachel e por um momento eu não podia vê-la.
Rachel caiu no chão e ficou em posição fetal.
Annabeth, Nico, e eu corremos em sua direção, mas Apolo disse, "Pare! Esta é a parte mais delicada."
"O que vai acontecer?" Eu quis saber. "O que você quer dizer?"
Apolo estudou Rachel com preocupação. "Ou o espírito toma conta dela, ou não."
"E se isso não acontecer?" Annabeth perguntou.
"Cinco sílabas," Apollo disse contando nos seus dedos.
"Isso seria realmente muito ruim."
Apesar da advertência de Apolo, e me ajoelhei em frente a Rachel, o cheiro do sótão tinha desaparecido. A névoa afundou no solo e a luz verde desbotou. Mas Rachel
estava ainda pálida. Quase sem respiração.
Então seus olhos se abriram. Ela focou em mim com dificuldade. "Percy".
"Você está bem?"
Ela tentou se sentar. "Ow." Ela apertou as mãos em suas têmporas.
"Rachel," Nico disse, "a sua aura de vida quase desapareceu. Eu estava vendo você morrer."
"Eu. Eu estou bem ", ela murmurou." Por favor, me ajude."
As visões - elas estão um pouco desorientadas."
"Você tem certeza que está bem?"Eu perguntei.
Apollo desceu suavemente para a varanda. "Senhores e Senhoras, gostaria de apresentar o oráculo de Delfos."
"Você está brincando", Annabeth disse.
Rachel deu um sorriso fraco. "É um pouco surpreendente para mim também, mas este é o meu destino. Eu vi isso quando eu estava em Nova York."
"Agora compreendo porque nasci com a verdadeira visão. Era para eu me tornar o Oráculo."
Pasmei. "Quer dizer que você pode dizer o futuro, agora?"
"Não toda hora", disse ela. "Mas há visões, imagens, palavras em minha mente. Quando alguém me faz uma pergunta, Eu... Ah, não."
"Começou," Apolo falou.
Rachel se dobrou como se alguém tivesse dado um soco nela.
Então ela se endireitou e seus olhos brilhando verdes.
Quando falou, sua voz triplicou, como se três Rachels estivessem falando ao mesmo tempo.
"Sete meio-sangues devem atender o chamado.
Pela tempestade ou fogo, o mundo deverá cair.
Um juramento deve manter um ultimo suspiro,
E inimigos carregaram suas armas para os portões da morte. "
Na última palavra, Rachel entrou em colapso. Nico e eu a pegamos e levamos para a varanda. Seu corpo estava febril.
''Eu estou bem, "ela disse, com a voz retornando ao normal.
"O que foi?" Eu perguntei.
Ela balançou a cabeça, confusa. "O que foi aquilo?"
"Eu acredito," Apolo disse, "que acabamos de ouvir a próxima grande Profecia."
"O que isso significa?" Eu quis saber.
Rachel franziu a testa. "Eu nem lembro o que eu disse."
"Não," Apolo ponderou. "O espírito só falará através de você ocasionalmente. O resto do tempo, a nossa Rachel será mais igual como sempre. Não há nenhuma razão
em interrogá-la, mesmo que ela tenha previsto o futuro do mundo."
"O que?" Eu disse. "Mas -"
"Percy," Apollo disse, "eu não me preocuparia muito. A última grande profecia sobre você levou quase setenta anos para se completar. Esta mesmo pode nem acontecer
durante sua vida."
Eu pensei sobre as linhas de Rachel tinha falado com sua voz assustadora: Sobre tempestades e incêndios e as Portas da Morte.
"Talvez", disse eu, "mas não soava muito bem."
"Não", disse Apolo alegremente. "É claro que não. Ela vai ser um ótimo oráculo!"
Foi difícil deixar o assunto pra lá, mas Apollo insistiu que Rachel precisava descansar, e ela parecia bastante desorientada.
''Me desculpe Percy, "ela disse. "Volte para o Olimpo, eu não saberia como explicar tudo para você, mas o chamado me assustou. Eu não acho que você entenderia."
"Eu continuo sem entender." admiti. "Mas estou feliz por você."
Rachel sorriu. "Provavelmente feliz não é a palavra certa. "Ver o futuro e tudo, não vai ser fácil, mas é o meu destino.Só espero que a minha família..."
Ela não concluiu seu pensamento.
"Você ainda vai para a academia Clarion?" Eu perguntei.
"Eu fiz uma promessa ao meu pai. Acho que vou tentar ser um pouco normal durante o ano letivo, mas-"
"Mas agora, você precisa dormir," Apolo repreendeu.
"Quiron, eu não acho que o sótão é o lugar adequado para o nosso novo oráculo, não é?"
"Certamente não é." Chiron parecia muito melhor agora, Apollo tinha aplicado um pouco de magia médica sobre ele.
"Rachel por enquanto podemos arrumar um quarto de hóspedes na casa grande, depois pensaremos melhor no assunto."
''E indicaria uma caverna nas colinas," Apollo ponderou. "Com tochas e uma grande cortina púrpura na entrada...Realmente misterioso. Mas dentro, muitas almofadas
enfeitadas, com uma sala de jogos e um sistema de home theater."
Chiron pigarreou alto.
"O que?" Apolo gemeu.
Rachel me beijou na bochecha. "Adeus, Percy," ela sussurrou. "E eu não preciso ver o futuro para lhe dizer o que vai fazer agora, né?"
Seus olhos pareciam mais penetrante do que antes. Corei. "Não."
"Bom", disse ela. Então se virou e seguiu Apollo para a Casa Grande.
O resto do dia foi tão estranho quanto no começo.
Caravanas de campistas vieram de Nova York de carro, pegasus e carruagem. Os feridos foram atendidos. Para os mortos foram dados os ritos fúnebres na fogueira.
A Mortalha de Silena era cor de rosa, mas com um bordado de uma lança elétrica. Os Chalés de Ares e Afrodite a proclamaram com uma heroína, acenderam a mortalha
juntos. Ninguém mencionou a palavra espiã. Esse segredo queimou junto com sua mortalha até as cinzas e a fumaça perfumada subiu aos céus.
.
Mesmo Ethan Nakamura recebeu uma mortalha de seda preta com um logotipo de espadas cruzadas sob um conjunto de setas em escala. Sua mortalha pegou fogo, eu esperava
que Ethan tivesse consciência que havia feito diferença no final. Ele pagou com muito mais do que um olho, mas os deuses menores finalmente dariam a ele o respeito
merecido.
O jantar foi silencioso. O único destaque foi Juniper a ninfa da árvore, que gritava: "Grover!" e deu a seu namorado um grande abraço voador, fazendo com que todos
aplaudissem.
Eles desceram para a praia para dar um passeio ao luar, e eu estava feliz por eles, embora a cena me fizesse lembrar Silena e Beckendorf, o que me deixou pra baixo.
Sra. O'leary brincava ao redor feliz da vida, comendo todos os restos de comida de cima das mesas. Nico sentou à mesa principal, com Quiron e Mr. D, e ninguém pareceu
achar que algo estava fora de lugar. Todo mundo dava tapinhas nas costas de Nico, cumprimentando-o pela sua luta. Até as crianças de Ares estavam muito legais. Hey,
apareceu um exército de guerreiros mortos-vivos para salvar o dia, e de repente todo mundo é melhor amigo.
Lentamente, a multidão ia embora do jantar. Alguns foram para a fogueira para cantar. Outros foram para a cama. Sentei-me sozinho na mesa de Poseidon e fiquei vendo
o luar e ouvindo os barulhos de Long Island. Eu podia ver Grover e na Juniper na praia, de mãos dadas e conversando. Tudo estava tranqüilo.
"Hey". Annabeth escorregou para meu lado no banco. "Feliz aniversário."
Ela trazia uma forminha com um bolo disforme cheio de açúcar azul por cima.
Olhei para ela. "O que?"
"É 18 de agosto", disse ela. "Seu aniversário, né?"
Fiquei espantado. Nem tinha lembrado, mas ela estava certa. Eu fiz dezesseis anos nesta manhã, a mesma que eu havia feito a escolha de dar a faca a Luke. A profecia
havia se realizado direitinho no horário, e eu não tinha sequer pensado no fato de ser meu aniversário.
"Faça um desejo", ela disse.
"Você fez este bolo sozinha?" Eu perguntei.
"Tyson ajudou."
"Isso explica porque ele se parece com um tijolo de chocolate."
"Com o cimento azul extra."
Annabeth riu.
Eu pensei por um segundo, depois apaguei a vela.
Cortamos pela metade e dividimos, comemos com as mãos.
Annabeth sentou mais perto e ficamos olhando o mar.
Grilos e monstros estavam a fazendo barulho na mata, mas fora isto estava tranqüilo.
"Você salvou o mundo", ela disse.
"Nós salvamos o mundo".
"E Rachel é o novo Oráculo, o que significa que ela não vai poder namorar."
"Você não parece decepcionada," eu notei.
Annabeth encolheu. "Oh, eu não me importo."
"Uh-huh."
Ela levantou suas sobrancelhas. "Você tem algo a dizer mim cabeça de alga?"
"Você provavelmente iria chutar a minha bunda".
"Você sabe que eu chutaria mesmo."
Eu bati o resto de bolo das minhas mãos. "Quando eu estava no rio Styx, tornando-me invulnerável... Nico disse que eu tinha de se concentrar em uma coisa que me
mantivesse preso a este mundo, que me faria querer ser mortal."
Annabeth mantinha seus olhos no horizonte. "Sim?"
"Então, até no Olimpo," Eu disse, "quando eles queriam tornar-me um deus e outras coisas, eu pensei um pouco-"
"Ah, você queria tanto."
"Bem, talvez um pouco. Mas eu não fiz, porque eu achava - Eu não queria que as coisas continuassem as mesmas para toda a eternidade, porque sabe, sempre pode melhorar.
E eu fiquei pensando..." Minha garganta estava ficando seca.
"Alguém em particular?" Annabeth perguntou com uma voz macia.
Eu olhei e vi que ela estava tentando não sorrir.
"Você está rindo de mim." eu reclamei.
"Não estou não!"
"Você não está facilitando as coisas."
Então ela riu de verdade, e colocou as mãos no meu pescoço. "Eu nunca, nunca vou fazer as coisas ficarem fáceis para você cabeça de alga. Acostume-se com isso."
Quando ela me beijou, eu tinha a sensação de meu cérebro estava derretendo dentro de mim.
Eu poderia ter ficado ali para sempre, exceto quando uma voz atrás de nós rosnou: "Bem, já era tempo!"
De repente, o pavilhão estava cheio de tochas e campistas. Clarisse liderando os bisbilhoteiros que nos cercaram e nos colocaram em seus ombros.
"Ah, vamos!" Eu reclamei. "Não há privacidade?"
"Os passarinhos apaixonados precisam se refrescar!" Clarisse disse com alegria.
"O lago de canoagem!" Connor Stoll gritou.
Com uma alegria enorme, eles nos levaram para baixo do morro, mas nos manteve perto o suficiente para darmos as mãos. Annabeth não parava de sorrir e eu não pude
deixar de rir também, mesmo que o meu rosto estivesse completamente vermelho.
Demos as mãos até o momento em que eles nos jogaram na água.
Depois, fui o último a rir. Fiz uma grande bolha de ar no fundo do lago. Nossos amigos ficaram esperando por nós, mas hey, quando você é o filho de Poseidon, não
precisa ter pressa.
E foi o melhor beijo submarino de todos os tempos

CAPÍTULO VINTE E TRÊS - NÓS DIZEMOS ADEUS, MAIS OU MENOS

O acampamento foi até mais tarde naquele verão. Durou mais duas semanas, exatamente no começo do novo ano letivo, e eu tenho que admitir que foram as melhores
duas semanas da minha vida.
É claro, Annabeth me mataria se eu dissesse algo diferente, mas também tinha um bocado de outras coisas legais acontecendo. Grover tinha assumido o controle
dos sátiros buscadores e estava mandando eles pelo mundo para encontrar meio-sangues não reivindicados.
Até agora, os deuses tinham mantido a promessa. Novos semideuses estavam pipocando em todos os lugares - não só nos Estados Unidos, mas em vários outros países
também.
"Nós mal conseguimos acompanhar," Grover admitiu numa tarde enquanto estávamos no intervalo perto do lago. "Nós vamos precisar de um maior orçamento de viagens,
e eu poderia usar mais uma centena de sátiros."
"É, mas os sátiros que você tem estão trabalhando super duro," eu disse. "Acho que eles estão com medo de você."
Grover enrubesceu. "Isso é bobagem. Eu não sou assustador."
"Você é o lorde da Natureza, cara. O escolhido de Pã. Um membro do Conselho dos-"
"Para com isso! Protestou Grover. "Você é tão mau quanto Junípero. Eu acho que ela quer que eu concorra à presidência depois disso."
Ele mastigou uma lata de alumínio enquanto nós olhávamos por cima do lago para a fileira de novos chalés em construção. O formato de U brevemente seria um retângulo
completo, e os semideuses tinham realmente pegado a nova tarefa com prazer.
Nico tinha alguns construtores mortos-vivos trabalhando no chalé de Hades. Ainda que ele fosse a única criança lá, estava ficando bem legal: paredes sólidas
de obsidiana com uma caveira acima da porta e tochas que ardiam com fogo verde vinte e quatro horas por dia. Perto desse estavam os chalés de Íris, Nêmesis, Hécate
e diversos outros que eu não reconhecia. Eles continuavam adicionando novos às plantas-baixas todo dia. Estava indo tão bem, Annabeth e Quíron estavam falando sobre
incluir uma ala inteiramente nova de chalés para que houvesse espaço suficiente.
O chalé de Hermes estava bem menos lotado agora, porque muitas das crianças não reivindicadas tinham recebido sinais de seus pais divinos. Acontecia quase toda
noite, e toda noite mais semideuses cruzavam as fronteiras da propriedade com guias sátiros, geralmente perseguidos por alguns monstros nojentos, mas quase todos
eles conseguiram entrar.
"Vai ser muito diferente no próximo verão," eu disse. "Quíron espera que nós tenhamos o dobro de campistas."
"É," concordou Grover, "mas ainda vai ser o mesmo velho lugar."
Ele suspirou contente.
Eu observei Tyson liderar um grupo de Ciclopes construtores. Eles estavam içando enormes rochas para o chalé de Hécate, e eu sabia que era um trabalho delicado.
Cada pedra estava gravada com uma escrita mágica, e se eles deixassem uma delas cair, ou iria explodir ou transformar todos no raio de meio quilômetro em árvores.
Achei que ninguém além de Grover iria gostar disso.
"Eu viajarei bastante," avisou Grover, "protegendo a natureza e encontrando meio-sangues. Eu não devo ver você tanto assim."
"Não vai mudar nada," eu disse. "Você ainda é meu melhor amigo."
Ele sorriu. "Tirando Annabeth."
"Isso é diferente."
"É," ele concordou. "Com certeza."
No fim da tarde, eu estava dando uma última caminhada ao longo da praia quando uma voz familiar disse, "Bom dia para pescar."
Meu pai, Poseidon, estava parado na rebentação com a água batendo em seus joelhos, vestindo sua típica bermuda, boné surrado, e uma camisa rosa e verde do Tommy
Bahama, realmente sutil. Ele tinha uma vara para pescar no alto mar em suas mãos, e quando ele lançou a linha foi embora - tipo lá no meio de Long Island Sound.
"Ei, pai," eu disse. "O que traz você aqui?"
Ele piscou. "Nunca consigo falar em particular com você no Olimpo. Queria lhe agradecer."
"Agradecer a mim? Você veio para o resgate."
"Sim, e tive meu palácio destruído no processo, mas você sabe - palácios podem ser reconstruídos. Eu recebi tantos cartões de agradecimento dos outros deuses.
Até Ares escreveu um, ainda que eu ache que Hera o forçou. É meio gratificante. Então, obrigado. Suponho que até os deuses podem aprender uns novos truques."
O mar começou a ferver ao final da frase do meu pai, uma enorme serpente marinha verde emergiu da água. Ela açoitou e lutou, mas Poseidon suspirou. Segurando
sua vara de pescar com uma mão, ele sacou sua faca e cortou a linha. O monstro afundou abaixo da superfície.
"Não é um tamanho bom para comer," ele reclamou. "Eu tenho que soltar esses pequenos ou os guardas do jogo vão ficar atrás de mim."
"Pequenos?"
Ele sorriu. "Você está fazendo bem com esses novos chalés, a propósito. Suponho que isso significa que tenho que reivindicar todos os meus outros filhos e filhas
e mandar alguns irmãos para você no próximo verão."
"Há-há."
Poseidon enrolou de volta sua linha vazia.
Eu joguei o peso para o outro pé. "Hum, você estava brincando, certo?"
Poseidon me deu uma de suas piscadelas de brincadeira, e eu ainda não sabia se ele tinha falado sério ou não. "Vejo você em breve, Percy. E lembre quais são
os peixes grandes o bastante para fisgar, eh?"
Com isso ele se dissolveu em brisa marinha, deixando uma vara de pescar deitada na areia.

Aquela noite seria a última no acampamento - a cerimônia das contas. O chalé de Hefesto tinha feito o design da conta desse ano. Mostrava o Empire State Building,
e gravado em minúsculas letras gregas, espiralando em torno da imagem, estavam os nomes de todos os heróis que tinham morrido defendendo o Olimpo. Havia nomes demais,
mas eu estava orgulhoso de usar a conta. Eu a botei no meu colar do acampamento - quatro contas agora. Me senti como um veterano. Pensei sobre a primeira fogueira
do acampamento que eu tinha comparecido, de volta quando tinha doze anos, e o quanto eu me senti tão em casa. Isso pelo menos não tinha mudado.
"Nunca se esqueçam desse verão!" Quíron falou para nós. Ele tinha se recuperado notavelmente bem, mas ele ainda trotava na frente da fogueira mancando levemente.
"Nós descobrimos bravura e amizade neste verão. Nós defendemos a honra do acampamento."
Ele sorriu para mim, e todos aplaudiram. Enquanto eu olhava para a fogueira, eu vi uma garotinha num vestido marrom cuidando das chamas. Ela piscou para mim
com brilhantes olhos vermelhos. Ninguém parecia notá-la, mas percebi que talvez ela preferisse assim.
"E agora," Quíron disse, "cedo para cama! Lembrem-se, vocês devem desocupar seus chalés até amanhã ao meio-dia a menos que tenham combinado de ficar o ano conosco.
As harpias da limpeza vão comer qualquer atrasadinho, e eu ia odiar terminar o verão com uma nota amarga!"

Na manhã seguinte, Anabeth e eu estávamos no topo da Colina Meio-Sangue. Nós observamos os trens e vans se afastando, levando a maioria dos campistas de volta
para o mundo real. Poucos veteranos estavam ficando para trás, e alguns dos novatos, mas eu estava indo de volta para o Colégio Goode para o segundo ano - a primeira
vez na minha vida que eu estaria cursando dois anos na mesma escola.
"Tchau," Rachel disse para nós enquanto botava a sacola no ombro. Ela parecia bem nervosa, mas estava mantendo a promessa com seu pai e indo para a Academia
Clarion em New Hampshire. Já seria o verão seguinte até que tivéssemos de volta o nosso Oráculo.
"Você vai se sair bem," Annabeth abraçou ela. Engraçado, ela parecia se dar muito bem com Rachel esses dias.
Rachel mordeu os lábios. "Espero que você esteja certa. Estou um pouco preocupada. E se alguém me perguntar o que vai cair no próximo teste de matemática e
eu começar a despejar uma profecia no meio da aula de geometria? O teorema de Pitágoras deve ser a segunda questão... Deuses, isso seria vergonhoso."
Annabeth riu, e par meu alívio, isso fez Rachel sorrir.
"Bem," ela disse, "vocês dois sejam bons um ao outro." Vai entender, mas ela olhou para mim como se eu como se eu fosse algum tipo de delinquente.
Antes que eu pudesse protestar, Rachel se despediu e correu colina abaixo para pegar sua carona.
Annabeth, graças a Deus, iria permanecer em Nova York. Ele obteve permissão de seus pais para freqüentar um internato na cidade de forma que ela pudesse ficar
perto do Olimpo e supervisionar os esforços da reconstrução.
"E perto de mim?" eu perguntei.
"Bem, alguém tem um grande senso de sua própria importância."
Mas ela enlaçou seus dedos entre os meus. Lembrei do que ela tinha me dito em Nova York, sobre construir algo permanente, e eu pensei - apenas talvez - que
nós estávamos partindo para um bom começo.
O dragão de guarda Peleus se enroscou contente em volta do pinheiro debaixo do Velocino de Ouro e começou a roncar, soprando vapor a cada respiração.
"Você esteve pensando sobre a profecia de Rachel?" perguntei para Annabeth.
Ela franziu a sobrancelha. "Como você sabia?"
"Porque eu conheço você."
Ele me bateu com o ombro. "Ok, eu pensei. Sete meio-sangues devem responder o chamado. Imagino quem serão eles. Nós vamos ter tantas caras novas no próximo
verão."
"Sim," eu concordei. "E toda aquela coisa do mundo cair em tempestade ou fogo."
Ela mordeu os lábios. "E inimigos nas Portas da Morte. Eu não sei, Percy, mas não gosto disso. Pensei que... bem, talvez nós tivéssemos um pouco de paz em troca."
"Não seria o Acampamento Meio-Sangue se fosse pacífico," eu disse.
"Acho que você tem razão... Ou talvez a profecia não aconteça por anos."
"Poderia ser um problema para outra geração de semideuses," eu concordei. "Então podemos chutar tudo pro alto e aproveitar."
Ela assentiu, ainda que continuasse parecendo inquieta. Eu não a culpava, mas era difícil se sentir chateado num dia agradável, com ela ao meu lado, sabendo
que eu não estava realmente dizendo adeus. Nós tínhamos um bocado de tempo.
"Uma corrida até a estrada?" eu disse.
"Você vai perder tão feio." Ela partiu em descida da Colina Meio-Sangue e eu corri atrás dela.
Pela primeira vez, eu não olhei para trás.





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Rick Riordan - Percy Jackson e os Olimpianos

A BATALHA DO LABIRINTO



Este livro ainda não está pronto, é provisório até a revisão oficial.
Mais um livro traduzido pela Máfia dos Livros: cmm=35986512
SUMÁRIO:






AGRADECIMENTOS..............................................................................................3
VOLUNTÁRIOS...................................................................................................................4
UM - Eu Batalho com um Esquadrão de Líderes de Torcida................................................5
DOIS - O Mundo Inferior Me Passa um Trote....................................................................15
TRÊS - Brincamos de Pega-Pega com Escorpiões..............................................................29
QUATRO - Annabeth Quebra as Regras............................................................................45
CINCO - Nico Compra Mc Lanche Feliz Para Os Mortos..................................................56
SEIS - Nós Encontramos o Deus de Duas Caras.................................................................64
SETE - Tyson Lidera uma Fuga de Presos..........................................................................72
OITO - Nós Visitamos o Demônio do Rancho....................................................................81
NOVE - Eu Recolho Cocô...................................................................................................96
DEZ - Nós Jogamos o Game Show da Morte....................................................................104
ONZE - Eu Ateio Fogo em Mim Mesmo..........................................................................117
DOZE - Ganho Férias Permanentes..................................................................................128
TREZE - Nós Contratamos um Novo Guia.......................................................................140
CATORZE - Meu Irmão Duela Comigo Até a Morte.....................................................154
QUINZE - Roubamos Algumas Asas Usadas...................................................................165
DEZESSEIS - Eu Abro Um Caixão..................................................................................177
DEZESSETE - O Deus Perdido Fala................................................................................187
DEZOITO - Grover Causa um Estouro............................................................................194
DEZENOVE - O Conselho se Divide...............................................................................205
VINTE - Minha Festa de Aniversário Toma um Rumo Sombrio......................................211
PROPAGANDA - .............................................................................................................223












AGRADECIMENTOS
Esperamos que este trabalho seja de grande préstimo tanto aos inúmeros fãs da série quanto a qualquer um que queira apenas uma distração e também àqueles que
tenham algum interesse sobre mitologia.
Nem todos conseguem imaginar o esforço, o cansaço e até as dificuldades na realização de um projeto deste tipo, e por isso, muitas vezes ainda julgam a imperfeição
do que fizemos. Mas esperamos que os leitores compreendam que os responsáveis por cada etapa, apesar de serem amadores, foram competentes para entregar um trabalho
o mais digno possível ao texto original. Sendo assim, esperamos que todos prestigiem e sintam-se satisfeitos com o resultado final.
Aos tradutores/revisores, a realização deste trabalho causou-lhes prazer, e ao mesmo tempo uma grande obstinação, por vê-lo acabado o quanto antes. Tiveram que
realizá-lo em um curto espaço de tempo, alguns ficando acordados até tarde da noite na ânsia de entregar antes do prazo estipulado e, assim, trazendo alegria a todos,
além de causar grande expectativa ao próximo capítulo. E quando esse demorava um pouco mais, começava aquela pressão, um alvoroço de perguntas sobre o que poderia
ter ocorrido para tal demora, mesmo o tradutor ainda estando dentro do prazo. Haja paciência para tamanha pressão...
Como este projeto de tradução não é feito por profissionais da área, pedimos desculpas por eventuais erros que possam ter escapado às revisões que empreendemos.
Desculpem por nossos vícios de leitura, os quais fazem com que não percebamos certos erros, mesmo aqueles óbvios para os leitores. Por isso, fica nossa gratidão
pela compreensão de todos.
Agradecemos aqueles que se voluntariaram, e por todas as sugestões que tanto contribuíram para melhorar este trabalho. Agradecemos por suas críticas quanto à
tradução e revisão do livro, opiniões caridosamente aceitas, que foram importantes para uma melhor compreensão e correção dos erros.
Recebam nossas felicitações e sinceros agradecimentos todos os que contribuíram para a organização, transcrição, tradução, revisão, enfim aqueles que cooperaram
de alguma forma para o desenvolvimento de todas as etapas deste livro.
Agradecimentos também ao Raul, por nos dar um espaço para a realização deste trabalho na mafia dos livros.
É com enorme prazer que a mafia disponibiliza a tradução de mais um livro de Rick Riodan. Esperamos que os leitores se divirtam e se emocionem com as novas aventuras
de Percy Jackson e os Olimpianos.
"Ninguém poderá jamais aperfeiçoar-se, se não tiver o mundo como mestre. A experiência se adquire na prática."
William Shakespeare
Obrigado por acreditarem e confiarem em nós, .mafia dos livros.
Belle.

VOLUNTÁRIOS




Sinceros agradecimentos a todos os revisores, tradutores e colaboradores do projeto de tradução de mais um livro organizado pela . mafia dos livros .

Organização Responsável: . mafia dos livros .

Chefe de Tradução: Raul Nogueira Fernandes
Organização: Dudu e Felipe Vizentim
Comando: Dudu e Felipe Vizentim
Apoio à Organização: Anderson e Pompeu






Tradução: Revisão:
Felipe Vizentim Anderson Almeida
Raphael Pompeu Rosane Rodrigues
Fernando Felipe Vizentim
Lamec Luisa Oliveira
Anderson Almeida Cibele Hamburg
Pedro Cardim Bia Fuentes
Iago Gabriel Oliveira
Caroline Maróstica Maria Isabellar
Daniel Saldanha
Mariana Albuquerque
Fabio Nadal









UM - EU BATALHO COM UM ESQUADRÃO DE LIDERES DE TORCIDA

A última coisa que eu queria fazer nas minhas férias de verão era explodir outra escola. Mas aí na segunda-feira de manhã, na primeira semana de junho, eu
fui sentado no carro da minha mãe até a frente à Escola Colegial Goode na Leste 81o.
Goode era esse grande edifício triplex com vista para o East River. Um bando de BMW's e Carros de Lincoln Towns estavam estacionados em frente. Começando na
fantasia pedra arcada, eu me perguntava quanto tempo levaria para que eu fosse expulso desse lugar.
"Relaxe." Minha mãe não pareceu relaxada. "É apenas uma turnê de orientação. E lembre-se, querido, essa é a escola de Paul. Então tente não... você sabe."
"Destruí-la?"
"Sim."
Paul Blofis, namorado de minha mãe, estava em frente à escola, recebendo futuros primeiros colegiais como eles passaram as etapas. Com seu cabelo sal-e-pimenta,
roupas de denim, e jaqueta de couro, ele me lembrou um ator de TV, mas ele era apenas um professor de Inglês. Ele conseguiu me convencer para aceitar a Escola Colegial
Goode para meu 1º colegial, esquecendo o fato que eu fui expulso de todas as escolas que eu freqüentei. Eu tentei avisá-lo que não era uma boa idéia, mas ele não
iria ouvir.
Eu olhei para minha mãe. "Você não lhe disse a verdade sobre mim, não é?"
Ela tapeou os dedos nervosamente no volante. Ela estava vestida para uma entrevista de emprego, o seu melhor vestido azul e sapatos de salto alto.
"Pensei que deveríamos esperar," ela admitiu.
"Assim nós não assustamos ele."
"Tenho certeza que a turnê orientação será boa, Percy, é apenas uma manhã."
"Ótimo," Eu resmunguei. "Eu posso ser expulso antes de começar o ano letivo."
"Pense positivo. Amanhã você estará fora para acampar! Depois da orientação, você tem seu encontro-"
"Não é um encontro!" Eu protestei. "É simplesmente Annabeth, mãe! Caramba!"
"Ela está vindo do acampamento para encontrar você."
"Bem, sim."
Vocês estão indo ao cinema."
"É."
"Só vocês dois."
"Mãe!"
Ela segurou as mãos na desistência, mas eu não posso dizer que ela não estava se segurando para não sorrir. "Seria melhor você ir para dentro, querido. Eu
vejo você à noite."
Eu estava prestes a sair do carro quando eu olhei para os degraus da escola. Paul Blofis foi cumprimentando uma menina com cabelos vermelhos. Ela usava uma
camiseta vinho e um jeans decorado com desenhos de marcadores. Quando ela virou, eu peguei um vislumbre de seu rosto e os cabelos em meu braço se arrepiaram.
"Percy?" Minha mãe perguntou. "O que há de errado?"
"N-nada," Eu gaguejei. "A escola tem uma entrada lateral?"
"Depois do bloco do lado direito. Por quê?"
"Vejo você mais tarde."
Minha mãe começou a dizer algo, mas eu saí do carro e corri, esperando que a menina de cabelos vermelhos não me visse.
O que ela estava fazendo aqui? Nem mesmo minha sorte poderia ser tão má assim.
É, certo. Eu estava prestes a descobrir que minha sorte poderia ser muito pior.
***
Entrar às escondidas na orientação não funcionou muito bem. Duas lideres de torcida em uniformes roxo e branco estavam de pé na entrada lateral, esperando
emboscar calouros.
"Oi!" Elas sorriram, e eu percebi que era a primeira e última vez que qualquer líder de torcida seria amigável para mim. Uma delas era loira com olhos azuis
gelados.
A outra era Afro-americana com cabelo escuro encaracolado como Medusa (e acredite, eu sei do que estou falando).
Ambas tinham seus nomes costurados em letra cursiva sobre o uniforme, mas com minha dislexia, as palavras pareciam significar espaguete.
"Bem-vindo à Goode, " disse a garota loira. "Você vai adorá-la!"
Mas como ela me olhou de cima a baixo, a sua expressão disse algo mais como, Eca, quem é esse perdedor?
A outra menina se aproximou desconfortavelmente perto de mim. Eu estudei a costura em seu uniforme e li Kelly. Ela cheirava a rosas e algo mais que reconheci
das aulas de equitação no acampamento, o cheiro de cavalos recém lavados. Era um cheiro estranho para uma líder de torcida. Talvez ela tenha um cavalo ou algo assim.
Enfim, ela ficou tão perto que eu tenho a sensação que ela estava tentando me empurrar pelas escadas. "Qual é seu nome, peixe?"
"Peixe?"
"Calouro."
"Uh, Percy."
As meninas trocaram olhares.
"Oh, Percy Jackson", disse a loira. "Nós estávamos esperando por você."
Que fez um grande Uh-oh acalmando minhas costas. Elas estavam bloqueando a entrada, sorrindo, de uma maneira não muito amigável. Minha mão penetrou instintivamente
em meu bolso, onde guardo minha letal caneta esferográfica, Contracorrente.
Então outra voz veio do interior do edifício. "Percy?" Era Paul Blofis, em algum lugar no corredor. Eu nunca estive tão feliz em ouvir sua voz.
As lideres de torcida se afastaram. Eu estava ansioso para passar por elas que acidentalmente dei uma joelhada em Kelly em sua coxa.
Clang.
Sua perna era oca, som metálico, como se eu tivesse batido num mastro de bandeira.
"Ai," ela murmurou. "Cuidado, peixe".
Eu olhei para baixo, mas a perna dela parecia uma perna velha regular. Eu estava muito assustado para fazer perguntas. Eu deslizei no corredor, fazendo as
lideres de torcida rirem atrás de mim.
"Aí está você!" Paul me falou. "Bem-vindo à Goode!"
"Ei, Paul-uh, Sr. Blofis." Eu olhei para trás, mas as lideres de torcida estranhas tinham desaparecido.
"Percy, você parece que viu um fantasma."
"Sim, uh-"
Paul me deu palmadas nas costas. "Ouça, eu sei que você está nervoso, mas não se preocupe. Nós temos um monte de crianças com Transtorno do Déficit de Atenção
com Hiperatividade e dislexia aqui. Os professores sabem como ajudar."
Eu quase quis rir. Como se apenas o TDAH e a dislexia fossem minhas maiores preocupações. Quero dizer, eu sabia que Paul estava tentando ajudar, mas se eu
lhe dissesse a verdade sobre mim, ele ia pensar que eu estava louco ou ele ia sair gritando. Aquelas lideres de torcida, por exemplo. Tive um mau pressentimento
sobre elas...
Então eu olhei para o fundo do corredor, e me lembrei que tinha outro problema. A garota de cabelos vermelhos que eu vi na frente dos degraus na entrada principal.
Não me note, eu rezei.
Ela me notou. Os olhos dela ampliaram.
"Onde é a orientação?" Eu perguntei à Paul.
"No ginásio. Por aqui. Mas-"
"Adeus."
"Percy?" Ele chamou, mas eu já estava correndo.

***

Eu pensei que a tinha perdido.

Um monte de crianças estava indo para o ginásio e, em breve eu era apenas um dos trezentos garotos de quatorze anos de idade enchendo as arquibancadas. Uma
banda de marcha tocou uma canção de luta fora do tom que soou como se alguém estivesse batendo num saco de gatos com um taco de baseball de metal. Crianças mais
velhas, provavelmente estudantes membros do conselho, levantaram-se frente a todos modelando o uniforme da escola Goode como se dizendo ei, somos legais e olhando
tudo.
Professores circularam em volta, sorrindo e balançando mãos com os alunos. As paredes do ginásio eram cobertas com um cartaz roxo e branco que dizia BEM-VINDO
FUTUROS CALOUROS, GOODE É BOA, SOMOS TODOS UMA FAMÍLIA, e um bando de outros slogans alegres que me fizeram querer vomitar.
Nenhum dos outros calouros parecia emocionado em estar aqui, de qualquer modo. Quer dizer, vir à orientação em junho, quando a escola não começa antes de setembro,
não é legal. Mas na Goode, "Nós preparamos para sobressair cedo!" Pelo menos isso é o que o broche dizia.
A banda parou de tocar. Um cara em um traje pinstrip foi até o microfone e começou a falar, mas o som ecoou ao redor do ginásio então eu não fazia idéia sobre
o que ele estava falando. Poderia ter sido um gargarejo.
Alguém agarrou meu ombro, "O que você está fazendo aqui?"
Era ela: minha garota de cabelos vermelhos pesadelo.
"Rachel Elizabeth Dare," Eu disse.
Seu queixo caiu como se ela não pudesse acreditar que eu lembrava o nome dela. "E você é Percy alguma coisa. Eu não peguei seu último nome inteiro em dezembro
passado quando você tentou me matar. "
"Olha, Eu não estava-Eu não queria-O que você está fazendo aqui?"
"O mesmo que você, eu acho. Orientação."
"Você mora em New York?"
"O que, você pensou que eu vivia em Hoover Dam?"
Isso nunca me ocorreu. Sempre que eu pensava sobre ela (e eu não estou dizendo que eu pensava sobre ela; ela só atravessava minha mente de vez em quando, ok?),
eu sempre imaginei que ela vivia em Hoover Dam, desde que a conheci lá. Gastamos talvez dez minutos juntos, durante o qual eu acidentalmente balancei minha espada
nela, ela salvou minha vida, e eu corri para fora perseguido de um bando de máquinas de matar sobrenaturais. Você sabe, sua típica chance de reunião.
Um cara atrás de nós sussurrou, "Ei, cala a boca. As lideres de torcida estão falando!"
"Oi, gente!" Uma garota borbulhou no microfone. Era a loira que eu vi na entrada. "Meu nome é Tammi, e ela é, Kelli." Kelli fez uma pirueta.
Próxima a mim, Rachel ganiu como se alguém tivesse enfiado um alfinete nela. Algumas crianças olharam e riram entre dentes, mas apenas Rachel encarou as lideres
de torcida com horror. Tammi não pareceu notar o acesso. Ela começou a falar sobre todas as grandes formas que poderíamos nos envolver durante nosso primeiro ano.
"Corra," Rachel me falou. "Agora."
"Por quê?"
Rachel não explicou. Ela abriu o caminho dela para a borda da arquibancada, ignorando os professores de sobrancelhas franzidas e as crianças resmungonas que
ela estava pisoteando.
Eu hesitei. Tammi estava explicando como é que estávamos prestes a nos separar em pequenos grupos e conhecer a escola. Kelli entendeu meus olhos e me deu um
sorriso divertido, como ela estava esperando para ver o que eu ia fazer. Iria parecer ruim se eu saísse logo agora. Paul Blofis estava lá com o resto dos professores.
Ele deve ter se perguntado o que estava errado.
Então pensei em Rachel Elizabeth Dare, e em sua capacidade especial que ela mostrou no inverno passado em Hoover Dam. Ela tinha sido capaz de ver um grupo
de guardas de segurança que não eram guardas na verdade, que não eram sequer humanos. Meu coração batendo, eu desisti e a segui para fora do ginásio.

***

Eu achei Rachel no quarto da banda. Ela estava escondida atrás de um tambor na seção de percussão.
"Venha aqui!" Disse ela. "Mantenha sua cabeça baixa!"
Eu me senti muito bobo me escondendo atrás de um bando de bongos, mas eu agachei ao seu lado.
"Eles te seguiram?" Rachel perguntou.
"Você quer dizer as lideres de torcida?"
Ela assentiu nervosamente.
"Eu acho que não," Eu disse. "O que são elas? O que você viu?"
Seus olhos verdes estavam brilhando com medo. Ela tinha algumas sardas sobre o rosto que me lembrou constelações. Em sua camisa vinho estava escrito HARVARD
ART DEPT. "Você... você não iria acreditar em mim."
"Oh, sim, eu iria," Eu prometi. "Eu sei que você pode ver através da Névoa."
"O quê?"
"A Névoa. É... bem, é como um véu que esconde a forma que as coisas realmente são. Alguns mortais nascem com a capacidade de ver através dela. Como você. "
Ela me estudou atentamente. "Você fez isso em Hoover Dam. Você me chamou de mortal. Como se você não fosse um. "
Eu me senti como se socasse um bongo. O que eu estava pensando? Eu jamais poderia explicar. Eu não deveria nem sequer tentar.

"Diga-me," ela implorou. "Sabe o que isso significa. Todas essas coisas terríveis que eu vejo? "
"Olhe, isso vai parecer estranho. Sabe alguma coisa sobre mitos gregos? "
"Como... o Minotauro e a Hidra?"
"Sim, só não tente dizer os nomes quando estou por perto, ok?"
"E as Fúrias," disse ela, aquecendo. "E as sereias, e-"
"Ok!" Eu olhei ao redor do hall da banda, certo de que Rachel ia fazer um bando de sanguinários nojentos saíssem das paredes, mas nós ainda estávamos a sós.
No corredor, eu ouvi uma multidão de crianças que saíam do ginásio. Eles estavam começando os tours pela escola. Nós não tínhamos muito tempo para conversar.
"Todos esses monstros," Eu disse, "todos os deuses gregos-eles são reais."
"Eu sabia!"
Eu estaria mais confortável se ela me chamasse de mentiroso, mas Rachel parecia que eu só confirmei a sua pior suspeita.
"Você não sabe o quanto tem sido difícil," disse ela. "Durante anos eu pensei que estava enlouquecendo. Eu não pude dizer a ninguém. Eu não pude-" Os olhos
delas se estreitaram. "Espera. Quem é você? Quero dizer realmente?"
"Eu não sou um monstro."
"Bem, eu sei disse. Eu poderia ver se você fosse. Você parece...você. Mas você não é humano, é? "
Eu engoli. Mesmo que eu tive três anos para me habituar a quem eu era, eu nunca falei sobre isso com um mortal regular antes - Quero dizer, exceto com minha
mãe, mas ela já sabia. Não sei porque, mas eu arrisquei.
"Eu sou um meio-sangue," disse. "Sou meio humano."
"E metade o quê?"
Só então Tammi e Kelli entraram no quarto da banda. As portas totalmente fechadas atrás delas.
"Aí está você, Percy Jackson," Tammi disse. "É hora da sua orientação."

***

"Elas são horríveis!" Rachel arquejou.
Tammi e Kelli ainda estavam vestindo seus trajes roxo-e-branco de lideres de torcida, segurando pompons da reunião.
"O que elas realmente se parecem?" Eu perguntei, mas Rachel parecia atordoada demais para responder.
"Oh, esqueça-a." Tammi me deu um sorriso brilhante e começou a andar em nossa direção. Kelli ficou perto das portas, bloqueando a nossa saída.
Elas nos prenderam. Eu sabia que nós teríamos que lutador para sair, mas o sorriso de Tammi era tão deslumbrante que me distraía. Seus olhos azuis eram lindos,
e a forma dos cabelos em seus ombros...
"Percy," alertou Rachel.
Eu disse alguma coisa realmente inteligente como, "Uhhh?"
Tammi foi chegando mais perto. Ela segurou seus pompons.
"Percy!" A voz de Rachel parecia vir de um lugar distante. "Acorde!"
Levou toda a minha vontade, mas eu tirei minha caneta de dentro do meu bolso e a destampei. Contracorrente cresceu em uma espada bronze do tamanho de três
pés, sua lâmina brilhante com uma tênue luz dourada. O sorriso de Tammi virou um sorriso desdenhoso.
"Oh, vamos lá," ela protestou. "Você não precisa disso. Que tal um beijo em vez disso? "
Ela cheirava a rosas e pêlo de animal limpo-mas de alguma maneira o cheiro era intoxicante.
Rachel apertou meu braço, com força. "Percy, ela quer morder você! Olhe para ela! "
"Ela está com inveja," Tammi olhou para Kelli. "Permita-me, senhora?"
Kelli ainda estava bloqueando a porta, lambendo seus lábios, faminta. "Vá em frente, Tammi. Você está indo bem. "
Tammi deu outro passo em frente, mas eu levantei a ponta da minha espada em sei peito. "Volte."
Ela rosnou. "Calouros," ela disse com nojo. "Esta é nossa escola, meio-sangue. Nós nos alimentamos de quem nós escolhermos."
Então ela começou a mudar. A cor de seus braços e de seu rosto foram drenadas. Sua pele ficou branca como giz, seus olhos completamente vermelhos. O dente
dela cresceu em presas.
"Um vampiro!" eu gaguejei. Então notei suas pernas. Abaixo da sua saia de líder de torcida, sua perna esquerda era marrom e peluda com um casco de burro. Sua
perna direita era moldada como uma perna humana, mas era feita de bronze. "Uhh, um vampiro com-"
"Não mencione as pernas!" Tammi bateu. "É rude fazer piada!"
Ela avançou na sua estranheza, pernas incompatíveis. Ela parecia totalmente bizarra, especialmente com os pompons, mas eu não podia rir- não enfrentando aqueles
olhos vermelhos e as presas afiadas.
"Um vampiro, você disse?" Kelli riu. "Essa lenda boba foi baseada em nós, seu idiota. Nós somos Empusas, servas de Hécate. "
"Mmmm." Tammi beirou mais perto de mim. "A magia negra nos formou a partir de animais, bronze, e fantasma! Nós existimos para nos alimentarmos do sangue de
jovens homens. Agora venha, me dê esse beijo! "
Ela revelou suas presas. Eu estava tão paralisado que não pude me mexer, mas Rachel jogou cordas de tambor na cabeça da Empusa.
O demônio silvou e rebateu o tambor para longe. Ele foi rolando ao longo do corredor entre os stands de música, ele saltou contra a cabeça do estrídulo. Rachel
jogou um xilofone, mas o demônio só o golpeou para fora, também.
"Eu não costumo matar meninas," Tammi rosnou. "Mas para você, mortal, eu farei uma exceção. Sua visão está um pouquinho muito boa! "

Ela investiu contra Rachel.
"Não!" Eu cortei com Contracorrente. Tammi tentou desviar de minha lâmina, mas eu a fatiei direto em seu uniforme de líder de torcida, e com um grito horrível
ela explodiu em poeira sobre Rachel.
Rachel tossiu. Ela parecia que tinha um saco de farinha estourado na cabeça dela. "Que nojo!"
"Monstros fazem isso," eu disse. "Desculpe."
"Você matou minha estagiária!" Kelli gritando. "Você precisa de uma lição de espírito escolar, meio-sangue!"
Então ela começou a mudar. Seu cabelo crespo virou chamas cintilantes. Seus olhos se tornaram vermelhos. Suas presas cresceram. Ela voltou-se para nós, seu
pé de bronze e sua pata galopando desigualmente no chão da sala da banda.
"Eu sou a Empusa mais velha," ela cresceu. "Nenhum herói me derrotou em mil anos."
"É?" eu disse. "Então você está vencida!"
Kelli era muito mais rápida que Tammi. Ela esquivou meu primeiro golpe e rolou para a seção de bronze, batendo em uma fileira de trombones com um poderoso
golpe. Rachel saiu do caminho. Eu me coloquei entre ela e a Empusa. Kelli nos circulou, os olhos dela foram de mim para a espada.
"Uma espada bonita," disse ela. "Que pena que fica entre nós."
Sua forma tremeluziu-algumas vezes um demônio, outras uma bonita líder de torcida. Eu tentei minha mente focada, mas aquilo era realmente uma distração.
"Pobres queridos." Kelli riu. "Vocês nem sabe o que está acontecendo, sabem? Logo, seu bonito acampamento estará em chamas, seus amigos serão escravos do Senhor
do Tempo, e não há nada que você possa fazer para impedi-lo. Seria misericordioso terminar sua vida agora, antes que você tenha que ver isso."
Fora da sala, eu ouvi vozes. Um grupo de passeio estava se aproximando. Um homem estava dizendo algumas combinações de armários.
O olho da Empusa se iluminou. "Excelente! Estamos prestes a ter companhia! "
Ela pegou uma tuba e jogou-a em mim. Rachel e eu nos curvamos. A tuba deslizou acima de nossas cabeças e quebrou o vidro da janela.
As vozes fora da sala morreram.
"Percy!" Kelli gritou, fingindo estar com medo, "Por que você jogou isso?"
Fiquei muito surpreso para responder. Kelli pegou uma barraca de música e golpeou uma fila de clarinetes e flautas. Cadeiras e instrumentos musicais caíram
no piso.
"Pare!" Eu disse.
As pessoas estavam no fundo do corredor, vindo em nossa direção.

"Hora de cumprimentar nossos visitantes!" Kelli recolheu suas presas e foi correndo para a porta. Eu fui atrás dela com Contracorrente. Eu tinha que impedí-la
de machucar os mortais.

"Percy, não!" Rachel gritou. Mas eu não percebi o que Kelli ia fazer antes que fosse tarde demais.
Kelli se arremessou abrindo as portas. Paul Blofis e um bando de calouros pararam em choque. Levantei minha espada.
No último segundo, a Empusa se virou para mim como uma pobre vítima. "Oh não, por favor!" Ela chorou. Eu não podia parar minha espada. Já estava em movimento.
Pouco antes de o bronze celestial bater nela, Kelli explodiu em chamas como um coquetel Molotov. Ondas de fogo espirraram sobre tudo. Eu nunca vi um monstro
fazer aquilo antes, mas eu não tive tempo de me perguntar isso. Eu voltei para dentro da sala da banda como as chamas já tinham pegado no portal.

"Percy?" Paul Blofis olhou completamente atordoado, olhando-me através do fogo. "O que você fez?"
Crianças gritaram e correram para a sala. O alarme de incêndio disparou. Os regadores do teto ganharam vida.
No caos, Rachel deu um puxão na minha manga. "Você tem que sair daqui!"
Ela tinha razão. A escola estava em chamas e eu seria responsabilizado. Mortais não podem ver através da Névoa corretamente. Para eles, isso ia parecer que
eu ataquei uma líder de torcida indefesa na frente de um grupo de testemunhas. Não havia outro jeito que eu pudesse explicar isso. Eu me virei a partir de onde Paul
estava e corri para a janela quebrada da sala da banda.

***

Eu explodi para fora do beco na East 81o e corri em reta até Annabeth.
"Ei, você não está atrasado!" Ela riu, agarrando meus ombros para eu não cair na rua. "Olhe por onde você está indo, Cabeça de Alga".
Por um meio segundo ela estava de bom humor e tudo estava bem. Ela estava vestindo um jeans e a camiseta laranja do Acampamento e seu colar de contas de argila.
Seu cabelo loiro estava preso em um rabo de cavalo. Seus olhos cinzas brilharam. Ela parecia que estava pronta para assistir a um filme, ter uma tarde legal saindo
juntos.
Então Rachel Elizabeth Dare, ainda coberta de poeira de monstro, veio cobrando para fora do beco, gritando, "Percy, espere!"
O sorriso de Annabeth derreteu. Ela encarou Rachel, e depois a escola. Pela primeira vez, ela pareceu notar a fumaça preta e o toque do alarme de incêndio.

Ela me fez uma cara amarrada. "O que você fez desta vez? E quem é essa? "

"Oh, Rachel-Annabeth. Annabeth-Rachel. Hum, ela é uma amiga, eu acho."

Eu não tinha certeza do que chamar Rachel. Quero dizer, eu mal a conhecia, mas depois de estar em duas situações de vida ou morte juntos, eu não poderia chamá-la
de ninguém.
"Oi," disse Rachel. Então ela se virou para mim. "Você está muito encrencado. E você ainda me deve uma explicação!"
Sirenes de polícia soaram dos carros de polícia de East Side.
"Percy," Annabeth disse friamente. "Devemos ir."
"Eu quero saber mais sobre meio-sangues," Rachel insistiu. "E monstros. E esta coisa sobre os deuses." Ela agarrou meu braço, tirando depressa um marcador
permanente, e escreveu um número de telefone na minha mão. "Você vai me ligar e me explicar, ok? Você me deve isso. Agora vá."
"Mas-"
"Eu vou inventar alguma coisa," disse Rachel. "Eu vou dizer a eles que não foi sua culpa. Vá!"
Ela correndo de volta para a escola, deixando Annabeth e eu na rua.
"Hey!" Eu corri atrás dela. "Lá estavam duas Empusa," eu tentei explicar. "Elas eram lideres de torcida, veja, e elas disseram que o acampamento iria pegar
fogo, e-"
"Você disse a uma garota mortal sobre meio-sangues?"
"Ela pode ver através da névoa. Ela viu os monstros antes que eu."
"Então você lhe disse a verdade?"
"Ela me reconheceu de Hoover Dam, então-"
"Você já a encontrou antes?"
"Hum, no inverno passado. Mas sério, Eu mal a conheço."
"Ela é um pouco bonitinha."
"E-eu nunca pensei nisso."
Annabeth continuou andando em direção à Avenida York.
"Eu vou lidar com a escola," eu prometi ansioso para mudar o assunto. "Honestamente, eu ficarei bem."
Annabeth nem mesmo olhava pra mim. "Eu acho que nossa tarde está acabada. Nós deveríamos sair daqui, agora que a polícia estará procurando por você."
Atrás de nós, a fumaça cresceu a partir da Goode. Na escura coluna de cinzas, eu pensei que quase pude ver um rosto, um demônio com olhos vermelhos, rindo
de mim.
Seu bonito acampamento em chamas, Kelli disse. Seus amigos feitos escravos do Senhor do Tempo.

"Você está certa," Eu disse à Annabeth, meu coração naufragando. "Nós temos que voltar para o Acampamento Meio-Sangue. Agora."



DOIS - O MUNDO INFERIOR ME PASSA UM TROTE

Nada completa melhor uma manhã perfeita do que uma corrida de taxi com uma garota muito irritada.
Eu tentei falar com Annabeth, mas ela estava agindo como se eu tivesse batido na avó dela. As únicas coisas que eu consegui descobrir foi que ela teve um outono
infestado de monstros em São Francisco. Ela tinha voltado ao acampamento duas vezes desde o natal, mas não ia me contar porque (o que realmente me deixou curioso,
porque ela nem tinha me dito que estava em Nova Iorque) e ela não tinha descoberto nada sobre o paradeiro de Nico di Angelo (longa historia).
"Alguma coisa sobre Luke?" perguntei.
Ela balançou a cabeça, eu sabia que era um assunto delicado para ela. Annabeth sempre admirou Luke, o antigo conselheiro do chalé de Hermes, que tinha nos
traído e se juntado ao lorde Titã Cronos. Ela não admitiria isso, mas eu sabia que ela ainda gostava dele. Quando nós lutamos contra ele no Monte Tamalpais no último
inverno, ele tinha sobrevivido a uma queda de 50 metros de algum jeito. Agora, até onde eu sabia ele estava navegando seu barco infestado de monstros, enquanto Lorde
Cronos estava se recompondo de sua mutilação, pedaço por pedaço, em um sarcófago de ouro, esperando até ter forças para desafiar os Deuses Olimpianos. No vocabulário
semideus nós chamamos isso de "problema".
"Monte Tam ainda está lotado de monstros" Annabeth disse. "Eu não arrisquei chegar muito perto, mas eu acho que Luke não está lá, acho que eu saberia se ele
estivesse"
Isso não fez eu me sentir melhor. "E Grover?"
"Ele está no acampamento" ela disse. "Nós o veremos hoje"
"Ele teve sorte? Digo na busca por Pan?"
Annabeth tocou as contas em seu pescoço, do jeito que ela faz quando está preocupada.
"Vou ver" ela disse, mas não explicou.
Assim que passamos pelo Brooklin Annabeth emprestou-me seu celular para que eu pudesse ligar para casa. Meio sangues tentam não usar celulares, pois falar
ao celular é como mandar uma mensagem aos monstros: Eu estou aqui, por favor, me coma, mas eu imaginei que esta ligação era importante. Eu deixei uma mensagem na
secretaria tentando explicar o que tinha acontecido na Goode. Provavelmente eu não tinha feito um bom trabalho. Eu disse que estava bem e que ela não deveria se
preocupar, e que eu ficar no acampamento até as coisas se acalmarem. Também pedi a ela que explicasse alguma coisa ao Sr. Bayack.
Nós ficamos em silêncio após aquilo. A cidade passava por nós até que estávamos fora da via expressa, passando pelo noroeste de Long Island, passando por
plantações e vinhedos e barracas de frutas.
Eu olhei para o número de celular que Rachel Elizabeth Dare tinha rabiscado na minha mão. Eu sabia que era loucura, mas pensei em ligar para ela. Talvez ela
pudesse me ajudar a entender o que aquela empusa estava falando ao dizer sobre acampamento queimando, meus amigos aprisionados, e por que Kelli tinha explodido em
chamas.
Eu sabia que monstros nunca morriam de verdade. Eventualmente -talvez em semanas, meses ou anos- Kelli se reformaria a partir da força primordial no Mundo
Inferior. Mas ainda assim monstros não se deixavam ser destruídos dessa forma, se é que ela tinha sido destruída.
O taxi saiu na estrada 25 A. Nós passamos pelas árvores ao longo de North Shore até que um pequeno cume apareceu na nossa esquerda. Annabeth pediu ao motorista
que parasse na estrada, na base da Colina Meio-Sangue.
O motorista falou "não tem nada aqui, senhorita. Você tem certeza que quer sair?"
"Sim, por favor," Annabeth atirou um rolo de dinheiro mortal e o taxista decidiu não discutir.
Annabeth e eu subimos até o topo da colina. O jovem guardião, um dragão, estava cochilando, enrolado no pinheiro, mas ele mexeu sua cabeça conforme nos aproximávamos,
Annabeth acariciou se queixo, ele ronronava e dava piscadelas prazerosamente.
"E ai Peleus" Annabeth disse "Mantendo tudo seguro?"
Da última vez que eu tinha visto o dragão ela estava com dois metros, agora ele estava com pelo menos o dobro disso. Perto de sua cabeça, no galho mais baixo
do pinheiro estava o Velocino de Ouro, sua mágica protegia as fronteiras do acampamento. O dragão estava relaxado, como se tudo estivesse bem. Abaixo de nós o acampamento
parecia pacifico- campos verdes, floresta, construções gregas reluzentes. Uma casa de fazenda de quatro andares que chamávamos de Casa Grande, situada no centro
dos campos de morango, ao norte depois da praia, o estreito de Long Island brilhou a luz do sol.
Ainda assim tinha alguma coisa errada. Havia tensão no ar, como se a colina estivesse prendendo a respiração, esperando algo ruim.
Descemos o vale e encontramos o acampamento de verão em plena atividade. Grande parte dos campistas tinha chegado na ultima sexta-feira.
Os sátiros tocavam suas flautas nos campos de morango, fazendo as plantas crescer com mágica dos bosques. Campistas tinham aulas de montaria, passando sobre as árvores
em seus pegasos. Fumaça subia da fornalha, os times de Atena e Demeter corriam em bigas, no lago algumas crianças em um trirreme grego lutavam com uma serpente marinha
grande e laranja. Um típico dia no acampamento.
"Preciso falar com Clarisse" Annabeth disse.
Eu olhei para ela como se ela tivesse dito que precisava comer uma bota grande e fedorenta
"Pra que?"
Clarisse, do chalé de Ares, era uma das minhas pessoas menos favorita.
Ela era uma miserável e ingrata valentona, seu pai, o deus da guerra queria me matar. Ela tentava me massacrar regularmente. Fora isso ela era massa.
"Nós estamos trabalhando em algo" Annabeth disse "vejo você depois"
"Trabalhando em que?"
Annabeth se voltou para o bosque.
"Vou falar para Quirón que você está aqui" ela disse "ele gostará de falar com você antes da audiência"
"Que audiência?"
Mas ela caminhou pelo campo de arco e flecha sem olhar para trás.
"Sim" murmurei "legal falar com você também"
* * *

Enquanto eu andava pelo acampamento, cumprimentei alguns amigos. Na estrada para a Casa Grande, Connor e Travis Stoll do chalé de Hermes estavam fazendo ligação
direta na caminhonete do acampamento. Silena Beauregard, conselheira do chalé de Afrodite, acenou para mim de seu pégaso. Eu procurei por Grover, mas não o vi. Finalmente
eu chequei a Arena de combates, aonde eu geralmente vou quando estou de mau humor. Praticar com a espada sempre me acalma. Talvez porque lutas de espada é uma coisa
que eu consigo entender.
Eu entrei na Arena e meu coração quase parou. No meio da arena, de costas para mim, estava o maior cão infernal que eu já tinha visto.
Digo, eu já vi uns cães infernais bem grandes. Um do tamanho de um rinoceronte tentou me matar quando eu tinha doze anos. Mas este cão era maior que um tanque,
eu não tinha idéia de como ele tinha passado pelas fronteiras do acampamento. Ele parecia em casa, deitado de barriga, rosnando contidamente enquanto mascava a cabeça
de um boneco de treino. Ele não tinha me notado ainda, mas se eu fizesse barulho, eu sabia que ele me perceberia. Não havia tempo para chamar ajuda, eu destampei
Contracorrente.
"Yaaaaaah" Eu ataquei, eu levei a espada para baixo, nas enormes costas do monstro, quando, vindo do nada outra espada bloqueou minha investida.
CLANG!
O cão infernal levantou as orelhas. "WOOF!"
Eu pulei para trás e instintivamente ataquei o espadachim- um homem grisalho em uma armadura grega. Ele desviou meu ataque sem problemas.
"Peraí!" ele disse. "Trégua".
"WOOF!" o latido do cão sacudiu a arena.
"Isso é um cão infernal" gritei.
"Ela é inofensiva" o homem disse "Esta é Sra. O'Leary"
Eu pisquei. "Sra. O'Leary?"
Ao som de som nome, o cão latiu novamente. Eu percebi que ela não estava brava, e sim excitada. Ela empurrou a babada, mascada cabeça de boneco na direção
do espadachim.
"Boa garota" ele disse. Com sua mão livre ele agarrou a o boneco pelo pescoço e balançou na direção das arquibancadas. "pegue o grego! pegue o grego!"
Sra. O'Leary foi atrás de sua presa e atirou-se no boneco, amassando a armadura. Ela começou a mastigar o elmo.
O homem sorriu contidamente. Ele estava com seus cinqüenta, eu acho, ele tinha um cabelo grisalho curto e barba grisalha feita. Ele estava em forma para um
cara daquela idade. Ele vestia uma calça de caminhada preta, trazia uma armadura de bronze por cima da camiseta do acampamento. Na base do seu pescoço estava uma
marca estranha, um furúnculo roxo, como uma marca de nascença ou uma tatuagem, mas antes que eu soubesse o que era ele mexeu na armadura e a marca desapareceu sobre
sua gola.
"Sra. O'Leary é meu animal de estimação" ele explicou "eu não podia deixar você enfiar uma espada nela, podia? Isso poderia te-la assustado"
"Quem é você?"
"Promete não me matar se eu abaixar minha espada?"
"Acho que sim"
Ele guardou a espada. "Quintus".
Eu apertei sua mão, era áspera como uma lixa.
"Percy Jackson" eu disse "Desculpe-me...como você...um..."
"Consegui um cão infernal como animal de estimação? Longa historia, envolvendo muitas quase mortes e alguns brinquedos de mascar gigantes. Eu sou o novo
instrutor de espada. Ajudando Quirón enquanto o Sr. D está fora"
"Oh" Eu tentei não encarar como Sra. O'Leary arrancava o escudo do boneco e balançava como um frisbee. "Pera, o Sr. D está fora?"
"Sim,bem...tempos difíceis, até Dionísio deve ajudar, ele foi visitar alguns velhos amigos, certificar-se que eles estão do lado certo, eu não devo falar
mais que isso."
Dionísio estava fora, essa era foi a melhor noticia que eu tive o dia todo. Ele só era diretor do acampamento por que Zeus o puniu por ir atrás de uma ninfa
dos bosques proibida, ele odiava os campistas e tentava fazer nossas vidas infelizes. Com ele fora o verão devia ser legal, por outro lado se Dionísio estava ocupado
ajudando os Deuses a recrutar contra os Titãs, as coisas deveriam estar muito ruins.
Na minha esquerda, ocorreu um alto BUMP. Seis containeres de madeira do tamanho de mesas de picnic estavam empilhados. Sra. O'Leary virou a cabeça e avançou
na direção das caixas.
"Pera garota!"Quintus disse "estes não são pra você".Ele a distraiu com o escudo-frisbee.
As caixas balançavam e pulavam. Tinham palavras impressas na lateral, mas com minha dislexia eu demorei alguns minutos para decifrar:
RANCHO TRIPLO G
FRÁGIL
ESTE LADO PARA CIMA
Em um dos lados em letras menores: ABRA COM CUIDADO, O RANCHO TRIPLO G NÃO SE RESPONSABILIZA POR DANOS, MULTILAÇOES OU MORTES MUITO DOLOROSAS.
"O que tem nas caixas?" perguntei
"Uma pequena surpresa" Quintus falou "Treino para amanhã a noite, vocês vão amar"
"Uh, tá bom" eu disse, eu não estava certo sobre a parte da morte muito dolorosa.
Quintus jogou o escudo de bronze e a Sra. O'Leary moveu-se pesadamente atrás dele. "Vocês jovens precisam de mais desafios. Não se tinha acampamentos como
estes quando eu era um garoto"
"Você... você é um meio sangue?" Eu não tinha intenção de parecer surpreso, mas eu nunca tinha visto um semideus velho antes.
Quintus riu baixo. "Alguns de nós sobrevivem a idade adulta, você sabe. Nem todos nós somos objetos de terríveis profecias."
"Você sabe sobre a minha profecia?"
"Eu ouvi algumas coisas"
Eu queria perguntar quais algumas coisas, mas Quirón cavalgou pela Arena. "Percy, ai está você!"
Ele devia ter vindo da aula de arco e flecha, ele estava com um arco e uma aljava ao lado de sua camiseta 1º CENTAURO. Ele tinha cortado o cabelo e feito a
barba para o verão, e sua metade inferior, que era um garanhão branco estava respingada com lama e grama.
"Vejo que você conheceu nosso novo instrutor" O tom de Quiron era leve, mas seus olhos tinham uma expressão dura "Quintus, você se importa se eu pegar Percy
emprestado?"
"Não, Mestre Quiron"
"Não há necessidade de me chamar de Mestre." Quiron disse, mas seu tom foi estranho. "Venha Percy, temos muito a discutir."
Eu dei uma ultima olhada na Sra. O'Leary, que agora estava mascando as pernas do boneco.
"Bem, até mais." eu falei a Quintus
Enquanto andávamos, eu sussurrei para Quiron "Quintus pareceu meio..."
"Misterioso?"Quiron sugeriu. "Difícil de ler?"
"É."
Quiron disse "Um meio sangue muito qualificado, ótimo espadachim, eu só queria entender..."
O que fosse que ele ia dizer, ele aparentemente mudou de idéia. "Prioridades primeiro Percy, Annabeth me disse que você encontrou algumas empusas."
"É." Eu contei sobre minha luta na Goode, e como Kelli explodiu em chamas.
"Hmm" Quiron disse "Os mais poderosos podem fazer isso, ela não morreu, simplesmente escapou. E não é bom que as monstras estejam se empolgando."
"O que elas estavam fazendo lá?" perguntei "Me esperando?"
"É possível."Quiron amarrou a cara "é surpreendente que tenha sobrevivido, as trapaças...quase qualquer herói homem teria caído diante do feitiço e seria
devorado"
"Eu seria"admiti "Se não fosse Rachel"
Quiron afirmou "Irônico ser salvo por uma mortal, devemos muito a ela, o que a empusa disse sobre um ataque ao acampamento...devemos falar disso mais, mas
agora venha, devemos ir ao bosque, Grover vai querer você lá."
"Onde?"
"A sua audiência formal" Quiron disse sombriamente "O Conselho do Casco Fendido está se reunindo para decidir seu destino."
Quiron disse que precisávamos nos apressar, portanto me deu uma carona em suas costas. Nós passamos pelos chalés, eu dei uma olhada no refeitório - um pavilhão
grego sem teto com vista para o mar. Era a primeira vez que o via desde o ultimo verão, e trouxe memórias ruins.
Quiron mergulhou nas árvores. Ninfas espiaram para fora de suas árvores para nos ver passar. Grandes formas farfalharam nas sombras, monstros estocados aqui
para desafiar os campistas.
Eu achava que conhecia os bosques muito bem depois de jogar capture a bandeira aqui por dois verões, mas Quiron pegou um caminho que eu não reconheci, passou
por um túnel de velhos salgueiros e por uma pequena queda d'água.
Um bando se sátiros estavam sentados em circulo na grama, Grover sentava no meio, de frente para três velhos e gordos sátiros sentados em tronos altos. Eu
nunca tinha visto aqueles sátiros antes, mas eu sabia que eram os Anciões do Conselho do Casco Fendido.
Grover parecia contar uma historia a eles, e virava a barra da camiseta, batendo nervosamente seus cascos de bode. Ele não tinha mudado muito desde o ultimo
inverno, talvez porque sátiros crescem à metade do tempo dos humanos. Sua acne tinha retornado, seus chifres tinham crescido um pouco e agora apareciam em seus cabelos.
Percebi que agora eu era mais alto que ele.
Sentadas de um lado do circulo estavam Annabeth, outra garota que eu não conhecia, e Clarisse. Quiron parou perto delas e eu desmontei.
Clarisse estava com os cabelos presos por uma bandana camuflada. Se possível, ela parecia ainda mais fanática, como se estivesse exausta. Ela se virou para
mim e murmurou "Punk!", o que deveria significar que ela estava de bom humor, geralmente ela me cumprimentava tentando me matar.
Annabeth estava com os braços em volta da outra garota, que parecia estar chorando, ela era bem pequena, ela tinha cabelo cor de âmbar e uma face bonita, élfica.
Ela vestia uma túnica verde, e sandálias de tira, e ela tinha um lenço no rosto "Isso está ficando terrível," ela choramingou
"Não, não" Annabeth sussurrou "Ele irá ficar bem, Juniper"
Annabeth olhou pra mim e eu li seus lábios Namorada do Grover.
Pelo menos foi isso que eu acho que ela disse, mas não fazia o menor sentido. Grover tinha namorada? Então eu olhei para Juniper com mais atenção, percebi
que suas orelhas eram suavemente pontudas, e seus olhos ao invés de estarem vermelhos por chorar, estavam verdes, da cor de clorofila. Ela era uma ninfa dos Bosques
- uma Dríade.
"Senhor Underwood!" o membro do conselho no trono da direita, interrompendo o que Grover estava tentando dizer. "O senhor espera seriamente que acreditemos
nisto?"
"M-Mas Silenus," Grover gaguejou. "É a verdade."
O cara do conselho, Silenus, virou para seus colegas e resmungou algo. Quiron se aproximou deles, lembrei que ele era um membro honorário do conselho, nunca
tinha pensado muito nisso. Os anciões não eram muito impressionantes. Na verdade eles me lembravam bodes de zoológico- barrigas grandes, expressões sonolentas e
olhos vidrados que não conseguiam ver além de um punhado de ração para bode. Eu não sabia por que Grover estava tão nervoso.
Silenus puxou sua camisa pólo amarela por cima da barriga e se ajustou em seu trono. "Senhor Underwood, por seis meses, seis meses! estivemos ouvindo esse
boato escandaloso de que você ouviu o deus do selvagem, Pan."
"Mas eu ouvi."
"Mentiras!" disse o ancião da esquerda
"Maron," Quiron disse "Tenha paciência."
"Muita paciência" Maron falou "eu estou com isso até os chifres, como se o deus do selvagem você falar com...com ele"
Juniper parecia querer socar o velho sátiro, mas Annabeth e Clarisse a seguraram. "Briga errada garota" Clarisse resmungou "espera"
Eu não sabia o que me surpreendia mais: Clarisse não deixando alguém brigar, ou o fato que ela e Annabeth, que se odiavam, pareciam estar trabalhando juntas.
"Por seis meses" Silenus continuou "Temos sido indulgentes, Senhor Underwood, deixamos você viajar, permitimos você manter sua licença de buscador. Esperamos
você achar algo que comprovasse seus boatos. E o que você achou em seis meses de busca?"
"Eu só preciso de mais tempo"
"Nada!" o ancião no trono do meio replicou "Você não achou nada."
"Mas, Leneus..."
Silenus levantou sua mão, Quiron se inclinou para perto e disse alguma coisa aos sátiros, eles não pareciam felizes. Eles resmungaram e discutiram um pouco,
mas Quiron disse mais alguma coisa, e Silenus suspirou, ele estava relutante.
"Senhor Underwood" Silenus anunciou "Nós daremos mais uma chance a você."
Grover se alegrou "Muito Obrigado."
"Você tem mais uma semana."
"O que? Mas senhor, é impossível!"
"Mais uma semana, Senhor Underwood. E então, se você não conseguir provar seus boatos, será tempo de escolher outra carreira, algo que possa exercitar seus
talentos dramáticos, teatro de fantoches talvez ou sapateado"
"Mas senhor, eu não posso perder minha licença, minha vida inteira..."
"Está reunião do Conselho está encerrada" Silenus disse "e agora deixe-nos aproveitar o almoço"
Os anciões bateram as mãos e ninfas saíram de suas arvores com travessas de vegetais, frutas, latinhas de alumínio e outras delicias de bode. Os sátiros saíram
do circulo e avançaram na comida, Grover se dirigiu até nós. Ele vestia uma blusa azul com um desenho de um sátiro nela e escrito tem cascos?
"Oi, Percy," ele disse, estava tão deprimido que nem apertou minha mão "Foi bem, hein?"
"Esses velhotes!" Juniper disse "Grover, eles não sabem tudo o que você fez!"
"Existe outra opção." Clarisse disse sombriamente
"Não, não!" Juniper balançou a cabeça "Grover, eu não vou deixar."
Sua cara estava pálida "E...Eu pensei sobre isso, mas nós nem sabemos onde procurar"
"Do que vocês estão falando?" perguntei
Ao longe uma trombeta soou.
Annabeth contorceu os lábios "Te explicarei depois, Percy, melhor voltarmos aos chalés, a inspeção começou."
Não parecia justo pra mim que eu tivesse inspeção de chalé quando eu tinha acabado de chegar ao acampamento, mas era assim que funcionava. Toda tarde um dos
conselheiros passava com uma lista de checagem. O melhor chalé ficava com o primeiro horário de banho, o que significava água quente, o pior fazia trabalhos na cozinha
após o jantar.
O meu problema: geralmente eu era o único no chalé de Poseidon, e eu não era exatamente organizado. As harpias da limpeza só vinham no ultimo dia do verão,
então meu chalé deveria estar como eu tinha deixado no inverno, os papéis de doces e salgadinhos ainda estavam no beliche, e minha armadura devia estar jogada aos
pedaços pelo chalé.
Eu corri pelo bosque e cheguei aos chalés, doze - um para cada Olimpiano - formavam um U no gramado. Os filhos de Deméter estavam varrendo e fazendo flores
crescerem nos vasos das janelas. Só com o estalar de um dedo eles poderiam fazer crescer madressilva em cima da porta e margaridas brotarem no teto, o que era totalmente
injusto. Eu acho que eles nunca tinham pego o ultimo lugar nas inspeções. Os filhos de Hermes estavam correndo em pânico, escondendo roupa suja embaixo dos beliches
e acusando um ao outro de roubo. Eles eram desajeitados, mas ainda tinham vantagem sobre mim.
No chalé de Afrodite, Silena Beauregard estava saindo com a lista de checagem em mãos. Ticando itens, eu praguejei. Silena era legal, mas ela era perfeccionista.
Ela gostava que as coisas fossem ornamentadas, eu não ornamentava nada. Eu quase senti meus braços pesados de tantos pratos que eu teria que lavar.
O chalé de Poseidon estava no final dos chalés dos Deuses, ao lado direito, era feito de pedras marinhas com conchas incrustadas, longo e baixo como um paiol,
mas tinha janelas viradas para o mar, e sempre tinha uma brisa boa passando.
Eu voei para dentro, imaginando que poderia fazer um rápido trabalho de limpeza embaixo-da-cama como os caras do chalé de Hermes, então eu vi meu meio-irmão
Tyson varrendo o chão.
"Percy!" ele gritou. Ele soltou a vassoura e correu. Se você nunca foi abraçado por um ciclope surpreso vestido com um avental, eu te digo, vai te acordar
rápido.
"Hey Grandão," eu disse. "Cuidado com as costelas, as costelas!"
Eu lutei para sobreviver ao seu abraço se urso. Ele me colocou no chão, sorrindo loucamente, seu único olho cheio de excitação. Seus dentes estavam amarelos
e tortos como nunca, e seu cabelo era um ninho de rato. Ele vestia um jeans tamanho XXXL esfarrapado, e uma camisa de flanela por baixo do avental, mas ele ainda
era difícil de olhar. Eu não o via por quase um ano, desde que ele foi trabalhar nas forjas dos Ciclopes no mar.
"Você está bem?" ele perguntou. "Não foi comido por monstros?"
"Nem um pedaço." mostrei que ainda tinha dois braços e ambas as pernas, Tyson aplaudiu feliz.
"É," ele disse "agora podemos comer manteiga de amendoim e montar peixes-pôneis. Podemos lutar com monstros e ver Annabeth fazer coisas fazerem BOOM!"
Eu esperava que ele não quisesse tudo ao mesmo tempo, mas eu disse a ele que sim, tínhamos muitas coisas legais para fazer o verão. Eu não poderia ajudar sorrindo,
ele estava muito animado sobre tudo.
"Mas primeiro" disse "temos que nos preocupar com a inspeção. Devemos..."
Então eu olhei em volta e vi que Tyson tinha estado ocupado, o chão estava varrido, os beliches feitos, a fonte de água salgada tinha sido limpa e o coral
brilhava, ao invés de vasos das janelas Tyson tinha colocado uma espécie de aquário com água, onde cresciam anêmonas e plantas que brilhavam, mais bonitas que qualquer
buque que o chalé de Demeter poderia fazer.
"Tyson, o chalé está ótimo!"
"Você viu os peixes-pôneis? eu os coloquei no teto"
Eu vi uma miniatura de hipocampo pendurado no teto, parecia que ele estava nadando no ar. Eu não podia acreditar que Tyson, com suas mãos enormes, pudesse
fazer algo tão delicado. Então eu olhei para o meu beliche, e vi meu escudo pendurado na parede.
"Você consertou!"
O escudo tinha sido seriamente danificado no ultimo inverno em um ataque de manticora, mas agora estava perfeito novamente, sem um arranhão. Todas as figuras
das aventuras no Mar de Monstros estavam polidas e brilhando.
Eu olhei para Tyson, não sabia como agradecê-lo.
Então alguém atrás de mim disse "Oh meu..."
Silena Beauregard estava parada na porta com a lista de checagem, ela
entrou no chalé, deu uma olhada rápida em tudo, então ergueu as sobrancelhas para mim.
"Bem, eu tenho minhas duvidas, mas você deixou tudo limpo Percy, me lembrarei disso." ela piscou para mim e saiu


Tyson e eu passamos o resto da tarde dando uma volta pelo acampamento, o que foi bom depois de um ataque de lideres de torcida demoníacas.
Nós fomos até a forja e ajudamos Beckendorf, do chalé de Hefesto, no trabalho com metais. Tyson nos mostrou o que ele aprendeu sobre armas mágicas. Ele fez
um machado de batalha de lâmina dupla flamejante, tão rápido que até Beckendorf ficou impressionado.
Enquanto trabalhava, Tyson nos contou sobre seu ano debaixo d'água. Seu olho se iluminou quando ele descreveu as forjas dos Ciclopes e o palácio de Poseidon,
mas ele também contou o quão tensas as coisas estavam. Os deuses que mandavam no mar durante a era dos Titãs estavam começando uma guerra contra nosso pai. Quando
Tyson voltou batalhas explodiram por todo atlântico. Ouvir me deixou ansioso, eu senti que deveria estar lá, mas Tyson me assegurou que papai queria nós dois aqui,
no acampamento.
"Muitas pessoas más acima do mar também." Tyson disse "podemos fazer elas BOOM!"
Depois das forjas, ficamos um tempo no lago com Annabeth. Ela estava realmente feliz de ver Tyson, mas eu sabia que ela estava distraída. Ela não parava de
olhar para a floresta, como se estivesse pensando no problema de Grover. Eu não podia culpá-la. Grover não podia ser avistado, e eu me sentia mal por ele. Achar
o deus perdido Pan era seu objetivo de vida. Seu pai e seu tio desapareceram seguindo o mesmo sonho. No último inverno Grover ouviu uma voz: Espero por você - voz
que ele tinha certeza pertencer a Pan, mas aparentemente sua busca tinha levado a lugar nenhum. Se o conselho revogasse sua licença ele ficaria em choque.
"Qual é a 'outra opção' " perguntei para Annabeth "que Clarisse mencionou?"
Ela pegou uma pedra e arremessou no lago "Algo que Clarisse pesquisou , eu a ajudei um pouco durante a primavera, mas seria perigoso. Especialmente para Grover."
"O menino-bode me assusta." Tyson resmungou
Eu o encarei. Tyson tinha ido contra touros flamejantes, monstros marinhos e canibais gigantes. "por que você ficaria assustado com Grover?"
"Casacos e chifres," Tyson resmungou nervosamente "e pêlo de bode faz meu nariz coçar."
E isso acabou nossa conversa sobre Grover


Antes do jantar, Tyson e eu fomos até a Arena. Quintus estava feliz por ter companhia. Ele ainda não me contou o que estava nas caixas, mas me ensinou alguns
movimentos com a espada. O cara era bom. Ele lutava como algumas pessoas jogam xadrez - ele fazia todos os movimentos e você não conseguia achar o padrão dos movimentos,
até que ele fazia um ultimo movimento e tudo terminava com uma espada na sua garganta.
"Boa tentativa," ele me disse "mas sua guarda está muito baixa."
Eu respirei e bloqueei
"Você sempre foi um espadachim?" perguntei.
Ele desviou meu ataque alto "eu já fui muitas coisas."
Ele contra atacou e eu esquivei. A armadura se mexeu e eu pude ver a marca em seu pescoço, a mancha roxa, mas não era uma marca comum. Tinha forma, um pássaro
com as asas dobradas.
"O que é isso em seu pescoço?" perguntei o que deve ter sido uma pergunta rude, mas eu podia culpar meu déficit de atenção.
Quintus perdeu o ritmo, eu bati na base de sua espada e ela saiu da mão dele.
Ele fechou os dedos, então arrumou a armadura para cobrir a marca. Não era uma tatuagem, percebi. Era uma velha queimadura, como se ele tivesse sido marcado.
"Um lembrete." ele pegou a espada e forçou um sorriso, "Agora, vamos de novo?"
Ele me atacou muito, não dando chance para mais perguntas. Enquanto lutávamos Tyson brincava com a Sra. O'Leary, a qual ele chamou de cachorrinha. Eles brincaram
de lutar pelo escudo de bronze e de Pegue o Grego! Pelo cair do sol Quintus não tinha uma gota de suor, mas eu e Tyson estávamos suando em bicas, quentes e fedendo,
portanto fomos para o banho e nos preparamos para o jantar.
Eu estava me sentindo bem, era quase um dia normal no acampamento. Então o jantar chegou, todos os campistas se juntaram aos seus chalés e marchou para o refeitório.
A maioria ignorou a fissura selada no chão de mármore, a marca de três metros não estava lá no ultimo verão, mas fui cuidadoso para passar por cima dela.
"Marca grande." Tyson disse quando chegamos a nossa mesa "Terremoto talvez".
"Não" eu disse "não foi um terremoto"
Eu não estava certo se devia contar a ele, era um segredo que só Grover Annabeth e eu sabíamos. Olhei para o olho de Tyson, sabia que não poderia esconder
isso dele.
"Nico di Angelo." disse "Ele é um meio sangue que trouxemos para cá no ultimo verão. Ele... ele me pediu para proteger sua irmã e eu falhei. Ela morreu. Agora
ele me culpa."
Tyson ergue a sobrancelha "então ele fez uma marca no chão?"
"Tinha uns esqueletos nos atacando. Nico mandou-os embora, então o chão simplesmente se abriu e puxou-os. Nico..." olhei em volta para ter certeza que ninguém
ouvia, "Nico é um filho de Hades"
"O deus do pessoal morto." Tyson falou.
"Sim."
"Então o garoto, Nico, está desaparecido?"
"Acho que sim, procurei por ele na primavera. Annabeth também, mas não tivemos sorte. Isso é segredo, certo Tyson? Se alguém descobrir que ele é filho de Hades
ele ficará em perigo. Você não pode falar nem para Quirón"
"A profecia ruim." Tyson falou "Titãs tentariam usá-lo se soubessem."
Eu o encarei. As vezes era fácil esquecer que Tyson além de grande e infantil, ele era bem esperto. Ele sabia que a próximo filho dos Três Grandes que chegasse
aos 16 estava fadado a salvar ou destruir o Monte Olimpo. A maioria assumia que era eu, mas se eu morresse antes dos 16 ela poderia facilmente se aplicar a Nico.
"Exato, então..."
"Boca selada, como a fenda no chão." Tyson prometeu


Tive problemas para dormir naquela noite, deitei na cama e fiquei ouvindo as ondas na praia, e os uivos dos monstros. Estava com medo que quando caísse no
sono teria pesadelos.
Veja bem, para meio sangues, sonhos dificilmente são só sonhos, recebemos mensagens, vemos coisas que acontecem com nossos amigos ou inimigos. Algumas vezes
vemos até o passado ou o futuro. E no acampamento meus sonhos eram sempre mais freqüentes e vividos.
Então eu ainda estava acordado por volta da meia noite, parado no beliche olhando o teto, então percebi que havia uma luz estranha no quarto. A fonte de água
salgada estava brilhando.
Eu sai das cobertas e andei receosamente até a fonte. Vapor subia da água quente e salgada, arco-íris riscavam o vapor, mas não havia nenhuma luz no quarto
exceto a lua lá fora. Então uma voz feminina pediu educadamente, Favor depositar um Dracma.
Olhei para Tyson, mas ele ainda estava roncando, ele parecia um elefante tranqüilizado.
Eu não sabia o que fazer, nunca tinha resgatado uma mensagem de Íris antes. Um Dracma dourado brilhou no fundo da fonte, eu o peguei e joguei no vapor. A moeda
desapareceu.
"Oh Íris, Deusa do arco-íris, me mostre... Uh, o que você precisa me mostrar."
O vapor tremulou. Eu vi a margem de um rio escuro. Ele tinha um pouco de nevoa na superfície. A margem era de areia e pedra vulcânica. Um jovem estava na areia
ao lado de uma fogueira, as chamas brilhavam em uma cor azul pouco natural, então eu vi o rosto do garoto. Era Nico di Angelo. Ele jogava papel no fogo - cartas
de Mythomagic, parte de um jogo que ele tinha sido obcecado.
Nico tinha apenas dez anos, talvez onze agora, mas ele parecia mais velho. Seu cabelo estava maior, quase tocava os ombros. Sua pele estava pálida, ele vestia
um jeans preto e uma jaqueta de aviador, esta muito maior do que deveria ser, e uma camiseta preta. Seus olhos estavam selvagens. Ele parecia um garoto que tinha
vivido na rua.
Esperei que ele olhasse para mim, sem duvida ele ficaria maluco de raiva, começaria a me acusar de deixar sua irmã morrer, mas ele parecia não me notar.
Nico jogou outra carta ao fogo, "inútil" ele resmungou "não posso acreditar que já gostei disso."
"Um jogo infantil, mestre" uma voz concordou, parecia vir de perto do fogo, mas eu não podia ver quem era.
Nico olhou para o rio, na outra margem tinha uma praia de areia negra. Eu reconheci: o Mundo Inferior. Nico estava acampando na outra margem do Rio Styx.
"Eu falhei." Nico resmungou "Não há como trazê-la de volta."
A outra voz continuou em silencio.
Nico virou com uma expressão duvidosa, "Tem como? Diga"
Algo reluziu, achei que fosse só o fogo, então percebi que tinha a forma de um homem. Se você olhasse diretamente para ele só veria um tremeluzir, mas se usasse
o canto do olho poderia perceber seu formato, um fantasma.
"Nunca foi feito" o fantasma disse, "Mas talvez haja um jeito"
"Conte-me" Nico comandou, seus olhos brilharam.
"uma troca" o fantasma falou "uma alma por outra"
"Eu tentei"
"Não a sua" o fantasma falou "você não pode oferecer uma alma que ele vai recolher de qualquer jeito, e ele não deve estar ansioso pela morte de seu filho.
Eu falo de uma alma que ele já deveria ter recolhido, alguém que enganou a
Morte."
O rosto de Nico se tornou sombrio "de novo não. Você esta falando em assassinato."
"Estou falando de justiça, vingança."
"Estes não são a mesma coisa"
O fantasma riu "você aprenderá diferente quando crescer."
Nico fixou-se no fogo "Por que eu não posso ao menos convocá-la? Quero falara com ela. Ela...ela me ajudaria."
"Eu te ajudarei." o fantasma prometeu. "Eu não te salvei tantas vezes? Não te guiei pela Névoa e te ensinei como usar seus poderes? Você quer revanche pela
sua irmã ou não?"
Eu não gostei do tom de voz do fantasma. Me lembrou um cara de uma escola, um valentão que convencia as outras crianças a fazer coisas estúpidas, como roubar
material de laboratório e zoar o carro dos professores. O cara nunca entrou em problemas, mas colocou muitos garotos de suspensão.
Nico se virou, de forma que o fantasma não pudesse vê-lo, mas eu podia. Uma lagrima correu seu rosto, "então, você tem um plano?"
"Ah sim,"o fantasma disse "temos muitas estradas escuras para viajar, devemos começar..."
A imagem tremeluziu, Nico desapareceu. A voz feminina do vapor disse, Favor depositar um Dracma para mais cinco minutos.
Não havia outra moedas na fonte. Eu tentei o bolso, mas estava usando pijamas. Tentei achar outra moeda no escuro, mas a mensagem de Íris piscou e o quarto
ficou escuro novamente.A conexão tinha esvaído.
Fiquei parado no meio do chalé, ouvindo o gorgolejar da água na fonte e as ondas lá fora.
Nico estava vivo, e estava tentando trazer sua irmã dos mortos. Eu tinha a sensação de que sabia que alma ele queria para a troca, alguém que tinha enganado
a morte. Vingança.
Nico di Angelo estava vindo atrás de mim.




























TRÊS - BRINCAMOS DE PEGA-PEGA COM ESCORPIÕES

Na manhã seguinte, havia muita agitação no café da manhã.

Aparentemente cerca de três horas da manhã um Dragão Etíope estava parado nas fronteiras do acampamento. Eu estava tão exausto que eu dormi mesmo com o barulho.
As fronteiras mágicas mantiveram o monstro para fora, mas ele rodeou as colinas, à procura de pontos fracos em nossas defesas, e ele não parecia ansioso para ir
embora antes que Lee Fletcher saísse da cabine de Apolo levando seu exército de irmãos. Depois de algumas dezenas de flechas enfiadas nas aberturas de sua armadura,
ele recebeu a mensagem e desistiu.

"Ele ainda está lá fora," Lee nos alertou durante os anúncios. "Vinte flechas em sua pele, e nós o fizemos ficar louco. A coisa tinha trinta metros de comprimento
e um brilho verde. Seus olhos" - ele estremeceu.

"Você foi bem, Lee," Quiron deu uma palmada em seus ombros. "Todos fiquem em alerta, mas fiquem calmos. Isso já aconteceu antes."

"Sim," Quintos disse da ponta da mesa. "E isso vai acontecer novamente. Com mais e mais frequência."

Os campistas murmuraram entre si.

Todos sabiam os rumores: Luke e seu exército de monstros estavam planejando uma invasão ao acampamento. A maioria de nós espera que isso aconteça neste verão,
mas ninguém sabia como ou quando. Nós só tínhamos cerca de 80 campistas. Três anos atrás, quando eu comecei, havia bem mais de uma centena. Alguns tinham morrido.
Outros se juntado a Luke. E alguns simplesmente desapareceram.

"Esse é um bom motivo para os novos jogos de guerra," Quintus continuou um brilho em seus olhos. "Nós veremos como vocês fazem hoje à noite."

"Sim..." Quiron disse. "Bem, chega de anúncios. Vamos abençoar essa refeição e comer." Ele levantou sua taça. "Aos deuses."

Nós todos levantamos nossos copos e repetimos a benção.

Tyson e eu levamos nossos pratos até o braseiro de bronze e raspamos uma porção de nossa comida nas chamas. Eu espero que os deuses gostem de torrada com passas
e Froot Loops.

"Poseidon," Eu disse. E então eu murmurei, "Ajude-me com Nico, e Luke, e com o problema de Grover..."

Havia muito para se preocupar sobre onde eu podia me posicionar todas as manhãs, mas eu fui de volta para a mesa.

Enquanto todos estavam comendo, Quiron e Grover vieram me visitar. Grover estava com os olhos embaçados. Sua camisa estava do avesso. Ele deslizou seu prato
para a mesa e se sentou próximo a mim.

Tyson se moveu desconfortavelmente. "Eu vou... hm... polir meus peixes-pônei."

Ele saiu desajeitadamente, deixando seu café-da-manhã pela metade.

Quiron tentou dar um sorriso. Ele provavelmente quis olhar reconfortante, mas na sua forma de centauro ele se elevou sobre mim, lançando uma sombra em toda
mesa. "Bem, Percy, como você dormiu?"

"Uh, bem." Eu imaginei porque ele perguntou isso. Seria possível que ele soubesse sobre a estranha mensagem-de-Íris que eu recebi?

"Eu trouxe Grover" Quiron disse, "porque eu pensei que vocês dois poderiam querer, ah, discutir assuntos. Agora se você me dá licença, Eu tenho algumas mensagens-de-Íris
para enviar. Eu te vejo mais tarde." Ele deu um olhar significativo para Grover, e trotou para fora do pavilhão."

"Sobre o que ele estava falando?" Perguntei a Grover.

Grover mastigou seus ovos. Eu poderia dizer que ele estava distraído, porque ele mordeu os dentes do seu garfo e o mastigou, também. "Ele quer que você me
convença," ele resmungou.

Alguém mais deslizou para perto de mim no banco: Annabeth.

"Eu vou dizer sobre o que é," disse ela. "O labirinto."

Foi difícil de concentrar no que ela estava dizendo, porque todo mundo no pavilhão de jantar estavam nos olhando e sussurrando. E Annabeth estava do meu lado.
Quero dizer ao meu lado direito.

"Você não devia estar aqui," eu disse.

"Nós precisamos conversar," ela insistiu.

"Mas as regras..."

Ela sabia muito bem que os campistas não eram autorizados a mudar de mesa. Sátiros eram diferentes. Eles não eram semideuses. Mas os meio-sangues tinham que
se sentar-se à mesa de seus chalés. Eu nem sabia qual a punição por trocar de mesas. Eu também não sabia se sequer havia uma punição por trocar de mesa. Eu nunca
vi isso acontecer. Se o Sr. D estivesse aqui, ele provavelmente já teria estrangulado Annabeth com videiras mágicas ou algo assim, mas Sr. D não estava aqui. Quiron
já havia deixado o pavilhão. Quintus nos olhou e ergueu uma sobrancelha, mas ele não disse nada.

"Olha," disse Annabeth, "Grover está com problemas. Há apenas uma maneira em que nós podemos ajudá-lo. É o Labirinto. Isso é o que eu e Clarisse temos investigado."

Eu mudei meu apoio, tentando pensar claramente. "Você quer dizer o labirinto onde mantinham o Minotauro, de volta aos velhos tempos?"

"Exatamente," disse Annabeth.

"Então... ele não está mais debaixo do palácio do rei de Creta," eu supus. "O Labirinto está debaixo de algum prédio na América."

Viu? Só me levou alguns anos para perceber as coisas. Eu sabia que locais importantes se mudaram com a Civilização Ocidental, como o Monte Olimpo estar sobre
o Empire State, e a entrada do Submundo estar em Los Angeles. Eu estava me sentindo orgulhoso de mim mesmo.

Annabeth virou os olhos. "Debaixo de um prédio? Por favor, Percy. O Labirinto é enorme. Não iria caber em uma única cidade, muito menos em um único prédio."

Eu pensei sobre meu sonho de Nico no rio Styx. "Então... o Labirinto parte do Submundo?"

"Não." Annabeth de cara amarrada. "Bem, pode haver passagens do Labirinto para o Submundo. Não tenho certeza. Mas o Submundo é para, para baixo. O Labirinto
está sobre a superfície do mundo mortal, como se fosse uma segunda pele. Ele tem crescido por centenas de anos, amarrando sua forma debaixo das cidades ocidentais,
conectando tudo pelo subterrâneo. Você pode ir pra qualquer lugar pelo Labirinto."

"Se você não se perder," Grover murmurou. "E morrer uma morte horrível."

"Grover, tem que haver uma maneira." disse Annabeth. Eu tenho a sensação que eles já tiveram essa conversa antes. "Clarisse sobreviveu."

"Quase!" disse Grover. "E o outro cara-"

"Ele ficou louco. Ele não morreu."

"Oh, maravilha." O lábio inferior de Grover tremeu. "Isso me faz sentir muito melhor."

"Uau," eu disse. "Espere. O que é isso sobre Clarisse e o cara louco?"

Annabeth olhou de relance para a mesa de Ares. Clarisse estava nos observando como se ela soubesse do que estávamos falando, mas ela fixou os olhos em seu
prato de café da manhã.

"Ano passado," Annabeth começou, abaixando sua voz, "Clarisse foi a uma missão para Quiron."

"Eu lembro," eu disse. "Era secreta."

Annabeth assentiu. Apesar do quão sério ela estava agindo, eu estava feliz por ela não estar brava comigo. E eu meio que gostei do fato de ela ter quebrado
as regras para se sentar junto a mim.

"Era secreta," Annabeth concordou, "porque ela encontrou Chris Rodriguez."

"O cara do Chalé de Hermes?" Me lembrei dele de dois anos atrás. Nós tínhamos escutado Chris Rodriguez atrás da porta dentro do navio de Luke, o Princesa Andrômeda.
Chris era um dos meio-sangues que abandonaram o acampamento e se juntaram à tropa do Titã.

"É" Annabeth disse. "No verão passado ele apenas apareceu em Phoenix, Arizona, perto da casa da mãe de Clarisse."

"O que você quer dizer com 'apenas apareceu'?"

"Ele estava vagando em torno do deserto, a 49 Cº, de armadura grega, balbulciando sobre corda."

"Corda," eu disse.

"Ele estava completamente insano. Clarisse o levou para a casa da mãe dela para que os mortais não o levassem para uma instituição. Ela tentou tratar sua saúde.
Quiron foi até lá e o entrevistou, mas não foi muito bom. A única coisa quem ele tirou de Chris foi: Os homens de Luke estavam explorando o Labirinto."

Eu tremi, embora não soubesse exatamente por que. Pobre Chris... Ele não tinha sido um garoto mal. O que poderia tê-lo deixado louco? Olhei para Grover, que
estava mastigando o resto do garfo.

"Ok," eu perguntei. "Por que eles estavam explorando o Labirinto?"

"Nós não temos certeza," disse Annabeth. "Foi por isso que Clarisse saiu em uma missão de exploração. Quiron manteve as coisas em silêncio porque ele não queria
ninguém em pânico. Ele também me envolveu por que... bem, o Labirinto sempre foi um dos meus temas favoritos. A arquitetura envolvida-" A expressão dela se tornou
um pouco sonhadora. "O construtor, Dédalo, era um gênio. Mas o ponto é que, o labirinto tem entradas em qualquer lugar. Se Luke pudesse imaginar como andar pelo
labirinto, ele poderia mover seu exército com uma velocidade incrível."

"Exceto que é um labirinto, certo?"

"Cheio de armadilhas horríveis," Grover concordou. "Mortes. Ilusões. Psicóticos monstros matadores de cabra."

"Não se você tivesse a corda de Ariadne," Annabeth disse. "Nos velhos tempos, a corda de Ariadne guiou Teseu para fora do labirinto. Era um instrumento de
navegação de algum jeito, inventado por Dédalo. E Chris Rodrigues estava murmurando sobre corda."

"Então Luke está tentando achar a corda de Ariadne," eu disse. "Por quê? O que ele está planejando?"

Annabeth balançou a cabeça. "Eu não sei. Eu penso que talvez ele queira invadir o acampamento pelo labirinto, mas isso não faz sentido. A entrada mais perto
que Clarisse achou era em Manhattan, o que não ajudaria Luke a passar pelas nossas fronteiras. Clarisse explorou um pouco o caminho para o túnel, mas... ele era
muito perigoso. Ela escapou por um triz. Eu pesquisei tudo o que eu poderia achar sobre Dédalo. Eu tenho medo que não ajude muito. Eu não entendo o que exatamente
Luke está planejando, mas de uma coisa eu sei: o Labirinto pode ser a chave do problema de Grover."

Eu pisquei. "Você acha que Pan está no subterrâneo?"

"Isso explicaria o porquê ele tem sido impossível de se encontrar."

Grover estremeceu. "Sátiros odeiam ir para o subterrâneo. Nenhum buscador sequer tentou ir nesse lugar. Sem flores. Sem o raio de sol. Sem lojas de café!"

"Mas," Annabeth disse, "o Labirinto pode levá-lo praticamente em qualquer lugar. Ele lê seus pensamentos. Ele foi feito para fazê-lo de idiota, enganá-lo e
matá-lo, mas você pode fazer o Labirinto trabalhar para você-"

"Ele pode levá-lo para o deus dos bosques," Eu disse.

"Eu não posso fazer isso." Grover abraçou seu estômago. "Só pensar nisso me faz querer vomitar meus objetos de prata."

"Grover, isso pode ser sua última chance," Annabeth disse. "O conselho é sério. Uma semana e você aprenderá a dançar!"

Sobre a mesa principal, Quintus limpou sua garganta. Eu tive a sensação que ele não queria fazer cena, mas Annabeth estava forçando-o a fazer isso, sentando
em minha mesa por tanto tempo.

"Nós conversaremos depois," Annabeth apertou meu braço um pouco forte. "Convença-o, ok?"

Ela voltou para a mesa de Atena, ignorando as pessoas que estavam olhando para ela.

Grover enterrou a cabeça nas mãos. "Eu não posso fazer isso, Percy. Minha licença de buscador. Pan. Eu vou perder tudo isso. Eu terei que começar um teatro
de fantoches."

"Não diga isso! Nós vamos imaginar alguma coisa."

Ele me olhou com os olhos cheios de lágrimas. "Percy, você é meu melhor amigo. Você me viu no subterrâneo. Naquela caverna do Ciclope. Você realmente acha
que eu..."

Sua voz vacilou. Eu me lembrei do Mar de Monstros, onde ele estava sendo mantido na caverna do Ciclope. Ele nunca gostou de lugares subterrâneos para começar,
mas agora Grover realmente os odiava. O Ciclope o deixou estranho, também. Até mesmo Tyson... Grover tentou esconder isso, mas Grover e eu podemos ler as emoções
um do outro por causa da Ligação de Empatia entre nós. Eu sabia como ele se sentia. Grover estava aterrorizado por causa do grandão.

"Eu tenho que sair," Grover disse lastimosamente. "Juniper está me esperando. Ela é boa em achar covardes atraentes."

Depois que ele tinha ido embora, eu olhei para Quintus. Ele acenou seriamente, como se nós estivéssemos compartilhando algum segredo obscuro. Então ele voltou
a cortar sua salsicha com uma faca.

***

Na parte da tarde, fui para os estábulos de Pegasus para visitar meu amigo Blackjack.

Ei, chefe! Ele brincou e saltou da sua cela, suas asas pretas mexendo no ar. Você me trouxe alguns cubos de açúcar?

"Você sabe que eles não são bons para você, Blackjack."

Sim, então você trouxe alguns, hein?

Eu sorri e dei a ele um punhado. Blackjack e eu voltamos de um longo caminho. Eu meio que o salvei de um demônio de Luke no cruzeiro alguns anos atrás, e desde
então, ele insiste em me retribuir com favores.

Então temos algumas missões vindo? Blackjack perguntou. Eu estou pronto para voar, chefe!

Eu dei uma palmada em seu nariz. "Não sei, cara. Todo mundo continua falando sobre labirintos subterrâneos."

Blackjack relinchou nervosamente. Nuh-uh. Não para este cavalo! Você não seria louco o suficiente para ir a qualquer labirinto, chefe. Seria? Você vai acabar
em cola de fábrica!

"Você provavelmente está certo, Blackjack. Veremos."

Blackjack mastigou seus cubos de açúcar. Ele agitou sua juba como se ele estivesse tendo um ataque apopléctico de açúcar. Uau! Coisa boa! Bem, chefe, se quiser
voar para algum lugar, basta dar um assobio. Ole Blackjack e seus amigos vão debandar alguém para você.

Eu disse a ele que ia manter isso em mente. Então um grupo de jovens campistas entrou no estábulo para começar suas aulas de equitação, e eu decidi que era
hora de sair. Eu tive um mau pressentimento que eu não iria ver Blackjack por um bom tempo.

***

Naquela noite depois do jantar, Quintus nos tinha vestidos em armaduras de combates como se estivéssemos nos preparando para o Capture a Bandeira, mas o humor
entre os campistas era muito mais sério. Algumas vezes durante o dia as grades na arena tinham desaparecido, e eu tive a sensação que o que quer que estivesse lá
tinha esvaziado na floresta.

"Certo," Quintus disse, em pé na mesa de jantar. "Aproximem-se."

Ele estava vestido com couro preto e bronze. Na luz das tochas, seu cabelo cinza o fez parecer como um fantasma. Sra. O'Leary pulou alegremente em sua volta,
procurando restos do jantar.

"Vocês estarão em duplas," Quintus anunciou. Quando todo mundo começou a falar e tentar agarrar seus amigos, ele gritou: "Que já foram escolhidas!"

"AHHHHHHHHHHH!" Todo mundo reclamou.

"Seu objetivo é simples: recolher os louros dourados sem morrer. A cora é embalada em um pacote de seda, amarrado nas costas de um dos monstros. Existem seis
monstros. Cada um tem um pacote de seda. Apenas um carrega os louros. Vocês precisam achar a cora antes que as outras duplas. E, é claro... vocês terão que matar
o monstro para obtê-la, e ficar vivos."

A multidão começou a murmurar com entusiasmo. A tarefa pareceu bem simples. Ei tínhamos todos matados esses monstros antes. É para isso que treinamos.

"Eu vou anunciar seus parceiros," disse Quintus. "Não haverá negociação. Sem trocas. Sem reclamação."

"Aroooof!" Sra. O'Leary enterrou seu rosto em um prato de pizza.

Quintus produziu um grande pergaminho e começou a ler os nomes. Beckendorf iria com Silena Beauregard, e Beckendorf pareceu bem feliz. Os irmãos Stoll, Travis
e Connor, iriam juntos. Nenhuma surpresa. Faziam tudo juntos. Clarisse ia com Lee Fletcher do chalé de Apolo - combate a curta e longa distância combinados, eles
seriam uma boa combinação. Quintus continuou lendo os nomes até que ele disse, "Percy Jackson com Annabeth Chase."

"Legal." Sorri para Annabeth.

"Sua armadura está torta" foi o único comentário dela, e ela arrumou as tiras para mim.

"Grover Underwood," disse Quintos, "com Tyson."

Grover quase pulou fora de sua pele de bode. "Quê? M-mas-"

"Não, não," Tyson choramingou. "Deve ser um engano. Garoto-bode-"

"Sem reclamações!" Quintos ordenou. "Entre com seu parceiro. Vocês tem dois minutos para se prepararem!"

Tyson e Grover olharam para mim suplicando. Eu tentei dar a eles um aceno encorajador, e sinais de que deveríamos avançar juntos. Tyson espirrou. Grover começou
a mastigar nervosamente seu bastão de madeira.

"Eles ficarão bem," Annabeth disse. "Venha. Vamos nos preocupar sobre como nós vamos nos manter vivos."

***

Ainda havia luz quando nós entramos na floresta, mas as sombras das árvores fizeram parecer como noite. Era frio, bem frio, mesmo no verão. Annabeth e eu achamos
pistas quase imediatamente - marcas de corrida foram feitas por alguma coisa com um monte de pernas. Começamos a seguir o rastro.

Pulamos o riacho e ouvimos alguns galhos se quebrando próximos a nós. Nós agachamos atrás de uma rocha, mas eram só os irmãos Stoll tropeçando pela mata e
praguejando. O pai deles era o deus dos ladrões, mas eles eram furtivos como búfalos.

Uma vez que os irmãos Stoll passaram, nós fomos para mais fundo do lado oeste da floresta onde os monstros eram selvagens. Nós estávamos parados sobre uma
elevação em uma lagoa de pântano quando Annabeth ficou tensa. "Isso é onde paramos de olhar."

Isso levou um segundo para perceber o que isso significava. Inverno passado, quando desistimos de procurá-lo, Grover, Annabeth e eu estávamos sobre essa roxa,
e eu os convenci a não contar para Quiron a verdade: que Nico era filho de Hades. Na época parecia a coisa certa a fazer. Eu queria proteger sua identidade. Eu quis
ser a pessoa que ia encontrá-lo e fazer a coisa certa por causa do que aconteceu com a irmã dele. Agora, seis meses depois, eu não tinha sequer chegado perto de
encontrá-lo. Ele deixou um gosto amargo em minha boca.

"Eu o vi na noite passada," Eu disse.

Annabeth franziu suas sobrancelhas. "O que você quer dizer?"

Eu contei a ela sobre a mensagem-de-Íris. Quando eu terminei, ela encarou as sombras da floresta. "Ele está invocando os mortos? Isso não é bom."

"O fantasma estava dando a ele maus conselhos", eu disse. "Dizendo-lhe para se vingar."

"Sim... espíritos nunca são bons conselheiros eles têm seus próprios planos de trabalho. Velhos rancores. E ressentem a vida."

"Ele vai vir atrás de mim," disse. "O espírito mencionou um labirinto."

Ela assentiu. "Isso resolve. Nós temos que entender o Labirinto."

"Talvez," eu disse desconfortavelmente. "Mas quem mandou a mensagem-de-Íris? Se Nico não soubesse que eu estava lá-"

Um galho quebrou na floresta. Folhas secas rasgaram. Algo grande estava se movendo nas árvores, atrás do cume.

"Isso não é os irmãos Stoll," Annabeth sussurrou.

Juntos sacamos nossas espadas.

***

Temos o Punho de Zeus, uma enorme pilha de pedras no meio da floresta oeste. Era um marco natural onde campistas se reunião frequentemente em expedições de
caça, mas agora não havia ninguém por perto.

"Lá," Annabeth sussurrou.

"Não, espere," eu disse. "Atrás de nós."

Isso era estranho. Ruídos de corrida pareciam ser provenientes de várias direções. Nós estávamos circulando os rochedos, nossas espadas sacadas, quando alguém
bem atrás de nós disse, "Oi."

Nós nos viramos, e a dríade Juniper ganiu.

"Abaixem suas armas!" ela protestou. "Dríades não gostam de lâminas afiadas, ok?"

"Juniper," Annabeth exalada. "O que você está fazendo aqui?"

"Eu moro aqui."

Eu baixei minha espada. "No rochedo?"

Ela apontou em direção à borda da clareira. "No zimbro. Der."

Isso fazia sentido, e eu me senti estúpido. Eu tinha passeado em torno das dríades por anos, mas eu nunca falei com elas realmente. Eu sabia que elas não poderiam
ir muito longe de sua árvore, que tinha a fonte de sua vida. Mas eu não sabia muito mais.

"Vocês estão ocupados?" Juniper perguntou.

"Bem," eu disse, "nós estamos no meio de um jogo contra um bando de monstros e nós estamos tentando não morrer."

"Não estamos ocupados," Annabeth disse. "O que está errado, Juniper?"

Juniper fungava. Ela esfregou sua manga de seda debaixo de seus olhos. "É Grover. Ele parece tão desesperado. Todos os anos ele tem procurado por Pan. E a
cada vez que ele volta, é pior. Eu pensei que talvez, num primeiro momento, ele estava vendo outra árvore."

"Não," Annabeth disse quando Juniper começou a chorar. "Tenho certeza que não é isso."

"Ele tinha esmagado um arbusto de blueberry uma vez," Juniper disse tristemente.

"Juniper," Annabeth disse, "Grover nunca olharia para outra árvore. Ele só está estressado por causa de sua licença de buscador."

"Ele não pode ir para o subterrâneo!" ela protestou. "Você não pode deixá-lo ir."

Annabeth parecia desconfortável. "Essa poderia ser a única maneira de ajudá-lo; se nós soubéssemos onde começar."

"Ah." Juniper limpou uma lágrima verde em sua bochecha. "Sobre isso..."

Outro barulho na floresta, e Juniper gritou, "Escondam-se!"

Antes que eu pudesse perguntar o porquê, ela se transformou em uma névoa verde.

Annabeth e eu nos viramos. Saindo da floresta tinha um brilhante inseto laranja, dez metros de comprimento, com garras pontudas, uma cauda blindada, e um ferrão
longo como minha espada. Um escorpião. Amarrado em suas costas estava um pacote de seda vermelho.

"Um de nós vai por trás dele," disse Annabeth, com a coisa tinindo para nós. "Corta a cauda enquanto o outro o distrai pela frente."

"Eu o distraio," eu disse. "Você tem o chapéu de invisibilidade."

Ela assentiu. Nós lutamos juntos tantas vezes que nós sabíamos os movimentos um do outro. Poderíamos fazer isso, fácil. Mas tudo correu mal, quando outros
dois escorpiões surgiram da floresta.

"Três?" Annabeth disse. "Isso não é possível! A floresta inteira, e metade os monstros veio até nós?"

Eu engoli. Um deles, poderíamos dar conta. Dois, com sorte. Três? Duvido.

Os escorpiões correram para nós, movimentando suas caudas farpadas como se vieram aqui só para nos matar. Annabeth e eu nos viramos de costas contra o rochedo
mais próximo.

"Escalamos?" eu disse.

"Não há tempo," ela disse.

Ela tinha razão. Os escorpiões já estavam à nossa volta. Eles estavam tão perto que eu podia ver suas bocas espumando, antecipando um delicioso suco gelado
de semideuses.

"Cuidado!" Annabeth defendeu um ferrão com a parte plana de sua espada. Eu dei uma punhalada com Contracorrente, mas o escorpião foi para fora do alcance.
Nós andamos pela lateral do rochedo, mas os escorpiões tinha nos seguido. Eu ataquei outro, mas ir pela ofensiva era muito perigoso. Se eu fosse para o corpo, eu
cortaria a cauda fora. Se eu fosse para a cauda, os ferrões da coisa iriam vir dos dois lados e me pegar. Tudo que poderíamos fazer era nos defender, e não seríamos
capazes de manter isso por muito tempo.

Eu dei outro grande passo na lateral, e de repente não havia mais nada atrás de mim. Havia uma fenda entre as duas maiores pedras, onde eu passei um milhão
de vezes, mas...

"Aqui," eu disse.

Annabeth cortando um escorpião quando olhou para mim como se eu fosse louco. "Aí? É muito estreito."

"Eu te dou cobertura. Vai!"

Ela fugiu para trás de mim e começou a se apertar entre as duas pedras. Então ela ganiu e agarrou as tiras de minha armadura, e de repente eu estava dando
cambalhotas em um poço que não estava ali um momento antes. Eu podia ver os escorpiões acima de nós, o céu roxo noturno e as árvores, e então o buraco fechou como
lente de uma câmera, e nós estávamos em uma completa escuridão.

Nossa respiração ecoava contra a pedra. Estava frio e úmido. Eu estava sentado em um chão esburacado que parecia feito de tijolos.

Eu levantei Contracorrente. O fraco brilho da espada era suficiente apenas para iluminar o rosto assustado de Annabeth e as paredes cheias de musgo em cada
lado de nós.

"On-onde estamos?" Annabeth disse.

"A salvo dos escorpiões, de qualquer forma," eu tentei parecer calmo, mas eu estava em pânico. A rachadura entre as pedras não poderia ter nos levado a uma
caverna. Eu saberia se houvesse uma caverna aqui; eu tinha certeza. Era como se o chão tivesse aberto e nos engolido. Tudo o que eu pude pensar era na fissura no
pavilhão da sala de jantar, onde aqueles esqueletos tinham sido consumidos no verão passado. Eu gostaria de saber se a mesma coisa tinha acontecido conosco.

Eu levantei novamente minha espada para iluminar.

"É uma longa sala," eu murmurei.

Annabeth agarrou meu braço. "Não é uma sala, é um corredor."

Ela tinha razão. A escuridão parecia... vazia em nossa frente. Havia uma brisa calorosa, como nos túneis do metrô, mas eu senti que era mais velha, mas perigosa
de alguma maneira.

Eu comecei a andar, mas Annabeth me parou. "Não dê outro passo," ela avisou. "Precisamos achar a saída."

Ela pareceu realmente assustada agora.

"Está tudo bem," eu prometi. "Está bem-"

Eu olhei para cima e percebi que não poderia ver de onde tínhamos caído. O teto era pedra sólida. O corredor parecia esticar indefinidamente em ambas as direções.

A mão de Annabeth escorregou para a minha. Sob circunstâncias diferentes eu iria-me sentir envergonhando, mas aqui no escuro eu estava feliz em saber onde
ela estava. Era a única coisa que eu tinha certeza.

"Dois passos para trás," ela aconselhou.

Nós andamos para trás juntos como se estivéssemos em um campo minado.

"Ok," ela disse. "Me ajude a examinar as paredes."

"Para quê?"

"A marca de Dédalo," ela disse, como se isso fosse fazer sentido.

"Uh, ok. Que tipo de-"

"Consegui!" ela disse com alívio. Ela colocou sua mão na parede e pressionou contra uma pequena fissura, que começou a brilhar em azul.
Um símbolo grego apareceu: O grego antigo Delta.

O telhado se abriu e nós vimos o céu noturno, estrelas brilhando. Era bem mais escuro do que deveria. Uma escada de metal apareceu do lado do muro, levantando,
e eu podia ouvir pessoas gritando nossos nomes.

"Percy! Annabeth!" A voz de Tyson mais alta, mas os outros estavam chamando também.

Eu olhei nervoso para Annabeth. E então começamos a subir.

***

Nós fizemos nosso caminho de contornar as rochas e corremos em direção a Clarisse e outros campistas que seguravam tochas.

"Onde vocês dois estiveram?" Clarisse exigiu.

"Nós estivemos procurando por uma eternidade."

"Mas nós só saímos por alguns minutos," eu disse.

Quiron trotou, seguido de Tyson e Grover.

"Percy!" Tyson disse. "Você está bem?"

"Estamos bem," eu disse. "Nós caímos em um buraco."

Os outros me olhavam descrentes, e então para Annabeth.

"Juro!" eu disse. "Haviam três escorpiões atrás de nós, então nós corremos e nos escondemos nas rochas. Mas nós só fomos por um minuto."

"Vocês estiveram ausente por quase uma hora," Quiron disse. "O jogo está acabado."

"É," Grover murmurou. "Nós teríamos vencido, mas um Ciclope sentou em mim."

"Foi um acidente!" Tyson protestou, e então espirrou.

Clarisse estava usando um louro dourado, mas ela nem se gabou que tinha os ganhado, o que não parecia ela. "Um buraco?" disse ela suspeita.

Annabeth respirou profundamente. Ela olhou ao redor dos outros campistas. "Quiron... talvez devêssemos falar sobre isso na Casa Grande."

Clarisse ofegou. "Você o encontrou, não é mesmo?"

Annabeth mordeu seu lábio. "Eu-Sim. Sim, nós encontramos."

Um punhado de campistas começou a fazer perguntas, olhando tão confuso quanto eu, mas Quiron levantou a mão para ter silêncio. "Hoje não é a hora certa, e
aqui não é o lugar certo." Ele encarou as pedras como se ele notasse o quanto elas eram perigosas. "Todos vocês, voltem aos seus chalés. Durmam um pouco. Um jogo
bem jogado, mas o toque de recolher já passou!"

Houve um grande número de queixas e sussurros, mas os campistas saíram, conversando entre si e me olhando desconfiados.

"Isso explica muita coisa," Clarisse disse. "Isso explica o que Luke está atrás."

"Esperem um segundo," eu disse. "O que você quer dizer? O que achamos?"

Annabeth se virou para mim, seus olhos cinzentos com preocupação. "Uma entrada para o Labirinto. Uma rota de invasão no coração do acampamento."
























QUATRO - ANNABETH QUEBRA AS REGRAS

Quiron insistiu que a gente conversasse sobre aquilo de manha, que foi tipo: Hey,sua vida está em perigo mortal. Durmam bem! Foi difícil cair no sono, mas
quando eu finalmente consegui, eu sonhei com uma prisão.
Eu vi um garoto em uma túnica grega e sandálias apertadas sozinho em uma massiva sala de pedra. A cela estava aberta para o céu à noite, mas as paredes eram
de vinte pés de altura e de mármore polido. Completamente suave. Espalhados ao redor do quarto tinham caixotes de madeira. Alguns estavam quebrados e espalhados,
como se tivessem sido jogados lá. Tinha ferramentas de bronze espalhadas, um compasso, uma serra e outras coisas que eu não consegui reconhecer.
O garoto se encostou ao canto, tremendo de frio, ou medo. Ele foi jogado na lama. Suas pernas, braços e rosto foram arranhados como se ele tivesse sido
arrastado com as caixas.
Então a porta dupla de madeira se abriu. Dois guardas vestidos com armaduras de bronze marcharam para dentro, segurando um velho entre eles. Eles jogaram o
velho para o chão.
"Pai!" o garoto correu para ele. As roupas do homem estavam reduzidas a farrapos. Seus cabelos eram cinza listrado, e sua barba era longa e curta. Seu nariz
estava quebrado. Seus lábios estavam sangrando.
O garoto botou a cabeça do homem em seus braços. "O que eles fizeram com você?"
Em seguida, ele berrou para os guardas. "Eu vou matar vocês!"
"Não haverá nenhuma morte hoje," uma voz disse.
Os guardas se moveram para o lado. Atrás deles estava um homem alto com roupas brancas. Ele usava um pequeno circulo de ouro em sua cabeça. Sua barba era pontuda
como uma lamina de uma lança. Seus olhos se mostravam cruéis. "Você ajudou o ateniano a matar meu Minotauro, Dédalo. Você tornou minha própria filha contra mim."
"Você fez isso a si mesmo, sua majestade," sussurrou o homem.
Um guarda deu um chute nas costelas do homem. Ele gritou em agonia. O menino gritou, "Pare!"
"Você ama seu labirinto tanto," disse o rei, "eu decidi que vou deixar você aqui. Essa será sua oficina. Faça-me coisas maravilhosas. Surpreenda-me. Todo labirinto
precisa de um monstro. Você será meu!".
"Eu não tenho medo de você," o velho sussurrou.
O rei sorriu friamente. Ele botou os olhos no garoto "mas um homem cuida do seu filho, eh? Desagrade-me, velho, e na próxima vez meus guarda infligirão
uma punição, não em você sim em seu filho!"
O rei saiu da sala com seus guardas , e a porta deslizou, fechando-se, deixando o pai e o garoto sozinho na escuridão.
"O que devemos fazer?" o garoto disse "Pai, eles vão te matar!"
O pai engoliu isso com dificuldade. Ele tentou sorrir, mas era uma visão horrenda com sua boca sangrando.
"Fique calmo, meu filho" ele olhou para as estrelas "e - eu vou achar um jeito."
Uma barra baixou a porta com um fatal BOOM, e eu acordei suando frio.


* * *
Eu continuava me sentindo fraco de manhã quando Quiron chamou um conselho de guerra. Encontramos-nos na arena de espadas, o que eu achei bem estranho - nós
estávamos tentando discutir o destino do acampamento enquanto Mrs. O'leary dava mordidas em um pequeno brinquedo de borracha.
Quiron e Quintus estavam em frente da barraca de armas. Clarisse e Annabeth estavam sentadas em frente uma a outra. Tyson e Grover estavam sentados longe de
um ao outro ao Maximo que possível. Também estavam presentes na mesa: Juniper a ninfa da arvore, Silena Beauregard , Travis e Connor Stoll,Beckendorf,Lee Flentcher,
até Argus, nosso chefe de segurança com centenas de olhos.Aquilo era como eu sabia que era serio.Argus dificilmente se mostra, a menos que algo realmente serio esteja
acontecendo.O tempo todo Annabeth falou, ele continuou com os seus cem olhos azuis nela , seu corpo todo ficou injetado de sangue.
"Luke deve ter conhecido a entrada do labirinto" disse Annabeth "ele sabia sobre tudo no acampamento."
Eu achei que ouvi um pouco de orgulho em sua voz, como se respeitasse o cara, mesmo ele sendo mal.
Juniper tossiu. "Era o que eu estava tentando dizer noite passada. A caverna estava há muito tempo lá. Luke a usou."
Silena Beauregard resmungou. "Você sabia sobre a entrada do labirinto, e não disse nada?"
O rosto de Juniper ficou verde. "Eu não sabia que era tão importante. Só uma caverna. Eu não gosto de explorar velhas cavernas."
"Ela tem bom gosto." disse Grover.
"Eu não teria prestado nenhuma atenção... bem, era o Luke." Ela corou um pouco.
Grover bufou. "Esqueça o que eu disse sobre bom gosto"
"Interessante." Quintus poliu a sua espada enquanto falava." E você acredita que esse rapaz, Luke, ousaria usar o labirinto como rota para invadir o
acampamento?"
"Definitivamente." disse Clarisse "Se ele pudesse, um exercito de monstro já estaria dentro do acampamento meio-sangue, no meio da floresta sem se preocupar
com as barras mágicas do acampamento, nos não teríamos chance. ele nos venceria facilmente. Ele deve ter planejado isso a tempos."
"Ele esteve mandando escoltas para o labirinto" disse Annabeth "nós sabemos por que... por que achamos uma."
"Chris Rodriguez," disse Quiron.Ele olhou com o canto dos olhos para Quintus.
"Ah" disse Quintus "o que estava na... sim, eu entendo."
"O que estava aonde?" eu perguntei.
Clarisse sorriu para mim. "O ponto é que, Luke tem procurado por um jeito de navegar no labirinto, ele está procurando pela oficina de Dédalo."
Eu lembrei do sonho da noite passada - o velho sangrando em roupas esfarrapadas. "O cara que criou o labirinto."
"Sim," disse Annabeth "o maior arquiteto, o maior inventor de todos os tempos. Se as lendas estiverem certas, sua oficina está no centro do labirinto. Ele era
o único que sabia navegar no labirinto perfeitamente.Se Luke conseguir encontrar a oficina e convencer Dédalo a ajudá-lo, Luke não se atrapalhará nos caminhos, ou
então arriscará a perder seus exercito nas armadilhas do labirinto. Ele poderia navegar para onde quisesse, rapidamente e com segurança. Primeiro o acampamento
para se livrar de nós. Depois... o Olimpo.
A arena estava quieta, exceto pelo brinquedo de Mrs. O'lary' que fazia SQUEAK SQUEAK.
Finalmente, Beckendorf botou suas enormes mãos em cima da mesa. "Um minuto, Annabeth ,você disse 'convencer Dédalo' ? Dédalo não está morto ?"
Quintus grunhiu. "Eu espero que sim. Ele viveu o que, três mil anos atrás? E mais, se ele estivesse vivo, as antigas histórias não diziam que ele fugiu do labirinto?"
Quiron retesou os cotovelos. "Esse é o problema meu amigo. Ninguém sabe. Há rumores... bem, a vários rumores sobre Dédalo, mas um dos rumores é que ele desapareceu
para o labirinto para o resto da vida. Ele pode ainda estar lá."
Eu pensei no velho do meu sonho. Ele estava tão frágil que era difícil acreditar que ele iria durar uma semana, muito menos três mil anos.
"Nós precisamos entrar." Anunciou Annabeth "Nos precisamos encontrar a oficina antes do Luke. Se Dédalo está vivo, nós convenceremos ele para nos ajudar, não
Luke. Se o fio de Ariadne ainda existe, nós temos que ter certeza que nunca irá cair na mãos de Luke."
"Espere um momento," eu disse. "Se nós estamos preocupados com a idéia de um ataque, por que nos não simplesmente explodimos a entrada? Selar o túnel?"
"Boa idéia!" disse Grover "eu vou pegar a dinamite."
"Não é tão fácil, idiota." disse Clarisse. "Nós tentamos isso na entrada de Phoenix, e não nos demos muito."
Anabeth concordou. "O labirinto é uma estrutura mágica, Percy. Teria que ter um poder muito grande para selar uma das entradas. Em Phoenix, Clarisse demoliu
um prédio inteiro com uma bola de demolir, e o Labirinto só se deslocou alguns passos. O melhor que agente pode fazer é evitar que Luke aprenda a navegar no labirinto."
"Nos poderíamos lutar," disse Lee Fletcher. "Nós sabemos onde é a entrada do labirinto. Nós podemos formar uma linha de defesa e esperar por eles. Se um exercito
tentar invadir, vão encontrar nossos arcos esperando."
"Nós certamente faremos uma defesa," disse Quiron. "Mas eu tenho medo que Clarisse tenha razão. As bordas mágicas têm mantido o acampamento seguro por centenas
de anos. Se Luke trouxer um largo exército para dentro do acampamento, contornando as barreiras... Nós talvez não tenhamos a força para derrotar eles."
Ninguém estava realmente feliz com as novas noticias. Quiron normalmente tenta ser otimista. Se ele estava dizendo que não teríamos força para agüentar um ataque,
não era muito bom.
"Nós temos que ir para oficina de Dédalo primeiro," insistiu Annabeth. "Achar o fio de Ariadne e impedir Luke de usá-lo."
"Mas se ninguém consegue navegar lá," Eu disse "que chances nós temos?"
"Eu estive estudando Arquitetura por anos," Disse ela. "Eu conheço o Labirinto de Dédalo melhor que ninguém."
"Lendo sobre isso."
"Bem, sim."
"Não é o suficiente."
"Tem que ser."
"Não é."
"Você vai me ajudar ou não?"
Eu percebi que todos nos observavam como se fosse uma partida de tênis. O brinquedo de Mrs. O'leary fazia YEEK!
Quiron tossiu, "Primeiras coisas primeiro. Nós precisamos de uma busca. Alguém precisa entrar no labirinto, achar a oficina de Dédalo, e impedir Luke de usar
o labirinto para invadir o acampamento."
"Nós sabemos quem deveria liderar a busca," Disse Clarisse. "Annabeth."
Teve um murmúrio de concordância. Eu sabia que Annabeth esteve esperando sua própria busca desde que era uma menina, mas ela parecia desconfortável.
"Você fez tanto quanto eu, Clarisse," disse Annabeth. "Você deveria ir também."
Clarisse balançou sua cabeça, "Eu não vou voltar lá!"
Travis Stoll riu, "Não me diga que você esta com medo. Clarisse galinha?"
Clarisse olhou para seus pés, eu achei que ela iria pulverizar Travis, mas ela disse em uma voz trêmula, "Você não entende nada. Eu nunca mais vou voltar lá.
Nunca!"
Ela saiu apressada da arena.
Travis olhou ao redor estupefato. "Eu não queria-"
Quiron abaixou as mãos "A coitada da garota teve um ano difícil. Agora, todos concordam que Annabeth deveria liderar a busca?"
Todos assentimos, menos Quiron. Ele retesou seus braços na mesa. Mas eu não estava certo se alguém mais reparou.
"Muito bem," Quiron se dirigiu a Annabeth. "Minha querida, é sua vez de visitar o Oráculo. No momento em que você voltar, iremos discutir o que fazer a seguir."

* * *

Esperar Annabeth foi mais difícil do que eu próprio visitar o Oráculo. Eu já escutei profecias duas vezes antes. A primeira vez foi no porão Casa Grande.
Onde o espírito dos Delfos ficou dentro de uma múmia hippie. Na segunda vez o Oráculo saiu para um pequeno passeio nas árvores. Eu ainda tenho pesadelos sobre isso.
Eu nunca fiquei com medo na presença do Oráculo. Mas eu escuto Historias: Campistas que enlouqueceram, ou que tinham visto visões tão reais que morreram
de medo.
Mrs. O'Leary comeu seu lanche, que consistia de centenas quilos de carne moída e biscoitos de cachorros de tamanhos de caixas de lixo. Eu me perguntei onde
Quintus comprou biscoitos desse tamanho. Eu não achei que você podia entrar na área de bichos de estimação e simplesmente colocar no seu carrinho de compra.
Quiron estava em uma conversa aprofundada com Argus e Quintus. Parecia para mim que eles estavam discordando de alguma coisa. Quintus sacudia sua cabeça.
No outro lado da arena, Tyson e os irmãos Stoll estavam correndo com miniaturas de armaduras de bronze que Tyson fez. Eu desisti de esperar e sai da arena.
Eu fui para perto dos campos da Grande casa. Por que Annabeth estava demorando tanto? Eu estava certo que eu não levei tanto tempo na minha busca.
"Percy," uma garota sussurrou.
Juniper estava nos arbustos. Era estranho como ela quase virou
invisível quando ela foi cercada por plantas.
Ela sinalizou para mim urgentemente. "Você precisa saber: Luke não foi o único que eu vi perto da caverna."
"O que você quer dizer?"
Ela sorriu de volta para a arena. "Eu estava tentando dizer, mas ele estava lá".
"Quem?"
"O espadachim" ela disse "ele estava andando ao redor das pedras."
Meu estomago embrulhou. "Quintus? Quando?"
"Eu não sei," disse ela. "Eu não prestei atenção no momento. Uma semana atrás talvez quando ele apareceu."
"O que ele estava fazendo? Ele entrou lá?"
"Eu não tenho certeza. Ele é assustador, Percy. Eu nem sequer o vi entrar na clareira. De repente ele estava apenas ali. Você tem que dizer Grover que isso
é muito perigoso-"
"Juniper?" Grover chamou de dentro da arena. "Onde você foi?"
Juniper suspirou. "É melhor eu ir. Basta lembrar o que eu disse. Não confie naquele homem!"
Ela correu para a arena.
Eu fiquei na Grande casa, me senti mais desconfortável do que nunca.
Se foi Quintus tramando algo... Eu precisava do conselho de Annabeth. Ela precisava saber sobre o que Juniper me contou. Mas aonde ela foi? Seja o que estivesse
acontecendo no Oráculo não deveria demorar tanto.
Eu não consegui ficar mais ali.
Foi contra as regras, mas, novamente, ninguém estava vendo. Corri toda a colina e cruzando todos os campos.

* * *
A entrada da Grande casa estava estranhamente quieta. Eu me acostumei a ver Dionísio em frente da lareira, jogando cartas e comendo uvas de sátiros. Mas o Sr.
D continuava longe.
Eu caminhei até o final do corredor, com o chão rangendo debaixo dos meus pés. Quando eu cheguei à base da escada, eu hesitei. Quatro andares acima haveria
um pequeno alçapão que levava ao sótão. Annabeth estaria em algum lugar lá em cima. Eu fiquei em silêncio e atento. Mas o que eu vi não foi que eu esperava.
Era algo e estava vindo me pegar.
Eu me rastejei em torno da escada. O porão estava aberto. Eu nem sabia que a Casa Grande tinha um porão. Eu entrei e vi duas figuras no final do canto, sentados
no meio de estoques de Ambrósia e morango preservado. Um era Clarisse. O outro era um adolescente hispânico em calças esfarrapadas e com uma blusa preta suja. Seu
cabelo estava gorduroso e opaco. Ela estava abraçando seus ombros. Era Chris Rodrigues, o meio-sangue que trabalhava para Luke.
"Esta tudo bem," Clarisse estava dizendo para ele. "Tente um pouco mais de néctar."
"Você é uma ilusão Mary!" Chris se apoiou mais no canto, "V-vá embora"
"Meu nome não é Mary." A voz de Clarisse era gentil, mas muito triste. Eu nunca pensei que Clarisse poderia falar desse jeito. "Meu nome é Clarisse, lembre-se
por favor!"
"Está escuro!" gritou Chris. "Tão escuro."
"Venha para fora," Clarisse sussurrou. "A luz do sol irá te ajudar."
"Milhares de caveiras. A terra continua curando ele".
"Chris," Clarisse pediu. Parecia que ela iria chorar. "Você tem que melhorar. Por favor. Sr.D vai voltar logo. Ele é experiente em loucura.Só agüente firme."
Os olhos de Chris pareciam um rato encurralado - selvagem e desesperado. "Não há saída, Mary, não há."
Então, ele apanhou um vislumbre de mim e fez um som apavorante. "O filho de Poseidon! Ele é horrível!"
Eu me virei, esperando que Clarisse tenha me visto. Eu a ouvi se mexendo. Mas ela continuou falando com Chris em uma voz triste, fazendo-o beber mais Néctar.
Quem sabe ela achou que fazia parte da ilusão de Chris, mas... Filho de Poseidon? Chris estava
Olhando para mim e ainda porque eu tinha a sensação que ele não tinha falado só de mim?
E a ternura da Clarisse - nunca me ocorreu que ela poderia gostar de alguém; mas a forma que ela disse o nome de Chris... Ela o conhecia antes que ele tinha
mudado de lado. Ela o conhecia muito melhor do que eu percebia. E agora ele estava tremendo no canto do porão, com medo de sair, balbuciando sobre alguém chamada
Mary. Não era surpreendente que Clarisse não queria nada com o labirinto. O que aconteceu com Chris lá dentro?
Eu ouvi um rangido em cima - com a porta do sótão aberta - eu corri para a porta da frente. Eu precisava sair daquela casa.


* * *
"Minha querida," disse Quiron. "Você fez isso."
Annabeth olhou para mim primeiro. Eu não saberia dizer se ela estava tentando me avisar alguma coisa, ou se o olhar nos olhos dela era medo. Então, ela se
concentrou em Quiron "Eu ouvi a profecia. Eu vou liderar a busca para achar a oficina de Dédalo".
Ninguém se ofereceu. Quero dizer, nós todos gostávamos de Annabeth, e nós a queríamos para a busca, mas essa era insana e perigosa. Depois do que eu tinha
visto com Chris Rodriguez, eu nem queria pensar no que Annabeth encontraria dentro daquele estranho labirinto.
Quiron raspou o pé no sujo chão "O que dizia exatamente a profecia? As palavras são importantes."
Annabeth respirou fundo "eu, ah... bem,dizia, você deve mergulhar na escuridão do profundo labirinto."
Nós esperamos.
"O morto, o traidor e o perdido vão aparecer."
Grover se exaltou "o perdido! Tem que ser Pan! Isso é ótimo!"
"Com o morto e o traidor," eu falei. "Não tão ótimo."
"E?" disse Quiron "qual é o resto?"
"Você deve erguer-se ou cair na mão do rei fantasma." disse Annabeth. "A criança de Athena irá perecer".
Todos se olharam desconfortáveis. Annabeth era filha de Athena, e perecer não suava muito bem.
"Hey... não deveríamos tirar conclusões precipitadas." Disse Silena. "Annabeth não é a única criança de Athena, certo?"
"Mas quem é o Rei fantasma?"
Ninguém respondeu. Eu pensei na mensagem de íris. Eu tinha visto Nico invocando espíritos. Eu tinha um mau pressentimento da conexão que a profecia fazia.
"Tem mais frases?" Quiron perguntou. "A profecia não parece completa."
Annabeth hesitou. "Eu não me lembro exatamente."
Quiron a encarou. Annabeth conhecia sua memória. Ela nunca esquecia coisas que ela tinha ouvido.
Annabeth mudou de posição. "Alguma coisa sobre... destruir com o ultimo suspiro de um herói."
"E?" disse Quiron
Ela continuou parada. "Olha, o ponto é que eu tenho que ir. Eu vou achar a oficina de Dédalo e vou impedir Luke. E eu preciso de ajuda" Ela virou-se para
mim. "Você virá?"
Eu nem sequer hesitei. "É claro que eu vou!"
Ela sorriu, uma coisa que ela não fazia há dias.
"E você Grover? O deus da natureza esta esperando."
Grover até esqueceu o quanto ele odeia o subsolo. A frase "o perdido" tinha dado completa energia para ele. "Eu vou pegar pacotes extras de comida."
"E Tyson, vou precisar da sua ajuda também." - disse Annabeth.
"Yay! Destruir coisas! Já era hora!" Tyson gritou tão alto que acordou Mrs. O'leary que estava dormindo no canto.
"Espere Annabeth," disse Quiron. "Você esta quebrando as antigas leis. Um herói só pode ser acompanhado por duas companhias."
"Eu preciso de todos," ela insistiu. "Quiron, isso é importante."
Eu não sabia o porquê dela estar com tanta certeza, mas eu estava feliz que ela tinha incluído Tyson. Eu não podia me imaginar deixando ele para trás. Ele
era grande e forte e um ótimo mecânico. Diferente dos sátiros, os ciclopes não têm nenhum problema com o subsolo.
"Annabeth," Quiron mexeu sua cauda nervosamente. "Considere bem. Você estaria quebrando as regras antigas, e sempre existem conseqüências. No ultimo inverno,
cinco foram numa missão para salvar Ártemis. Só três voltaram. Pense bem nisso. Três é um numero sagrado.Há três destinos, três fúrias, três deuses filhos de Cronos.
É um numero muito forte. Quatro é um risco."
Annabeth respirou fundo. "Eu sei, mas é preciso. Por favor."
Eu posso dizer que Quiron não gostou disso. Quintus estava nos observando, como se estivesse vendo qual de nós voltaria vivo.
Quiron cedeu. "Muito bem. Vamos deixá-los. Os membros da busca devem se preparar. Amanha de manhã iremos mandá-los para o labirinto."


* * *

Quintus me puxou ao lado da arena.
"Eu tenho um mau pressentimento sobre isso." Ele me contou.
Mrs. O'leary veio para perto de nós, erguendo sua cauda feliz. Ela jogou seu escudo aos meus pés e eu joguei para ela pegar. Quintus ficou olhando. Eu me
lembrei do que Juniper disse sobre ele ter ido ao Labirinto. Eu não confiava nele, mas quando ele olhou para mim, eu vi que os seus olhos estavam preocupados mesmo.
"Eu não gosto da idéia de você ir lá embaixo," disse ele. "Nenhum de vocês. Mas se você precisa, eu quero te lembrar de algumas coisas. O labirinto existe
para te confundir. Ele vai distrair você. É perigoso para meio-sangues. Nós somos facilmente distraídos."
"Você já esteve lá?"
"Há muito tempo" Sua voz falhou "eu quase não escapei com a minha vida. A maior parte das pessoas que entram não tem muita sorte."
Ele segurou meu ombro. "Percy mantenha sua mente focada no que você precisa fazer. Se você conseguir fazer isso, você encontrará o caminho. E aqui, queria
te dar isso."
Ele me entregou um pequeno tubo prata. Era tão frio que eu quase larguei.
"Um apito?" Eu perguntei.
"Um apito de cachorro." Disse Quintus "Para Mrs. O'leary."
"Hum, obrigado, mas..."
"Como irá funcionar no labirinto? Eu não tenho cem por cento de certeza. Mas Mrs. O'Leary é um cachorro-demoníaco. E ela consegue aparecer quando você chama,
não importa quão longe seja.Eu me sentiria melhor se você ficasse com isso. Se você precisar de ajudar, use isso, mas seja cuidadoso. O apito é feito de gelo do
Styx."
"Gelo de onde?"
"Do rio Styx. Muito difícil de se quebrar. Muito delicado. Ele não pode derreter, mas ele vai quebrar quando usá-lo, então você só pode usar ele uma vez."
Eu pensei em Luke, meu antigo inimigo. Antes de eu ir na minha primeira busca Luke me deu um presente também - botas mágicas que foram programadas para me
matar. Quintus parecia legal. Meio preocupado. E Mrs. O'leary gostava dele, era uma coisa a se contar. Ela largou o escudo em meu pé e ficou excitada.
Eu senti vergonha, que eu podia pensar em misturar Quintus com Luke. Mas novamente, eu confiei em Luke uma vez.
"Obrigado" Eu disse a Quintus, Eu botei o apito no meu bolso, prometendo a mim mesmo que eu nunca o usaria, então corri para me encontrar com Annabeth.

* * *

Enquanto eu estive no acampamento, eu nunca estive na casa de Atena.
Era uma estrutura prata, nada extravagante. Plano com cortinas brancas e uma pedra em forma de coruja em cima do portão. A coruja tinha olhos de Onyx e parecia
me seguir enquanto eu caminhava.
"Alo?" Eu chamei.
Ninguém respondeu. Eu entrei e respirei fundo. O lugar era uma oficina para crianças superdotadas. Os beliches ficavam do lado da parede como se dormir não
fosse importante. A maior parte da sala estava cheia de conjuntos de ferramentas, tabelas e armas. A parte de trás da sala estava uma biblioteca cheia de antigos
pergaminhos, livros e papeis. Havia tabelas de desenhos de arquitetos, contas, proteções e alguns modelos 3-D de prédios. Enormes velhos mapas de guerra estavam
amassados ao limite. Conjuntos de armaduras estavam pendurados do lado da janela, pratos de bronze refletiam a luz do sol.
Annabeth estava na parte de trás pegando alguns pergaminhos velhos.
"Toc toc ?"Eu disse.
Ela virou para mim "Oh,... oi. Eu não escutei você".
"Você esta bem?"
Ela fechou a cara para os pergaminhos em suas mãos "Só fazendo uma ultima pesquisa. O labirinto de Dédalo é tão grande. Nenhuma da historias se concordam
em alguma coisa. Os mapas indicam de nenhum lugar para nenhum lugar."
Eu pensei no que Quintus tinha dito como o labirinto tenta distrair você. Eu me surpreenderia se Annabeth soubesse disso.
"Nós vamos descobrir," eu prometi.
Seu cabelo estava solto e uma mecha loira estava sobre metade do rosto dela. Seus olhos cinza estavam quase pretos.
"Eu queria liderar uma busca desde que eu tinha sete anos," disse ela.
"Você vai fazer algo incrível!"
Ela olhou para mim agradecida, então ela olhou para todos os livros e pergaminhos que ela tinha tirado da prateleira.
"Eu estou preocupada Percy. Talvez eu não deveria ter te chamado para essa busca. Ou Tyson ou Grover."
"Hey, nós somos seus amigos. Nos não perderíamos isso."
"Mas..." Ela se parou antes de terminar a frase.
"O que é?" eu perguntei "É a profecia?"
"Esta tudo bem." Ela disse em voz baixa
"O que era a ultima linha?"
Então ela fez algo que me surpreendeu. Ela piscou lagrimas e botou os braços em mim em um abraço. Borboletas ficaram se mexendo no meu estomago.
"Hey, está... está tudo bem." Eu continuei com o abraço.
Eu estava prestando atenção em tudo no quarto. Eu senti que podia ler todos os pergaminhos e livros da biblioteca. O cabelo de Annabeth cheirava a sopa de
limão. Ela estava tremendo.
"Quiron deve estar certo," sussurrou ela. "Eu estou quebrando as regras. Mas eu não sei mais o que fazer. Eu preciso de vocês três. Eu só sinto que é preciso."
"Então não se preocupe com isso," Eu falei. "Nós já tivemos muitos problemas antes, e nós o resolvemos,"
"Isso é diferente. Eu não quero que nada aconteça... com você".
Atrás de mim, alguém pigarreou.
Era um dos meios irmãos de Annabeth, Malcom. O rosto dele estava vermelho brilhante.
"Hum, desculpa" Disse ele "o treino de arco e flecha já começou, Annabeth. Quiron disse para vir te procurar."
Eu me afastei de Annabeth. "Nós estávamos procurando mapas" eu disse estupidamente.
Malcom olhou para mim e disse "ok."
"Diga a Quiron que eu já vou estar lá," disse Annabeth, e Malcom saiu apresado.
Annabeth esfregou os olhos "vá à frente, Percy. É melhor eu ir me preparando para o treino de arco e flecha."
Eu assenti, sentindo mais confuso que nunca na minha vida. Eu queria sair correndo da casa de Athena... Mas de novo eu não o fiz.
"Annabeth?" Eu disse "Sobre sua profecia. A frase sobre o ultimo suspiro de um herói."
"Você está preocupado qual herói? Eu não sei."
"Não. É outra coisa. Eu estive pensando a ultima frase normalmente rima com a frase anterior. Era alguma coisa sobre morte?"
Annabeth abaixou os pergaminhos "Seria melhor você ir Percy. Prepare-se para a busca. Eu te vejo amanhã."
Eu a deixei lá, vendo os mapas que ela lideraria de lugar nenhum para lugar nenhum, mas eu não podia deixar de tremer da sensação de que um de nós não voltaria
vivo.




















CINCO - NICO COMPRA MC LANCHE FELIZ PARA OS MORTOS

Pelo menos tenho uma boa noite de sono antes da missão, certo?
Errado.
Naquela noite nos meus sonhos, eu estava na cabine do Princesa Andrômeda. As janelas estavam abertas sobre um mar iluminado pela lua. O vento frio balançava
as cortinas de veludo.
Luke estava sobre um tapete persa na frente do sarcófago dourado da Cronos.
No luar, Luke de cabelos loiros. Ele usava uma antiga túnica grega e uma túnica branca himation, uma espécie de capa que corria os seus ombros. As roupas brancas
o fizeram parecer atemporal e um pouco surreal, como um dos menores deuses no Monte Olimpo. A última vez que eu o vi, ele estava quebrado e inconsciente depois de
uma desagradável queda do Monte Tamalpis. Agora ele parecia perfeitamente bem. Quase muito saudável.
"Nossos espiões relatam sucesso, meu Senhor", disse ele. "Acampamento Meio-Sangue enviou uma missão, como você previu. A nossa parte do acordo está quase
completa."
Excelente. A voz de Cronos era como furar minha mente
com um punhal. Foi congelada com crueldade. Uma vez que temos os meios para
navegar, vou levar a vanguarda através de mim.
Luke fechou os olhos como se fosse recolher seus pensamentos. "Meu senhor, talvez seja muito cedo. Talvez Krios ou Hyperion deveriam levar-"
Não. A voz era calma, mas absolutamente firme. Eu vou levar. Um coração a mais deve juntar-se à nossa causa, e isso será suficiente. Até que enfim eu ressuscitarei
plenamente a partir do Tártaro.
"Mas a forma, meu senhor..." A voz de Luke começou a tremer.
Mostre-me sua espada, Luke Castellan.
Um movimento brusco passou por mim. Eu percebi que eu nunca ouvi o sobrenome do Luke antes. Ele nunca sequer tinha me ocorrido.
Luke chamou a sua espada. MordeCostas brilhava - metade aço, metade bronze celestial. Eu quase fui morto várias vezes por essa espada. Era uma arma mal,
capaz de matar homens e monstros. Foi a única espada que eu temi.
Você prometeu a si mesmo, Cronos lembrou ele. Você tirou essa espada como
prova do seu juramento.
"Sim, meu senhor. È mas..."
Você quis o poder. Eu lhe dei isso. Está agora além das ofensas. Logo você
irá governar o mundo dos deuses e dos mortais. Não deseja se vingar?
Ver o Olimpo destruído?
Um arrepio correu através do corpo de Luke. "Sim".
O caixão brilhava, uma luz dourada enchendo a sala. Então esteja pronto para a força "Strike". Logo que o negócio estiver feito, vamos avançar. Primeiro,
o Acampamento Meio-Sangue será reduzido a cinzas. Uma vez que os heróis incomodantes serão eliminados, iremos em marcha ao Olimpo.
Houve uma batida na porta da cabine. A luz do caixão sumiu. Luke subiu. Ele embainhou sua espada, ajustando suas roupas brancas, e respirou fundo.
"Entre"
As portas abriram. Duas dracaenae, mulheres com serpentes
em vez de pernas. Entre elas caminharam Kelli, a empusa, da minha orientação de calouros.
"Olá, Luke", Kelli sorriu. Ela estava usando um vestido vermelho e estava
incrível, mas eu vi a sua verdadeira forma. Eu sabia que ela estava escondendo:
pernas inadequadas, olhos vermelhos, dentes e cabelo flamejantes.
"O que é isso, demônio?"A voz de Luke era fria. "Eu lhe disse para não me perturbar".
Kelli cerrou os punhos. "Isso não é muito bom. Você parece tenso. Que tal uma bela massagem nos ombros?"
Luke reforçou. "Se você tem algum um relatório a apresentar, que diga. Se não, saia!"
"Eu não sei porque você está tão irritado estes dias. Você costumava ser divertido para irradiar ao redor. "
"Isso foi antes de eu ver o que você fez com aquele garoto em Seattle."
"Oh, ele não significou nada para mim", disse Kelli. "Basta um lanche, na verdade. Você sabe meu coração pertence a ti, Luke. "
"Obrigado, mas não, obrigado. Agora o relatório ou saia."
Kelli encolheu os ombros. Ótimo. A equipe de avanço está pronta, para sua surpresa. Nós podemos partir-". Ela amarrou a cara.
"O que é isso?" Luke perguntou.
"Uma presença", disse Kelli. "Seus sentidos estão a ficar ruins, Luke. Estamos sendo vigiados."
Ela percorreu com os olhos a cabine. Os olhos dela focaram direto em mim. Seu rosto seco como uma feiticeira. Os dentes dela nus.

* * *

Eu acordei com um início, o meu coração batendo. Eu podia jurar que os
dentes da empusa foram a um centímetro da minha garganta.
Tyson estava roncando do beliche próximo. O som acalmou-me um pouco.
Eu não sei como poderia Kelli ter me sentido em um sonho, mas eu ouvi mais
do que eu queria saber. Um exército estava pronto. Cronos iria levá-lo pessoalmente.
Tudo que ele precisava era de uma maneira de navegar pelo labirinto para que pudessem invadir e destruir o Acampamento Meio-Sangue, e aparentemente Luke pensava
que estava para acontecer muito em breve.
Eu estava tentado a ir acordar Annabeth e dizer a ela, no meio da noite ou
não. Depois percebi que o quarto estava mais claro do que deveria estar. Um brilho azul-esverdeado vinha da fonte de água salgada, mais brilhante e urgente do que
na noite anterior. Foi quase como a água sussurrasse.
Eu saí da cama e me aproximei.
A voz falou fora da água neste período de tempo, a pedir um depósito. Eu senti o chafariz esperar por mim para fazer o primeiro deposito.
Eu provavelmente deveria ter ido para a cama. Em vez disso eu pensei sobre o que eu vi-o ontem à noite estranha imagem de Nico nos bancos do rio Styx.
"Você está tentando me dizer algo", disse.
Nenhuma resposta partiu da fonte.
"Tudo bem", disse. "Mostre-me Nico di Angelo."
Eu nem sequer joguei uma moeda, mas desta vez não importava. Foi como se
alguma outra força tivesse controle da água além de Íris, a deusa mensageira.
A água agitou-se. Nico apareceu, mas ele já não estava no mesmo lugar. Ele estava parado em um cemitério sob um céu estrelado. Um gigante salgueiro cobria todas
as árvores em volta dele.
Ele estava olhando alguns cavadores de cova no trabalho. Ouvi e vi pás de terra
voando fora de o buraco. Nico estava vestindo um manto negro. A noite estava com neblina. Era quente e úmido, e rãs coaxavam. Um grande saco Wal-Mart estava ao lado
dos pés de Nico.
"Esta na profundidade suficiente ?" Nico perguntou. Ele soou irritado.
"Quase, meu senhor." Foi o mesmo fantasma que eu vi antes com Nico, a
indistinta imagem de um homem. "Mas, meu senhor, eu te disse, este é
desnecessário. Você já tem meus conselhos. "
"Quero uma segunda opinião!" Nico estalou os dedos, e as escavações
pararam. Dois seres subiram para fora do buraco. Eles não eram pessoas. Eles
eram esqueletos com roupas esfarrapadas.
"Você está demitido", disse Nico. "Obrigado."
Os esqueletos desabou em montes de ossos.
"Você pode bem agradecer as pás," o fantasma queixou. "Elas têm
tanto crédito quanto. "
Nico ignorou ele. Ele abriu sua sacola e puxou um engradado de doze Cocas. Ele abriu uma lata. Em vez de beber, ele despejou no túmulo.
"Deixem os mortos novamente", ele murmurou. "Deixe-os subir e aproveitar esta oferenda. Deixe-os lembrar."
Ele largou o resto da Coca no túmulo e puxou um saco branco de papel decorado com desenhos animados. Eu não tinha visto em um ano, mas eu
reconheci um Mc Lanche Feliz.
Ele virou de cabeça para baixo e que jogou a batata frita e o hambúrguer na
sepultura.
"No meu dia, foi utilizado sangue animal, o" fantasma murmurou. "É perfeitamente suficientemente bom. Eles não podem saborear a diferença."
"Eu vou tratá-los com respeito", disse Nico.
"Pelo menos deixe-me ficar com o brinquedo", disse o fantasma.
"Fique quieto!" Nico ordenou. Ele abriu outros refrigerantes de outra embalagem e jogou mais três Mc Lanches Feliz na sepultura, em seguida, começou a cantar
em Grego Antigo. Eu entendi apenas algumas das palavras sobre os mortos e memórias retornando a partir do túmulo. Realmente coisas felizes.
O túmulo começou a borbulhar. Uma espuma marrom líquido subiu ao topo. A neblina espessa. As rãs parando de coaxar. Dezenas de seres começando a aparecer
entre as lápides: azulada, vagamente formas humana. Nico havia convocado os mortos com coca e cheeseburgers.
"Existem muitos", disse o fantasma nervosamente. "Você não conhece seus próprios poderes."
"Eu tenho tudo sob controle", disse Nico, embora sua voz soava frágil. Ele chamou a sua espada curta de metal preto sólido. Eu nunca vi nada parecido.
Não era bronze celestial ou aço. Ferro, talvez? A multidão de tonalidades retratadas na espada.
"Um de cada vez", Nico ordenado.
Um único ser flutuou em frente e pulou na piscina. Ele bebeu. Suas mãos fantasmagóricas pegaram as batatas fritas fora da piscina.
Quando ele surgiu de novo, eu podia vê-lo muito mais claro, um cara na adolescência com uma armadura grega. Ele tinha cabelo encaracolado e olhos verdes,
uma forma de fecho concha em seu manto.
"Quem é você?" Nico disse. "Fale".
O jovem estava de cara amarrada como se tentasse lembrar. Aí ele falou com uma voz seca, amassando papel: "Eu sou Teseu."
De jeito nenhum, eu pensava. Esse não pode ser o Teseu. Ele era apenas um garoto. Eu cresci ouvindo histórias sobre ele combatendo o Minotauro e outras
coisas, mas eu sempre o imaginei enorme, buff cara. O fantasma que eu estava olhando não era forte ou alto. E ele não era mais velho do que eu era.
"Como posso recuperar a minha irmã?" Nico perguntou.
Os olhos de Teseu estavam inanimados como vidro. "Não tente. É uma loucura."
"Me diga!"
"Meu padrasto morreu," Teseu lembrando. "Ele se atirou no mar, porque ele pensou que eu estava morto no labirinto. Queria trazê-lo volta, mas eu não podia."
Nico silenciou o fantasma. "Meu senhor, a troca de alma! Pergunte a ele sobre isso! "
Teseu endureceu. "Essa voz. Eu conheço essa voz."
"Você não, idiota!" Disse o fantasma. "Responda as perguntas do mestre e nada mais!"
"Eu sei quem é você," Teseu insistiu, como se esforçando para recordar.
"Eu quero ouvir sobre a minha irmã", disse Nico. "Será que esta busca do Labirinto pode me ajudar a consegui-la de volta? "
Teseu estava olhando para o fantasma, mas aparentemente não poderia vê-lo.
Lentamente, ele virou os olhos para Nico. "O labirinto é traiçoeiro. Só há uma coisa que me fez ver através: o amor de uma mulher mortal. Era a princesa, que me
guiou."
"Não precisamos de nada disso", disse o fantasma. "Eu irei te guiar, meu senhor. Pergunte a ele se é verdade sobre uma troca de almas. Ele vai te dizer."
"Uma alma por uma alma", perguntou Nico. "É verdade?"
"E-Eu devo dizer que sim. Mas o espectro-"
"Basta responder às perguntas, maroto!" Disse o fantasma.
De repente, nas bordas da piscina, os outros fantasmas ficaram inquietos. Eles se agitaram, sussurrando em tons nervoso.
"Eu quero ver minha irmã!" Nico exigido. "Onde está ela?"
"Ele está vindo", disse medrosamente Teseu. "Ele sentiu a sua convocação. Ele vem ".
"Quem?" Nico exigiu.
"Ele vem para encontrar a fonte deste poder", disse Teseu. "Você deve nos libertar."
A água na minha fonte começou a tremer, sussurrante com potência. Eu
percebi todo o chalé tremer. O ruído cresceu mais alto. A imagem de
Nico no cemitério começou a brilhar até que foi doloroso para assistir.
"Pare", eu disse em voz alta. "Pare!"
A fonte começou a rachar. Tyson murmurou em seu sono. A fonte jogou uma luz horrível, sombras fantasmagóricas sobre as paredes do chalé, como se os espectros
estivessem fugindo para fora da fonte.
Em desespero eu destampei Contracorrente e cortei a fonte, quebrando
em dois pedaços. Água salgada derramou por toda a parte, a grande pedra caiu para o chão em pedaços. Tyson aspirou e murmurou, mas continuou dormindo.
Eu afundei para o chão, com calafrios pelo que eu havia visto. Tyson encontrou-me lá no período da manhã, ainda olhando para a despedaçada fonte de água
salgada.
* * *
Só depois da madrugada, o grupo de busca se reuniu na Pedra de Zeus. Eu enchi minha mochila com néctar, ambrósia, saco de dormir, cordas, roupas, lanternas,
e baterias extras. Eu tinha Contracorrente no meu bolso. O mágico escudo- relógio que Tyson tinha feito para mim estava no meu pulso.
Foi uma manhã clara. O nevoeiro tinha queimado fora e o céu estava azul. Os Campistas teriam suas aulas hoje, praticando montaria nos Pegasos, arco e escalação
na parede de lava. Enquanto isso, poderíamos ir dominando o subterrâneo.
Juniper e Grover ficaram além do grupo. Juniper estava chorando
novamente, mas ela estava tentando se manter junto por Grover. Ela manteve o exagero em suas roupas, endireitou seu boné e peles em baixo de sua camisa. Uma vez
que não tínhamos idéia do que iríamos encontrar, ele estava vestido como um ser humano, com o boné para ocultar os seus chifres, jeans, falsos pés, e tênis para
esconder suas pernas de cabra.
Quiron, Quintus, e a Sra. O'Leary ficaram com os outros campistas que desejavam vir nos desejar bem, mas houve muita atividade para se sentir como um
enviado feliz. Uma dupla de tendas havia sido criada pelas rochas para o grupo de guarda.
Beckendorf e seus irmãos estavam trabalhando em uma linha defensiva de espigas
e trincheiras. Quiron tinha decidido que precisávamos para guardar a saída no labirinto todo o tempo, só por via das dúvidas.
Annabeth estava fazendo uma última verificação na sua mochila. Quando Tyson e eu chegamos perto, ela amarrou a cara. "Percy, você está horrível."
"Ele matou o chafariz água na noite passada", confidenciou Tyson.
"O quê?", Ela perguntou.
Antes que eu pudesse explicar, a Quiron chegou trotando. "Bem, parece que você está pronto!"
Ele tentou som otimista, mas eu poderia dizer que ele estava ansioso. Eu não queria preocupa-lo com mais nada, mas eu pensei sobre a última noite de sonho,
e antes que eu poderia mudar a minha mente, eu disse, "Ei, Quiron, posso lhe pedir um favor, enquanto eu vou?"
"Claro, meu filho."
"Já volto, rapazes." Eu caminhei em direção ao bosque. Quiron ergueu uma sobrancelha, mas ele me seguiu de perto a partir.
"Na noite passada," Eu disse, "Eu sonhei com Luke e Cronos." Disse-lhe os
detalhes. A notícia parecia que pesava sobre seus ombros.
"Eu temia isso", disse Quiron. "Contra o meu pai, Cronos, ficaríamos sem nenhuma chance em uma luta. " Quiron raramente chamava Cronos de seu pai. Quero
dizer, todos nós sabíamos que era verdade.
Todo mundo no mundo grego - deus, monstro, ou Titã - era relacionada com uma outra, de alguma maneira. Mas não foi exatamente algo que Quiron gostava de
fazer alarde. Oh, meu pai é o todo-poderoso demoníaco Titã que quer destruir
Civilização Ocidental. Eu quero ser como ele quando eu crescer!
"Você sabe o que ele quis dizer parte do acordo?" Perguntei.
"Não tenho certeza, mas tenho medo que pretendam fazer um acordo com Dédalo. Se o velho inventor está realmente vivo, se ele não tenha sido louco por milênios
no labirinto ... bem, Cronos pode encontrar maneiras de torcer alguém para sua vontade. "
"Não é qualquer um", eu prometi.
Quiron gerido um sorriso. "Não. Possivelmente, nem ninguém. Mas, Percy, você deve tomar cuidado. Eu tenho me preocupado há algum tempo que Cronos pode estar
à procura de Dédalo por um motivo diferente, e não apenas passagem pelo labirinto."
"O que mais ele quer?"
"Algo que Annabeth e eu estávamos conversando. Você se lembra o que você
me falou de sua primeira viagem para a Princesa Andrômeda, a primeira vez que você
viu o caixão dourado? "
Eu afirmei. "Luke estava falando sobre aumento Cronos, pedacinhos dele
aparecendo no caixão cada vez que alguém novo aderia sua causa."
"E o que Luke diz que faria quando tivesse subido Cronos
completamente? "
Um calafrio desceu minha coluna. "Ele disse que faria um novo corpo para Cronos , digno da forja de Hephesto. "
"Na verdade", disse Quiron. "Dédalo foi o maior inventor do mundo. Ele
criou o labirinto, mas muito mais. Autômatos, pensando máquinas ... E se Cronos deseja que Dédalo o faça em uma nova forma? "
Isso foi um verdadeiro pensamento agradável.
"Temos que chegar primeiro no Dédalo ", disse, "e para convencê-lo que não."
Quiron parou nas árvores. "Uma outra coisa que eu não compreendo... essa conversa de uma última alma se unindo a sua causa. Isto não me soa nada bem ".
Continuei a minha boca fechada, mas me senti culpado. Eu tinha tomado a decisão para não dizer Quiron sobre Nico ser um filho de Hades. A menção de almas,
apesar de -
O que Cronos sabia sobre Nico? E se ele conseguiu transformá-lo mal? Foi quase o suficiente para me fazer querer dizer a Quiron, mas não fiz isso. Eu não
estava certo se Quiron poderia fazer algo sobre isso. Eu tinha que encontrar Nico eu mesmo. Tinha de explicar as coisas para ele.
"Não sei", eu disse finalmente. "Mas, hum, algo que Juniper disse, talvez
você deve ouvir. "Eu disse a ele como a árvore ninfa tinha visto Quintus cutucando
as rochas ao redor.
Quiron apertou a mandíbula. "Isso não me surpreende."
"Quer dizer - quer dizer que você sabia?"
"Percy, Quintus quando apareceu no acampamento oferecendo seus serviços... bem, eu teria que ser um idiota para não ser suspeito. "
"Então por que deixá-lo entrar?"
"Porque às vezes é melhor ter alguém que você desconfia perto de você,
de modo que você pode manter um olho nele. Ele pode ser exatamente o que ele diz: um meio-sangue em busca de uma casa. Certamente ele tem feito nada abertamente
que
me fez desconfiar de sua lealdade. Mas acredite em mim. Irei manter um olho-"
Annabeth foi até nós , provavelmente curiosa por que estávamos demorando tanto.
"Percy, está pronto?"
Eu afirmei. Minha mão escorregou para o meu bolso, onde eu guardei o apito de gel que Quintus tinha me dado. Eu olhei e vi Quintus me observando atentamente.
Ele levantou a mão em despedida. Nossos espiões relatam sucesso, Luke tinha dito. No mesmo dia, decidiu enviar uma missão, Luke tinha conhecimento sobre o assunto.
"Tome cuidado," disse-nos Quiron. "E boa caça."
"Você também", disse.
Caminhamos sobre a rocha, onde Tyson e Grover estavam esperando. Eu parei na rachadura entre os rochedos, a entrada que estava prestes a engolir-nos.
"Bem", disse Grover nervosamente, "adeus sol."
"Olá rochas", Tyson acordado.
E juntos, os quatro de nós desceu em trevas.

































SEIS - NÓS ENCONTRAMOS O DEUS DE DUAS CARAS.

Conseguimos andar um cem pés antes de estarmos irremediavelmente perdidos.
O túnel parecia nada similar ao qual Annabeth e eu tínhamos tropeçado antes. Agora era redondo como um esgoto, construída de tijolo vermelho com barras
de ferros
de dez pés. Eu via uma luz brilhar através de um dos vigias por curiosidade, mas eu não podia ver nada. Ela abriu em infinita escuridão. Eu pensei ter ouvido vozes
do outro lado, mas pode ter sido apenas o vento frio.
Annabeth tentou o seu melhor para guiar-nos. Ela teve essa idéia de que deveríamos nos ater a parede esquerda.
"Se continuarmos a uma mão na parede à esquerda e segui-la", disse ela, "devemos ser capaz de encontrar o nosso caminho de volta de novo pela inversão do
curso."
Infelizmente, logo que ela disse isso, a parede à esquerda desapareceu. Nós
encontramo-nos no meio de uma câmara circular com oito túneis que levam para fora, e não tínhamos idéia de como chegamos lá.
"Hum, como entramos?" Grover disse nervosamente.
"Só se virar", Annabeth disse.
Cada um de nós tinha-se voltado para túneis diferentes. Foi ridículo. Nenhum de nós poderia decidir que caminho levava de volta ao acampamento.
"Paredes à esquerda são más", disse Tyson. "Qual o caminho agora?"
Annabeth varreu a entrada dos oito túneis com a lanterna. No que eu poderia dizer, eles eram idênticos. "Aquele caminho", disse ela.
"Como você sabe?", Perguntei.
"Raciocínio dedutivo."
"Então ... você está especulando."
"Vamos lá", disse ela.
O túnel que ela tinha escolhido diminuiu rapidamente. As paredes transformaram-se em cinza cimento, e o limite é tão baixo que logo, logo tivemos que arquear
as costas. Tyson foi forçado a engatinhar.
A hiperventilação de Grover foi o mais alto ruído no labirinto. "Eu não posso mais agüentar isso.", ele sussurrou. "Já chegamos?"
"Estivemos aqui talvez cinco minutos", Annabeth disse a ele.
"Tem sido mais do que isso", insistiu Grover. "E por que Pan estaria aqui em baixo? Este é o oposto do mundo selvagem!"
Mantivemos em frente. Só quando eu tinha certeza de que o túnel seria tão estreito que iria nos espremer, abriu-se numa enorme sala. Eu vi minha luz brilhar
em torno das paredes e disse, "Wow".
O quarto era todo coberto de telhas de mosaico. As fotografias estavam encardidas e desbotadas, mas eu ainda podia ver as cores ? vermelho, azul, verde,
ouro. O mural revelou os deuses olimpianos em um banquete. Lá estava o meu pai, Poseidon, com o seu tridente, a detenção fora de Dionísio de transformar uvas em
vinho. Zeus foi festejando com sátiros, Hermes estava voando através do ar com suas sandálias aladas. As imagens eram lindas, mas não eram muito precisas. Eu tinha
visto os deuses. Dionísio não tão era bonito, e o nariz de Hermes não era tão grande.
No meio da sala tinha uma fonte com três níveis. Parecia que não tinha água na fonte há longo tempo.
"Que lugar é este?" Eu murmurei. "Parece-"
"Romano", Annabeth disse. "Esses mosaicos são de dois mil anos atrás".
"Mas como eles podem ser romanos?" Eu não era bom na história antiga, mas
eu tinha a certeza de que o Império Romano nunca chegou tão longe como Long Island.
"O labirinto é um mosaico", Annabeth disse. "Eu te disse, é sempre expansão, adicionando peças. É o único trabalho de arquitetura que cresce por si mesmo."
"Você faz isso soar como se ele fosse vivo."
Um gemido ecoou do túnel em frente de nós.
"Não vamos falar sobre isso estar vivo", Grover choramingou. "Por favor?"
"Tudo bem", disse Annabeth. "Avançar".
"Descer para o hall com os maus sons?" Tyson disse. Ele me olhou nervoso.
"Sim", Annabeth disse. "A arquitetura está ficando mais velha. A oficina de Dédalo será na parte mais antiga."
Isso faz sentido. Mas logo o labirinto começou a brincar com a gente, andamos cinqüenta pés e o túnel voltou para cimento, com canos de bronze correndo
nos lados. As paredes foram pintadas com sprays de grafite. Um pichador assinou
MOZ MANDA.
"Eu acho que isso não é romano", eu disse útil.
Annabeth deu um profundo suspiro e, em seguida, seguiu em frente. Todos os outros túneis sumiram. O piso abaixo nós mudou de cimento para tijolos de barro
novamente. Não houve qualquer sentido de nada. Nós tropeçamos em uma adega ? cheia de garrafas empoeiradas em prateleiras de madeira ?, como se nós estivéssemos
no porão de alguém, só que não havia saída acima de nós, só mais túneis.
Depois o teto transformou-se em tábuas de madeira, e eu podia ouvir vozes acima de nós e o barulho de pegadas, como se estivéssemos caminhando sob algum
tipo de bar. Foi reconfortante ouvir as pessoas, mas mais uma vez, não foi possível chegar a elas. Estávamos presos aqui, sem saída. Então nós encontramos nosso
primeiro esqueleto.
Ele estava vestido com roupas brancas, como uma espécie de uniforme. Um engradado de madeira com garrafas de vidro próximo a ele.
"Um leiteiro", Annabeth disse.
"O quê?" Perguntei.
"Eles costumavam entregar leite."
"Sim, eu sei o que são, mas... quando a minha mãe era pequena, tipo há um milhão de anos atrás. O que é que ele está fazendo aqui?"
"Algumas pessoas vaguearam por engano", Annabeth disse. "Alguns vêm explorar de propósito e nunca saem. Há muito tempo atrás, os cretenses enviavam as pessoas
aqui dentro como sacrifícios humanos."
Grover engoliu. "Ele está aqui há muito tempo." Ele apontou para o esqueleto de garrafas, que foram revestidas com pó branco. Os dedos do esqueleto haviam
arranhado a parede de tijolos, como ele havia morrido tentando escapar.
"Só os ossos", disse Tyson. "Não se preocupe, garoto-bode. O leiteiro esta morto."
"O leiteiro não me incomoda", disse Grover. "É o cheiro. Monstros. Você não consegue cheirar?"
Tyson acenou com a cabeça. "Um monte de monstros. Mas o subterrâneo cheira isso. Monstros e mortos".
"Ah, bom," Grover choramingou. "Eu pensei que talvez eu estava errado."
"Temos que chegar mais fundo no labirinto", Annabeth disse. "Tem de haver um caminho para o centro."
Ela levou-nos à direita, depois à esquerda, através de um corredor de aço inoxidável como uma espécie de eixo no ar, e chegamos de volta no quarto com telha
romana, a fonte.
Desta vez, não foi sozinho.
* * *
O que eu vi primeiro foram seus rostos. Ambos. Eles estavam juntos a partir de ambos lados da cabeça, olhando sobre seus ombros, para a cabeça dele era muito
mais ampla do que o que deveria ter sido, como uma espécie de tubarão-martelo, tudo que eu vi eram duas orelhas sobreposição e espelho-imagem costeletas.
Ele estava vestido como um porteiro: um longo sobretudo preto, sapatos brilhantes, e um chapéu preto alto que conseguiu de alguma forma pôr sobre sua dupla
cabeça.
"Bem, Annabeth?" Disse o rosto da esquerda. "Depressa!"
"Não ligue para ele", disse o rosto da direita. "Ele é terrivelmente rude. Direita, nessa direção, senhorita."
O queixo de Annabeth caiu. "Uh... eu não..."
Tyson franziu as sobrancelhas. "Esse homem de duas caras é engraçado."
"O homem engraçado tem ouvidos, você sabe!" O cara da esquerda resmungou. "Agora venha, senhorita."
"Não, não," o cara da direita disse. "Nesta direção, senhorita. Fale comigo, por favor."
Os dois homens encararam Annabeth da melhor forma, considerando que foi o melhor que conseguiu fazer, já que a encarava pelo canto dos olhos. Era impossível
olhar para ele diretamente sem enfocar um lado ou outro. E de repente eu percebi o que ele estava pedindo, queria que Annabeth escolhesse.
Atrás dele estavam duas saídas, bloqueadas por portas de madeira com enormes fechaduras de ferro. Eles não tinham estado na nossa primeira vez na sala.
As duas caras tinham uma chave prata, que ele continuou passando de sua mão esquerda para a sua mão direita. Gostaria de saber se este era um lugar completamente
diferente, mas o mural dos deuses parecia exatamente o mesmo.
Atrás de nós, a porta para entrar desapareceu, sendo substituída por mais mosaicos. Não poderíamos voltar pelo caminho que viemos.
"As saídas estão fechadas", Annabeth disse.
"Duh!" A cara da esquerda disse.
"Onde é que elas levam?" Ela perguntou.
"Uma provavelmente leva ao lugar que você deseja ir," disse a cara da direita animadoramente. "O outro leva a uma morte certa".
"E-Eu sei quem você é", Annabeth disse.
"Ah, você é esperta!" A cara da esquerda zombou. "Mas você sabe que caminho escolher? Eu não tenho o dia todo."
"Por que vocês estão tentando me confundir?" Annabeth perguntou.
A cara da direita sorriu. "Você está no comando agora, minha querida. Todas as decisões estão em seus ombros. Isso é o que você queria, não é?"
"E-Eu?"
"Nós conhecemos você, Annabeth," a cara da esquerda disse. "Sabemos o que você pensa todos os dias. Sabemos de sua indecisão. Você terá que fazer sua escolha,
mais cedo ou mais tarde. E a escolha pode matar você."
Eu não sabia do que estavam falando, mas soou como se fosse mais do que uma escolha entre as portas. A cor de Annabeth fugiu do rosto. "Não... Eu nã?"
"Deixe-a em paz", disse. "Quem é você, afinal?"
"Eu sou o seu melhor amigo," a cara da direita disse.
"Eu sou o seu pior inimigo", a cara da esquerda disse.
"Eu sou Janus", afirmaram ambas as faces em harmonia. "Deus das portas. Começos. Finais. Escolhas."
"Eu vou ver você em breve, Perseu Jackson", disse a cara da direita. "Mas agora é a vez de Annabeth." Ele riu vertiginosamente. "É divertido!"
"Cale a boca!" O rosto da esquerda disse. "Isso é grave. Uma má escolha pode arruinar toda a sua vida. Ela pode matar você e todos os seus amigos. Mas não
há pressão, Annabeth. Escolha!"
Com um repentino calafrio, me lembrava as palavras da profecia: a criança de
Athena irá perecer.
"Não faça isso", disse.
"Eu receio que ela tenha de fazer," o rosto da direita disse alegremente.
Annabeth com lábios humidificados. "Eu?eu escolho?"
Antes que ela pudesse apontar para uma porta, uma brilhante luz inundou a sala.
Janus levantou as mãos para cada lado da cabeça para cobrir os olhos. Quando a luz sumiu, uma mulher estava em pé na fonte.
Ela era alta e elegante, com longos cabelos da cor de chocolate, trançados com fitas de ouro. Ela usava um vestido branco simples, mas quando ela se mexeu,
o tecido tremulou com cores como o óleo sobre a água.
"Janus", disse ela, "esta causando problemas de novo?"
"N-Não, senhora!" Janus da direita gaguejou.
"Sim!" O rosto da esquerda disse.
"Cale a boca!" O rosto da direito disse.
"Desculpe-me?" A mulher pediu.
"Não é você, milady! Eu estava falando para mim mesmo."
"Entendo", disse a moça. "Você sabe muito bem que sua visita é prematura. O tempo da garota ainda não chegou. Então eu te darei uma escolha: deixar estes
heróis para mim, ou irei transformá-lo em uma porta e quebrar-te."
"Que tipo de porta?" A cara da esquerda perguntou.
"Cale a boca!" O rosto da direita disse.
"Porque portas francesas são boas," a cara da esquerda meditou. "Cheias de luz natural."
"Cale a boca!" A cara da direita lamuriou. "Não é você, milady! Claro que eu vou sair. Eu estava me divertindo um pouco. Fazendo o meu trabalho. Oferecendo
opções."
"Causando indecisão", a mulher corrigiu. "Agora vá!"
O rosto da esquerda murmurou, "Partindo", então ele levantou a sua chave prateada, inseriu no ar, e desapareceu.
A mulher voltou-se para nós, e o medo fechado em torno de meu coração. Seus olhos brilhavam com o poder. Deixe estes heróis para mim. Isso não parece bom.
Por um segundo, eu quase desejei que tivéssemos tomado nossas escolhas com Janus. Mas então a mulher sorriu.
"Vocês devem ter fome", disse ela. "Sentem-se comigo e conversem."
Ela acenou sua mão, e a antiga fonte romana começou a funcionar. Jatos de água clara pulverizaram o ar. Uma mesa em mármore apareceu, carregada de bandejas
com sanduíches e jarros de limonada.
"Quem ... quem é você?", Perguntei.
"Sou Hera". A mulher sorriu. "Rainha dos Céus".
* * *
Eu havia visto Hera antes somente uma vez, em um Conselho dos Deuses, mas eu não tinha prestado muita atenção nela. Na época eu tinha sido cercado por um
bando de outros deuses que discutiam se iam ou não me matar.
Eu não me lembro dela parecer tão normal. Evidentemente, os deuses estão normalmente com vinte metros de altura, quando estão no Olimpo, o que faz com que
pareçam muito menos normais. Mas agora, Hera parecia uma mãe regular.
Ela nos serviu sanduíches e derramou limonada.
"Grover, querido", disse ela, "Use o seu guardanapo. Não o coma."
"Sim, minha senhora", disse Grover.
"Tyson, você está desperdiçando. Quer outro sanduíche de amendoim?"
Tyson abafou um arroto. "Sim, senhora simpática."
"Rainha Hera", Annabeth disse. "Eu não posso acreditar. O que você esta fazendo no Labirinto?"
Hera sorriu. Ela estalou os dedos e o cabelo de Annabeth penteou-se. Toda a sujeira e encardido desapareceu de seu rosto.
"Eu vim para te ver, naturalmente," disse a deusa.
Grover e eu trocamos olhares nervosos. Normalmente, quando os deuses vêm falar com você, não é da bondade dos seus corações. É porque querem alguma coisa.
Ainda assim, isso não me manteve longe dos sanduíches de peru e queijo suíço e batatas fritas e limonada. Eu não tinha percebido como eu estava faminto. Tyson engoliu
um sanduíche de manteiga de amendoim um após o outro, e Grover estava amando a limonada, triturando a taça como se fosse isopor.
"Eu não acho?" Annabeth vacilou. "Bem, eu não achava que você gostava de heróis."
Hera indulgentemente sorriu. "Devido a essa pequena briga que tive com o Hércules? Sinceramente, tenho tanta má imprensa devido a um mal-entendido".
"Você não tentou matá-lo um monte de vezes?" Annabeth perguntou.
Hera acenou com a mão. "A água sobre a ponte, minha querida. Além disso, ele foi um dos filhos do amor de meu marido por outra mulher. Minha paciência estava
acabando, eu admito. Mas Zeus e eu tivemos um excelente casamento desde então. Expusemos nossos sentimentos e viemos a nos entender ? principalmente depois daquele
último incidente".
"Você quer dizer Thalia?" Eu supus, mas eu desejei imediatamente não ter dito. Assim que eu disse o nome da nossa amiga, a meio-sangue filha de Zeus, Hera
voltou olhos para mim friamente.
"Percy Jackson, não é? Uma das... crianças de Poseidon." Tenho a sensação de que ela estava pensando em outra palavra além de crianças. "Pelo que me lembro,
eu votei em deixar você viver no solstício de inverno. Espero ter votado corretamente."
Ela virou-se para Annabeth com um sorriso ensolarado. "De qualquer forma, eu certamente não devo suportar sua má vontade, minha menina. Aprecio a dificuldade
da sua missão. Especialmente quando você tem desordeiros como Janus para suportar."
Annabeth baixou seu olhar. "Porque foi ele veio aqui? Ele estava me deixando louca."
"Tentando", Hera concordou. "Você tem que entender, os deuses menores como Janus sempre foram frustrados pelas pequenas funções que desempenham no universo.
Alguns, receio, têm pouco amor pelo Olimpo, e poderiam ser facilmente juntar-se à ascensão de meu pai."
"Seu pai?" Eu disse. "Oh, certo."
Eu tinha esquecido que era Cronos o pai de Hera, também, era pai de Zeus, Poseidon, e os outros deuses olimpianos mais velhos. Acho que isso faz de Cronos
meu avô, mas o pensamento era tão estranho que eu o coloquei para fora da minha mente.
"Temos de vigiar os deuses menores", disse Hera. "Janus. Hécate. Morfeu. Eles dão ao serviço ao Olimpo, e, ainda ?"
"Isso é o que Dionísio foi fazer" me lembrei. "Ele foi verificar pequenos deuses".
"De fato". Hera apontou para os mosaicos do Olímpo. "Você vê, em tempos de dificuldade, até mesmo os deuses podem perder a fé. Eles começam a colocar sua
confiança nas coisas erradas. Eles param de olhar para o panorama e começam a serem egoístas. Mas eu sou a deusa do casamento, você vê. Estou acostumada com a perseverança.
Você ter de superar as disputas e caos, e manter a fé. Você tem que manter sempre os seus objetivos em mente."
"Quais são as suas metas?" Annabeth perguntou.
Ela sorriu. "Manter minha família, o Olimpo, em conjunto, é claro. No momento, a melhor forma que posso de fazer é ajudando você. Zeus não me permite que
eu interfira muito, receio. Mas uma vez a cada século ou assim, para uma missão que eu me importo profundamente, ele me permite conceder um desejo."
"Um desejo?"
"Antes de pedir, deixe-me dar alguns conselhos, que eu posso fazer de graça. Eu sei que você procura Dédalo. Seu labirinto é como um grande mistério para
mim como é para você. Mas se você quiser saber o seu destino, visite meu filho Hefesto em sua oficina. Dédalo foi um grande inventor, um mortal que Hefesto gostava.
Nunca houve um mortal que Hefesto admirasse tanto. Se alguém ia manter contato com Dédalo e poderia dizer-lhe o seu destino, é Hefesto".
"Mas como vamos chegar lá?" Annabeth perguntou. "Esse é o meu desejo. Eu quero uma maneira de navegar pelo Labirinto."
Hera parecia desapontada. "Que assim seja. Você deseja algo que, no entanto, já foi-lhe dado."
"Eu não entendo."
"Os meios já estão dentro de seu alcance." Ela olhou pra mim. "Percy sabe a resposta."
"Eu sei?"
"Mas isso não é justo", Annabeth disse. "Você não está me dizendo o que é!"
Hera balançou a cabeça dela. "Ter alguma coisa e ter a sabedoria de usá-la... essas são duas coisas diferentes. Tenho certeza que sua mãe Athena concordaria
com isso."
A sala tremeu com um trovão. Hera disse. "Essa é a minha deixa. Zeus está ficando impaciente. Pense sobre o que eu disse, Annabeth. Procure Hefesto. Você
terá que atravessar a fazenda, eu imagino. Mas continue em frente. E use todos os meios à sua disposição, por mais comuns que eles possam parecer".
Ela apontou para as duas portas e se derreteram longe, revelando dois corredores, abertos e escuros. "Uma última coisa, Annabeth. Embora tenho adiado seu
dia de eleição, não o evitei. Em breve, como disse Janus, você terá que tomar uma decisão. Adeus!"
Ela acenou uma mão e transformou-se em fumaça. Assim como a comida, com
Tyson pronto para morder um sanduíche que virou a neblina em sua boca. A fonte parou. O mosaico das paredes esmaeceu e virou velho e desbotado novamente. A sala
já não era qualquer lugar que você quer ter um piquenique.
Annabeth bateu o pé. "Que tipo de ajuda foi isso? 'Aqui, tome um sanduíche. Faça um desejo. Opa, eu não posso ajudar-te!' Poof!"
"Poof", Tyson concordou tristemente, olhando para o seu prato vazio.
"Bem", Grover suspirou, "ela disse que Percy sabe a resposta. É alguma coisa."
Todos eles me olhavam.
"Mas eu não sei", eu disse. "Eu não sei do que ela estava falando."
Annabeth suspirou. "Tudo bem. Então, só teremos que continuar."
"Qual o caminho?" Perguntei. Eu realmente queria perguntar o que Hera quis dizer ? sobre a escolha que Annabeth teria de fazer. Mas, em seguida, Grover
e Tyson ficaram tensos. Eles se levantaram juntos como se tivessem ensaiado isso.
"Esquerda", ambos disseram.
Annabeth franziu as sobrancelhas. "Como você pode ter certeza?
"Porque algo vem da direita", disse Grover.
"Alguma coisa grande", Tyson acordado. "Depressa."
"Esquerda soa muito bem", eu decidi. Juntos, mergulhamos no escuro corredor.

















SETE - TYSON LIDERA UMA FUGA DE PRESOS

A boa notícia: o túnel da esquerda era reto, sem saídas laterais, desvios ou curvas. A má notícia, foi um beco sem saída. Após uma corrida de cem metros,
chegamos em uma enorme rocha que bloqueou completamente o nosso caminho. Atrás de nós, sons de passos pesados e respiração ecoavam no corredor. Algo definitivamente
não-humano estava se aproximando por trás.
"Tyson", disse, "você pode-"
"Sim!" Ele bateu seu ombro contra a rocha que bloqueava o caminho, enquanto o túnel tremia. Poeira escorreu do topo de pedra.
"Depressa!" Grover disse. "Não coloque o teto abaixo, mas tire a rocha!"
A rocha finalmente cedeu com um barulho horrível de moagem. Tyson a
empurrou em uma pequena sala e nós entramos por trás dela.
"Feche a passagem!" Annabeth disse.
Nós todos do outro lado da rocha empurramos. Seja quem for que estava nos perseguindo lamentou-se de frustração, pois havíamos colocado a rocha de volta
na passagem selando o corredor.
"Estamos encurralados," eu disse.
"Ou nós estamos em uma armadilha", disse Grover.
Eu girei. Estávamos em uma sala de cimento com vinte pés quadrados e a parede foi coberta com barras metálicas. Um túnel reto em uma cela.
* * *
"O que no Hades?" Annabeth puxou as barras. Elas não se moveram.
Através das barras podíamos ver as linhas de celas em um anel em torno de um escuro pátio-, pelo menos, três portas de metal e passarelas de metal.
"A prisão," eu disse. "Talvez Tyson possa quebrar, "
"Shh!", disse Grover. "Ouça".
Em algum lugar acima de nós, profundos soluços ecoaram através do edifício. Era um outro som, também - uma voz balbuciando algo que eu não podia entender.
As palavras eram estranhas, como pedras em um copo de vidro.
"Que língua é essa ?" Eu sussurrei.
Tyson arregalou o olho. "Não pode ser."
"O quê?" Perguntei.
Ele agarrou duas barras na nossa porta e celas abriu elas o suficiente para um Ciclope atravessar.
"Espere!" Grover chamou.
Mas Tyson não sabia o que era esperar. Corremos atrás dele. A prisão era escura, apenas algumas luzes fluorescentes ofuscavam acima.
"Eu conheço este lugar", Annabeth me disse. "Este lugar é Alcatraz".
"Você quer dizer que a ilha perto de San Francisco?"
Ela acenou. "Minha escola foi a uma viagem de campo aqui. É como um museu."
Não parecia possível que pudéssemos ter saído para fora do labirinto no outro lado do país, mas Annabeth tinha vivido em São Francisco todo o ano, mantendo
um olho em Monte Tamalpais através da baía. Ela provavelmente sabia do que ela estava falando.
"Pare", advertiu Grover.
Mas Tyson continuou. Grover agarrou o braço dele e puxou de volta, com
toda a sua força. "Para, Tyson!" Ele sussurrou. "Não é possível vê-la?"
Olhei para onde ele estava apontando, e meu estômago fez um salto mortal. Na varanda do segundo andar, atrás do pátio, estava um monstro mais horrível do
que qualquer coisa que eu já tinha visto antes.
Foi como uma espécie de centauro, uma mulher com o corpo da cintura para cima. Mas em vez de um cavalo, tinha o corpo de um dragão de pelo menos vinte metros
de comprimento, preto e escamoso com enormes garras e uma cauda farpada. Suas pernas pareciam que estavam emaranhadas na vinha, mas depois percebi que eram brotações
de cobras, centenas de víboras esforçado em volta, procurando constantemente algo para morder. O cabelo da mulher também era feito de serpentes, como a Medusa. Mais
estranho de tudo, em torno de sua cintura, onde a mulher era parte mulher e parte dragão, sua pele borbulhou e se transformou, ocasionalmente, produzindo cabeças
de animais - um lobo maligno, um urso, um leão, como se ela estivesse usando um cinto de mutação de criaturas. Tenho a sensação que estava olhando para algo meio
formado, um monstro tão velho que existia desde o início dos tempos, formas que tinham sido totalmente definidas antes.
"É ela," Tyson choramingou.
"Desçam!" Grover disse.
Nós abaixamos nas sombras, mas o monstro não demonstrou qualquer atenção em nós. Ela parecia estar conversando com alguém dentro de uma cela no segundo
piso. Era o lugar de onde o soluço estava vindo. A mulher-dragão disse algo estranho em seu idioma.
"O que ela disse?" Eu murmurei. "O que é essa língua?"
"A língua dos velhos tempos". arrepiou-se Tyson. "Que Mãe Terra falou com os
Titãs e... suas outras crianças. Antes dos deuses ".
"Você entende isso?", Perguntei. "Você pode traduzir?"
Tyson fechou os olhos e começou a falar em uma horrível, imitação da voz da mulher.
"Você vai trabalhar para o mestre ou sofrer."
Annabeth estremeceu. "Odeio quando ele faz isso."
Como todos os Ciclopes, Tyson tem super audição e uma capacidade inigualável
para imitar vozes. Era quase como se ele entrasse em transe quando falava em outras vozes.
"Não vou servir", disse Tyson, em uma profunda, voz ferida.
Ele mudou para a voz do monstro "Então eu aumentarei sua dor, Briares. "Tyson vacilou quando disse que o nome. Eu nunca ouvi ele quebrar um personagem quando
ele estava imitando alguém, mas ele deixou para fora um gole estrangulado. Então ele continuou na voz do monstro. "Se você achou a sua primeira prisão insuportável,
você ainda não sentiu o verdadeiro tormento. Pense sobre isto até eu voltar."
A mulher-dragão foi em direção à escadaria, víboras sibilavam ao redor de suas pernas como ervas. Ela abriu asas que eu não tinha notado antes - asas enormes
que ela havia mantido dobradas em suas costas de dragão. Ela saltou fora da passarela e subiu sobre o pátio. Nós agachamos mais nas sombras. Um vento quente sulfuroso
explodiu em meu rosto quando o monstro voou mais. Então ela desapareceu ao virar da esquina.
"H-h-horrível", disse Grover. "Eu nunca tinha sentido um monstro que cheirava
tão forte. "
"Pior pesadelo dos Ciclopes", Tyson murmurou. "Kampê".
"Quem?" Perguntei.
Tyson engoliu. "Todos os Ciclopes sabem sobre ela. Histórias sobre ela
nos assustam quando somos bebê. Ela era o nosso carcereiro nos anos ruins. "
Annabeth acenou. "Eu me lembro agora. Quando os Titãs se deliberaram, Gaia e Uranos geraram os Ciclopes e os Hecatônquiros".
"O Heca-o quê?" Perguntei.
"Gigantes de Cem Mãos", disse ela. "Chamavam-lhes assim porque ... bem, eles tinham uma centena de mãos. Eles eram os irmãos mais velhos dos Ciclopes. "
"Muito poderoso", disse Tyson. "Maravilhoso! Tão alto como o céu. Tão fortes que eles poderiam quebrar montanhas! "
"Legal,", eu disse. "A menos que você seja uma montanha."
"Kampê foi a carcereira", disse ele. "Ela trabalhou para Cronos. Ela manteve os nossos irmãos encarcerados no Tártaro, os torturavam sempre, até que Zeus
veio. Ele
matou Kampê e libertou os Ciclopes e os Hecatônquiros para ajudar a combater os Titãs na grande guerra."
"E agora Kampe está de volta," eu disse.
"Mal", Tyson resumiu.
"Então quem é que na cela?" Perguntei. "Você disse um nome:"
"Briares!" Tyson animou-se. "Ele é um Hecatônquiro. Eles são tão
alto como o céu e-"
"Sim", eu disse. "Eles quebram montanhas."
Olhei para cima pelas celas acima de nós, perguntando como algo tão altos como o céu poderia caber em uma pequena cela, e porque ele estava chorando.
"Eu acho que devemos dar uma olhada", Annabeth disse, "Antes de Kampê voltar. "
* * *
À medida que se aproximávamos da cela, o choro ficou mais alto. Quando a vi pela primeira vez a criatura dentro, eu não estava certo do que eu estava olhando.
Ele era homem de tamanho e sua pele estava muito pálida, cor de leite. Ele usava um pano como uma grande fralda. Seus pés pareciam muito grandes para seu corpo,
com as unhas do pé sujas, oito dedos em cada pé. Mas a metade superior do corpo dele foi a parte estranha. Ele fez Janus parecer completamente normal. No seu tórax
brotavam mais braços do que eu podia contar, em filas, todos em torno de seu corpo. Os braços pareciam braços normais , mas havia muitos deles, todas emaranhadas
juntos, seu peito parecia um tipo de espaguete que alguem estava enrolando. Várias de suas mãos estavam cobrindo o rosto dele quando ele chorou.
" Ou o céu não é tão alto como ele costumava ser", eu murmurei, "ou ele é curto."
Tyson não prestou nenhuma atenção. Ele caiu de joelhos.
"Briares!" Ele chamou.
O soluçou parou.
"Gigante de uma centena de mãos!" Disse Tyson. "Ajude-nos!".
Briares olhou para cima. O rosto era muito grande e triste, com um nariz torto e dentes podres . Ele tinha olhos castanhos profundos - Eu digo completamente
marrom sem pupila branca ou negra, como se formaram olhos de barro.
"Corra enquanto pode, Ciclope", disse Briares miseravelmente. "Eu não posso nem mesmo me ajudar. "
"Você é um Hecatônquiro!" Tyson insistiu. "Você pode fazer qualquer coisa! "
Briares limpou o nariz com cinco ou seis mãos. Vários outros estavam mexendo
com pequenos pedaços de metal e madeira de uma cama quebrada, do jeito que Tyson sempre brincava com peças sobressalentes. Foi incrível para assistir. As mãos pareciam
para ter uma mente própria. Elas construíram um brinquedo no barco de madeira e, em seguida, desmontaram bem rápido. Outras mãos estavam coçando no chão de cimento
sem razão aparente. Outros estavam jogando pedra, papel, tesoura. Algumas outras estavam fazendo e marionetes de cãezinhos contra a parede.
"Eu não posso", Briares lamentou-se. "Kampe está de volta! Os Titãs vão subir e nos atirar para o Tártaro. "
"Seja corajoso!" Disse Tyson.
Imediatamente o rosto de Briares transformou-se em outra coisa. Mesmo olhos marrons, mas de outra forma totalmente diferente. Ele tinha um nariz torto,
sobrancelhas arqueadas, e um sorriso estranho, como se ele estivesse tentando ser corajoso. Mas então o rosto virou o que tinha sido antes.
"Nada bom ", disse ele. "Minha face conserva o medo."
"Como você fez isso?", Perguntei.
Annabeth me cutucou. "Não seja rude. Os Hecatônquiros todos tem cinqüenta diferentes faces."
"Tem de fazer um anuário de fotos", eu disse.
Tyson ainda estava fascinado. "Vai ser bom, Briares! Vamos ajudar! Posso ter o seu autógrafo? "
Briares fungava. "Você tem cem canetas?"
"Caras", Grover interrompeu. "Temos que sair daqui. Kampê estará de volta. Ela vai nos sentir mais cedo ou mais tarde ".
"Quebre as barras", Annabeth disse.
"Sim!" Tyson disse, sorrindo com orgulho. "Briares pode fazê-lo. Ele é muito forte. Mais forte do que Ciclopes, mesmo! Cuidado! "
Briares acenou. Uma dúzia de mãos começou a jogar adoleta, mas nenhuma delas fez qualquer tentativa de romper as barras.
"Se ele é tão forte", eu disse, "porque ele está preso na cadeia?"
Annabeth olhou nervosa para mim novamente. "Ele está apavorado", ela sussurrou. "Kampê tinha aprisionado ele no Tártaro durante milhares de anos. Como você
se sentiria?"
O Hecatônquiro cobriu seu rosto de novo.
"Briares?" Tyson pediu. "O que ... o que está errado? Mostre-nos a sua grande
força! "
"Tyson", Annabeth disse, "Eu acho melhor você quebrar as barras."
O sorriso de Tyson derreteu lentamente.
"Eu vou quebrar as barras", ele repetiu. Agarrou a porta da cela e ela arrancou para fora de suas dobradiças de que foram feitas de argila molhada.
"Vamos, Briares", Annabeth disse. "Vamos tirar você daqui."
Ela estendeu sua mão. Por um segundo, rosto do Briares transformou-se numa expressão de esperança. Vários dos seus braços foram para fora, mas o dobro o
esbofetou para longe.
"Eu não posso", disse ele. "Ela vai me punir."
"Está tudo bem", Annabeth prometido. "Você lutou contra os Titãs antes, e
você venceu, lembra? "
"Lembro-me da guerra". Briares novamente transformou sua cara e sobrancelha
um beicinho boca. Sua principal cara, eu acho. "O raio abalou o mundo. Nós jogamos muitas rochas. Os Titãs e os monstros quase ganharam. Agora eles estão ficando
forte novamente. Kampê disse.
"Não dê ouvidos a ela," eu disse. "Vamos!"
Ele não se moveu. Eu sabia que Grover estava certo. Nós não tínhamos muito tempo antes que Kampê voltasse. Mas eu não podia simplesmente deixá-lo aqui.
Tyson ia chorar por semanas.
"Um jogo de pedra, papel, tesoura", eu disse. "Se eu ganhar, você vem
conosco. Se eu perder, nós vamos deixar você na cadeia."
Annabeth me olhou como se eu fosse louco.
O rosto do Briares transformou-se em duvidoso. "Eu sempre ganho pedra, papel, tesoura".
"Então, vamos fazê-lo!" Eu bati meu punho na palma de minha mão três vezes.
Briares fez o mesmo com todas as cem mãos, o que soa como uma
exército marchando três passos em frente. Ele veio com toda uma avalanche de
rochas, uma sala de aula conjunto de tesoura, papel e suficiente para fazer uma frota de
aviões.
"Eu te disse", disse ele, infelizmente. "Eu sempre-" Seu rosto transformou-se em confusão.
"O que é que você fez?"
"Uma arma", eu disse a ele, mostrando-lhe o meu dedo arma. È um truque Paul
Blofis tinha feito comigo, mas eu não ia dizer-lhe isso. "A arma bate qualquer coisa."
"Isso não é justo."
"Eu não disse nada sobre justo. Kampê não vai ser justa se nós ficarmos batendo papo. Ela vai culpar você por destruir as barras. Briares fungava. "Semideuses
são charlatões." Mas ele subiu lentamente a seus pés e seguiu para fora da cela.
Comecei a sentir-se esperançoso. Tudo o que tinha que fazer era seguir para baixo e encontrar a entrada do Labirinto. Mas então, Tyson gelou.
No térreo logo abaixo, Kampe rosnava para nós.
* * *
"O outro jeito," eu disse.
Nós fugimos abaixo da passarela. Desta vez Briares estava feliz em nos seguir. Por ele correr na frente, uma centena de mãos acenavam em pânico.
Atrás de nós, eu ouvi o som das asas gigantes de Kampe tomando o ar. Ela
sibilou e rosnou na sua língua milenar, mas eu não tinha necessidade de uma tradução para saber que ela estava planejando nos matar.
Nós andamos abaixo das escadas, através de um corredor, e passamos um guarda da estação de saída em outro bloco de celas da prisão.
"Esquerda", Annabeth disse. "Lembro-me deste lugar na excursão".
Nós irrompemos la fora e nos encontramos no quintal de uma prisão, cercado por torres de segurança e arame farpado.
Depois de estar no subterrâneo por tanto tempo, a luz do dia quase me cegou. Os turistas estavam correndo de um lado para o outro, tirando fotografias. O vento
chicoteando ao largo da baía. No sul, San Francisco brilhava branca e linda, mas no norte, na montanha Tamalpais, gigantescas nuvens de tempestade rodavam.
. Todo o céu parecia uma fiação preta para a montanha onde Atlas foi preso, e onde o palácio Titã do Monte Othris estava se erguendo novamente. Era
difícil acreditar que os turistas não pudessem ver o sobrenatural, mas eles não deram nenhum indício de que algo estava errado.
"É ainda pior", Annabeth disse, olhando ao norte. "As tempestades
tem sido ruins o ano tudo, mas - "
"Continue correndo", Briares lamuriou. "Ela está atrás de nós!"
Corremos para a parte final do estaleiro, na medida do possível, a partir da cela.
"Kampe é muito grande para passar pela porta", eu disse, esperando.
Então a parede explodiu.
Turistas gritavam quando Kampê surgiu a partir da poeira e escombros, as
asas dilataram tão amplas quanto o estaleiro. Ela estava segurando duas espadas - longas de bronze que brilhavam com uma estranha aura esverdeada, feixe de vapor
quente que cheirava azedo, mesmo em todo o pátio.
"Veneno!" Grover ganiu. "Não deixe essas coisas te tocarem, ou ..."
"Ou nós vamos morrer?" Eu suponho.
"Bem ... depois de você secar lentamente até virar poeira, sim".
"Vamos evitar as espadas," eu decidi.
"Briares, lute!" Tyson instou. "Cresça para seu tamanho!"
Em vez disso, Briares olhou como se estivesse tentando encolher ainda mais. Ele parecia estar usando uma cara de terror absoluto.
Kampe lampejou para nós em suas pernas de dragão, centenas de cobras deslizaram em torno de seu corpo.
Por um segundo pensei em destampar Contracorrente e enfrenta-la, mas o meu foi na minha garganta. Então Annabeth disse o que eu estava pensando: "Corra".
Foi o fim do debate. Não houve luta contra esta coisa. Corremos através do estaleiro da cadeia e as portas da prisão, o monstro atrás nós. Mortais gritavam
e corriam. Sirenes de emergência começaram a tocar.
Nós chegamos ao cais justo quando um barco de tour estava descarregando. O novo grupo de visitantes congelou quando nos viram, seguido por uma multidão
de turistas assustados, seguido por ... não sei o que viram através da Névoa, mas isso não poderia ter sido bom.
"O barco?" Grover perguntou.
"Demasiado lento", disse Tyson. "Voltar para o labirinto. Única chance."
"Precisamos de um desvio", Annabeth disse.
Tyson arrancou um poste metálico do chão. "Eu vou distrair Kampê.
Vocês correm à frente."
"Eu vou ajudá-lo", disse.
"Não", disse Tyson. "Você vai. Veneno vai machucar Ciclope. Muita dor. Mas
não vai matar."
"Tem certeza?"
"Vai, mano. Vou encontrá-lo lá dentro. "
Eu odiava a idéia. Eu quase perdi Tyson uma vez antes, e eu não queria esse
risco novamente. Mas não houve tempo para discutir, e eu não tinha nenhuma idéia melhor.
Annabeth, Grover, e eu cada um teve de pegar nas mãos de Briares e arrastar
para a concessão de estandes enquanto Tyson rugiu, baixou o seu poste, e atacou Kampê como um cavaleiro em combate.
Ela tinha visto Briares em flagrante, mas Tyson atraiu sua atenção logo que ele
acertou-lhe no peito com o poste, empurrando-la de volta para a parede. Ela guinchou e cortou-lhe com espadas, fatiando o poste em pedacinhos. Veneno gotejou em
charcos ao redor dela, derretendo o cimento.
Tyson pulou de volta enquanto o cabelo de Kampê se atava e sibilava, e as víboras em torno de suas pernas lançaram suas línguas em todas as direções. Um
leão meio-formado surgiu em torno de sua cintura e rugiu.
Como nós corremos para os blocos de prisão, a última coisa que eu vi foi Tyson apanhar até um Dippin 'Dots levantando-se e jogando-a em Kampe. Sorvete e
veneno explodiram para todo lado, todas as pequenas serpentes, no cabelo de Kampê ficaram com "pontinhos" de tutti-frutti.
Nós chegamos de volta ao quintal da prisão..
"Não pode fazer isso", Briares irritou-se.
"Tyson está arriscando sua vida para te ajudar!" Eu gritava com ele. "Você vai fazer isso."
Como chegamos a porta da cela, ouvi um rugido zangado. Eu olhei para trás e vi Tyson correndo em direção a nós com toda a velocidade, Kampê atrás a dele.
Ela estava embriagada de sorvete e T-shirts. Uma das cabeças de urso na cintura dela estava agora vestindo um par de óculos tortos plástico Alcatraz.
"Depressa!" Annabeth disse, como se eu precisasse ser informado.
Nós finalmente encontramos a cela onde desejávamos entrar, mas a parede traseira estava completamente lisa, sem sinal de uma rocha ou nada.
"Olhe para a marca!" Annabeth disse.
"Não!" Grover tocou um pequeno arranhão, e tornou-se um ? grego. A
marca de Dédalo brilhava azul, e do muro de pedras abriu-se.
Muito lento. Tyson estava chegando através da cela, Kampe de espadas, estava
atrás dele, através do corte indiscriminado das celas e paredes de pedra.
Empurrei Briares dentro do labirinto e, em seguida, Annabeth e Grover.
"Você pode fazer isso!" Eu disse para Tyson. Mas logo eu sabia que ele não poderia, Kampe estava ganhando. Ela levantou a sua espada. Preciso de uma distração,
algo grande. Meu relógio transformou-se em um escudo espiral de bronze. Desesperadamente, eu o joguei no rosto do monstro.
SMACK! O escudo bateu no rosto dela e ela vacilou apenas o suficiente para Tyson mergulhar no labirinto. Eu estava atrás dele.
Kampe tentou entrar, mas era muito tarde. A pedra fechou a porta e sua magia nos selou. Eu podia sentir todo o túnel agitar com Kampê batendo contra ela,
rugindo furiosamente. Nós não ficamos por perto para jogar bate-bate com ela, entretanto. Nós corremos para a escuridão, e pela primeira vez (e última) estive feliz
por estar de volta no labirinto.




































OITO - NÓS VISITAMOS O DEMÔNIO DO RANCHO

Nós finalmente paramos em uma sala cheia de cachoeiras. O chão era uma grande cova, rodeado por uma passarela de pedra escorregadia. Cercando-nos, em todas
as quatro paredes, água caía de enormes canos. A água vazou para dentro da cova, e mesmo quando eu vi brilhar uma luz, eu não conseguia ver o fundo.
Briares caiu contra a parede. Ele jogou água em cima de uma dúzia de mãos
e lavou a cara. "Esse poço vai direto para o Tártaro", ele murmurou. "Eu devo pular e salvá-lo de encrenca. "
"Não fale dessa maneira", Annabeth disse ele. "Você pode voltar para o acampamento conosco. Você pode nos ajudar a preparar. Você sabe mais sobre a luta
contra o Titãs do que ninguém."
"Não tenho nada para oferecer", disse Briares. "Eu perdi tudo."
"E sobre os seus irmãos?" Tyson pediu. "Os outros dois devem permanecer altos como montanhas! Podemos levá-lo a eles."
Briares transformou sua expressão para algo ainda mais triste: a sua face de tristeza.
"Eles não estão mais. Eles extinguiram-se. "
As cachoeiras relampejaram. Tyson olhou para a fossa e piscou lágrimas para fora do seu olho.
"O que exatamente você quer dizer, eles extinguiram-se?" Perguntei. "Eu pensei monstros eram imortais, como os deuses. "
"Percy", disse Grover fracamente, "mesmo imortalidade tem limites. Às vezes ... às vezes ficando esquecidos eles perdem a sua vontade de permanecer imortal.
"
Olhando para Grover, me perguntei se ele estava pensando em Pan. Eu tinha lembrado algo que a Medusa tinha dito uma vez: como suas irmãs, as outras
dois gorgonas, já tinham ido, e a deixaram sozinha. Depois, no ano passado, Apolo disse algo sobre o antigo deus Helios desaparecer e deixá-lo com o deveres do deus
do sol. Eu nunca pensei muito sobre isso, mas agora, olhando em Briares, eu percebi como seria terrível ser tão velho - milhares e milhares de anos - e totalmente
sozinho.
"Tenho de ir", disse Briares.
"Cronos vai invadir o acampamento com seu exército", disse Tyson. "Precisamos de ajuda."
Briares pendurou sua cabeça. "Não posso, ciclope".
"Você é forte."
"Não mais." Briares levantou.
"Ei," Peguei um dos braços e puxei ele pro lado, onde o som da água iria esconder as nossas palavras. "Briares, precisamos de você. Caso você não tenha
notado, Tyson acredita em você. Arriscou a sua vida por você. "
Eu disse-lhe tudo - O plano de invasão de Luke, o labirinto com entrada no acampamento, oficina de Dédalo, caixão dourado de Cronos.
Briares só balançou a cabeça. "Não posso, semideus. Eu não tenho uma arma de dedo para ganhar este jogo. "Para provar seu ponto, ele fez cem armas de dedo.
"Talvez é por isso que os monstros se enfraquecem," eu disse. "Talvez não seja como nós mortais acreditamos. Talvez é porque você desiste de si mesmo."
Seus olhos castanhos puros me consideraram. Seu rosto transformou-se em uma expressão de vergonha. Então ele virou-se e correu fora do corredor até ele
se perder nas sombras.
Tyson chorou.
"Tudo bem", Grover disse batendo em seu ombro, que tomou toda a sua coragem.
Tyson espirrou. "Não é bom, garoto-bode. Ele foi o meu herói. "
Eu queria fazer ele se sentir melhor, mas eu não estava certo do que dizer.
Finalmente Annabeth bateu no ombro e nas costa dele. "Vamos, rapazes.
Este buraco está me deixando nervosa. Vamos encontrar um lugar melhor para o acampamento para a noite".
* * *
Acampamos em um corredor feito de enormes blocos de mármore. Parecia que poderia ter sido parte de um túmulo grego, com várias tochas de bronze fixadas
nas paredes. Tinha que ser uma parte mais antiga do labirinto, e Annabeth decidiu que isto era um bom sinal.
"Temos que estar perto da oficina de Dédalo", disse ela. "Descansem um pouco,
todos. Vamos continuar na parte da manhã. "
"Como sabemos quando é de manhã?" Grover perguntou.
"Só descansem", ela insistiu.
Não precisou pedir duas vezes para Grover. Ele puxou uma pilha de palha da sua mochila, comeu uma parte dela, e fez uma almofada para descanso, e estava
roncando em pouco tempo. Tyson demorou mais para dormir. Ele mexeu com alguns metais do seu kit de construção, mas seja lá o que ele estava fazendo, não deu certo.
Ele continuou a desmontar as peças.
"Desculpa eu perdi o escudo", eu disse a ele. "Você trabalhou tão duro para consertá-lo."
Tyson olhou para cima. Seu olho injetado de sangue de chorar. "Não se preocupe, irmão. Você me salvou. Você não teria perdido se Briares tivesse ajudado.
"
"Ele estava apenas assustado", disse. "Eu tenho certeza que ele irá se recuperar."
"Ele não é forte", disse Tyson. "Ele não é mais importante."
Ele soltou um grande suspiro triste e, em seguida, fechou o olho. As peças metálicas caíram do seu lado, ainda não montadas, e Tyson começou a roncar.
Tentei adormecer sozinho, mas eu não podia. Alguma coisa sobre ser perseguido por uma mulher-dragão com espadas e veneno, tornaram muito difícil eu relaxar.
Eu peguei meu saco de dormir e o arrastei para perto de Annabeth, onde estava vigiando.
Sentei ao lado dela.
"Você devia dormir," disse ela.
"Não é possível. Você está fazendo tudo certo? "
"Claro. Primeiro dia levando a busca. Tudo bem. "
"Nós vamos chegar lá", disse. "Nós vamos encontrar a oficina antes de Luke."
Ela afastou o cabelo de seu rosto. Ela tinha uma mancha de sujeira no seu queixo, e eu imaginei como ela parecia quando ela era pequena, vagueando em todo
o país com Thalia e Luke. Uma vez que tinha salvado-os na mansão do Ciclope quando tinha apenas sete. Mesmo quando ela estava assustada, como agora, eu sabia que
ela tinha muita coragem.
"Eu apenas queria que a busca fosse lógica", ela reclamou. "Quero dizer, viajamos, mas não temos nenhuma idéia de onde vamos acabar. Como você pode andar
de Nova York para a Califórnia, em um dia? "
"O espaço não é o mesmo no labirinto."
"Eu sei, eu sei. É só... "Ela me olhou hesitante. "Percy, eu estava
brincando comigo mesma. Todo aquele planejamento e leitura, eu não tenho a menor idéia de onde nós estamos indo."
"Você está indo muito bem. Além disso, nós nunca sabemos o que estamos fazendo. É sempre assim. Lembra Circe da ilha? "
Ela aspirou. "Você fez um lindo cobaia".
"E Waterland, como você conseguiu nos livrar daquele passeio?"
"Nos livrado? Isso foi totalmente sua culpa! "
"Viu? Vai ser ótimo."
Ela sorriu, o que eu estava contente de ver, mas o sorriso desvaneceu rapidamente.
"Percy, o que Hera queria dizer, quando ela disse que você sabia o caminho para andar no labirinto? "
"Não sei", eu admiti. "Sinceramente".
"Me diga se você souber?"
"Claro. Talvez ... "
"Talvez o quê?"
"Talvez se você me disse da última linha da profecia, ela iria ajudar."
Annabeth arrepiou-se. "Nem aqui. Nem no escuro. "
"E sobre a escolha que Janus mencionou? Hera disse -"
"Pare", Annabeth me bateu. Então ela fez um suspiro débil. "Me desculpe,
Percy. Estou estressada. Mas eu não... Eu preciso pensar nisso. "
Nós nos sentamos em silêncio, ouvindo barulhos estranho e gemidos no labirinto, o eco de triturar pedras juntos como os túneis mudou, cresceu e expandiu.
O escuro me fez pensar sobre as visões que eu vi de Nico di Angelo, e de repente, percebi uma coisa.
"Nico está aqui em algum lugar", disse. "É como ele desapareceu do acampamento. Ele encontrou o labirinto. Então ele encontrou um caminho que o conduziu
ate o Subterraneo. Mas agora ele está de volta no labirinto. Ele está vindo atrás de mim."
Annabeth ficou quieta por um longo tempo. "Percy, eu espero que você esteja errado. Mas se você estiver certo ... "ela mirou sua lanterna, criando um círculo
sobre o muro de pedras. Eu tive um sentimento que ela estava pensando em sua profecia. Ela nunca me pareceu tão cansada.
"Deixa eu pega o primeiro turno de vigia?" Eu disse. "Eu acordo você se alguma coisa
acontecer".
Annabeth me olhou como se quisesse protestar, mas só acenou, deitou
em seu saco de dormir, e fechou os olhos.
* * *
Quando foi a minha vez de dormir, sonhei que estava de volta a velha prisão do Labirinto.
Parecia mais como uma oficina agora. Os quadros estavam cheio de instrumentos de medição. Uma forja queimando vermelho quente no canto. O menino que eu
vi no meu último sonho estava carregando o fole, exceto que ele era mais alto agora, quase a minha idade. Um estranho funil foi anexado a forja da chaminé, exalando
fumaça e calor, e canalizando-a através de um tubo no chão, ao lado de um grande tampão de bueiro bronze.
Era dia. O céu era azul acima, mas as paredes do labirinto produziam
sombras profundas em toda a oficina. Depois de estar em túneis tão longos, eu achei
estranho que uma parte do labirinto poderia ser aberta para o céu. De algum jeito que fez o labirinto parece mesmo um cruel lugar.
O velho homem olhou adoentado. Ele estava terrivelmente magro, suas mãos calejadas e vermelhas de trabalhar. Cabelo branco cobria seus olhos, e sua roupa
estava manchada com graxa. Ele refletia sobre uma mesa, trabalhando em algum tipo de metal longo como uma cadeia de trigo Ele pegou um delicado cacho de
bronze e montou no lugar.
"Concluído", ele anunciou. "Está feito."
Ele pegou o seu projeto. Estava muito bonito, meu coração saltou - asas de metal construídas a partir de milhares de penas de bronze. Eram duas Um metal
ainda sobre a mesa. Dédalo esticou a armação, e as asas expandiram vinte pés. Parte de mim sabia que nunca poderia voar. Era muito pesado, e não teria nenhuma maneira
de sair do chão. Mas o artesanal era incrível. Penas de metal refletiam na luz trinta diferentes tonalidades de ouro.
O rapaz deixou o fole e para ver. Ele sorriu, apesar de que ele estava sujo e suado. "Pai, você é um gênio!"
O velho homem sorriu. "Diga-me algo que eu não sei, Icarus. Agora depressa.
Vai demorar pelo menos uma hora para anexá-las. Venha. "
"Você em primeiro lugar," Icarus disse.
O velho protestou, mas Icarus insistiu. "O senhor fez isso, pai. Você deveria receber a honra de usá-las em primeiro lugar."
O rapaz acompanhou um arnês de couro no tórax de seu pai, como um equipamento de alpinismo, com pré-cintas que corriam dos ombros para os pulsos. Então
ele começou a fixar as asas, usando uma lata metálica que parecia ser uma enorme cola-quente.
"A cera deve manter fixo por várias horas," disse Dédalo
nervosamente enquanto seu filho trabalhava. "Mas temos de deixá-la fixado em primeiro lugar. E faríamos bem evitar voar muito alto ou muito baixo. O mar teria molhado
a cera."
"E o calor do sol ia desprender-los", o menino acabou. "Sim, pai. Nós temos pensado nisso isso um milhão de vezes! "
"Seja muito cuidadoso."
"Tenho total confiança nas suas invenções, Pai! Ninguém jamais foi tão
inteligente como você. "
Os olhos do velho brilharam. Era óbvio que ele amava seu filho mais do que
qualquer coisa no mundo. "Agora vou fazer as suas asas, e dê uma chance de definir adequadamente. Venha! "
Isso estava andando devagar devagar. O homem velho com as mãos segurando a pré-cintas. Ele tinha um árduo tempo mantendo as asas na posição enquanto ele
selou elas. Suas próprias asas de metal pareciam pesar-lhe para baixo, ficando em seu caminho, enquanto ele tentou trabalhar.
"Demasiado lento", o velho murmurou. "Estou muito lento."
"Tome o seu tempo, pai" o menino disse. "Os guardas não virão até-"
BOOM!
As portas da oficina tremeram. Dédalo tinha barrado-as a partir da
madeira no interior com uma braçadeira, mas ainda se chocou em suas dobradiças.
"Depressa!" Icarus disse.
BOOM! BOOM!
Algo pesado bateu nas portas. A braçadeira deteve, mas uma rachadura apareceu na porta da esquerda. Dédalo trabalhou furiosamente. Uma gota de cera quente
caiu sobre o ombro de Icarus. O rapaz gemeu mas não gritou. Quando a sua asa esquerda foi selada na pré-cintas, Dédalo começou a trabalhar na direita.
"Temos de ter mais tempo", Dedalus murmurou. "Eles estão muito adiantados! Nós precisamos de mais tempo para o fixar o selo. "
"Ela vai ficar bem", disse Icarus, quando seu pai terminou a ala direita. "Ajuda-me com o homem-"
Crash! As portas arrebentaram e o chefe de bronze aríete emergiu através da violação. Eixo limpou os escombros, e dois guardas armados entraram na sala, seguido
pelo rei com coroa de ouro e sua bem feita barba.
"Bem, bem," disse o rei com um sorriso cruel. "Vai em algum lugar?"
Dedalus e seu filho congelaram , o seu reflexo metálico sobre as asas nas suas costas.
"Estamos deixando, Minos", disse o velho.
Rei Minos abafou um riso. "Eu estava curioso para ver até onde você deseja chegar com este projeto pouco antes de eu frustrar as suas esperanças. Devo dizer
que estou impressionado."
O rei admirava suas asas. "Você parece um frango de metal", ele decidiu.
"Talvez devêssemos cozinhar você e fazer uma sopa."
Os guardas riram estupidamente.
"Frangos de metal", um repetido. "Sopa".
"Calem-se", disse o rei. Então ele virou novamente para Dédalo. "Você deixou a minha filha escapar, velho. Você guiou a minha esposa à loucura. Você matou
o meu monstro e me fez ser motivo de piada no Mediterrâneo.Você nunca irá escapar!"
Icarus agarrou a arma de cera e atirou no rei, que voltou para trás surpreso. Os guardas se atravessaram na frente, mas ambos receberam cera quente em seus rostos.
"O vento!" Icarus gritou para seu pai.
"Peguem eles!" ordenou o Rei Minos.
Juntos, o velho e seu filho abriram o bueiro, e uma coluna de ar quente explodiu para fora do terreno. O rei assistiu, incrédulo, como o inventor atirou
o filho para o céu em suas asas bronze, transportados pelos ares.
"Atire!" O rei gritou, mas seus guardas não tinham trazido arcos. Um
jogou sua espada em desespero, mas Dédalo e Icarus já estavam fora de alcance. Eles voaram acima do labirinto e do palácio do rei, então viram toda a cidade de Knossos
e passaram os rochedos da ilha de Creta.
Icarus riu. "Livre, Pai! Você fez isso."
O rapaz abriu suas asas à pleno limite de distância e subiram no vento.
Espere!" Dédalo chamou. "Cuidado!"
Mas Icarus já estava para fora sobre o mar aberto, mirando o norte e
deliciando sua boa sorte. Ele subiu e assustou uma águia para fora da sua
Trajetória de vôo e, em seguida, mergulharam em direção ao mar que ele nasceu para voar, puxando fora de um vôo picado no último segundo. Suas sandálias tocaram
as ondas.
"Pare com isso!" Dédalo chamou. Mas o vento transportou sua voz para distância. Seu filho estava bêbado na sua própria liberdade. O velho lutava para se
recuperar, deslizando depois do seu filho. Eram quilômetros de Creta, ao longo do mar profundo, quando olhou para trás e Icarus viu seu pai, preocupado expressão.
Icarus sorriu. "Não se preocupe, pai! Você é um gênio! Acredito que a sua
criação-"
A primeira pena de metal se soltou abalando o equilíbrio e rodopiou para longe.
Depois outro. Icarus oscilou. De repente, então várias penas de bronze começaram a se desprender, e voaram longe dele como um bando de pássaros assustados.
"Icarus"! Pai chorou. "Deslize! Estenda as asas. Mantenha isso do jeito que for possível!"
Mas Icarus oscilou seus braços, desesperadamente tentando reafirmar o controle.
A asa-esquerda foi a primeira - rasgando longe das cintas.
"Pai!" Icarus chorou. E então ele caiu, as asas despojadas de distância até que ele era apenas um menino, em uma escalada arnês e uma túnica branca, o seu
braço estendido em uma inútil tentativa de deslizar.
Eu acordei com um começo, sentindo como se eu fosse cair. O corredor estava escuro. Em constantes gemidos do labirinto, eu pensei que podia ouvir o angustiado
Dédalo gritando por seu filho, por "Icarus", sua única alegria, mergulharam
em direção ao mar, trezentos metros abaixo.
* * *
Não houve manhã no labirinto, mas, uma vez todos acordados e tínhamos um
fabuloso café com barras de granola e caixas de suco, continuamos a viajar. Eu não mencionei o meu sonho. Algo sobre o que tinha me apavorado, e eu não achava necessário
que os outros soubessem disso.
O velho mudou a pedra dos túneis por vigas de cedro, como uma mina de ouro ou algo assim. Annabeth começou a ficar agitada.
"Isso não está certo", disse ela. "Deveria continuar a ser pedra."
Viemos para uma caverna onde estalactites estavam penduradas baixas a partir do teto. No centro da terra estava um piso retangular, como um túmulo.
Grover arrepiou-se. "Aqui cheira a Subterrâneo."
Então eu vi algo brilhar à beira do abismo, uma folha enrolada. Eu apontei minha lanterna para o buraco e vi um cheeseburger mastigado flutuando em castanho.
"Nico", eu disse. "Ele convocou os mortos de novo."
Tyson choramingou. "Fantasmas estavam aqui. Eu não gosto de fantasmas".
"Nós temos que encontrá-lo." Não sei porquê, mas estar de pé na borda da extremidade
me deu uma sensação de urgência. Nico estava perto, eu podia sentir. Eu não poderia deixá-lo passear por aqui, sozinho, exceto para os mortos. Eu comecei a correr.
"Percy!" Annabeth chamou.
Eu entrei em um túnel e vi acender-se à frente. Até o momento Annabeth,
Tyson, e Grover estavam atrás de mim, eu estava olhando para a luz do dia através de um conjunto de barras acima da minha cabeça. Nós estávamos em uma grade feita
de aço. Eu podia ver árvores e azul do céu.
"Onde estamos?" Eu imaginava.
Então, uma sombra caiu em toda a grade e uma vaca arregalou-se para mim. Ela parecia uma vaca normal, porém tinha uma esquisita cor vermelho brilhante,
como uma cereja. Eu não sabia se existiam vacas dessas cores.
A vaca pos uma pata timidamente sobre as barras, então mantendo distância.
"É uma vaca guarda", disse Grover.
"Uma quê?" Perguntei.
"Puseram-lhe nas portas das fazendas para as vacas não poderem sair. Elas não podem andar sobre ela."
"Como é que sabe isso?"
Grover bufou indignado. "Acredite, se você tivesse unhas, você saberia sobre vacas guardas. É chato!"
Eu virei para Annabeth. "Hera não disse algo sobre uma fazenda? Nós
precisam fazer check-out. Nico poderia estar lá."
Ela hesitou. "Tudo bem. Mas como é que saímos?"
Tyson resolveu esse problema ao bater a vaca guarda com as duas mãos. Ela
estalou e saiu voando para fora do campo de visão. Ouvimos um som estridente! e um Moo! Tyson envergonhou-se.
"Desculpe, vaca!" Ele chamou.
Então ele nos deu um impulso para fora do túnel.
Nós estávamos em uma fazenda, tudo bem. Rolling Hills esticada até o horizonte, pontilhada com carvalhos e cactos e calhaus. A cerca de arame farpado decorria
do portão para qualquer direção. Vacas vermelhas andavam em volta, pastando em grupos.
"Gado vermelho", Annabeth disse. "O gado do sol."
"O quê?" Perguntei.
" Elas são sagradas para Apollo."
"Vacas sagradas"?
"Exatamente. Mas o que elas estão fazendo-"
"Espere", disse Grover. "Ouça".
Inicialmente tudo parecia tranqüilo ... mas então eu ouvi: o distante latidos de
cães. O som ficou mais alto. Em seguida, a vegetação rasteira mexeu-se, e dois cães apareceram. Mas não era dois cães. Era um cão com duas cabeças. Ele parecia uma
lebre, longo e sinuoso e marrom lustroso, mas o seu pescoço dividia-se em duas cabeças, ambas rosnando e geralmente não muito dava prazer de ver-las.
"Cachorro mal Janus!" Tyson chorou.
"Arf!" Grover disse a ele, e levantou a mão em saudação.
As duas cabeças do cachorro com seus dentes expostos. Acho que não estava impressionado que Grover pudesse falar com o cachorro. Então o seu dono se arrastou
fora do bosque, e então percebi que o cão era o menor dos nossos problemas.
Ele era um cara grande com cabelo branco, um chapéu cowboy de palha, e uma
barba branca trançada - como uma espécie de Pai Tempo, Se Pai Tempo passasse a gola. Ele estava de jeans, uma camisa NÃO ESTRAGUE O TEXAS e um casaco com mangas
dobradas, assim você poderia ver seus músculos. Em seu braço direito tinha uma tatuagem de espadas em cruz. Ele tinha porrete de madeira do tamanho de uma ogiva
nuclear, com seis polegadas de espinhos no final do negócio.
"Quieto, Orthus", disse a o cão.
O cão rosnou para nós, mais uma vez, só para tornar claro seus sentimentos e, em seguida, foi para perto dos pés do dono. O homem nos olhou de cima para
baixo, mantendo o seu porrete pronto.
"O que temos aqui?", Indagou. "Ladrões de gado?"
"Só viajantes", Annabeth disse. "Estamos em uma missão."
O olho do homem apertou-se. "Meio-sangue, né?"
Eu comecei a dizer: "Como você sabe,"
Mas Annabeth cutucou meu braço. "Eu sou Annabeth, filha de Athena.
Este é Percy, filho de Poseidon. Grover o sátiro. Tyson-o"
"Ciclope", o homem acabou. "Sim, eu posso ver isso". Ele olho pra mim ameaçadoramente.
"Eu conheço meio-sangues porque eu sou um, filho. Sou Eurytion, o
vaqueiro aqui desta fazenda. Filho de Ares. Você veio através do labirinto como os outros, eu presumo."
"Outros?". Perguntei. "Você quer dizer, Nico di Angelo?"
"Recebemos uma carga de visitantes do Labirinto", disse Eurytion sombriamente. "Muitos nunca saem."
"Uau", eu disse. "Eu me sinto bem-vindo."
O vaqueiro olhou sobre como se alguém o estivesse olhando. Então ele abaixou a voz dele. "Eu só vou dizer isso uma vez, semideuses. Voltem para o labirinto
agora. Antes que seja tarde demais."
"Não voltamos", Annabeth insistiu. "Não até que achemos outro semideus. Por favor ".
Eurytion grunhiu . "Então você me deixa sem escolha, senhorita. Tenho de levar vocês para o chefe."
* * *
Eu não sentia que éramos reféns ou algo assim. Eurytion caminhou ao nosso laço com o seu porrete no ombro. Orthus com suas duas cabeças rosnavam e cheiravam
Grover, de vez em quando disparava para os arbustos, para afugentar os animais, mas Eurytion mantinha mais ou menos tudo sobre controle.
Caminhamos para baixo em um caminho sujo que parecia nunca terminar. Parecia estar perto dos cem graus, que foi um choque depois de San Francisco. Calor
chamuscava para fora do chão. Insetos tontos nas árvores. Tínhamos ido longe, eu estava suando como um louco. Moscas sentavam em nós. Várias vezes vimos vacas vermelhas
e outros animais estranhos. Uma hora passamos um curral quando o muro foi revestido em amianto. No interior, uma manada cavalos respiram fogo. O feno na sua alimentação
estava em fogo. O terreno era queimado em torno de seus pés, mas esses cavalos não pareciam fáceis de domar . Um grande garanhão olhou para mim e exalou colunas
de chamas vermelhas para fora suas narinas. Gostaria de saber se machucava suas narinas.
"Eles são pra que?" Perguntei.
Eurytion escureceu. "Nós levamos lotes de animais para os clientes. Apollo, Diomedes ... e outros ".
"Como quem?"
"Sem mais perguntas."
Finalmente, saiu do bosque. Situado numa colina acima de nós uma grande
fazenda com uma casa branca de pedra e janela de madeira.
"Parece uma Frank Lloyd Wright!" Annabeth disse.
Acho que ela estava falando de alguma coisa arquitetônica. Para mim, isso só
parecia o tipo de local onde um pequeno número de semideuses poderia entrar em grave aborrecimento. Nós subimos até o morro.
"Não quebrem as regras", alertou Eurytion em quanto nós nos dirigíamos para o alpendre. "Sem lutas. Sem armas. E não faça qualquer comentário sobre a aparência
do chefe. "
"Por quê?" Perguntei. "O que é que ele se parece? "
Antes que Eurytion pudesse responder, uma nova voz disse, "Bem vindo ao Rancho G Triplo".
O homem na varanda tinha uma cabeça normal, que foi um alívio. Seu rosto estava vencido e castanho de anos. Ele tinha uma mancha preta e um cabelo preto
e um bigode como vilões em filmes antigos. Ele sorriu para nós, mas o sorriso não era amigável; mas divertido, como Oh cara, mais pessoas para torturar!
Não pense muito tempo, porque então eu notei seu corpo ... ou corpos. Ele tinha três deles. Agora que você acha que eu poderia ter obtido experiência com anatomia
estranha após Janus e Briares, mas esse cara era três pessoas completas. Seu pescoço ligados ao meio tórax normal, mas ele tinha mais dois corações, um para cada
lado, conectados a ombros, com poucos centímetros entre eles. Seu braço esquerdo crescia para fora de seu peito esquerdo, o mesmo no direito, de modo que ele
tinha dois braços, mas quatro axilas, se isso faz algum sentido. Os peitos todos conectados em um enorme tronco, e pernas muito musculosas, e ele usava a mais super-dimensionada
par de Levis que eu já vi. Cada peito usava uma cor diferente de camisa verde, amarelo, vermelho, como um semáforo. Gostaria de saber como se vestiu, uma vez que
não tinha braços.
O vaqueiro Eurytion me cutucou "Diga olá ao Sr. Geryon".
"Olá," eu disse. "Bela fazenda! Belo rancho que você tem. "
Antes que os três corpos do homem pudesse responder, Nico di Angelo saiu das
portas de vidro para o alpendre. "Geryon, não vou esperar por-"
Ele congelou quando ele nos viu. Então ele pegou a sua espada. A lâmina era como eu vi no meu sonho; curta, afiada, e escura como meia-noite.
Geryon rosnou quando ele viu. "Guarde isso , Sr. di Angelo. Eu não
quero meus convidados se matando. "
"Mas é-"
"Percy Jackson," Geryon disse . "Annabeth Chase. E um par de
seu amigos monstros. Sim, eu sei. "
"Amigos monstros?" Grover disse indignadamente.
"Esse homem está vestindo três camisas", disse Tyson.
"Eles deixaram minha irmã morrer!" Nico disse com raiva. "Eles estão aqui
para me matar!"
"Nico, não estamos aqui para te matar." Levantei minhas mãos. "O que aconteceu com Bianca-"
"Não fale o nome dela! Você não é digno sequer de falar sobre ela! "
"Espere um minuto," Annabeth apontou para Geryon. "Como você sabe o nosso nomes? "
O homem de três corpos piscou os olhos. "Eu faço o meu negócio para me manter informado, querida. Todo mundo aparece na fazenda de tempos em tempos. Todo
mundo precisa de algo de Geryon. Agora, o Sr. di Angelo, ponha essa horrível espada para longe antes de eu mandar Eurytion tomar forma de você ".
Eurytion suspirou, mas ele levantou seu porrete. A seus pés, Orthus rosnou.
Nico hesitou. Ele parecia mais pálido e magro do que ele tinha aparecido na mensagem de Iris. Gostaria de saber se ele tinha comido nas últimas semanas.
Sua roupa preta estava empoeirada de viajar no labirinto, e os seus olhos escuros estavam cheios de ódio. Ele era muito jovem para olhar tão zangado. Eu ainda me
lembrava dele um pouco alegre brincando com seus cartões Mythomagic.
Relutantemente, ele embainhou sua espada. "Se você chegar perto de mim, Percy, vou convocar ajuda. Não queira conhecer meus subordinados, eu prometo. "
"Eu acredito em você," eu disse.
Geryon bateu no ombro de Nico. "Não, nós temos feito tudo bonito. Agora venham, pessoal. Vamos dar um passeio pela fazenda. "
* * *
Geryon tinha um carrinho, como um desses comboios que levam para passeios em jardins zoológicos. Foi pintado a preto e branco em um chicote de couro padrão.
O condutor do carro tinha um conjunto de longos chifres preso ao capô, e a buzina soava como um berrante. Achei que talvez fosse um torturador como ele. Ele contornou
a vaca-móvel. Nico estava muito para trás, provavelmente, assim ele poderia manter um olho em nós.
Eurytion largou seu porrete ao seu lado e puxou seu chapéu de cowboy sobre os olhos para tirar um cochilo. Orthus saltou na frente Geryon do assento ao
lado e começou a ladrar feliz em duas diferentes harmonias.
Annabeth, Tyson, Grover, e eu fiquei no meio dos dois carros.
"Temos uma grande operação!" Geryon impulsionou a vaca-móvel que havia sido travada. "Cavalos e principalmente bovinos, mas também todos os tipos de animais
exóticos, também."
Viemos ao longo de uma colina, e Annabeth arqueou-se. "Hippalektryons? Pensei eles foram extintos! "
Na parte inferior do morro foi cercado por uma pastagem com uma dúzia de
animais estranhos que eu nunca tinha visto. Cada um tinha a metade da frente de cavalo a outra metade galo. Suas patas traseiras eram garras amarelas enormes. Tinham
cauda vermelha e asas. Como eu assisti, dois deles tinham uma pilha de sementes. São criados em baixo de suas asas ate poderem voar longe, e caminhavam com um pulinho.
"Pôneis-galo", disse Tyson, em espanto. "Eles põem ovos?"
"Uma vez por ano!" Geryon sorriu no espelho retrovisor. "Muito procurado para omeletes! "
"Isso é horrível!" Annabeth disse. "Eles devem ser uma espécie em extinção!"
Geryon acenou sua mão. "O ouro é ouro, querida. E você ainda não provou
os omeletes ".
"Isso não é certo", Grover murmurou, mas Geryon apenas manteve narração
turísticas.
"Agora, aqui", disse ele, "nós temos nosso cavalo-fogo, o qual você pode ter visto em seu caminho que são criados para a guerra, naturalmente. "
"Que guerra?" Perguntei.
Geryon sorriu torto. "Oh, a que esta vindo. E mais além, naturalmente, as nossas vacas vermelhas. "
Claro o suficiente, as centenas vacas cor de cereja foram aparecendo ao lado
da colina.
"Tantas", disse Grover.
"Sim, bem, Apollo está demasiado ocupado para vê-las", Geryon explicou, "para que ele venha comprar de nós. Temos raças vigorosas para atender a demanda.
"Para quê?"Perguntei.
Geryon levantou uma sobrancelha. "Carne! Exércitos têm de comer. "
" Você matar as vacas sagradas do deus do sol para hambúrguer de carne?"Grover disse. "Isso é contra as leis antigas!"
" Oh, não funcionou, sátiro. Eles são apenas animais. "
" Somente os animais!"
" Sim, e Apollo se importasse, eu tenho certeza que ele iria nos dizer."
"Se ele soubesse," Eu murmurei.
Nico na frente. "Eu não quero qualquer um desses, Geryon. Temos questões
para discutir, e isso não faz parte!"
"Tudo a seu tempo, Sr. di Angelo. "Olha aqui, algumas de minhas exóticas espécies".
O próximo campo foi rodeada de arame farpado. Toda a área foi cercada com escorpiões gigantes.
"Rancho Triplo G", disse, lembrando de repente. "Sua marca estava nas caixas no acampamento. Quintus pegou os escorpiões de você. "
"Quintus ..." Geryon pensou. "Cabelo cinza, musculoso, espadachim?"
"Sim".
"Nunca ouvi falar dele", disse Geryon. "Agora, aqui estão meus estábulos premiados! É preciso vê-los."
Eu não preciso vê-los, porque logo que nós estivermos dentro de trezentos
estaleiros, comecei a cheirar-los. Perto das margens de um rio verde tinha um curral o tamanho de um campo de futebol. O curral tinha um lado revestido. Sobre uma
moagem de cerca de cem cavalos estavam na imundície e quando digo imundice, eu digo cocô de cavalo. Foi a coisa mais repugnante que eu já tinha visto. Estava mais
sujo que o barco East River.
Mesmo Nico calado disse. "O que é isso?"
"Meus estábulos!"Geryon disse. "Bem, na verdade pertencem ao Aegas, mas nós cuidamos deles por uma pequena taxa mensal. Eles não são adoráveis? "
"Eles são nojentos!" Annabeth disse.
"Um monte de cocô", observou Tyson.
"Como você pode manter os animais desse jeito?" chorou Grover.
"Eles estão bem", disse Geryon. "Esses são cavalos comedores de carne, vê? Eles gostam dessas condições. "
"Além disso, é mais barato se você deixá-los sujos", Eurytion murmurou sobre seu chapéu.
"Silêncio!"Geryon bateu. "Tudo bem, talvez os estábulos são um pouco
sujos demais. Talvez eles façam causem quando o vento sopra o caminho errado. Mas e daí? Meus clientes continuam pagando bem. "
"Que clientes?" Eu exigi.
"Oh, você seria surpreendido quantas pessoas vão pagar para comer uma carne de cavalo. Eles fazem grandes quantias de lixo. Maravilhosa maneira de amedrontar
o seu inimigos. Grandes partes no aniversário! Nós alugá-los em todo o tempo. "
"Você é um monstro", Annabeth decidiu.
Geryon parou a vaca-móvel e virou-se para olhar para ela. "O faz você pensar isso? Foram os três corpos? "
"Você tem que deixar estes animais", disse Grover. "Não é certo!"
"E os clientes que vocês falam", Annabeth disse. "Você trabalha para
Cronos, não é? Você está fornecendo cavalos a seu exercito, os alimentos, seja o que eles precisam. "
Geryon encolheu os ombros, que foi muito estranho, pois ele tinha três conjuntos de ombros. Parecia que ele estava fazendo a onda toda sozinho. "Eu trabalho
para
alguém com ouro, jovenzinha. Eu sou um empresário. E eu lhes vendo o que eu tenho para oferecer. "
Ele saiu para fora da vaca-móvel e foi par os estábulos como se fosse desfrutar o ar fresco. Trata se de ter ido ver uma bela vista, com o rio e as árvores
e montes e todos, exceto para o pântano de imundície do cavalo.
Nico saiu de trás do carro e foi ate Geryon. O vaqueiro Eurytion olhou. Ele pegou o seu porrete e depois andou ate Nico.
"Eu vim aqui para o negócio, Geryon", disse Nico. "E você não me responde."
"Mmm." Geryon analisou um cacto. Seu braço esquerdo e atingiu mais um
arranhado em seu meio-peito. "Sim, você vai ter um negócio, tudo bem."
"O meu fantasma me disse que você poderia ajudar. Ele disse que poderia orientar-nos para a alma que precisamos. "
"Espere um segundo," eu disse. "Eu achava que era a alma que você queria."
Nico me olhava como se eu fosse louco. "Você? Por que eu quero você?
A alma de Bianca é digna de milhares de você! Agora, você pode me ajudar, Geryon,
ou não? "
"Oh, eu poderia imaginar", disse o fazendeiro. "Seu amigo fantasma, a propósito, onde está ele? "
Nico parecia desconfortável. "Ele não pode aparecer, em pleno dia. É difícil para ele. Mas ele está em algum lugar por aí ".
Geryon sorriu. "Tenho certeza. Minos gosta de desaparecer quando as coisas
ficam difícéis ... ".
"Minos?" Eu lembrava o homem que eu vi nos meus sonhos, com a coroa de ouro, a barba feita e os cruéis olhos. "Você quer dizer o rei mal? Esse é o fantasma
que tem o que lhe dado conselhos? "
"Não se meta, Percy!" Nico voltou-se para Geryon. "E o que você quer dizer sobre as coisas estão ficando difícéis? "
O homem de três corpos suspirou. "Bem, você vê, Nico - eu posso te ligar
Nico? "
"Não."
"Você vê, Nico, Luke Castellan está oferecendo muito dinheiro por meio-sangues. Especialmente poderosos meio-sangues. E eu tenho certeza que quando ele
descobrir seu segredinho, quem você realmente é, ele vai pagar muito, muito bem. "
Nico pegou sua espada, mas Eurytion bateu-a para fora de sua mão. Antes que eu pudesse levantar, Orthus avançou no meu peito e rosnou, suas faces a uma
polegada da minha.
"Gostaria que vocês ficassem no carro, todos vocês", advertiu Geryon. "Ou Orthus cortará sua garganta Sr. Jackson. Agora, Eurytion, você seria tão gentil,
segurando Nico. "
O vaqueiro cuspiu na grama. "Tenho que fazer isso?"
"Sim, idiota!"
Eurytion parecia aborrecido, mas ele envolto um enorme braço e Nico levantou-se como um lutador.
"Pegue a espada, também", disse Geryon com repugnância. "Não há nada que eu detesto mais que ferro do Styx ".
Eurytion pegou na espada, cuidando para não tocar na lâmina.
"Agora", disse Geryon alegremente, "nós tivemos a visita. Vamos voltar para o
almoço, e enviar uma mensagem-Íris aos nossos amigos do exercito Titã."
"Você é diabólico!" Annabeth chorou.
Geryon sorriu para ela. "Não se preocupe, minha cara. Depois de ter entregue o Sr. di Angelo, você e seus amigos podem ir. Eu não interfiro em missões.
Além disso,
fui bem pago para lhe dar passagem segura, que eu espero incluir o Sr. di Angelo.
"Pago por quem?" Annabeth disse. "O que você quer dizer?"
"Não importa, querida. Vamos para fora, vamos? "
"Espere!" Eu disse, e Orthus rosnou. Fiquei perfeitamente parado assim ele não iria rasgar a minha garganta. "Geryon, você disse que é um homem de negócios.
Façamos um negocio então. "
Geryon estreitaram os olhos. "Que tipo de negócio? Tem ouro? "
"Eu tenho algo melhor. Uma troca. "
"Mas Sr. Jackson, você não tem nada."
"Você poderia limpar os estábulos", sugeriu Eurytion inocente.
"Eu vou fazê-lo!" Eu disse. "Se eu falhar, você pode ficar com todos nós. Pode comerciar nós com Luke".
"Se os cavalos não comerem você", Geryon observou.
"De qualquer forma, você obtém os meus amigos", eu disse. "Mas se eu conseguir bons resultados, você tem que deixar todos nós ir, incluindo Nico. "
"Não!" Nico gritava. "Não me faça um favor, Percy. Eu não quero que a sua
ajuda! "
Geryon riu. "Percy Jackson, os estábulos não tem sido limpos em mil anos... mas é verdade que eu poderia ser capaz de vender todo o cocô retirado ".
"Então o que tem a perder?"
O fazendeiro hesitou. "Tudo bem, eu vou aceitar sua oferta, mas você tem que
faze-lo por completo. Se você falhar, seus amigos serão vendidos, e eu ficarei rico".
"Fechado".
Ele acenou. "Eu estou indo com seus amigos, de volta para o alojamento. Nós vamos esperar por você lá."
Eurytion me deu um olhar engraçado. Poderia ter sido simpatia. Ele assobiava,
e o cão pulou de cima de mim para Annabeth. Ela grunhiu. Eu, Tyson e Grover sabíamos que não devíamos tentar nada enquanto Annabeth estivesse como refém.
Eu saí do carro e fixei os olhos nela.
"Espero que saiba o que está fazendo", disse ela calmamente.
"Espero que sim, também."
Geryon ficou atrás do condutor roda. Nico e Eurytion foram para a
traseira.
"Pôr-do-sol", lembrou-me Geryon. "O mais tardar".
Ele riu para mim, mais uma vez, soou a sua buzina com som de berrante, e a vaca-móvel deslocou-se para fora da trilha.




NOVE - EU RECOLHO COCÔ

Eu perdi as esperanças quando vi os dentes dos cavalos.
Conforme chegava mais perto da cerca, tampei meu nariz com a camiseta para bloquear o cheiro. Um garanhão andou pelo esterco e relinchou bravo para mim.
Tentei falar com ele na minha mente. Eu posso fazer isso com a maioria dos cavalos.
Oi, eu falei. Eu vou limpar seu estábulo. Não será demais?
Sim! Disse o cavalo. Venha para dentro. Comer você! Delícia de meio-sangue!
Mas eu sou filho de Poseidon, eu protestei. Ele criou os cavalos.
Geralmente isso me dá tratamento VIP no mundo equino, mas não desta vez.
Sim! Disse o cavalo entusiasticamente. Poseidon vem também! Comeremos os dois! Frutos do mar!
Frutos do mar! Os outros cavalos concordaram enquanto andavam no esterco. Moscas zumbiam por toda parte e o calor do dia não melhorava o cheiro. Eu tive uma ideia,
pois me lembrava de como Hércules havia feito. Ele abriu caminho para que um rio passasse no estábulo e os tirasse do caminho. Calculei que talvez poderia controlar
a água, mas se eu não conseguisse chegar perto dos cavalos sem ser comido, eu tinha um problema. E o rio estava colina abaixo dos estábulos, mais longe do que eu
tinha consciência, quase um quilômetro de distância. O problema do cocô parecia bem maior de perto. Peguei uma pá enferrujada e joguei um pouco pra fora da cerca.
Ótimo. Apenas mais quatro bilhões de pás para terminar.
O sol já estava baixando. Eu tinha no máximo algumas horas. Decidi que o rio era minha única esperança. Pelo menos seria mais fácil pensar na margem do rio do
que ali. Eu comecei a descer a colina.

* * *

Quando cheguei no rio, encontrei uma garota esperando por mim. Ela usava jeans, uma camiseta verde, e seu longo cabelo marrom estava trançado com algas do rio.
Ela tinha um olhar duro. Seus braços estavam cruzados.
"Ah não, você não vai", ela disse.
Eu a encarei. "Você é uma náiade?"
Ela girou os olhos. "É claro!".
"Mas você fala inglês. E você está fora da água".
"Ué, vc acha que não podemos agir como humanos se quisermos?".
Eu nunca tinha pensado sobre isso. Eu meio que me senti burro, contudo, pois sempre vi muitas náiades no Acampamento, mas elas nunca fizeram nada além de dar
risadinhas e acenar das do fundo do lago.
"Olha", eu disse. "Eu só vim pedir-"
"Eu sei quem você é", ela disse. "E eu sei o que você quer. E a resposta é não" Não vou deixar usarem meu rio de novo para lavar aquele estábulo imundo!".
"Mas-"
"Ah, me poupe, garoto dos oceanos. Vocês do tipo de deuses do oceano sempre acham que são muuuuuito mais importandes do que um pequeno rio, não? Deixa eu falar,
esta náiade não vai se deixar levar só por que seu pai é Poseidon. Aqui é água doce, senhor. O último cara que me pediu esse favor - oh, e ele era bem mais atraente
que você, aliás - me convenceu, e foi o pior erro que eu já cometi! Você faz ideia do que aquele monte de estrume faz com o meu ecossistema? Meus peixes morrerão.
Eu nunca terei tantas plantas. Ficarei doente por anos. NÃO OBRIGADA!".
O jeito que ela falara me lembrou minha amiga mortal, Rachel Elizabeth Dare - como se ela estivesse me batendo com as palavras. Eu não podia culpar a náiade.
Agora que pensei sobre isso, eu ficaria furioso se jogassem quatro toneladas de merda em casa. Mas mesmo assim...
"Meus amigos estão em perigo" disse a ela.
"Ah, que pena. Mas não é problema meu. E você não vai arruinar meu rio."
Ela parecia pronta para lutar. Seus punhos estavam serrados, mas eu percebi um vacilo em sua voz. De repende percebi que apesar de sua atitude irritada, ela tinha
medo de mim. Ela provavelmente pensou que eu lutaria contra ela pelo controle do rio e preocupava a ideia de que ela perdesse.
O pensamento me entristeceu. Eu me senti um valentão, um filho de Poseidon usufruindo de sua influência por aí.
Eu sentei num toco de árvore. "Tá bem, você venceu".
Ela pareceu surpresa. "Sério?".
"Eu não vou lutar contra você, é o seu rio".
Ela relaxou os ombros. "Oh. Oh, que bom. Digo, que bom pra você".
"Mas meus amigos e eu seremos vendidos aos Titãs se eu não limpar aquele estábulo até o pôr do sol. E eu não faço ideia de como fazê-lo."
O rio borbulhou alegremente. Uma cobra deslizou submergiu. Finalmente a náiade suspirou.
"Vou lhe contar um segredinho, filho do deus do mar. Pegue um pouco de lama".
"O quê?".
"Você me ouviu".
Agachei-me e peguei um punhado de lama do Texas. Estava seca e preta e manchada com pedaços de rochas brancas... Não, alguma coisa que não rochas.
"São conchas". A náiade disse. "Conchas marinhas petrificadas. Milhões de anos atrás, antes mesmo do tempo dos deuses, quando apenas Gaea e Ouranos reinavam,
esta terra estava embaixo da água. Era parte do mar".
Então eu vi o que ela quis dizer. Havia pequenos pedaços de antigos ouriços do mar na minha mão, conchas de moluscos. Até o limo das rochas continha impressões
de conchas marinhas embutidas nele.
"Okay", eu disse "Que bem isso me traz?".
"Você não é tão diferente de mim, semideus. Mesmo quando estou fora d'água, a água está em mim. É minha fonte de vida". Ela deu um passo atrás, pôs um pé na água
e sorriu. "Espero que você encontre um meio de resgatar seus amigos".
E com isso ela se transformou em água e se misturou com o rio.

* * *

O sol tocava as colinas quando cheguei de volta ao estábulo. Alguém deve ter passado lá e alimentado os cavalos, pois eles estavam dilacerando carcaça animal.
Não pude dizer que tipo de animal era, e eu realmente não queria saber. Se podia ficar mais nojento, cinquenta cavalos devorando carne crua deram conta de faze-lo.
Frutos do mar! Um deles pensou quando me viu. Chega mais! Ainda estamos com fome!
O que eu deveria fazer? Eu não podia usar o rio. E o fato de que este lugar estava debaixo da água um milhão de anos atrás não me ajudava muito agora. Eu olhei
para a pequena concha calcificada na minha mão, depois para o monte de merda.
Frustrado, atirei a concha no cocô. Estava para virar de costas para o cavalo quando ouvi um barulho.
PFFFFFFFFFT! Como um balão vazando.
Eu olhei de volta onde eu havia atirado a concha. Um pequeno fio de água escorria para fora do estrume.
"Não creio" balbuciei.
Hesitando, dei um passo à frente e falei "Fique maior" para a água.
SPOOOOOOSH!
A água alcançou três pés no ar e continuou a borbulhar. Era impossível, mas estava lá. Dois cavalos vieram olhar o que acontecia. Um pôs a boca na fonte e voltou.
Eca! Ele disse. Salgado!
Era água salgada no meio do rancho do Texas. Peguei um pouco de lama e recolhi algumas conchas. Não sabia exatamente o que eu estava fazendo, mas corri pelo estábulo
atirando conchas nas pilhas de bosta. Onde quer que caíssem, uma fonte de água salgada aparecia.
Pare! Os cavalos choravam. Carne é bom! Banhos são ruim!
Então percebi que a água não estava escorrendo para fora do estábulo e descendo a colina como deveria fazer. Elas simplesmente efervesciam em volta da fonte e
afundavam no chão, levando o estrume consigo. O cocô de cavalo dissolvia na água salgada, deixando a velha lama comum.
"Mais"! Eu gritei.
Havia uma sensação estranha nas minhas entranhas, e as fontes de água explodiram como o maior lava jato do mundo. Água salgada disparou a 20 pés de altura, os
cavalos enlouqueceram correndo de um lado para o outro conforme os jatos os levavam a outras direções. Montanhas de cocô começaram a derreter como gelo.
A sensação estranha começou a piorar, até a doer, mas havia algo incrível em ver toda aquela água salgada. Eu fiz aquilo. Eu trouxe o oceano àquela vertente.
Pare, senhor! Um cavalo chorou. Pare, por favor.
A água corria em todo lugar agora. Os cavalos estavam molhados, alguns em pânico e escorregando na lama. Não havia mais cocô, toneladas dele dissolvidos na terra,
e a água agora estava começando a se acalmar, sair do estábulo, formando uma centena de pequenos fluxos de água até o rio.
"Pare", eu disse pra água.
Nada aconteceu. A dor nas entranhas estava aumentando. Seu eu não parasse os fluxos logo, a água salgada iria entrar no rio e envenenar as plantas e peixes.
"Pare!", eu concentrei todo o meu poder em controlar a força do mar.
De repente os fluxos pararam. Eu caí de joelhos, exausto. À minha frente estava um estábulo brilhando de limpo, um campo de lama salgada e cinquenta cavalos que
haviam sido lavados tão bem que seus couros cintilavam. Até os pedaços de carne entre seus dentes haviam sido lavados.
Nós não vamos come-lo, senhor, eles se lamentaram. Chega de banhos salgados.
"Com uma condição", eu disse. "Vocês só comerão o que lhes forem servido por seus donos a partir de hoje. Nada de pessoas. Ou eu voltarei com mais conchas do
mar".
Eles relincharam e me fizeram um monte de promessas de que seriam bons cavalos carnívoros agora, mas eu não fiquei para conversar. Virei-me e corri a toda velocidade
em direção a casa do rancho.

* * *

Eu senti cheiro de churrasco antes de alcançar a casa, o que me deixou mais louco, pois eu realmente adoro churrasco.
O lugar estava preparado para uma festa. Serpentina e balões enfeitavam a grade. Geryon estava sacudindo hambúrgueres num grande fogo de churrasco feito por óleo
de tambor. Eurytion descansava numa mesa de picnic, cortando as unhas com uma faca. O cachorro de duas cabeças chorava pelos hambúrgueres e pela costela fritando
na grelha. Então eu vi meus amigos: Tyson, Grover, Annabeth, todos jogados num canto, amarrados como animais de rodeio, amordaçados e com os pulsos e calcanhares
amarrados juntos.
"Solte-os!", eu gritei, ainda sem fôlego da corrida. "Eu limpei o estábulo!".
Geryon virou. Ele usava um avental em cada peito, com uma palavra em cada, formando BEIJE - O - CHEFE. "Já, agora? Como conseguiu?".
Estava impaciente, mas contei a ele.
Ele assentiu aprovando. "Muito engenhoso. Eu ficaria melhor se você tivesse envenenado aquela náiade maldita. Mas tudo bem".
"Solte meus amigos", disse. "Tínhamos um acordo".
"Ah, eu estive pensando sobre isso. O problema e, se eu os soltar, não me pagam".
"Você prometeu!".
Tsck, tsck fez Geryon. "Mas você me fez jurar pelo rio Styx? Não, não fez. Então não é válido. Quando se trata de negócios, criança, você deve sempre fazer um
juramento válido".
Puxei minha espada. Orthus rugiu. Uma das cabeças abaixou-se até perto de Grover e pôs os dentes à mostra.
"Eurytion", falou Geryon. "O garoto está começando a me encher. Mate-o".
Eurytion me estudou. Eu não gostava das chances que tinha contra ele e seu bando.
"Mate-o você mesmo", Eurytion falou.
Geryon franziu a sobrancelha. "Desculpe?".
"Você me ouviu", Eurytion resmungou. "Você continua me mandando fazer o trabalho sujo. Você se mete em brigas sem motivo, e estou cansado de ficar morrendo por
você. Quer mata-lo, faça você mesmo".
Era a coisa mais anti-Ares que eu já havia ouvido de um filho de Ares.
Geryon largou sua espátula. "Você ousa me desafiar? Eu devia despedi-lo agora mesmo!".
"E quem cuidaria do seu rebanho? Orthus, senta".
O cachorro parou imediatamente de grunhir contra Grover e foi se sentar aos pés do dono.
"Certo!", Geryon rosnou. "Cuido de você depois, depois que o garoto estiver morto".
Ele pegou duas facas entalhadas e disparou contra mim. Desviei uma com minha espada e a outra foi parar na mesa de picnic, a uma polegada da mão de Eurytion.
Fui ao ataque. Geryon defendeu meu primeiro ataque com um alicate aquecido, e estocou com um garfão de churrasco. Entrei em sua segunda investida e o apunhalei
no peito do meio.
"Aghhh!", ele caiu de joelhos. Eu esperei que ele se desintegrasse, mas ele apenas fez uma careta e começou a se levantar. A ferida sob seu avental começou a
cicatrizar.
"Bela tentativa filho", ele disse. "O negócio é, eu tenho três corações. O perfeito sistema de recuperação".
Ele virou a churrasqueira e brasas espirraram para todos os lados. Um passou próximo da cabeça de Annabeth, e ela soltou um grito abafado. Tyson lutou contra
suas cordas, mas mesmo sua força não conseguiu rompê-las. Eu tinha que acabar com essa luta antes que meus amigos se machucassem.
Golpeei Geryon em seu peito da esquerda, mas ele apenas riu. Bati em seu estômago da direita. Não deu. Eu parecia estar atacando um ursinho de pelúcia devido
â reação dele.
Três corações. O sistema perfeito de recuperação. Atacando um de cada vez não resolveria...
Eu corri para a casa.
"Covarde!", ele gritou. "Volte e morre descentemente!".
A sala de estar era decorada com coisas horrendas - veados empalhados, cabeças de dragão, um estojo de armas, um mostruário de espadas, e um arco com uma aljava.
Geryon atirou seu garfão de churrasco, e ele bateu na parede perto da minha cabeça. Ele jogou duas espadas do mostruário. "Sua cabeça vai parar ali, Jackson!
Perto da do urso pardo!".
Eu era o pior arqueiro do mundo. Eu não conseguia acertar os alvos no acampamento, tampouco um olho de touro. Mas eu não tinha escolha. Não podia vencer esta
luta com uma espada. Rezei para Atenas e Apolo, os gêmeos arqueiros, esperando que tivessem piedade de meu disparo. Por favor, gente. Apenas um disparo. Por favor.
Encaixei a flecha.
Geryon riu. "Seu imbecil! Uma flecha não é melhor do que uma espada".
Ele ergueu suas espadas e atacou. Mergulhei para o lado. Antes que ele pudesse se virar, eu disparei do lado de seu peito esquerdo. Eu ouvi THUMP, THUMP, THUMP,
conforme a flecha passava por seus troncos e saia voando do outro lado, cravando-se na cabeça do urso pardo.
Geryon largou suas espadas. Ele se virou e me encarou. "Você não pode atirar. Eles me disseram que você não podia..."
Seu rosto tornou-se uma sombra verde e doentia. Ele caiu de joelhos e começou a desintegrar-se em areia, até que o que sobrou eram três aventais de cozinheiro
e um par de botas supergrandes.

* * *

Eu desamarrei meus amigos. Eurytion não tentou me impedir. Depois eu armei a churrasqueira e joguei algumas carnes nas chamas como uma oferenda à Ártemis e Apolo.
"Valeu, caras", eu disse. "Eu lhes devo uma".
Trovejou alto no céu, então eu pensei que a carne estava boa.
"Yay pro Percy!", disse Tyson.
"Podemos amarrar esse vaqueiro agora?", disse Nico.
"É", Grover concordou. "E aquele cão quase me matou".
Eu olhei para Eurytion e ele ainda estava sentado e relaxado na mesa de picnic. Orthus estava com ambas as cabeças apoiadas nos joelhos do vaqueiro.
"Quanto vai demorar para Geryon se reformar?", Nico perguntou.
Eurytion deu de ombros. "Cem anos? Ele não é daqueles que se reformam rápido, graças aos deuses. Vocês me fizeram um favor".
"Você disse que já morreu por ele antes", eu lembrei. "Como?".
"Eu tenho trabalhado para aquele cara por milhares de anos. Comecei como um meio-sangue comum, mas aceitei a imortalidade quando meu pai a ofereceu. Pior erro
da minha vida. Agora estou preso neste rancho. Não posso sair. Não posso desistir. Apenas cuido das vacas e luto as lutas de Geryon. Estamos meio que amarrados um
ao outro".
"Talvez você possa mudar as coisas".
Eurytion estreitou os olhos. "Como?".
"Seja bom com os animais. Cuide deles. Pare de vendê-los por comida. E pare de negociar com os Titãs".
Eurytion pensou sobre isso. "Isso seria legal".
"Traga os animais para o seu lado, e eles ajudar-te-ão. E talvez quando Geryon voltar ele trabalhe para você".
Eurytion sorriu largamente. "Agora, assim eu conseguiria viver".
"Você não vai tentar nos impedir de sair?".
"Imagina, não".
Annabeth esfregou seus pulsos moídos. Ela ainda olhava Eurytion suspeitamente. "Seu chefe disse que alguém pagou para nos deixar passar. Quem?".
O vaqueiro deu de ombros. "Talvez ele tenha dito para enganar vocês".
"E os Titãs?", eu perguntei. "Vocês já os informaram sobre Nico?".
"Não. Geryon estava esperando até o fim do churrasco. Eles não sabem sobre ele".
Nico olhava fixo para mim. Eu não sabia muito bem o que fazer com ele. Duvidava que ele concordaria em vir conosco. Por outro lado, não poderia deixá-lo vagueando
por aí.
"Você poderia esperar aqui enquanto terminamos nossa missão", eu lhe falei. "Seria seguro".
"Seguro?", Nico disse. "Por quê você se importa se eu estou seguro? Você deixou que minha irmã morresse".
"Nico", Annabeth disse, "não foi culpa do Percy. E Geryon não estava mentindo sobre Kronos querer capturar você. Se ele soubesse quem você é, ele faria de tudo
para tê-lo do lado dele".
"Eu não estou do lado de ninguém. E não tenho medo".
"Você deveria", Annabeth disse, "sua irmã não quereria-".
"Se você se importasse com ela me ajudaria a trazê-la de volta".
"Uma alma por outra?", eu perguntei.
"Sim!".
"Mas se você não quer minha alma-".
"Eu não estou explicando nada pra você". Ele piscou lágrimas para fora de seus olhos."E eu vou trazê-la de volta!".
"Bianca não quereria ser trazida de volta", eu disse. "Não desse jeito".
"Você não a conhecia!", ele gritou. "Como você sabe o que ela quereria?".
Eu olhei para as chamas do braseiro na churrasqueira. Eu pensei na frase da profecia de Annabeth. Você deve erguer-se ou cair pelas mãos do rei fantasma. Tinha
que ser Minos, e eu tinha que convencer Nico a não ouvi-lo. "Vamos perguntar para a Bianca".
O céu pareceu escurecer de repente.
"Eu tentei", disse Nico miseravelmente. "Ela não vai responder".
"Tente de novo. Eu sinto que ela vai responder comigo aqui".
"Por quê ela iria?".
"Pois ela tem me enviado mensagens de Íris", eu disse com certeza repentina. "Ela está tentando me avisar o que você está fazendo, para que eu possa protege-lo".
Nico balançou a cabeça. "Isto é impossível".
"Um jeito de descobrir. Você disse que não tinha medo". Eu me virei para Eurytion. "Nós vamos precisar de um buraco, como uma sepultura. E comida e bebida".
"Percy", Annabeth avisou. "Eu não acho que seja uma boa-"
"Ta bem", disse Nico. "Eu vou tentar".
Eurytion coçou a barba. "Há um buraco cavado para um tanque séptico. Nós poderíamos usa-lo. Ciclope, pegue meu cofre de gelo na cozinha. Espero que a morta goste
de cerveja".





























DEZ - NÓS JOGAMOS O GAME SHOW DA MORTE

Nós fomos ao lugar da invocação após tarde da noite, uns vinte passos em frente ao tanque séptico. O tanque era amarelo luminoso, com uma cara com um sorriso
em letras vermelhas pintado ao lado. Happy Flush Disposal CO. Aquele não era um bom humor para invocar mortos.
''Minos devia estar aqui agora''Disse Nico estressado ''é tarde da noite. ''Talvez ele tenha se perdido'' eu disse esperançoso.
Nico colocou cerveja e o churrasco dentro da cova, e começou a balbuciar em grego antigo. Imediatamente os insetos pararam de chiar. Em meu bolso o apito para
cachorros começou a ficar frio e assim praticamente congelou a parte de fora da minha perna.
''Faça ele parar''Tyson resmungou para mim, no que parte de mim concordou. Aquilo era surreal. O ar da noite era gelado e ameaçador. Mas antes de eu poder
dizer alguma coisa o primeiro espírito apareceu.
Uma nevoa surgiu sobre a terra e sombras começaram a transformar-se em uma forma humana, uma sombra azul vagueou para extremidade da cova e ajoelhou-se para
beber um gole.
''Pare-o'' Disse Nico. Momentaneamente parando o encanto ''Somente Bianca pode tomar''
Eu saquei Contracorrente. Os fantasmas recuaram com um coletivo assobio a vista do bronze celestial. Mas era tarde para o primeiro espírito, ele já havia
se materializado num homem barbudo com roupão branco. O circulo de ouro engrinaldou sua cabeça e mesmo em morte seus olhos mostravam malicia.
''Minos!'' Nico Disse ''O que você fez!''
''Minhas desculpas, Mestre, '' O fantasma disse embora não soasse muito arrependido.
''o sacrifício parecia tão bom, eu não pude resistir. Ele examinou suas próprias mãos e sorriu. '' É bom olhar para mim mesmo na minha forma sólida''.
''Você esta rompendo o ritual'' Nico protestou.
'' Fique-!''
Os espíritos dos mortos começaram a vislumbrar perigosamente a luz e Nico teve que começar a cantar novamente para fazê-los manter distância. ''Sim, faça direito
Mestre'' Minos disse com diversão. ''continue cantando, eu só vim te proteger desses mentirosos que enganariam você'' Ele se virou para mim como se eu fosse uma
amável barata'' Percy Jackson... meu,meu.os filhos de Poseidon não melhoraram com os passar dos séculos, melhoraram?
Eu queria lhe socar mais estava certo que meu punho passaria por sua cara ''Nós estamos procurando Bianca Di Angelo, ''Eu disse ''Antes que ela se perca''.
O fantasma riu''Eu entendi você depois de matar meu minotauro com suas próprias mãos, mas coisas piores o esperam no labirinto, você realmente acha que Dédalo
o ajudará?
Os outros espíritos começaram a se agitar. Annabeth puxou sua faca e me ajudou a manter os espíritos na cova. Grover ficou tão nervoso que se agarrou ao ombro
de Tyson.
''Dédalo odeia vocês meio sangues. Minos advertiu '' você não pode confiar nele. Ele além de velho é astuto. Ele esta amargo de culpa do assassinato e é amaldiçoado
pelos deuses
''Culpado pelo assassinato'' Eu perguntei. ''quem foi morto?''
''Não mude de assunto!'' O fantasma rosnou ''Você esta impedindo Nico, você tenta o convencer a desistir de sua meta. Eu o faria um lord!''

''Basta Minos'' Nico Ordenou.
O fantasma zombou ''Mestre, eles são seus inimigos. Você não deve escutá-los! Deixe-me lhe proteger, irei transformar as mentes deles em uma loucura como eu
fiz com os outros.
''Outros?'' Annabeth ofegou. ''Você fez aquilo com Chris Rodriguez? Então era você?''
''O Labirinto é minha propriedade, '' o fantasma disse, ''Não de Dédalus! Esses que merecem a loucura.''
''Vai embora, Minos!'' Nico exigiu. ''Eu quero ver minha irmã!''
O fantasma mordeu os lábios com raiva. '' como quiser mestre. Mas você não pode confiar nesses heróis''
Com isso ele desapareceu em névoa.
Os outros espíritos avançaram adiante, mas eu e Annabeth os contivemos.
''Bianca apareça!''Nico gritou. Ele começou a cantar rápido, e os espíritos.
''A qualquer hora agora'' Murmurou Grover.
''Então uma luz prateada chamejou entre os espíritos, o que mais parecia luminoso e mais forte que os outros se aproximou, algo me disse que deixasse aquilo
passar, aquilo bebeu um gole da cova, e tomou a forma de Bianca Di Ângelo. Nico estava encantado. Eu abaixei minha espada. E os outros espíritos começaram a se aglomerar,
mas Bianca ergueu seus braços e eles se retiraram entre as arvores.
''Olá Percy, '' Ela disse.
Ela olhou parecendo como se estivesse viva, um boné se fixou nela lateralmente, cabelo preto grosso, olhos escuros, pele azeitonada como o irmão dela e uma
jaqueta prateada, o equipamento das caçadoras de Ártemis, um arco foi atirado em cima de seus ombros ela sorriu e sua forma chamejou.
''Bianca'' Eu disse. Minha voz era grossa, me sentia culpado pela morte dela como há um tempo, mais vendo ela na minha frente à culpa por sua morte estava
viva de novo, cinco vezes pior. Eu me lembro de ter procurado nos destroços do guerreiro de bronze, o qual ela tinha sacrificado a vida mais não achei nada.
''Eu sinto muito'' Eu disse.
''Você não me deve pedir desculpas Percy, eu fiz minha escolha, não lamento isso''
''Bianca!'' Nico tropeçou como se há pouco tivesse saído de uma ofuscação.
Ela se virou para seu irmão, Sua expressão estava triste como se ela tivesse sido drenada naquele momento. ''Olá Nico. Você ficou tão alto. ''
''Porque você não me respondeu mais cedo? Ele chorou. ''Eu venho tentando há meses!''
''Eu tinha esperanças que você se tocasse''
''me tocar?'' Ele soou com o coração partido. ''como você pode dizer isso? ''Eu estou tentando salvar você!''
''Você não pode Nico. Não faça isso. Percy estava certo. ''
''Não! Ele deixou você morrer! Ele não é seu amigo. ''
Bianca levantou a mão como fosse tocar o rosto do irmão, mas ela era feita de névoa.
''Você deve me ouvir. ''ela disse''Guardar rancor para as crianças de Hades é um erro fatal. Você deve perdoá-lo, me prometa isso. ''
''Eu não posso. Nunca. ''
''Percy estava bem preocupado com você, Nico. Ele pode ajudar você, Nico, eu o deixei ver o que você se tornou, com esperança dele achar você. ''
''Então era você'' Eu disse. ''você enviou as mensagens de arco íris. ''
''Porque você esta ajudando a ele não a mim? Nico resmungou. ''Não é justo!''
''você esta perto da verdade agora, '' Bianca disse a ele. ''Não é com Percy que você deve ficar nervoso, mas sim comigo. ''
''Não. ''
''você está nervoso porque eu deixei você e me tornei uma caçadora de Ártemis. Você está nervoso porque eu morri e o deixei sozinho. Desculpe-me por isso,
Nico. Eu realmente sinto. Mas você deve superar a raiva. E parar de culpar o Percy por minhas escolhas, isso vai causar sua destruição.
''Eu não me preocupo com Cronos, '' Nico disse. ''Eu quero minha irmã de volta. ''
''você não pode ter isso Nico. ''Bianca disse a ele gentilmente.
''Eu sou filho de Hades! Eu posso''
''Não tente, '' Ela disse. ''Se você me ama não. ''
A voz dela parou. Os espíritos começaram a se agitar de novo ao redor deles. As sombras sussurravam PERIGO!
'' O Tártaro mexe-se''Bianca disse. ''O seu poder chama a atenção de Cronos. Os mortos precisam retornar ao submundo. Não é seguro permanecermos. ''
''Espere, ''Nico disse. ''Por favor -''
''Adeus, Nico'' Bianca disse. ''Eu te amo. Se lembre do que eu disse. ''
''Os fantasmas desapareceram, deixando nos sozinhos com a cova e o tanque séptico Happy Flush e uma gelada noite de lua cheia.
Nenhum de nós estava ansioso para viajar esta noite, então decidimos que era mais útil viajar de manha. Grover e eu colocamos ou colchões na sala de Geryon
que estava mais confortável que um saco de dormir no labirinto, mais eles não melhoravam meus pesadelos.
Eu sonhei que estava com Luke. Andando por um palácio escuro no monte Tam. Era um palácio real agora não a ilusão meio-terminada que eu vi inverno passado.
Fogo verde queimava em braseiros ao longo das paredes. O piso era feito de mármore preto. Um vento frio soprou sobre o corredor e sobre nós pelo teto aberto, o céu
girou com nuvens de tempestade cinzas.
Luke estava vestido para batalha. Estava usando calça camuflada, uma camiseta branca, e um peitoral de bronze, mas a espada dele Mordecosta não estava ao seu
lado, somente a bainha vazia. Nós caminhamos até um grande pátio onde dúzias de guerreiros e dracnae estavam se preparando para a guerra. Quando eles o viram os
semideuses chamaram a atenção. Eles bateram suas espadas nos escudos.
''é a hora senhor?'' A dracnae perguntou
''Logo'' Luke prometeu. ''Continue seu trabalho''
''Meu senhor''Disse uma voz atrás dele. Kelly a empusa sorriu para ele. Ela usava um vestido azul esta noite e parecia terrivelmente bonita, Seus olhos tremeluziam
às vezes marrom às vezes vermelho. Seu cabelo trançado para trás parecia querer pegar a luz das tochas, como se quisesse entrar em chamas. Meu coração deu um pulo,
eu esperava que Kelly me visse, e me colocasse pra fora do meu sonho como ela fez antes, mas dessa vez ela não me viu.
''você tem um visitante'' ela disse a Luke. Ela deu um passo para dentro e Luke ficou atordoado com o que viu.
O monstro Kampê apareceu sobre ele. Suas cobras assobiaram ao redor de suas pernas. As cabeças de animais cresciam sobre sua cintura, suas espadas pingavam
veneno e suas asas de morcego estavam estendidas, elas estavam ocupando todo o corredor
''você'' a voz de Luke saiu trêmula ''Eu disse para você ficar em Alcatraz''
As pálpebras de Kampê piscaram lateralmente, ele falou dentro daquele idioma estranho, mas desta vez eu entendi em algum lugar da minha mente.
''Eu vim para servir. Me de minha vingança. ''
''você era guarda, '' Luke disse ''Seu trabalho-''
''Eu quero tê-los mortos. Nenhum deles escapará de mim''
Luke hesitou. Uma linha de suor gotejou ao lado de seu rosto. ''Muito bem'' Ele disse ''você irá conosco, você pode levar o fio de Adriane, é um cargo de grande
honra. ''
Kampê assoprou as estrelas. Ela embainhou suas espadas e se virou enquanto destruía o chão com suas enormes pernas de dragão.
''Nós devíamos tê-lo deixado no Tártaro'' Luke resmungou ''Ele também é muito caótico e poderoso''
Kelly riu suavemente ''você não devia temer o poder Luke. Use-o''
''Quanto mais cedo partimos melhor'' Luke disse ''Eu quero acabar com isso logo''
''Awww' enquanto passava um dedo abaixo do braço dele ''você acha desagradável destruir seu velho acampamento?''
''Eu não disse isso''
''Você esta voltando atrás sobre sua ah, parte especial. ''
O rosto de Luke ficou petrificado. ''Eu sei meu dever''
''Isso é bom'' disse o monstro ''Nossa força de ataque é suficiente, você acha? Ou devo chamar a mãe Hecate para ajudar?''
''Nós temos mais que suficiente, '' Disse Luke severamente ''a transação esta quase completa. Agora preciso negociar passagem livre pela arena ''
''Mmmm'' Kelly disse ''Isso deve ser interessante eu odiaria ver sua cabeça bonita fincada em um espeto no caso de você falhar. ''
''Eu não falharei. E você, monstro não tem outras coisas para fazer?''
''Oh, sim'' Kelly sorriu '' Estou levando desespero para seus inimigos nesse momento''
Ela virou seus olhos minha direção expondo suas garras para mim e rasgando meu sonho.
De repente eu estava em um lugar diferente. Eu me levantei no topo de uma torre de pedra, enquanto tentava esquecer o precipício rochoso e o oceano abaixo.
O velho Dédalus estava corcunda em cima da mesa de trabalho enquanto lutava com um amável instrumento de navegação, parecido com um
enorme compasso. Ele parecia anos mais velhos do que eu durarei um dia. Ele se inclinou e suas mãos eram ásperas. Ele amaldiçoou em grego antigo e estava piscando
como se não pudesse ver o seu trabalho, embora fosse um dia ensolarado.
''Tio!'' a voz chamou.
Um menino sorridente com a idade de Nico veio, saltitando com uma caixa de madeira.
''Olá Perdix, ''O homem velho falou, Embora o seu tom soasse frio. ''Terminou seu projeto já''
''Sim tio. Foi fácil!
Dédalus fez uma carranca. ''Fácil?O problema de mover água para cima sem uma bomba era fácil?''
''Oh sim! Olhe!
O menino esvaziou sua caixa e revistou no meio de suas tranqueiras. Ele subiu
com uma tira de papiro e mostrou para o velho inventor alguns diagramas e
notas. Eles não fizeram sentido a mim, mas Dédalus acenou com a cabeça invejosamente.
''Eu vi nada mal.''
''O rei amou isso'' Perdiz disse. ''Ele disse que eu poderia ser mais inteligente que você!''
''Ele falou isso?''
''Mas eu não acreditei nisso. Eu sou tão agradecido a mãe por ter me enviado para estudar com você, eu quero saber tudo o que você sabe.
''Sim, '' Dédalo murmurou. ''Assim quando eu morrer, você pode tomar meu lugar não é?''
Os olhos do garoto alargaram. '' Oh não, Tio! Mas eu havia pensado... Porque os homens têm que morrer, de alguma maneira?''
O inventor fez uma carranca. ''é assim que as coisas funcionam tudo morre menos os deuses. ''
''Mas por quê? O menino insistiu ''E se você pudesse capturar a vida, a alma e colocar em outra forma? Bem você me falou sobre seus átomos, Tio. Touros, águias,
dragões, cavalos de bronze. Porque não uma forma humana de bronze?''
''Não, garoto, '' disse nitidamente. ''você é ingênuo. Essas coisas são impossíveis. ''
''Eu não penso assim'' Perdix insistiu. ''Com o uso de um pouco de mágica''
''Mágica? Bah!''
''Sim tio! Com magia e mecânica junto com um pequeno trabalho, eu
poderia fazer um corpo que pareceria precisamente humano, só melhor. Eu fiz
algumas notas.''
Ele deu ao homem um rolo de papel grosso. Dédalus desfraldou aquilo. Ele leu por um longo tempo. ''
Os olhos dele estreitaram. Ele olhou para o menino, e então enrolou o rolo de papel e limpou sua garganta. ''isso nunca funcionaria, meu garoto. Quando você
for velho você entenderá. ''
''Eu posso consertar aquele astrolábio, então, Tio? Suas juntas estão inchando novamente?"
''As mandíbulas do velho apertaram. ''Não, Muito obrigado. Porque você não corre um pouco por ai''
''Perdix pareceu não notar a raiva que o homem velho sentia. Ele pegou um besouro de bronze de suas coisas e correu até a extremidade da torre. Um peitoril
baixo tocou a beira, vindo só até os joelhos do menino. O vento era forte.
''saia daí'' Eu quis falar más minhas voz não saia.
''Perdix lançou o besouro para cima que abriu suas asas, que zumbiram e saiu voando para o céu.
''Mais esperto que eu, ''Dédalus murmurou baixo, para o garoto ouvir.
''É verdade que seu filho morreu voando tio? Eu ouvi que você fez asas para ele só que elas falharam''
''As mãos de Dédalus se apertaram ''tomar meu lugar, '' Ele murmurou.
O vento chicoteava ao redor do menino, arrastando suas roupas, fazendo ondular seus cabelos,
''você gosta de voar, '' Perdix disse. ''Eu farei minhas próprias asas que não falharão. Você acha que eu consigo?''
talvez fosse um sonho dentro deu um sonho, mas de repente eu imaginei o deus Janus vislumbrando o ar perto de Dédalus,sorrindo como ele estivesse lançado uma
chave prateada de mão a mão. Escolha,
O velho inventor sussurrou. Escolha.
Dédalus Pegou um objeto das coisas do menino. Os olhos do inventor estavam vermelhos de raiva.
''Perdix '' Ele gritou. ''Pegue!''
Ele jogou um besouro de bronze para o menino. Encantado Perdix tentou pegar, mas o lançamento era muito longo. O besouro voou em direção ao céu, Perdix não
o alcançou estava muito longe. E o vento o pegou, mas de alguma maneira ele conseguiu agarrar a beira da torre com os dedos quando ele caia.
''Tio! Ele gritou ''Me ajude!''
O rosto do homem velho era uma máscara. Ele não se moveu de onde estava.
''vá em frente Perdix'' Dédalus disse suavemente. ''talvez você possa fazer suas asas mas seja rápido sobre isso.
'Tio! O menino gritou e perdeu o apoio caindo. Ele caiu sobre o mar. Por um momento houve um silêncio mortal. O deus Janus chamejou e desapareceu.
Um trovão se chocou com o céu. Uma voz dura de mulher ecoou no céu.
''você vai pagar um preço por isso Dédalus.
Eu já ouvi essa voz antes. Era a voz da mãe de Annabeth: Athena.
Dédalus fez carranca para cima. ''Eu sempre a honrei mãe. Eu sacrifiquei tudo para viver do seu modo. ''
'Ainda que o menino tivesse minha bênção também. E você o matou. por isso, você deve pagar.''
''Eu paguei e paguei, ''!'' Dédalus rosnou. ''Eu perdi tudo. Eu sofrerei no submundo, sem nenhuma dúvida. Mas nesse momento.... ''
'Ele roubou o rolo de papel do menino, estudou por um momento e colocou em baixo da manga.
''você não entende''. Athena disse friamente. ''Você pagará agora e para sempre. ''
Dédalus se desmoronou em agonia. Eu sentia o que ele sentia. Uma dor que queimava e se fechava ao redor de seu pescoço como um colarinho muito quente que cortou
minha respiração, fazendo tudo ficar preto.
Eu acordei na escuridão, minhas mãos apertando minha garganta.
''Percy''Grover chamou do outro sofá. ''você está bem?''
Eu firmei minha respiração. Não sabia como responder.
Eu acabei de ver o cara que agente estava procurando Dédalus matar o próprio sobrinho. Como eu poderia dizer ok? A televisão ligou, uma luz azul chamejou pelo
quarto. Que... Que horas são agora?'' Eu enrolei.
''Duas da manhã. ''Grover disse. ''Eu não consegui dormir. Eu estava assistindo o Nature Channel. ''Ele choramingou ''Eu perdi a Juniper. ''
Eu retirei o meu sonho para fora de meus olhos. ''Sim bem... Nós no veremos novamente pela manhã.
Grover tremeu a cabeça tristemente. ''Sabe que dia é hoje Percy? Eu vi a pouco na tv. É 13 de junho faz sete dias que deixamos o acampamento.
''O que?'' eu disse. ''Isso não pode estar certo. ''
''O tempo passa rápido no labirinto, '' Grover me lembrou ''A primeira vez que você e Annabeth desceram vocês disseram que se passaram alguns minutos, certo?
Mas se passaram algumas horas. ''
''Oh, '' Eu disse ''Certo. ''
Então caiu a ficha para mim o que ele estava dizendo, e então senti minha garganta queimar novamente ''seu prazo final com o conselho dos Sátiros Anciões.
Grover colocou o controle remoto na boca e o mastigou, foi o fim do controle.
''Eu estou fora do tempo'', Ele disse com um bocado de plástico na boca ''Eles iram tirar minha licença de buscador. Nunca me permitirão sair novamente''.
''Nós iremos falar com eles, '' Eu prometi. ''Faremos eles te darem mais tempo''
Grover engoliu. ''Eles nunca deixarão por isso. O mundo esta morrendo Percy.
O que eu vou fazer a partir de agora, salvar os animais do rancho do Geryon. Aquilo foi incrível, eu gostaria de parecer mais com você. ''
''Hey. '' Eu disse ''Não fale isso. Você é herói da mesma maneira''.
''Não eu não sou. Eu continuarei tentando más... '' Ele suspirou. ''Percy eu não poderei voltar ao acampamento sem ter achado Pan. Eu simplesmente não posso.
Você entende isso, você entende? Eu não posso encarar Juniper se eu falhar, não posso nem mesmo me encarar."
Sua voz soava infeliz, de perfurar o coração. Nós não estivemos muito juntos, mas eu nunca o vi tão pra baixo.
''Nós faremos algo". Eu disse ''você não falhou,você é um menino cabra campeão, certo? Juniper sabe disso. Eu também.''
Grover fechou os olhos. ''Garoto bode campeão'' Ele murmurou abatidamente.
Muito tempo depois que ele cochilou eu ainda estava assistindo a luz azul do Nature Channel, olhando as cabeceiras enchidas de troféus da parede de Geryon.


Na manha seguinte nós andamos até o guarda do gado que disse adeus.
''Nico, você virá conosco?"Eu disse bruscamente, eu acho, eu pensava sobre meu sonho, e como o jovem menino Perdix lembrava Nico.
Ele tremeu a cabeça. Eu não acredito que alguém tinha dormido bem na casa do mostro da fazenda, mas Nico parecia que havia sido o que tinha dormido pior. Seus
olhos estavam vermelhos e o rosto dele era calcário, Ele vestia um roupão preto que devia ter pertencido a Geryon, porque aquilo parecia ser três vezes o tamanho
dele.
''Eu preciso de um tempo para pensar. '' Os olhos dele não conheciam os meus, mas pelo tom eu diria que ele estava nervoso. O fato que sua irmã tinha saído
do submundo para me ver e não a ele tinha o abalado muito.
''Nico'' Disse Annabeth ''Bianca quer somente que você fique bem OK?
Ela colocou a mão no ombro dele, mais ele saiu em direção à casa da fazenda
Podia ser minha imaginação, mas de manhã parecia que a névoa estava agarrada a ele.
''eu estou preocupada com ele'' Annabeth me falou ''Ele começou a falar com o fantasma de Minos de novo. ''
''Ele ficará bem'' Eurytion prometeu. O limpador de vacas tinha se limpado bem. Ele estava usando uma calça jeans nova e uma camiseta ocidental limpa ele também
aparou a barba a deixando igual. Ele estava usando as botas de Geryon. ''O menino pode ficar aqui e organizar o pensamento contanto que ele queira. Ele estará seguro
aqui, Eu prometo.
"E com você?" Eu perguntei
Eurytion coçou Orthus atrás de um queixo, então o outro. ''As coisas vão andar um pouco diferentes aqui no racho de agora em diante. Não é mais sagrado a carne
de gado. Eu estou pensando em empanadas de feijão, e eu vou ajudar esses cavalos. Talvez eu pudesse me escrever no próximo rodeio.
Essa idéia me fez estremecer. ''Bem. Boa sorte. ''
''Ehhh'' Eurytion cuspiu na grama ''Eu creio que vocês estão procurando a oficina de Dédalus!'' Os olhos de Annabeth iluminaram-se. Eu posso ajudá-los.
Eurytion estudou a cerca, e eu percebi que o assunto da oficina de Dédalus o deixou incomodado. "Eu não sei onde fica, mas Hefesto provavelmente sabe''
''é isso que Hera disse, '' Annabeth concordou. ''Mas como acharemos Hefesto?''
Eurytion puxou algo de debaixo do colarinho da camisa. Era um colar, um disco prateado liso em uma cadeia prateada. O disco tinha uma depressão
no meio, como uma impressão digital do polegar. Ele deu isto a Annabeth.
''Hefesto vem aqui de tempo em tempos, '' Eurytion disse, ''Estudar os animais e tal assim ele pode fazer cópias de autômato de bronze. Vez passada, eu-hum-fiz
um favor a ele. Um pequeno truque que ele queria fazer com meu pai, Ares e Afrodite. Ele me deu isso em gratidão. Disse isso, se eu precisasse achar ele, o disco
me conduziria ás forjas dele, mas só uma vez. ''
''E você está dando para mim?'' Annabeth perguntou.
Eurytion se gabou. ''Eu não preciso ver as forjas, senhorita. Tenho o bastante para fazer aqui. Aperte o botão e você estará no caminho.
Annabeth apertou o botão e o disco pareceu ganhar vida, cultivou oito pernas metálicas.
Annabeth gritou e derrubou aquilo no chão, era muita confusão para Eurytion
''Aranha!'' Ela gritou
''Ela tem um pequeno pavor de aranhas. '' Grover explicou ''Aquele velho rancor entre Athena e Aracne''
''Ohh'' Eurytion olhou embaraçado. ''Desculpe senhora. ''
A aranha subiu na cerca e desapareceu entre as barras.
''Rápido'' eu disse ''Aquela coisa não vai espera por nós''
Annabeth não estava ansiosa para seguir ela, mais ela não tinha muitas escolhas, Nós dissemos adeus a Eurytion, Tyson puxou a cerca para fora do buraco,
e nós pulamos no labirinto.

Eu desejava ter posto a aranha numa correia, ela escapou junto
Aos túneis tão rápido, a maioria do tempo eu não pude nem mesmo vê-la. Se não tivesse sido pela audição excelente de Tyson e Grover, nós nunca teríamos sabido
pra
onde ela ia.
Nós corremos pra baixo por um túnel de mármore, então colidi à esquerda e quase cai em um abismo. Tyson me agarrou e me puxou pra trás antes que eu pudesse
cair. O túnel continuou pela nossa frente, mas não havia nenhum chão para nos aproximarmos em cem pés só escuridão boquiaberta e umas séries de degraus de ferro
no teto. A aranha mecânica estava a meio caminho de atravessar, atirando teias de metal.
''Barras'' Annabeth disse ''Eu sou boa nisso. ''
Ela saltou sobre a primeira barra e começou a balançar de novo. Ela estava assustada com a aranha minúscula mais não o suficiente para mergulhar para a morte
em um jogo de barras.
Annabeth foi para o lado oposto e correu atrás da aranha. Eu a segui. Quando eu atravessei, eu olhei para trás e vi Tyson carregando Grover nas costas, o sujeito
grande fez o percurso em três balanços. O que era uma coisa boa desde, que no momento que ele pousou, a ultima barra quebrou com o seu peso.
Nós continuamos a nos mover e passamos por um esqueleto amassado no túnel. Ele estava com uma camisa, calças compridas, e uma gravata. E a aranha não diminui
a velocidade. Eu deslizei numa pilha de sucata de madeira, mas só quando uma luz os iluminou que eu percebi que eram lápis centenas deles quebrados pela metade.
O túnel se abriu para uma grande sala. Uma luz ardente nos iluminou, quando meus olhos se ajustaram, a primeira coisa que notei foram esqueletos, dúzias cobriam
o chão ao nosso redor. Alguns eram velhos e brilhavam brancos. Outros eram mais novos, a maior parte. Eles não cheiravam tão mau quanto o estábulo de Geryon, mas
chegavam perto.
Então eu vi o monstro. Ela se levantou com tal resplendor no lado oposto do quarto.
Ela tinha o corpo de um grande leão e uma cabeça de mulher. Ela seria bonita, mas o cabelo dela ela amarrado para trás como um pão apertado e ela usou muita
maquiagem o que me fez lembrar minha professora do 3º ano.
Ela tinha um distintivo azul fixado no tórax dela que me levou um momento para ler. ''Este monstro foi avaliado Exemplar''
Tyson choramingou ''Esfinge. ''
Eu sabia exatamente porque ele estava assustado, quando ele era pequeno, Tyson foi atacado pelas Patas da Esfinge que desapareceram. Annabeth foi adiante,
a esfinge rugiu enquanto mostrava os caninos no rosto humano, barras caíram sobre ambas saídas do túnel, atrás de nós e na frente, imediatamente o rosto do mostro
se transformou em um belo sorriso brilhante.
'Bem-vindos Sortudos Concorrentes!' Ela anunciou. ''Se preparem para o jogo ''Responda Esse enigma''
Aplausos encantados caíram do teto, como se houvesse alto-falantes invisíveis. Refletores brotaram ao redor do quarto e refletiram fora do palanque, todo o
resplendor da discoteca acima dos esqueletos no chão.
''Prêmios fabulosos'' Falou Esfinge ''Passe do teste e poderá avançar. Falhe e eu te comerei, quem aqui contesta?
Annabeth agarrou meu braço. ''Eu tenho isso'' Ela sussurrou ''Eu sei o que ela vai perguntar''
Eu não discuti muito. Eu não queria annabeth sendo devorada por um monstro, mas eu imaginei se a Esfinge fosse perguntar enigmas, Annabeth era a melhor para
tentar. Ela pisou adiante e avançou para pódio do competidor, que tinha um esqueleto em um uniforme da escola curvado em cima, ela empurrou o esqueleto para fora
dali, e ele caiu no chão.
''Desculpa'' Annabeth disse
''Bem vinda, Annabeth Chase!'' O monstro falou embora Annabeth não tenha dito seu nome. ''você está pronta para o teste?''
''Sim'' Ela falou. ''Pergunte o enigma''
''Vinte enigmas na verdade'' a esfinge falou com glória.
''O que?Mas nos velhos tempos... ''
''Oh nós aumentamos nossos padrões! Você tem que mostrar conhecimento para passar nos vinte. Não é ótimo?
Aplausos tocaram de tempo em tempo como se fosse alguém virando uma torneira. Annabeth olhou nervosamente para mim. Eu lhe dei um aceno encorajador.
"Certo," ela disse a Esfinge. "Eu estou pronta."
Os tambores tocaram acima. Os olhos da esfinge brilharam de excitação.
''Qual é a capital da Bulgária. ''
Annabeth carranqueou. Por um terrível momento, eu pensei ela era fantástica.
''Sofia. '' Ela disse ''Mas-''
''Correto!'' Mais aplausos. A Esfinge sorriu os caninos dela tão amplamente
mostrados.
''Por favor, marque a suas respostas na sua folha de teste na resposta numero dois com o lápis ''
''O que'' Annabeth parecia encantada. Uma folha de teste apareceu na sua frente junto com um lápis afiado.
"Tenha certeza na bola que você assinalar e que fique dentro do circulo". A esfinge disse '' Tenha certeza se você for apagar, apague completamente ou a máquina
não vai ler suas respostas.''
''Que máquina?'' Annabeth perguntou.
A esfinge apontou com a pata dela. Em cima do refletor estava uma caixa de bronze. Com um grupo de engrenagens e alavancas e uma grande letra grega escrita
?ta ao lado da marca de Hefesto.
''Agora'' Disse a esfinge ''A próxima questão''.
''Espere um segundo, '' Annabeth protestou ''isso é sobre 'O que caminhas com quatro pernas de manha'?''
''Perdão?'' A esfinge disse claramente aborrecida agora.
''A questão sobre o homem. Ele caminha em quatro patas de manha como um bebê duas pernas ao entardecer, como um adulto e três pernas ao anoitecer como um velho,
essa é a questão que você devia fazer. ''
''Exatamente porque eu troquei o teste!'' A Esfinge falou. ''você já sabe a pergunta. Agora a segunda questão. Qual é a raiz quadrada de dezesseis?
''quatro, '' Annabeth disse ''mas-''
''Correto! Qual presidente do Estado Unidos assinou a Proclamação de Emancipação?
''Abranhan Lincoln, Mas-''
''correto! Charada Enigma numero quatro. Quanto-''
''espere ai!'' Annabeth gritou.
Eu queria falar para ela parar de reclamar. Ela estava indo bem! Ela deveria somente responder as questões para podermos ir.
''Isso não são enigmas'' Annabeth disse
''O que á com você senhora?'' A esfinge balbuciou. ''Claro que elas são. Esse teste é especialmente projetado!"
''Isso é um monte de bobagens aleatórias, Os enigmas têm que ser pensados. ''
''Pensado'' A esfinge falou. ''Como é que eu posso supor que você sabe pensar? Isso é ridículo, Agora quanta força é requerida-''
''Pare'' Annabeth insistiu ''Esse é um teste estúpido. ''
''Hum Annabeth, '' Grover disse nervosamente. ''Talvez você possa você sabe terminar primeiro e reclamar depois?''
''Eu sou uma filha de Athena'' Ela insistiu ''E isso é um insulto a minha inteligência. Eu não vou responder essas questões. ''
Parte de mim estava impressionada por ela se opor. Mas parte de mim pensou que orgulho ela ia ganhar com todos nós mortos.
Os refletores brilharam. Os olhos da esfinge ficaram puro preto. ''Então porque meu querido, '' O monstro disse calmamente. ''Se você não passar você falhará,
e como nós não permitimos que crianças fiquem para trás você será comida!''
''Não!''Tyson gritou. Ele odeia quando ameaçam Annabeth, mas não pude acreditar que ele estava sendo tão valente. Especialmente quando ele teve uma experiência
ruim com uma esfinge antes.
Ele agarrou a esfinge no ar lateralmente e eles colidiram com uma pilha de ossos. Isso deu bastante tempo para Annabeth juntar inteligência e puxar sua faca.
A camiseta se rasgou e fragmentou, a Esfinge rosnou quando viu uma abertura.
Eu puxei Contracorrente e me coloquei na frente da annabeth.
''Ficou invisível. '' Eu falei para ela.
''Eu posso lutar!''
''Não!'' Eu sobrepus. ''A Esfinge virá atrás de você! Deixe-nos usar isso. ''
Eu provei meu ponto. A Esfinge empurrou Tyson e tentou passa por min. Grover a cutucou no olho com o osso da perna de alguém. Ela guinchou de dor. Annabeth
colocou o seu boné e desapareceu. A esfinge se lançou onde Annabeth estava, mas suas patas só encontraram o vazio.
''Não é justo. '' A esfinge avisou. ''Trapaceira!'' Sem Annabeth e ninguém mais em sua visão ela se virou para mim. Eu elevei minha espada, mas antes de eu
poder golpea-la, Tyson pegou a máquina do monstro do chão e jogou na cabeça da Esfinge acabando com seu penteado de Pão, a máquina caiu aos pedaços no chão.
''Minha máquina classificadora'' Ela chorou ''Eu não posso ser exemplar sem meu teste de contagem!''
As barras ergueram das saídas. Todos nós saímos para o túnel distante. Eu tinha esperança que Annabeth estivesse fazendo o mesmo. A esfinge começou a nos seguir.
Mas Grover pegou sua flauta e começou a tocar de repente os lápis se lembraram que eles eram partes de árvores, eles se prenderam ao redor das patas da esfinge e
começaram a cultivar raízes e folhas, que começaram a se prender ao redor das pernas da Esfinge. A Esfinge os rasgou mais isso nos deu tempo suficiente. Tyson puxou
Grover no túnel, e as barras bateram fechando atrás de nós.
''Annabeth'' Eu gritei.
''Aqui!'' Ela disse na minha frente. ''Continue se movendo''
Nós corremos elos túneis escuros ouvindo o rugido da Esfinge atrás de nós conforme ela reclamava dos testes que ela teria que corrigir na mão.




PS. Happy Flush Disposal CO / essa frase é irônica, seria como uma eliminação feliz de gás carbônico, se referindo ao tanque séptico (fossa






ONZE - EU ATEIO FOGO EM MIM MESMO

Eu achei que tínhamos perdido a aranha até que Tyson ouviu um barulho de cliques. Nós fizemos algumas curvas, recuamos algumas vezes e finalmente encontramos
a aranha batendo a sua pequena cabeça numa porta de metal.
A porta parecia um daqueles alçapões de submarinos fora de moda. Oval, cheia de rebites nas beiradas e uma maçaneta em forma de bola. Onde devia estar o portal
havia uma enorme placa de latão, verde com a idade com um Eta grego inscrito.
Nós olhamos um para o outro.
"Prontos para conhecer Hefesto?" Perguntou Grover, nervoso.
"Não", admiti.
"Sim!", disse Tyson feliz, girando a maçaneta.
Conforme a porta ia se abrindo, a aranha entrou rapidamente, com Tyson logo atrás. Nós seguimos, não tão ansiosos.
A sala era enorme. Parecia uma sala de mecânico, com vários elevadores hidráulicos. Alguns tinham carros, mas outros tinham coisas mais estranhas: um hyppaelektryon
de bronze sem sua cabeça de cavalo e com vários arames saindo de seu rabo de galo, um leão de metal que parecia ligado a um carregador de bateria, e uma carruagem
grega feita inteiramente em chamas.
Projetos menores cobriam outras mesas bagunçadas. Ferramentas penduradas ao longo da parede. Cada coisa tinha seu esboço numa placa de madeira pendurada, mas
nada parecia no lugar correto. O martelo estava no lugar da chave de fenda. O alicate no lugar da serra.
No elevador hidráulico mais próximo, onde havia um Toyota Corolla 98, havia um par de pernas presas - a metade de baixo de um homem grande com caças cinzas
e surradas e sapatos maiores que os do Tyson. Uma perna estava num suporte.
A aranha foi direto para debaixo do carro, e os sons de clique pararam.
"Bem, bem", ressoou uma voz profunda vinda de baixo do Corolla. "O que temos aqui?".
O mecânico empurrou o carrinho para fora e sentou-se. Eu já tinha visto Hefesto antes, brevemente no Olimpo, então eu pensei que estaria preparado, mas sua
aparência me fez engasgar.
Eu acho que ele tinha se limpado desde que eu o vi no Olimpo, ou usado magia para parecer menos horrível. Aqui em sua própria oficina, ele aparentemente não
ligava para como se vestia. Ele usava um macacão sujo se óleo e graxa. Hefesto estava bordado no bolso do peito. Sua perna rangia e estalava no suporte de metal
enquanto ele levantava, e seu ombro esquerdo era mais baixo que o direito, então ele parecia estar inclinado mesmo quando estava de pé ereto. Sua cabeça era deformada
e torta. Era carrancudo. Sua barba preta fumegava e chiava. De vez em quando aparecia um fogo em seu bigode e depois sumia. Suas mãos eram do tamanho de luvas de
baseball, mas ele manuseou a aranha com uma habilidade impressionante. Ele a desmontou em dois segundos e depois a juntou de novo.
"Aí", ele balbuciou para si mesmo. "Bem melhor".
A aranha se sacudiu feliz em sua mão, lançou uma teia metálica e começou a ir embora.
Ele olhou ameaçador para nós. "Eu não os fiz, fiz?".
"Uh", Annabeth disse. "Não senhor".
"Bom", ele se queixou. "O acabamento está péssimo".
Ele encarou Annabeth e eu. "Meio-sangues", ele grunhiu. "Poderiam ser autômatos, mas provavelmente não".
"Nós já nos vimos, senhor", eu disse a ele.
"Ah já?" Perguntou o deus distraído. Eu tive o pressentimento de que isso não faria diferença. Ele estava tentando descobrir como funcionava minha mandíbula,
se havia articulações, uma alavanca ou algo do gênero. "Bom, então se eu não tive que esmagá-lo da primeira vez, provavelmente não terei que fazer isso agora".
Ele olhou para Grover e franziu as sobrancelhas. "Sátiro". Aí ele viu o Tyson e seus olhos cintilaram. "Oh, um Ciclope. Bom, bom. O que você quer viajando com
esse grupo?".
"Uh..." disse Tyson, admirando o deus.
"Sim, bem dito", Hefesto concordou. "Então, é bom haver uma boa razão para vocês me perturbarem. A suspensão este Corolla não é mole".
"Senhor", Annabeth disse hesitante, "nós estamos procurando Dédalo. Nós pensamos -".
"Dédalo?" O deus rugiu. "Vocês querem aquele velho miserável? Vocês ousam procura-lo!".
A barba dele pegou fogo e seus olhos incandesceram.
"Uh, sim, senhor, por favor", Annabeth disse.
"Hunf, estão perdendo tempo". Ele franziu a sobrancelha para algo em sua mesa de trabalho e mancou até lá. Ele pegou algumas molas e peças metálicas e as remendou.
Em alguns segundos ele estava segurando um falcão de bronze e prata. Ele abriu suas asas metálicas, piscou seus olhos de vidro vulcânico e voou pela sala.
Tyson riu e aplaudiu. O pássaro pousou no ombro de Tyson e beliscou sua orelha afetuosamente.
Hefesto observou com atenção. A carranca do deus não mudou, mas eu acho que vi um brilho em seus olhos. "Eu sinto que você tem algo a me dizer, Ciclope".
O sorriso de Tyson desapareceu. "S-sim, senhor. Nós encontramos um Gigante de Cem Mãos".
Hefesto assentiu, sem demonstrar surpresa. "Briares?".
"Sim. Ele - ele estava apavorado. E não nos ajudaria".
"E isso te incomodou".
"Sim!", a voz de Tyson vacilou. "Briares devia ser forte! Ele é mais velho e melhor que os Ciclopes. Mas ele fugiu".
Hefesto grunhiu. "Houve um tempo em que eu admirava os Gigantes de Cem Mãos. Lá nos tempos da primeira guerra. Mas pessoas, monstros e até mesmo deuses mudam,
meu jovem Ciclope. Você não pode confiar neles. Veja minha adorável mãe, Hera. Você a conheceu, não? Ela vai sorrir e falar da importância da família, né? Isso não
a impediu de me atirar para fora do Monte Olimpo quando viu minha cara feia ".
"Mas eu pensei que Zeus tivesse feito isso", eu disse.
Hefesto limpou a garganta e cuspiu numa escarradeira de bronze. Ele estalou os dedos e o falcão-robô voltou para a mesa.
"Mães gostam de contar essa versão da estória", ele resmungou. "Faz torna-las mais adorável, não faz? Jogando a culpa toda para o meu pai. A verdade é que minha
mãe gosta de famílias, mas um tipo certo de família. Famílias perfeitas. Ela me olhou e... bem, eu não sou uma maravilha, sou?".
Ele puxou uma pena das costas do falcão, que desmontou completamente.
"Acredite em mim, Ciclope", ele disse. "Você não pode confiar nos outros, você só pode confiar no trabalho de suas próprias mãos".
Parecia um belo jeito de se viver sozinho. Uma vez, em Denver, suas aranhas metálicas quase mataram Annabeth e eu. E ano passado, havia uma estátua defeituosa
de Talos - que custou a Bianca sua vida - mais um dos pequenos projetos de Hefesto.
Ele focou em mim e estreitou os olhos, como se estivesse lendo meus pensamentos. "Oh, este aqui não vai com a minha cara", ele disse. "Não se preocupe, estou
acostumado. O que você pediria a mim, pequeno semideus?".
"Nós falamos pra você", eu disse. "Temos que achar Dédalo. Há este cara, o Luke, que está trabalhando pra Kronos. Ele está procurando um jeito de navegar pelo
labirinto para poder invadir nosso acampamento. Se nós não acharmos Dédalo antes -".
"E eu já disse a você, garoto. Procurar Dédalo é uma perda de tempo. Ele não vai ajuda-lo".
"Por quê não?".
Hefesto deu de ombros. "Alguns de nós somos jogados do alto de montanhas. Alguns de nós... o jeito como aprendemos a não confiar nas pessoas é mais doloroso.
Me peça dinheiro. Ou uma espada chamejante. Isso eu dou facilmente. Mas um caminho até Dédalo? Esse é um favor muito caro".
"Você sabe onde ele está, então", disse Annabeth aflita.
"Não é sensato procurar por ele, garota".
"Minha mãe diz que a procura é a essência da sabedoria".
Hefesto apertou os olhos. "Quem é sua mãe, enfim?".
"Atena".
"Figura". Ele suspirou. "Boa deusa, a Atena. É uma pena que ela tenha se comprometido a não casar. Está bem, meio-sangue. Eu posso dizer o que vocês querem.
Mas há um preço por isso. Preciso que me façam um favor".
"Diga", disse Annabeth.
Hefesto riu - um som estrondoso como um fogo sendo alimentado. "Vocês herois", ele disse, "sempre fazendo promessas espontâneas. Que beleza".
Ele apertou um botão na bancada, e venezianas se abriram na parede. Ou era uma janela enorme ou uma TV big-screen, eu não pude discernir. Estávamos olhando
uma montanha cinza rodeada de florestas. Deve ter sido um vulcão, pois saia fumaça do cume.
"Uma das minhas oficinas", Hefesto falou. "Eu tenho muitas, mas essa era minha favorita".
"É o Monte Sta. Helena", disse Grover. "Ótimas florestas em volta".
"Você já esteve lá?", eu perguntei.
"Procurando por... você sabe, Pan".
"Espera", Annabeth falou olhando para Hefesto. "Você disse que era sua favorita. O que aconteceu?".
Hefesto coçou sua barba latente. "Bom, é onde o monstro Tifão está preso, você sabe. Era sob o Monte Etna, mas quando nos mudamos para a América, ele se mudou
para debaixo do Monte Sta. Helena. Excelente fonte de fogo, mas é perigoso. Sempre há uma chance de ele escapar. Muitas erupções esses dias, sempre ativo. Ele está
inquieto com a rebelião dos Titãs".
"O que você quer que a gente faça?", eu disse. "Lute contra ele?".
Hefesto bufou. "Seria suicídio. Os próprios deuses fugiam de Tifão quando ele estava livre. Não, reze para não encontrá-lo, muito menos ter que desafiá-lo.
Mas depois eu percebi intrusos na montanha. Alguém ou alguma coisa está usando minha oficina. Quando eu vou lá, está vazia, mas posso dizer que está sendo usada.
Eles percebem que estou chegando e somem. Mande meus autômatos investigarem, mas eles não voltaram. Algo... antigo esta lá. Perverso. Quero saber quem ousa invadir
minha oficina, e se eles pretendem soltar Tifão".
"Você que descubramos quem é", eu disse.
"Positivo", Hefesto disse. "Vão lá. Eles provavelmente não perceberão sua presença, vocês não são deuses".
"Que bom que percebeu", eu disse.
"Vão e descubram o que puderem", Hefesto disse. "Relate tudo a mim e eu direi o que vocês precisam saber sobre Dédalo".
"Certo", Annabeth disse. "Como chegamos lá?".
Hefesto bateu palmas. A aranha saiu debaixo da viga. Annabeth recuou quando a aranha passou por ela.
"Minha criação vai mostrar o caminho", Hefesto disse. "Não é muito longe pelo Labirinto. E tentem ficar vivos, okay? Humanos são mais frágeis que autômatos".

* * *

Estávamos indo bem, até chegarmos nas raízes das árvores. A aranha correu por elas, e nós acompanhamos, mas aí nós vimos um túnel cavado na terra, envolto a
raízes. Grover ficou parado no caminho.
"O que foi?", eu perguntei.
Ele não se mexeu. Ele ficou boquiaberto diante do túnel escuro. Seu cabelo enrolado farfalhou ao vento.
"Vamos"! Disse Annabeth. "Temos que continuar".
"Este é o caminho", disse ele receoso. "É este".
"Que caminho?", eu perguntei. "Você quer dizer... até Pan?".
Grover se virou para Tyson. "Você não pode sentir?".
"Lama", Tyson disse. "E plantas".
"É! Este é o caminho. Tenho certeza disso".
Mais à frente, a aranha estava cada vez mais longe pelo corredor de pedra. Mais alguns segundos e a perderíamos.
"Bom, nós voltaremos", Annabeth prometeu. "Quando estivermos voltando a Hefesto".
"O túnel terá desaparecido até então", Grover disse. "Eu tenho que segui-lo. Uma porta como esta não permanecerá aberta".
"Mas não podemos", Annabeth disse. "A oficina!".
Grover a olhou, cabisbaixo. "Eu tenho que ir, Annabeth. Você não entende?".
Ela parecia desesperada, como se não tivesse entendido tudo. A aranha estava quase fora de visão. Então pensei sobre minha conversa com Grover na noite passada
e vi o que tínhamos que fazer.
"Vamos nos separar", eu disse.
"Não!", Annabeth disse. "É muito perigoso. Como vamos nos encontrar de novo? E Grover não pode ir sozinho".
Tyson pôs sua mão no ombro de Grover. "E-eu vou com ele".
Eu não podia acreditar que tinha ouvido aquilo. "Tyson, você tem certeza?".
O grandão assentiu. "Garoto bode precisa de ajuda. Nós vamos achar o deus. Eu não sou como Hefesto. Eu confio nos amigos".
Grover respirou fundo. "Percy, nós vamos nos encontrar de novo. Ainda estamos ligados pela empatia. Eu apenas... tenho que ir".
Eu não o culpei. Esse era o objetivo da vida dele. Se ele não achasse Pan nessa viagem, o concílio jamais daria outra chance a ele.
"Espero que você esteja certo", eu disse.
"Eu sei que estou". Eu nunca tinha visto ele tão confiante de alguma coisa, exceto que torta de queijo era melhor que torta de frango.
"Se cuida", eu falei pra ele. Então olhei pra Tyson. Ele engoliu em seco e me deu um abraço que fez meus olhos saltarem das órbitas. Depois ele e Grover desapareceram
no túnel de raízes e se perderam no escuro.
"Isso é ruim", Annabeth disse. "Se separar é uma ideia muito, muito ruim".
"Nós vamos vê-los de novo", eu disse tentando parecer confiante. "Agora vamos, a aranha esta quase escapando".

* * *

Não fomos muito longe até o túnel começar a esquentar.
As paredes cintilavam. O ar fazia parecer como se estivéssemos dentro de um forno. O túnel descia e eu pude ouvir um barulho, como um rio de metal. A aranha
deslizou para baixo, com Annabeth logo atrás.
"Hei, espera aí!", eu pedi.
Ela olhou de volta pra mim. "É?".
"Uma coisa que Hefesto disse lá... sobre Atena".
"Ela prometeu nunca se casar", Annabeth disse. "Como Ártemis e Héstia. Ela é uma das deusas solteiras".
Eu pisquei. Eu nunca tinha ouvido falar isso sobre Atena antes. "Mas então-".
"Como ela pode ter filhos semideuses?".
Fiz que sim. Eu provavelmente havia ficado vermelho, mas felizmente estava tão quente que Annabeth nem notou.
"Percy, você sabe como Atena nasceu?".
"Ela surgiu da cabeça de Zeus no meio de uma batalha ou algo assim".
"Exatamente. Ela não nasceu normalmente. Ela literalmente nasceu de pensamentos. Seus filhos nascem do mesmo jeito. Quando Atena se apaixona por um mortal,
é puramente intelectual, como ela amou Odisseu nas estórias antigas. É um encontro de mentes. Ela diria que é o jeito mais puro de amar".
"Então seu pai e Atena... então você não...".
"Eu era uma criança-cérebro", ela disse. "Literalmente. Filhos de Atena surgem dos pensamentos divinos de nossas mães e da ingenuidade mortal de nossos pais.
Nós somos como um presente, uma benção de Atena sobre os homens que ela honra".
"Mas-".
"Percy, a aranha está indo embora. Você quer mesmo que eu explique os detalhes de como eu nasci?".
"Um... não. Ta tudo bem".
Ela sorriu. "Eu pensei que não". Então ela correu adiante. Eu a segui, mas não tinha certeza se olharia ela de novo do mesmo jeito. Decidi que algumas coisas
são melhores quando não sabemos.
O barulho aumentou. Após oitocentos metros ou mais, nós saímos numa caverna do tamanho de um estádio de boliche. Nossa aranha guia parou e se enrolou até virar
uma bola. Nós havíamos chegado à oficina de Hefesto.
Não havia chão, apenas lava borbulhando centenas de metros abaixo. Ficamos no cume de uma rocha que circundava a caverna. Uma rede de pontes metálicas atravessava
a lava. No centro havia uma plataforma gigante com todas os tipos de máquinas, caldeirões, fornos e a maior bigorna que eu já havia visto - um bloco de metal do
tamanho de uma casa. Criaturas se mexiam pela plataforma - várias formas estranhas e escuras, mas estavam muito longe para dar detalhes.
Annabeth pegou a aranha de metal e pôs no bolso. "Eu posso. Espere aqui".
"Espere!", eu disse, mas antes que pudesse discutir ela tinha posto seu boné dos Yankees e ficado invisível.
Eu não ousei chamá-la, mas eu não gostei da ideia de ela se aproximar da oficina sozinha. Se aquelas coisas podiam sentir um deus chegando, será que Annabeth
estaria segura?
Eu olhei de volta para o túnel do Labirinto. Já sentia falta de Grover e Tyson. Finalmente decidi que não podia ficar parado. Andei pela borda exterior do rio
de lava, torcendo para que eu tivesse um ângulo melhor pra ver o que estava acontecendo no meio.
O calor era terrível. O rancho de Geryon era um paraíso de inverno comparado a isto. Em pouco tempo eu estava encharcado de suor. Meus olhos ardiam com a fumaça.
Eu continuei, tentando ficar longe da beirada, até ser bloqueado por um carrinho com rodas de metal, como aqueles que tinham em minas. Eu levantei a lona e vi que
ele estava meio cheio com pedaços de metal. Eu estava para voltar quando ouvi vozes vindas lá da frente, provavelmente de um túnel lateral.
"Trazer pra cá?", um perguntou.
"Sim", outro disse. "O filme está quase pronto".
Eu entrei em pânico. Não tinha tempo pra voltar. Não tinha lugar para me esconder além do... carrinho. Subi no carrinho e me cobri com a lona, esperando que
ninguém tivesse me visto. Passei minha mão em Contracorrente, só para o caso de precisar lutar.
O carrinho balançou para frente.
"Oh", disse um. "Isto pesa uma tonelada".
"É bronze celestial", disse o outro, "você esperava o que?".
Eu fui puxado. Fizemos uma curva, e pelo barulho das rodas de metal ecoando eu achei que tínhamos passado por um túnel e entrado numa sala menor. Felizmente
eu não estava a ponto de ser despejado num compartimento de fundição. Se eles começassem a me tombar, eu teria que abrir caminho rápido. Eu ouvi muitas vozes e conversas
que não pareciam de humanos - algo entre um latido de foca e um rugido de foca. Havia outros sons também - como um projetor de filmes velho e uma voz fina narrando.
"Apenas coloquem lá atrás", uma nova voz ordenou pela sala. "Agora filhotes, queiram assistir o filme. Terão tempo para perguntar depois".
As vozes diminuíram e eu pude ouvir o filme.
Conforme um demônio marinho amadurece, o narrador disse, mudanças acontecem no corpo dos monstros. Você deve perceber suas presas crescerem e um desejo repentino
de devorar os humanos. Essas mudanças são perfeitamente normais e acontecem a todos os jovens monstros.
Rosnados excitados encheram a sala. O professor - eu pensei que deveria haver um professor - disse aos garotos para ficarem quietos, e o filme continuou. Eu
não entendi a maior parte e não ousei olhar. O filme continuou a falar sobre o crescimento e o problema de acne causado pelo trabalho na oficina, higiene das nadadeiras
e enfim, acabou.
"Agora, filhotes", o instrutor disse, "qual é o nome certo de nossa espécie?".
"Demônios marinhos!", um deles gritou.
"Não. Mais alguém?".
"Telequines!", outro monstro gritou.
"Muito bem", disse o instrutor. "E por quê estamos aqui?".
"Vingança!", vários gritaram.
"Sim, sim, mas por quê?".
"Zeus é mau", um monstro disse. "Ele nos jogou no Tártaro só por que usamos magia".
"De fato", o instrutor falou. "Depois de termos feito as melhores armas dos deuses. O tridente de Poseidon, por exemplo. E é claro - nós fizemos a melhor arma
dos Titãs. No entanto, Zeus se aliou àqueles Ciclopes desastrados. É por isso que estamos nos apossando da oficina do usurpador Hefesto. E em breve controlaremos
os fornos submarinos, nossa casa mais antiga".
Eu peguei minha caneta-espada. Essas coisas que rosnam haviam feito o tridente de Poseidon? Do que eles estavam falando? Eu nunca tinha ouvido falar de um telequine.
"E ainda, crianças", o instrutor continuou, "a quem nós servimos?".
"Kronos!", eles gritaram.
"E quando vocês crescerem, farão armas para o exército?".
"Sim!".
"Excelente. E agora, nós trouxemos alguns pedaços de metal para vocês praticarem. Vamos ver o quão engenhosos vocês são".
Havia movimento e vozes excitadas ao redor do carrinho. Eu me preparei para pegar Contracorrente. A lona foi jogada para trás. Eu pulei, minha espada ganhou
vida e eu me vi na frente de um monte de...cachorros.
Bom, suas caras eram de cachorro, com focinho preto, olhos marrons, e orelhas pontudas. Seus corpos eram lisos e pretos como mamíferos marinhos, e pernas curtas,
que eram metade nadadeira e metade pé, mãos humanas e garras afiadas. Se você misturar um garoto, um pinscher Dobermann e um leão do mar, vai ter uma ideia do que
eu estava olhando.
"Um semideus!", um rosnou.
"Comam-no!", gritou outro.
Mas assim que chegaram mais perto, eu golpeei com Contracorrente num arco, e vaporizei a fileira da frente inteira de monstros.
"Para trás", eu gritei para o resto, tentando parecer cruel. Atrás dele estava o instrutor - um telequine de seis pés de altura com presas de Dobermann rosnando
para mim. Fiz o máximo que pude para encará-lo.
"Lição nova, classe", eu disse. "A maioria dos monstros vai vaporizar quando encontrar uma espada de bronze celestial. Essa mudança é perfeitamente normal,
e vai acontecer agora se vocês não RECUAREM!".
Para a minha surpresa, funcionou. Os monstros recuaram, mas havia pelo menos vinte deles, e o fator medo que eu tinha em meu favor não duraria muito.
Eu pulei do carrinho e gritei "DISPENSADOS!", e corri para a saída.
Os monstros me atacaram, latindo e rosnando. Eu esperava que eles não corressem muito com aquelas perna-nadadeiras, mas eles se mexiam bem. Graças aos deuses
havia uma porta no túnel que ia para a caverna principal. Eu a bati com força e coloquei um carrinho para prendê-la, mas duvidava que iria segurá-los por muito tempo.
Eu não sabia o que fazer. Annabeth estava lá fora em algum lugar, invisível. Nossas chances de uma missão de reconhecimento discreta estava perdida. Eu corri
até a plataforma no centro do rio de lava.

* * *

"Annabeth!", eu gritei.
"Shhh!", uma mão invisível tampou minha boca, e me puxou para trás de um caldeirão de bronze. "Você quer nos matar?".
Eu achei sua cabeça e tirei o boné dos Yankees. Ela surgiu na minha frente, brava, seu rosto coberto com cinzas e fuligem. "Percy, qual é o seu problema?".
"Nós vamos ter companhia!" Eu expliquei rapidamente sobre a aula de orientação para monstros. Seus olhos se arregalaram.
"Então é isso que eles são", ela disse. "Telequines. Eu deveria saber. E eles estão fazendo... bem, veja".
Nós nos espreitamos por cima do caldeirão. No centro da plataforma havia quatro demônios marinhos, mas estes completamente crescidos, pelo menos oito pés de
altura.Sua pele negra brilhava na luz do fogo conforme trabalhavam, faíscas voando enquanto eles revezavam em bater num pedaço de metal brilhante.
"A lâmina está quase completa", um disse. "Precisa de outro resfriamento em sangue para fundir os metais".
"Positivo", o outro disse. "Deve estar mais afiado do que antes".
"O que é isso?", eu suspirei.
Annabeth balançou a cabeça. "Eles ficam falando sobre metais fundidos. Eu queria -".
"Eles estavam falando da melhor arma dos Titãs", eu disse. "E eles... eles disseram que fizeram o Tridente do meu pai".
"Os telequines traíram os deuses", Annabeth disse. "Eles estavam usando magia negra. Eu não sei o quê, exatamente, mas Zeus os mandou para o Tártaro".
"Com Kronos".
Ela assentiu. "Nós temos que sair -".
Ela nem terminou de falar e a classe explodiu e pequenos telequines saíram. Eles tropeçavam uns nos outros, tentando descobrir um modo de atacar.
"Ponha seu boné de novo", eu disse. "Saia".
"O quê?", ela guinchou. "Não! Eu não vou deixar você!".
"Eu tenho um plano. Vou distraí-los. Você pode usar a aranha de metal - talvez ela a leve de volta a Hefesto. Você tem que dizer a ele o que está acontecendo".
"Mas você vai ser morto!".
"Eu vou ficar bem. Afinal, não temos escolha".
Annabeth me olhou como se fosse me bater. E então ela fez algo que me surpreendeu ainda mais. Ela me beijou (?).
"Se cuida, cabeça-de-alga". Ela pôs o boné e saiu.
Eu provavelmente ficaria sentado lá o dia todo, olhando para o rio de lava e tentando lembrar qual era o meu nome, mas os demônios me levaram de volta a realidade.
"Ali!", um gritou. A classe inteira de telequines subiu na ponte e vieram me atacar. Eu corri para o meio da plataforma, surpreendendo os quatro velhos demônios
marinhos de um jeito que eles largaram a lâmina vermelha de quente. Tinha seis pés de comprimento e era curvado como uma lua crescente. Eu já tinha visto várias
coisas aterrorizantes, mas aquele o-que-quer-que-fosse me assustou mais que tudo.
Os velhos demônios marinhos se recuperam rapidamente. Havia quatro rampas saindo da plataforma, e antes que eu pudesse correr para qualquer direção, cada um
tampou uma saída.
O mais alto rugiu. "O que temos aqui? Um filho de Poseidon?".
"Sim", o outro disse."Eu posso sentir o cheiro de mar em seu sangue".
Eu tirei Contracorrente. Meu coração estava disparado.
"Derrube um de nós, semideus", o terceiro disse, "e o resto de nós o faremos em pedaços. Seu pai nos traiu. Ele aceitou nosso presente e não disse nada enquanto
caíamos no abismo. Nós veremos ele feito em pedaços, ele e os outros Olimpianos".
Eu queria ter um plano. Desejei não ter mentido para Annabeth. Eu queria que ela se safasse, e esperei que ela fizesse isso. Mas agora me parecia que este
seria o lugar que eu morreria. Sem profecias para mim. Eu seria devastado no coração de um vulcão por um bando de pessoas com cara de cachorro e corpo de leão marinho.
Os jovens telequines estavam na plataforma agora, rosnando e esperando para ver o que os quatro mais velhos fariam comigo.
Senti algo queimando em minha perna. O apito de gelo em minha perna estava ficando mais gelado. Se tinha uma hora que eu precisava de ajuda, era agora. Mas
eu hesitei. Eu não confiava no presente de Quintus.
Antes que eu pudesse me decidir, o mais alto falou, "Vejamos quanto forte ele é. Vejamos quanto tempo leva para ele queimar".
Ele pegou um poço de lava do forno mais próximo. Fez seus dedos flamejar, mas não pareceu incomodá-lo. Os outros três fizeram o mesmo. O primeiro atirou um
pouco de pedra fundida em mim e minhas calças começaram a pegar fogo. Outros dois acertaram meu peito. Eu soltei minha espada, aterrorizado e bati nas minhas roupas.
O fogo estava me engolfando. Estranhamente, estava apenas morno no começo, mas estava ficando mais quente.
"A natureza de seu pai o protege", um disse. "Torna difícil de queimar, mas não impossível filhote. Não impossível".
Então atirou mais lava em mim, e eu me lembrei de gritar. Meu corpo inteiro estava pegando fogo. A dor era pior do que qualquer coisa do que eu poderia sentir.
Eu estava sendo consumido. Caí no chão e ouvi os pequenos telequines uivando em delírio.
Então lembrei da voz da náiade no rancho. A água está em mim.
Eu precisava do mar. Senti um embrulho no estômago, mas não havia nada perto para me ajudar. Nenhuma torneira ou rio. Nem mesmo uma concha marinha petrificada.
E também, a última vez que eu liberei meus poderes no estábulo, houve aquele momento terrível em que ele quase saiu de mim.
Eu não tinha escolha. Eu chamei o mar. Me fechei em mim e me lembrei das ondas e das correntes, o poder infinito do mar. E o deixei escapar num grito horrendo.
Depois, eu não podia jamais descrever o que aconteceu. Uma explosão, uma onda, um turbilhão de poder me pegando e me explodindo embaixo da lava. Fogo e água
colidiram, vapor superaquecido, e eu fui atirado do coração do vulcão numa explosão gigantesca, apenas um pedaço dos destroços liberados por milhões de libras de
pressão. A última coisa que eu me lembro antes de perder a consciência era voar, voar tão alto que Zeus jamais me perdoaria, e então começar a cair, fumaça e fogo
e água fluindo de mim. Eu era um cometa indo contra a terra.























DOZE - GANHO FÉRIAS PERMANENTES.

Acordei me sentindo como se eu ainda estivesse em fogo. Minha pele ferida. Minha garganta estava tão seca quanto areia.
Vi um céu azul e três arvores acima de mim. Ouvia o borbulhar de uma fonte, sentia o cheiro de cedros, zimbros, e outras plantas com odores doces. Ouvia
ondas também, gentilmente batendo nas pedras da praia. Perguntava-me se eu estava morto. Mas eu sabia muito bem que se estivesse no Mundo Inferior, lá não teria
nenhum céu azul.
Tentei me levantar, mas meus músculos pareciam que estavam desmanchando.
"Calma ai," disse uma voz de garota "você esta muito fraco para se levantar"
Ela pôs um pano úmido na minha testa. Uma colher de bronze entrou por minha boca, derramando um liquido nela. O liquido acalmou minha garganta, e deixou
um leve gosto de chocolate quente. Ambrosia Dos Deuses. Finalmente pude ver o rosto da garota.
Ela tinha olhos cor de amêndoa, e cabelos castanhos claros caiam sobre seus ombros. Ela devia ter uns... Quinze? Dezesseis? Era difícil de dizer. Ela tinha
um daqueles rostos que pareciam desenhados. Ela começou a cantar e minha dor desapareceu. Ela estava fazendo algum tipo de mágica. Eu podia sentir sua musica entrar
por minha pele, e curar o meu cérebro.
"Quem?" pestanejei
"Shh pequeno herói," ela disse "descanse e melhore. Nenhum perigo o alcançará aqui. Sou Calypso."

* * *

Quando acordei de novo, estava numa caverna. Mas de longe como as que eu conhecia. Já estive em muitas piores. O topo brilhava com diferentes cores de formações
de cristais - branca, lilás, verde, era como se eu estivesse dentro daqueles grandes geodes que se vêem em lojinhas de souvenir. Estava deitado numa cama confortável,
forrado com lençóis de algodão e com travesseiros de plumas. A caverna era dividida por cortinas de seda brancas. Contra uma das paredes surgia uma enorme harpa.
E contra a outra havia uma pilha de prateleiras com jarras de frutas. Ervas secas pendiam da prateleira: alecrim, tomilho, e muitas outras. Minha mãe não conseguiria
nomear todas elas.
Havia uma lareira na parede da caverna, e um caldeirão borbulhando nas chamas. Tinha um cheiro bom, como se fosse carne assada.
Levantei-me tentando ignorar a dor de cabeça. Olhei para meus braços, esperava que eles estivessem terrivelmente mutilados, mas pareciam bem. Um pouco mais
vermelho do que o de costume, mas bem. Eu estava vestido com uma camisa branca de algodão, e uma calça também de algodão, que não eram minhas. Meus pés estavam descalços.
Num momento de pânico, perguntei-me o que havia acontecido com Contracorrente. Apalpei meu bolso, mas lá estava a caneta, onde esteve.
Não só a espada, mas Stygen, o apito de gelo, estava de volta ao meu bolso também. De algum modo ele havia me seguido. Não que isso fosse me acalmar.
Com dificuldade fiquei de pé. O chão de pedra estava congelando aos meus pés. Virei e me deparei olhando num grande espelho de bronze.
"Santo Poseidon." murmurei.
Parecia que eu tinha perdido vinte dólares, os quais eu não poderia ter perdido. Meu cabelo parecia um ninho de ratos. Estava sujo igual a barba de Hefesto.
Se eu visse o rosto daquela pessoa no meio do transito pedindo dinheiro, eu trataria de trancar as portas.
Eu desviei os olhos do espelho. A entrada da caverna era a minha esquerda, segui a luz do dia. A caverna dava para um campo verde. A esquerda havia um bosque
com arvores de cedro e a direita um grande jardim. Quatro fontes jorravam água dos tubos fincados nas pedras dos sátiros. Mas a frente, o gramado descia de encontro
as pedras da praia. As ondas de um lago batiam contra as pedras. Eu não conseguia dizer se isso era um lago, por que... Bem, eu não consegui. Água fresca, sem sal.
O Sol brilhava na água, e o céu era de um azul límpido. Parecia um paraíso, o que imediatamente me deixou preocupado.Quando você lida com coisas mitológicas por
alguns anos, você aprende que paraísos são lugares onde você é morto.
A garota com cabelos castanhos, que disse que seu nome era Calypso, estava em pé na praia, conversando com alguém. Eu não conseguia o ver muito bem, por
causa do brilho do Sol das águas, mas eles pareciam discutir. Tentei me lembrar o quanto conhecia sobre as historias de Calypso. Eu já havia ouvido este nome antes,
mas não conseguia me lembrar. Ela era um monstro? Ela armava para heróis e os matava? Mas se ela era má, então por que eu ainda estava vivo?
Eu andei até ela lentamente, porque minhas pernas ainda estavam duras. Quando a grama virou cascalho, eu olhei para baixo para manter meu equilíbrio. Quando
levantei a cabeça, a menina estava sozinha. Ela vestia um tomara-que-caia grego com um decote decorado a ouro. Ela piscou os olhos, como se estivesse chorando.
"Bem," disse ela tentando forçar um sorriso "O dorminhoco finalmente acordou."
"Com quem você estava falando?" Minha voz estava igual a de um sapo que passara um tempo num micro-ondas.
"Ah, só uma mensagem," disse ela "Como se sente?"
"Por quanto tempo fiquei dormindo?"
"Tempo," pensou Calypso "O tempo é sempre diferente aqui. Eu não saberia te dizer, Percy."
"Você sabe meu nome?"
"Você fala dormindo."
Senti meu rosto ficar vermelho.
"Sim, eu já... Hum, já falava antes."
"Sim. Quem é Annabeth?"
"Ah, uma amiga. Estávamos juntos quando - espera, como eu cheguei aqui? Onde eu estou?"
Calypso passou seus dedos por meus cabelos bagunçados. Eu dei um passo pra trás, nervosamente.
"Me desculpe," disse ela "eu tinha me acostumado a cuidar de você, assim quando você chegou aqui. Você caiu do céu, aterrissando na água, lá." ela apontou
pra praia. - "Não sei como você sobreviveu. A água pareceu amortecer a queda. Bem onde você está, em Ogygia."
Ela pronunciou como oh-jee-jee-ah.
"Fica perto do Mount St. Helens?" Perguntei, porque minha geografia era horrível.
Calypso riu. Era uma risada curta e reprimida, como se ela tivesse me achado engraçado, mas não quisesse me envergonhar. Ela era fofa quando ria.
"Não é perto de nada, pequeno herói." disse ela. "Ogygia é a minha ilha fantasma. Ela existe por ela mesma, em lugar nenhum. Você pode se curar aqui em
segurança, nunca temer."
"Mas meus amigos..."
"Annabeth," disse ela. "E Grover e Tyson?"
"Sim!" eu disse "Eu tenho que encontrá-los, eles estão em perigo."
Ela tocou meu rosto e eu não me afastei desta vez.
"Descanse primeiro. Você não é útil para seus amigos até estar curado."
Assim que ela falou, percebi como eu estava cansado.
"Você não... Não é uma feiticeira malvada, não é?"
Ela sorriu envergonhada
"Por que você acharia isso"
"Bem, eu conheci Circe uma vez, e ela também tinha uma bela ilha. Exceto por ela gostar de transformar homens em porquinhos da índia."
Calypso deu aquele sorriso de novo "Eu prometo que não irei transformá-lo em um porquinho da índia"
"Ou algo mais?"
"Eu não sou uma feiticeira malvada." disse Calypso. "E eu não sou sua inimiga, pequeno herói. Agora descanse. Seus olhos já estão fechando."
Ela estava certa. Minhas pernas estavam bambas, e eu não estaria em pé se Calypso não tivesse me pego. Seu cabelo cheirava a baunilha. Ela era muito forte,
ou talvez eu estivesse muito fraco e magro. Ela me levou de volta para um banco acolchoado da fonte, e ajudou-me a deitar.
"Descanse." ordenou ela. E eu adormeci com o som das fontes e o cheiro de baunilha e tomilho.

* * *

Quando acordei já era noite, mas eu não tinha certeza se era a mesma noite, ou muitas outras noites depois. Estava na cama na caverna, mas eu levantei e
me envolvi com um roupão e sai andando. As estrelas brilhavam - milhares delas, como você nunca viu em qualquer país. Eu poderia falar tudo sobre constelações, Annabeth
havia me ensinado: Capricórnio, Pegasus, Sagitário. E lá, perto do horizonte norte, havia uma nova constelação: a Huntress, um tributo a uma amiga dos nossos, que
tinha morrido no inverno.
"Percy, o que você vê?"
Voltei meus olhos a terra. Por mais incríveis que as estrelas fossem, Calypso brilhava duas vezes mais. Digo, eu vi a Deusa do Amor, Afrodite, e eu nunca
diria isso alto, ou ela me transformaria em cinzas, mas pelo meu dinheiro, Calypso era muito mais bonita, porque ela era tão simples. Como se ela nunca tentasse
ser bonita, ou não se preocupasse se fosse. E ela era. Com seu cabelo aos ombros, e seu vestido branco, ela parecia brilhar na luz da lua. Ela segurava uma plantinha
nas mãos. Eram flores prateadas e delicadas.
"Só estava procurando..." me encontrei olhando pro seu rosto. "Eu esqueci."
Ela riu gentilmente.
"Bem, já que você está de pé, poderia me ajudar a plantar isto."
Ela me entregou a planta, a qual tinha um pouco de terra e raízes na base. As flores brilharam assim que as segurei. Calypso pegou sua espátula de jardinagem
e dirigiu-me para o jardim, onde ela começou a cavar.
"Essa é a renda lunar," Calypso explicou. "Ela só pode ser plantada a noite."
Eu observei a luz prateada brilhar de suas pétalas.
"E o que ela faz?"
"Faz?" ela pensou. "Ela não faz absolutamente nada. Ela vive, da luz, providencia beleza. Ela tem que fazer algo?"
"Acho que não." eu disse
Ela pegou a planta, e nossas mãos se tocaram. Seus dedos eram amenos. Ela plantou a flor e deu um passo atrás, examinando seu trabalho.
"Amo meu jardim."
"É incrível." - concordei.
Quero dizer, eu não era exatamente o tipo jardineiro, mas Calypso tinha árvores cobertas por seis diferentes tipos de rosas, cercas cobertas por madressilvas,
uma fileira de videiras cheias de uvas verdes e lilás que fariam Dionísio sentar e implorar.
"Lá em casa," eu disse. "Minha mãe sempre quis um jardim."
"Por que ela não plantou um?"
"Bem, vivemos em Manhattan, em um apartamento."
"Manhattan? Apartamento?"
Eu a observei.
"Você não sabe do que eu estou falando, né?"
"Receio que não. Nunca saí de Ogygia faz... Um bom tempo."
"Bem, Manhattan é uma grande cidade, que não tem muito espaço para jardins."
Ela franziu a testa.
"Que pena. Hermes me visita de tempos em tempos. Ele me diz que o mundo tem mudado muito. Não achei que tivesse mudado a ponto de você não poder ter jardins."
"Por que você não tem saído de sua ilha?"
Ela olhou para baixo.
"É o meu castigo."
"Por quê? O que você fez?"
"Eu? Nada. Mas receio dizer que meu pai fez. O nome dele é Atlas."
O nome arrepiou minha espinha. Eu conheci o titã Atlas no ultimo inverno, e ele não estava numa boa hora. Ele tentou matar quase todo mundo, e eu tive que
me preocupar.
"Ainda assim," disse eu hesitante. "Não é justo punir você pelo o que seu pai fez. Eu conheci outra filha de Atlas. Seu nome era Zoe. Ela é uma das pessoas
mais corajosas que já conheci."
Calypso me observou por um bom tempo. Seus olhos estavam tristes.
"O que foi?" eu perguntei.
"Você, você está curado meu pequeno herói? Você acha que está pronto para partir em breve?"
"O que?" eu perguntei. "Eu não sei."
Movi minhas pernas. Elas ainda estavam duras. Eu já estava ficando cansado por ficar em pé por tanto tempo.
"Você quer que eu vá?"
"Eu..." Sua voz falhou. "Te vejo de manhã. Durma bem."
Ela correu pela praia. Eu estava muito confuso para fazer algo além de ve-la desaparecer na escuridão.

* * *

Eu não sei exatamente quando tempo passou. Como Calypso disse, estava difícil de se manter na ilha. Eu sabia que deveria estar indo. No mínimo meus amigos
estariam preocupados. Na pior das hipóteses, eles poderiam estar em sérios perigos. Eu nem ao menos sabia se Annabeth tinha saído do vulcão. Tentei usar minha ligação
empática com Grover muitas vezes, mas eu não conseguia fazer contato. Eu odiava não saber se eles estavam bem.
Por outro lado, eu realmente estava cansado. Eu não conseguia me manter em pé mais do que algumas horas. O que fosse que tivesse acontecido em Mount S. Helens
tinha me drenado nada mais do que eu esperava.
Eu não me sentia como um prisioneiro ou algo assim. Lembrei-me do Lótus Hotel e o Cassino em Vegas, onde eu estive seduzido pelo incrível mundo de jogos
até eu quase perder tudo que mais me importava. Mas a ilha de Ogygia não era nada parecida com aquilo. Pensava em Annabeth, Grover e Tyson constantemente. Eu sabia
exatamente porque eu precisava ir, só... Não conseguia. E de repente lá estava Calypso.
Ela nunca falava muito sobre ela, mas aquilo me fez querer saber mais. Eu sentava no bosque, tomando néctar. Eu tentava me concentrar nas flores ou nas nuvens
ou nos reflexos no lago. Mas na verdade eu observava Calypso enquanto ela trabalhava, o modo como ela penteava seus cabelos pelos ombros, o pequeno fio que caia
em seu rosto quando ela ajoelhava-se para cavar o jardim. De vez em quando ela destapava suas mãos e pássaros voavam das arvores e pousavam em seu braço. - pardais,
periquitos, pombas. Ela os dizia bom dia, perguntava como eles estavam indo com o ninho e eles piavam por um tempo e depois voavam lindamente. Os olhos de Calypso
brilhavam. Ela olhava para mim e trocávamos sorrisos, mas quase imediatamente ela mudava para aquela triste expressão de novo, e ia embora. Eu não entendia o que
a incomodava.
Uma noite, estávamos jantando juntos na praia. Criados invisíveis tinham trazido à mesa carne assada e torta de maçã, a qual não parecia muito apetitosa,
até você provar. Não tinha notado os criados invisíveis quando eu cheguei à ilha, mas depois de um tempo, comecei a notar as camas sendo feitas por elas mesmas,
comida cozinhando sozinha, roupas sendo lavadas por mãos invisíveis.
De qualquer jeito, Calypso e eu estávamos sentados jantando. Ela parecia linda a luz do candelabro. Estava a contando sobre Nova Iorque e o Acampamento Meio-Sangue,
e depois comecei falar sobre a época em que Grover tinha comido uma maçã enquanto brincávamos de Hacky Sack com ela. Ela riu, mostrando seu incrível sorriso e nossos
olhos se encontraram. Ela baixou os olhos no mesmo instante.
"Ai esta de novo." - eu disse.
"O quê?
"Você continua fugindo, como se você tentasse não se divertir."
Ela manteve os olhos em seu copo de cedro.
"Como eu disse Percy, eu fui castigada. Amaldiçoada, deveria dizer."
"Como? Diga-me, eu quero ajudar."
"Não diga isso. Por favor, não diga isso."
"Me conte qual é o seu castigo."
Ela cobriu seu quase-terminado bife com um guardanapo, e imediatamente os criados invisíveis desapareceram com o prato.
"Percy, essa ilha, Ogygia, é meu lar, meu lugar de nascimento. Mas também é a minha prisão. Estou numa... Casa Prisão. Acho que você poderia chamar assim.
Eu nunca irei visitar essa Manhattan que você fala. Ou qualquer outro lugar. Estou sozinha aqui."
Ela acenou com a cabeça.
"Os deuses não confiam em seus inimigos, e estão certos. Eu não reclamaria. Algumas prisões não são nem de perto tão legais que nem a minha."
"Mas não é justo." eu disse "Só porque você é relacionada a ele, não quer dizer que você goste dele. Esta outra filha eu conheci, Zoe, Nightshade. - ela
lutou contra ele. Ela não foi aprisionada."
"Mas Percy," disse Calypso gentilmente. "Eu gostava dele na primeira guerra. Ele é meu pai."
"O que? Mas os Titãs, eles são do mal."
"São? Todos eles? Sempre?" ela fez um bico. "Me diga Percy. Não quero discutir com você, mas você gosta dos deuses por que eles são bons, ou por que são
sua família?"
Eu não respondi. Ela tinha razão. No inverno passado, depois que Annabeth e eu salvamos o Olimpo, os deuses estavam discutindo se eles deviam ou não me matar.
Que não tinha sido exatamente legal. Mas ainda assim, os agüentei por que Poseidon era meu pai,
"Talvez eu estivesse errada na guerra," disse Calypso. "E pela justiça, os deuses me trataram bem. Eles me visitam regularmente. Eles me trazem palavras
de outras línguas. Mas eles podem ir embora, mas eu não."
"Você não tem nenhum amigo?" perguntei. "Quero dizer... Ninguém jamais ficou aqui com você? É um lugar bom."
Uma lagrima rolou por sua bochecha.
"Eu, eu prometi a mim mesma que não falaria sobre isso. Mas..."
Ela foi interrompida por um estrondo em algum lugar do lago. Um brilho apareceu no horizonte. Brilhava cada vez mais, até eu que eu pude ver uma coluna de
fogo movendo-se pela superfície da água, vindo a nosso encontro.
Eu levantei e procurei por minha espada.
"O que é isso?"
Calypso suspirou.
"Um visitante."
A coluna de fogo chegou a praia. Calypso ficou de pé e curvou-se formalmente. As chamas se dissiparam, e parado a nossa frente, havia um alto homem em um
macacão cinza e um bracelete de metal na perna. Sua barba e cabelos estavam com fumaça.
"Senhor Hefesto." disse Calypso. "Que rara honra.
O Deus do Fogo grunhiu.
"Calypso, linda como sempre. Você nos daria licença, querida? Preciso conversar com nosso jovem Percy Jackson."

* * *

Hefesto sentou-se atrapalhadamente na mesa de jantar e pediu uma Pepsi. Os criados invisíveis trouxeram-no uma, também a abriram, e derramaram refrigerante
por toda a roupa do deus. Hefesto rugiu uns palavrões e limpou o que pôde.
"Criados estúpidos." resmungou ele. "Bons robôs, é disso que ela precisa. Eles nunca falham."
"Hefesto," eu disse. "O que esta acontecendo? Annabeth..."
"Ela esta bem." ele disse. "Menina esperta. Encontrou seu caminho de volta, e me contou a historia inteira. Ela está preocupada, você sabe."
"Você não a disse que eu estava bem?"
"Não era para eu dizer." disse Hefesto. "Todos pensaram que você estivesse morto. Eu tive que ter certeza que você fosse voltar antes de poder dizer a todos
onde você estava."
"Como assim?" eu disse. "É claro que eu vou voltar."
Hefesto me estudou cuidadosamente. Ele tirou algo de seu bolso. - um disco de metal do tamanho de um Ipod. Ele clicou em um botão e o aparelho se transformou
em uma pequena TV de bronze. Na tela mostrava o catalogo de noticias de Mount St. Helens, um imenso penacho de fogo e cinzas seguia-se no céu.
"Ainda estão inseguros sobre novas erupções." o jornalista dizia. "autoridades tem evacuado quase meio milhão de pessoas por precaução. Entretanto, cinzas
têm caído muito longe do Rio Tahoe e Vancouver, e a área de Mount St Helens está fechada para trafego com radares por centenas de quilômetros. Por enquanto nenhuma
morte ainda tenha sido detectada, menores prejuízos e doenças também estão incluídos".
Hefesto desligou o aparelhinho.
"Você causou uma explosão enorme."
Eu fitei a tela dourada vazia. Meio milhões de pessoas evacuadas? Danos? Doenças? O que eu tinha feito?
"As Fúrias estão desorientadas." ele me disse "algumas vaporizadas. Umas fugiram, sem duvidas. Eu não acho que elas usariam minhas forjas nem tão cedo. Por
outro lado, nem eu usaria. A explosão fez Typon agitar-se em seu sono. Teremos que esperar e ver..."
"Eu não poderia libertar ele, poderia? Quero dizer, eu não tenho esse poder todo."
O deus grunhiu.
- "Este poder todo? Poderia ter me convencido. Você é o filho do Senhor dos Mares, meu rapaz. Você não conhece o seu poder."
Esta era a ultima coisa que eu queria que ele tivesse dito. Eu não pude me controlar na montanha. Eu liberei tanta energia, que eu quase vaporizei a mim
mesmo, drenando toda a vida de mim. Agora eu descobri que eu destruí praticamente todo o Norte dos EUA , e quase acordei o monstro mais terrível já aprisionado pelos
deuses. Talvez eu também fosse perigoso. Talvez fosse seguro para os meus amigos que eles pensassem que eu estivesse morto.
"E quanto a Grover e Tyson?" perguntei.
Hefesto balançou sua cabeça.
"Temo não ter o que dizer. Acho que o labirinto os deteve."
"Então o que eu devo fazer?"
Hefesto encolheu-se.
"Jamais peça a um velho aleijado um conselho, meu rapaz. Mas te direi isto. Você conheceu minha esposa?"
"Afrodite?"
"É, ela. Uma pessoa cheia de artimanhas. Seja cuidadoso com o amor. Ele confundirá seu cérebro e fará você pensar que o alto é baixo, e o errado é certo."
Lembrei-me de meu encontro com Afrodite, no banco detrás de um Cadillac branco, no deserto, inverno passado. Ela me disse que ela tinha um interesse especial
em mim, e dificultaria umas coisas pra mim no quesito amor, só porque ela gostava de mim.
"Faz parte do plano?" perguntei. "Ela me colocou aqui?"
"Possivelmente. Difícil de dizer, falando-se dela. Mas se você decidir deixar esse lugar, - e eu não digo o que é certo ou errado. - eu prometo a você responder
uma de suas perguntas. Eu te prometo o caminho para Daedalus. Bem, agora o negócio é o seguinte. Não tem nada a fazer com o colar de Ariadne. Não muito. Claro, o
cordão funciona. Ela virá a ser uma arma dos Titãs. Mas o melhor caminho para o labirinto... Theseus tem a ajuda da princesa. E a princesa é uma mortal normal. Nem
um pingo de sangue de um deus nela. Mas ela é brilhante. Ela pode ver meu rapaz. Pode ver claramente. Então o que eu quero dizer, acho que você sabe como achar o
labirinto."
Finalmente a ficha caiu. Por que eu não tinha visto isso antes? Hera estava certa. A resposta estava debaixo de meu nariz todo o tempo.
"Sim," eu disse. "Eu sei."
"Então você precisa decidir se você vai ou não embora."
"Eu..." eu queria dizer sim. É claro que queria. Mas as palavras ficaram presas na minha garganta. Eu me vi olhando para o lago, e de repente a idéia de
ir embora pareceu muito difícil.
"Não decida ainda." advertiu Hefesto. "Espere até o amanhecer. Ele é um bom momento para tomar decisões."
"Daedalus vai mesmo me ajudar?" perguntei. "Digo, se ele deu a Luke um caminho para navegar pelo Labirinto, estamos mortos. Eu sonhei sobre... Daedalus
morto por seu sobrinho. Ele ficou furioso e..."
"Não é fácil ser um grande inventor." trovejou Hefesto. "Sempre sozinho. Sempre mal compreendido. Fácil ficar furioso, cometer erros horríveis. Pessoas são
mais difíceis de trabalhar do que maquinas. E quando você quebra uma pessoa, ela não pode ser concertada."
Hefesto secou os últimos pingos de Pepsi de sua roupa.
"Daedalus começou muito bem. Ele ajudou a princesa Ariadne e Theseus porque ele sentou pena dele. Ele tentou fazer uma boa ação. E tudo na vida dele começou
a dar errado por causa disso. Isso foi justo?" o deus deu de ombros." Não sei se Daedalus vai ajudar você, meu rapaz, mas não julgue alguém até você ter entrado
em sua forja e ter trabalhado com seu martelo, né?
"Eu, eu tentarei.
Hefesto levantou-se.
"Adeus, meu rapaz. Você fez bem, destruindo as Furias. Eu serei lembrado eternamente por isso."
Suou bem definitivo esse adeus. Depois ele irrompeu em chamas, e o fogo moveu-se pela água, voltando ao mundo lá fora.

* * *

Eu caminhei pela praia por varias horas. Quando finalmente cheguei ao bosque, era muito tarde, talvez quatro ou cinco da manhã. Mas Calypso estava no jardim,
cuidando das flores a luz das estrelas. Sua Renda-Lunar brilhava com um brilho prateado, e as outras plantas respondiam magicamente, brilhando em vermelho, amarelo
e azul.
"Ele te mandou voltar." Calypso adivinhou.
"Bem, não mandou. Ele me deu a escolha.
Seus olhos encontraram com os meus.
"Eu prometi que não iria oferecer."
"Oferecer o que?"
"Pra você ficar."
"Ficar," eu disse. "Tipo... Para sempre?"
"Você seria imortal nesta ilha," ela disse calmamente. "Você nunca envelheceria ou morreria. Você poderia deixar a briga para os outros, Percy Jackson. Você
poderia escapar de sua profecia."
Eu a fitei, atônito.
"Assim?"
Ela concordou.
"Assim."
"Mas... Meus amigos."
Calypso franziu a testa e pegou minha mão. Seu toque lançava uma corrente de calor por meu corpo.
"Você me perguntou sobre minha maldição. Percy, eu não queria lhe contar. A verdade é que os deuses me enviam companhia quase sempre. A cada mil anos, ou
algo assim, eles deixam um herói ver o meu litoral, alguém que precise de minha ajuda. Eu o observo e me torno amiga dele, mas nunca é por acaso. As Arpas tem certeza
do tipo de herói que elas mandam..."
Sua voz falhou, e ela teve que parar.
Eu segurei sua mão firmemente.
"O que? O que eu fiz para deixá-la triste?"
"Elas enviam uma pessoa que nunca possa ficar," ela sussurrou. "Alguém que nunca possa aceitar minha oferta de companhia por mais do que um curto período.
Eles me enviam um herói que eu não possa ajudar... Só o tipo de pessoa por quem eu não possa me apaixonar."
A noite estava quieta, exceto pelo borbulhar das fontes e das ondas batendo nas pedras. Demorou muito para eu entender o que ela estava dizendo.
"Eu?" perguntei.
"Se você pudesse ver seu rosto." ela deu um sorriso, embora seus olhos ainda estivessem molhados. "Claro que é você."
"É por isso que você esteve fugindo este tempo todo?
"Eu tentei tanto. Mas não consegui. As Moiras são cruéis. Elas enviaram você a mim, meu pequeno herói, sabendo que você partiria meu coração.
"Mas... Eu só... Digo, sou só eu.
"Chega," ela prometeu. "Eu disse a mim mesma que eu não falaria sobre isto. Eu deixaria você ir sem nenhuma oferta. Mas eu não posso. Eu acho que As Moiras
sabiam disso também. Você poderia ficar por mim, Percy. Temo que esse seja o único jeito que poderia nos ajudar."
Eu fitei o horizonte. Os primeiros raios vermelhos do amanhecer estavam surgindo no céu. Eu poderia ficar para sempre, desaparecer da face da Terra. Eu poderia
viver com Calypso, com os criados invisíveis atendendo meus pedidos. Poderíamos plantar flores no jardim e falar com passarinhos cantores e caminha pela praia sob
céus azuis. Sem guerra. Sem profecia. Sem escolhas de lados.
"Não posso." disse a ela.
Ela olhou para baixo arrasada.
"Eu jamais faria nada para machucar você." eu disse. "Mas meus amigos precisam de mim. Eu sei como posso ajudá-los agora. Eu tenho que voltar."
Ela pegou uma flor de seu jardim, - um ramo de Renda-Lunar. Seu brilho desaparecia conforme o sol aparecia. "O amanhecer é uma boa hora para tomar decisões."
Hefesto tinha dito. Calypso colocou a flor no bolso de minha camisa.
Ela ficou na ponta dos pés e me deu um beijo na testa, como uma benção.
"Venha pela praia, meu herói. E nós o mostraremos o caminho."

* * *

O barco tinha dez metros quadrados de floresta amarrado junto a um mastro e uma simples vela de linho branca. Não parecia como se estivesse em condições
de navegar pelo mar ou pelo lago.
"Este barco o levará onde quer que você deseje." Calypso me prometeu. "É bem seguro."
Eu peguei a mão dela, mas ela a deixou escorregar da minha.
"Talvez eu possa visitar você." eu disse.
Ela balançou sua cabeça.
"Nem um homem jamais encontra Ogygia duas vezes, Percy. Quando você for, eu jamais o verei de novo."
"Mas..."
"Vai, por favor." sua voz falhou. "As Moiras são cruéis, Percy. Só lembre-se de mim." então um pequeno sorriso voltou a seu rosto. "Plante um jardim em Manhattan
por mim, você fará?"
"Eu prometo." Eu me firmei no barco. Imediatamente começou a se afastar do litoral.
Enquanto eu navegava pelo lago, eu me dava conta de como as Moiras eram cruéis. Elas enviaram a Calypso alguém que não poderia ajudar, nem amar. E funcionava
de ambos os jeitos. Pelo resto de minha vida eu me lembraria dela. Ela sempre seria meu grande "E se..."
Com alguns minutos, a ilha de Ogygia estava perdida na neblina. Eu estava navegando sozinho, sob a água de encontro com o por do sol.
Logo eu disse ao barco o que fazer. Eu disso o único lugar que eu poderia pensar, pois precisava de conforto e amigos.
"Acampamento Meio-Sangue." eu disse. "Me leve pra casa."
































TREZE - NÓS CONTRATAMOS UM NOVO GUIA


Horas depois, minha balsa foi levada até o Acampamento Meio-Sangue. Como eu cheguei lá, não faço idéia. Em um ponto a água doce simplesmente mudou para água salgada.
O familiar contorno da costa de Long Island se mostrou a minha frente, e um amigável casal de grandes baleias brancas apareceu e guiou-me para a praia.
Quando eu atraquei, o acampamento parecia deserto. Era fim de tarde, mas a linha de tiro com arco e flecha estava vazia. A parede de escalada soltava lava
e balançava por ela mesma. Pavilhão: nada. Chalés: todos desocupados. Então eu vi fumaça subindo do anfiteatro. Era muito cedo para a fogueira, e não achei que eles
estavam assando marshmallows. Corri para lá.
Antes de chegar, ouvi Quíron fazendo um anúncio. Quando entendi o que ele estava dizendo, eu parei como se estivesse morto.
"- assuma ele está morto," Quíron disse."Depois de um silêncio tão longo, é improvável que nossas preces serão respondidas. Eu pedi à sua melhor amiga sobrevivente
para que fizesse as honras finais."
Eu fui para a parte de trás do anfiteatro. Ninguém me notou. Todos eles estavam olhando adiante, assistindo Annabeth pegar um grande pano de seda verde,
com um tridente bordado, e jogar nas chamas. Eles estavam queimando meu brasão.
Annabeth voltou a olhar para a platéia. Ela parecia terrível. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar, mas ela conseguiu dizer, "Ele era provavelmente
o melhor amigo que eu já tive. Ele..." Então ela me viu. Seu rosto ficou vermelho. " Ele está bem aqui!"
Cabeças se viraram. Pessoas ofegaram.
"Percy!" Beckendorf sorriu. Um grupo de outras crianças se aglomerou ao meu redor e me deram tapinhas nas costas. Eu ouvi algumas maldições do chalé de Ares,
mas Clarisse só rolou os olhos, como se ela não acreditasse que eu tive força para sobreviver. Quíron se aproximou e todos abriram caminho para ele.
"Bem," ele suspirou com um óbvio alívio "Eu nunca fiquei tão feliz em ver um campista retornar. Mas você precisa me contar -"
"ONDE VOCÊ ESTAVA?" Annabeth me interrompeu, empurrando para trás os outros campistas. Eu pensei que ela iria me esmurrar, mas ela me deu um abraço tão forte
que poderia quebrar minhas costelas. Os outros campistas ficaram em silêncio. Annabeth pareceu perceber que estava fazendo cena e se afastou. "Eu - nós pensávamos
que você estava morto, Cabeça de Alga!"
"Eu peço desculpas." Falei. "Eu me perdi."
"SE PERDEU?" Ela gritou."Duas semanas, Percy? Em que mundo -"
"Annabeth" Quíron interrompeu "Talvez devêssemos discutir isto em algum lugar mais reservado, não acha? O resto de vocês, voltem para suas atividades normais!"
Sem nos esperar protestar, ele apanhou facilmente Annabeth e eu como se fôssemos gatinhos, nos atirou em cima de suas costas, e galopou para a Casa Grande.

***

Eu não contei a eles a história inteira. Eu só me policiei para não falar sobre Calipso. Eu expliquei como causei a explosão no Monte St. Helens e fui jogado para
fora do vulcão. Eu contei como fui abandonado em uma ilha. Então Hefesto me achou e contou como eu poderia sair dali. Uma balsa mágica me trouxe de volta para o
Acampamento.
Isso tudo era verdade, mas enquanto eu falava sentia minhas palmas suando.
"Você se foi por duas semanas." A voz de Annabeth agora estava estabilizada, mas ela ainda parecia chocada. " Quando ouvi a explosão pensei -"
"Eu sei," falei. "Me desculpe. Mas eu descobri como se mover através do Labirinto. Eu falei com Hefesto."
"Ele lhe disse a resposta?"
"Bem, ele meio que falou o que eu já sabia. E eu entendi. Agora eu entendo."
Eu lhes falei minha idéia.
O queixo de Annabeth caiu. "Percy, isso é loucura!"
Quíron estava sentado novamente em sua cadeira de rodas e acariciou sua barba. "Isso já foi feito antes, de qualquer modo. Teseu teve ajuda de Ariadne. Harriet
Tubman, filho de Hermes, usou vários mortais em sua Ferrovia Subterrânea só por essa razão."
"Mas essa é a minha missão," Annabeth falou. "Eu preciso conduzir isto"
Quíron parecia desconfortável. "Minha querida, esta é a sua missão. Mas você precisa de ajuda."
"E isso é para ajudar? Por favor! É errado. É covardia. É -"
"É difícil admitir que precisamos da ajuda de uma mortal." Falei. "Mas é verdade."
Annabeth me fuzilou "Você é a pessoa mais aborrecedora que eu já encontrei!" E saiu tempestuosamente da sala.
Eu fiquei parado na entrada. Senti vontade de bater em algo "Isso é por ser o melhor amigo que ela já teve!"
"Ela se acalmará." Quíron prometeu. "Ela é ciumenta, meu garoto."
"Isso é estúpido. Ela não...não é como..."
Quíron riu "Se importa saber. Annabeth é muito territorialista quando se trata de seus amigos, caso você não saiba. Ela estava totalmente preocupada com
você. E agora que está de volta, eu acho que ela suspeita onde você foi abandonado."
Eu encontrei seus olhos, e soube que Quíron tinha adivinhado sobre Calypso. É difícil de esconder qualquer coisa de um cara que vem treinando heróis por
três mil anos. Ele é muito bom em ver tudo.
"Nós não questionaremos suas escolhas" Quíron disse "Você voltou. Isto é que importa."
"Diga isto para Annabeth"
Quíron sorriu."Pela manhã Argos levará vocês dois para Manhattan. Você deve parar em sua mãe, Percy. Ela está...compreensivamente distraída."
Meu coração saltou. Durante todo o tempo na ilha de Calypso, eu nunca pensei como minha mãe se sentiria. Ela pensaria que eu estava morto. Ela ficaria devastada.
O que havia de errado comigo em nunca ter considerado aquilo?
"Quíron" Eu disse. "e quanto a Grover e Tyson? Você acha -"
"Eu não sei, meu garoto." Quíron contemplou a lareira vazia "Juniper está muito aflita. Todos os seus ramos estão ficando amarelos. O Conselho dos Cascos
Fundidos revogou a licença de Grover em absentia. Assumindo que ele volte vivo, eles o forçarão a um exilo vergonhoso." Ele suspirou "Grover e Tyson são muito diligentes,
porém. Nós ainda temos esperança."
"Eu não devia tê-lo deixado ir."
"Grover tem seu próprio destino, e Tyson foi bravo em segui-lo. Você saberia se Grover estivesse em perigo mortal, não saberia?"
"Eu suponho. A ligação empática. Mas -"
"Tem mais uma coisa que eu deveria contar para você, Percy," ele disse. "Na verdade duas coisas desagradáveis."
"Ótimo."
"Chris Rodriguez, nosso convidado..."
Eu lembrei o que tinha visto no porão, Clarisse tentando falar para ele enquanto este balbuciava sobre o Labirinto. "Ele está morto?"
"Ainda não," Quíron disse severamente."Mas ele está muito mal. Ele está na enfermaria agora, muito fraco para se mover. Eu tive que ordenar à Clarisse para
voltar ao seu horário regular, pois ela está ao lado de sua cama constantemente. Ele não responde à nada. Não come nem bebe. Nenhum dos meus remédios ajuda. Ele
simplesmente perdeu a vontade de viver."
Eu estremeci. Apesar de todos os desentendimentos que havia tido com Clarisse, eu me senti horrível por ela. Ela tentou tão arduamente ajudá-lo. E agora
que eu havia estado no Labirinto, pude entender porque foi tão fácil para o fantasma de Minos levar Chris a loucura. Se eu estivesse vagando por lá sozinho, sem
meus amigos para ajudar, eu nunca conseguiria sair.
"Eu sinto muito em te dizer," Quíron continuou. "A outra novidade é ainda menos agradável. Quintus desapareceu."
"Desapareceu? Como?"
"Três noites atrás ele deslizou para dentro do Labirinto. Juniper viu ele indo. Parece que você estava certo sobre ele."
"Ele é um espião de Luke." Eu havia contado a Quíron sobre o Rancho Triplo G - como Quintus havia comprado os escorpiões lá e Gerião estava abastecendo o
exército de Cronos."Não pode ser coincidência."
Quíron suspirou fortemente "Tantas traições. Eu esperava que Quintus se provasse um amigo. Isso significa que meu julgamento foi ruim."
"E quanto à Sra. O'Leary? "Perguntei.
"Ainda está na arena. Não deixa ninguém se aproximar. Eu não tive coração para colocá-la em uma jaula...ou destruí-la."
"Quintus não a deixaria simplesmente."
"Como eu disse, Percy, nós estávamos errados sobre ele. Agora, se prepare para a manhã. Você e Annabeth ainda tem muito que fazer."
Eu o deixei em sua cadeira de rodas, fitando tristemente a lareira. Eu imaginei quantas vezes ele ficou sentou ali, esperando por heróis que nunca voltariam.
..........

Antes do jantar eu parei na arena de esgrima. Bastante segura, Sra. O'Leary se enrolou em um enorme monte preto e peludo no meio do estádio, mascando as orelhas
da cabeça de um boneco guerreiro.
Quando ela me viu, latiu e veio saltando para mim. Achei que fosse a refeição morta. Só tive tempo de dizer "Whoa!" antes de ela me fazer rolar e começar
a lamber minha cara. Normalmente, já que eu sou um filho de Poseidon, só fico molhado quando quero, mas parece que meus poderes não se estendem à saliva de cachorro,
pois eu levei um belo de um banho.
"Whoa, garota!" Eu gritei. "Não consigo respirar! Saia de cima!"
Tirei-a de cima de mim. Cocei suas orelhas e achei para ela um biscoito canino extra-gigante.
"Onde está seu dono?" perguntei a ela." Como ele pôde simplesmente te deixar aqui, hum?"
Ela choramingou como se quisesse saber disso, também. Eu estava pronto para acreditar que Quintus era um inimigo, mas ainda não conseguia entender por que
ele deixou a Sra. O'Leary para trás. Se havia alguma coisa que eu tinha certeza, era que ele realmente cuidava deste megacão.
Eu estava pensando sobre isso e secando a baba de cachorro da minha cara quando uma voz de garota disse "Você tem sorte de ela não ter arrancado a sua cabeça
fora."
Clarisse estava do outro lado da arena com sua espada e armadura. "Vim aqui para praticar ontem." Murmurou. "A cadela tentou me mastigar."
"Ela é um cão inteligente."eu disse.
"Engraçadinho."
Ela veio para perto de nós. Sra. O'Leary rosnou, mas eu bati levemente em sua cabeça e a tranqüilizei.
"Cão infernal estúpido," Clarisse disse."Não irá me impedir de praticar."
"Eu ouvi sobre o Chris" Eu disse."Sinto muito."
Clarisse fez um círculo em volta da arena. Quando ela veio para mais perto do boneco, ela atacou viciosamente, cortando sua cabeça em um único golpe e destripando
com sua espada. Ela tirou a espada fora e continuou andando.
"Sim, bem. Às vezes as coisas dão errado." Sua voz estava trêmula."Heróis se machucam. Eles...eles morrem, e os monstros simplesmente voltam de novo."
Ela apanhou uma lança e a lançou através da arena. A lança entrou bem entre os olhos do manequim de guerreiro, atravessando seu capacete.
Ela chamou Chris de herói, como se ele nunca tivesse ido para o lado dos Titãs. Isso me lembrou como Annabeth às vezes falava de Luke. Decidi não expor isso.
"Chris foi corajoso," Eu disse."Eu espero que ele fique melhor."
Ela veio até mim como se eu fosse seu próximo alvo. A Sra. O'Leary rosnou.
"Me faça um favor" Clarisse falou.
"Sim, claro"
"Se você achar Dédalo, não confie nele. Não o peça para ajudar. Só mate-o."
"Clarisse -"
"Porque ninguém faria algo como o Labirinto, Percy? Essa pessoa é má. Obviamente má."
Por um segundo ela me lembrou Eurytion o pastor, seu muito mais velho meio irmão. Ela tinha o mesmo olhar duro em seus olhos, como se tivesse sido usada
nos últimos dois mil anos e estivesse ficando cansada disso. Ela embainhou sua espada."O tempo de praticar acabou. A partir de agora, vai ser de verdade."
...............

Naquela noite eu dormi em meu próprio beliche, e pela primeira vez desde a ilha de Calypso, os sonhos me encontraram.
Eu estava no tribunal de um rei - uma grande câmara branca com colunas de mármore e um trono de madeira. Sentado nele um cara rechonchudo com cabelo ruivo
enrolado e uma coroa de louros. Ao seu lado estavam de pé três garotas que pareciam serem suas filhas. Todas tinham o mesmo cabelo ruivo enrolado e estavam vestidas
em roupões azuis.
As portas rangeram ao abrir e um arauto anunciou, "Minos, Rei de Creta!"
Eu enrijeci, mas o homem no trono simplesmente sorriu para suas filhas. "Mal posso esperar para ver a expressão em seu rosto."
Minos, o próprio rastejante real, entrou na sala. Ele era tão alto e sério que fazia o outro rei parecer tolo. A barba pontuda de Minos tinha ficado cinza.
Ele parecia mais magro desde a última vez que eu havia sonhado com ele, e suas sandálias estavam espirradas de lama, mas o mesmo brilho cruel em seus olhos.
Ele se curvou duramente para o homem no trono. "Rei Cócalo. Eu ouvi que você resolveu meu pequeno enigma?"
Cócalo sorriu "Dificilmente pequeno, Minos. Especialmente quando anunciou pelo mundo que você estava alegando pagar mil talentos de ouro para a pessoa que
pudesse resolvê-lo. A oferta é verdadeira? "
Minos deu duas palmas. Dois guardas entraram, carregando uma grande arca de madeira. Eles a colocaram aos pés de Cócalo e abriram-na. Pilhas de barras de
ouro brilharam. Aquilo devia valer mais que um gazilhão de dólares.
Cócalo assobiou apreciativamente."Você deve ter falido seu reino para dar tal recompensa, meu amigo."
"Isso não é da sua conta"
Cócalo deu de ombros "O desafio é muito simples, na verdade. Um de meus conselheiros o resolveu."
"Pai" Uma das garotas avisou. Ela parecia ser a mais velha - um pouco mais alta do que suas irmãs.
Cócalo a ignorou. Ele pegou uma concha do mar em espiral das dobras de seu roupão. Um fio prateado estava enfiado por ela, pendurado como um pingente gigante
em um colar.
Minos deu um passo à frente e pegou a concha."Um de seus conselheiros, você disse? Como ele enfiou o fio sem quebrar a concha?"
"Ele usou uma formiga, se você consegue imaginar isto. Amarrou um fio de seda à pequena criatura e persuadiu-a a atravessar a concha colocando mel na outra
extremidade dela."
"Homem engenhoso," Minos disse.
"Oh, realmente. O tutor de minhas filhas. Elas são totalmente aficionadas a ele." Os olhos de Minos ficaram frios. "Eu teria cuidado no seu lugar."
Eu quis avisar Cócalo: Não confie nesse cara! Coloque ele no calabouço junto com alguns leões comedores de gente ou algo assim! Mas o rei ruivo só riu."Nada
com que se preocupar, Minos. Minhas filhas são sábias para suas idades. Agora, sobre meu ouro -"
"Sim," Minos disse."Mas você sabe que o ouro é para o homem que resolveu o enigma. E pode haver só tal homem.Você está abrigando Dédalo"
Cócalo se me mexeu desconfortavelmente em seu trono. "Como é que você sabe o nome dele?"
"Ele é um ladrão." Minos disse. "Uma vez ele trabalhou em minha corte, Cócalo. Ele virou minha própria filha contra mim. Ele ajudou um usurpador a me fazer
de bobo em meu próprio palácio. E então ele escapou da justiça. Eu venho procurando por ele faz dez anos."
"Eu nunca soube de nada disto. Mas eu ofereci ao homem minha proteção. Ele está sendo o mais útil -"
"Estou lhe oferecendo uma escolha." Minos disse."Dê o fugitivo à mim, e este ouro é seu. Ou arrisque-se fazendo de mim seu inimigo. Você não quer Creta como
sua inimiga."
Cócalo empalideceu. Achei estúpido para ele parecer tão assustado no meio de sua própria sala do trono. Ele devia chamar seu exército ou algo assim. Minos
só tinha dois guardas. Mas Cócalo simplesmente ficou sentado lá suando em seu trono.
"Pai," sua filha mais velha falou,"você não pode -"
"Silêncio, Aelia." Cócalo enrolou sua barba. Ele olhou de novo para o ouro brilhante."Isso dói em mim, Minos. Os deuses não amam um homem que quebra seu
juramento de hospitalidade."
"Os deuses não amam quem serve de abrigo para criminosos, também."
Cócalo acenou com a cabeça."Muito bem. Você terá seu homem atrás das grades."
"Pai!" Aelia disse novamente. Então ela tocou em si mesma, e mudou sua voz para um tom doce. "Ao-Ao menos deixe nosso visitante se deleitar de nossa hospitalidade,
após essa longa viagem deve tomar um banho quente e trocar suas roupas e ter uma refeição decente. Eu sozinha ficaria honrada em preparar seu banho."
Ela sorriu lindamente para Minos, e o velho rei grunhiu "Eu suponho que um banho não será ruim." Ele olhou para Cócalo. "Vejo você no jantar, meu lorde.
Com o prisioneiro."
"Por aqui, Majestade", disse Aelia. Ela e suas irmãs conduziram Minos para fora da câmara.
Eu os segui para dentro de uma câmara de banho decorada com azulejos em mosaico. O vapor enchia o ar. A torneira encheu a banheira de água quente. Aelia
e suas irmãs encheram-na com pétalas de rosa e algo que deveria ser o Sr. Bolha da Grécia Antiga, pois logo a água ficou coberta de espuma multicolorida.
As garotas voltaram com Minos derrubando o dentro do banho.
"Ahh" Ele sorriu."Um banho excelente. Obrigado, minhas queridas. A viagem foi realmente longa."
"Você tem procurado por esse homem durante dez anos, meu lorde?" Aelia perguntou, batendo suas pestanas."Você deve ser muito persistente."
"Eu nunca esqueço uma dívida." Minos sorriu."Seu pai foi sábio em concordar com as minhas exigências."
"Oh, realmente, meu lorde." Aelia disse. Eu achei que ela estava sendo exageradamente lisonjeira, mas o velho estava engolindo tudo. As irmãs de Aelia gotejaram
óleo cheiroso em cima da cabeça do rei.
"Você sabe, meu lorde" Aelia disse, "Dédalo achou que você viria. Ele achou que o enigma era uma armadilha, mas não resistiu em resolvê-lo."
"Dédalo falou de mim para vocês?"
"Sim, meu lorde."
"Ele é um homem mau, princesa. Minha própria filha caiu em seu feitiço. Não ouça ele."
"Ele é um gênio," Aelia disse. "E ele acredita que uma mulher é inteligente igual à um homem. Ele foi o primeiro à nos ensinar que temos mente própria. Talvez
sua filha pensasse da mesma maneira."
Minos tentou se levantar, mas as irmãs de Aelia o puxaram para dentro da água. Aelia foi para trás dele. Ela segurava três minúsculos orbes em sua palma.
Primeiro achei que fossem contas de banho. Mas ela as lançou dentro da água e as contas espalharam linhas de bronze que começaram a se enrolar em torno do rei, atando-o
pelos tornozelos, colocando seus pulsos um de cada lado, circulando seu pescoço. Embora eu odiasse Minos, aquilo era horrível de se ver. Ele bateu e chorou, mas
as garotas eram muito fortes. Logo ele estava desamparado, ficando na banheira com seu queixo encostando-se à água. As linhas de bronze ainda estavam tecendo em
volta dele como um casulo, apertando seu corpo.
"O que vocês querem?" Minos ofertou. "Por que fizeram isso?"
Aelia sorriu. "Dédalo vem sendo um exemplo para nós, Vossa Majestade. E eu não gosto de você ameaçando nosso pai."
"Fale para Dédalo" Minos rosnou. "Fale para ele que eu o caçarei até depois da morte! Se não houver justiça no Mundo Inferior, minha alma o assombrará pela
eternidade!"
"Palavras bravas, Vossa Majestade," Aelia disse. "Eu lhe desejo sorte buscando justiça no Mundo Inferior."
E com isso, os fios de bronze se enrolaram em volta do rosto de Minos, fazendo dele uma múmia de bronze.
A porta do banheiro foi aberta. Dédalo passou para dentro, carregando uma mala de viagem.
Ele havia aparado seu cabelo curto. Sua barba era de um branco puro. Ele parecia frágil e triste, mas ele se abaixou e tocou a testa da múmia. Os fios se
se desemaranharam e afundaram no ralo da banheira. Não havia nada dentro delas. Era como se o Rei Minos simplesmente tivesse sido dissolvido.
"Uma morte indolor," Dédalo meditou. "Mais do que ele merecia. Obrigado, minhas princesas."
Aelia o abraçou. "Você não pode ficar aqui, professor. Quando nosso pai nos achar -"
"Sim," Dédalo disse."Temo que coloquei vocês em encrenca."
"Oh, não se preocupe. Papai ficará feliz o suficiente pegando o ouro daquele velho homem. E Creta é bem longe daqui. Mas ele o culpará pela morte de Minos.
Você precisa fugir para um lugar seguro."
"Um lugar seguro," o velho homem repetiu. "Durante anos eu fugi de reino em reino, procurando por um lugar seguro. Tinha medo que Minos contasse a verdade.
A morte não parará sua busca por mim. Não há lugar abaixo do sol que poderá me abrigar, uma vez que este crime se torne público."
"Então para onde você irá?"Aelia falou.
"Um lugar que eu jurei que nunca mais entraria de novo," Dédalo disse."Minha prisão será meu único santuário."
"Eu não entendo." Aelia disse.
"É melhor que não."
"Mas e o Mundo Inferior?" uma das irmãs perguntou."Um terrível julgamento espera por você! Todo homem tem que morrer."
"Talvez" Dédalo disse. Então ele tirou um rolo de papel de sua bolsa de viagem - o mesmo rolo que vi em meu último sonho, com as anotações de seu sobrinho."Ou
talvez não."
Ele deu um tapinha no ombro de Aelia, e então abençoou ela e suas irmãs. Olhou para os fios acobreados refletindo no fundo da banheira. "Ache-me se puder,
rei dos fantasmas."
Ele se virou para a parede de mosaicos e tocou um azulejo. Uma marca brilhante apareceu - um Delta Grego - e a parede deslizou para o lado. As princesas
ofegaram.
"Você nunca contou para nós sobre as passagens secretas!" Aelia disse. "Você estava ocupado."
"O Labirinto tem estado ocupado," Dédalo corrigiu. "Não tem me seguir, minhas queridas, se vocês dão valor à suas sanidades."

***

Meu sonho mudou. Eu estava em uma câmara de pedra no subterrâneo. Luke e outro guerreiro meio-sangue estavam estudando um mapa com uma lanterna.
Luke amaldiçoou."Isso deveria ter a última volta." Ele amassou o mapa e o lançou para trás.
"Senhor!" seu companheiro protestou.
"Mapas são inúteis aqui," Luke disse."Não se preocupe, eu acharei"
"Senhor, é verdade que quanto maior o grupo -"
"É maior a chance de se perder? Sim, é verdade. Por que acha que só mandamos exploradores sozinhos para começar? Mas não se preocupe. Em breve teremos o
fio, então poderemos conduzir a vanguarda por aqui."
"Mas como conseguiremos o fio?"
Luke ficou de pé, flexionando os dedos."Oh, Quintus virá nos ajudar. Tudo o que temos de fazer é alcançar a arena, e este será o momento. Impossível de ir
para qualquer lugar sem passar por lá. Esse é o por que de termos um trégua com o seu chefe. Nós só temos que ficar vivos até -"
"Senhor!" uma nova voz veio pelo corredor. Outro garoto em uma armadura Grega correu adiante, carregando uma tocha. "A dracanae achou um meio-sangue!"
Luke fez uma careta."Sozinho? Viajando pelo labirinto?"
"Sim, senhor! É melhor você vir rápido. Eles estão na próxima câmara. O encurralaram."
"Quem é ele?"
"Ninguém que eu tenha visto antes, senhor."
Luke deu de ombros. "Uma benção de Cronos. Este meio-sangue pode ser de grande ajuda. Venham!
Eles andaram corredor abaixo, e eu acordei com um sobressalto, na escuridão. Um meio-sangue solitário, viajando pelo labirinto. Demorei um longo tempo para
pegar no sono de novo.

***

Na manhã seguinte me assegurei de que Sra. O'Leary tinha biscoitos caninos suficientes. Eu pedi a Beckendorf que ficasse de olho nela, o qual não ficou muito feliz
com isso.
Então eu caminhei até a Colina Meio-Sangue e encontrei Annabeth e Argos na estrada.
Annabeth e eu não nos falamos muito na van. Argos nunca falava, provavelmente porque ele tinha olhos por todo o seu corpo, incluindo - assim eu tinha ouvido
- na ponta de sua língua, e ele não gostava de mostrar aquilo.
Annabeth parecia enjoada, como se tivesse dormido ainda pior do que eu.
"Sonhos ruins?" Perguntei por fim.
Ela balançou a cabeça. "Uma mensagem de Íris de Eurytion."
"Eurytion! Tem algo de errado com Nico?"
"Ele saiu do rancho na última noite, voltando para o labirinto"
"Nico tinha ido embora antes dele acordar. Orthus localizou o seu rastro até a cerca do gado. Eurytion disse que ouviu Nico falando sozinho na noite passada.
Só que agora ele acha que Nico estava falando com o fantasma de novo,
Minos."
"Ele esta em perigo," eu disse.
"Não me diga. Minos é um dos juízes do mortos, mas ele tem um ódio de uma milha de largura. Eu não sei o que ele quer com Nico, mas-"
"Isso não é o que eu quis dizer," eu disse."Eu tive um sonho esta noite..." Eu falei para ela sobre Luke, como ele havia mencionado Quintus, e como seus
homens haviam achado um meio-sangue sozinho no labirinto.
Annabeth apertou a mandíbula. "Isso é muito, muito ruim."
"Então o que faremos?"
Ela subiu uma sobrancelha."Bem, é uma boa você ter um plano para nos guiar, huh?"

***

Era sábado, e o tráfico estava pesado indo para a cidade. Chegamos no apartamento de minha mãe em torno de meio-dia. Quando ela atendeu a porta, me deu um abraço
que era só um pouco menos forte do que o que você sente quando um cão infernal pula em cima de você.
"Eu falei para eles que você estava certo," minha mãe disse, mas ela soou como se o peso do céu tive sido tirado de seus ombros - e acredite em mim, eu sei
em primeira mão como isso é.
Ela nos sentou à mesa da cozinha e insistiu em nos alimentar com seus biscoitos azuis com pedacinhos de chocolate especiais enquanto nós a colocávamos a
par da missão. Às vezes, eu tentava amaciar as partes ruins (que eram quase todas), mas isso só fazia com que parecessem ainda mais perigosas.
Quando cheguei na parte de Geryon e dos estábulos, minha mãe fingiu que estava indo me estrangular. "Eu não consigo fazê-lo limpar seu quarto, mas ele limpa
toneladas de esterco de cavalo para fora de alguns estábulos de monstros?"
Annabeth riu. Era a primeira vez que eu ouvia sua risada em um longo tempo, e aquilo foi legal de se ouvir.
"Então," minha mãe disse quando eu acabei com acabei a história, "você destruiu a Ilha de Alcatraz, fez o Monte St. Helens explodir, e desabrigar meio milhão
de pessoas, mas no final você está seguro." Esta é minha mãe, sempre olhando pelo lado bom das coisas.
"Sim," eu concordei. "É basicamente isso."
"Eu queria que Paul estivesse aqui," ela disse, um pouco para si mesma. "Ele queria falar com você."
"Oh, certo. A escola."
Tanta coisa havia acontecido que eu quase havia esquecido sobre a orientação de ensino médio na Goode - o fato de que eu tinha deixado o corredor principal
em chamas, e o namorado de minha mãe havia me visto pela última vez pulando uma janela como um fugitivo.
"O que você falou a ele?" perguntei.
Minha mãe balançou a cabeça. "O que eu poderia dizer? Ele sabe que há algo diferente com você, Percy. Ele é um homem esperto. Ele acredita que você não é
uma pessoa ruim. Ele não sabe o que está acontecendo, mas a escola o está pressionando. No fim das contas, ele te admitiu lá. Ele precisou convencer eles de que
o fogo não era sua culpa. E quando você fugiu, foi ruim"
Annabeth estava me estudando. Ela parecia muito compassiva. Eu sabia que ela havia estado em situações semelhantes. Nunca é fácil ser um meio-sangue em um
mundo mortal.
"Eu conversarei com ele," prometi. "Depois que acabarmos a missão. Eu contarei à ele a verdade se for o que quer."
Minha mãe pôs a mão em meu ombro. "Você faria isso?"
"Bem, sim. Eu acho, ele pensará que somos malucos."
"Ele já pensa assim."
"Então não há nada a perder."
"Obrigada, Percy. Eu falarei para ele que você estará em casa..." Ela fez uma careta."Quando? O que acontecerá agora?"
Annabeth quebrou seu biscoito ao meio. "Percy tem um plano."
Relutantemente ela contou à minha mãe.
Ela deu de ombros vagarosamente. "Isso parece muito perigoso. Mas vai funcionar."
"Você tem as mesmas habilidades, não tem?" Perguntei."Você pode ver através da Névoa."
Minha mãe suspirou. "Não tanto agora. Quando eu era mais nova era fácil. Mas sim, eu sempre fui preparada para ver mais do que era bom para mim. Essa foi
uma das coisas que despertou a atenção de seu pai, quando nos encontramos pela primeira vez. Só tomem cuidado. Me prometam que ficarão a salvo."
"Bem, nós tentaremos, Sra. Jackson," Annabeth disse. "Manter seu filho seguro é uma grande responsabilidade, entretanto." Ela dobrou seus braços e olhou
para fora da janela da cozinha. Eu peguei meu guardanapo e tentei não dizer nada.
Minha mãe fez uma careta. "O que está acontecendo com vocês dois? Vocês estiveram brigando?"
Nenhum de nós disse algo.
"Compreendo," minha mãe disse, e imaginei que ela poderia ver mais do que apenas a Névoa. Parecia que ela entendia o que estava acontecendo comigo e com
Annabeth, mas eu tinha certeza que não entendia. "Bem, lembrem-se," disse, "Grover e Tyson estão contando com vocês dois."
"Eu sei," Annabeth e eu dissemos ao mesmo tempo, o que me deixou ainda mais envergonhado.
Minha mãe sorriu. "Percy, o telefone funcionará melhor no corredor. Boa sorte."
Eu estava pronto para sair da cozinha, embora estivesse nervoso sobre o que eu estava à ponto de fazer. Eu fui ao telefone para fazer a chamada. O número
tinha desaparecido de minha mão há muito tempo atrás, mas sem problema. Eu tinha decorado.

***

Nós marcamos um encontro na Times Square. Nós achamos Rachel Elizabeth Dare na frente da Marquise Marriott, e ela estava completamente pintada de ouro.
Digo, seu rosto, seu cabelo, suas roupas - tudo. Ela parecia que havia sido tocada pelo Rei Midas. Ela estava parada como uma estátua junto com outras cinco
crianças pintadas com tons metálicos - cobre, bronze, prata. Elas estavam congeladas em diferentes poses enquanto os turistas passavam apressados ou paravam para
olha-los. Alguns até colocavam dinheiro no tablado que estava na calçada.
O letreiro aos pés de Rachel dizia, ARTE URBANA PARA CRIANÇAS, DOAÇÕES SÃO APRECIADAS.
Annabeth e eu paramos ali por o que pareceu cinco minutos, parados na frente de Rachel, mas se ela nos reconheceu, não demonstrou. Ela não se mexia pelo
que eu podia ver. Por causa do ADHD e tudo o mais, eu não conseguiria fazer aquilo. Ficar imóvel por tanto tempo me deixaria louco. Era estranho ver Rachel em ouro,
também. Ela parecia a estátua de alguém famoso, uma atriz ou algo assim. Só seus olhos estavam no costumeiro verde.
"Talvez se nós a empurrarmos," Annabeth sugeriu.
Eu achei que isso era um pouco maldoso, mas Rachel não respondeu. Depois de alguns minutos, uma criança em prata caminhou do estande de táxi do hotel, como
se ele estivesse dando um tempo. Ele parou em uma pose que parecia estar dissertando a multidão, bem ao lado de Rachel. Rachel descongelou e saiu do tablado.
"Oi, Percy." Ela sorriu. "Bem na hora! Vamos tomar um café."
Ela andou até um lugar chamado Java Moose na West 43rd. Rachel pediu um Expresso Extreme, o tipo de coisa que Grover gostaria. Annabeth e eu pegamos sucos
de frutas e sentamos em uma mesa bem embaixo do alce estilizado. Ninguém olhou duas vezes para a Rachel em seu vestido de ouro.
"Então," ela disse, "é Annabell, certo?"
"Annabeth," Annabeth corrigiu. "Você sempre se veste em ouro?"
"Nem sempre," Rachel disse. "Nós estamos arrecadando dinheiro para outro grupo. Somos voluntários de projetos de arte para crianças do primário, pois eles
estão cortando as artes das escolas, você sabia? Nós fazemos isso uma vez por mês, ganhando mais ou menos quinhentos dólares em uma semana boa. Mas eu acho que você
não querem falar sobre isso. Você é meio-sangue, também?"
"Shhh!"Annabeth disse olhando em volta"Quer anunciar isso para todo mundo?" "Okay." Rachel levantou e disse realmente alto, "Hey, todo mundo! Esses
dois não são humanos! Ele são meio deuses Gregos!"
Ninguém sequer olhou em volta. Rachel deu de ombros e sentou de volta. "Eles não parecem se preocupar."
"Isso não é engraçado," Annabeth disse. "Isso não é uma piada, garota mortal."
"Ei, vocês duas." Eu disse. "Só fiquem calmas."
"Eu estou calma," Rachel insistiu. "Todo o tempo em que estou com você, algum monstro nos ataca. Porque eu ficaria nervosa?"
"Olhe," Eu disse. "Eu realmente sinto muito sobre a sala de música. Eu espero que eles não tenham pegado no seu pé ou algo parecido."
"Nah. Eles me perguntaram um monte de coisas sobre você. Eu me fiz de boba."
"Foi difícil?" Annabeth questionou.
"Ok, parem!" Eu entrevi. "Rachel, nós temos um problemas. E precisamos da sua ajuda."
Rachel estreitou seus olhos para Annabeth. "Vocês precisam da minha ajuda?"
Annabeth mexeu no canudo de seu suco. "Sim," ela disse de repente.
"Talvez"
Eu falei para Rachel sobre o Labirinto, e como precisávamos encontrar Dédalo. Eu contei a ela o que havia acontecido nas últimas vezes que havíamos estado
lá.
"Então vocês precisam de mim para guiar vocês," elas disse. "Por um lugar em que eu nunca estive."
"Você pode ver através da Névoa," Eu disse. "Como Ariadne. Estou apostando que consegue ver o caminho certo. O Labirinto não conseguirá enganar você tão
fácil. "
"E se você estiver errado?"
"Então nós nos perderemos. De qualquer modo, será perigoso. Muito, muito perigoso."
"Eu poderei morrer?"
"Sim."
"Eu acho que você disse que monstros não se importam com mortais. As espadas de vocês -"
"Sim," Eu disse. "Bronze celestial não machuca mortais. Muitos monstros vão ignorá-la. Mas Luke... ele não se importa. Ele usará mortais, semideuses, monstros,
qualquer coisa. E matará todos que ficarem em seu caminho."
"Cara legal," Rachel disse.
"Ele está sobre a influência de um Titã," Annabeth disse defensivamente. "Ele tem sido enganado."
Rachel olhou para trás e além de nós. "Okay," ela disse. "Estou dentro."
Eu pisquei. Não havia imaginado que seria tão fácil. "Você tem certeza?"
"Hey, meu verão tem sido chato. Essa é a melhor coisa que poderia ter acontecido. Então o que eu devo fazer? "
"Nós temos que achar a entrada para o Labirinto," Annabeth disse. "Há uma entrada no Acampamento Meio-Sangue, mas você não pode ir lá. É além dos limites
dos mortais."
Ela disse mortais como se fosse uma terrível condição, mas Rachel simplesmente deu de ombros. "Okay. Com o que uma entrada para o Labirinto se parece?"
"Pode ser qualquer coisa," Annabeth disse."Um pedaço de parede. Um pedregulho. Uma porta. Um bueiro. Mas teria a marca de Dédalo nele. Um Delta Grego, brilhando
em azul. "
"Como isto?" Rachel desenhou o símbolo do Delta invisível na nossa mesa.
"É isto," Annabeth disse. "Você sabe Grego?"
"Não," Rachel disse. Ela tirou uma grande escova de cabelo de plástico azul de seu bolso e começou a escovar o ouro de seu cabelo. "Me deixe trocar de roupa.
É melhor virem comigo até o Marriott. "
"Por que?" Annabeth disse.
"Porque há uma entrada parecida com isso no porão do hotel, onde guardamos nossas fantasia. É a marca de Dédalo."










CATORZE - MEU IRMÃO DUELA COMIGO ATÉ A MORTE


A porta de metal estava entreaberta atrás da lavanderia cheia de toalhas sujas do hotel. Eu não vi nada de estranho nisso, mas Rachel me disse para onde
olhar, e reconheci o símbolo apagado cravado no metal.
"Ninguém vem aqui há um bom tempo," disse Annabeth
"Eu tentei abrir a porta uma vez," disse Rachel, "só por curiosidade. Só que está emperrada."
"Não." Annabeth adiantou-se. "Só precisa do toque de um meio sangue."
Como dito, no momento em que Annabeth pôs sua mão na marca, a mesma brilhou com um tom azulado. A porta de metal vacilou e abriu, revelando uma escada escura
que levava pra baixo.
"Uau," observou Rachel calmamente, mas eu não conseguia dizer se ela estava fingindo ou não. Ela tinha trocado a camisa no Museu de Artes Moderna e seu jeans
descolorado, sua escova de cabelo de plástico azul, presa a seu bolso. Seu cabelo vermelho estava preso pra trás, mas ainda tinha manchas de ouro nele, e traços
de purpurina dourada no rosto. "Então...depois de você?"
"Você é a guia," caçoou Annabeth. "Guie."
A escada levava a um grande túnel de tijolos. Era muito escuro, eu mal conseguia ver dois passos à frente, mas Annabeth e eu tínhamos pegado lanternas. Logo
que as acendemos, Rachel gritou.
Um esqueleto sorria para nós. Não era humano. Era enorme, para uma coisa - no mínimo três metros de altura. Ele tinha sido enforcado, acorrentado pelos pulsos
e calcanhares, assim fez um tipo de X gigante no meio do túnel. Mas o que realmente me deu arrepios foi o grande olho no centro de seu crânio.
"Um ciclope," disse Annabeth. "É muito velho. Não é...ninguém que conhecemos."
Não era Tyson, foi o que ela quis dizer. Mas isso não fez sentir-me muito melhor. Ainda sentia como se ele tivesse sido colocado aqui como aviso. O que quer
que tivesse matado um ciclope adulto, eu não queria conhecer.
Rachel engoliu em seco. " Você tem um amigo que é um ciclope?"
"Tyson," eu disse. "Meu meio irmão."
"Seu meio irmão."
"Esperamos encontrá-lo aqui," eu disse. "E Grover. Ele é um sátiro."
"Ah." Sua voz era baixa. "Então é melhor continuarmos andando."
Ela abaixou para passar pelo esqueleto, e continuou caminhando. Annabeth e eu trocamos olhares. Ela deu de ombro. Seguimos Rachel pelo labirinto.
Depois de quinze metros chegamos num cruzamento. À frente o túnel de tijolo seguia. À direita, as paredes eram feitas de mármore antigo. À esquerda, o
túnel estava sujo e árvores enraizadas.
Apontei para esquerda. "Esse parece o tipo de túnel que Grover e Tyson pegariam."
Annabeth franziu as sobrancelhas. "É, mas a arquitetura do que está à direita - essas pedras gastas - é mais provável levar a uma parte antiga do labirinto,
talvez onde seja a loja de Daedulus.
"Precisamos seguir reto," disse Rachel.
Annabeth e eu olhamos pra ela.
"Essa é a última das escolhas," disse Annabeth.
"Vocês não vêem?" Rachel perguntou. "Olhem para o chão."
Eu não vi nada além de tijolos bem desgastados e lodo.
"Tem uma claridade lá," insistiu Rachel. "Bem fraca. Mas adiante é o caminho certo. À esquerda, mais à frente no túnel, as raízes daquela árvore se movem
como antenas. Não gosto disso. À direita, há uma armadilha a seis metros abaixo. Buracos nas paredes, talvez para espetos. Não acho que deveríamos arriscar."
Eu não vi nada do que ela estava vendo, mas eu concordei. "Tudo bem, a diante."
"Você acredita nela? perguntou Annabeth.
"Acredito," eu disse. "Você não?"
Annabeth me olhou como se quisesse discutir, mas ela acenou para Rachel para seguir em frente. Juntos, seguimos pelo corredor de tijolos. Ele girava, mudava,
mas não havia mais túneis. Parecíamos estar afundando, aprofundando-se no solo.
"Sem armadilhas?" perguntei ansioso.
"Nenhuma." Rachel franziu as sobrancelhas. "Deveria ser tão fácil assim?"
"Não sei," eu disse. "Nunca foi antes."
"Então, Rachel," disse Annabeth, "de onde você é, exatamente?"
Soou como se ela perguntasse, De que planeta você é? Mas Rachel não pareceu ofendida.
"Brooklin," disse ela.
"Seus pais não ficam preocupados por você estar fora tão tarde?"
Rachel suspirou. "Não muito. Eu poderia ficar fora por uma semana, e eles nem notariam."
"Por que não?" Dessa vez Annabeth não pareceu sarcástica. Ter problemas com os pais era algo que ela entendia.
Antes que Rachel pudesse responder, um barulho começou a aparecer, como grandes portas se abrindo.
"O que foi isso?" Annabeth perguntou.
"Não sei," respondeu Rachel. "Dobradiças de metal."
"Ah, ajudou muito. Digo, o que é isso?"
Então ouvi pesados passos fazendo o corredor tremer - vindo ao nosso encontro.
"Correr?" perguntei.
"Correr," Rachel concordou.
Viramos e seguimos por onde tínhamos vindo, mas não chegamos a seis metros, antes nos deparamos com velhas amigas. Duas dracaenae - mulheres cobras em armaduras
gregas - com dardos rentes aos nossos peitos. Parada entre elas, estava Kelli, a empousa líder.
"Ora, ora," disse Kelli.
Eu destampei Contracorrente, e Annabeth puxou sua faca; mas antes que minha espada tivesse fora da forma de caneta, Kelli apontava para Rachel. Sua mão transformou-se
numa garra e capturou Rachel, segurando-a firme com suas garras em seu pescoço.
"Levando sua mortalzinha de estimação para uma caminhada?" Kelli perguntou-me. "São coisinhas tão frágeis. Tão fáceis de quebrar!"
Atrás de nós, os passos ficavam mais próximos. Uma grande forma apareceu da luz - um Lestrigão de dois metros e meio com olhos vermelhos e presas.
O gigante lambeu os beiços quando nos viu. " Posso comê-los?"
"Não," Kelli disse. "Seu mestre vai querer esses. Eles providenciarão um grande duelo para diversão." Ela sorriu pra mim. "Agora andando, meio-sangues. Ou
morrerão aqui, começando pela garota mortal."

* * *

Aquele era meu pior pesadelo. E acredite em mim, eu já tive vários. Estávamos marchando túnel abaixo, escoltados pelas dracaenae, com Kelli e o gigante logo
atrás, no caso de tentarmos fugir. Ninguém pareceu se preocupar com a idéia de fugirmos. Aquela era a direção que eles queriam que nós fôssemos.
Um pouco à frente eu podia ver as portas de bronze. Elas tinham uns três metros de altura, atravessadas por um par de espadas entrelaçadas. Detrás delas,
vinha um rugido abafado, como se fosse uma multidão.
"Ah, ssssssim," disse a mulher cobra à minha esquerda. "Com o nosso anfitrião, vocês serão muito popularesssssss."
Eu nunca tinha conseguido olhar uma dracaenae muito perto antes, e não estava animado por ter a oportunidade. Ela teria um rosto bonito, exceto pela língua
dividida e os olhos amarelos, com pupilas no formato de fendas negras. Ela vestia uma armadura de bronze que terminava na cintura. Abaixo, onde suas pernas deveriam
estar, haviam dois troncos maciços de cobra, listrados de verde e bronze. Ela movia-se com uma combinação de andar e rastejar, como se ela fosse esquis vivos.
"Quem é seu anfitrião?" perguntei.
Ela sibilou, o que parecia ser uma risada. "Ah. Voccccccê verá. Você ficará furiossssssssso. Ele é sssssseu irmão, afinal."
"Meu o quê?" Imediatamente pensei em Tyson, mas isso era impossível. Do que ela estava falando?
O gigante nos empurrou e abriu a porta. Ele pegou Annabeth pela camisa e disse, "Você fica aqui."
"Ei!" ela protestou, mas o cara era duas vezes maior do que ela e ele já tinha pegado sua faca e minha espada.
Kelli riu. Ela ainda estava com as garras no pescoço de Rachel. "Vá Percy. Divirta-nos. Ficaremos aqui com seus amigos para certificar que você se comporte."
Olhei para Rachel. "Desculpe-me. Tirarei você dessa."
Ela acenou com a cabeça o máximo que pôde com um demônio na sua garganta." Seria bom."
A dracaenae me empurrou porta à dentro com a ponta do dardo, e eu entrei numa arena.

* * *

Acho que essa não era a maior arena que já estive, mas parecia bem espaçosa considerando que o lugar todo era no subsolo. O chão sujo era circular, grande
o suficiente para você dirigir um carro pela encosta, se o mantivesse bem rente. No centro da arena, uma luta estava acontecendo entre um gigante e um centauro.
O centauro parecia estar em pânico. Ele galopava ao redor de seu inimigo, usando uma espada e um escudo, enquanto o gigante segurava um dardo do tamanho de um poste
de telefone e a multidão aplaudia.
A primeira fileira de cadeiras ficava a três metros e meio do chão. Havia rochas planas por todo o lugar, todos os lugares estavam ocupados. Tinha gigantes,
dracaenae, semideuses, Fúrias, e coisas esquisitas: demônios com asas de morcego e criaturas que pareciam metade humana e outra metade com o nome que tinha - pássaro,
réptil, inseto, mamífero.
Mas as coisas mais arrepiantes eram as caveiras. A arena estava cheia delas. Elas rodeavam a borda da grade. Pilhas de um metro delas decoravam os espaços
entre entre os bancos. Elas sorriam dos picos atrás dos stands e penduradas em correntes do teto como candelabros horríveis. Alguns deles pareciam muito velhos -
nada além de ossos velhos. Outras pareciam mais novas. Eu não vou descrevê-las. Acredite em mim, você não ia querer que eu fizesse isso.
No meio de tudo isso, exposto orgulhosamente no lado da parede do telespectador, havia algo que não fez sentido para mim - um banner verde com um tridente
de Poseidon no centro. O que ele estava fazendo num lugar horrível como esse?
Sobre o banner, sentado num lugar de honra, estava um velho inimigo.
"Luke," eu disse.
Eu não tinha certeza se ele podia me escutar com todo o barulho da multidão, mas ele sorriu friamente. Ele estava de calças camufladas, uma camisa branca,
com o tórax de bronze, igual ao que eu vi no meu sonho. Mas ele ainda não estava com sua espada, o que eu achei estranho. Perto dele, estava o maior gigante que
eu já tinha visto, muito maior do que o que estava lutando com o centauro. O gigante perto de Luke devia ter uns quatro metros e meio de altura, facilmente, e tão
grande que teve que sentar em três lugares. Ele vestia só uma roupa de linho, como o traje de sumô. Sua pele era vermelha escura e tatuagens com formatos de ondas
azuis. Achei que ele devia ser o novo guarda-costas de Luke ou algo assim.
Havia um grito ecoando pela arena, e eu pulei pra trás assim que o centauro caiu na terra ao meu lado.
Ele encontrou meus olhos. "Ajuda!"
Eu procurei por minha espada, mas tinha sido tomada de mim e não tinha reaparecido em meu bolso ainda.
O centauro gemeu para levantar, enquanto o gigante aproximava-se, seu dardo já preparado.
Uma grande garra agarrou meu ombro. "Se você valoriza asss vidasss de seusss amigosss," meu guarda dracaenae disse, "você não interferirá. Essa não é a ssssua
briga. Essspere ssssua vez."
O centauro não conseguia levantar. Uma de suas pernas estava quebrada. O gigante colocou seu pé enorme no peito do centauro, e apontou seu dardo. Ele olhava
para Luke. A platéia gritava, "MORTE! MORTE!"
Luke não fez nada, mas o cara tatuado sentado ao seu lado, sorria para o centauro que gritava, "Por favor! Não!"
Então o cara do sumô fechou a mão, e fez o sinal para baixo, execução.
Fechei meus olhos enquanto o gigante gladiador jogava seu dardo. Quando olhei de novo, o centauro se fora, desintegrado em cinzas. Tudo se fora, a única
coisa que restara foi um casco, que o gigante ergueu à platéia como troféu. Ele rugia com a aprovação dela.
Um portão abriu no lado oposto do fim do estádio, por onde o gigante marchou em triunfo.
Na arquibancada, o gigante do sumô ergueu as mãos pedindo silêncio.
"Boa diversão," ele berrou. "Mas nada do que eu já não tenha visto antes. O que mais você tem Luke, Filho de Hermes?"
A mandíbula de Luke apertou-se. Eu podia apostar que ele não gostou de ser chamado de filho de Hermes. Ele odiava seu pai. Mas ele levantou-se calmamente
a seus pés. Seus olhos brilhavam. De fato, ele parecia estar de bom humor.
"Senhor Antaeus," disse Luke, alto o suficiente para a multidão ouvir. "Você tem sido um excelente anfitrião! Estaríamos felizes de entretê-lo, para agradecer
o favor de você ter nos deixado adentrar seu território.
"Um favor que eu ainda não concedi," Antaues grunhiu. "Eu quero diversão."
Luke assentiu. "Acho que tenho algo mais interessante do que centauros para lutar agora. Tenho um irmão seu," ele apontou para mim. "Percy Jackson, filho
de Poseidon."
A platéia começou a me vaiar e jogar pedras em mim, a maioria eu consegui desviar, mas uma acertou-me na bochecha e fez um grande corte.
Os olhos do gigante ergueram-se. "Um filho de Poseidon? Então ele deve lutar bem. Ou morrer bem."
"Se a morte dele agradar a você" disse Luke, "você deixará nossos exércitos cruzarem seu território?"
"Talvez!" disse Antaeus.
Luke não pareceu se importar com o "talvez", ele me fitou, como se estivesse me avisando que era bom eu morrer em um grande espetáculo, ou eu teria sérios
problemas.
"Luke!" gritou Annabeth. "Pare com isso. Deixe-nos ir!"
Ele pareceu notá-la pela primeira vez. Ele pareceu paralisado por um momento. "Annabeth?"
"Tem tempo suficiente para as lutas das fêmeas depois," interrompeu Antaeus. " Primeiro Percy Jackson, que armas você irá escolher?"
A dracaenae me jogou para o meio da arena.
Eu olhei para Antaeus. "Como você pode ser filho de Poseidon?"
"Eu sou o seu favorito!" gritou ele. "Contemple, meu templo para o Earthshaker, foi construído por esqueletos de todos aqueles que eu matei em seu nome,
em breve você se juntará a eles!"
Eu olhei horrorizado para todas as caveiras - centenas delas - e o banner de Poseidon. Como esse pode ser um templo do meu pai? Meu pai era um cara legal.
Ele nunca me pediu um cartão de Dia dos Pais, muito menos a caveira de alguém.
"Percy!" gritou Annabeth. "A mãe dele é Gaea! Gae..."
Seu guarda Lestrigão tapou a boca dela. "Sua mãe é Gaea." A deusa da terra. Annabeth estava tentando me dizer que aquilo era importante, mas eu não sabia
o porquê. Talvez seja só porque os pais do cara eram deuses. Isso o tornaria mais difícil de matar.
"Você é louco, Antaeus," disse. "Se você acha que isso é uma boa homenagem, você não sabe nada sobre Poseidon."
A multidão gritava insultando-me, mas Antaeus ergueu a mão por silêncio.
"Armas?" ele insistiu. "E então veremos como você morre. Você tem machados? Facas? Redes? Lançadores de Chamas?"
"Apenas minha espada," eu disse.
Risadas surgiram dos monstros, mas imediatamente Contracorrente apareceu em minhas mãos, e algumas das vozes na multidão ficaram nervosas. O bronze brilhava
com a luz fraca.
"Primeiro Round!" Antaeus anunciou. Os portões se abriram e uma dracaenae rastejou para fora. Ela tinha um tridente em uma das mãos e uma rede leve na outra
- tipo clássico de gladiador. Treinei contra essas armas por anos.
Ela golpeou primeiro. Desviei. Ela jogou sua rede, esperando prender a mão que eu segurava a espada, mas eu desviei facilmente, cortei seu tridente ao meio,
e deferi um golpe com Contracorrente numa fenda em sua armadura. Com um gemido doloroso, ela vaporizou, e os gritos da multidão cessaram.
"Não!" gritou Antaeus. "Muito rápido! Você deve esperar para matar. Só quando eu der a ordem."
Eu olhei para Annabeth e Rachel. Eu tinha que achar um jeito de libertá-las, talvez distrair seus guardas.
"Bom trabalho, Percy." Luke sorriu. "Você melhorou o uso da espada. Eu te parabenizo."
"Segundo Round!" rugiu Antaeus. "E calma desta vez! Mais diversão! Espere pela minha ordem para poder matar alguém. OU ALGO!"
Os portões abriram-se novamente e desta vez um jovem guerreiro saiu. Ele era um pouco mais velho do que eu, por volta dos dezesseis. Ele tinha um cabelo
preto brilhante, e seu olho esquerdo era coberto por um tapa-olho. Ele era magro e vestia uma armadura grega larga em seu corpo. Ele apoiou sua espada no chão, ajustando
seu escudo, e pôs seu capacete de crina de cavalo.
"Quem é você?" perguntei.
"Ethan Nakamura," ele respondeu. "Eu tenho que matar você."
"Por que você está fazendo isso?"
"Ei!" um monstro gritou das arquibancadas. "Parem de falar e lutem!"
Os outros concordaram.
"Eu tenho que me colocar à prova," me disse Ethan. "É o único jeito de ser aceito no grupo."
E com isso ele atacou. Nossas espadas se encontraram no ar e a platéia gritou. Não parecia ser certo. Eu não queria lutar para divertir um monte de monstros,
mas Ethan Nakamura não estava me dando muita escolha.
Ele pressionou avançando. Ele era bom. Ele nunca esteve no acampamento, que eu saiba, mas ele era treinado. Ele desviou meu golpe e quase me derrubou com
seu escudo, mas eu pulei para trás. Ele atacou, eu rolei para o lado. Nós trocamos golpes, surpreendendo-nos com ambos estilos de luta. Tentei me manter no lado
do tapa olho de Ethan, mas não ajudou muito. Ele parecia estar lutando só com um olho há bastante tempo, porque ele era excelente com sua esquerda.
"Sangue!" gritavam os monstros.
Meu oponente olhava para a platéia. Essa era sua fraqueza, pensei. Ele precisava impressionar a platéia, eu não.
Ele soltou um grito de batalha e me atacou, mas eu desviei sua lâmina e me afastei, deixando-o vir atrás de mim.
"Buu!" vaiou Antaeus. "Levante e lute."
Ethan me pressionava, mas eu não tinha problema em me defender, mesmo sem um escudo. Ele estava armado - uma armadura pesada e escudo - o que o deixou bem
cansado com meu jogo de defensiva. Eu era um alvo fácil, mas também era ligeiro e mais esperto. A multidão foi para as grades, gritando e tacando pedras. Estávamos
brigando há quase cinco minutos e não havia nenhuma gota de sangue.
Finalmente Ethan cometeu seu erro. Ele tentou me acertar na barriga, e eu vi o punho de sua espada bater com o meu, e desviei. Sua espada caiu no chão, e
antes que ele pudesse se recuperar, eu bati no seu capacete com a minha espada e o derrubei. Sua armadura me ajudou mais que ele. Ele caiu de bunda, cansado. Coloquei
a ponta de minha espada em seu peito.
"Termine com isso," Ethan grunhiu.
Eu olhei para Antaeus. Seu rosto vermelho estava rígido de desgosto, mas ele fechou sua mão, e virou-a para baixo.
"Esquece." Eu abaixei minha espada.
"Não seja idiota." grunhiu Ethan. "Eles vão matar nós dois."
Eu estendi minha mão. Relutantemente, ele a segurou. Eu o ajudei a levantar.
"Ninguém quebra as regras do jogo!" rugiu Antaeus. "Suas cabeças servirão como tributo a Poseidon."
Olhei para Ethan. "Quando você tiver chance, corra." depois me virei para Antaeus. "Por que você mesmo não luta comigo? Se você tem a permissão do Pai, venha
aqui embaixo e prove!"
Os monstros gritavam nas arquibancadas. Antaeus deu uma olhada em volta, e viu que não tinha escolha. Ele não poderia dizer não sem parecer um covarde.
"Eu sou o melhor lutador do mundo, rapaz," ele avisou. "Venho lutando desde o primeiro Pancrácio!"
"Pancrácio?" perguntei.
"Ele quis dizer sobre as lutas até a morte," disse Ethan. "Sem regras. Sem barreiras. Costumava ser um esporte Olímpico."
"Valeu pela cola," eu disse.
"Não fale disso."
Rachel me olhava com olhos bem abertos. Annabeth mexia sua cabeça loucamente, a mão do Lestrigão continuava tapando sua boca.
Apontei minha espada para Antaeus. "O ganhador leva tudo! Se eu vencer, somos todos libertados. Se você ganhar, morremos. Jure pelo Rio Styx.!
Antaeus gargalhou. "Isso não vai demorar muito. Eu concordo com suas condições!"
Ele saiu do lugar, e pulou na arena.
"Boa sorte," Ethan me disse. "Você precisará." Depois ele se afastou rapidamente.
Antaeus estalou seus dedos. Ele grunhiu, e eu vi que até mesmo seus dentes tinham tatuagens de ondas, que deveria ter doído quando escovava os dentes depois
das refeições.
"Armas?" ele perguntou.
"Ficarei com minha espada e você?"
Ele mostrou suas mãos enormes e mexeu os dedos. "Eu não preciso de armas! Luke, você será o juiz."
Luke sorriu para mim. "Com prazer."
Antaeus atacou. Eu passei por debaixo de suas pernas e apunhalei suas coxas por trás.
"Arghhhhhh!" ele gritou. Mas onde deveria estar sangrando, havia um jorro de areia, como se eu tivesse quebrado o lado de uma ampulheta. A areia caiu no
chão imundo, e começou a rodear suas pernas, quase como um molde. Quando a terra sumiu, a ferida havia desaparecido.
Ele atacou de novo. Por sorte eu já tinha alguma experiência em lutar com gigantes. Desviei e desta vez ataquei embaixo de seu braço. A lâmina de Contracorrente
perfurou até o punho em suas costelas. Essa era boa notícia. A má notícia era que Contracorrente foi puxada de minha mão, quando o gigante se virou. Eu estava no
meio da arena, sem arma.
Antaeus gritou de dor. Esperei por ele se desintegrar. Nenhum monstro jamais sobreviveu um ataque de Contracorrente assim. A lâmina de bronze da espada tinha
que ter destruído sua essência. Mas Antaeus apalpou suas costelas, puxou a espada e jogou-a para trás dele. Mais areia jorrou da ferida, mas a terra veio e a cobriu
de novo. Ele estava coberto até os ombros de terra. Enquanto a terra o cobrisse, Antaeus estava bem.
"Agora você verá porque eu nunca perco, semideus!" grunhiu Antaeus. "Venha cá e me deixe esmagá-lo. Prometo que será bem rápido!"
Antaeus estava entre mim e minha espada. Desesperado, olhei para ambos os lados, e notei os olhos de Annabeth.
A terra, pensei. O que Annabeth tinha tentado me dizer? A mãe de Antaeus era Gaea, a Mãe Terra, a deusa mais antiga de todas. O pai de Antaeus poderia ser
Poseidon, mas Gaea o mantinha vivo. Eu não poderia feri-lo enquanto ele estivesse em contato com a terra.
Eu tentei cercá-lo, mas Antaeus antecipava meus movimentos. Ele bloqueou meu caminho, jogando-se. Agora ele só estava brincando comigo. Ele me tinha encurralado.
Eu olhei para as correntes penduradas no teto, suspendendo as caveiras de seus oponentes. De repente tive uma idéia.
Eu fui para seu outro lado. Antaeus me bloqueou. A multidão gritava para ele acabar comigo, mas ele estava se divertindo.
"Pobre garoto," ele disse. "Não se preocupe Filho do Deus do Mar!"
Senti minha caneta retornar a meu bolso, mas Antaeus não sabia disso. Ele ainda achava que Contracorrente estava na terra atrás dele. Ele acharia que minha
intenção era conseguir a espada. Não era muita vantagem, mas era tudo o que eu tinha.
Eu marchei para frente, abaixando-me devagar, assim ele pensaria que eu ia passar por debaixo de suas pernas de novo. Enquanto ele estava parando, preparando
para me pegar como uma bola, eu pulei o máximo que podia - pulando em seu braço, e subindo por seu ombro como se fosse uma rampa, pisando em sua cara. Ele fez o
que se esperava. Ele cambaleou indignado e gritou "Ei!" Eu pulei usando a sua força como catapulta para conseguir chegar à grade. Eu segurei numa corrente, e as
caveiras e ganchos balançavam entre mim. Eu travei a parte superior de uma corrente, e os crânios e os ganchos soavam estridentes abaixo de mim. Eu enrosquei minhas
pernas nas correntes, assim como eu fazia com as cordas na aula de Educação Física. Eu puxei Contracorrente e arrebentei a corrente perto de mim.
"Desça aqui, covarde!" praguejou Antaeus. Ele tentou me agarrar, mas eu já estava fora de alcance. Prezando minha linda vida, eu gritei, " Venha aqui me
pegar! Ou você é muito gordo e lento?"
Ele pegou impulso e tentou me pegar de novo. Ele segurou uma corrente e tentou se jogar pro alto. Enquanto ele se esforçava, eu desci minha corrente, o gancho
primeiro. Isso me proporcionou duas tentativas, mas finalmente eu o prendi na roupa de Antaeus.
"WAA!" ele gritou. Rapidamente eu escorreguei pela corrente livre e juntei com minha própria corrente, firmando as duas, juntando o máximo que podia. Antaeus
tentou voltar ao chão, mas seu corpo estava preso no alto por sua roupa. Ele teve que se segurar em outras correntes com ambas as mãos para evitar ficar de cabeça
pra baixo. Rezei para que as correntes e a roupa o agüentassem por mais uns segundos. Enquanto Antaeus balançava e segurava-se, eu me balancei pelas correntes, como
se eu fosse algum tipo de macaco louco. Eu dava giros com os ganchos das correntes. Eu não sei como eu fiz aquilo. Minha mãe sempre me disse que eu tenho um dom
por conseguir o que eu queria. Com quanto que eu estava desesperado para salvar meus amigos. De qualquer forma, em poucos minutos o gigante estava suspenso sobre
o chão, grunhindo entre correntes. Eu pulei no chão, calmamente. Minha mão estava machucada pelas correntes.
"Me desça daqui!" Antaeus exigiu.
"Solte-o!" Luke ordenou. "Ele é o nosso anfitrião!"
Eu destampei Contracorrente. "Eu vou soltá-lo."
Eu acertei o gigante no estômago. Ele rugiu e mais areia saiu, mas ele estava muito longe do chão, e a terra não conseguia o alcançar para ajudá-lo. Antaeus
dissolveu-se, pouco a pouco, até não sobrar mais nada além de correntes vazias, uma grande roupa de linho nas correntes, e um monte de caveiras dançando sobre mim
como se elas finalmente tivessem um motivo pra sorrir.
"Jackson!" Luke gritou. "Eu já devia ter te matado há muito tempo!"
"Você cansou," lembrei a ele. "Agora nos deixe ir Luke. Tivemos um acordo com Antaeus, eu venci."
Ele fez o que eu esperava, apenas disse. "Antaeus está morto. Sua palavra morre com ele. Mas se eu estiver me sentindo piedoso hoje, eu o matarei bem rápido."
Ele apontou para Annabeth. "Poupe a garota." Sua voz falhou um pouco. "Eu quero falar com ela primeiro - antes de nossa grande vitória."
Cada monstro na multidão puxou suas armas, ou mostrou suas garras. Nós tínhamos sido enganados. Uma desvantagem desesperante.
Foi quando senti uma coisa em meu bolso - uma sensação gelada, um frio crescendo mais e mais. O apito de gelo. Meus dedos fecharam-se em volta dele. Por
dias eu evitei usar o presente de Quintus. Tinha que ser uma armadilha. Mas agora... Eu não tive escolha. Eu o tirei de meu bolso e soprei. Não fez nenhum som enquanto
estilhaçava-se em pedaços, derretendo em minhas mãos.
Luke riu. "O que isso deveria fazer?"
Atrás de mim surgiu um grito de surpresa. O Lestrigão que escoltava Annabeth voou por mim e chocou-se contra parede.
"AROOOOF."
Kelli a empousa gritou quando um mastiff negro de 227 kg a pegou como um brinquedo da mastigação e a lançou pelo ar, direto no trono de Luke. Senhora O-Leary
ganiu, e as duas dracaenae afastaram-se. Por um momento os monstros na arena foram pegados de surpresa.
"Vamos lá!" Eu gritei para meus amigos. "Atrás de nós, Senhora O-Leary!"
"A saída mais longe!" choramingou Rachel. "Aquele é o caminho certo."
Ethan Nakarume pegou sua espada. Juntos, atravessamos a arena e saímos pela saída mais distante, a Senhora O´Leary logo atrás de nós. Enquanto corríamos,
eu podia ouvir os sons misturados de uma multidão inteira tentando pular das arquibancadas e nos seguir.



































QUINZE - Roubamos Algumas Asas Usadas


"Por aqui!" Rachel gritou.
"Por que deveríamos seguir você?" Annabeth reclamou. "Você nos levou direto para aquela armadilha da morte!"
"Aquele era o caminho que devíamos seguir." disse Rachel. "Agora é esse. Venham!"
Annabeth não pareceu estar contente com isso, mas ela correu junto a nós. Rachel parecia saber exatamente para onde estava indo. Ela passava pelos corredores,
parecendo nem se preocupar com os cruzamentos. Uma vez ela disse uma vez "Pato!" e todos nós nos abaixamos assim que um grande machado passou por cima de nossas
cabeças. Então continuamos a correr como se nada tivesse acontecido.
Perdi a conta de quantas voltas fizemos. Não paramos para descansar até que chegamos a uma sala do tamanho de um ginásio, com velhas colunas de mármore segurando
o teto. Eu parei na porta, tentando ouvir gritos de uma multidão, mas não havia nada. Aparentemente tínhamos despistado Luke e seus monstros no labirinto.
Foi ai que eu percebi: Senhora O'Leary tinha sumido. Eu não tinha idéia de quando ela tinha desaparecido. Eu não sabia se ela tinha se perdido, ou rapitada
por monstros ou algo assim. Meu coração apertou. Ela tinha salvado nossas vidas, e eu nem ao menos esperei pra ter certeza se ela estava nos seguindo.
Ethan caiu no chão.
"Vocês são loucos." ele tirou seu capacete. Seu rosto brilhava por causa do suor.
Annabeth ofegou.
"Eu me lembro de você. Você era uma daquelas crianças indeterminadas no chalé de Hermes, anos atrás."
Ele olhou para ela.
"É, e você é Annabeth. Eu me lembro."
"O que, o que aconteceu com seu olho?"
Ethan desviou o olhar, e tive a sensação que isso era algo que ele não falaria.
"Você deve ser o meio-sangue do meu sonho." eu disse. "Aquele que os amigos de Luke encurralaram. Afinal, não era o Nico."
"Quem é Nico?"
"Não importa." Annabeth disse rapidamente. "Por que você estava tentando fazer parte do lado errado?"
Ethan sorriu desdenhosamente.
"Não há lado certo. Os deuses nunca se importaram conosco. Por que eu deveria...?"
"Juntar-se com um exercito que te obriga a lutar até a morte?" disse Annabeth. "Puxa, eu ia querer."
Ethan mexeu seu pé.
"Não vou discutir com você. Valeu pela ajuda, mas eu estou fora dessa."
"Vamos procurar Daedalus." eu disse. "Venha com agente. Uma vez que conseguirmos chegar lá, você será bem vindo de volta ao acampamento."
"Vocês estão loucos se pensam que Daedalus vai ajudar vocês."
"Ele tem que ajudar." disse Annabeth. "Nós o faremos ouvir."
Ethan bufou.
"É, bem. Boa sorte com isso."
Eu agarrei seu braço.
"Você vai andar pelo labirinto sozinho? Isso é suicídio."
Ele olhou para mim mal controlando a raiva. Suas pupilas estavam dilatadas nas bordas e sua roupa preta desbotada, como se ele a estivesse usando há muito
tempo.
"Você não deveria se preocupar comigo, Jackson. Pena não tem lugar nessa guerra."
Então ele se virou e correu para escuridão, de onde tínhamos vindo.

* * * * *

Annabeth, Rachel e eu estávamos exaustos, então acampamos aqui mesmo, na enorme sala. Encontrei uns gravetos secos e fizemos uma fogueira. Sombras dançavam
nas colunas erguendo-se em volta de nos como arvores.
"Algo estava errado com Luke." Annabeth murmurou, cutucando o fogo com sua faca. "Vocês notaram como ele estava agindo?"
"Ele parecia muito contente para mim." eu disse. "Como se ele tivesse passado um ótimo dia torturando heróis."
"Não é verdade! Havia algo de errado com ele. Ele parecia... Nervoso. Ele disse a seus monstros para me pouparem. Ele queria me dizer algo."
"Provavelmente, 'Oi Annabeth. Sente aqui comigo e assista enquanto eu torturo seus amigos. Será divertido!'"
"Você é ridículo." Annabeth resmungou. "Ela pegou sua faca e olhou para Rachel. "Então, para onde devemos ir agora, Sacagawea?"
Rachel não respondeu imediatamente. Ela ficou quieta desde o ocorrido na arena. Agora, seja qual comentário sarcástico que Annabeth fazia, Rachel mal se
preocupava em responder. Ela queimou a ponta de um graveto e o estava usando para desenhar no chão, desenhos dos monstros que vimos. Com poucos riscos, ela desenhou
uma dracaenae perfeitamente.
"Seguiremos o caminho." ela disse. "A claridade no chão."
"A claridade que nos levou para a armadilha?" perguntou Annabeth.
"Deixe-a em paz Annabeth." eu disse. "Ela esta fazendo o máximo que pode."
Annabeth levantou-se.
"A fogueira está apagando. Vou procurar mais gravetos enquanto vocês combinam estratégias." ela foi para a escuridão
Rachel desenhou outra figura - um Antaeus em cinzas pendurado por suas correntes.
"Annabeth não está acostumada a isso." eu disse. "Não sei qual é o problema dela."
Rachel ergueu os olhos.
"Você tem certeza que não sabe?"
"Como assim?"
"Garotos." ela murmurou. "Totalmente cegos."
"Ei, não venha pegar no meu pé também! Olha, me desculpe por tê-la envolvido nisso."
"Não, você estava certo." ela disse. "Eu posso ver o caminho. Eu não consigo explicar, mas eu vejo claramente."
Ela apontou para a outra saída da sala, para a escuridão.
"A loja é praquele lado. O coração do labirinto. Estamos bem perto agora. Não sei por que o caminho nos levou para a arena. Me, me desculpe por aquilo. Pensei
que você fosse morrer."
Parecia que ela estava prestes a chorar.
"Ei, eu to acostumado a quase morrer." Tentei convencê-la. "Não se sinta mal."
Ela estudou meu rosto.
"Então você faz isso todo verão? Luta com monstros? Salva o mundo? Você nunca vai fazer, sei lá, coisas normais?"
Eu nunca havia pensando nisso por esse ponto de vista. A ultima vez que eu tive algo parecido com uma vida normal, foi... Bem, nunca.
"Meio sangues são acostumados a isso, eu acho. Talvez não a isso, mas..." me mexi desconfortavelmente. "E você? O que você faz de normal?"
Rachel deu de ombros.
"Eu pinto. E leio muito."
Ótimo, pensei. De longe estávamos falando a mesma língua.
"E quanto a sua família?"
Eu pude sentir sua concha blindada se fechando, esse não era um assunto muito seguro.
"Ah... eles, tipo, são família."
"Você disse que eles não notariam se você fosse embora."
Ela abaixou seu graveto.
"Uau, eu estou muito cansada. Eu vou dormir um pouco, tudo bem?"
"Ah, claro. Desculpa se eu..."
Mas Rachel já estava se agachando, fazendo de sua mochila seu travesseiro. Ela fechou seus olhos e deitou calmamente, mas eu sabia que ela ainda não estava
realmente com sono.
Poucos minutos depois, Annabeth voltou. Ela jogou mais alguns gravetos na fogueira. Ela olhou para Rachel e depois para mim.
"Eu fico com a primeira vigia." ela disse. "Você deveria dormir também."
"Você não deveria agir assim."
"Assim como?"
"Tipo... Não me importo." eu me deitei, sentindo-me horrível. Estava tão cansado, que assim que fechei os olhos peguei no sono.

* * * * *

Em meus sonhos eu ouvia risadas. Frias e severas risadas, como facas sendo afiadas.
Eu estava parado na ponta do penhasco do Tártaro. Abaixo de mim a escuridão fervia como uma sopa de tinta.
"Tão perto de ser destruído, heroizinho." a voz de desaprovação de Cronos. "E ainda não consegue ver."
A voz estava diferente de antes. Parecia mais física agora, como se ele tivesse falando de um corpo solido... o que quer que estivesse naquela sua condição.
"Eu tenho muito a agradecer." disse Cronos. "Você assegurou minha volta."
As sombras na caverna ficaram mais escuras e pesadas. Eu tentei me afastar da ponta, mas era como se eu estivesse andando em óleo. Tempo corria lento. Minha
respiração quase parou.
"Um favor." Cronos disse. "O Senhor dos Titãs sempre cumpre seus débitos. Quem sabe uma olhada nos amigos que você abandonou..."
A escuridão me envolveu, e eu estava numa caverna diferente.
"Anda!" - Tyson gritou. Ele vinha correndo para a sala.
Grover vinha logo atrás dele. Havia um chiado do corredor de onde eles vinham, e a cabeça de uma enorme cobra aparecia na caverna. Digo, essa coisa era tão
grande que seu corpo mal cabia no túnel. Suas escamas eram cônicas. Sua cabeça era retangular como um diamante, e nela havia olhos amarelos que brilhavam de ódio.
Quando ela abriu sua boca, suas presas eram tão grandes quanto Tyson.
Ela tentou acertar Grover, mas ele escapou do caminho. A cobra estava coberta de terra. Tyson pegou uma rocha, e tacou entre os olhos do monstro. Mas ela só
recuperou-se e chiou.
"Ela vai te comer." gritou Grover para Tyson.
"Como você sabe?"
"Ela me disse! Corre!"
Tyson se atirou para um lado, mas a cobra usou sua cabeça como um bastão, e o derrubou a seus pés.
"Não!" Grover gritou.
Mas antes que Tyson pudesse se recuperar, a cobra o envolveu e começou a apertá-lo.
Tyson resistiu, tentando se soltar com toda sua força, mas a cobra apertava mais forte. Grover, desesperado, começou a bater com suas flautas na cobra, mas
era como bater em uma parede de pedra.
A caverna inteira tremeu quando a cobra flexionou seus músculos, rendendo-se a força de Tyson.
Grover começou a tocar sua flauta, e estalactites começaram a cair do teto. A caverna inteira parecia entrar em colapso.

* * * * *

Eu acordei com Annabeth me chacoalhando pelos ombros.
"Percy, acorde."
"Tyson, Tyson esta com problemas!" eu disse. "Temos que ajudá-lo."
"Uma coisa de cada vez." ela disse. "Terremoto!"
Sem duvida alguma, o quarto estava tremendo.
"Rachel!" eu gritei.
Seus olhos abriram-se imediatamente. Ela pegou sua mochila, e nós três corremos. Estávamos quase chegando ao túnel mais longe, quando uma coluna caiu e nos
bloqueou. Continuamos correndo enquanto um monte de mármore caia atrás de nós.
Corremos para o corredor e entramos a tempo de ver uma coluna cair. Uma nuvem de poeira branca nos rodeava, e continuamos correndo.
"Quer saber?" disse Annabeth. "Eu gosto deste caminho afinal."
Não demorou muito para vermos luz à frente - uma luz elétrica.
"Lá." disse Rachel.
Seguimos ela para um grande hall de aço inoxidável, como eu imaginei que eles tivessem numa estação espacial ou algo assim. Luzes florescentes brilhavam
no teto. O chão era de um metal retalhado. Estava tão acostumado com a escuridão, que eu tive que semi cerrar os olhos. Anabbeth e Rachel pareciam pálidas na iluminação
ofuscante.
"Por aqui." disse Rachel, começando a correr. "Estamos perto!"
"Está errado." Annabeth disse. "A oficina deveria estar na seção mais antiga. Não tem como esse ser..."
Ela cambaleou, porque tínhamos chegado à frente de duas portas de metal.
Escrito no aço, no nível dos olhos, havia um grande e azul ?.
"Chegamos." Rachel anunciou. "A oficina de Daedalus."

* * * * *

Annabeth apertou o símbolo das portas, e elas se abriram com um silvo.
"Demais para uma arquitetura antiga." eu disse.
Annabeth fechou a cara. Entramos juntos.
A primeira coisa que me prendeu foi a luz do dia - um sol resplandecente vinha das janelas imensas. Não é muito bem o que você espera no coração de uma masmorra.
A oficina era como um estúdio de artes, com um teto de três metros e luzes industriais, as pedras do chão polidas, e escrivaninhas ao longo das janelas. Uma escada
espiral dava para o segundo andar. Mais de uma dúzia de cavaletes mostravam diagramas à mão de prédios e maquinas que mais pareciam esboços de Leonardo da Vinci.
Vários laptops estavam sobre as mesas. Jarras de vidro com um óleo verde - Fogo Grego - pendiam nas prateleiras. Havia invenções também - maquinas de metal estranhas
que eu não conseguia entender. Uma era uma cadeira de bronze com fios elétricos junto a ela, como algum tipo de esquema de tortura. No outro canto, havia um ovo
enorme de metal, aproximadamente do tamanho de um homem. Havia um relógio de pendulo que parecia ser feito totalmente de vidro, assim você podia ver todas engrenagens
funcionando. E pendurados na parede havia vários pares de asas de bronze e prata.
"Di immortales." Annabeth resmungou. Ela correu para o cavalete mais perto e olhou os esboços. "Ele é um gênio. Olha as curvas deste prédio."
"E um artista." disse Rachel em apreciação. "Essas asas são incríveis."
As asas pareciam mais avançadas do que as que eu vi em meus sonhos. As penas eram mais rigorosamente entrelaçadas. Ao invés dos lacres, alto adesivos se
desprenderam dos lados.
Peguei Contracorrente e mantive a mão. Aparentemente Daedalus não estava em casa, mas a oficina parecia como se tivesse sido usada recentemente. Os laptops
estavam com seus protetores de tela. Um muffin de blueberry pela metade e uma xícara de café estavam em cima da escrivaninha.
Eu fui até a janela. A vista era incrível. Eu reconheci as Rocky Mountains à distancia. Estávamos sobre os vales, no mínimo uns quinhentos metros, e abaixo
um vale surgia, coberto por Monhas Rochosas e rochas e agulhas de pedra. Parecia que uma grande criança havia construído a cidade de brinquedo com arranha-céus do
tamanho de tijolos, e depois decidiram derrubá-los.
"Onde estamos?" perguntei.
"Colorado Springs." uma voz disse atrás de nós. - O Jardim Dos Deuses.
Parado na escada espiral acima de nós, com sua arma desenhada, estava Quintus, nossa espada desaparecida.

* * * * *

"Você," disse Annabeth. "O que você fez com Daedalus?
Quintus sorriu vagamente.
"Acredite em mim, minha querida. Você não vai querer conhecê-lo."
"Olhe aqui, Senhor Traidor." Annabeth grunhiu. "Eu não lutei com uma mulher dragão, um homem três vezes maior, e um Sphinx psicótico pra ver você. Agora,
cadê DAEDALUS?"
Quintus desceu as escadas, segurando sua espada ao lado. Ele estava de jeans e botas, com sua camisa de diretor do Acampamento Meio Sangue, que mais me parecia
um insulto, uma vez que sabíamos que ele era um espião. Eu não sabia se eu era capaz de enfrente-lo numa luta de espadas. Ele era muito bom. Mas achei que deveria
tentar.
"Você acha que eu sou um agente de Cronos," ele disse. "E que trabalho pra Luke."
"Muito bem." disse Annabeth.
"Você é uma garota inteligente." disse ele. "Mas você está errada. Eu trabalho apenas para eu mesmo."
"Luke mencionou sue nome." eu disse. "Geryon sabia de você também. Você tinha estado em sua fazenda."
"Claro que ele disse." respondeu ele. "Eu já estive em quase todos lugares, inclusive aqui."
Ele passou por mim como se eu não representasse perigo e parou de frente a janela.
"A visão muda dia após dia." ele disse. "É sempre algum lugar elevado. Ontem foi um arranha-céu sobre Manhattan. Um dia antes, tinha uma linda visão do Lago
Michigan. Mas continua voltando para o Jardim dos Deuses. Acho que o Labirinto gosta daqui. Um nome adequado, eu suponho."
"Você já esteve aqui antes." eu disse.
"Ah, sim!"
"É uma ilusão lá fora?" perguntei. "Uma projeção ou algo assim?"
"Não," Rachel murmurou. "É verdade. Estamos mesmo no Colorado."
Quintus acenou para ela.
"Você tem uma visão clara, não tem? Você me lembra de uma outra garota mortal que eu conheci uma vez. Outra princesa que veio de luto."
"Chega de jogos." eu disse. "o que você fez com Daedalus?"
Quintus olhou para mim.
"Meu rapaz, você precisa de aulas de sua amiga de como ver claramente. Eu sou Daedalus."

* * * * *

Tinha um monte de respostas que eu deveria ter dado, de "Eu já sabia." A "MENTIROSO!" e a "É claro, e eu sou Zeus".
A única coisa que eu consegui pensar em dizer foi:
"Mas você não é um inventor. É um espadachim."
"Sou ambos." Quintus disse. "E um arquiteto. E um professor. E também jogo basquete muito bem para um cara que não jogou até ele ter dois mil anos. Um artista
de verdade tem que ser bom em muitas coisas."
"Verdade." disse Rachel. "Igual a eu poder pintar com meus pés tão bem quanto com as mãos."
"Viu só?" Quintus disse. "Uma garota com vários talentos."
"Mas você não se parece com Daedalus" protestei "Eu o vi em um sonho, e..."
De repente um horrível pensamento surgiu em mim
"Sim," Quintus disse "Você finalmente adivinhou a verdade."
"Você é um automato. Você se transforma em um novo corpo."
"Percy," disse Annabeth com dificuldades. "Isso não é possível. Aquilo, aquilo não pode ser um automato."
Quintus riu.
"Você sabe o que Quintus quer dizer, minha querida?
"O quinto, em latim. Mas..."
"Esse é o meu quinto corpo." o espadachim segurou seu antebraço. Ele pressionou seu cotovelo e parte de seu pulso se abriu com um estalo - um painel retangular
em sua pele. Debaixo dela, engrenagens zuniam. Fios brilhavam.
"Incrível!" disse Rachel.
"Estranho." eu disse.
"Você achou um jeito de transferir seu animus para uma maquina?" disse Annabeth. "Isso... não é normal."
"Ah, eu a asseguro, minha querida, ainda sou eu. Ainda sou muito o Daedalus. Nossa mãe, Atenas, faz questão de nunca esquecer isso."
Ele puxou o colarinho da sua camisa. No começo de seu pescoço, havia a marca que eu já tinha visto antes - o desenho de um pássaro negro tatuado em sua pele.
"Uma mente de assassino." disse Annabeth.
"Por seu sobrinho, Perdix," eu disse. "O garoto que você empurrou da torre."
O rosto de Quintus escureceu.
"Eu não o empurrei, eu só..."
"Fez ele perder o equilíbrio." eu disse. "Deixou-o morrer."
Quintus contemplou as montanhas rochosas pela janela.
"Eu me arrependo do que eu fiz, Percy. Eu estava furioso e ignorante. Mas eu não posso trazê-lo de volta, e Atenas nunca me deixa esquecer. Assim que Perdix
morreu, ela o transformou em um pequeno pássaro - um perdiz. Ela tatuou o formato do pássaro no meu pescoço como recordação. Não importa qual corpo eu tome, o pássaro
surge em minha pele."
Eu olhei para seus olhos, e vi o mesmo homem que aparecia em meus sonhos. Seu rosto estava completamente diferente, mas a mesma alma estava lá. - a mesma
inteligência e toda tristeza.
"Você é mesmo Daedalus." eu decidi. "Mas por que você veio para o acampamento? Por que nos espiar?"
"Para ver se o acampamento valia a pena ser salvo. Luke me contou uma versão da historia. Preferi vir tirar minhas próprias conclusões."
"Então você conversou com Luke."
"Ah, sim. Várias vezes. Ele é bastante persuasivo."
"Mas agora você viu o acampamento." Annabeth persistiu. "E você sabe que nós precisamos de sua ajuda. Você não pode deixar Luke passar pelo Labirinto."
Daedalus apoiou sua espada sobre a escrivaninha.
"O Labirinto não está mais no meu controle, Annabeth. Eu o criei, sim. De fato, ele é mantido por minha vida vital. Mas eu o dei permissão para crescer e
viver por ele mesmo. Esse é o preço que pago por privacidade."
"Privacidade de que?"
"Dos deuses," ele disse. "E da morte. Eu tenho vivido por dois milênios, minha querida. Fugindo da morte."
"Mas como você consegue se esconder de Hades?" perguntei. "Quero dizer... Hades tem as Fúrias."
"Elas não sabem tudo." ele disse. "Ou vêem tudo. Você as enfrentou, Percy. Você sabe que é verdade. Um homem esperto pode se esconder por muito tempo, e
eu tenho me entocado muito. Só o meu grande inimigo chegou atrás de mim, e mesmo assim eu o impedi."
"Você quer dizer o Minos." eu disse.
Daedalus assentiu.
"Ele me caçou incansavelmente. Agora que ele é um juiz da morte, ele adoraria nada mais além de mim a sua frente, para poder me punir por meus crimes. Depois
que as filhas de Cocalus mataram ele, o fantasma de Minnos fantasma começou a me torturar em meus sonhos. Ele prometeu que me caçaria. Fiz a única coisa que podia.
Eu me retirei do mundo para sempre. Eu vim para meu Labirinto. Eu decidi que esse seria minha ultima realização: eu enganaria a morte."
"E você enganou," Annabeth maravilhou-se. "Por dois mil anos." Ela parecia meio impressionada, apesar das coisas horríveis que Daedalus tinha feito.
Foi aí que um baque alto ecoou do corredor. Eu ouvia os ba-BUMP, ba-BUMP, ba-BUMP de grandes patas, e a Senhora O'Leary pulou pela escrivaninha. Ela lambeu
meu rosto uma vez, e depois quase nocauteou Daedalus com seu salto entusiasmado. "Aí esta minha velha amiga." Daedalus disse, acariciando Senhora O'Leary
atrás de suas orelhas. "Minha única companhia por esses longos anos solitários."
"Você a deixou me salvar." eu disse. "Aquele apito realmente funcionou."
Daedalus assentiu.
"Claro que funciona, Percy. Você tem um bom coração. E eu sabia que Senhora O'Leary gostava de você. Eu queria te ajudar. Porventura eu, eu me senti bem
culpado."
"Culpado pelo que?"
"Essa sua pergunta seria em vão."
"O que?" disse Annabeth. "Mas você pode nos ajudar. Você tem que nos ajudar. Nos de o colar de Ariadne, então Luke não o pegará"
"Sim... o colar. Eu disse ao Luke que os olhos de uma mortal vidente são os melhores guias, mas ele não acreditou em mim. Ele estava tão focado na sua ideia
de um item mágico. E o colar funciona. Não é tão valioso quanto a sua amiga aqui, entretanto. Mas valioso o suficiente. Valioso o suficiente."
"Onde ele está?" Annabeth perguntou.
"Com Luke." disse Daedalus tristemente. "Desculpa-me, minha querida. Mas vocês estão atrasados há muito tempo."
Com uma calma eu percebi que Luke estava de bom humor na arena. Ele já tinha pego o colar de Daedalus. Seu único obstáculo tinha sido a arena, e eu tinha
dado conta dela por ter matado Antaeus.
"Cronos me prometeu liberdade." Quintus disse. "Uma vez que Hades for derrubado, ele me libertaria do Mundo Inferior. Eu reclamarei meu filho Icarus. Eu
farei o certo com o pobre Perdix. Eu verei a alma de Minos presa no Tártaro, onde não poderá mais me incomodar. E eu não terei mais que fugir da morte."
"Essa é sua ideia brilhante?" Annabeth gritou. "Você deixará Luke destruir o acampamento, matando centenas de semi-deuses, e depois atacar o Olimpo? Você
trará o mundo abaixo só pra conseguir o que quer?"
"Sua causa é inevitável, minha querida. Eu vi isso assim que comecei a trabalhar no seu acampamento. Não tem como você ter o que é de Cronos."
"Isso não é verdade. "disse Annabeth chorando.
"Estou fazendo o que devo fazer, minha querida. A oferta foi muito boa para recusar. Desculpe-me."
Annabeth empurrou um dos cavaletes. Desenhos arquiteturais espalharam-se pelo chão.
"Eu o admirava. Você era o meu herói! Você, você construiu coisas incríveis. Você resolveu problemas. Agora... eu não sei o que você é. Filhos de Atenas
deveriam ser sensatos, e não somente inteligentes. Talvez você não passe de uma maquina. Você deveria ter morrido há dois mil anos atrás."
Ao invés de se irritar, Daedalus manteve sua cabeça em pé.
"Você deveria avisar seu acampamento. Agora que Luke tem o colar..."
De repente a Senhora O'Leary formigara.
"Tem alguém vindo." Rachel avisou.
As portas da oficina foram abertas, e Nico foi jogado para frente, com suas mãos acorrentadas. Depois Kelli e dois Lestrigões marcharam logo atrás dele,
seguidos pelo fantasma de Minos. Ele parecia quase solido agora - um pálido rei barbado com olhos frios e filamentos de Névoa em volta de suas roupas.
Ele fixou seus olhos em Daedalus.
"- Aí esta você, meu velho amigo."
Sua boca escancarou-se. Ele olhou para Kelli
"O que significa isso?"
"Luke mandou seus comprimentos." disse Kelli. "Ele achou que você ia gostar de ver seu velho empregador Minos.
"Mas isso não fazia parte do nosso acordo." Daedalus disse.
"Não importa." Kelli disse. "Mas nós já temos o que queremos de você, e agora temos outros acordos para fazer. Minos pediu algo mais de nós, em troca de
soltar esse jovem semi-deus." ele correu um dos dedos nas correntes de Nico. "Ele será bem útil. E tudo o que Minos pediu foi para retornar para sua cabeça, velho."
Daedalus empalideceu.
"Traição."
"Acostume-se." Kelli disse.
"Nico," eu disse. "Você está bem?"
Nico assentiu mal-humorado.
"Me, me desculpe Percy. Minos me disse que você estava em perigo. Ele me convenceu a retornar para o labirinto.
"Você estava tentando nos ajudar?"
"Eu fui enganado." ele disse. "Ele enganou a todos nós."
Eu olhei para Kelli
"Cadê o Luke? Por que ele não está aqui?"
Ela sorriu para mim como se estivéssemos dividindo uma piada particular.
"Luke está... ocupado. está se preparando para o ataque. Mas não se preocupe. Temos mais amigos à caminho. E nesse meio tempo, acho que terei um lanche incrível."
suas mãos tornaram-se garras.
Seu cabelo queimou em chamas e suas pernas voltaram ao estado normal. - uma perna de burro, e outra de bronze.
"Percy." sussurrou Rachel. "As asas. Você acha que..."
"Pegue-as." eu disse. "Tentarei te arrumar um tempo."
E com isso, todos começaram a lutar. Annabeth e eu atacamos Kelli. Os gigantes vieram na direção de Daedalus, mas a Senhora O'Leary pulou para defendê-lo.
Nico foi puxado para o chão e enforcado por suas correntes enquanto o espirito de Minos gritava:
"Mate o inventor! Mate ele!"
Rachel pegou as asas da parede. Ninguém prestou atenção nela. Kelli esguiou-se em direção a Annabeth. Eu tentei alcançá-la, mas o demônio era muito rápido
e mortal. Ela desviou das mesas, quebrando invenções, e não nos deixaria se aproximar. Pelo canto de meus olhos, eu vi que a Senhora O'Leary cravou suas garras
no braço do gigante. Ele gritou de dor e jogou-a longe, tentando sacudi-la. Daedalus pegou sua espada, mas o segundo gigante quebrou a escrivaninha com um soco e
a espada saiu voando. Uma jarra de Fogo Grego caiu no chão, começando a pegar fogo, chamas verdes espalhavam-se rapidamente.
"Para mim! Minos choramingava. "Espíritos da morte!" ele ergueu suas mãos de fantasma e o ar começou a zunir.
"Não." Nico choramingou.
Ele estava em pé agora. Ele de algum jeito conseguiu retirar suas correntes.
"Você não me controla, tolinho." Minos caçoou. "Todo este tempo, eu venho controlando você! Alma por alma, sim. Mas não será sua irmã que voltará dos mortos.
Serei eu, assim que eu matar o inventor."
Espíritos começaram a aparecer ao redor de Minos - formas vislumbrantes que lentamente se multiplicavam, solidificando-se em soldados de Creta.
"Eu sou um filho de Hades." Nico insistiu. "Vá embora."
Minos riu.
"Você não tem nenhum poder sobre mim. Eu sou o senhor dos espíritos. O rei fantasma."
"Não." Nico pegou sua espada. "Eu sou."
Ele fincou sua lamina preta no chão, e deslizou feito manteiga pelas rochas.
"Nunca!" Minos começou a sumir. "Eu não..."
O chão tremeu. As janelas bateram partiram-se em pedaços, deixando uma explosão de ar fresco. Uma fissura se abriu no chão da Loja, e Minos e todos seus
espíritos sucumbiram em um vazio com um lamento horrível.
A má noticia: a luta continuava ao nosso redor, e eu me deixei distrair. Kelli veio a mim tão rápido, que não tive tempo de me defender. Minha espada escorregou
longe e eu bati minha cabeça com força numa mesa de escritório ao cair. Minha visão embaçou, eu não conseguia levantar os braços.
Kelli riu.
"Seu gosto deve ser incrível!"
Ela afiou suas garras. De repente seu corpo enrijeceu. Ela arregalou seus olhos vermelhos. Ela ofegou.
"Não... Espírito... Escolar...."
E Annabeth tirou sua faca das costas da empusa. Com um grito horrível, Kelli dissolveu-se em vapor dourado.
Annabeth me ajudou a levantar. Ainda me sentia tonto, mas não tinha tempo a perder. A Senhora O'Leary e Daedalus ainda estavam lutando com os gigantes, e
eu podia ouvir barulho no túnel. Mais monstros estavam chegando na oficina.
"Temos que ajudar Daedalus." eu disse.
"Não temos tempo. Rachel disse. "Muitos vindo."
Ela já tinha colocado as asas nela e estava fazendo o mesmo com Nico, que parecia pálido e suado por causa de seu estrangulamento por Minos. As asas prenderam-se
imediatamente a suas costas e braços.
"Agora você!" ela gritou para mim.
Em segundos, ambos tínhamos colocado nossas asas. Eu já podia me sentir sendo levado pelo vento pelas janelas. O Fogo Grego estava queimando as mesas e os
moveis, subindo pela escada em espiral.
"Daedalus!" eu gritei. "Venha!"
Ele estava ferido em centenas de lugares - mas sangrava um óleo dourado ao invés de sangue. Ele tinha encontrado sua espada e estava usando parte de uma
mesa como escudo contra os gigantes.
"Eu não vou deixar a Senhora O'Leary!" ele disse. "Vão!"
Não tínhamos tempo para discutir. Mesmo que ficássemos, eu não tinha certeza se poderíamos ajudar.
"Nenhum de nós sabe voar!" Nico protestou.
"Ótima hora para se aprender." eu disse.
E nós quatro pulamos juntos pela janela, direto para o céu aberto.



DEZESSEIS - Eu abro um caixão

Pular para fora da janela, cinco mil pés acima do chão, não é geralmente minha idéia de diversão. Especialmente quando eu estou usando asas de bronze, e
batendo meus braços como um pato.
Eu mergulhei em direção ao vale e as pedras vermelhas abaixo. Eu tinha certeza que iria virar uma mancha de graxa no Jardim dos Deuses, até que Annabeth gritou
de algum lugar pra mim, " Estique seus braços, mantenha-os estendidos"
A pequena parte do meu cérebro que não estava engolida em pânico escutou ela e meus braços responderam, assim que eu estiquei eles, as asas endureceram, pegando
o vento, e minha descida desacelerou. Aumentou pra baixo, mas num ângulo controlado como papagaio num mergulho.
Experimentalmente eu bati minhas asas uma vez, fazendo arcos dentro do céu, o vento apitando no meu ouvido.
"Sim!" eu gritei a sensação era inacreditável, depois de pendurá-las em mim, eu senti como se essas asas fossem parte do meu corpo, eu podia planar e conquistar
e mergulhar qualquer lugar que eu quisesse.
Eu virei e vi meus amigos - Rachel, Annabeth e Nico- fazendo espirais acima de mim, brilhando na luz do sol, atrás deles, a fumaça saindo da oficina de
Dedalus.
"Aterrissem, '' Annabeth gritou. "Essas asas não vão durar para sempre"
"Quanto tempo? '' Rachel perguntou.
"Eu não quero descobrir" Annabeth disse
Nós avançamos para baixo em direção ao Jardim dos Deuses. Eu dei um circulo completo em espiral ao redor de uma das pedras e assustamos um casal de alpinistas.
Então nós quatro subimos ao longo do vale sobre a estrada, e aterrissamos sobre o terraço do centro de visitantes. Estava no fim da tarde, e o lugar parecia
bastante vazio, mas nos tiramos nossas asas o mais rápido que podemos. Olhando para elas eu pude ver que Annabeth estava certa. Os próprios selos adesivos que prendiam
as asas nas nossas costas, já estavam derretendo e derramando cobre sobre as penas. Isso era uma pena, mas não podíamos fixá-los e não podíamos levá-los perto dos
mortais, então nos jogamos as asas nos cestos de lixo fora da cafeteria.
Eu usei o binóculo do turista para olhar para a colina onde a oficina de Dédalo esteve, mas ela tinha desaparecido. Sem mais fumaça. Sem mais janelas quebradas.
Apenas um lado da colina.
"A oficina se mudou, '' Annabeth adivinhou. "E não disse pra onde. ''
"Então, o que iremos fazer? Eu perguntei" como voltar para o labirinto?"
Annabeth olhou fixamente para o topo das colinas a distancia. "Talvez não possamos. Se Dédalo morreu... ele disse que sua força da vida estava amarrada
no labirinto. Toda sua força pode ser destruída. Talvez isso pare a invasão de Luke.
Eu pensei sobre Grover e Tyson, ainda lá em baixo em algum lugar. E Daedalus... mesmo que ele fizesse algumas coisas terríveis, e colocasse todas as pessoas
quais eu me preocupo em risco. Essa parecia uma terrível maneira de morrer
"Não," disse Nico. "Ele não morreu."
"Como você pode ter certeza?" eu perguntei.
"Eu sei quando as pessoas morrem. É um sentimento que eu tenho, como um zumbido no meu ouvido"
"E sobre Tyson e Grover, então?"
Nico agitou sua cabeça. "É difícil. Eles não são seres humanos, ou meio-sangues. Eles não têm almas mortais."
"Nós temos que ir para a cidade" Annabeth decidiu. "Nossas possibilidades de encontrar uma entrada para o labirinto serão maiores. Temos que voltar para
o acampamento antes de Luke e seu exercito.
"Nós poderíamos apenas pegar um avião," Rachel disse.
"Eu não vôo," Eu paralisei.
"Mas você voou."
"Aquilo foi um vôo baixo," eu disse. "E mesmo assim foi arriscado. Voar realmente alto - No território de Zeus. Eu realmente não posso. Além de que, nós
não temos mais tempo para um vôo. O labirinto é o jeito mais rápido de voltar.
Eu não queria dizer, mas eu estava esperando que talvez, apenas talvez, nos encontrássemos Grover e Tyson ao longo do caminho
"Então nós precisamos de um carro para nos levar de volta a cidade" Annabeth disse.
Rachel olhou para o estacionamento. Fez uma careta, como se ela tivesse a ponto de fazer algo que ela lamentava. "Eu cuido disso."
"Como?" Annabeth questionou.
"Apenas confie em mim"
Annabeth parecia inquieta, mas ela se inclinou "Certo, eu vou comprar um prisma na loja de presente e tentar fazer um arco-íris e enviar uma mensagem de
íris para o acampamento.
"Eu irei com você," Nico disse. "Estou faminto."
"Eu irei com Rachel, então," eu disse. "Vejo vocês no estacionamento."
Rachel franziu as sobrancelhas como se não me quisesse com ela. Isso me fez sentir um pouco mal. Mas eu a segui para o estacionamento mesmo assim.
Ela se dirigiu para um carro preto grande estacionado na borda do estacionamento. Era um Lexus Chauffeured, como o do tipo que eu sempre via sendo dirigido
ao redor de Manhattam. O motorista estava na frente, lendo um jornal. Ele usava um terno preto e gravata.
"O que você vai fazer?" Eu perguntei a Rachel.
"Apenas espere aqui," ela falou miseravelmente. "Por favor."
Rachel marchou à frente para o motorista, e falou com ele. Ele franziu as sobrancelhas. Rachel disse mais alguma coisa. Ele girou e dobrou aceleradamente
seu jornal. Ele acenou atrapalhado por seu telefone. Depois de uma breve chamada, ele abriu a porta traseira do carro para que Rachel entrar. Ela apontou em minha
direção, e o motorista sacudiu sua cabeça um pouco mais, como sim senhorita, qualquer coisa que quiser.
Eu não podia imaginar porque ele estava agindo tão perturbado. Rachel voltou para me pegar apenas enquanto Annabeth e Nico apareceram da loja de presentes.
"Eu falei com Quiron," Annabeth disse. "Eles estão fazendo o seu melhor para se preparar para a batalha, mas ele continua nos querendo de volta, eles
vão precisar de todos os heróis que eles possam ter. Nós encontramos uma carona?"
"O motorista estará pronto quando nós estivermos" Rachel disse.
O chofer estava agora falando com outro cara em calças caqui e camisa pólo, provavelmente seu cliente que tinha alugado o carro. O cliente estava queixando-se,
mas eu podia ouvir o motorista dizer, "Me desculpe senhor. Emergência. Eu requisitei outro carro para você."
"Entrem" Rachel disse. E nos conduziu para dentro do carro sem nem mesmo olhar o homem perturbado que ela tinha alugado. Um minuto mais tarde nós estávamos
cruzando abaixo da estrada. Os assentos eram couro. Tinham muito espaço para as pernas no carro. O banco traseiro tinha uma televisão de tela plana acopladas ao
encosto de cabeça e um mini-refrigerador, estocado com água, as sodas, e os petiscos enlatados. Nós começamos a fazer bagunça.
" Para onde senhorita Dare?"
" Não tenho certeza ainda, Robert" ela disse "Nós precisamos apenas dirigir ao redor da cidade, e apenas, uh, olhar ao redor''
" Qualquer coisa que você disser, senhorita"
Eu olhei para Rachel " Você conhece esse cara?"
" Não."
" Mas ele largou tudo para ajuda-la. Porque? "
" Apenas mantenha seus olhos abertos" ela disse " me ajude a ver"
O Que não respondeu exatamente a minha pergunta.
Nós dirigimos através do Colorado Springs por aproximadamente meia hora e não vimos nada que Rachel considerou uma entrada possível do labirinto. Eu estava
muito ciente do ombro de Rachel que estava pressionado contra os meus. Eu continuei querendo saber quem ela era exatamente, e como ela poderia passar por cima de
um chofer desconhecido, e imediatamente pegar uma corrida.
Após aproximadamente uma hora nós decidimos dirigir ao norte para Denver, pensando que talvez uma cidade mais grande seria mais provável ter uma entrada
do labirinto. Mas nós estávamos ficando nervosos. Estávamos perdendo tempo.
Então quando estávamos saindo do Colorado Springs Rachel deu um pulo de sua cadeira " Saia da estrada!"
O motorista olhou de relance para trás. "Senhorita?"
" Eu vi algo. Eu acho. Saia daqui."
O motorista virou-se bruscamente através do tráfego e tomou a saída.
" O que você viu?" Eu perguntei, porque estávamos bastante fora da cidade agora. Não havia nada ao redor, com a exceção vales, pastagem, e alguns edifícios
de exploração agrícola dispersados. Rachel mandou o motorista virar para esta estrada de terra não promissora . Nós passamos por uma placa rápido bastante para que
eu tive a lido, mas Rachel disse, "museu ocidental & de mineração; Indústria."
Para um museu, aquilo não parecia muito uma pequena casa como uma velha e chique estação rodoviária, algumas brocas e bombas e pás a vapor velhas sobre
exposição lá fora.
" Lá" Rachel apontou para um buraco ao lado das proximidades de uma colina- um túnel tapado e acorrentado " Uma antiga entrada de uma mina"
" Uma entrada para o labirinto?" Annabeth perguntou " como você pode ter certeza?"
" Bem, olhe para isso!" Rachel disse " eu quero dizer...eu posso ver isso ta certo?"
Ela agradeceu ao motorista e nós todos fomos embora. Ele não pediu dinheiro nem nada " você tem certeza que ficará bem, senhorita Dare? Eu ficaria feliz
em ligar para o seu - "
" Não!" Rachel disse " Não, sério. Obrigado, Robert. Mas nos ficaremos bem
O museu parecia estar fechado, então ninguém nos incomodaria enquanto nós escalávamos o monte ao eixo da mina. Quando nós chegamos à entrada, eu vi
a marca de Daedalus gravada no cadeado, Imaginei como Rachel pode ter visto algo tão minúsculo todo o caminho da estrada, eu não fazia idéia. Eu toquei no cadeado
e as correntes caíram se afastando. Nós passamos por baixo de algumas placas e andamos para dentro. Para melhor ou pior nós estávamos de volta ao labirinto.

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Os sujos túneis transformados em pedra. Curvava-se e fendia-se, basicamente tentou nos confundir, mas Rachel não teve nenhum problema em nos guiar. Nos
falamos pra ela que precisávamos voltar para Nova York, e ela raramente parou quando os túneis ofereceram escolhas.
Para minha surpresa, Annabeth e Rachel começaram uma conversa enquanto andávamos.Annabeth perguntou a ela mais sobre ela a fundo, mas Rachel foi evasiva,
então elas começaram a conversar sobre arquitetura. Eu percebi que Rachel sabia sobre isso graças ao seu estudo sobre arte, elas falaram sobre diferentes tipos de
fachadas diferentes em edifícios em torno de Nova York " você viu essa? Blá blá blá assim que eu fui para trás e andei ao lado de Nico num incomodo silêncio.
"Obrigado por vir conosco" eu falei para ele enfim.
Os olhos de Nico estreitaram-se. Ele não pareceu irritado como ele costumava apenas suspeito, cuidadoso.
" Eu devia a você pelo rancho Percy. Mais... eu queria ver Dedalus por mim mesmo. Minos estava certo por um lado. Dedalus devia morrer.
Ninguém deve pode evitar a morte por muito tempo. Não é natural."
" Que era o que você queria fazer apesar de tudo" eu disse " negociando a alma de Dedalus para sua irmã"
Nico andou outras cinquenta jardas antes de responder. "Não foi fácil, você sabe. Tendo apenas a morte como companhia. Sabendo que eu nunca seria aceito
pela vida. Apenas a morte me respeita, e ela só faz isso por medo.
"Você poderia ser aceitado," eu disse. "Você poderia ter amigos no acampamento."
Ele me fitou. " você realmente acredita nisso Percy?"
Eu não respondi. A verdade era, eu não sabia. Nico sempre foi um pouco diferente. Mas desde a morte de Bianca, ele se tornou quase... assustador. Ele
tem os olhos de seu pai- aquele intenso e maníaco fogo que fazem você suspeitar que ele é um gênio ou um louco. E do jeito que ele baniu Minos, e chamou ele mesmo
de rei dos fantasmas- foi um pouco impressionante, mas me deixou inconfortável também.
Antes de eu imaginar o que falar para ele. Eu corri para Rachel, que tinha parado a minha frente. Nos tínhamos entrado em uma encruzilhada. O túnel continuava
a frente, mas tinha um túnel lateral virando para a direita uma haste circular cravada numa rocha vulcânica.
" O que é isso?" eu perguntei
Rachel olhou fixamente um túnel escuro abaixo. No feixe não ofuscante da lanterna elétrica, seu rosto parecia como o de um dos espectros de Nico.
" é esse caminho?" Annabeth perguntou.
" Não," Rachel disse nervosamente " não, sobre tudo."
" Porque nós estamos parados então?" eu perguntei.
" Escute" Nico disse.
Eu escutei o vento vindo pelo túnel, como se a saída estivesse fechada. E eu senti um cheiro de alguma coisa vagamente familiar- algo que me trouxe
más lembranças.
" Árvores de eucalipto" eu disse " como na Califórnia"
No ultimo inverno quando nos encaramos Luke e o titã Atlas no topo do Monte Talmapais, o ar cheirava algo assim.
" Tem algo mal por esse túnel" Rachel disse " Algo muito poderoso"
" E o cheiro da morte" Nico adicionou, o que me vez sentir bastante melhor.
Annabeth e eu trocamos olhares
"A entrada de Luke" ela adivinhou " a para o monte Othrys - O palácio dos titãs"
" Eu tenho que conferir" eu disse
"Percy, não."
" Luke pode estar por aqui" eu disse " Ou...ou Kronos. Eu tenho que descobrir o que está acontecendo."
Annabeth hesitou. " Então nós todos iremos"
" Não." Eu disse " é muito perigoso. Se eles descobrirem sobre Nico, ou Rachel seria um problema. Kronos usaria eles. Você fica aqui de guarda deles.
O que eu não disse: Eu estava preocupado sobre Annabeth. Eu não confio no que ela poderia fazer se visse Luke de novo. Ele enganou ela e a manipulou muitas
vezes antes.
" Percy não." Rachel disse " não vá para lá sozinho"
" Eu voltarei rápido" eu prometi " não farei nada estúpido"
Annabeth tirou seu chapéu Yankees da sua pochete " Pelo menos leve isso. E tenha cuidado"
" Obrigado" Eu me lembrei da ultima vez que Annabeth e eu nos separamos, quando ela me deu um beijo para a sorte no Mount St. Helens. Desta vez, tudo o
que eu ganhei foi esse boné.
Eu o coloquei. " Aqui vai o nada" E eu fiquei invisível pelo escuro túnel de pedra.

********************************************
Antes mesmo de eu chegar na saída, eu escutei vozes: o crescente latido dos demônios aquáticos telequines.
" Pelo menos nós recuperamos a lamina" um disse " O mestre irá nos recompensar"
" Sim, sim" o segundo ganiu. " recompensas ilimitadas"
Outra voz, essa outra mais humana: Uh, sim, bem isso é bom, agora se você já terminou comigo-"
" Não, meio-sangue" o telequine disse " você deve nos ajudar a fazer a apresentação.Isso é uma grande honra!"
" Nossa, obrigada" o meio-sangue disse, e eu percebi que ele era Ethan Nakamura, o garoto qual fugiu depois de eu ter salvo sua vida na arena.
Eu penetrei na direção do fim do túnel. Eu tinha que lembrar a mim mesmo que eu estava invisível, e que eles não podiam me ver.
Um sopro de ar frio me bateu, como se eu tivesse emergindo. Eu estava parado próximo ao topo do monte Tam. O oceano pacífico se espalhando abaixo, cinza
sob um céu nebuloso. Aproximadamente vinte pés colina abaixo, dois telequines estavam colocando algo sobre uma grande pedra- Algo longo e embrulhado num pano preto.
Ethan ajudava-os a abrir.
" Seja cuidadoso, tolo" O telequine ralhou " um toque e a lamina irá separar sua alma do seu corpo"
Ethan engoliu nervosamente " Talvez eu deixe você desembrulhar isso então"
Eu olhei de relance acima para o pico de montanha, onde uma fortaleza de mármore preta apareceu, apenas como eu tinha visto em meus sonhos. Lembrou-me
de um mausoléu desproporcionado, com as paredes cinquenta pés de altura. Eu não tive nenhuma idéia como os mortais poderia esquecer o fato de que isso estava aqui.
Mas então, de novo,tudo abaixo da cimeira pareceu distorcido pra mim, como se houvesse um véu grosso entre mim e a mais baixa metade da montanha. Tinha mágica acontecendo
aqui- realmente poderosa Névoa. Acima de mim, o céu rodou em uma nuvem enorme em forma de funil. Eu não poderia ver Atlas, mas eu poderia ouvi-lo gemer na distância,
ainda trabalhando sob o peso do céu, apenas além da fortaleza. "Lá!" o telequine disse. Reverentemente levantou a arma, e meu sangue virou gelo.
Era uma foice, uma lamina de seis pés curvada como uma lua crescente, com um punho de madeira envolvido no couro. A lamina tremeluzia duas cores diferentes-
aço e bronze. Era a arma de Kronos, a mesma que ele usou para fatiar seu pai, Urano. Depois dos deuses terem tirado ela dele, e cortado Kronos em pedaços,jogando-o
no Tártaro. Agora a arma foi forjada novamente.
"Nós devemos santifica-la no sangue," o telequine disse. "Então você, meio-sangue, ajudará o presente quando o senhor acordar."
Eu corri pela fortaleza, meu pulso martelando nas minhas orelhas. Eu não queria chegar em qualquer lugar perto desse mausoléu preto horrível, mas eu soube
o que eu tinha que fazer. Eu tinha que impedir Kronos de aumentar. Essa poderia ser minha única chance.Eu me precipitei através de um pátio escuro e no salão principal.
O assoalho brilhou como um piano de mogno preto puro cheio de luzes. Estátuas de mármore pretas alinhadas a parede. Eu não reconheci os rostos, mas eu sabia que
estava olhando para os titãs que comandavam antes dos deuses. No final da sala, Entre dois caldeireiros de bronze, havia um trono. E sobre o trono, o sarcófago dourado.
O quarto estava silencioso com exceção do crepitar dos fogos. Luke não estava aqui. Nenhum guarda. Nada. Era muito fácil, mas eu me aproximei do trono.
O sarcófago estava como eu me lembrava com mais ou menos dez pés de comprimento, muito grande para um ser humano. Foi desenhado com cenas elaboradas da morte e
da destruição, retratos dos deuses sendo atropelados por bigas, templos e os famosos pontos de referencia do mundo que estão sendo despedaçados e queimados. O caixão
inteiro emanava uma áurea extremamente fria, como se eu estivesse andando dentro de um congelador. Minha respiração começou a fumegar.
Eu saquei contracorrente, e senti confortavelmente o peso familiar da espada em minha mão. Antes, sempre que eu me aproximava de Kronos, sua voz má tinha
falado em minha mente. Por que estava silencioso agora? Ele tinha sido o fragmentado em mil partes, cortado com sua própria foice. O que eu encontraria se eu abrisse
essa tampa? Como eles podiam fazer um corpo novo para ele?
Eu não tive nenhuma resposta. Eu apenas sabia que ele estava a ponto de se levantar. Eu tinha que ataca-lo antes de ele pegar sua foice. Eu tinha que
pensar numa maneira de para-lo. Eu fiquei sobre o caixão. A tampa foi decorada mais intricada do que o lado -com cenas de massacre e de poder. No meio estava a inscrição
entalhada em letras mais velhas ainda do que o grego. Uma língua mágica. Eu não podia ler , exatamente, mas eu sabia o que estava escrito: KRONOS, SENHOR DO TEMPO.
Minha mão tocou na tampa. Minhas pontas do dedo ficaram azuis A geada se reuniu na minha espada.Então eu ouvi barulhos atrás de mim - vozes se aproximando.
Era agora ou nunca. Eu retirei a tampa dourada e ela caiu no chão com um enorme WHOOOOM! Eu levantei minha espada, aprontando-me para golpear. Mas quando eu olhei
para dentro, eu não entendi o que eu via. Pés mortais, vestidos em calças cinzentas. Uma camiseta branca, mãos dobradas sobre seu estômago. Uma parte de seu peito
era buraco negro limpo do tamanho de uma ferida de bala,exatamente onde seu coração devia estar. Seus olhos estavam fechados. Sua pele estava pálida. Cabelo louro...
e uma cicatriz longa do lado esquerdo de sua cara. O corpo no caixão era Luke.
******************************************************
Eu deveria apunhalá-lo então. Eu deveria ter enfiado contracorrente com toda minha força.
Mas eu estava muito chocado. Eu não entendia.Por mais que eu odiasse Luke, por mais que ele havia me traído. Eu apenas não entendia porque ele estava no
sarcófago. E porque ele parecia muito, muito morto.
Então as vozes dos telequine estavam atrás de mim. "O que aconteceu!" um dos demônios gritou quando viu a tampa. Eu tropecei para longe do trono, esquecendo
que eu era invisível, e me escondendo atrás de uma coluna enquanto eles se aproximavam
" Cuidado" o outro demônio advertiu. "Talvez ele se mexa. Nós devemos apresentar os presentes agora. Imediatamente!"
Os dois telequine se arrastaram para a frente e se ajoelharam, levantando a foice sobre seu pano de envolvimento. "Meu senhor," um disse. "Seu símbolo
do poder foi refeito. " Silêncio. Nada aconteceu no caixão.
" Você idiota" o outro telequine murmurou. " ele exige o meio-sangue primeiramente."
Ethan deu um passo pra trás. "Whoa, o que vocês querem dizer, exige-me?"
" Não seja um covarde!" o primeiro telequine silvou. "Ele não exige a sua morte. Apenas sua fidelidade. Prometa-o seu serviço. Renuncie os deuses. Isso
é tudo."
"Não" eu gritei. Isso era uma coisa estúpida de se fazer mas eu entrei pelo quarto e tirei o boné "Ethan, não!"
"Trapaceiro!" Os telequines revelaram seus dentes de foca. "O mestre irá se resolver com você logo. Pressa, menino!"
"Ethan, eu defendi "não escute eles. Me ajude a destruí-lo. " Ethan girou para mim, seu tapa-olho misturou-se com as sombras sobre sua cara. Sua expressão
era algo como a piedade. "Eu disse para não me poupar, Percy. " olho por olho" você já ouviu isso? Eu aprendi o que isso quer dizer de um jeito duro- quando eu
descobri meu pai. Eu sou um filho de Nemesis, deus da vingança. E isso é pra que eu fui feito" Ele Girou para o estrado. "Eu renuncio os deuses! O que eles tem feito
por mim? Eu os verei ser destruídos. Eu servirei Kronos."
" A construção fez um barulho. Um fio da luz azul levantou-se do assoalho aos pés de Ethan Nakamura. Vagou para o caixão e começou a tremeluzir, como uma
nuvem da energia pura. Então ele desceu do sarcófago. Luke se sentou reto. Seus olhos abriram, e eles não era azuis. Eram dourados, da mesma cor que o caixão. O
furo em seu peito não estava mais lá. Ele estava completo. Pulou fora do caixão facilmente, e onde seus pés tocaram no assoalho, o mármore congelou-se como crateras
do gelo. Ele olhou Ethan e os telequines com aqueles horríveis olhos dourados, como se fosse um bebê recém-nascido, não certo do que via. Então olhou-me, e um sorriso
do reconhecimento rastejou através de sua boca.
" Esse corpo foi uma boa preparação.'' Sua voz era como uma navalha de uma lâmina passando sobre minha pele. Era Luke, mas não Luke. debaixo de sua voz
estava um outro som - um mais horrível e antigo, frio soando como o metal raspando de encontro a uma rocha. "Você não pensa assim, Percy Jackson?"
Eu não podia me mover. Eu não podia responder. Kronos jogou para trás sua cabeça e riu. A cicatriz em seu rosto se agitou.
"Luke o temeu" a voz do titã disse. "Seu orgulho e o ódio foram ferramentas poderosas. Manteve-o obediente. Por isso eu te agradeço " Ethan desmoronou
de terror. Cobriu seu rosto com suas mãos. os telequines tremeram, levantando foices.
Finalmente eu encontrei coragem. Eu investi na coisa que costumava ser Luke, empurrando minha lâmina em linha reta em seu peito, mas sua pele desviou
o golpe como se fosse feito de aço puro. Me olhou com divertimento. Então ele moveu rapidamente sua mão, e eu voei através do quarto. Eu bati de encontro a uma coluna.
Eu me esforcei para ficar em pé piscando as estrelas para fora dos meus olhos, mas Kronos já tinha agarrado o punho da foice.
"Ah... muito melhor," ele disse. "Morde-costas. Foi como luke chamou isso. Um nome apropriado. Agora que ela foi forjada novamente, ela de fato irá morder
costas.
" O que você fez com Luke?" Eu gemi.
Kronos levantou sua foice. " Ele me serviu com sua própria existência. Como eu exigi. A diferença é que ele temia você Percy Jackson, e eu não."
Então foi quando eu corri. Não h nenhum pensamento. Nenhum debate em minha mente sobre- Nossa, devo eu ir até ele e tentar lutar outra vez? Não, eu simplesmente
corri.
Mas meu pé parecia chumbo. O tempo retardou em torno de mim, como se o mundo estivesse virando gelatina. Eu tinha sentido isso uma vez antes, e eu sabia
que era o poder de Kronos. Sua presença era tão forte poderia dobrar o próprio tempo "Corra, pequeno herói," ele riu. "Corra!"
Eu olhei de relance para trás e o vi se aproximar bem devagar, alegremente, como se ele estivesse adorando senti-la em suas mãos novamente. Nenhuma arma
no mundo podia pará-lo. Nenhuma quantidade de bronze celestial.
Ele estava dez pés a distancia de mim quando eu ouvi. "PERCY!" A voz de Rachel. Algo voou por mim, e uma escova de plástico azul bateu Kronos no olho.
'Ow!" Ele gritou. Por um momento era somente voz de Luke, cheia da surpresa e de dor. Meus membros se livraram e eu corri em linha reta com Rachel. Nico,
e Annabeth, que estavam estando no salão de entrada, seus olhos cheios de desânimo. "Luke?" Annabeth chamou." O que-"
Eu agarrei ela pela camisa e levei atrás de mim. Eu corri tão rapidamente como eu nunca havia corrido antes, em frente para fora da fortaleza. Nós estávamos
quase de volta à entrada do labirinto quando eu ouvi a mais alta voz do mundo- a de Kronos, voltando ao controle. "ATRÁS DELES!"
"Não" Nico gritou. Ele bateu suas mãos juntas e uma pontuda parte mais elevada da rocha do tamanho de um veiculo de dezoito rodas entrou em erupção na
direita da terra na frente da fortaleza. O tremor que causou era tão poderoso que as colunas dianteiras do edifício vieram baixo. Eu ouvi gritos abafados dos telequines
lá dentro. Poeira cresceu em toda parte. Nós mergulhamos no labirinto continuamos correndo, O uivo do senhor titã que agitava o mundo inteiro, ficou atrás de nós.








DEZESSETE - O DEUS PERDIDO FALA

Nós corremos até ficarmos exaustos. Rachel nos desviou de armadilhas, mas não tínhamos um destino em mente - apenas longe daquela montanha negra e do rugido
de Kronos.
Nós paramos num túnel de rocha branca, como a parte de uma caverna natural. Eu podia ouvir nada atrás de nós, mas eu não me senti nem um pouco seguro. Eu ainda
podia lembrar daqueles olhos dourados e não-naturais de Luke, e parecia que meu braço estava lentamente se transformando em pedra.
"Eu não posso ir mais longe", Rachel arfou, segurando seu peito.
Annabeth chorou durante toda a corrida. Agora ela desmoronou e pôs a cabeça entre os joelhos. Seus soluços ecoavam no túnel. Nico e eu sentamos perto. Ele soltou
sua espada perto da minha e respirou fundo.
"Que merda" ele disse, e eu achei que tudo terminou muito bem.
"Você salvou nossas vidas", eu disse.
Nico tirou a areia do rosto. "Graças às meninas que me arrastaram. Era a única coisa em que elas concordaram. A gente ta ajudava ou você ia bagunçar as coisas".
"Que bom que elas cofiam tanto em mim", eu iluminei a caverna com a minha lanterna. Água escorria das estalactites como uma chuva em câmera lenta. "Nico...
você, uh, meio que se entregou".
"O que você quer dizer?".
"Aquela parede de pedra negra? Foi realmente impressionante. Se Kronos não sabia quem você era, ele sabe agora. Um filho do Mundo Inferior".
Nico franziu as sobrancelhas. "Grande coisa".
Eu deixei cair. Eu percebi que ele estava apenas tentando esconder seu espanto, e eu não podia culpá-lo.
Annabeth levantou a cabeça. Seus olhos estavam vermelhos de chorar. "O que... o que havia de errado com Luke? O que fizeram com ele?".
Eu contei a ela o que eu vi no caixão, o modo como o último pedaço do espírito de Kronos entrou no corpo de Luke quando Ethan Nakamura se comprometeu a servi-lo.
"Não", Annabeth disse. "Não pode ser verdade. Ele não poderia -".
"Ele se entregou a Kronos", eu disse. "Sinto muito, Annabeth. Mas Luke se foi".
"Não!", ela insistiu. "Você o viu quando Rachel o acertou".
Eu assenti, olhando Rachel com respeito. "Você acertou o olho do Senhor dos Titãs com uma escova de cabelo de plástico azul".
Rachel parecia desconfortada. "Era a única coisa que eu tinha".
"Mas você viu", Annabeth insistiu. "Quando acertou, ele ficou atordoado. Ele recuperou os sentidos".
"Então Kronos não tinha o corpo inteiro para si, ou algo do gênero", eu disse. "Não significa que Luke estava no controle".
"Você quer que ele seja mau, é isso?", Annabeth gritou. "Você não o conheceu antes, Percy. Eu conheci!".
"O que você tem?", eu vociferei. "Por quê você continua defendendo ele?".
"Ooou vocês dois", Rachel disse. "Parem com isso".
Annabeth se virou para ela. "Fique fora disso, sua mortal! Se não fosse você...".
O que quer que ela fosse dizer, sua voz quebrou. Ela abaixou a cabeça e soluçou freneticamente. Eu queria conforta-la, mas não sabia como. Eu ainda estava tonto,
como se o efeito câmera-lenta de Kronos tivesse afetado meu cérebro. Ele estava armado. E o fim do mundo bem próximo.
"Temos que ir andando", disse Nico. "Ele mandará monstros atrás de nós".
Ninguém estava a fim de correr, mas Nico estava certo. Levantei-me e ajudei Rachel a se levantar também.
"Você esteve bem lá atrás", eu disse a ela.
Ela esboçou um sorriso. "É, bem. Eu não queria que você morresse". Ela corou. "Quero dizer, só por que... você sabe. Você me deve um monte. Como eu vou cobrar
se você morrer?".
Eu me ajoelhei perto de Annabeth. "Hei, sinto muito. Temos que ir".
"Eu sei", ela disse. "Eu estou... eu estou bem".
Ela claramente não estava bem. Mas ela ficou de pé e começamos a vaguear pelo Labirinto de novo.
"De volta a Nova Iorque", eu disse. "Rachel, você pode -".
Eu congelei. A alguns metros de nós, minha lanterna encontrou algo de tecido vermelho pisoteado e deixado no chão. Era um boné Rasta - aquele que Grover sempre
usava.

* * *

Minhas mãos balançavam enquanto eu pegava o boné. Parecia ter sido por uma bota enlameada gigantesca. Depois de tudo que tinha acontecido naquele dia, eu não
podia suportar o pensamento de que algo tinha ocorrido com Grover também.
Então eu notei outra coisa. O chão da caverna estava mole e molhado por causa da água que caía das estalactites. Havia pegadas enormes como as de Tyson e outras
menores - patas de bode - indo pela esquerda.
"Nós temos que seguí-los", eu disse. "Eles foram por este caminho. Deve ser recente".
"E o Acampamento Meio-Sangue?", perguntou Nico. "Nós não temos tempo!".
"Nós temos que achá-los", Annabeth insistiu. "Eles são nossos amigos".
Ela pegou o boné do Grover e seguiu adiante.
Eu segui me preparando para o pior. O túnel era traiçoeiro. Ele inclinava em ângulos esquisitos, e era viscoso com o orvalho. Metade do tempo estávamos escorregando
e derrapando ao invés de andando.
Finalmente chegamos à base de uma encosta e nos encontramos numa grande caverna com enormes colunas de estalagmite. Pelo centro do lugar corria um rio subterrâneo,
e Tyson estava sentado na beirada com Grover, cuidando de Grover no seu colo. Os olhos de Grover estavam fechados. Ele não se mexia.
"Tyson!", eu gritei.
"Percy! Venha rápido!".
Nós corremos até ele. Grover não estava morto, graças aos deuses, mas seu corpo tremia como se ele fosse congelar até a morte.
"O que aconteceu?", eu perguntei.
"Muitas coisas", Tyson murmurou. "Cobra grande. Cachorros grandes. Homens com espadas. Mas então... nós chegamos perto daqui. Grover estava excitado. Ele correu.
Aí chegamos a esta sala e ele caiu. Desse jeito".
"Ele disse alguma coisa?".
"Ele disse, 'estamos perto'. Aí ele bateu a cabeça nas rochas".
Eu me ajoelhei perto dele. A última vez que eu tinha visto Grover desmaiar tinha sido no Novo México, onde ele tinha sentido a presença de Pan.
Eu pus minha lanterna nas paredes da caverna. As rochas brilharam. Lá no final havia uma entrada para uma outra caverna, cercados por colunas gigantescas de
cristal, que pareciam diamantes. E além da entrada...
"Grover", eu disse. "Acorde".
"Uhhhhhhhh".
Annabeth se ajoelhou perto dele e jogou água gelada do rio no rosto dele.
"Caramba!" Seus olhos tremeram. "Percy? Annabeth? Onde...".
"Ta tudo bem", eu disse. "Você desmaiou. A presença foi demais pra você".
"E-eu me lembro. Pan".
"Sim", eu disse. "Algo poderoso esta além daquela entrada".

* * *

Eu fiz umas apresentações rápidas, já que Tyson e Grover ainda não conheciam Rachel. Tyson disse que Rachel era bonita, o que fez as narinas de Annabeth flamejarem
como se ela fosse soprar fogo.
"Annabeth", eu disse. "Vamos Grover, apóie em mim".
Annabeth me ajudou a levantá-lo, e juntos atravessamos o rio subterrâneo. A correnteza era forte. A água chegou às nossas cinturas. Eu desejei ficar seco, o
que era bem útil, mas não ajudava os outros, e eu ainda podia sentir o gelo, como avançar num monte de neve.
"Eu acho que estamos nas Cavernas Carlsbad", Annabeth disse, seus dentes batendo. "Talvez uma parte inexplorada".
"Como você sabe?".
"Carlsbad é no Novo México", ela disse. "Isso explicaria o verão passado".
Eu assenti. O episódio do desmaio de Grover ocorreu no Novo México. É onde ele tinha se sentido perto do poder de Pan.
Saímos da água e continuamos andando. Conforme as colunas de cristal ficavam maiores, eu comecei a sentir o poder emanando da sala adiante. Eu já tinha ficado
na presença de deuses antes, mas isto era diferente. Minha pele formigou com energia viva. Meu cansaço sumiu, como se eu tivesse tido uma ótima noite de sono. Eu
podia me sentir ficando mais forte, como uma daquelas plantas em vídeo de tempo acelerado. E o aroma vindo de dentro não parecia de uma caverna fria e úmida. Cheirava
a árvores, plantas e um dia de verão.
Grover choramingou de emoção. Eu estava atordoado demais pra andar. Até mesmo Nico parecia sem palavras. Nós entramos na caverna e Rachel disse, "Oh, uau!".
As paredes brilhavam de cristal - vermelho, verde e azul. Em luzes curiosas, lindas plantas cresciam - orquídeas gigantes, plantas em forma de estrela, vinhas
estourando com frutas laranjas e roxas, tanto que penetrou nos cristais. O chão da caverna estava coberto de musgo. No centro da caverna havia uma cama estilo Romano,
madeira banhada em ouro formava um U curvado, com almofadas de veludo. Animais descansavam em volta dela - mas eram animais que não pareciam ter sido vivos. Havia
um pássaro Dodô, algo que parecia o resultado de um cruzamento de um tigre e um lobo, um roedor gigante como uma mãe de todos os porquinhos-da-índia, e perambulando
atrás da cama, pegando frutas com sua tromba, havia um mamífero coberto de lã.
Na cama jazia um velho sátiro. Ele nos observou conforme nos aproximávamos, seus olhos tão azuis quanto o céu. Seu cabelo enrolado era branco como sua barba
pontuda. Até seus pelos da perna já estavam cinza. Seus chifres eram enormes - marrom, polido e curvado. Não havia jeito de escondê-los sob um boné como Grover fazia.
Em volta de seu pescoço havia um conjunto de flautas de madeira.
Grover caiu de joelhos diante da cama. "Lorde Pan!".
O deus sorriu gentilmente, mas havia tristeza em seus olhos. "Grover, meu querido, bravo sátiro. Eu esperei um tempo muito longo por você".
"Eu... me perdi", Grover se desculpou.
Pan riu. Era um som maravilhoso, como a primeira brisa de primavera, enchendo a caverna com esperança. O lobo-tigre suspirou e apoiou a cabeça nos joelhos do
deus. O pássaro Dodô bicou a pata do deus afetuosamente, fazendo um barulho estranho atrás de seu bico. Eu podia jurar que ele zumbiu "É um mundo pequeno".
Mesmo assim, Pan parecia cansado. Sua imagem tremeluziu como se ele fosse inteiro feito de Névoa.
Eu percebi que meus amigos estavam de joelhos. Eles me olhavam com receio. Fiquei de joelhos também.
"Você tem um pássaro Dodô falante", eu disse estupidamente.
Os olhos do deus cintilaram. "Sim, esta é Dede. Minha pequena atriz".
Dede, a Dodô pareceu ofendida. Ela bicou o joelho de Pan e murmurou algo que parecia uma canção fúnebre.
"Este é o lugar mais lindo de todos", Annabeth disse. "É melhor do que qualquer coisa já planejada".
"Estou feliz que tenha gostado, minha querida", Pan disse. "É um dos últimos lugares selvagens. Eu receio que meu domínio tenha se encerrado. Apenas pedaços
sobraram. Minúsculos pedaços de vida. Este deve permanecer intocado... por mais um tempo".
"Meu senhor", Grover disse, "por favor, o senhor deve retornar comigo! Os anciões jamais acreditarão! Eles ficarão radiantes! Você pode salvar a natureza!".
Pan pôs a mão na cabeça de Grover e embaraçou seu cabelo enrolado. "Você é tão jovem, Grover. Tão bom e verdadeiro. Acho que escolhi bem".
"Escolheu?", Grover disse. "E-eu não entendo".
A imagem de Pan tremeu, momentaneamente transformando-se em fumaça. O porquinho-da-índia gigante foi pra debaixo da cama com um guincho terrível. O mamífero
coberto de lã rugiu nervoso. Dede escondeu a cabeça na asa. Então Pan se reformou.
"Eu dormi várias eras", o deus disse miseravelmente. "Meus sonhos têm sido sombrios. Eu acordo intermitentemente, mas é cada vez mais rápido. Agora estamos
próximos do fim".
"O que?", Grover balbuciou. "Mas não! Você está bem aqui!".
"Meu querido sátiro", Pan disse. "Eu tentei dizer ao mundo, dois mil anos atrás. Eu disse a Lysas, um sátiro muito parecido com você. Ele morava em Ephesos,
e tentou avisar o mundo".
Annabeth arregalou os olhos. "A velha estória. Um marinheiro passando pela costa de Ephesos ouviu uma voz choramingando da margem, 'Avise-os que o grande deus
Pan está morto'".
"Mas não era verdade!" Grover disse.
"Sua espécie nunca acreditou", Pan disse. "Vocês, teimosos e queridos sátiros se recusaram a aceitar minha morte. E eu os amo por isso, mas vocês apenas adiaram
o inevitável. Vocês apenas prolongaram minha longa e dolorosa morte, minha decadência obscura. Eu devo pôr fim".
"Não!", a voz de Grover tremeu.
"Querido Grover", Pan disse. "Você deve aceitar a verdade. Seu companheiro, Nico, ele entende".
Nico assentiu devagar. "Ele está morrendo. Ele deveria ter morrido há um bom tempo. Isto... isto é mais como uma memória".
"Mas deuses não morrem", Grover disse.
"Eles podem se extinguir", Pan disse, "quando tudo que ele preza se acaba. Quando eles param de ter poder, e seus lugares sagrados desaparecem. A natureza,
meu querido Grover, é tão pequena agora, tão despedaçada que nenhum deus pode salva-la. Meu reinado acabou. É por isso que você tem que carregar uma mensagem. Você
deve voltar ao concílio. Você deve contar aos sátiros, e as dríades, e os outros espíritos da natureza, que o grande deus Pan está morto. Conte sobre minha partida.
Por que eles tem que parar de esperar que eu os salve. Eu não posso. A única salvação que vocês podem ter é a de vocês mesmos. Cada um de vocês deve -".
Ele parou e olhou Dede, que começara a zumbir de novo.
"Dede, o que você está fazendo?", Pan exigiu. "Você está cantando Kumbaya de novo?".
Dede olhou para cima inocentemente e piscou seus olhos amarelos.
Pan suspirou. "Todo mundo é um cínico. Mas como eu dizia, querido Grover, cada um de vocês deve se dedicar ao meu chamado".
"Mas... não!", Grover soluçou.
"Seja forte", Pan disse. "Você me achou. E agora deve me libertar. Você deve carregar meu espírito. Ele não pode ser mais carregado por um deus. Ele deve ser
tomado por todos vocês".
Pan olhou diretamente para mim com seus olhos azuis, e eu percebi que ele não estava falando apenas de sátiros. Ele se referiu a meios-sangues, também, e humanos.
A todos.
"Percy Jackson", o deus disse. "Eu sei o que você viu hoje. Eu conheço suas dúvidas. Mas eu lhe dou essa notícia: quando a hora chegar, você não será dominado
pelo medo".
Ele se virou para Annabeth. "Filha de Atena, sua hora está chegando. Você desempenhará um papel muito bom, mas pode não ser o que você esperava".
Então ele olhou para Tyson. "Mestre Ciclope, não desanime. Os herois raramente fazem jus ás nossas expectativas. Mas você, Tyson - seu nome viverá entre os
ciclopes por gerações. E você, Srta. Rachel Dare...".
Rachel hesitou quando ele disse seu nome. Ela virou o rosto, como se fosse culpada de alguma coisa, mas Pan apenas sorriu. Ele estendeu a mão numa bênção.
"Eu sei que você acredita que não pode corrigir as coisas", ele disse. "Mas você é tão importante quanto seu pai".
"Eu-" Rachel vacilou. Uma lágrima escorreu em sua bochecha.
"Eu sei que você não crê nisso agora", Pan disse. "Mas procure oportunidades. Elas virão".
Finalmente ele se virou para Grover. "Meu querido Sátiro", Pan disse calmamente, "você carregará minha mensagem?",
"E-eu não posso".
"Você pode", Pan disse. "Você é o mais forte e mais corajoso. Seu coração é verdadeiro. Você acreditou em mim mais do que qualquer um já fez, por isso é você
que deve levar a mensagem, e por que você deve ser o primeiro a me libertar".
"Eu não quero".
"Eu sei", o deus disse. "Mas meu nome, Pan... originalmente significava rústico. Você sabia disso? Mas com os anos ele passou a significar tudo. O espírito
da natureza deve passar pra vocês agora. Você deve dizer a todos que conhecer: se você quiser achar Pan, pegue seu espírito. Refaça a natureza, um pouco de cada
vez, um pouco em cada canto do mundo. Você não pode esperar que ninguém, mesmo um deus, faça isso por você".
Grover limpou os olhos. Então vagarosamente ele ascendeu. "Eu passei minha vida toda procurando por você. Agora... eu o liberto".
Pan sorriu. "Obrigado, querido sátiro. Minha última bênção".
Ele fechou os olhos e o deus se dissolveu. Névoa branca se transformou em tufos de energia, mas essa energia não era assustadora como o poder azul que eu vi
de Kronos. Encheu o lugar. Um anel de fumaça veio direto pra minha boca, e pra de Grover e pra dos outros. Mas acho que um pouco mais foi para a de Grover. Os cristais
escureceram. Os animais nos olharam entristecidos. Dede suspirou. Então todos eles ficaram cinzas e desintegraram-se em areia. As vinhas murcharam. E estávamos sozinhos
numa caverna escura com uma cama vazia.
Eu liguei minha lanterna.
Grover respirou fundo.
"Você... você está bem?" Eu perguntei a ele.
Ele parecia mais velho e mais triste. Ele pegou seu boné de Annabeth, limpou a sujeira e o firmou em sua cabeça curva.
"Nós devemos ir, agora", ele disse, "e contar a eles. O grande deus Pan está morto".


























DEZOITO - GROVER

A distância era curta no Labirinto. Ainda assim, pelo tempo que Rachel nos trouxe de volta ao Times Square, me sentia como se tivéssemos corrido por todo
o Novo México. Nós saímos pelo porão do Marriott e paramos na calçada sob a brilhante luz do dia, cerrando os olhos para o trânsito e a multidão.
Eu não conseguia escolher o que parecia mais surreal - Nova Iorque ou a caverna de cristal onde eu vi um deus morrer.
Eu segui pelo caminho até um beco, onde eu pudesse conseguir um bom eco. Então assoviei o mais alto que eu fosse capaz, cinco vezes.
Minutos depois, Rachel ofegou. "Eles são lindos!"
Um bando de Pegasus desceu do céu, mergulhando entre os arranha céus. Blackjack estava na liderança, seguido por seus quatro amigos brancos. Ei chefe! Ele
falou em minha cabeça. Você sobreviveu.
"Sim," eu disse a ele. "Tenho sorte nisso. Escuta, precisamos de uma corrida para o acampamento, rápido."
Essa e a minha especialidade! Ah cara, você trouxe aquele Ciclope com você? Ei Guido, como suas costas estão?
Guido gemeu queixando-se, mas como de costume ele concordou em levar Tyson. Todos começaram a subir neles - exceto Rachel.
"Bem," ela me disse, "Acho que é isso então."
Eu concordei desconfortavelmente. Ambos sabíamos que ela não poderia ir para o acampamento. Eu olhei para Annabeth, que estava fingindo estar bastante ocupada
com seu Pegasus.
"Obrigado, Rachel," eu disse. "Não teríamos conseguido sem você."
"Eu não teria deixado essa passar. Digo, exceto por quase ter morrido, e por Pan..." sua voz desapareceu.
"Ele te contou sobre seu pai," eu me lembrei. "O que ele quis dizer?"
Rachel mexia nas alças de sua mochila. "Meu pai... O emprego do meu pai. Ele é um tipo de empresário famoso."
"Você quer dizer que... Você é rica?"
"Bem, sou."
"Então foi assim que você conseguiu o chofer pra nos ajudar? Você só nos disse o nome do seu pai e -"
"Sim," Rachel me cortou. "Percy... A área do meu pai é urbanismo. Ele viaja o mundo todo, procurando por pedaços de áreas não urbanizadas." Ela tomou fôlego.
"A floresta. Ele - compra-a. Eu odeio isso, mas ele as derruba e constrói prédios horríveis e shoppings centers. E agora que eu vi Pan... A morte de Pan -"
"Ei, você não pode se culpar por aquilo."
"Você não sabe o pior de tudo. Eu - Eu não gosto de falar da minha família. Eu não queria que você soubesse. Me desculpe. Eu não deveria ter dito nada."
"Não," eu disse. "Tudo bem. Olhe, Rachel, você foi incrível. Você nos guiou pelo labirinto. Você foi muito corajosa. Essa é a única coisa que eu vou te julgar.
Eu não me importo com o que seu pai faz.
Rachel me olhou grata. "Bem... Se você sentir vontade de dar umas voltas com uma mortal de novo... É sé me ligar ou algo assim."
"Ah sim. Claro"
Ela levantou suas sobrancelhas. Eu acho que eu pareci desanimado ou algo assim, mas não era o que eu pretendia. Eu só não sabia o que dizer com todos meus
amigos a minha volta. E eu acho que meus sentimentos tornaram-se muito cautelosos nos últimos dias.
"Quero dizer... Eu adoraria." eu disse.
"Meu numero não está na lista," ela disse.
"Eu tenho."
"O que, na sua mão? De jeito nenhum."
"Não. Eu meio que... Memorizei-o."
Seu sorriso voltou vagarosamente, mas um pouco mais feliz. "Até mais, Percy Jackson. Vai salvar o mundo pra mim, ta?"
Ela voltou pela Sétima Avenida e desapareceu na multidão.

-

Quando me voltei aos cavalos, Nico estava tendo problemas. O Pegasus dele mantinha distância, relutante em deixá-lo montar.
Ele cheira que nem gente morta! O Pegasus reclamou.
Ei cara. Blackjack disse. Vamos, Porkpie. Um monte de sem- deuses cheiram mal. Não é culpa deles. Oh-uh, eu não estou falando de você, chefe.
"Vá sem mim!" Nico disse. "Eu não quero voltar para aquele acampamento de qualquer jeito."
"Nico," eu disse. "Precisamos da sua ajuda"
Ele cruzou os braços e franziu o cenho. Depois Annabeth pôs suas mãos em seu ombro,
"Nico," ela disse. "Por favor."
Vagarosamente, sua expressão se desfez. "Tudo bem," ele disse relutante. "Por você. Mas eu não vou ficar."
Eu levantei uma sobrancelha para Annabeth, tipo, Desde quando Nico te escuta? Ela deu a língua para mim.
Pelo menos tínhamos todos em cima dos cavalos. Disparamos pelo ar, e logo estávamos sobrevoando o rio Oeste, deixando Long Island desaparecer antes de nós.

-

Nós descemos no meio da área da cabine e imediatamente encontramos Quiron, o barrigudo do sátiro Silenus, e um grupo de arqueiros do chalé de Apolo. Quiron
levantou uma sobrancelha quando ele viu Nico, mas se eu esperava que ele ficasse surpreso com nossas ultimas noticias, sobre Quintus ser Dédalo e a volta de Cronos,
eu estava errado.
"Era o que eu temia," Quiron disse. "Devemos nos apressar. Espero que você tenha atrasado o Senhor dos Titãs, mas sua vanguarda ainda continuará avançando.
Eles estão sedentos por sangue. A maioria de nossas defesas já estão à seus lugares.Venha!"
"Espere um pouco," Silenus interrompeu. "E quanto à procura de Pan? Você está ha quase duas semanas atrasado, Grover Underwood! Sua licença de procurador
está vencida!
Grover respirou fundo. Ele firmou o pé e olhou nos olhos de Silenus. "Licenças de procurador não importam mais. O grande deus Pan está morto. Ele se foi
e deixou seu espírito."
"O que?" O rosto de Silenus ficou vermelho. "Profanações e mentiras! Grover Underwood, terei que te expulsar por ter falado isso!"
"Mas é verdade," eu disse. "Estávamos lá quando ele morreu. Todos nós."
"Impossível! Vocês são todos mentirosos! Destruidores da natureza!"
Quiron estudou o rosto de Grover. "Falaremos disso mais tarde."
"Falaremos disso agora!" disse Silenus. "Devemos lidar com isso -"
"Silenus," Quiron o cortou. "Meu acampamento está sobre ataque. O assunto de Pan tem esperado por dois mil anos. Temo que ele terá que esperar mais um pouco.
Estaremos aqui no final da tarde."
E devido àquela noticia feliz, ele curvou-se e galopou pelas arvores, deixando-nos para seguir o melhor que pudéssemos.

-

Essa era a maior operação militar que eu já tinha visto no acampamento. Todos estavam na clareira, vestidos com armaduras completas, mas desta vez não era
pra capturar a bandeira. O chalé de Hefesto tinha colocado armadilhas em volta da entrada do Labirinto - lâminas enormes, buracos cheios de Fogo Grego, filas de
estacas afiadas para desviar golpes. Beckendorf estava manejando duas grandes catapultas do tamanho de caminhões, já armados e apontados para o Punho de Zeus. O
chalé de Ares estava na linha frontal, organizados em falanges com Clarisse dando ordens. Os chalés de Hermes e Apollo estavam espalhados pela floresta com arcos
preparados. Muitos se posicionaram nas árvores. Até as dríades estavam armadas com arcos, e os sátiros trotavam entre elas com bastões de madeira e escudos feitos
de cascas de árvores resistentes.
Annabeth foi juntar-se a seu Chalé, o de Atena, que tinha uma barraca de comando e estava dirigindo as operações. Um banner cinza com uma coruja rodopiava
do lado de fora da barraca. Nosso chefe de segurança, Argus, estava de guarda na porta. As crianças de Afrodite estavam correndo endireitando as armaduras de todos
à volta e oferecendo-se para pentear a crina embaraçada dos cavalos. Até as crianças de Dionísio tinham arrumado o que fazer. O próprio deus ainda não estava à vista,
mas seus filhos, os gêmeos loiros, estavam correndo, providenciando água e garrafas de sucos para os guerreiros suados.
Parecia um bom começo, mas Quiron murmurou perto demais. "Não é o suficiente."
Lembrei do que tinha visto no Labirinto, todos os monstros do estádio de Antaeus, e o poder de Cronos que senti de Mt. Tamalpis. Meu coração apertou. Quiron
tinha razão, mas esse era o máximo que podíamos reunir. Pela primeira vez, desejei que Dionísio estivesse aqui, mas mesmo que ele estivesse, eu não sabia se ele
poderia fazer muita coisa. Quando a guerra surgia, os deuses não poderiam interferir diretamente. Aparentemente os Titãs não ligavam muito pras restrições.
Mais pra dentro da clareira, Grover estava falando com Juniper. Ele segurava suas mãos enquanto contava nossa historia. Lágrimas esverdeadas formaram-se
em seus olhos quando ela ouviu sobre Pan.
Tyson ajudou as crianças de Hefesto a preparar as defesas. Ele pegou rochas e empilhou perto das catapultas.
"Fique comigo, Percy," Quiron disse. "Quando a luta começar, eu quero que você espere até sabermos com o que estamos lidando. Você deve ir para onde precisarmos
de mais reforços."
"Eu vi Cronos," eu disse, ainda marcado pelo fato. "Eu parecia estar preso em seus olhos. Era Luke... Mas também não era."
Ele correu seus dedos por sua flecha. "Ele tinha olhos de ouro, eu diria. E na sua presença, o tempo parecia tornar-se liquido."
Eu concordei. "Como ele consegue controlar um corpo mortal?"
"Eu não sei, Percy. Deuses têm assumido formas mortais por eras, mas para se tornar um atualmente... Assumindo a forma divina como mortal. Não sei como
isso pode ser feito sem Luke virando cinzas."
"Cronos disse que seu corpo havia sido preparado."
"Eu sinto calafrios só de pensar o que isso quer dizer. Mas talvez isso vá limitar o poder de Cronos. Por um tempo, pelo menos, ele está confinado a forma
humana. Que os une juntos. Sorte que também os restringe."
"Quiron, e se ele liderar o ataque -"
"Eu não acho, meu rapaz. Eu sentiria se ele estivesse por perto. Não tenho duvidas que é isso que ele planeja, mas eu acredito que você o irritou, quando
você pôs a baixo seu trono debaixo de seu nariz." Ele olhou para mim reprovadoramente. "Você e seu amigo Nico, filho de Hades."
Um bolo formou-se em minha garganta. "Desculpe-me, Quiron. Eu sei que eu já devia ter-lhe dito isso antes. É que -"
Quiron levantou sua mão. "Eu entendo porque você não contou, Percy. Você sentiu-se responsável. Você tentou protegê-lo. Mas, meu rapaz, se estamos pra sobreviver
a esta guerra, devemos confiar uns aos outros. Devemos..."
Sua voz sumiu. O chão abaixo de nós estava tremendo.
Todos na clareira pararam o que estavam fazendo. Clarisse deu uma única ordem. "Juntar escudos."
Depois o exercito do Senhor dos Titãs explodiu do Labirinto.

-

Eu já estive numa batalha antes, mas essa era uma batalha em escala completa. A primeira coisa que vi foi uma dúzia de Lestrigões saindo do chão, gritando
tão alto que minha orelha parecia que ia explodir. Eles carregavam escudos feitos de pedaços de carros, e bastões que eram feitos de pedaços de arvores com lâminas
fortes espetadas no fim. Um dos gigantes mugiu pra falange de Ares, esmagando-a em dois lados com seu bastão, e o chalé inteiro caiu pros lados, uns guerreiros foram
jogados como bonecas de trapo.
"Fogo!" Beckendorf gritou. As catapultas entraram em ação. Duas pedras foram arremessadas para os gigantes. Uma bateu no escudo e deixou um grande amasso,
já a outra pegou um Lestrigao no peito, e o gigante caiu. Os arqueiros de Apollo soltaram fogo, uma rajada de flechas que ficaram presas a armadura dos gigantes,
como se fossem porcos- espinho. Varias encontraram frestas nas armaduras, e alguns gigantes vaporizaram com o toque do bronze celestial.
Mas quando parecia que os Lestrigoes estavam sendo derrotados, uma nova massa surgia do labirinto: trinta, talvez quarenta dracaenaes em armaduras completas,
segurando lanças e redes. Elas se separaram em todas as direções. Algumas atingiram as armadilhas do chalé de Hefesto. Uma ficou presa nas estacas, tornando-se um
alvo fácil para os arqueiros. Outras caíram na armadilha de arame, e potes de Fogo Grego explodiram em chamas verdes, engolindo varias das mulheres cobra. Mas muitas
continuavam se aproximando. Os guerreiros de Atena e Argus correram ao seu encontro. Eu vi Annabeth pegar sua espada e atacar uma delas. Perto dali, Tyson corria
atrás de um gigante. De algum jeito ele conseguiu subir por trás do gigante pelas costas e começou a bater na cabeça dele com um escudo de bronze- BONG!BONG!BONG!
Quiron atirava flecha após flecha calmamente, derrubando monstros com cada tiro. Mas mais inimigos continuavam a vir do labirinto. Finalmente um cachorro
infernal - sem ser a Senhora O'Leary - saltou do túnel e seguiu direto para os sátiros.
"VÁ!" Chiron gritou para mim.
Eu destampei Contracorrente e ataquei.
Enquanto eu corria pelo campo de batalha, eu vi coisas horríveis. Um meio sangue inimigo lutava contra um filho de Dionísio, mas parecia mais uma disputa.
O inimigo o apunhalou no braço e bateu no topo de sua cabeça com o punho da espada, e o filho de Dionísio caiu. Outro guerreiro inimigo atirava flechas de fogo para
as árvores, deixando os sátiros e as dríades em pânico. Uma dúzia de dracaenaes saiu da briga principal de repente e rastejaram pelo caminho que levava para o acampamento,
como se elas soubessem onde estavam indo. Se elas conseguissem, conseguiriam pôr o acampamento inteiro abaixo, completamente sem oposição.
A pessoa mais perto era Nico di Ângelo. Ele apunhalou uma telequine, e sua lamina preta de Stygian absorveu toda a essência do monstro, sugando sua energia,
até não sobrar nada além de sujeira.
"Nico!" eu gritei.
Ele olhou para onde eu estava apontando, viu as mulheres serpentes, e entendeu imediatamente.
Ele respirou fundo e pegou sua espada preta. "Sirvam-me," ele gritou.
A terra tremeu. Uma rachadura abriu-se na frente das dracaenae, e vários guerreiros zumbis saíram da terra - cadáveres horríveis em roupas militares de todas
as épocas. - E.U.A , Revolucionários, centuriões Romanos, cavalarias Napoleônicas em seus cavalos brancos. Um por um, todos pegaram suas espadas e atacaram as dracaenae.
Nico dobrou os joelhos, mas eu não tive tempo para ver se ele estava bem.
Eu me aproximei do cachorro infernal, que estava empurrando os sátiros para dentro da floresta. A fera atacou um sátiro, que saiu de seu caminho, mas depois
ele conseguiu pegar um que foi muito lento. O escudo de madeira do sátiro se partia enquanto ele caia.
"Ei!" eu gritei.
O cão infernal virou. Ele grunhiu e me atacou. Ele me rasgaria em pedaços, mas enquanto eu caia, meus dedos fecharam-se em uma jarra de argila - um dos potes
de Fogo Grego de Beckendorf. Eu joguei a jarra no estomago do cachorro infernal, e a criatura se foi em chamas. Eu me afastei, ofegando.
O sátiro que tinha sido atacado não estava se mexendo. Eu fui até ele para checar, mas então ouvi a voz de Grover: "Percy!"
A floresta tinha começado a pegar fogo. Chamas cresciam com uns dez metros da arvore da Juniper, e Grover e Juniper estavam loucos tentando salvá-la. Grover
tocava uma musica da chuva em sua flauta. Juniper tentava desesperadamente apagar o fogo batendo nele com seu xale, mas isso só estava piorando as coisas.
Eu corri em direção a eles, pulando lutas, passando por debaixo de pernas de gigantes. A água mais perto era o arroio, mas ele estava a meio quilometro...
Mas eu tinha que fazer algo. Concentrei-me. Havia um revirar no meu estômago, um ruído em meus ouvidos. Então uma onda de água veio por entre as arvores. Ela imergiu
o fogo, Grover, Juniper e tudo o que estava no caminho.
Grover cuspiu um bocado de água. "Valeu, Percy!"
"Sem problema!" Eu corri de volta para a batalha, e Grover e Juniper me seguiram. Grover tinha um bastão nas mãos, e Juniper uma estaca- como uma varinha
de brucha antiga. Ela parecia muito irritada, como se ela estivesse indo queimar as costas de alguém.
Assim que pareceu que a batalha tinha se igualado de novo - como se tivéssemos uma chance - um grito agudo ecoou do Labirinto, um som que eu já tinha ouvido
antes.
Kampê se atirou para o céu, suas asas de morcego bem estendidas. Ela rodeou no topo do Punho de Zeus e analisou a carnificina. Seu rosto estava com uma alegria
sombria. As cabeças do animal mutante grunhiram em sua cintura. Cobras sibilaram e enrolaram-se por entre suas pernas. Ela segurava, em sua mão direita, uma bola
de fios brilhantes - o Cordão de Ariadne - mas ela colocou o cordão na boca de leão em sua cintura e puxou sua espada encurvada. As laminas envenenadas brilhavam
em um tom de verde. Kampê gritou em triunfo, e alguns dos campistas gritaram. Outros tentaram fugir, mas foram encurralados por cachorros infernais ou gigantes.
"Di Immortales!" Quiron gritou. Ele atirou uma flecha rapidamente, mas Kampê pareceu sentir a presença. Ela voou com uma velocidade incrível, e a flecha
de Quiron passou inofensivamente por sua cabeça.
Tyson se soltou do gigante a quem ele tinha deixado inconsciente. Ele correu para nossos limites, gritando, "Parados! Não corram dela! Voem!"
Mas um cachorro infernal pulou sobre ele, e Tyson e o cachorro, ambos saíram rolando.
Kamplê sobrevoou a barraca de comando de Atena, despedaçando-a vazia. Eu corri atrás dela e encontrei Annabeth a meu lado, acompanhando-me, com sua espada
às mãos.
"Deve ser isto então," Ela disse.
"Provavelmente."
"É bom estar lutando com você, Cabeça de Alga."
"Idem."
Juntos, seguimos para a direção do monstro. Kampê sibilou e deslizou em nossa direção. Eu desviei, tentando distraí-la, enquanto Annabeth tentou golpeá-la,
mas parecia que o monstro era capaz de lutar com ambas as mãos independentemente. Ela bloqueou a espada de Annabeth, e Annabeth teve que pular para trás para desviar
da lamina envenenada. Só em estar perto da coisa, era como se estivéssemos em uma neblina ácida. Meus olhos queimavam. Meus pulmões não conseguiam ar suficiente.
Eu sabia que não conseguiríamos nos manter em pé por mais alguns segundos.
"Venham!" eu gritei. "Precisamos de ajuda!"
Mas nenhuma ajuda chegou. Todos estavam caídos, ou lutando por suas vidas, ou assustados demais para se aproximarem. Três das flechas de Quiron bateram no
peito de Kampê, mas ela só rugia mais alto.
"Agora!" Annabeth disse.
Atacamos juntos, desviando dos ataques do monstro, vencendo sua defesa, e quase... Quase conseguimos apunhalar Kampê no peito, mas uma grande cabeça de urso
atacou de sua cintura, e tivemos que pular para trás para evitar virar chamas.
Slam!
Minha vista escureceu. Depois só sabia que eu e Annabeth estávamos no chão. Os monstros estavam com seus pés em nossos peitos, nos prendendo. Centenas de
cobras deslizaram por cima de mim, sibilando como se fossem risadas. Kampê levantou sua espada esverdeada, e eu sabia que eu e Annabeth não tínhamos mais chance.
Então, algo atrás de mim, gritou. Uma parede de escuridão atingiu Kampê, mandando os monstros para os lados. E Senhora O'Leary estava parada a nossa frente,
rosnando ferozmente para Kampê.
"Boa garota!" disse uma voz familiar. Dédalo estava lutando por sua saída do Labirinto, jogando monstros para esquerda e para direita, como se ele tivesse
abrindo caminho em nossa direção. Perto dele, tinha outra pessoa - um gigante familiar, muito maior do que os Lestrigões, com centenas de braços mexendo-se, cada
um segurando um grande pedaço de pedra.
"Briares!" Tyson choramingou em admiração.
"Salve, irmãozinho!" Briares gritou. "Fique firme!"
E enquanto Senhora O'Leary saía do caminho, o Gigante de Cem Mãos atirou uma rajada de pedras em Kampê. As pedras pareciam crescer quando deixavam a mão
de Briares. Havia muitas, era como se a metade da terra tivesse aprendido a voar.
BOOOOOM!
Onde momentos antes estava Kampê, encontrava-se uma montanha de pedras, tão alta quanto o Punho de Zeus. O único sinal de que o monstro já tivera existido,
eram duas pontas de espada verde saindo das fendas.
Uma salva de palmas surgiu dos campistas, mas nossos inimigos ainda não estavam derrotados. Uma das dracaenae gritou, "Masssssacrem elessss! Matem a todossss
ou Cronosss irá acabar com suassss vidassss!"
Aparentemente, aquela ameaça era mais assustadora do que nós. Os gigantes avançaram num ultimo ataque desesperado. Um surpreendeu Quiron com um soco de raspão
em suas pernas traseiras, e ele cambaleou e caiu. Seis gigantes choramingaram com alegria e avançaram.
"Não!" eu gritei, mas eu estava muito longe para ajudar.
Depois aconteceu. Grover abriu sua boca, e o som mais irritante que eu jamais ouvi saiu dela. Era como se um trompete de lata tivesse sido aumentado centenas
de vezes - o som de puro medo.
Assim, as tropas de Cronos abaixaram suas armas e correram para salvar suas vidas. Os gigantes empurravam as dracaenae tentando chegar ao Labirinto primeiro.
Telequines, cachorros infernais e meio sangues inimigos partiram logo atrás deles. O túnel fechou-se, e a batalha estava acabada. A clareira estava quieta, exceto
pelo fogo nas árvores, e os choros de feridos.
Eu ajudei Annabeth com seu pé. Corremos até Quiron.
"Você está bem?" eu perguntei.
Ele estava deitado, tentando se levantar em vão. "Que embaraçoso." Ele murmurou. "Acho que ficarei bem. Felizmente, não atiramos em centauros com... Ai!...
Pernas quebradas"
"Você precisa de ajuda," Annabeth disse. "Eu vou trazer um médico do chalé de Apollo."
"Não," Quiron insistiu. "Há feridos mais graves para atender agora. Vão! Estou bem. Mas, Grover... Mais tarde teremos de conversar sobre como você fez aquilo"
"Aquilo foi incrível" Eu concordei.
Grover corou. "Eu não sei de onde veio aquilo"
Juniper abraçou-o firmemente. "Eu sei!"
Mas antes que ela pudesse dizer mais, Tyson chamou: "Percy, rápido! É o Nico!"

-

Havia fumaça ondulando suas roupas. Seus dedos estavam fechados, e a grama à seu redor estava amarela e morta.
Eu o rolei para cima e coloquei minha mão gentilmente sobre seu peito. Seu coração estava batendo devagar. "Pegue um pouco de néctar!" eu gritei.
Um dos campistas de Ares mancando me entregou um frasco. Eu derramei um pouco da bebida mágica na boca de Nico. Ele se engasgou e gaguejou, mas suas pálpebras
se abriram.
"Nico, o que aconteceu?" eu perguntei. "Você pode falar?"
Ele concordou vagarosamente. "Nunca tentei convocar antes. Eu- Eu ficarei bem."
Nós o ajudamos a sentar e o demos mais um pouco de néctar. Ele piscou para todos nós, como se ele estivesse tentando se lembrar quem éramos, e depois ele
focou em alguém atrás de mim.
"Dédalo," ele sussurou.
"Sim, meu rapaz." O inventor disse. "Eu cometi um erro enorme. Eu vim corrigi-lo."
Daedalus tinha uns poucos machucados que estavam sangrando um liquido dourado, mas ele parecia melhor do que muitos de nós. Aparentemente seu corpo robótico
curava-se rapidamente. Senhora O'Leary estava atrás dele, lambendo as feridas da cabeça de seu dono, então o cabelo de Daedalus estava engraçado. Briares estava
perto dele, cercado por um grupo de sátiros e campistas agradecidos. Ele parecia um pouco envergonhado, mas ele estava dando autógrafos em armaduras, escudos e camisetas.
"Eu encontrei o Gigante de Cem Mãos enquanto eu vinha pelo labirinto." Dédalo explicou. "Parecia que ele tinha a mesma ideia, de vir ajudar, mas ele estava
perdido. Então nós nos juntamos. Ambos viemos ajudar."
"EEEE" Tyson pulava pra cima e pra baixo. "Briares! Eu sabia que você viria!"
"Eu não sabia," O Gigante de Cem Mãos disse. "Mas você me fez lembrar de quem eu sou, Ciclope. Você é o herói."
Tyson corou, mas eu dei umas palmadinhas em suas costas. "Eu já sei disso há muito tempo." eu disse. "Mas, Dédalo... o exército do Titã ainda está lá embaixo.
Mesmo sem o colar, eles voltarão. Eles encontrarão um jeito mais cedo ou mais tarde, com Cronos os liderando."
Dédalo guardou sua espada. "Você tem razão. Enquanto o Labirinto existir, seus inimigos poderão o usar. E é essa a razão de o Labirinto não existir mais."
Annabeth o fitou. "Mas você disse que o labirinto é preso a sua força vital! Enquanto você estiver vivo -"
"Sim, minha pequena arquiteta," Dédalo concordou. "Quando eu morrer, o Labirinto morrerá também. Então eu tenho um presente para você."
Ele puxou sua mochila de couro de suas costas, abrindo-a, e tirando um laptop cinza - um dos que eu tinha visto na oficina. Na parte de cima tinha o símbolo
? azul.
"Meu trabalho está aqui." Ele disse. "Foi tudo o que consegui salvar do fogo. Notas de projetos que eu nunca comecei. Uns dos meus desenhos preferidos. Eu
não pude desenvolvê-los nos últimos milênios. Eu duvido que eu possa revelá-los para o mundo mortal. Mas talvez você os ache interessantes."
Ele estendeu o laptop para Annabeth, que o olhava como se ele fosse ouro sólido. "Você está me dando ele? Mas ele é inestimável. Ele vale... Eu nem sei quanto."
"Uma pequena compensação pelo modo que agi." Dédalo disse. "Você estava certa, Annabeth, sobre as crianças de Atena. Devemos ser sábios, e eu não era. Um
dia você será uma arquiteta melhor do que eu fui. Pegue minhas idéias e aperfeiçoe-as. É o mínimo que eu posso fazer antes de morrer."
"Ei," eu disse. "Morrer? Mas você não pode se matar. É errado."
Ele balançou sua cabeça. "Não tão errado quanto me esconder de meus crimes por dois mil anos. Genius (?) não perdoam o mal, Percy. Minha hora chegou. Eu
devo encarar meu castigo."
"Você não conseguirá um veredicto justo." Annabeth disse. "O espírito de Minos vai se sentar no julgamento -"
"Eu aceitarei o que vier," ele disse. "E confiar na justiça do Mundo Inferior, é como ela é. É tudo que podemos fazer, não é?"
Ele olhou para Nico, e o rosto dele escureceu.
"É," ele disse.
"Você levará minha alma para o resgate, depois? Dédalo perguntou. "Você poderia usá-la para reclamar sua irmã."
"Não," Nico disse. "Eu o ajudarei a libertar seu espírito. Mas Bianca morreu. Ela deve permanecer onde está."
Dédalo concordou. "Muito bem, filho de Hades. Você esta se tornando sábio."
Depois ele se virou para mim. "Um ultimo favor, Percy Jackson. Eu não posso deixar Senhora O'Leary sozinha. E ela não tem nenhuma vontade de voltar ao Mundo
Inferior. Você cuidará dela?"
Eu olhei para a enorme cachorra negra, que choramingou tristemente, ainda lambendo o cabelo de Daedalus. Eu achava que o apartamento da minha mãe não permitia
cachorros, especialmente cachorros maiores que o apartamento, mas eu disse, "Sim, é claro que vou."
"Então eu estou pronto para ver meu filho... E Perdix," ele disse. "Eu devo dizer-lhe quanto eu me arrependo."
Annabeth tinha lagrimas em seus olhos.
Dédalo virou-se para Nico, que pegou sua espada. Primeiro, fiquei com medo que Nico fosse matar o velho inventor, mas ele simplesmente disse, "Sua hora já
passou há muito tempo. Liberte-se e descanse."
Um sorriso de alivio surgiu no rosto de Daedalus. Ele congelou feito uma estatua. Sua pele ficou transparente, revelando as engrenagens de bronze e zumbidos
maquinários dentro de seu corpo. Então a estátua virou cinzas e desintegrou-se.
Senhora O'leary ganiu. Eu acariciei sua cabeça, tentando confortá-la o máximo que eu pudesse. A terra tremeu - um terremoto que provavelmente podia ser sentido
em cada cidade pelo país. - enquanto o Labirinto destruía-se. Em algum lugar, eu esperava, que um pedaço da força do Titã tivesse sido destruída.
Eu olhei em volta, a carnificina na clareira, e os rostos cansados de meus amigos.
"Venham," eu disse a eles. "Temos trabalho a fazer."


















DEZENOVE - O CONSELHO SE DIVIDE

Houve muitas despedidas.
Aquela noite foi a primeira vez que eu vi as mortalhas do acampamento
serem usadas, e isso não é algo que eu queira ver de novo.
Entre os mortos, Lee Fletcher do chalé de Apolo tinha sido abatido
pelo porrete de um gigante. Ele foi enrolado em uma mortalha dourada
sem decoração.
O filho de Dionísio, que havia sido eliminado lutando com um inimigo
meio sangue, fora enrolado em um manto púrpura bordado com videiras.
Seu nome era Castor. Eu estava envergonhado de tê-lo visto pelo
acampamento por três anos e nunca ter me incomodado em aprender seu
nome. Ele tinha dezessete anos. Seu irmão gêmeo, Pollux, tentou dizer
algumas palavras, mas engasgou e apenas segurou a tocha. Ele acendeu a
pira fúnebre no meio do anfiteatro, e em segundos a fila de mantos foi
envolvida pelo fogo, mandando fumaça e centelhas até as estrelas
Nós passamos os próximos dias cuidando dos feridos, que era quase todo
acampamento. Os sátiros e dríades trabalharam para reparar o dano nos
bosques.
Ao por do sol, o Conselho dos Anciões de Casco Fendido convocou uma
reunião de emergência na clareira sagrada. Os sátiros anciões estavam
lá, junto com Quíron, que estava na forma de cadeira de rodas. A perna
quebrada dele ainda estava se curando, então ele iria ficar confinado
à cadeira por alguns meses, até a perna dele estar forte o suficiente
para agüentar o peso dele. A clareira esta cheia de sátiros e dríades
e náiades fora da água-centenas deles ansiosos para ouvir o que iria
acontecer. Juniper, Annabeth, e eu ficamos em pé ao lado do Grover.
Silenus queria exilar Grover imediatamente, mas Quíron o persuadiu a
pelo menos ouvir as evidencias primeiro, então nos contamos a todos o
que tinha acontecido a caverna de cristal, e o que Pan havia dito.
Depois varias testemunhas da batalha descreveram o som estranho que
Grover fez, que expulsou o exercito Titã de volta para o subterrâneo.
"É o pânico," insistiu Juniper. "Grover invocou o poder do deus da selvageria."
"Pânico?" eu perguntei.
"Percy," Quíron explicou, "durante a primeira guerra dos deuses e
titãs, Lorde Pan liberou um horrível grito que afugentou o exercito
inimigo. Isto é-isto era seu maior poder-uma onda massiva de medo que
ajudou os deuses a vencer o dia. Veja, a palavra pânico foi nomeado
depois de Pan. E Grover usou aquele poder, o invocando de dentro de si
mesmo."
"Ridículo!" Silenus urrou. "Sacrilégio! Talvez o deus selvagem nos
tenha favorecido com uma benção. Ou talvez a musica do Grover seja tão
nojenta que assustou o inimigo!"
"Não foi isso, senhor," Grover disse. Ele soou muito mais calmo do que
eu estaria se tivesse sido insultado daquela maneira. "Ele deixou seu
espírito vir para dentro de nós. Nós precisamos agir. Cada um de nós
deve trabalhar para renovar a natureza, proteger o que ainda existe.
Nós temos que espalhar a palavra, Pan está morto. Não há ninguém além de nós."
"Depois de dois mil anos procurando, é nisso que você quer que agente
acredite?" Silenus chorou. "Nunca! Nós temos que continuar a busca!
Exilem o traidor!"
Alguns dos sátiros mais velhos murmuraram concordando.
"Uma votação!" Silenus exigiu. "Quem acreditaria nesse jovem sátiro ridículo, de qualquer forma?"
"Eu poderia," disse uma voz familiar.
Todos se viraram. Andando a passos largos para o interior da clareira
estava Dionísio. Ele usava um terno preto formal, então eu quase não o
reconheci, uma gravata púrpura e uma camisa violeta, seu cabelo
encaracolado cuidadosamente penteado. Seus olhos estavam vermelhos
como sempre, e seu rosto arredondado estava corado, mas ele parecia
estar sofrendo pela perda mais do que abstinência de vinho.
Os sátiros levantaram respeitosamente e se curvaram quando ele se
aproximou. Dionísio abanou a mão e uma nova cadeira cresceu do chão
perto do Silenus-um trono feito de videiras. Dionísio sentou e cruzou
suas pernas. Ele estalou os dedos e um sátiro se apressou a frente com
um prato de queijo e bolachas e uma Coca Diet.
O deus do vinho olhou em volta para a multidão reunida. "Sentiram
minha falta?" Os sátiros caíram em si concordando e se curvando. "Oh,
sim, muito senhor!"
"Bem, eu não senti falta desse lugar!" Dionísio respondeu
rispidamente. "Eu trago más noticias, meus amigos. Noticias malignas.
Os deuses menores estão trocando de lado. Morpheus foi para o lado
inimigo. Hecate, Janus, e Nemesis também. Zeus sabe quantos mais."
Trovão ressoou na distância.
"Vejo isso," Dionísio disse. "Até Zeus não sabe. Agora, eu quer ouvir
a historia do Grover. Novamente, do começo."
"Mas, meu senhor," Silenus protestou. "É só bobagem!"
Os olhos de Dionísio flamejaram com um fogo arroxeado. "Eu acabei de
saber que meu filho Castor está morto, Silenus. Eu não estou de bom
humor. Você iria fazer bem em melhorar meu humor."
Silenus engoliu seco e fez um sinal para que Grover começasse novamente.
Quando Grover terminou, Sr. D. concordou com a cabeça. "Isso soa como
algo que Pan faria. Grover está certo, A busca é cansativa. Vocês
devem começar a pensar por vocês mesmo." Ele virou para um sátiro.
"Traga-me algumas uvas descascadas, agora!"
"Sim, senhor!" O sátiro saiu correndo.
"Nós temos que exilar o traidor!" Silenus insistiu.
"Eu digo não," Dionísio respondeu. "Esse é meu voto."
"Eu voto não também," Quíron acrescentou.
Silenus endureceu o queixo teimosamente. "Todos a favor do exílio?"
Ele e dois outros velhos sátiros levantaram suas mãos.
"Três a dois," Silenus disse.
"Ah, sim," Dionísio disse. "Mas infelizmente para você, um voto de
deus conta como dois. E como eu votei contra, estamos empatados."
Silenus levantou indignado. "Isso é um ultraje! O conselho não pode
ficar em um impasse."
"Então que ele seja dissolvido!" Sr. D disse. "Eu não ligo."
Silenus se curvou rigidamente, junto com seus dois amigos, e saíram da clareira.
Cerca de vinte sátiros foram com eles. O resto ficou por perto
murmurando desconfortavelmente.
"Não se preocupem," Grover disse a eles. "Nós não precisamos do
conselho para nos dizer o que fazer. Nós podemos pensar nisso
sozinhos."
Ele contou a eles novamente as palavras de Pan-como eles deveriam
salvar a natureza um pouco de cada vez. Ele começou a dividir os
sátiros em grupos-quais iriam para os parques nacionais, quais iriam
procurar pelos últimos lugares selvagens, quais iriam defender os
parques nas grandes cidades.
"Bem," Annabeth me disse, "Grover parece estar crescendo."
* * *
Depois naquela tarde eu encontrei Tyson na praia, falando com Briares.
Briares estava construindo um castelo de areia com cerca de cinqüenta
de suas mãos. Ele não estava realmente prestando atenção no trabalho,
mas suas mãos construíram uma fortaleza com três torres, paredes
fortificadas, um fosso e uma ponte levadiça.
Tyson estava desenhando um mapa na areia.
"Vá para esquerda nos corais," ele disse a Briares. "Desça quando você
ver um navio afundado. Depois, cerca de uma milha a oeste, passando do
cemitério das sereias, você vai ver fogos queimando."
"Você está dando a ele instruções para as forjas?" Eu perguntei.
Tyson fez que sim com a cabeça. "Briares quer ajudar. Ele vai ensinar
os Ciclopes maneiras que eles esqueceram como fazer melhores armas e
armaduras."
"Eu quero ver os Ciclopes" Briares concordou. "Eu já não quero ficar sozinho."
"Eu duvido que você vá ficar sozinho lá embaixo," Eu disse desejoso,
porque eu jamais estivera no reino de Poseidon. "Eles vão mantê-lo
ocupado."
A face de Briares mudou para uma expressão feliz. "Ocupado soa bem! Eu
queria que Tyson pudesse ir também."
Tyson corou. "Eu preciso ficar aqui com meu irmão. Você vai se dar
bem, Briares. Obrigado"
O Cento-e-uma-mão balançou minha mão cerca de cem vezes. "Nós vamos
nos encontrar novamente, Percy. Eu sei disso!"
Ele deu a Tyson um grande abraço de polvo e desapareceu embaixo das ondas.
Eu dei um tapinha nas costas de Tyson. "Você o ajudou muito."
"Eu só falei com ele."
"Você acreditou nele. Sem Briares, nós nunca teríamos vencido Kampê."
Tyson sorriu maliciosamente. "Ele arremessa boas rochas!"
Eu gargalhei. "Yeah, Ele realmente arremessa boas rochas. Vamos
grandão. Vamos jantar."
* * *
Foi bom ter um jantar normal no acampamento. Tyson sentou comigo na
mesa de Poseidon. O pôr do sol sobre Long Island Sound foi lindo. As
coisas não voltaram ao normal por um bom tempo, mas quando eu fui até
o braseiro e separei parte da minha refeição para as chamas como
oferenda a Poseidon, eu senti como se eu tivesse muito pelo que ser
grato. Meus amigos e eu estávamos vivos. O acampamento estava salvo.
Cronos tinha sofrido um contratempo, pelo menos por um tempo. A única
coisa que me incomodava era Nico, sozinho nas sombras nos limites do
pavilhão. Ele havia recebido a oferta de sentar na mesa principal com
Quíron, mas ele recusou.
Depois do jantar, os campistas se dirigiram para o anfiteatro, onde o
chalé de Apolo prometera um incrível karaokê para animar nossos
espíritos, mas Nico se virou e desapareceu sob as sombras das arvores,
eu percebi quão escuro estava ficando. Eu nunca tinha me assustado na
floresta antes, apesar de saber que lá havia uma porção de monstros.
Ainda assim, eu pensei sobre a batalha de ontem, e imaginei se eu um
dia poderia caminhar naqueles bosques novamente sem relembrar o horror
de tanta luta.
Eu não podia ver Nico, mas depois de alguns minutos de caminhada eu
vi um brilho a frente. Conforme eu me aproximava percebi que era o
brilho de um fantasma. A tremeluzente forma de Bianca di Angelo parada
na clareira, sorrindo para seu irmão. Ela disse algo para ele e tocou
sua face- ou tentou. Depois disso, sua imagem se desfez.
Nico virou e me viu, mas ele não parecia com raiva.
"Dizendo adeus," ele disse com a voz rouca.
"Nós sentimos sua falta no jantar," Eu disse. "Você poderia ter sentado comigo."
"Não."
"Nico, você não pode perder todas as refeições. Se você não quer ficar
com Hermes, talvez eles possam fazer uma exceção para você e colocá-lo
na Casa Grande. Eles têm uma porção de quartos."
"Eu não vou ficar, Percy."
"Mas...você não pode simplesmente sair. É muito perigoso lá fora para um
meio-sangue solitário. Você precisa treinar."
"Eu treino com os mortos," ele disse rapidamente pesadamente. "Esse
acampamento não é para mim. Há uma razão para eles não colocarem uma
cabine para Hades aqui, Percy. Ele não é bem-vindo, não mais que no
Olimpo. Eu não pertenço. Eu tenho que ir."
Eu queria discutir, mas parte de mim sabia que ele estava certo. Eu
não gostava disso, mas Nico teria que encontrar seu próprio, sombrio,
caminho. Eu me lembrei da caverna de Pan, como o Deus selvagem se
dirigiu a cada um de nos individualmente... exceto Nico."
"Quando você vai?" Eu perguntei.
"Agora mesmo. Eu tenho toneladas de perguntas. Como e quem era minha mãe?
Quem pagou para eu e Bianca irmos a escola? Quem era o advogado que
nos tirou do Lótus Hotel? Eu sei nada sobre meu passado. Eu preciso
descobrir."
"Faz sentido," Eu admiti. "Mas eu espero que nos não tenhamos que ser inimigos."
Ele baixou os olhos. "Eu sinto muito, eu era um pirralho. Eu deveria
ter te escutado sobre Bianca."
"Falando nisso..." Eu pesquei algo para fora do meu bolso. "Tyson
encontrou isso enquanto estávamos limpando o chalé. Eu pensei que você
podia querer." Eu segurei uma sombria miniatura de Hades - a pequena
estatua de Mythomagic que Nico abandonara quando fugiu do acampamento no ultimo inverno.
Nico hesitou. "Eu não jogo mais esse jogo. É para crianças."
"Ele tem quatro mil pontos de ataque," Eu coaxei.
"Cinco mil." Nico corrigiu. "Mas somente se seu oponente atacar primeiro."
Eu sorri. "Talvez esteja bem ser criança de vez em quando." Eu joguei
para ele a estatua.
Nico a estudou na palma da mão por alguns segundos, então a colocou no
bolso. "Obrigado."
Eu ofereci minha mão. Ele a sacudiu relutantemente. A mão dele estava
frio como gelo.
"Eu tenho uma porção de coisas para investigar," ele disse. "Algumas
delas... bem, se eu aprender algo útil eu te aviso."
Eu não estava certo do que ele queria dizer, mas concordei. "Mantenha
contato, Nico."
Ele se virou e adentrou na floresta. As sombras pareciam se curvar em
direção a ele enquanto ele andava, como se elas estivessem reagindo à
atenção dele. Uma voz atrás de mim disse, "La vai um jovem muito
problemático."
Eu virei e encontrei Dionísio parado lá, ainda com seu terno preto.
"Ande comigo," ele disse.
"Para onde?" Eu perguntei suspeitosamente.
"Somente até a fogueira," ele disse. "Eu estava começando a me sentir
melhor, então pensei em falar com você um pouco. Você sempre consegue
me irritar."
"Uh, obrigado."
Nós andamos pelo bosque em silêncio. Eu notei que Dionísio estava
andando no ar, seu sapato preto polido pairava a uma
polegada do solo. Eu achei que ele não queria sujá-los.
"Nós tivemos muitos traidores," ele disse. "As coisas não parecem boas
para o Olimpo. Ainda sim você e Annabeth salvaram esse acampamento. Eu não tenho certeza se deveria agradecê-lo por isso."
"Foi um esforço em grupo."
Ele deu de ombros. "Ainda sim, eu suponho que isso que vocês dois
fizeram foi quase competente. Eu achei que você deveria saber - isso
não foi uma perda total."
Nós alcançamos o anfiteatro e Dionísio apontou para a fogueira do acampamento.
Clarisse estava sentada ombro a ombro com um grande garoto hispânico
que estava contando a ela uma piada. Era Chris Rodriguez, o
meio-sangue que tinha ficado louco no labirinto.
Eu virei para Dionísio. "Você o curou?"
"Loucura é minha especialidade. Foi bem simples."
"Mas... você fez algo legal. Por quê?"
Ele levantou uma sobrancelha. "Eu sou legal! Eu simplesmente escorro
bondade, Perry Johansson. Você não tinha notado?"
"Uh-"
"Talvez eu tenha sentido a perda pela morte do meu filho. Talvez eu
achei que o garoto Chris mereça uma segunda chance. De qualquer forma,
isso pareceu melhorar o humor de Clarisse."
"Porque você esta me contando isso?"
O deus do vinho bocejou. "Oh, Hades se eu soubesse. Mas lembre garoto,
um ato bondoso às vezes pode ser tão poderoso quanto uma espada. Como
um mortal, eu nunca fui um grande guerreiro ou poeta. Eu só fazia
vinho. As pessoas da minha vila riram de mim. Elas disseram que eu
nunca conseguiria nada. Olhe para mim agora. Às vezes pequenas coisas
podem se tornar realmente grandes."
Ele me deixou sozinho para pensar naquilo. E eu observei Clarisse e
Chris cantarem uma canção estúpida de acampamento juntos, segurando as
mãos na escuridão, onde eles achavam que ninguém podia vê-los, eu tive
que sorrir.





VINTE - MINHA FESTA DE ANIVERSÁRIO TOMA UM RUMO SOMBRIO

O resto do verão pareceu estranho porque ele foi tão normal. As atividades diárias continuaram: arquearia, alpinismo, cavalgar pégasos. Nós jogamos "capture
a bandeira" (apesar de termos evitado o Punho de Zeus). Nós cantamos na fogueira e corremos com bigas e pregamos peças nos outros chalés. Eu passei muito tempo com
Tyson, brincando com a Sra. O'Leary, mas ela ainda uivava durante a noite quando ela se sentia solitária sem seu velho dono. Annabeth e eu nos evitávamos muito ultimamente.
Eu estava feliz em estar com ela, mas isso também meio que machucava, e machucava quando eu não estava com ela também.
Eu queria falar com ela sobre Cronos, mas eu já não poderia fazer isso sem mencionar Luke e esse era o único assunto que eu não poderia levantar. Ela me calava
sempre que eu tentava.
Julho passou, com fogos de artifício do dia 4 na praia. Agosto ficou tão quente que os morangos começaram a assar nos campos. Finalmente, o último dia de acampamento
chegou. A carta padronizada de sempre aparecia em minha cama depois do café da manhã, me alertando que as harpias da limpeza me devorariam se eu permanecesse lá
depois do pôr-do-sol.
Às dez horas eu esperei no topo da colina Meio Sangue, esperando pela van do acampamento que me levaria até a cidade. Eu tinha feito os preparativos para deixar
a Sra. O'Leary no acampamento, onde Chiron prometera que ela seria cuidada. Tyson e eu faríamos turnos visitando ela durante o ano.
Eu tinha esperanças que Annabeth fosse comigo de van para Manhattan, mas ela apenas veio me ver ir embora. Ela disse que tinha programado permanecer no acampamento
um pouco mais. Ela tomaria conta de Chiron até que a perna dele estivesse totalmente recuperada e continuaria estudando o notebook de Deadalus, que havia absorvido
ela pelos últimos dois meses. Depois ela iria direto para casa do pai dela em São Francisco.
"Há uma escola particular lá para onde estou indo", ela disse. "Eu provavelmente vou odiá-la, mas..." ela deu os ombros.
"Yeah, bem, me liga, tudo bem?"
"Claro," ela disse sem confiança. "Eu vou manter meus olhos abertos para..."
Lá estava ele de novo. Luke. Ela não poderia sequer dizer o nome dele sem abrir uma grande caixa de dor, preocupação e raiva.
"Annabeth," Eu disse. "O que era o resto da profecia?"
Ela encarou o bosque à distância, mas ela não disse nada.
"Você deverá se aventurar na escuridão do labirinto sem fim." Eu lembrei. "O morto, o traidor e o perdido erguer". Nós erguemos muitos dos mortos.
Nós salvamos Ethan Nakamura, que acabou sendo um traidor. Nós elevamos o espírito de Pan, o perdido.
Annabeth sacudiu a cabeça como se quisesse que eu parasse.
"Você deverá erguer-se ou cair pela mão do rei dos fantasmas," Eu a pressionei. "Isso não era Minos, como eu teria pensado. Era Nico. Por ter escolhido nosso
lado, ele nos salvou. E o último levantar da criança de Atena- Isso era Daedalus."
"Percy-"
"Destrua com o último suspiro do herói. Isso faz sentido agora. Daedalus morreu para destruir o Labirinto. Mas o qual era o ultimo-"
"E perca um amor para algo pior que a morte" Annabeth tinha lágrimas nos olhos.
"Essa era a última linha, Percy. Você esta feliz agora?"
O sol pareceu mais frio que fora um momento atrás. "Oh," Eu disse. "Então Luke-"
"Percy, eu não sabia de quem a profecia estava falando. Eu-Eu não sabia se..." Ela vacilou desamparadamente. "Luke e eu-por anos, ele foi o único que realmente
se importou comigo. Eu pensei..."
Antes que ela pudesse continuar, um lampejo de luz apareceu próximo a nós, como se alguém tivesse aberto uma cortina no ar.
"Você não tem nada pelo que se desculpar minha querida." De pé na colina havia uma mulher alta em um vestido branco, seus cabelos negros traçados sobre o ombro.
"Hera," Annabeth disse.
A deusa sorriu. "Você encontrou as respostas, como eu sabia que faria. Sua missão foi um sucesso."
"Um sucesso?" Annabeth disse. "Luke se foi. Daedalus está morto. Pan está morto. Como isto é-"
"Nossa família está a salvo," Hera insistiu. "Esses outros estão melhores mortos, minha querida. Eu estou orgulhosa de você."
Eu fechei meus punhos. Eu não podia acreditar no que ela estava dizendo "Você foi aquela que pagou Geryon para nos deixar passar pelo rancho, não foi?"
Hera deu os ombros. O vestido dela brilhou nas cores do arco-íris. "Eu queria apressar o seu caminho."
"Mas você não se importou com Nico. Você estava feliz em vê-lo indo para o lado dos Titãs."
"Oh, por favor." Hera balançou a mão negativamente. "O filho de Hades, ele mesmo disse. Ninguém o quer por perto. Ele não se encaixa."
"Hephaestus estava certo," Eu rosnei. "Você somente se importa pela sua família perfeita, não pessoas reais."
Os olhos dela se ficaram perigosamente brilhantes. "Cuidado com a língua filho de Poseidon. Eu guiei você mais do que sabe no labirinto. Eu estava do seu lado
quando você enfrentou Geryon. Eu fiz sua flecha voar certeira. Eu enviei você para a ilha da Calypso. Eu abri o caminho para a montanha do Titã. Annabeth, minha
querida, certamente você vê como eu ajudei. Eu apreciaria um sacrifício pelos meus esforços."
Annabeth ficou parada como uma estátua. Ela poderia ter agradecido. Ela poderia ter prometido jogar algum churrasco no braseiro para Hera e esquecer a coisa
toda. Mas ela firmou o queixo teimosamente. Ela parecia como quando enfrentou a Esfinge - como se ela não fosse aceitar uma resposta fácil, mesmo que isso a colocasse
em sérios problemas. Eu me dei conta que era uma das coisas que eu mais gostava sobre a Annabeth.
"Percy está certo." Ela virou as costas para a deusa. "Você é aquela que não se encaixa, Rainha Hera. Então na próxima vez, obrigada... mas não obrigada."
O sorriso de escárnio de Hera era pior que o da Empousa. A forma dela começou a brilhar.
"Você vai se arrepender desse insulto, Annabeth. Você vai se arrepender muito disso."
Eu desviei meus olhos enquanto a deusa se transformava em sua verdadeira forma divina e desapareceu em uma explosão de luz.
A colina estava pacífica novamente. No pinheiro, Peleus o dragão cochilava embaixo do Velocino de Ouro como se nada tivesse acontecido.
"Desculpe-me," Annabeth me disse. "Eu-Eu deveria voltar. Eu vou manter contato."
"Ouça Annabeth -" Eu pensei sobre o Monte Santa Helena, a Ilha de Calypso, Luke e Rachel Elizabeth Dare, e de como de repente tudo ficara tão complicado. Eu
queria contar para Annabeth que eu realmente não queria ficar tão distante dela.
Então Argus buzinou seu chifre na estrada abaixo, e eu perdi minha chance.
"É melhor você ir indo," Annabeth disse. "Se cuida, Cabeça de Alga."
Ela correu colina abaixo. Eu a observei até que ela alcançou os chalés. Ela não olhou para traz nem uma vez.
* * *
Dois dias depois foi meu aniversário. Eu nunca fiz propaganda da data, porque ela sempre caía depois do acampamento, então nenhum dos meus amigos de acampamento
normalmente podia vir, e eu não tinha tantos amigos mortais. Além disso, ficar mais velho não parecia algo para celebrar desde que eu tinha uma grande profecia sobre
mim destruindo o mundo quando eu fizesse dezesseis. Agora eu estava fazendo quinze. Eu estava ficando sem tempo.
Minha mãe me fez uma pequena festa em nosso apartamento. Paul Blofis veio, mas tudo bem porque Chiron havia manipulado a Névoa para convencer todos no Goode
High School que eu não tivera nada a ver com a explosão da sala da banda. Agora Paul e as outras testemunhas estavam convencidos que Kelli tinha sido uma louca,
chefe de torcida arremessadora de explosivos, enquanto eu tinha sido simplesmente um inocente transeunte que tinha entrado em pânico e corrido da cena. Eu ainda
teria permissão para começar como calouro na Goode mês que vem. Se eu quisesse manter meu recorde de ser chutado das escolas todos os anos, teria que tentar com
mais vontade. Tyson veio para minha festa, também, e minha mãe cozinhara dois bolos azuis extras só para ele. Enquanto Tyson ajudava minha mãe a encher os balões
de festa, Paul Blofis me chamou para ajudá-lo na cozinha.
Enquanto nós estávamos servindo o ponche, ele disse, "Eu soube que sua mãe te inscreveu para aulas de direção esse outono."
"Yeah. É legal. Eu não posso esperar."
Sinceramente, eu tinha andado excitado sobre conseguir minha licença, mas eu acho que meu coração já não estava nisso, e Paul podia perceber. De uma maneira
estranha ele me lembrava Chiron às vezes, como ele podia olhar para você e realmente ver seus pensamentos. Eu acho que era aquela aura de professor.
"Você teve um verão duro," ele disse. "Eu estou chutando que você perdeu alguém importante. E... problema com garotas?"
Eu o encarei. "Como você sabe disso? A minha mãe-"
Ele levantou as mãos. "Sua mãe não disse nada. E eu não vou me intrometer. Eu apenas sei que há algo diferente sobre você, Percy. Você deve ter muita coisa acontecendo
que eu não consigo entender. Mas eu também já tive quinze anos, e eu apenas estou adivinhando pela sua expressão... Bem, você teve um tempo difícil."
Eu confirmei com a cabeça. Eu tinha prometido a minha mãe que eu contaria a Paul a verdade sobre mim, mas agora não pareceu a hora, Não ainda. "Eu perdi dois
amigos no acampamento que eu vou," Eu disse. "Quero dizer, não amigos íntimos, mesmo assim-"
"Desculpe-me."
"Yeah. E, uh, Eu acho que a coisa de garota..."
"Aqui." Paul me passou um pouco de ponche. "Ao seu aniversário de quinze anos. E a um ano melhor por vir."
Nós brindamos com nossos copos de papel juntos e bebemos.
"Percy, Eu meio que me sinto mal lhe dando mais uma coisa para pensar," Paul disse. "Mas eu queria lhe perguntar algo."
"Sim?"
"Coisa de garota."
Eu fechei a cara. "O que você quer dizer?"
"Sua mãe," Paul disse. "Eu estou pensando em propor a ela..."
Eu quase derrubei meu copo. "Você quer dizer... casar com ela? Você e ela?"
"Bem, essa era a idéia geral. Isso estaria okay para você?"
"Você esta pedindo minha permissão?"
Paul coçou sua barba. "Eu não sei se é tanto uma permissão, mas ela é sua mãe. E eu sei que você esta passando por muita coisa. Eu não me sentiria bem se eu
não falasse com você sobre isso primeiro, de homem para homem."
"Homem para homem," Eu repeti. Isso soou estranho, dizendo isso Eu pensei sobre Paul e minha mãe, como ela sorria e ria mais quando ele estava por perto, e como
Paul tinha saído de seu caminho para me colocar no ensino médio. Eu me peguei dizendo, "Eu acho que é uma grande idéia, Paul. Vá em frente."
Ele deu um sorriso enorme então. "Saúde, Percy. Vamos nos juntar a festa."
* * *
Eu estava quase pronto para assoprar as velas quando a campainha tocou.
Minha mãe franziu a testa. "Quem pode ser?"
Era estranho, porque nosso novo prédio tinha um porteiro, mas ele não tinha ligado nem nada. Minha mãe abriu a porta e ficou pálida como um fantasma.
Era meu pai. Ele estava vestindo uma bermuda e uma camisa havaiana e sandálias de couro, como ele sempre usa. Sua barba preta fora cuidadosamente aparada e seus
olhos verde-mar brilharam. Ele usava um chapéu decorado com iscas de pesca já bem maltratado. Ele dizia CHAPÉU DE PESCARIA DA SORTE DE NETUNO.
"Pos-" Minha mãe se parou. Ela esta corando até a raiz dos cabelos. "Um, olá."
"Olá, Sally," Poseidon disse. "Você parece linda como sempre. Posso entrar?"
Minha mãe fez um chiado que pode ter sido tanto um "Sim" ou "Ajuda."
Poseidon tomou como um sim e entrou.
Paul estava olhando de um lado para o outro entre nós, tentando ler nossas expressões. Finalmente ele deu um passo à frente. "Oi, eu sou Paul Blofis."
Poseidon levantou suas sobrancelhas enquanto eles apertavam as mãos "Blowfish , você disse?"
"Ah, não. Blofis, na verdade."
"Oh, eu vejo," Poseidon disse. "Uma pena. Eu meio que gosto de blowfish. Eu sou Poseidon."
"Poseidon? É um nome interessante."
"Sim, eu gosto dele. Eu já fui chamado de outros nomes, mas eu prefiro Poseidon."
"Como o deus dos mares."
"Bem como isso, sim."
"Bem!" minha mãe interrompeu. "Um, nós estamos tão felizes que você pode dar um pulo aqui. Paul, esse é o pai de Percy."
"Ah." Paul concordou, apesar de que ele não parecia muito satisfeito. "Eu vejo."
Poseidon sorriu para mim. "Ai esta você, meu garoto. E Tyson, olá, filho!"
"Papai!" Tyson pulou através da sala e deu a Poseidon um grande abraço, que quase derrubou seu chapéu de pescaria.
O queixo de Paul caiu. Ele encarou minha mãe. "Tyson é..."
"Não meu." Ela prometeu. "É uma longa historia."
"Eu não poderia perder a festa do décimo quinto aniversario de Percy," Poseidon disse. "Porque, se isso fosse em Sparta, Percy seria um homem hoje!"
"Isso é verdade," Paul disse. "Eu costumava ensinar historia antiga."
Os olhos de Poseidon brilharam. "Esse sou eu. Historia antiga. Sally, Paul, Tyson... vocês se importariam se eu emprestasse Percy por um momento?"
Ele pôs seu braço em volta de mim e me dirigiu até a cozinha.
* * *
Assim que nós ficamos sozinhos, seu sorriso desapareceu.
"Você esta bem, meu garoto?"
"Yeah. Eu estou bem. Eu acho."
"Eu ouvi as histórias," Poseidon disse. "Mas eu queria ouvi-las diretamente de você. Conte-me tudo."
Então eu contei. Foi meio desconcertante, porque Poseidon ouviu tão intensamente. Seus olhos nunca deixaram minha face. Sua expressão não mudou durante todo
tempo que eu falei. Quando eu terminei, ele balançou a cabeça devagar concordando.
"Então Cronos realmente está de volta. Não vai demorar muito antes que toda guerra esteja sobre nós."
"E sobre Luke?" Eu perguntei. "Ele realmente se foi?"
"Eu não sei, Percy. Isto é o mais perturbador."
"Mas o corpo dele é mortal. Vocês não poderiam simplesmente matá-lo?"
"Mortal, talvez, mas há algo diferente sobre Luke, meu garoto. Eu não sei como ele foi preparado para conter a alma do Titã, mas ele não será morto facilmente.
E ainda sim, eu temo que ele deva ser morto para nós enviarmos Cronos de volta ao abismo. Eu vou ter que pensar nisso. Infelizmente, eu tenho outros problemas para
cuidar."
Eu lembrei o que Tyson tinha me dito no começo do verão.
"Os velhos deuses do mar?"
"Correto. A batalha veio até mim antes, Percy. De fato, eu não posso ficar muito tempo. Mesmo agora o oceano está em guerra consigo mesmo. É tudo que eu posso
fazer para impedir os furacões e tornados de destruírem a superfície do mundo, a luta é tão intensa."
"Deixe-me descer lá," eu disse. "Deixe-me ajudar."
Os olhos de Poseidon enrugaram quando ele sorriu. "Ainda não, meu garoto. Eu sinto que você será necessário aqui. O que me lembra..." Ele fez surgir um sand
dollar e o apertou na minha mão. "Seu presente de aniversario. Gaste sabiamente."
"Uh, gastar um sand dollar?"
"Oh, sim. No meu tempo, você poderia comprar bastante coisa com um sand dollar. Eu penso que você irá descobrir que ele ainda compra muito, se usado na situação
correta."
"Que situação?"
"Quando o tempo vier," Poseidon disse, "Eu acho que você saberá."
Eu fechei minha mão em volta do sand dollar, mas algo estava realmente me incomodando.
"Pai," Eu disse, "quando eu estava no labirinto, eu encontrei Antaeus. Ele disse... bem, ele disse que era seu filho favorito. Ele decorou sua arena com caveiras
e-"
"Ele dedicou elas para mim," Poseidon completou. "E você estava imaginando como alguém poderia fazer algo tão horrível em meu nome."
Eu balancei a cabeça concordando desconfortavelmente.
Poseidon colocou sua mão bronzeada no meu ombro "Percy, seres inferiores fazem coisas horríveis em nome dos deuses. Isso não significa que nos aprovamos. O jeito
que nossos filhos e filhas agem em nossos nomes... bem, isso geralmente diz mais sobre eles do que diz sobre nós. E você, Percy, é meu filho favorito."
Ele sorriu, e naquele momento, só estar ali naquela cozinha com ele foi o melhor presente que eu ganhei. Então minha mãe me chamou da sala de estar.
"Percy? As velas estão derretendo!"
"É melhor você ir," Poseidon disse. "Mas, Percy, tem uma ultima coisa que você deveria saber. Aquele incidente no Monte Santa Helena..."
Por um segundo eu achei que ele estava falando sobre Annabeth me beijando, e eu corei, mas então eu me dei conta que ele estava falando sobre algo muito maior.
"As erupções estão continuando," ele disse. "Typhon está se agitando. É muito provável que logo, em alguns meses, talvez um ano no máximo, ele irá escapar de
sua prisão."
"Desculpe-me," Eu disse. "Eu não queria-"
Poseidon levantou a mão. "Não é sua culpa, Percy. Isso teria acontecido cedo ou tarde, com Cronos acordando os monstros antigos. Mas tome cuidado, se Typhon
voltar à vida... não será como nada que você já enfrentou antes. A primeira vez que ele apareceu, todas as forças do Olimpo foram por muito pouco, suficientes para
lutar contra ele, e quando ele se rebelar novamente, irá vim aqui, para Nova Iorque, diretamente para o Olimpo."
Esse era justamente o tipo de notícia maravilhosa que eu queria receber no meu aniversário, mas Poseidon deu algumas palmadinhas na minha costa como se tudo
estivesse bem. "Eu devo ir. Aproveite seu bolo."
E simplesmente assim ele se transformou em neblina e foi varrido pela janela por uma brisa marinha morna.
* * *
Demorou um pouco para convencer Paul que Poseidon tinha saído pela escada de incêndio, mas como pessoas não desaparecem no ar, ele não teve escolha a não ser
acreditar.
Nós comemos bolo azul e sorvete até que não podíamos comer mais nada. Então jogamos uma porção de jogos de festa como charadas e Banco Imobiliário. Tyson não
entendia as charadas. Ele apenas continuava gritando a resposta que estava tentando mostrar por mímica, mas acabou que ele era muito bom em Banco Imobiliário. Ele
me tirou do jogo nas primeiras cinco rodadas e começou a falir minha mãe e Paul. Eu os deixei jogando e fui para o meu quarto.
Eu deixei uma fatia de bolo azul no meu criado-mudo. Depois tirei meu colar do Acampamento Meio-Sangue e deixei no parapeito. Havia três contas agora, representando
meus três verões no acampamento-um tridente, o Velocino de Ouro, e o ultimo: um intricado labirinto, simbolizando a Batalha do Labirinto, como os campistas começaram
a chamá-lo. Eu imaginei o que a conta do próximo ano seria, se eu estivesse por perto para consegui-la. Se o acampamento sobrevivesse até o próximo verão.
Eu olhei para o telefone do lado da minha cama. Eu pensei em ligar para Rachel Elizabeth Dare. Minha mãe havia me perguntado se tinha mais alguém que eu queria
ter conosco hoje à noite, e eu havia pensado na Rachel. Mas eu não liguei. Eu não sei por quê. A idéia me fez ficar quase tão nervoso quanto uma porta no Labirinto.
Eu apalpei meus bolsos e esvaziei minhas coisas-Contracorrente, um lenço, minhas chaves do apartamento. Então eu apalpei o bolso da minha camisa e senti um pequeno
volume. Eu não tinha sequer percebido isso, mas eu estava usando a camisa branca que Calypso tinha me dado em Ogygia. Eu tirei o pequeno pedaço de couro, o desamarrei
e encontrei um galho de moonlace. Era um pequeno ramo, era um galhinho da primavera, murcho depois de dois meses, mas eu ainda podia sentir um leve cheiro do jardim
encantado. Isso me deixou triste.
Eu me lembrei do último pedido de Calypso para mim: Plante um jardim em Manhattan para mim? Eu abri a janela e pisei na saída de incêndio.
Minha mãe mantinha caixa para flores lá fora. Na primavera ela geralmente a enchia de flores, mas agora era tudo sujeira, esperando por algo novo. Estava uma
noite clara. A lua estava cheia sobre a Rua Oitenta e Dois. Eu plantei o ramo seco com cuidado na sujeira e o molhei com um pouco de néctar do meu cantil de acampamento.
No principio nada aconteceu.
Então, diante dos meus olhos, uma pequena planta prateada germinou no solo- um bebê moonlace, crescendo no calor da noite de verão.
"Bela planta," uma voz disse.
Eu pulei. Nico di Angelo estava parado em pé na saída de incêndio bem do meu lado.
Ele apenas apareceu lá.
"Desculpe," ele disse. "Não quis te assustar."
"Está-Está bem. Quero dizer... o que você esta fazendo aqui?"
Ele tinha crescido cerca de cinco centímetros nos últimos dois meses. O cabelo dele era uma grande confusão preta. Ele usava uma camiseta preta, jeans pretos
e um anel prateado com formato de caveira. Sua espada de aço do Stygian iron pendurada ao seu lado.
"Eu fiz alguma exploração," ele disse. "Achei que você fosse gostar de saber, Daedalus conseguiu seu punimento."
"Você o viu?"
Nico fez sinal que sim.
"Minos queria ferve-lo em queijo fondue pela eternidade, mas meu pai tinha outras idéias. Daedalus construirá passarelas e rampas de acesso no Asphodel por todo
o tempo. Isso vai ajudar a diminuir o congestionamento do transito. Na verdade, eu acho que o cara velho esta bem feliz com isso. Ele ainda está construindo. Ainda
criando. E ele pode ver seu filho e Perdix nos fim de semana."
"Isso é bom."
Nico bateu em seu anel prateado. "Mas essa não é a verdadeira razão de eu ter vindo aqui. Eu descobri algumas coisas. Eu quero lhe fazer uma oferta."
"O quê?"
"A maneira de vencer Luke," ele disse. "Se eu estiver certo, é a única maneira que você vai ter uma chance."
Eu respirei fundo. "Okay. Estou ouvindo."
Nico olhou dentro do meu quarto. A sobrancelha dele enrugou. "Aquilo... Aquilo é bolo de aniversario azul?"
Ele soou faminto, talvez um pouco desejoso. Eu imaginei se a pobre criança alguma vez tinha tido uma festa de aniversário, ou se ele alguma vez tinha sido convidado
para uma.
"Entre e coma um pouco de bolo e sorvete," Eu disse. "Parece que nós temos muito que conversar."













Sabe aquele LIVRO que você tá louco pra ler?
Aquele BEST SELLER que todo mundo tá lendo e você ta doidinho por ele??
Ou aquele CLÁSSICO que você precisa pra ESCOLA?
Ou então aquela POESIA pra sua namorada chata que não se contenta com pouca
coisa...
Quer entender FILOSOFIA?
Quer entender MATEMÁTICA? CIÊNCIA? MITOLOGIA?
Ou prefere aquele ROMANCE POLICIAL da Agatha Christie?
Ou talvez aquele ROMANCE à estilo Diário da Nossa Paixão?
Ou aquele DRAMA À Espera de Um Milagre?
Mas tem também aquela FICÇÃO com VAMPIROS E LOBISOMENS que todo
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Marcador 1 O modo como ele disse meu nome me deu um frio na espinha. Ninguém me chamava de Perseu, a não ser aqueles que conheciam minha verdadeira identidade. Amigos...
e inimigos. O ano de Percy Jackson foi surpreendente calmo. Nenhum monstro que colocasse os pés no campus de sua escola, nenhum acidente esquisito, nenhuma briga
em sala de aula. Mas quando um inocente jogo de queimado entre ele e seus colegas torna-se uma disputa mortal contra uma tenebrosa gangue de gigantes canibais, as
coisas ficam, digamos, feias. E a inesperada chegada de sua amiga Annabeth traz outras más noticias: as fronteiras mágicas que protegem o Acampamento Meio-Sangue
foram envenenadas por um inimigo misterioso, o único porto seguro dos semideuses será destruído. Nesta vibrante e divertidíssima continuação da serie iniciada com
O Ladrão de Raios, Percy e seus amigos precisam se aventurar no Mar de Monstros para salvar o acampamento dos meios-sangues. Antes, porém, nosso herói entrará em
confronto com um mistério atordoante sobre sua família ­ algo que o fará questionar se ser filho de Poseidon é uma honra ou uma terrível maldição. Marcador 2 Rick
Riordan nasceu em 1964, em San Antonio, Texas, Estados Unidos, onde mora com a mulher e dois filhos. Durante quinze anos ensinou inglês e história em escolas públicas
e particulares do São Francisco. Além da série Percy Jackson e os olimpianos, publicou a premiada série de mistério para adultos Tres Navarre.

Para Patrick John Riordan, o melhor contador de histórias da família.

SUMÁRIO UM - Meu melhor amigo vai comprar um vestido de noiva. DOIS - Meu jogo de queimado com canibais. TRÊS - Nós chamamos o táxi da tormenta eterna. QUATRO -
Tyson brinca com fogo. CINCO - meu novo companheiro de chalé. SEIS - O ataque dos pombos demoníacos. SETE - Eu aceito presentes de um estranho. OITO - Nós embarcamos
no Princesa Andrômeda. NOVE - Minha pior reunião de família de todos os tempos. DEZ - Pegamos uma carona com confederados mortos. ONZE - Clarisse detona tudo. DOZE
- Nossa estadia no SPA & Resort de C. C. TREZE - Annabeth tenta ir nadando para casa. QUATORZE - Nosso encontro com o carneiro da perdição. QUINZE - Ninguém consegue
o Velocino. DEZESSEIS - Eu afundo com o navio. DEZESSETE - Uma surpresa nos aguarda em Miami beach. DEZOITO - A invasão dos pôneis de festa. DEZENOVE - Corrida de
carruagens termina com uma explosão. VINTE - A magia do Velocino é boa até demais.


UM - Meu melhor amigo vai comprar um vestido de noiva
Meu pesadelo começou assim. Eu estava numa rua deserta em alguma cidadezinha à beira-mar, no meio da noite. Havia uma tempestade. O vento e a chuva açoitavam as
palmeiras ao longo da calçada. Edifícios de estuque cor-derosa e amarelo se enfileiravam na rua, as janelas fechadas com tábuas. A um quarteirão dali, depois de
uma carreira de hibiscos, o mar estava revolto. Flórida, pensei. Embora não tivesse certeza de como sabia isso. Eu nunca estivera na Flórida. Então ouvi cascos chapinhando
no calçamento. Virei e vi meu am ig o Grover correndo para salvar sua vida. Sim, eu disse cascos. Grover é um sátiro. Da cintura para cima, parece um adolescente
comum e desengonçado, com uma barbicha igual a penugem de pêssego e um problema sério de acne. Ele caminha mancando de um jeito estranho, mas, a não ser que você
por acaso o pegue sem calça (coisa que não recomendo), jamais saberá que existe algo de não humano nele. Jeans folgados e pés falsos disfarçam o fato de que ele
tem cascos e um traseiro peludo. Grover foi meu melhor amigo na sexta série. Junto com uma menina chamada Annabeth, tinha me acompanhado naquela aventura para salvar
o mundo, mas eu não o via desde o último mês de julho, quando ele partira sozinho em uma perigosa missão - uma missão da qual nenhum sátiro jamais voltara. De qualquer
modo, em meu sonho, Grover corria, segurando seus sapatos humanos nas mãos como costuma fazer quando precisa se mover depressa. Passou batendo os cascos pelas pequenas
lojas de suvenir e de aluguel de pranchas de surfe. O vento dobrava as palmeiras quase até o chão. Grover estava aterrorizado com algo que vinha atrás dele. Devia
ter acabado de vir da praia. A areia molhada se prendia em torrões ao seu pelo. Tinha escapado de algum lugar. Estava tentando fugir de... alguma coisa. Um rugido
de fazer os ossos tremerem atravessou a tempestade. Atrás de Grover, do outro lado do quarteirão, surgiu uma figura sombria. Ela derrubou um poste de iluminação
com um golpe violento. A lâmpada explodiu em um milhão de fagulhas. Grover cambaleou, choramingando de medo. Murmurou para si mesmo: "Preciso escapar. Preciso avisálos!"
Não pude ver o que o perseguia, mas ouvi a coisa resmungando e praguejando. O chão estremeceu quando ela se aproximou. Grover se lançou em uma esquina e vacilou.
Tinha entrado em um pátio sem saída cheio de lojas. Não havia tempo para voltar. A porta mais próxima fora arrombada pela tempestade. A placa acima da vitrine escura
dizia: BUTIQUE NUPCIAL DE STO. AGOSTINHO. Grover disparou para dentro. Mergulhou atrás de uma arara cheia de vestidos de noiva. A sombra do monstro passou na frente
da loja. Pude sentir o cheiro da coisa - uma combinação nauseante de lã de carneiro molhada, carne podre e aquele esquisitíssimo odor corporal azedo que só os monstros
têm, como o de um gambá que comesse apenas comida mexicana. Grover tremia atrás dos vestidos de noiva. A sombra do monstro seguiu em frente. Silêncio, a não ser
pela chuva. Grover respirou fundo. Talvez a coisa tivesse ido embora.

Então houve um clarão de relâmpago. Toda a fachada da loja explodiu, e uma voz monstruosa berrou: "MEEEEEEU!" ***** Sentei-me na cama, ereto e tremendo. Não havia
tempestade. Não havia monstro. O sol da manhã atravessava a janela do meu quarto. Pensei ter visto uma sombra se movendo rapidamente pelo vidro - uma forma humana.
Mas então ouvi uma batida na porta do quarto - minha mãe chamou: - Percy, você vai se atrasar. E a sombra na janela desapareceu. Talvez tivesse sido minha imaginação.
Uma janela no quinto andar, com uma escada de incêndio velha e instável do lado de fora... Não poderia haver ninguém lá. - Venha, querido - minha mãe chamou de novo.
- É o último dia de aula. Você deve estar empolgado! Está quase no fim! - Estou indo - consegui dizer. Apalpei embaixo do travesseiro. Meus dedos se fecharam de
modo tranqüilizador em volta da caneta esferográfica com a qual sempre dormia. Tirei-a de lá e estudei o que estava gravado na lateral, em grego antigo: Anaklusmos.
Contracorrente. Pensei em destampá-la, mas algo me conteve. Eu não usava Contracorrente havia tanto tempo... Além disso, minha mãe me fizera prometer que não usaria
armas letais no apartamento depois que eu lançara um dardo de mau jeito e atingira seu armário de porcelanas. Pus Anaklusmos sobre a mesa-decabeceira e me arrastei
para fora da cama. Eu me vesti o mais depressa que pude. Tentei não pensar no pesadelo, nem em monstros, nem na sombra à minha janela. Preciso escapar. Preciso avisá-los!
O que Grover queria dizer? Fiz uma garra de três dedos por cima do meu coração e puxei para fora - um antigo gesto que Grover me ensinara certa vez, para expulsar
o mal. O sonho não podia ter sido real. Último dia de aula. Minha mãe estava certa, eu devia estar empolgado. Pela primeira vez na minha vida eu praticamente terminara
um ano sem ser expulso. Nenhum acidente esquisito. Nenhuma briga em sala de aula. Nenhum professor se transformando em monstro e tentando me matar com comida de
cantina envenenada ou dever de casa que explodia. No dia seguinte eu estaria a caminho do meu lugar favorito em todo o mundo - o Acampamento Meio-Sangue. Só faltava
um dia. Certamente, nem eu conseguiria estragar tudo. Como de costume, eu não tinha idéia de como estava errado.

Minha mãe fez waffles azuis com ovos azuis para o café-da-manhã. Isso faz dela uma pessoa engraçada, comemorar ocasiões especiais com comida azul. Acho que é o jeito
dela de dizer que tudo é possível. Percy pode terminar a sétima série. Waffles podem ser azuis. Pequenos milagres assim. Comi à mesa da cozinha enquanto minha mãe
lavava a louça. Ela estava usando seu uniforme de trabalho - saia azul estrelada e blusa listrada de vermelho e branco, que vestia para vender doces na confeitaria
Doce América. Seus cabelos castanhos e compridos estavam presos em um rabo-de-cavalo. Os waffles estavam uma delícia, mas acho que eu não os devorava como de costume.
Minha mãe deu uma olhada e franziu a testa. - Percy, você está bem? - Sim... estou ótimo. Mas ela sempre percebia quando algo me incomodava. Enxugou as mãos e sentou-se
na minha frente. - Escola ou... Não precisava completar. Eu sabia o que ela estava perguntando. - Acho que Grover está com problemas - falei, e contei a ela o sonho.
Ela contraiu os lábios. Não falamos muito sobre a outra parte da minha vida. Tentamos viver do modo mais normal possível, mas minha mãe sabia tudo sobre Grover.
- Eu não me preocuparia tanto, querido - disse ela. - Grover já é um sátiro crescido. Se houvesse um problema, estou certa de que teríamos notícias do... do acampamento...
- Os ombros dela ficaram tensos quando ela falou a palavra acampamento. - O que foi? - perguntei. - Nada - disse ela. - Quer saber? Esta tarde vamos comemorar o
fim das aulas. Vou levar você e Tyson para o Rockefeller Center... para aquela loja de skates de que você gosta. Cara, aquilo era tentador. Estamos sempre batalhando
por dinheiro. Entre as aulas da minha mãe à noite e a mensalidade da minha escola particular, nunca podíamos nos permitir coisas especiais, como comprar um skate.
Mas algo na voz dela me incomodou. - Espere aí - falei. - Pensei que hoje à noite fôssemos arrumar minhas coisas para o acampamento. Ela torceu o pano de prato.
- Ah! querido, quanto a isso... Recebi uma mensagem de Quíron na noite passada. Meu coração ficou apertado. Quíron era o diretor de atividades do Acampamento Meio-Sangue.
Ele não faria contato a não ser que algo sério estivesse acontecendo. - O que ele disse? - Ele acha... que poderia não ser seguro você ir para o campo agora. Talvez
tenhamos de adiar. - Adiar? Mamãe, como poderia não ser seguro? Eu sou um meio-sangue! Ê, tipo, o único lugar seguro para mim neste mundo! - Costuma ser, querido.
Mas com os problemas que eles estão enfrentando...

- Que problemas? - Percy... Sinto muito, muito mesmo. Esperava falar com você sobre isso esta tarde. Não posso explicar tudo agora. Não sei nem se Quíron pode explicar.
Tudo aconteceu muito de repente. Minha cabeça estava girando. Como eu poderia não ir para o acampamento? Queria fazer um milhão de perguntas, mas justamente nesse
momento o relógio da cozinha bateu meia hora. Minha mãe pareceu quase aliviada. - Sete e meia, querido. Você precisa ir. Tyson estará esperando. - Mas... - Percy,
vamos conversar hoje à tarde. Vá para a escola. Aquilo era a última coisa que eu queria fazer, mas minha mãe estava com aquela expressão frágil nos olhos - uma espécie
de aviso, como se ela fosse chorar se eu a pressionasse demais. Além disso, ela estava certa quanto ao meu amigo Tyson. Precisava encontrá-lo na estação do metrô
a tempo, ou ele ficaria zangado. Ele tinha medo de viajar embaixo da terra sozinho. Juntei minhas coisas, mas parei na porta. - Mamãe, esse problema no acampamento.
Tem... poderia ter alguma coisa a ver com meu sonho com Grover? Ela não me olhou nos olhos. - Vamos conversar hoje à tarde, querido. Eu vou explicar... o que puder.
Eu me despedi dela, relutante. Corri escada abaixo para pegar o trem Número 2. Eu não sabia então, mas minha mãe e eu nunca teríamos nossa conversa à tarde. Na verdade,
eu não voltaria a ver nossa casa por um longo, longo tempo. Quando saí, dei uma olhada para o edifício marrom do outro lado da rua. Só por um segundo vi uma forma
escura à luz da manhã - uma silhueta humana contra a parede de tijolos, uma sombra que não pertencia a ninguém. Então ela tremulou e desapareceu.


DOIS - Meu jogo de queimado com canibais
Meu dia começou normal. Ou tão normal quanto pode ser no colégio Meriwether. Veja bem, é um colégio "experimental", no centro de Manhattan, o que significa que nos
sentamos em pufes, em vez de carteiras, e não recebemos notas, e os professores usam jeans e camisetas de shows de rock no trabalho. Por mim, tudo bem. Tenho transtorno
do déficit de atenção e sou disléxico, como a maioria dos meiossangues, portanto nunca fui lá muito bem nas escolas comuns, mesmo antes de eles me expulsarem. A
única coisa ruim em relação ao Meriwether era que os professores sempre viam as coisas pelo lado mais promissor, e a garotada nem sempre era... bem, promissora.
Por exemplo, minha primeira aula daquele dia: inglês. Todos os alunos do secundário leram aquele livro chamado O senhor das moscas, em que um monte de garotos é
abandonado em uma ilha e fica pirado. Então, no exame final, nossos professores nos mandaram passar uma hora sem supervisão de adultos, no pátio, para verem o que
aconteceria. O que se deu foi uma guerra generalizada de "cuecão" entre os alunos da sétima e oitava séries, duas guerras de cascalhos e uma partida de basquete
sem marcação de faltas. O valentão da escola, Matt Sloan, liderou a maior parte dessas atividades. Sloan não era grande nem forte, mas agia como se fosse. Tinha
olhos de pit bull e um cabelo preto desgrenhado, e sempre vestia roupas caras, mas amarfanhadas, como se quisesse que todo o mundo visse como ele se lixava para
o dinheiro da família. Tinha um dente da frente lascado, de uma vez em que pegara o Porsche do pai para dar umas voltas e batera numa placa de DEVAGAR - CRIANÇAS
BRINCANDO. De qualquer jeito, Sloan estava dando "cuecão" em todo o mundo, até que cometeu o erro de tentar puxar a cueca do meu amigo Tyson. Tyson era o único garoto
sem-teto no colégio Meriwether. Até onde minha mãe e eu conseguimos descobrir, ele havia sido abandonado pelos pais quando era muito pequeno, provavelmente por ser
tão... diferente. Tinha um metro e noventa de altura e o físico do Abominável Homem das Neves, mas chorava muito e tinha medo de praticamente tudo, inclusive do
próprio reflexo. Seu rosto era meio disforme e abrutalhado. Não sei dizer de que cor eram seus olhos porque nunca consegui ver além de seus dentes tortos. Sua voz
era profunda, mas ele falava de um jeito engraçado, como um menino muito mais jovem acho que por nunca ter ido a uma escola antes de Meriwether. Usava jeans esfarrapados,
tênis imundos tamanho cinqüenta e dois e uma camisa de flanela xadrez esburacada. Tinha o cheiro dos becos de Nova York, porque era lá que vivia, em uma caixa de
geladeira de papelão, perto da rua 72. O colégio Meriwether o adotara em virtude de um projeto de serviço comunitário, para que todos os alunos pudessem se sentir
bem consigo mesmos. Infelizmente, a maioria deles não suportava Tyson. Depois de descobrirem que apesar de sua incrível força e da aparência assustadora ele era
grande e bobo, sentiam prazer em atormentá-lo. Eu era praticamente seu único amigo, o que significava que ele era o meu único amigo. Minha mãe já reclamara na escola
um milhão de vezes, porque eles não estavam fazendo o bastante para ajudá-lo. Ligou para o serviço social, mas aparentemente nada aconteceu. Os assistentes sociais
alegaram que Tyson não existia. Juraram de pés juntos que tinham visitado o beco que nós descrevemos e não conseguiram encontrá-lo, muito embora eu não entenda como
é possível não ver um garoto gigante que mora numa caixa de geladeira. De qualquer modo, Matt Sloan enfiou-se por trás dele e tentou lhe dar um "cuecão" , e Tyson
entrou em pânico. Afastou Sloan com um tapa um pouco forte demais. Sloan saiu voando por cinco metros e ficou enroscado no balanço de pneu das crianças pequenas.

- Seu monstrengo! - berrou Sloan. - Por que não volta para sua caixa de papelão? Tyson começou a soluçar. Sentou-se no trepa-trepa com tanta força que entortou a
barra, e enterrou a cabeça nas mãos. - Retire o que disse, Sloan! - gritei. Sloan só me lançou uma careta de deboche. - O que você tem com isso, Jackson? Você poderia
ter amigos se não estivesse sempre tomando as dores daquele monstrengo. Fechei os punhos. Esperava que minha cara não estivesse tão vermelha como me parecia. - Ele
não é um monstrengo. É só... Tentei pensar na coisa certa a dizer, mas Sloan não ouvia. Ele e seus amigos feios e grandalhões estavam muito ocupados rindo. Eu me
perguntei se era minha imaginação ou se Sloan tinha mais brutamontes em volta dele que de costume. Estava acostumado a vê-lo com dois ou três, mas naquele dia ele
tinha, tipo, mais uma dúzia, e eu tinha certeza absoluta de que nunca os vira antes. - Espere só até a aula de educação física, Jackson ­ gritou Sloan. - Você já
está muito morto. Quando terminou o primeiro tempo, nosso professor de inglês, o sr. De Milo, saiu para avaliar a carnificina. Ele declarou que tínhamos entendido
O senhor das moscas perfeitamente. Todos passamos na matéria dele, e jamais íamos nos tornar pessoas violentas. Matt Sloan assentiu, sério, e depois me lançou um
sorriso de dente lascado. Tive de prometer que compraria um sanduíche extra de manteiga de amendoim para Tyson no almoço, para ele parar de soluçar. - Eu... eu sou
um monstrengo? - ele me perguntou. - Não - assegurei, rilhando os dentes. - Matt Sloan é que é um monstrengo. Tyson fungou. - Você é um bom amigo. Vou sentir saudades
de você no ano que vem se... se eu não puder... A voz dele tremeu. Percebi que ele não sabia se no ano seguinte seria novamente convidado para o projeto comunitário.
Imaginei se o diretor ao menos teria se dado ao trabalho de conversar com ele sobre isso. - Não se preocupe, grandão - consegui dizer. - Vai dar tudo certo. Tyson
me lançou um olhar tão agradecido que me senti um grande mentiroso. Como podia prometer a um garoto como ele que alguma coisa daria certo? ***** Nossa próxima prova
era de ciências. A sra. Tesla nos disse que teríamos de misturar substâncias químicas até conseguir fazer alguma coisa explodir. Tyson era meu parceiro de laboratório.
As mãos dele eram grandes demais para os pequeninos frascos que devíamos usar. Ele derrubou sem querer uma bandeja de substâncias do balcão e criou um cogumelo de
fumaça alaranjada na lata de lixo.

Depois que a sra. Tesla evacuou o laboratório e convocou o esquadrão de remoção de resíduos perigosos, elogiou Tyson e eu por sermos químicos natos. Tínhamos sido
os primeiros da história a gabaritar sua prova em menos de trinta segundos. Fiquei contente de a manhã ter passado depressa, pois isso me impediu de pensar demais
nos meus problemas. Eu não suportava a idéia de que algo pudesse estar errado no acampamento. Pior ainda: não conseguia afastar a lembrança do pesadelo. Tinha a
terrível sensação de que Grover estava em perigo. Em estudos sociais, quando estávamos desenhando mapas de latitude e longitude, abri meu caderno e olhei para a
foto lá dentro - minha amiga Annabeth de férias em Washington. Ela de jeans e uma jaqueta índigo por cima da camiseta cor de laranja do Acampamento Meio-Sangue.
O cabelo loiro estava preso para trás, com uma bandana. Estava em pé na frente do Memorial de Lincoln, com os braços cruzados, parecendo satisfeitíssima consigo
mesma, como se ela própria tivesse projetado o lugar. Veja bem, Annabeth quer ser arquiteta quando crescer, por isso está sempre visitando monumentos famosos e coisas
do tipo. Ela é esquisita assim mesmo. Tinha me mandado a foto por e-mail nas férias da primavera, e de vez em quando eu olhava só para me lembrar de que ela era
real e de que o Acampamento MeioSangue não tinha sido coisa da minha imaginação. Quis que Annabeth estivesse ali. Ela saberia interpretar meu sonho. Nunca admiti
isso para ela, mas era mais esperta do que eu, mesmo que às vezes fosse meio irritante. Eu já ia fechar meu caderno quando Matt Sloan e arrancou a foto da espiral.
- Ei! - protestei. Sloan conferiu a foto, e seus olhos se arregalaram. - Ah! não, Jackson. Quem é essa? Ela não é a sua... - Devolva! - Senti as orelhas ficando
quentes. Sloan passou a foto para seus colegas feiosos, que deram risadinhas e começaram a rasgá-la para fazer bolinhas de cuspe. Eram alunos novos que deviam estar
de visita, porque todos usavam aquelas etiquetas idiotas de "OI! MEU NOME É:" entregues na recepção. Também deviam ter um senso de humor meio esquisito, porque todas
elas estavam preenchidas com nomes estranhos, como CHUPA-TUTANO, COMECRÂNIOS E ZÉ-MANÉ. Não existem seres humanos com nomes assim. - Esses caras vão se mudar para
cá no ano que vem - alardeou Sloan, como se aquilo devesse me assustar. - Aposto que eles podem pagar a escola, ao contrário do seu amigo retardado. - Ele não é
retardado. - Tive de me conter muito, muito mesmo, para não dar um murro na cara de Sloan. - Você é um perdedor, Jackson. Ainda bem que eu vou livrar você do seu
sofrimento no próximo período. Os grandalhões cupinchas dele mascaram minha foto. Queria transformá-los em pó, mas estava sob ordens estritas de Quíron de nunca
descontar minha raiva em mortais comuns, não importava quanto eles fossem detestáveis. Tinha de deixar para brigar com os monstros. Ainda assim, parte de mim pensou
que se Sloan ao menos soubesse quem eu era realmente... A campainha tocou. Quando Tyson e eu estávamos saindo da classe, uma voz de menina sussurrou: - Percy!

Corri os olhos pela área dos vestiários, mas ninguém estava prestando nenhuma atenção a mim. Como se alguma menina em Meriwether fosse um dia chamar meu nome. Antes
que eu tivesse tempo de avaliar se estava ou não imaginando coisas, uma multidão de garotos disparou para o ginásio, arrastando-me com ela. Era hora da educação
física. O treinador nos prometera um jogo de queimado vale-tudo, e Matt Sloan prometera me matar. O uniforme de ginástica de Meriwether é short azul-celeste e camiseta
desbotada. Felizmente a maior parte das nossas atividades atléticas era interna, assim não tínhamos de correr pelo bairro de Tribeca parecendo um bando de crianças
hippies em treinamento. Troquei de roupa o mais depressa que pude no vestiário, pois não queria ter de lidar com Sloan. Estava quase saindo quando Tyson chamou:
- Percy? Ele ainda não tinha se trocado. Estava postado junto à porta da sala de musculação, segurando as roupas de ginástica. - Será que você... ahn... - Ah! sim.
- Tentei não parecer aborrecido com aquilo. - Sim, claro, cara. Tyson esquivou-se para dentro da sala. Fiquei de guarda do lado de fora da porta enquanto ele se
trocava. Eu me sentia meio constrangido fazendo aquilo, mas ele me pedia quase todos os dias. Acho que é porque ele é todo peludo e tem umas cicatrizes esquisitas
nas costas, sobre as quais eu nunca tive coragem de perguntar. De qualquer modo, aprendi pelo método mais difícil que se as pessoas mexessem com Tyson enquanto estivesse
se vestindo, ele ficava perturbado e começava a arrancar as portas dos armários. Quando entramos no ginásio, o treinador Nunley estava sentado à sua mesinha lendo
a Sports Illustrated. Nunley tinha cerca de um milhão de anos de idade, usava óculos bifocais e não tinha dentes, e tinha um topete grisalho ensebado. Lembrava o
Oráculo do Acampamento Meio-Sangue - que era uma múmia encarquilhada -, só que o treinador Nunley se movia muito menos e nunca soltava nuvens de fumaça verde. Bem,
ao menos não que eu tivesse observado. Matt Sloan disse: - Treinador, posso ser o capitão? - Hã? - o treinador Nunley ergueu os olhos de sua revista. - Sim - murmurou.
- Hmm-mrnm. Sloan sorriu e se encarregou da escalação. Ele me nomeou capitão do outro time, mas pouco importava quem eu escolhesse, pois todos os atletas e os garotos
mais populares passavam para o lado de Sloan. E também o grupo grande de visitantes. Do meu lado, eu tinha Tyson; Corey Bailer, o nerd de computadores; Raj Mandali,
o fenômeno dos cálculos, e meia dúzia de outros que eram sempre atormentados por Sloan e sua gangue. Normalmente, eu me daria bem só com Tyson - ele, sozinho, valia
por meio time -, mas os visitantes do lado de Sloan eram quase tão altos e fortes quanto Tyson, e havia seis deles. Matt Sloan espalhou um engradado de bolas no
meio do ginásio. - Com medo - murmurou Tyson. - Cheiro gozado. Olhei para ele.

- O que tem cheiro gozado? - Não achei que ele estivesse falando de si mesmo. -Eles. - Tyson apontou para os novos amigos de Sloan. - Eles têm um cheiro gozado.
Os visitantes estavam estalando os dedos e olhando para nós como se fosse a hora do massacre. Não pude deixar de me perguntar de onde eles vinham. De algum lugar
onde alimentavam as crianças com carne crua e batiam nelas com paus. Sloan soprou o apito do treinador e o jogo começou. O time de Sloan correu para a linha de centro.
Do meu lado, Raj Man-dali gritou alguma coisa em urdu, provavelmente: "Preciso de um penico!", e correu para a saída. Corey Bailer tentou engatinhar para trás da
forração da parede e se esconder. O restante do time fez o melhor que pôde para se encolher de medo e não ficar parecendo alvo. - Tyson - disse eu. - Vamos... Uma
bola me atingiu violentamente na barriga. Caí sentado no meio do piso do ginásio. O outro time explodiu em gargalhadas. Minha visão ficou turva. Era como se tivesse
acabado de receber uma manobra de Heimlich de um gorila. Não pude acreditar que alguém fosse capaz de lançar uma bola com aquela força. Tyson gritou: - Percy, abaixe-se!
Rolei enquanto outra bola passava zunindo por meu ouvido, na velocidade do som. Vuuuuuml Ela atingiu a forração da parede, e Corey Bailer ganiu. - Ei! - gritei para
o time de Sloan. - Assim vocês podem matar alguém! O visitante chamado Zé-Mané sorriu para mim de um jeito perverso. De algum modo, ele parecia muito maior agora...
ainda mais alto que Tyson. Seus bíceps se destacavam embaixo da camiseta. - Assim espero, Perseu Jackson! Assim espero! O modo como ele disse meu nome me deu um
frio na espinha. Ninguém me chamava de Perseu, a não ser aqueles que conheciam minha verdadeira identidade. Amigos... e inimigos. O que Tyson tinha dito? Eles têm
um cheiro gozado. Monstros. Em volta de Matt Sloah, os visitantes estavam ficando maiores. Não eram mais garotos. Eram gigantes de dois metros e meio de altura,
com olhos selvagens, dentes pontudos e braços peludos, tatuados com cobras, dançarinas havaianas e corações. Matt Sloan deixou cair a bola. - Epa! Vocês não são
de Detroit. Quem... Os outros garotos do time começaram a gritar e a recuar para saída, mas o gigante chamado ChupaTutano lançou uma bola com pontaria certeira.
Ela passou como um raio por Raj Mandali quando ele estava quase saindo e atingiu a porta, fechando-a como num passe de mágica. Raj e alguns dos outros garotos a
esmurraram, desesperados, mas ela não cedeu. - Deixe-os ir! - gritei para os gigantes.

O que se chamava Zé-Mané rosnou para mim. Tinha uma tatuagem no bíceps que dizia: ZM ama Fofinha. - E perder os nossos petiscos? Não, Filho do Deus do Mar. Nós,
lestrigões, não estamos jogando só para matá-lo. Queremos almoçar! Ele acenou e um novo lote de bolas de queimado apareceu na linha de centro - mas aquelas não eram
feitas de borracha vermelha. Eram de bronze, do tamanho de balas de canhão, perfuradas, com fogo saindo dos buracos. Deviam ser muito quentes, mas os gigantes as
pegavam com as mãos nuas. - Treinador! - gritei. Nunley ergueu os olhos, sonolento, mas, se viu algo de anormal no jogo de queimado, não demonstrou. Esse é o problema
com os mortais. Uma força mágica chamada A Névoa disfarça a seus olhos a verdadeira aparência dos monstros e dos deuses, e assim eles tendem a ver apenas o que conseguem
compreender. Talvez o treinador tivesse visto alguns garotos da oitava série batendo nas crianças menores, como de costume. Talvez os outros garotos vissem os brutamontes
de Matt Sloan prestes a lançar por aí coquetéis Molotov. (Não teria sido a primeira vez.) De qualquer modo, eu tinha certeza de que ninguém mais se dava conta de
que estávamos lidando com genuínos monstros comedores de gente e sedentos de sangue. - Sim. Hmm-mmm - resmungou o treinador. ­ Joguem direito. E voltou à sua revista.
O gigante chamado Come-Crânios lançou a bola. Mergulhei de lado enquanto o cometa de bronze chamejante passava junto ao meu ombro. - Corey! - gritei. Tyson o puxou
de trás da forração da parede bem no momento em que a bola explodiu contra ela, transformando o acolchoado em farrapos fumegantes. - Corram! - gritei para os meus
companheiros de time. - A outra saída! Eles correram para o vestiário, mas outro aceno da mão de Zé-Mané fez bater aquela porta também. - Ninguém sai enquanto você
não estiver fora! ­ rugiu Zé-Mané. - E você não vai estar fora enquanto não o comermos! Ele lançou sua bola de fogo. Meus companheiros de time se espalharam enquanto
ela abria uma cratera no piso do ginásio. Procurei a Contracorrente, que carregava sempre no bolso, mas então me dei conta de que estava usando meu short de ginástica.
Eu não tinha bolsos. Contracorrente estava enfiada no bolso da calça jeans, dentro do armário no vestiário. E a porta do vestiário estava trancada. Eu estava completamente
indefeso. Outra bola de fogo veio como um raio em minha direção. Tyson me empurrou para fora do caminho, mas a explosão ainda me atirou longe. Fiquei esparramado
no chão do ginásio, com a vista embaçada pela fumaça, a camiseta desbotada salpicada de buracos chamuscados. Logo depois da linha de centro, dois gigantes famintos
me olhavam de cima. - Carne! - urraram. - Carne de herói para o almoço! - Os dois fizeram pontaria. - Percy precisa de ajuda! - gritou Tyson, e pulou na minha frente
bem no momento em que eles lançaram suas bolas.

- Tyson! - gritei, mas era tarde demais. As duas bolas o atingiram... mas, não... ele as agarrou. De algum modo Tyson, que era tão desajeitado que estava sempre
derrubando equipamentos do laboratório e quebrando estruturas do playground, tinha agarrado as duas bolas chamejantes de metal que vinham em sua direção a um zilhão
de quilômetros por hora. Ele as atirou de volta para seus donos surpresos, que gritaram "RUIIIIIM!" quando as esferas de bronze explodiram contra seus peitos. Os
gigantes se desintegraram em colunas gêmeas de chamas - um sinal seguro de que eram monstros, certo. Monstros não morrem. Simplesmente se dissipam em fumaça e pó,
o que poupa aos heróis um bocado de trabalho de limpeza depois de uma luta. - Meus irmãos! - gemeu Zé-Mané, o Canibal. Ele contraiu os músculos, e sua tatuagem da
Fofinha ondulou. - Você vai pagar por tê-los destruído! - Tyson! -- disse eu. -- Cuidado! Outro cometa disparou em nossa direção. Tyson só teve tempo de desviá-lo
com um tapa. Passou voando por cima da cabeça do treinador Nunley e aterrissou na arquibancada com um imenso CABUUUUM! Crianças corriam de um lado para o outro gritando,
tentando evitar as crateras fumegantes no piso. Outras esmurravam a porta, gritando por socorro. O próprio Sloan estava petrificado no meio da quadra, assistindo
incrédulo às bolas da morte que voavam em volta dele. O treinador Nunley ainda não via nada. Deu uma batidinha em seu aparelho de surdez, como se as explosões estivessem
causando interferência, mas não desviou os olhos da revista. Certamente a escola inteira podia ouvir o barulho. O diretor, a polícia, alguém iria nos ajudar. - A
vitória será nossa! - rugiu Zé-Mané, o Canibal. - Vamos nos banquetear com seus ossos! Quis dizer-lhe que ele estava levando o jogo de queimado muito a sério, mas
antes que pudesse fazer isso ele lançou mais uma bola. Os outros três gigantes fizeram o mesmo. Sabia que estávamos mortos. Tyson não poderia desviar todas aquelas
bolas ao mesmo tempo. Suas mãos deviam estar com queimaduras sérias por ter bloqueado a primeira saraivada. Sem a minha espada... Tive uma idéia maluca. Corri em
direção ao vestiário. - Saiam da frente! - disse a meu time. - Saiam da porta. Explosões atrás de mim. Tyson rebatera duas das bolas a seus donos e os fizera explodir
em cinzas. Restavam dois gigantes em pé. Uma terceira bola veio voando diretamente para mim. Eu me forcei a esperar - um, dois, três - e então me atirei para o lado,
enquanto a esfera chamejante demolia a porta do vestiário. Calculei que o gás acumulado na maioria dos armários dos meninos seria suficiente para causar uma explosão,
portanto não me surpreendi quando a bola chamejante de queimado provocou um enorme BUUUUUUM! A parede explodiu. Portas de armários, meias, suportes atléticos e vários
outros apetrechos pessoais fedorentos choveram por todo o ginásio.

Virei-me bem a tempo de ver Tyson dar um soco na cara do Come-Crânios. O gigante desmoronou. Mas o último gigante, Zé-Mané, esperto, continuava segurando sua bola,
esperando uma oportunidade. Ele a lançou justamente quando Tyson se virava para ele. - Não! - gritei. A bola atingiu Tyson bem no peito. Ele deslizou por toda a
extensão da quadra e bateu na parede do fundo, que rachou. Parte desmoronou em cima dele, abrindo um buraco que dava direto para a rua Church. Não entendia como
Tyson ainda podia estar vivo, mas ele parecia apenas atordoado. A bola de bronze fumegava a seus pés. Tyson tentou pegá-la, mas caiu para trás, aturdido, em uma
pilha de blocos de concreto. - Bem! - tripudiou Zé-Mané. - Sou o último de pé! Vou ter carne suficiente para levar uma quentinha para Fofinha! Ele pegou outra bola
e mirou Tyson. - Pare! - gritei. - É a mim que você quer! O gigante arreganhou um sorriso. - Quer morrer primeiro, heroizinho? Eu precisava fazer alguma coisa. Contracorrente
devia estar por ali, em algum lugar. Então avistei meus jeans em uma pilha fumegante de roupas bem aos pés do gigante. Se eu ao menos conseguisse chegar lá... Sabia
que era inútil, mas investi. O gigante riu. - Meu almoço se aproxima. Ele ergueu o braço para lançar. Eu me preparei para morrer. De repente o corpo do gigante enrijeceu-se.
Sua expressão mudou de triunfante para surpresa. Bem no lugar onde deveria estar seu umbigo, a camiseta se rasgou e surgiu ali algo como um chifre - não, um chifre
não: a ponta brilhante de uma lâmina. - Ui - murmurou ele, e explodiu numa nuvem de chamas verdes, o que, imaginei, iria deixar Fofinha muito aborrecida. Em pé no
meio da fumaça estava minha amiga Annabeth. Seu rosto estava sujo e arranhado. Carregava uma mochila esfarrapada pendurada no ombro, o boné de beisebol enfiado no
bolso, uma faca de bronze na mão e um olhar selvagem nos olhos cinza-tempestade, como se fantasmas a tivessem perseguido por mil quilômetros. Matt Sloan, que estivera
ali em pé, abobalhado, o tempo todo, afinal caiu na real. Piscou para Annabeth como se a reconhecesse vagamente da foto no meu caderno. - É a garota... E a garota...
Annabeth deu-lhe um soco no nariz, derrubando-o no chão. - E você - disse ela -, deixe meu amigo em paz. O ginásio estava em chamas. Crianças ainda corriam de um
lado para o outro, gritando. Ouvi sirenes que uivavam e uma voz distorcida no alto-falante. Através das janelas de vidro nas portas de saída pude ver o diretor,
sr. Bonsai, brigando com a fechadura, e uma multidão de professores amontoada atrás dele.

- Annabeth... - gaguejei. - Como você... há quanto tempo você... - Quase a manhã toda. - Ela embainhou a faca de bronze. - Estava tentando encontrar um bom momento
para falar com você, mas você nunca estava sozinho. - A sombra que eu vi esta manhã... aquilo era... - Meu rosto ficou quente. ­ Ah!, meus deuses, você estava olhando
pela janela do meu quarto? - Não dá tempo de explicar! - disparou com rispidez, embora ela mesma parecesse estar com o rosto um pouco quente. - Mas eu não queria...
- Ali! - berrou uma mulher. As portas se abriram de repente e os adultos se precipitaram paia dentro. - Encontre-me lá fora - disse Annabeth. - E ele. Apontou para
Tyson, que ainda estava sentado encostado na parede, atordoado. Annabeth lançou-lhe um olhar de aversão que não entendi muito bem. - É melhor trazê-lo. - O quê?
- Não dá tempo! - disse ela. - Depressa! EIa colocou o boné de beisebol dos Yankees, que era um presente mágico de sua mãe, e desapareceu na mesma hora. Com isso,
fiquei sozinho no meio do ginásio em chamas, quando o diretor investiu para dentro com metade do corpo docente e dois policiais. - Percy Jackson? - disse o sr. Bonsai.
- O que... como... Junto à parede destruída, Tyson gemeu e levantou-se da pilha de blocos de concreto. - A cabeça dói. Matt Sloan também se aproximava. Olhou para
mim com expressão de terror. - Foi Percy quem fez isso, sr. Bonsai. Ele tocou fogo no prédio inteiro. O treinador Nunley vai lhe contar, ele viu tudo! O treinador
Nunley estivera lendo com dedicação sua revista, mas, para meu azar, escolheu aquele momento para erguer os olhos, ao ouvir Sloan pronunciar seu nome. - Hã? Sim.
Hmm-mmm. Os outros adultos viraram na minha direção. Eu sabia que jamais acreditariam em mim, mesmo que eu pudesse contar-lhes a verdade. Arranquei Contracorrente
dos meus jeans destruídos, disse a Tyson "Vamos!" e pulei pelo buraco escancarado na lateral do edifício.


TRES - Nós chamamos o táxi da tormenta eterna
Annabeth estava à nossa espera em um beco mais adiante na rua Church. Puxou Tyson e eu da calçada bem no momento em que um carro de bombeiros passou gritando seu
gemido em direção a Meriwether. -Onde você o encontrou? -- perguntou ela, apontando para Tyson. Ali, sob circunstâncias diferentes, eu teria ficado realmente feliz
em vê-la. Tínhamos feito as pazes no último verão, a despeito de a mãe dela ser Atena e não se dar muito bem com meu pai. Tinha sentido mais saudades de Annabeth
do que gostaria de admitir. Mas acabara de ser atacado por canibais gigantes, Tyson salvara minha vida três ou quatro vezes e tudo o que Annabeth pôde fazer foi
olhá-lo com raiva, como se ele fosse o problema. - Ele é meu amigo - falei. - Ele é um sem-teto? - Que importância tem isso? Ele consegue ouvir, sabe? Por que não
pergunta a ele? Ela pareceu surpresa. - Ele sabe falar? - Eu falo - admitiu Tyson. - Você é bonita. - Ah! Grosso! - Annabeth recuou um passo, afastando-se dele.
Não podia acreditar que ela estivesse sendo tão mal-educada. Examinei as mãos de Tyson, que, eu tinha certeza, deviam estar muito machucadas por causa das bolas
de fogo, mas pareciam ótimas - imundas e marcadas por cicatrizes sujas do tamanho de batatinhas chips -, mas elas sempre foram assim. - Tyson - falei, incrédulo.
- Suas mãos não estão queimadas. - É claro que não - resmungou Annabeth. - Estou surpresa com a coragem dos lestrigões, atacando-o com ele por perto. Tyson parecia
fascinado com o cabelo loiro de Annabeth. Tentou tocá-lo, mas ela afastou sua mão com um tapa. - Annabeth - disse eu -, do que você está falando? Les-o quê? - Lestrigões.
Os monstros no ginásio. São uma raça de gigantes canibais que vivem no extremo norte. Ulisses topou com eles uma vez, mas eu nunca os vira tão ao sul, como em Nova
York. - Les... não consigo nem pronunciar isso. Como você os chamaria em inglês? Ela pensou por um momento. - Canadenses - concluiu. - Agora venha, temos de sair
daqui. - A polícia virá atrás de mim. - Esse é o menor dos problemas - disse ela. - Você andou tendo os sonhos? - Os sonhos... com Grover?

O rosto dela empalideceu. - Grover? Não, o que há com Grover? Contei-lhe o sonho. - Por quê? O que você andou sonhando? Os olhos dela pareciam tempestuosos, como
se a mente estivesse correndo a um milhão de quilômetros por hora. - O acampamento - disse ela afinal. - Um problemão no acampamento. - Minha mãe disse a mesma coisa!
Mas que tipo de problema? - Não sei exatamente. Há algo errado. Temos de ir para lá mesmo. Monstros me perseguiram pelo caminho todo desde a Virgínia, tentando me
deter. Você também sofreu uma porção ataques? Sacudi a cabeça. - Nenhum, o ano todo... até hoje. - Nenhum? Mas como... - Os olhos dela recaíram sobre... - Ah! -
O que quer dizer "Ah!"? Tyson ergueu a mão como se ainda estivesse na sala de aula. - Os canadenses no ginásio chamaram Percy de alguma coisa... Filho do Deus do
Mar? Annabeth e eu trocamos olhares. Não sabia como poderia explicar, mas imaginei que Tyson merecesse a verdade, depois de quase ter sido morto. - Grandão - falei
-, já ouviu aquelas velhas histórias sobre deuses gregos? Como Zeus, Poseidon, Atena... - Sim - disse Tyson. - Bem... aqueles deuses ainda vivem. Tipo, vão seguindo
a civilização ocidental de um lado para o outro e vivendo nos países mais poderosos; portanto, estão agora nos Estados Unidos. E às vezes têm filhos com mortais.
Filhos que são chamados de meios-sangues. - Sim - disse Tyson, como se ainda esperasse que eu chegasse ao ponto principal. - Ahn, bem, Annabeth e eu somos meios-sangues
- disse eu. - Somos como... heróis em treinamento. E sempre que os monstros sentem nosso cheiro, eles nos atacam. E o que eram aqueles gigantes no ginásio. Monstros.
- Sim. Olhei para ele. Ele não parecia surpreso nem confuso com o que eu contava, o que me deixava surpreso e confuso. - Então... você acredita em mim? Tyson assentiu.

- Mas você é... Filho do Deus do Mar? - Sim - admiti. - Meu pai é Poseidon. Tyson franziu a cara. Agora ele parecia confuso. - Mas então... Uma sirene uivou. Um
carro de polícia passou rapidamente pelo beco. - Não temos tempo para isso - disse Annabeth. - Vamos conversar no táxi. - Um táxi até o acampamento? - disse eu.
- Você sabe quanto dinheiro... - Deixe comigo. Eu hesitei. - E Tyson? Imaginei-me escoltando meu amigo gigante até o Acampamento Meio-Sangue. Se ele ficava fora
de si em um playground comum com valentões comuns, como agiria em um campo de treinamento para semideuses? Por outro lado, os policiais estariam procurando por nós.
- Não podemos simplesmente deixá-lo aqui - concluí. - Ele também vai estar encrencado. - Sim. - Annabeth pareceu contrariada. - Sem dúvida, precisamos levá-lo. Agora
venha. Não gostei do modo como ela disse aquilo, como se Tyson fosse uma grande doença que precisávamos levar ao hospital, mas a segui pelo beco. Juntos, nós três
nos esgueiramos pelas ruelas do centro, enquanto uma enorme coluna de fumaça se erguia do ia da escola, atrás de nós. ***** - Aqui. - Annabeth nos deteve na esquina
da Thomas com Trimbla. Vasculhou a mochila. - Espero que ainda tenha sobrado uma. Ela parecia ainda pior do que eu percebera de início. Tinha um corte no queixo.
Havia gravetos e grama embaraçados em seu rabo-de-cavalo, como se tivesse dormido várias noites ao relento. Os rasgos nas barras da calça jeans pareciam ter sito
feitos por garras. - O que está procurando? - perguntei. As sirenes urravam à nossa volta. Calculei que não levaria muito tempo até que passassem mais policiais,
procurando delinqüentes juvenis bombardeadores de ginásios. Sem dúvida, àquela altura à Matt Sloan já teria dado um depoimento. Ele provavelmente deturpara a história
para que Tyson e eu fôssemos os canibais sedentos de sangue. - Encontrei uma. Graças aos deuses. - Annabeth tirou da mochila uma moeda de ouro que reconheci como
um dracma, a moeda corrente do Monte Olimpo. Tinha a efígie de Zeus gravada de um lado e o edifício Empire State do outro. - Annabeth - falei. - Os taxistas de Nova
York não vão aceitar isso. - Stêthi - gritou ela em grego antigo. - Ô hárma diabolês!

Como de costume, no momento em que ela falou na língua do Olimpo eu, de algum modo, entendi. Ela disse: Pare, Carruagem da Danação! Aquilo não me deixou lá muito
empolgado com seu plano, fosse qual fosse. Ela atirou a moeda na rua, mas em vez de cair ruidosamente no asfalto o dracma afundou e desapareceu. Por um momento,
nada aconteceu. Então, bem no lugar onde a moeda tinha caído, o asfalto escureceu. Fundiu-se em uma poça retangular mais ou menos do tamanho de uma vaga de estacionamento
- borbulhando um líquido vermelho como sangue. Então um carro irrompeu daquele lodo. Era um táxi, sem dúvida, porém, diferentemente de qualquer outro táxi de Nova
York, não era amarelo. Era cinza-escuro. Quer dizer, parecia feito de fumaça, como se fosse possível atravessá-lo andando. Havia palavras impressas na porta - algo
como MÃSIR ZENTSITNA -, mas a dislexia tornou difícil para mim decifrar o que estava escrito. A janela do passageiro desceu, e uma velha pôs a cabeça para fora.
Tinha um tufo de cabelos grisalhos cobrindo os olhos, e falou de um jeito estranho e murmurante, como se tivesse acabado de tomar uma injeção de anestésico. - Passagem?
Passagem? - Três para o Acampamento Meio-Sangue - disse Annabeth. Ela abriu a porta traseira do táxi e acenou para que eu entrasse, como se aquilo tudo fosse a coisa
mais normal do mundo. - Cruzes! - guinchou a velha. - Não levamos a espécie dele! Ela apontou um dedo ossudo para Tyson. O que era aquilo? Dia da Perseguição aos
Garotos Grandes e Feios? - Eu pago a mais - prometeu Annabeth. - Mais três dracmas quando chegarmos. - Feito! - berrou a mulher. Entrei no táxi com relutância. Tyson
se espremeu no meio. Annabeth se arrastou para dentro por último. O interior também era cinza-escuro, mas parecia bastante sólido. O assento era rachado e irregular
- não muito diferente dos da maioria dos táxis. Não havia divisória nos separando da velha ao volante... Espere um minuto. Não havia apenas uma velha. Havia três,
todas amontoadas no assento dianteiro, cada qual com cabelos pegajosos cobrindo os olhos, mãos ossudas e um vestido de tecido grosso cor de carvão. A que estava
na direção disse: - Long Island! Bandeira dois! Ha! Ela pisou fundo o acelerador, e minha cabeça foi de encontro ao encosto. Uma voz gravada veio do altofalante:
Olá, aqui é Ganimedes, sommelier de Zeus, e quando saio para comprar vinho para o Senhor do Céus sempre ponho o cinto de segurança! Olhei para baixo e encontrei
uma corrente grande e preta no lugar do cinto. Concluí que não estava assim tão desesperado... ainda. O táxi disparou e virou na esquina da West Broadway, e a velha
cinzenta sentada no meio guinchou: - Cuidado! Vá para a esquerda!

- Bem, se você tivesse me dado o olho, Tempestade, eu poderia fazer isso! - queixou-se a motorista. Espere um minuto. Dar a ela o olho? Não tive tempo de fazer perguntas,
porque a motorista guinou para desviar-se de um caminhão de entregas, passou por cima do meio-fio com um tranco de fazer bater os dentes e entrou voando no quarteirão
seguinte. - Vespa! - disse a terceira mulher à motorista. - Passe para mim a moeda da menina! Quero mordê-la. - Você mordeu da última vez, Ira! - disse a motorista,
cujo nome devia ser Vespa. - É a minha vez! - Não é! - gritou a que se chamava Ira. A do meio, Tempestade, berrou: - Sinal vermelho! - Freie! - berrou Ira. Em vez
disso, Vespa pisou fundo e subiu no meio-fio, cantando os pneus em outra esquina e derrubando uma máquina de vender jornais. Ela deixou meu estômago para trás em
algum lugar da rua Broome. - Desculpe-me - falei -, mas... você enxerga? - Não! - gritou Vespa, de trás do volante. - Não! -- gritou Tempestade, do meio. - É claro!
- gritou Ira, da janela do passageiro. Olhei para Annabeth. - Elas são cegas? - Não totalmente - disse Annabeth. - Têm um olho. - Um olho? - Sim. - Cada uma? - Não.
Um olho ao todo. Ao meu lado, Tyson gemeu e se agarrou ao assento. - Não estou me sentindo muito bem. - Ah, céus! - disse eu, pois já tinha visto Tyson ficar enjoado
no carro em excursões da escola, e aquilo não era algo que a gente quisesse ver a menos de quinze metros de distância. - Agüente firme, grandão. Alguém tem um saco
de lixo ou coisa assim? As três senhoras cinzentas estavam muito ocupadas discutindo para prestar atenção em mim. Virei-me para Annabeth, que continuava concentrada
como quem corre risco de vida, e dei-lhe uma olhada do tipo "Por que você fez isso comigo?". - Ei - disse ela -, o Taxi das Irmãs Cinzentas é o meio mais rápido
de chegar ao acampamento. - Então, por que você não veio nele da Virgínia?

- Fica fora da área de prestação de serviços delas - disse ela, como se aquilo fosse óbvio. - Elas só trabalham na Grande Nova York e na vizinhança. - Já tivemos
gente famosa neste táxi! - exclamou Ira. - Jasão! Lembram-se dele? - Não quero nem lembrar! - lamuriou-se Vespa. - E nós não tínhamos um táxi naquele tempo, sua
morcega velha. Aquilo foi há três mil anos! - Me dê o dente! - Ira tentou agarrá-lo na boca de Vespa, mas Vespa afastou a mão dela com um tapa. - Só se Tempestade
me der o olho! - Não! - guinchou Tempestade. - Você o usou ontem! - Mas estou dirigindo, sua bruxa velha! - Desculpas! Vire! Era a sua entrada! Vespa entrou com
violência na rua Delancey, espremendo-me entre Tyson e a porta. Pisou o acelerador, e disparamos pela ponte Williamsburg a oitenta quilômetros por hora. As três
irmãs estavam agora brigando mesmo, estapeando-se, enquanto Ira tentava agarrar a cara de Vespa e Vespa tentava agarrar a de Tempestade. Com os cabelos esvoaçando
e a boca aberta, berrando uma com a outra, percebi que nenhuma das irmãs tinha dentes, com exceção de Vespa, que tinha um incisivo amarelo embolorado. Em vez de
olhos, elas tinham apenas pálpebras fechadas e afundadas, com exceção de Ira, que tinha um olho verde injetado que olhava para tudo avidamente, como se nada que
visse fosse o bastante. Por fim, Ira, que tinha a vantagem da visão, conseguiu arrancar o dente da boca da irmã Vespa. Isso a deixou tão furiosa que ela deu uma
guinada para a beirada da ponte Williamsburg, gritando: - Devolva! Devolva! Tyson gemeu e segurou o estômago. - Ah! a quem interessar possa - falei -, nós vamos
morrer! - Não se preocupe - disse Annabeth, parecendo muito preocupada. - As Irmãs Cinzentas sabem o que estão fazendo. Elas são muito sábias mesmo. Aquilo veio
da filha de Atena, mas não me senti exatamente reconfortado. Estávamos derrapando ao longo da beira de uma ponte, quarenta metros acima do rio East. - Sim, sábias!
- Ira arreganhou um sorriso ao retrovisor, mostrando o dente recém-adquirido. - A gente sabe das coisas! - Todas as ruas de Manhattan! - vangloriou-se Vespa, ainda
batendo na irmã. - A capital do Nepal! - O lugar que você procura! - acrescentou Tempestade. Imediatamente, as irmãs a socaram, uma de cada lado, gritando: - Quieta!
Quieta! Ele ainda nem perguntou! - O quê? - disse eu. - Que lugar? Eu não estou procurando nenhum... - Nada! - disse Tempestade. - Você está certo, menino. Não é
nada!

- Fale. - Não! - todas elas gritaram. - Na última vez que contamos, foi horrível! - disse Tempestade. - O olho foi parar num lago! - concordou Ira. - Anos para encontrá-lo
de novo! - queixou-se Vespa. - E por falar nisso... Devolva! - Não! - berrou Ira. - O olho! - berrou Vespa. - Dê para mim! Ela bateu com força nas costas da irmã
Ira. Ouviu-se um pop nauseante e algo saiu voando da cara de Ira. Ela começou a apalpar procurando, tentando agarrá-lo, mas só conseguiu rebatê-lo com as costas
da mão. O globo verde e viscoso passou voando por cima de seu ombro e veio parar bem no meu colo. Dei um pulo tão alto que minha cabeça atingiu o teto e o globo
ocular saiu rolando. - Não consigo enxergar! - berraram as três irmãs. - Dê o olho para mim! - gemeu Vespa. - Dê o olho para ela! - gritou Annabeth. - Não está comigo!
- falei. - Ali, perto do seu pé - disse Annabeth. - Não pise! Pegue! - Não vou pegar aquilo! O táxi colidiu com a grade de segurança e arrastou-se por ela com um
ruído horrível. O carro inteiro estremeceu, soltando fumaça cinzenta como se fosse se dissolver com o esforço. - Vou vomitar! - avisou Tyson. - Annabeth - berrei
-, deixe Tyson usar sua mochila! - Está louco? Pegue o olho! Vespa deu uma puxada violenta no volante e o táxi se afastou da grade. Disparamos pela ponte em direção
ao Brooklyn, mais rápido que qualquer táxi humano. As Irmãs Cinzentas guinchavam, e se esmurravam, e clamavam pelo olho. Por fim, tomei coragem. Arranquei um pedaço
da minha camisa desbotada, que já estava se desfazendo por causa de todos os buracos de queimadura, e usei-o para pegar o olho no chão. - Bom menino! - gritou Ira,
como se, de algum modo, soubesse que eu estava com seu olho perdido. Devolva! - Não, enquanto não explicarem - falei. - O que vocês estavam falando, o lugar que
eu procuro? - Não dá tempo! - gritou Tempestade. - Acelerando!

Olhei pela janela. Com certeza, árvores, carros e bairros inteiros passavam ventando, em um borrão cinzento. Já tínhamos saído do Brooklyn e atravessávamos Long
Island. - Percy - advertiu Annabeth -, elas não podem encontrar nosso destino sem o olho. Vamos continuar acelerando até arrebentar em um milhão de pedaços. - Primeiro
elas têm de me dizer. Ou então vou abrir a janela e jogar o olho no meio do trânsito. - Não! - gemeram as Irmãs Cinzentas. - É perigoso demais! - Estou abaixando
a janela. - Espere! - berraram as Irmãs Cinzentas. - Trinta, 31, 75,12! Elas bradaram como um zagueiro de futebol americano cantando a jogada. - O que querem dizer?
Isso não faz sentido! - Trinta, 31, 75, 12! - gemeu Ira. - E tudo o que podemos falar. Agora, devolva-nos o olho! Estamos quase no acampamento! Estávamos agora fora
da estrada, disparando pelos campos no norte de Long Island. Pude ver a Colina Meio-Sangue à nossa frente, com seu pinheiro gigante no topo - a árvore de Thalia,
que continha a força vital de uma heroína derrotada. - Percy! - disse Annabeth em um tom mais urgente. ­ Dê o olho a elas agora! Decidi não discutir. Joguei o olho
no colo de Vespa. A velha o agarrou, empurrou-o para dentro da órbita como alguém que coloca uma lente de contato, e piscou. - Eia! Ela pisou o freio. O táxi rodopiou
quatro ou cinco vezes em uma nuvem de fumaça e guinchou até parar no meio da estrada vicinal na base da Colina Meio-Sangue. Tyson soltou um enorme arroto. - Melhor
agora. - Tudo bem - disse eu às Irmãs Cinzentas. - Agora me digam o que querem dizer aqueles números. - Não dá tempo! - Annabeth abriu a porta. - Temos de sair agora.
Eu ia perguntar por quê, quando ergui os olhos para a Colina Meio-Sangue e entendi. No topo da colina havia um grupo de campistas. E eles estavam sob ataque.


QUATRO - Tyson brinca com fogo
Mitologicamente falando, se existe uma coisa que eu odeio mais do que trios de velhas são touros. No último verão, lutei com o Minotauro no topo da Colina Meio-Sangue.
Dessa vez, o que vi lá em cima era ainda pior: dois touros. E não touros comuns, apenas, mas touros de bronze, do tamanho de elefantes. E mesmo aquilo não era ruim
o bastante. É claro que eles também tinham de soltar fogo. Assim que saímos do táxi, as Irmãs Cinzentas se safaram a toda rumo a Nova York, onde a vida era mais
segura. Nem sequer esperaram pelo pagamento extra de três dracmas. Simplesmente nos largaram à beira da estrada, Annabeth com nada além de sua mochila e a faca,
Tyson e eu ainda com as roupas desbotadas de ginástica. - Ah, céus! - disse Annabeth, olhando para a batalha violenta na colina. O que mais me preocupou não foram
os touros em si. Ou os dez heróis de armadura de batalha completa, cujos traseiros de bronze estavam levando uma surra. O que me preocupava era que os touros estavam
se movimentando por toda a colina, inclusive atrás do pinheiro. Aquilo não deveria ser possível. As fronteiras mágicas do acampamento não permitiam que monstros
passassem além da árvore de Thalia. Mesmo assim os touros de metal estavam fazendo isso. Um dos heróis gritou: - Patrulha de fronteira! Aqui! - Uma voz de menina...
rouca e familiar. Patrulha de fronteira?, pensei. O acampamento não tinha patrulha de fronteira. - É Clarisse - disse Annabeth. - Venha, temos de ajudá-la. Normalmente,
correr para ajudar Clarisse não estaria no topo da minha lista de "coisas a fazer". Ela era uma das maiores encrenqueiras do acampamento. Na primeira vez que nos
vimos ela tentou apresentar minha cabeça a uma privada. Também era filha de Ares, e eu havia tido um desentendimento muito sério com o pai dela no último verão;
portanto, agora o Deus da Guerra e todos os seus filhos basicamente não iam com a minha cara. Ainda assim ela estava em dificuldades. Seus combatentes estavam se
dispersando, correndo em pânico diante do ataque dos touros. A grama estava em chamas em grandes faixas em volta do pinheiro. Um herói gritava e agitava os braços
enquanto corria em círculos, o enfeite de crina de cavalo em seu capacete ardendo como um cocar flamejante. A armadura da própria Clarisse estava chamuscada. Ela
lutava com um cabo de lança quebrada, a outra extremidade estava cravada inutilmente na junta metálica do ombro um dos touros. Tirei a tampa da minha caneta esferográfica.
Ela cintilou e foi ficando cada vez mais comprida e pesada até eu me ver segurando nas mãos a espada de bronze Anaklusmos. - Tyson, fique aqui. Não quero que se
arrisque mais. - Não! ­ disse Annabeth. ­ Precisamos dele. Olhei para ela. - Ele é mortal. Teve sorte com as bolas de queimado, mas ele não pode... - Percy, você
sabe o que é aquilo lá em cima? Os touros de Colchis, feitos pelo próprio Hefesto. Não podemos combatê-los sem o Filtro Solar de Medeia, com fator de proteção 50
mil. Vamos ser queimados até virar torresmo.

- O quê de Medeia? Annabeth revirou a mochila e praguejou. - Eu tinha um pote de essência de coco tropical na minha cabeceira, em casa. Por que não trouxe comigo?
Tinha aprendido muito tempo atrás a não fazer muitas perguntas a Annabeth. Só me deixaria ainda mais confuso. - Olhe, eu não sei do que você está falando, mas não
vou permitir que Tyson seja frito. - Percy... - Tyson, fique aqui. - Ergui minha espada. - Vou entrar. Tyson tentou protestar, mas eu já estava correndo colina acima
na direção de Clarisse, que gritava com sua patrulha, tentando organizá-la em formação de falange. Era uma boa idéia. Os poucos que a ouviram formaram uma fileira
ombro a ombro, encaixando seus escudos para forjar uma parede de couro e bronze, as lanças surgindo acima como cerdas de porco-espinho. Infelizmente, Clarisse só
conseguiu reunir seis campistas. Os outros quatro ainda corriam em círculos com o capacete em chamas. Annabeth correu até eles, tentando ajudar. Provocou um dos
touros para que a perseguisse e depois ficou invisível, confundindo o monstro completamente. O outro touro investiu contra a linha de Clarisse. Eu estava a meio
caminho colina acima - não era perto o bastante para ajudar. Clarisse ainda nem me vira. O touro se movimentava depressa demais para uma coisa tão grande. A carcaça
metálica brilhava ao sol. Tinha rubis do tamanho de punhos no lugar dos olhos e chifres de prata polida. Quando abria a boca articulada, uma coluna de chamas incandescentes
era expelida. - Mantenham a linha! - ordenou Clarisse a seus guerreiros. Você podia falar qualquer coisa sobre Clarisse, mas ela era corajosa. Era uma menina grande
com olhos cruéis como os do pai. Parecia ter nascido para usar uma armadura de batalha grega, mas até mesmo ela não me parecia capaz de resistir à investida daquele
touro. Por azar, naquele momento, o outro touro perdeu o interesse em encontrar Annabeth. Virou-se e foi atrás de Clarisse, do seu lado desprotegido. - Atrás de
você! - gritei. - Cuidado! Eu não devia ter dito nada, porque tudo o que consegui foi assustá-la. O Touro Número 1 colidiu contra o escudo dela e a falange se rompeu.
Clarisse voou para trás e aterrissou em um pedaço de gramado em chamas. O touro passou direto por ela, mas não sem antes atingir os outros heróis com seu hálito
de fogo. Os escudos derreteram instantaneamente em seus braços. Eles deixaram cair as armas e correram enquanto o Touro Número 2 se aproximava de Clarisse para o
golpe final. Eu me adiantei e agarrei Clarisse pelos cordões da armadura. Arrastei-a para fora do caminho bem no momento em que o Touro Número 2 passava como um
trem de carga. Dei-lhe um bom golpe com Contracorrente e abri um imenso talho numa de suas laterais, mas o monstro apenas rachou e soltou um mugido, e continuou
avançando. A fera não me tocou, mas pude sentir o calor da sua pele de metal. A temperatura de seu corpo poderia ter cozido um burrito congelado.

- Me solte! - Clarisse deu uma pancada na minha mão. - Percy, maldito! Deixei-a cair como um saco junto ao pinheiro e me virei para enfrentar os touros. Estávamos
agora do outro lado da colina, com o vale do Acampamento Meio-Sangue logo abaixo. Os chalés, as áreas de treinamento, a Casa Grande - todos em perigo caso os touros
passassem por nós. Annabeth bradou ordens para os outros heróis, dizendo-lhes que se espalhassem e mantivessem os touros distraídos. O Touro Número 1 fez uma curva
bem aberta e começou a voltar na minha direção. Ao passar pelo meio da colina, onde a linha invisível da fronteira deveria tê-lo detido, ele reduziu um pouco a velocidade,
como se lutasse contra um vento forte; mas então rompeu a barreira e continuou avançando. O Touro Número 2 se virou para me enfrentar, com fogo crepitando no corte
fundo que eu fizera em seu flanco. Não sei dizer se sentiu alguma dor, mas seus olhos de rubi pareciam fixos em mim como se eu tivesse acabado de levar as coisas
para o lado pessoal. Eu não podia lutar contra os dois touros ao mesmo tempo. Teria de derrubar o Touro Número 2 primeiro e cortar sua cabeça antes que o Touro Número
1 investisse de novo, até ficar ao meu alcance. Eu já sentia os braços cansados. Percebi quanto tempo passara desde a última vez que treinara com Contracorrente,
e como perdera a prática. Ataquei, mas o Touro Número 2 lançou chamas contra mim. Rolei para o lado enquanto o ar se transformava em puro calor. Todo o oxigênio
foi sugado de meus pulmões. Meu pé se prendeu em alguma coisa - uma raiz de árvore, talvez - e a dor subiu por meu tornozelo. Ainda assim, consegui desferir um golpe
com a espada e decepei um pedaço do focinho do monstro. Ele se afastou galopando, fora de controle e desorientado. Mas, antes que eu pudesse me sentir muito satisfeito
com aquilo, tentei ficar de pé e minha perna esquerda fraquejou. O tornozelo estava torcido, talvez quebrado. O Touro Número 1 investiu na minha direção. Não havia
como me arrastar para fora do seu caminho. Annabeth gritou: - Tyson, ajude-o! Em algum lugar por perto, na direção do topo da colina, Tyson lamentou-se: - Não...
posso... atravessar! - Eu, Annabeth Chase, lhe dou permissão para entrar no acampamento! Uma trovoada sacudiu a encosta. De repente, Tyson estava lá, disparando
em minha direção e gritando: - Percy precisa de ajuda! Antes que eu pudesse dizer que não, Tyson se jogou entre mim e touro bem quando ele soltou uma erupção de
fogo nuclear. - Tyson! - gritei. A explosão rodopiou em volta dele como um tornado vermelho. Só consegui ver a silhueta negra de seu corpo. Soube com uma terrível
certeza que meu amigo acabara de se transformar em uma coluna de cinzas. Mas, quando o fogo diminuiu, Tyson ainda estava lá, de pé, praticamente ileso. Nem mesmo
suas roupas surradas foram chamuscadas. O touro deve ter ficado tão surpreso quanto eu, porque antes que pudesse exalar uma segunda erupção Tyson cerrou os punhos
e golpeou a cara dele.

- VACA MALVADA. Seus punhos abriram uma cratera no lugar onde estaria o focinho do touro. Duas pequenas colunas de fogo irromperam dos ouvidos. Tyson acertou-o de
novo e amassou o bronze sob suas mãos como papelalumínio. A cabeça do touro agora parecia um boneco de meia virado do avesso. - No chão! - berrou Tyson. O touro
cambaleou e caiu de costas. As pernas balançaram debilmente no ar, o vapor escapando pela cabeça e outros lugares esquisitos. Annabeth correu para ver como eu estava.
Meu tornozelo parecia estar cheio de ácido, mas ela me deu um pouco do néctar do Olimpo em seu cantil e imediatamente comecei a me sentir melhor. Havia um cheiro
de queimado que depois percebi que vinha de mim. Os pelos em meus braços tinham ficado completamente chamuscados. - E o outro touro? - perguntei. Annabeth apontou
colina abaixo. Clarisse tinha cuidado da Vaca Malvada Número 2. Ela a empalara pela pata traseira com uma lança de bronze celestial. Com o focinho semidestruído
e um enorme talho no flanco, o bicho tentava correr em câmara lenta, andando em círculos como algum tipo de animal de carrossel. Clarisse tirou o capacete e marchou
em nossa direção. Uma mecha do seu cabelo castanho fibroso estava fumegando, mas ela parecia nem notar. Você estragou tudo! - berrou ela para mim. - Eu tinha tudo
sob controle! Eu estava atordoado demais para responder. Annabeth resmungou: - Bom ver você também, Clarisse. - Argh! - gritou Clarisse. - Nunca, NUNCA tente me
salvar de novo! - Clarisse - disse Annabeth -, você tem alguns campistas feridos. Aquilo a fez cair era si. Até mesmo Clarisse se preocupava com os soldados sob
seu comando. - Eu vou voltar - rosnou ela, e depois se afastou pesadamente para avaliar os danos. Olhei para Tyson. - Você não morreu. Tyson baixou os olhos como
se estivesse com vergonha. - Desculpe-me. Vim ajudar. Desobedeci a você. - Culpa minha - disse Annabeth. - Não tive escolha. Eu tinha de deixar Tyson cruzar a fronteira
para salválo. Caso contrário, você teria morrido. - Deixá-lo cruzar a fronteira? - perguntei. - Mas... - Percy - disse ela -, você já olhou para Tyson com atenção?
Quer dizer... para seu rosto. Ignorar a Névoa e realmente olhar para ele.

A Névoa faz os seres humanos verem apenas o que seu cérebro pode processar... Eu sabia que ela podia enganar semideuses também, mas... Olhei para o rosto de Tyson.
Não foi fácil. Sempre tive dificuldade de olhar diretamente para ele, embora nunca tivesse entendido muito bem por quê. Achava que era só porque sempre havia manteiga
de amendoim nos seus dentes tortos. Forcei-me a focalizar seu nariz grande e sem jeito, depois, um pouco mais acima, seus olhos. Não, não olhos. Um olho. Um grande
olho, castanho-bezerro, bem no meio da testa, com cílios grossos e grandes lágrimas escorrendo pelas bochechas dos dois lados. - Tyson - gaguejei. - Você é um...
- Ciclope - sugeriu Annabeth. - Um bebê, a julgar pela aparência. Provavelmente foi por isso que ele não conseguiu atravessar a fronteira como os touros. Tyson é
um dos órfãos sem-teto. - Um dos quê? - Eles estão em quase todas as grandes cidades - disse Annabeth, de um jeito desagradável. - São... erros, Percy. Filhos de
espíritos da natureza e deuses... Bem, normalmente, um deus em particular... e nem sempre são perfeitos. Ninguém os quer. Eles são jogados de lado. Crescem nas ruas,
sozinhos. Não sei como esse o encontrou, mas ele obviamente gosta de você. Devemos levá-lo a Quíron e deixar que ele decida o que fazer. - Mas o fogo. Como... -
Ele é um ciclope. - Annabeth fez uma pausa, como se estivesse se lembrando de algo desagradável. - Eles operam as forjas dos deuses. Precisam ser imunes ao fogo.
É o que eu vinha tentando lhe dizer. Eu estava completamente chocado. Como nunca percebera o que Tyson era? Mas eu não tinha muito tempo para pensar nisso naquele
momento. Toda a encosta da colina estava em chamas. Heróis feridos precisavam de atenção. E ainda havia dois touros derrubados para descartar, e eu não fazia idéia
de como eles iriam caber nas nossas caçambas normais de lixo reciclável. Clarisse voltou e limpou a fuligem da testa. - Jackson, se você puder agüentar, levante-se.
Precisamos carregar os feridos de volta para a Casa Grande e informar a Tântalo o que aconteceu. - Tântalo? - perguntei. - O diretor de atividades - disse Clarisse,
impaciente. - O diretor de atividades é Quíron. E onde está Argos? Ele é o encarregado da segurança. Devia estar aqui. Clarisse fez uma cara amarga. - Argos foi
despedido. Vocês dois estiveram afastados por muito tempo. As coisas estão mudando. - Mas, Quíron... Ele treina garotos para combater monstros há mais de três mil
anos. Não pode ter simplesmente ido embora. O que aconteceu? - Aquilo aconteceu - disparou Clarisse.

Ela apontou para a árvore de Thalia. Todos os campistas conheciam a história da árvore. Seis anos antes, Grover, Annabeth e dois outros semideuses chamados Thalia
e Luke chegaram ao Acampamento Meio-Sangue perseguidos por um exército de monstros. Quando se viram acuados no topo da colina, Thalia, filha de Zeus, montou resistência
ali, para dar tempo aos amigos de alcançar a segurança. Quando ela estava morrendo. Zeus se apiedou e a transformou em um pinheiro. Seu espírito reforçou as fronteiras
mágicas do acampamento, protegendo-o de ministros. O pinheiro estava lá desde então, forte e saudável. Mas agora suas folhas estavam amarelas. Uma enorme pilha de
folhas mortas se acumulava na base da árvore. No centro do tronco, a um metro do chão, havia uma perfuração do tamanho de um buraco de bala, gotejando seiva verde.
O gelo cortou meu peito. Agora eu entendia por que o acampamento estava em perigo. As fronteiras mágicas estavam falhando porque a árvore de Thalia estava morrendo.
Alguém a envenenara.


CINCO - Meu novo companheiro de chalé
Alguma vez você já chegou em casa e encontrou seu quarto todo bagunçado? Como se alguma pessoa prestimosa (oi, mamãe!) tivesse tentado "arrumá-lo" e, de repente,
você não conseguisse encontrar mais nada? E, mesmo que nada esteja faltando, tem aquela sensação arrepiante de que alguém andou olhando suas coisas e limpando tudo
com lustra-móveis que cheira a limão? Foi esse tipo de coisa que senti ao ver o Acampamento Meio-Sangue de novo. Na superfície, nada parecia assim tão diferente.
A Casa Grande ainda estava lá com seu telhado azul e sua varanda em toda a volta. Os campos de morangos ainda se aqueciam ao Sol. Os mesmos prédios com colunas gregas
brancas se espalhavam pelo vale - o anfiteatro, a arena de combates, o pavilhãorefeitório que dá para o estreito de Long Island. E, aninhados entre os bosques e
o riacho, os mesmos chalés - um sortimento maluco de doze prédios, cada qual representando um deus olimpiano diferente. Mas agora havia uma atmosfera de perigo.
Dava para perceber que alguma coisa estava errada. Em vez de jogar vôlei na quadra de areia, conselheiros e sátiros armazenavam armas no galpão de ferramentas. Dríades
armadas de arcos e flechas conversavam, nervosas, no limite dos bosques. A floresta parecia doente; a grama na campina tinha um tom pálido de amarelo, e as marcas
do fogo na Colina Meio-Sangue se destacavam como feias cicatrizes. Alguém tinha bagunçado meu lugar favorito em todo o mundo, e eu não era... bem, um campista feliz.
Enquanto caminhávamos para a Casa Grande, reconheci uma porção de campistas do último verão. Ninguém parou para conversar. Ninguém disse: "Sejam bem-vindos de volta."
Alguns olharam duas vezes quando viram Tyson, mas a maior parte simplesmente passou de cara fechada e seguiu em frente, cumprindo seus deveres - levando mensagens,
carregando espadas para afiar nas pedras de amolar. O acampamento parecia uma escola militar. E, acredite, eu as conheço. Fui expulso de algumas. Nada disso importava
para Tyson. Ele estava absolutamente fascinado com tudo o que via. - O que é aquilo? - ele se espantava. - Estábulos para pégasos - disse eu. - Os cavalos alados.
- O que é aquilo? - Hum... aquilo são os banheiros. - O que é aquilo? - Os chalés dos campistas. Se não sabem quem é seu pai olimpiano, você é deixado no chalé de
Hermes... aquele marrom logo ali... até que se descubra. Então, quando já sabem, juntam-no ao grupo de seu pai, ou de sua mãe. Ele olhou para mim abismado. - Você...
tem um chalé? - O número 3. - Apontei para uma construção cinzenta e baixa feita de pedras do mar. - Você mora com amigos no chalé?


- Não. Não, fico sozinho. - Não estava com vontade de explicar. A verdade embaraçosa: eu era o único naquele chalé porque supostamente não deveria estar vivo. Os
"Três Grandes" deuses - Zeus, Poseidon e Hades - tinham feito um pacto depois da Segunda Guerra Mundial para não ter mais filhos com mortais. Nós éramos mais poderosos
que os meios-sangues normais. E imprevisíveis demais. Quando ficávamos zangados, tendíamos a causar problemas... como a Segunda Guerra Mundial, por exemplo. O pacto
dos "Três Grandes" só tinha sido quebrado duas vezes - quando Zeus gerou Thalia e quando Poseidon me gerou. Nenhum de nós devia ter nascido. Thalia acabou transformada
em um pinheiro quando tinha doze anos. Eu... bem, eu estava fazendo o melhor possível para não seguir o exemplo dela. Tinha pesadelos só de pensar no que Poseidon
poderia me transformar se algum dia eu estivesse à beira da morte - plâncton, quem sabe. Ou um agrupamento flutuante de algas marinhas. Quando chegamos à Casa Grande,
encontramos Quíron em seu alojamento, ouvindo suas músicas favoritas da década de 1960 enquanto arrumava seus alforjes. Acho que devo mencionar - Quíron é um centauro.
Da cintura para cima parece um sujeito comum, de meia-idade, com cabelo castanho encaracolado e barba desarrumada. Da cintura para baixo, é um corcel branco. Consegue
passar por ser humano apertando sua metade inferior em uma cadeira de rodas mágica. De fato, ele se passou por meu professor de latim na sexta série. Mas na maior
parte do tempo, se os tetos forem bastante altos, ele prefere circular em sua forma plena de centauro. Assim que o vimos, Tyson ficou paralisado. - Pônei! - exclamou,
totalmente extasiado. Quíron se voltou, parecendo ofendido. - Como disse? Annabeth e eu subimos correndo e o abraçamos. - Quíron, o que está acontecendo? Não está...
indo embora? - A voz dela estava trêmula. Quíron era como seu segundo pai. Quíron despenteou o cabelo de Annabeth e lhe deu um sorriso bondoso. - Olá, criança. E
Percy, ora vejam! Você cresceu esse ano! Engoli em seco. - Clarisse disse que você foi... foi... - Despedido. - Os olhos de Quíron brilharam com um humor soturno.
- Ah, bem, alguém tinha de levar a culpa. O Senhor Zeus ficou muito aborrecido. A árvore que ele criou do espírito de sua filha foi envenenada! O sr. D precisava
punir alguém. - Quer dizer: se não fosse ele - resmunguei. Só de pensar no diretor do acampamento, sr. D, eu fiquei irritado. - Mas isso é loucura! - exclamou Annabeth.
- Quíron, você não poderia ter nada a ver com o envenenamento da árvore de Thalia! - Apesar disso - suspirou Quíron -, alguns no Olimpo não confiam em mim agora,
dadas as circunstâncias. - Que circunstâncias? - perguntei.

O rosto de Quíron se anuviou. Ele enfiou um dicionário latim-inglês no alforje enquanto a música de Frank Sinatra soava no micro system. Tyson ainda olhava para
Quíron, encantado. Choramingou como se quisesse acariciar Quíron, mas tivesse medo de chegar mais perto. - Pônei? Quíron respirou fundo. - Meu caro jovem ciclope!
Eu sou um centauro. - Quíron - falei. - E a árvore? O que aconteceu? Ele sacudiu a cabeça com tristeza. - O veneno usado no pinheiro de Thalia é algo do Mundo Inferior,
Percy. Alguma peçonha que eu nunca tinha visto. Deve ter vindo de um monstro da profundeza dos abismos de Tártaro. - Então sabemos quem é o responsável. Cro... -
Não invoque o nome do titã, Percy. Especialmente, não aqui, e não agora. - Mas no último verão ele tentou causar uma guerra civil no Olimpo! Isso tem de ser idéia
dele. Ele convenceu Luke a fazer aquilo, aquele traidor. - Talvez - disse Quíron. - Mas infelizmente estou sendo responsabilizado porque não evitei que acontecesse
e não consigo curá-la. A árvore tem apenas algumas semanas de vida, a não ser... - A não ser o quê? - perguntou Annabeth. - Não - disse Quíron. - Um pensamento tolo.
O vale inteiro está sentindo o choque do veneno. As fronteiras mágicas estão se deteriorando. O próprio acampamento está morrendo. Só uma fonte de mágica seria forte
o bastante para anular o veneno, e ela foi perdida séculos atrás. - O que é? - perguntei. - Nós vamos encontrá-la! Quíron fechou seu alforje. Apertou o botão stop
do seu som. Então se virou e pousou a mão em meu ombro, olhando-me bem nos olhos. - Percy, você tem de me prometer que não vai agir precipitadamente. Disse à sua
mãe que não queria que você viesse para cá neste verão. É perigoso demais. Mas agora que está aqui, fique aqui. Treine muito. Aprenda a lutar. Mas não vá embora.
- Por quê? - perguntei. - Quero fazer alguma coisa! Não posso simplesmente deixar todas as fronteiras caírem por terra. O acampamento inteiro será... - Invadido
por monstros - disse Quíron. - Sim, é o que temo. Mas você não deve se deixar tentar por alguma ação impensada! Isso pode ser uma armadilha do senhor dos titãs.
Lembre-se do último verão! Ele quase tirou sua vida. Era verdade, mas ainda assim eu queria muito ajudar. Também queria fazer Cronos pagar. Quer dizer, era de esperar
que o senhor dos titãs tivesse aprendido suas lições eras atrás, quando foi derrubado pelos deuses. Era de esperar que ser picado em um milhão de pedacinhos e jogado
na parte mais escura do Mundo Inferior lhe desse uma dica sutil de que ninguém o queria por perto. Mas não. Como ele era imortal, ainda estava vivo lá embaixo no
Tártaro - sofrendo a dor eterna, faminto por retornar e se vingar do

Olimpo. Não podia agir sozinho, mas era muito bom em distorcer a mente de mortais, e até de deuses, para que fizessem seu trabalho sujo. O envenenamento tinha de
ser coisa dele. Quem mais seria tão baixo a ponto de atacar a árvore de Thalia, a única coisa que restara de uma heroína que dera a vida para salvar seus amigos?
Annabeth estava se esforçando muito para não chorar. Quíron enxugou uma lágrima da bochecha dela. - Fique com Percy, criança - disse ele. - Cuide para que ele fique
seguro. A profecia... lembre-se dela! - Eu... eu vou fazer isso. - Hum... - falei. - A profecia que tem relação comigo, mas que os deuses os proibiram de me contar?
Ninguém respondeu. - Certo - resmunguei. - Só confirmando. - Quíron... - disse Annabeth. - Você me contou que os deuses o fizeram imortal somente enquanto você fosse
necessário para treinar heróis. Se eles o demitem do acampamento... - Jure que fará o melhor que puder para manter Percy afastado do perigo - insistiu ele. - Jure
pelo rio Styx. - Juro... juro pelo rio Styx - disse Annabeth. Trovejou do lado de fora. - Muito bem - disse Quíron. Ele pareceu um pouquinho mais relaxado. - Talvez
meu nome seja limpo, e eu retorne. Até lá, vou visitar meus parentes selvagens, em Everglades. Ê possível que eles saibam de algum tratamento que eu tenha esquecido
para a árvore envenenada. De qualquer modo, ficarei no exílio até que esse assunto seja resolvido... de um jeito ou de outro. Annabeth sufocou um soluço. Quíron
lhe deu umas palmadinhas desajeitadas no ombro. - Vamos, vamos, criança. Preciso confiar sua segurança ao sr. D e ao novo diretor de atividades. Precisamos ter esperanças...
bem, talvez eles não destruam o acampamento tão depressa quanto temo. - Afinal, quem é esse tal de Tântalo? - perguntei. - O que ele quer tomando seu emprego? Uma
trombeta de concha soou pelo vale. Eu não tinha percebido como era tarde. Era hora de os campistas se reunirem para o jantar. - Vão - disse Quíron. - Vocês o encontrarão
no pavilhão. Vou entrar em contato com sua mãe, Percy, e avisá-la de que você está em segurança. Sem dúvida, ela deve estar preocupada a essa altura. Só não se esqueça
do meu aviso! Você corre grave perigo. Não pense nem por um momento que o senhor dos titãs o esqueceu! Com isso, ele saiu do apartamento batendo os cascos e desceu
para o vestíbulo, enquanto Tyson gritava atrás dele: - Pônei! Não vá! Percebi que tinha esquecido de contar a Quíron sobre meu sonho com Grover. Era tarde demais.
O melhor professor que já tivera se fora, talvez para sempre. Tyson começou a chorar alto, quase tanto quanto Annabeth.

Tentei lhe dizer que ia dar tudo certo, mas eu não acreditava nisso. ***** Sol estava se pondo atrás do pavilhão de refeições quando os campistas vieram de seus
chalés. Ficamos na sombra de uma coluna de mármore e observamos enquanto eles entravam em fila. Annabeth ainda estava bastante abalada, mas prometeu que conversaria
conosco mais tarde. Foi então se juntar a seus irmãos do chalé de Atena - uma dúzia de meninos e meninas de cabelos loiros e olhos cinzentos como os dela. Annabeth
não era a mais velha, mas passara ali mais verões do que quase todos os outros. Era possível perceber isso só de olhar para o seu colar do acampamento - uma conta
para cada verão, e Annabeth tinha seis. Ninguém questionava seu direito de liderar a fila. A seguir veio Clarisse, liderando o chalé de Ares. Estava com o braço
na tipóia e um corte feio na bochecha, mas, a não ser por isso, o encontro com os touros de bronze não parecia tê-la intimidado. Alguém prendera com fita adesiva
um pedaço de papel nas costas dela, que dizia: VOCÊ MUGE, MENINA! Mas ninguém de seu chalé se deu o trabalho de avisá-la. Depois das crianças de Ares veio o chalé
de Hefesto - seis caras liderados por Charles Beckendorf, um garoto grande de quinze anos, afro-americano. Tinha mãos do tamanho de luvas de beisebol e um rosto
duro e estrábico de tanto olhar para dentro de uma forja de ferreiro o dia inteiro. Ele era bem simpático depois que você o conhecia, mas ninguém jamais o chamava
de Charlie, Chuck ou Charles. A maioria só o chamava de Beckendorf. Dizia-se que ele era capaz de fazer qualquer coisa. Era só lhe dar um pedaço de metal e ele poderia
criar uma espada afiada como navalha, um guerreiro robótico ou uma banheira de passarinho musical para o jardim da sua avó. O que a gente quisesse. Os outros chalés
foram entrando em fila: Démeter, Apolo, Afrodite, Dioniso. As náiades emergiram do lago de canoagem. As dríades surgiram das árvores. Da campina veio uma dúzia de
sátiros, que me fizeram lembrar de Grover com aflição. Sempre tive um fraco pelos sátiros. Quando estavam no acampamento, serviam como os quebra-galhos do sr. D,
o diretor, mas seu trabalho mais importante era lá fora, no mundo real. Eles eram os olheiros do acampamento. Entravam disfarçados em escolas do mundo inteiro, procurando
possíveis meios-sangues, e os escoltavam para o acampamento. Foi como conheci Grover. Ele foi o primeiro a reconhecer que eu era um semideus. Depois que os sátiros
entraram para jantar, o pessoal do chalé de Hermes veio por último. Era sempre o maior chalé. No último verão, foi liderado por Luke, o cara que tinha lutado com
Thalia e Annabeth no topo da Colina Meio-Sangue. Por algum tempo, antes de Poseidon me reclamar, eu me alojei no chalé de Hermes. Luke se tornou meu amigo... e depois
tentou me matar. Agora o chalé de Hermes era liderado por Travis e Connoi Stoll. Eles não eram gêmeos, mas eram tão parecidos que isso não importava. Nunca conseguia
lembrar qual era o mais velho. Ambos eram altos e magros, com os cabelos castanhos caindo nos olhos. Usavam camisetas laranja do ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE por cima
de shorts folgados, e tinham aquelas feições de elfo de todos os meninos de Hermes: sobrancelhas arqueadas, sorriso sarcástico e um brilho nos olhos sempre que fitavam
você como se estivessem prestes a jogar uma bombinha dentro de sua camisa. Sempre achei engraçado que o deus dos ladrões tivesse filhos com o sobrenome "Stoll",
que lembra a palavra "roubou" em inglês, mas na única vez que mencionei isso a Travis e Connor eles me olharam com cara de paisagem, como se não tivessem entendido
a piada. Assim que os últimos campistas entraram, levei Tyson até o meio do pavilhão. As conversas se interromperam. Cabeças se viraram. - Quem convidou aquilo?
- murmurou alguém na mesa de Apolo. Olhei furiosamente na direção deles, mas não consegui discerni quem havia falado.

Da mesa principal, veio uma voz arrastada, familiar. - Ora, ora, ora, se não é Peter Jackson! O meu milênio está completo. Trinquei os dentes. - Percy Jackson...
senhor. O sr. D tomou um gole da sua Diet Coke. - Sim. Bem, como vocês jovens hoje em dia, tanto faz. Ele usava a camisa de sempre, havaiana com estampa de leopardo,
bermuda e tênis com meias pretas. A barriga protuberante e a cara vermelha e manchada o faziam parecer um turista de Las Vegas que ficara acordado até tarde nos
cassinos. Atrás dele, um sátiro que parecia nervoso tirava as cascas das uvas e as entregava ao sr. D, uma de cada vez. O verdadeiro nome do sr. D é Dioniso. O deus
do vinho. Zeus o nomeou diretor do Acampamento MeioSangue para ficar abstêmio por cem anos - um castigo por paquerar uma ninfa proibida dos bosques. Ao lado dele,
onde normalmente se sentava Quíron (ou ficava em pé, na forma de centauro), havia alguém que eu nunca vira - um homem pálido e terrivelmente magro usando um macacão
laranja de prisioneiro. O número acima do bolso era 0001. Ele tinha sombras azuis debaixo dos olhos, unhas sujas e cabelo grisalho malcortado, como se seu último
corte de cabelo tivesse sido feito com um cortador de grama. Ele olhou para mim; seus olhos me deixaram nervoso. Ele parecia... em frangalhos. Zangado, frustrado
e esfomeado, tudo ao mesmo tempo. - Esse menino - disse-lhe Dioniso -, precisa ficar de olho nele. Filho de Poseidon, você sabe. - Ah! - disse o prisioneiro. - Aquele.
Seu tom deixou óbvio que ele e Dioniso já haviam conversado extensamente sobre mim. - Eu sou Tântalo - disse o prisioneiro, sorrindo friamente. - Em missão especial
aqui, bem, até que o meu senhor Dioniso decida outra coisa. Quanto a você, Perseu Jackson, realmente espero que evite causar mais problemas. - Problemas? - perguntei.
Dioniso estalou os dedos. Um jornal apareceu sobre a mesa - a primeira página do New York Post daquele dia. Trazia minha fotografia do anuário do colégio Meriwether.
Era difícil para mim distinguir a manchete, mas eu tinha um bom palpite do que dizia. Algo como: Maluco de Treze Anos Toca Fogo em Ginásio. - Sim, problemas - disse
Tântalo com satisfação. ­ Você causou um bocado deles no último verão, pelo que sei. Fiquei zangado demais para falar. Como se fosse culpa minha que os deuses quase
tivessem entrado numa guerra civil. Um sátiro avançou, tenso, e pôs um prato de churrasco na frente de Tântalo. O novo diretor de atividades lambeu os beiços. Olhou
para sua taça vazia e disse: - Cerveja preta. Reserva especial da Barq's, 1967. O copo se encheu sozinho de um líquido espumante. Tântalo esticou a mão em dúvida,
como se tivesse medo de que a taça estivesse quente.

- Vá em frente, meu velho - disse Dioniso, com um brilho estranho nos olhos. -Talvez agora funcione. Tântalo tentou agarrar o copo, mas ele escapuliu rapidamente
mies que pudesse tocá-lo. Algumas gotas de cerveja preta transbordaram, e Tântalo tentou recolhê-las com os dedos, mas as gotas deslizaram para longe, como se fossem
de mercúrio, antes que as alcançasse. Ele gemeu e se virou para o prato de churrasco. Pegou um garfo e tentou espetar um pedaço de peito, mas o prato deslizou até
a extremidade da mesa e saiu voando direto para os carvões do braseiro. - Droga! - resmungou Tântalo. - Ah! que pena... - disse Dioniso com a voz que transbordava
falsa solidariedade. - Talvez daqui a alguns dias. Acredite-me, meu velho, trabalhar neste acampamento já vai ser tortura suficiente. Tenho certeza de que sua velha
maldição, mais dia, menos dia, vai acabar. - Mais dia, menos dia - murmurou Tântalo, olhando para Diet Coke de Dioniso. - Você tem idéia de como a garganta de uma
pessoa fica seca depois de mil anos? - Você é aquele espírito dos Campos de Punição - disse eu. Aquele que fica em pé na lagoa, com a árvore frutífera logo acima,
mas não pode comer nem beber. Tântalo arreganhou um sorriso sarcástico para mim. - Você é um verdadeiro erudito, não é, menino? - Deve ter feito alguma coisa realmente
horrível quando estava vivo - falei, um pouco impressionado. - O que foi? Os olhos de Tântalo se estreitaram. Atrás dele, os sátiros sacudiam a cabeça vigorosamente,
tentando me alertar. - Vou ficar de olho em você, Percy Jackson - disse Tântalo. - Não quero problemas no meu acampamento. - Seu acampamento já tem problemas...
senhor. - Ah! vá se sentar, Johnson - suspirou Dioniso. - Acho que aquela mesa ali é a sua... aquela em que ninguém mais quer se sentar. Meu rosto estava queimando,
mas eu sabia que era melhor não reagir. Dioniso era uma criança grande, mas uma criança grande imortal e superpoderosa. Eu disse: - Vamos, Tyson. - Ah! não - disse
Tântalo. - O monstro fica aqui. Vamos decidir o que fazer com isso. - Com ele - disparei. - Seu nome é Tyson. O novo diretor de atividades ergueu uma sobrancelha.
- Tyson salvou o acampamento - insisti. - Ele esmagou aqueles touros de bronze. Se não fosse isso, eles teriam queima este lugar inteiro. - Sim - suspirou Tântalo
-, e que lamentável teria sido. Dioniso deu uma risadinha. - Deixe-nos - ordenou Tântalo - enquanto decidimos destino da criatura.

Tyson olhou para mim com medo em seu único e grande olho, mas eu sabia que não poderia desobedecer a uma ordem direta dos diretores do acampamento. Pelo menos, não
abertamente. - Vou estar logo ali, grandão - prometi. - Não se preocupe. Vamos achar um lugar legal para você dormir esta noite. Tyson assentiu. - Acredito em você.
Você é meu amigo. Eu me senti ainda mais culpado. Arrastei-me até a mesa de Poseidon e despenquei no banco, uma ninfa dos bosques me levou um prato de pizza olimpiana
de azeitonas e pepperoni, mas eu não estava com fome. Quase fui morto duas vezes naquele dia. Tinha conseguido terminar o ano letivo com um desastre completo. O
Acampamento MeioSangue estava em sérias dificuldades e Quíron me dissera para não fazer nada a esse respeito. Eu não me sentia muito agradecido, mas levei meu jantar
até o brazeiro de bronze, como era costume, e joguei parte dele nas chamas. - Poseidon - murmurei -, aceite minha oferenda. E me mande alguma ajuda enquanto isso,
rezei em silêncio. Por favor. A fumaça da pizza queimada se transformou em algo fragrante ­ o cheiro de uma leve brisa marítima misturado com perfume de flores -,
mas eu não sabia muito bem se aquilo significava que meu pai realmente ouvia. Voltei para meu lugar. Não achava que a situação pudesse piorar muito. Mas então Tântalo
mandou um dos sátiros tocar a trombeta de concha para chamar nossa atenção para os avisos.

- Sim, muito bem - disse Tântalo depois que as conversas silenciaram. - Mais uma bela refeição! Ou, ao menos, é o que me disseram. - Enquanto falava, aproximava
a mão do prato de jantar reabastecido, como se, quem sabe, a comida não fosse notar o que de estava fazendo. Mas notou. O prato disparou pela mesa assim que a mão
dele chegou a uma distância de quinze centímetros. - E aqui, no primeiro dia do meu mandato - continuou -, gostaria de dizer que agradável forma de punição é estar
aqui. Ao longo do verão, eu espero torturar, digo, interagir com cada um de vocês, crianças. Todos parecem prontos para comer. Dioniso bateu palmas educadamente,
puxando alguns aplausos desanimados dos sátiros. Tyson ainda estava plantado junto à mesa principal, aparentemente desconfortável, mas toda vez que tentava escapar
do centro das atenções Tântalo o puxava de volta. - E agora, algumas mudanças! - Tântalo deu um sorriso torto para os campistas. - Estamos reinstituindo as corridas
de bigas! Murmúrios irromperam em todas as mesas - agitação, medo, incredulidade. - Agora eu sei - continuou Tântalo, levantando a voz - que essas corridas foram
suspensas há alguns anos devido a, ahn... problemas técnicos. - Três mortes e vinte e seis mutilações - gritou alguém da mesa de Apoio.

- Sim, sim! - disse Tântalo. - Mas sei que todos vocês vão se juntar a mim para dar as boas-vindas ao retorno dessa tradição do acampamento. Louros de ouro serão
entregues aos vencedores todos os meses. As equipes podem se registrar pela manhã! A primeira corrida acontecerá dentro de três dias. Vamos liberá-lo da maior parte
de suas atividades costumeiras para que preparem as bigas e escolham seus cavalos. Ah! e cheguei a mencionar que a equipe do chalé vitorioso será dispensada das
obrigações diárias no mês em que vencer? Uma explosão de conversas animadas - sem trabalho na cozinha um mês inteiro? Sem limpeza de estábulos? Ele estava falando
sério? Então a última pessoa de quem eu esperava uma objeção fez objeção. - Mas, senhor! - disse Clarisse. Ela parecia nervosa, mas ficou em pé para falar da mesa
de Ares. Alguns dos campistas riram ao verem o cartaz VOCÊ MUGE, MENINA. nas costas dela. - E o serviço de patrulha? Quer dizer, se abandonarmos tudo para preparar
nossas bigas... - Ah! a heroína do dia - exclamou Tântalo. - A corajosa Clarisse, que sozinha derrotou os touros de bronze! Clarisse piscou, depois corou. - Ahn,
eu não... - E modesta também - sorriu Tântalo. - Não se preocupe querida! Isto é um acampamento de verão. Estamos aqui para nos divertir, certo? - Mas a árvore...
- E agora - disse Tântalo enquanto diversos companheiros chalé de Clarisse a puxavam de volta para o banco -, antes que p a s s e m o s à fogueira e à cantoria,
uma pequena questão doméstica: Percy Jackson e Annabeth Chase julgaram apropriado, por alguma razão, trazer aqui isto. - Tântalo acenou a mão para Tyson. Um murmúrio
desconfortável se espalhou entre os campistas. Várias pessoas me olharam de lado. Tive vontade de matar Tântalo. - Agora, é claro - disse ele -, os ciclopes têm
reputação de ser monstros sanguinários com uma capacidade cerebral muito pequena em circunstâncias normais, eu soltaria essa besta-fera nos bosques e mandaria vocês
em seu encalço com tochas e pedaços paus. Mas, quem sabe? Talvez este ciclope não seja tão horrível quanto seus irmãos. Até que ele prove ser digno de destruição,
precisamos de um lugar para mantê-lo! Pensei nos estábulos, mas isso deixaria os cavalos nervosos. Quem sabe o chalé de Hermes? Silêncio na mesa de Hermes. Travis
e Connor Stoll de repente ficaram muito interessados na toalha de mesa. Eu não poderia culpá-los. O chalé de Hermes estava sempre cheio a ponto de arrebentar. Não
havia como abrigar um ciclope de um metro e noventa. - Vamos, vamos - caçoou Tântalo. - O monstro pode realizar algumas tarefas domésticas. Alguma sugestão sobre
onde esta besta-fera deve ser recolhida? De repente todos ficaram boquiabertos. Tântalo afastou-se bruscamente de Tyson, surpreso. Tudo o que pude fazer foi olhar
incrédulo para a luz verde brilhante que estava prestes a mudar minha vida - uma impressionante imagem holográfica que apareceu acima da cabeça de Tyson. Com um
nó de enjôo no estômago, lembrei-me do que Annabeth dissera sobre os ciclopes: Eles são filhos de espíritos da natureza e deuses... Bem, normalmente, um deus em
particular...

Rodopiando acima de Tyson havia um reluzente tridente verde - o mesmo símbolo que aparecera sobre mim no dia em que Poseidon me reclamou como seu filho. Houve um
momento de silêncio reverente. Ser reclamado era um evento raro. Alguns campistas aguardavam a vida inteira em vão. Quando fui reclamado por Poseidnii no último
verão, todos se ajoelharam respeitosamente. Mas ali eles seguiram o exemplo de Tântalo: e Tântalo caiu na gargalhada. - Bem! Acho que agora sabemos onde pôr a besta-fera.
Pelos deuses, posso ver a familiar semelhança! Todos riram, exceto Annabeth e alguns dos meus outros amigos. Tyson pareceu nem notar. Estava perplexo demais, tentando
espantar o tridente reluzente que agora desaparecia pouco a pouco. Ele era muito inocente para entender quanto estavam rindo à custa dele, e como as pessoas eram
cruéis. Mas eu entendi. Eu tinha um novo companheiro de chalé. E tinha um monstro como meio-irmão.


SEIS - O ataque dos pombos demoníacos
Os dias que se seguiram foram uma tortura, bem como Tântalo queria. Primeiro, havia Tyson se mudando para o chalé de Poseidon, dando risadinhas consigo mesmo a cada
quinze segundos e dizendo: - Percy é meu irmão? - Como se tivesse acabado de ganhar na loteria. - Ei, Tyson - dizia eu. - Não é assim tão simples. Mas não havia
como explicar a ele. Ele estava nas nuvens. E eu... por mais que gostasse do grandão, não podia deixar de me sentir sem graça. Envergonhado. Pronto, falei. Meu pai,
o todo-poderoso Poseidon, ficara enrabichado por algum espírito da natureza, e Tyson era o resultado. Quer dizer, eu tinha lido os mitos sobre os ciclopes. Até lembrava
que eles eram, freqüentemente, filhos de Poseidon. Mas nunca tinha me dado conta de que isso fazia deles... minha família. Até ter Tyson morando comigo, no beliche
ao lado. Depois, havia os comentários dos outros campistas. De repente, eu não era Percy Jackson, o cara legal que recuperara o relâmpago de Zeus no último verão.
Agora eu era Percy Jackson, o pobre idiota que tinha um monstro feioso como irmão. - Ele não é meu irmão de verdade! - eu protestava sempre que Tyson não estava
por perto. - Ele é mais como um meio-irmão do lado monstruoso da família. Tipo... um meio-irmão de segundo grau ou coisa assim. Ninguém caiu nessa. Eu admito - estava
zangado com meu pai. Sentia que ser seu filho passara a ser uma piada. Annabeth tentou fazer com que eu me sentisse melhor. Sugeriu que forrmássemos uma equipe para
a corrida de bigas, para desviar a cabeça dos problemas. Não me entenda mal - nós dois odiávamos Tântalo e estávamos preocupadíssimos com o acampamento -, mas não
sabíamos o que fazer. Até que nos ocorresse algum plano br ilhant e para salvar a árvore de Thalia, calculamos que poderíamos muito bem participar das corridas.
Afinal, a mãe de Annabeth, Atena, inventara a carruagem, e meu pai criara os cavalos. Juntos, aquela pista ia ser nossa. ***** Uma bela manhã Annabeth e eu estávamos
sentados junto ao lago de canoagem rabiscando esboços de bigas quando alguns engraçadinhos do chalé de Afrodite passaram por lá e me perguntaram se eu precisava
de um delineador para o olho... - Ah! desculpe, olhos. Enquanto eles se afastavam dando risada, Annabeth resmungou: - O que você precisa fazer, Percy, é ignorá-los.
Você não tem culpa de ter um monstro como irmão. - Ele não é meu irmão! - disparei. - E ele também não é um monstro! Annabeth ergueu as sobrancelhas. - Ei, não se
zangue comigo! E, tecnicamente, ele é, sim, um monstro.

- Bem, você lhe deu permissão para entrar no acampamento. - Porque era o único jeito de salvar sua vida! Quer dizei, sinto muito, Percy, eu não esperava que Poseidon
o reclamasse. Os ciclopes são as criaturas mais enganadoras, traiçoeiras... - Ele não é! O que você tem contra os ciclopes, afinal? As orelhas de Annabeth ficaram
rosadas. Tive a sensação de que havia algo que ela não estava me contando - algo ruim. - Esqueça - disse ela. - Agora, o eixo para essa biga... - Você o trata como
se ele fosse uma coisa horrível - falei, - Ele salvou minha vida. Annabeth jogou o lápis no chão e se levantou. - Então talvez você deva projetar uma carruagem com
ele. - Talvez eu deva. - Ótimo! - Ótimo! Ela foi embora tempestuosamente e eu me senti ainda pior do que antes. ***** Nos dias seguintes, tentei manter a cabeça
longe dos problemas. Silena Beauregard, uma das meninas mais agradáveis do chalé de Afrodite, me deu minha primeira aula de equitação em um pégaso. Explicou que
havia apenas um cavalo alado imortal chamado Pégaso, que ainda vagava livre em algum lugar nos céus, mas com o passar das eras ele havia gerado uma porção de filhos,
nenhum de fato tão veloz ou heróico, mas todos com o mesmo nome do primeiro e maior. Sendo filho do deus do mar, jamais gostei de andar pelo céu. Meu pai tinha uma
rivalidade com Zeus, portanto eu tentava permanecer fora dos domínios do senhor dos ares tanto quanto possível. Mas a sensação de cavalgar um cavalo alado foi diferente.
Aquilo não me deixou nem perto do nervosismo de estar em um avião. Talvez fosse porque meu pai criara cavalos da espuma do mar e, assim, os pégasos eram uma espécie
de... território neutro. Eu conseguia entender seus pensamentos. Não ficava surpreso quando meu pégaso saía galopando pelas copas das árvores ou p e r s e g u i
a um bando de gaivotas para dentro de uma nuvem. O problema era que Tyson também queria montar nos "pôneis-galinhas", mas os pégasos ficavam ariscos sempre que ele
se aproximava. Disse a eles por telepatia que Tyson não iria machucá-los mas eles pareciam não acreditar. Isso fazia Tyson chorar. A única pessoa no acampamento
que não tinha o menor problema com Tyson era Beckendorf, do chalé de Hefesto. O deus ferreiro sempre trabalhara com ciclopes nas suas forjas, assim Beckendorf levou
Tyson para o arsenal para ensiná-lo a trabalhar com metais. Disse que faria Tyson fabricar itens mágicos como um mestre num piscar de olhos. Depois do almoço, eu
treinava na arena com o chalé de Apolo. A esgrima sempre fora meu ponto forte. As pessoas diziam que eu era melhor nisso do que qualquer campista nos últimos cem
anos, com exceção, talvez, de Luke. Eu era sempre comparado com Luke.

Eu derrotava os caras de Apolo com facilidade. Devia praticar contra os chalés de Ares e Atena, já que eles tinham os melhores espadachins, mas não me dava bem com
Clarisse e seus irmãos, e depois da discussão com Annabeth simplesmente não queria vê-la. Eu ia às aulas de arco e flecha, muito embora fosse péssimo nisso, e não
era a mesma coisa sem Quíron ensinando. Nas artes e nos trabalhos manuais, comecei a esculpir um busto de Poseidon, mas estava ficando tão parecido com Sylvester
Stallone que o descartei. Escalava a parede de treinamento em nível de dificuldade máximo, com lava e terremoto. E à noite fazia a patrulha de fronteira. Muito embora
Tântalo tivesse insistido em que esquecêssemos de tentar proteger o acampamento, alguns dos campistas mantiveram discretamente a vigia, montando uma escala em nossas
horas vagas. Eu me sentava no topo da Colina Meio-Sangue e observava as dríades indo e vindo, cantando para o pinheiro moribundo. Sátiros levavam suas flautas de
junco e tocavam melodias mágicas da natureza, e por algum tempo as agulhas do pinheiro pareciam ficar mais encorpadas. O aroma das flores da colina ficava um pouco
mais doce e a grama parecia mais verde. Mas, assim que a música parava, a doença tomava de novo o ar. A colina inteira parecia estar infectada, morrendo do veneno
que se infiltrara nas raízes da árvore. Quanto mais eu ficava lá sentado, mais me enfurecia. Luke tinha feito aquilo. Eu me lembrei de seu sorriso dissimulado, da
cicatriz de garra de dragão que atravessava seu rosto. Ele fingira ser meu amigo e todo o tempo fora o servo número 1 de Cronos. Abri a palma da mão. A cicatriz
que Luke me fizera no último verão estava desaparecendo, mas eu ainda podia vê-la - uma ferida branca em forma de asterisco onde seu escorpião das profundezas me
dera uma ferroada. Pensei no que Luke dissera na noite antes de tentar me matar: Adeus, Percy. Uma nova Idade do Ouro está chegando. Você não será parte dela. A
noite, eu tinha mais sonhos com Grover. As vezes ouvia apenas fragmentos da voz dele. Certa vez o ouvi dizer: É aqui. Em outra: Ele gosta de carneiros. Pensei em
contar a Annabeth meus sonhos, mas eu me sentiria um bobo. Isto é: Ele gosta de carneiros? Ela teria achado que eu estava maluco. Na noite anterior à corrida, Tyson
e eu terminamos nossa biga. Ficou legal. Tyson tinha feito as partes metálicas nas forjas do arsenal. Eu havia lixado a madeira e montado a carruagem. Era azul e
branca, com desenhos de ondas nas laterais e um tridente pintado na frente. Depois daquele trabalhão, era mais do que justo que Tyson fosse meu copiloto, embora
eu soubesse que os cavalos não iriam gostar disso e que o peso extra de Tyson me atrasaria. Quando estávamos indo para a cama, Tyson disse: - Você está zangado?
Percebi que estava de cara feia. - Não. Não estou zangado. Ele se deitou em seu beliche e ficou em silêncio no escuro. Seu corpo era grande demais para a cama. Quando
puxava as cobertas, os pés ficavam de fora. - Eu sou um monstro. - Não diga isso. - Tudo bem. Eu vou ser um bom monstro. Assim você não vai precisar ficar zangado.
Eu não sabia o que dizer. Olhei para o teto e me senti como se tivesse morrendo devagar, junto com a árvore de Thalia.

- É só que... eu nunca tive um meio-irmão antes. ­ Tentei impedir que minha voz falhasse. - É mesmo diferente para mim. E estou preocupado com o acampamento. E um
outro amigo meu, Grover... ele pode estar com problemas. Fico me sentindo como se devesse fazer alguma coisa para ajudar, mas não sei o quê. Tyson não disse nada.
- Desculpe-me - falei. - Não é sua culpa. Estou zangado com Poseidon. Sinto que ele está tentando me atrapalhar, tipo, está tentando nos confrontar ou coisa assim,
e eu não entendo por quê. Ouvi um som surdo e profundo. Tyson estava roncando. Eu suspirei. - Boa noite, grandão. E também fechei os olhos. ***** No meu sonho, Grover
estava usando um vestido de noiva. Não lhe caía muito bem. O vestido era comprido demais e a barra estava encrostada de lama seca. O decote ficava escorregando dos
ombros. Um véu esfarrapado cobria seu rosto. Ele estava em uma caverna úmida, iluminada somente por tochas. Havia um catre num canto e um tear antiquado em outro,
com um pedaço de pano branco tecido na armação. E Grover olhava diretamente para mim, como se eu fosse um programa de tevê que ele aguardava. - Graças aos deuses!
- gemeu ele. -Você pode me ouvir? Meu eu do sonho demorou a responder. Ainda estava olhando em volta, tentando entender o teto de estalactites, o mau cheiro de carneiros
e bodes, os sons de rosnados, resmungos e balidos que pareciam vir de trás de uma rocha do tamanho de uma geladeira, que bloqueava a única saída do recinto como
se houvesse uma caverna muito maior atrás dela. - Percy? - disse Grover. - Por favor, não tenho forças para me projetar melhor. Você precisa me ouvir! - Estou ouvindo
- falei. - Grover, o que está acontecendo? De trás da rocha, uma voz monstruosa gritou: - Docinho! Você já está pronta? Grover se encolheu. Ele gritou em falsete:
- Ainda não, meu amor! Mais alguns dias! - Ah! Já não se passaram duas semanas? - N-não, meu amor. Só cinco dias. Ainda faltam mais doze. O monstro ficou em silêncio,
talvez tentando fazer a conta. Ele devia ser pior do que eu em aritmética, porque disse: - Está bem, mas ande logo! Eu quero VEEEEER embaixo desse véu, he-he-he.
Grover virou-se novamente para mim. - Você precisa me ajudar! Não há mais tempo! Estou preso nesta caverna. Em uma ilha, no mar.

- Onde? - Não sei exatamente! Fui para a Flórida e entrei à esquerda. - O quê? Como você... - É uma armadilha! - disse Grover. - Por isso nenhum sátiro jamais retornou
de sua missão. Ele é um pastor, Percy! E ele está com aquilo. Sua natureza mágica é tão poderosa que cheira exatamente como o grande deus Pan! Os sátiros vêm aqui
pensando que encontraram Pan e são apanhados e comidos por Polifemo! - Poli-quem? - O ciclope! - disse Grover, exasperado. - Quase escapei. Fui até Santo Agostinho.
- Mas ele o seguiu - falei, lembrando meu primeiro sonho. ­ E o encurralou numa loja de noivas. - É isso - disse Grover. - Minha primeira conexão empática deve ter
funcionado, então. Olhe, este vestido de noiva é a única coisa que me mantém vivo. Ele gostou do meu cheiro, mas disse que era apenas um perfume com aroma de bode.
Por sorte ele não enxerga muito bem. O olho ainda está meio cego, da última vez que alguém o golpeou. Mas logo vai perceber quem eu sou. Está só me dando duas semanas
para terminar a cauda do vestido, e está ficando impaciente! - Espere um minuto. O ciclope pensa que você é... - Sim! - resmungou Grover. - Ele pensa que sou uma
dama ciclope, e quer se casar comigo! Em circunstâncias diferentes, eu teria explodido numa gargalhada, mas a voz de Grover era muito séria. Ele estava tremendo
de medo. - Eu vou salvá-lo - prometi. - Onde você está? - No Mar de Monstros, é claro! - Mar de quê? - Já disse! Não sei exatamente onde fica! E, olhe, Percy...
Ahn, eu sinto muito por isso, mas essa conexão empática... bem, eu não tive escolha. Nossas emoções estão ligadas agora. Se eu morrer... - Nem me diga. Eu morro
também. - Ah, bem, talvez não! Você pode viver por anos em esta do vegetativo. Mas, ahn, seria muito melhor se você me tirasse daqui. - Docinho! - berrou o monstro.
- É hora do jantar! Ai, que delícia, carne de carneiro! Grover choramingou. - Preciso ir. Venha depressa! - Espere! Você disse que "aquilo" estava aí. Aquilo o quê?
Mas a voz de Grover já ficava mais fraca. - Bons sonhos. Não me deixe morrer! O sonho se apagou, e acordei assustado. Era o começo da manhã. Tyson estava me olhando,
seu único olho castanho cheio de preocupação.

- Você está bem? - perguntou. A voz me deu um calafrio na espinha, pois era exatamente como a do monstro que eu ouvira em meu sonho. ***** A manhã da corrida estava
quente e úmida. A névoa estava baixa sobre a terra, como vapor de sauna. Milhões de pássaros se empoleiravam nas árvores - gordos pombos cinza e brancos, só que
eles não arruinavam como pombos comuns. Soltavam aqueles desagradáveis guinchos metálicos que me lembravam radar de submarino. A pista da corrida fora construída
em um campo gramado entre a linha de arco-e-fíecha e os bosques. O chalé de Hefesto usou os touros de bronze, completamente domesticados depois que as cabeças foram
esmagadas, para preparar uma pista oval em questão de minutos. Havia fileiras de degraus de pedra para os espectadores ­ Tântalo, os sátiros, algumas dríades e todos
os campistas que não estavam participando. O sr. D não apareceu. Ele nunca acordava antes das dez horas. - Certo! - anunciou Tântalo quando as equipes começaram
a se reunir. Uma náiade levara para ele um grande prato de doces, e enquanto Tântalo falava, sua mão direita perseguia uma bomba de chocolate pela mesa do juiz.
- Vocês todos conhecem as regras. Uma pista de quatrocentos metros. Duas voltas para vencer. Dois cavalos por biga. Cada equipe será composta de um auriga e um lutador.
São permitidas armas. Esperem por truques sujos. Mas tentem não matar ninguém! ­ Tântalo sorriu para nós como se todos fôssemos crianças travessas. - Qualquer morte
resultará em punição severa. Sem guloseimas junto à fogueira por uma semana. Agora, preparem suas carruagens! Beckendorf liderou a equipe de Hefesto até a pista.
Eles tinham uma biga toda de bronze e ferro - inclusive os cavalos, que eram autômatos mágicos, como os touros da Cólquida da história dos argonautas. Não tinha
dúvidas de que a carruagem deles tinha todos os tipos de armadilhas mecânicas, e itens mais sofisticados que os de uma super Maserati. A biga de Ares era vermelho-sangue,
puxada por dois medonhos esqueletos de cavalo. Clarisse embarcou com um feixe de lanças, clavas, bolas de pregos e outros brinquedos detestáveis. A de Apolo era
elegante e graciosa, inteiramente dourada, puxada por dois belos cavalos baios. Seu lutador estava armado com um arco, embora tivesse prometido não disparar flechas
comuns, com ponta, contra os aurigas oponentes. A de Hermes era verde e tinha aparência de um pouco velha, como se não saísse da garagem havia anos. Não parecia
nada especial, mas era conduzida pelos irmãos Stoll, e estremeci só de pensar nos truques sujos que eles haviam armado. Restavam duas carruagens: uma, conduzida
por Annabeth, e outra, por mim. Antes do começo da corrida, tentei me aproximar de Ann.i beth e lhe contar meu sonho. Ela se animou quando mencionei Grover, mas
quando mencionei o que ele dissera, ela ficou distante outra vez, desconfiada. - Você está tentando me distrair - concluiu. - O quê? Não, não estou! - Ora! Como
se Grover, por mero acaso, tivesse tropeçado na única coisa que poderia salvar o acampamento.

- O que você quer dizer? Ela revirou os olhos. - Volte para sua biga, Percy. - Eu não estou inventando isso. Ele está em perigo, Annabeth. Ela hesitou. Pude perceber
que tentava decidir se devia ou não confiar em mim. A despeito das brigas ocasionais, passamos por muita coisa juntos, e eu sabia que ela jamais desejaria que algo
de ruim acontecesse a Grover. - Percy, uma conexão empática é muito difícil de ser feita. Quer dizer, é mais provável que você estivesse mesmo sonhando. - O Oráculo
- disse eu. - Podíamos consultar o Oráculo. Annabeth franziu a testa. No último verão antes de minha missão, eu visitara o estranho espírito que morava no sótão
da Casa Grande, e ele me fizera uma profecia que se realizara de um modo que eu jamais imaginaria. A experiência tinha me aterrorizado por meses. Annabeth sabia
que eu nunca sugeriria voltar lá se não estivesse falando realmente a sério. Antes que ela pudesse responder, a trombeta de concha soou. - Aurigas! - bradou Tântalo.
- Aos seus lugares! - Conversamos mais tarde - disse Annabeth. - Depois que eu vencer. Enquanto eu caminhava de volta para a biga, notei que havia mais pombos nas
árvores - guinchando como loucos, fazendo a floresta inteira farfalhar. Ninguém mais parecia estar prestando atenção, mas eles me deixavam nervoso. Os bicos cintilavam
de modo estranho. Os olhos pareciam mais brilhantes que os de pássaros comuns. Tyson estava tendo problemas em controlar nossos cavalos. Precisei conversar com eles
por um bom tempo até se acalmarem. Ele é um monstro, senhor!, eles se queixaram para mim. Ele é um filho de Poseídon, disse a eles. Assim como... bem, assim como
eu. Não!, eles insistiram. Monstro! Comedor de cavalos!Não confiamos! Eu lhes darei torrões de açúcar no final da corrida, falei. Torrões de açúcar? Torrões de açúcar
muito grandes. E maçãs. Eu tinha falado das maçãs? Por fim, concordaram em deixar que eu os atrelasse. Agora, se você nunca viu uma biga grega, ela é construída
para ser veloz, não para conforto e segurança. É basicamente um cesto de madeira, aberto atrás, montado sobre um eixo entre duas rodas. Quem conduz fica em pé o
tempo todo, e a gente sente cada solavanco da estrada. É feita com uma madeira tão leve que se você perder o controle nas curvas fechadas em uma extremidade ou outra
da pista provavelmente vai capotar, esmigalhando tanto a carruagem como a si mesmo. Tem mais adrenalina que andar de skate.

Segurei as rédeas e manobrei para a linha de partida. Entreguei a Tyson uma vara de três metros e disse a ele que sua função seria empurrar para longe as outras
bigas se elas chegassem perto demais, e desviar qualquer coisa que tentassem atirar em nós. - Sem bater nos pôneis com o pau - insistiu ele. - Certo - concordei.
- Nem nas pessoas, se você puder evitar. Vamos jogar limpo. Apenas afaste as distrações e deixe que eu me concentre em conduzir. - Vamos vencer! - ele alardeou.
A gente ia perder feio, pensei comigo mesmo, mas eu tinha de tentar. Queria mostrar aos outros... bem, não sabia o quê, exatamente. Que Tyson não era um cara assim
tão mau? Que eu não estava envergonhado de ser visto com ele em público? Que eles não tinham me ofendido com todas as suas piadas e provocações! Quando as carruagens
se alinharam, mais pombos de olhos brilhantes se juntaram nos bosques. Guinchavam tão alto que os campistas na arquibancada estavam começando a reparar, olhando
nervosos para as árvores, que tremiam sob o peso dos pássaros. Tântalo não parecia preocupado, mas teve de falar mais alto para ser ouvido. - Aurigas! - bradou ele.
- Tomem suas posições! Ele ergueu a mão e o sinal de partida desceu. As carruagens dispararam, fazendo barulho. Cascos ressoaram contra o pó. A multidão vibrou.
Quase imediatamente se ouviu um alto e desagradável crac! Olhei para trás a tempo de ver a biga de Apolo virar de repente. Hermes colidira com ela - talvez por engano,
talvez não. A equipe de Hermes Travis e Connor - riu da boa sorte, mas não por muito tempo. Os cavalos de Apolo chocaram-se contra os dela, e a biga de Hermes também
virou, deixando uma pilha de madeira quebrada e quatro cavalos empinando na poeira. Duas carruagens eliminadas nos primeiros seis metros. Adorei o esporte. Voltei
a prestar atenção à minha frente. Nosso tempo era bom, estávamos na frente de Ares, mas a vantagem da biga de Annabeth era muito grande. Ela já estava contornando
a primeira coluna, seu lanceiro com um sorriso arreganhado, acenando para nós e gritando: Até mais! A carruagem de Hefesto também começava a nos alcançar. Beckendorf
apertou um botão e um painel se abriu na lateral da carruagem. - Desculpe-me, Percy! - gritou ele. Três conjuntos de bolas e correntes foram atirados diretamente
para nossas rodas. Teriam nos destroçado por completo se Tyson não as tivesse desviado para o lado com um movimento rápido de sua vara. Ele deu um bom empurrão na
biga de Hefesto, que saiu deslizando de lado enquanto seguíamos em frente. - Bom trabalho, Tyson! - gritei. - Passarinhos! - gritou. - O quê?


Estávamos em tal disparada que era difícil ouvir ou ver alguma coisa, mas Tyson apontou para os bosques, e vi o que o preocupava. Os pombos tinham saído das árvores.
Estavam voando em espiral como um enorme tornado, em direção à pista. E daí, disse para mim mesmo. São apenas pombos. Tentei me concentrar na corrida. Completamos
nossa primeira volta, as rodas rangendo embaixo de nós, a biga ameaçando tombar, mas agora estávamos a apenas três metros de Annabeth. Se ao menos pudesse chegar
um pouco mais perto, Tyson poderia usar sua vara... O guerreiro de Annabeth não estava mais sorrindo. Puxou um dardo de sua coleção e mirou em mim. Estava prestes
a lançá-lo quando ouvimos os gritos. Os pombos estavam se aglomerando - milhares deles mergulhando sobre os espectadores na arquibancada, atacando as outras bigas.
Beckendorf estava cercado. Seu guerreiro tentou espantar os pássaros a pauladas, mas não conseguia enxergar nada. A biga deu uma guinada e saiu rasgando um caminho
no meio dos campos de morangos, os cavalos mecânicos soltando vapor. Na carruagem de Ares, Clarisse gritou uma ordem para seu guerreiro, que rapidamente jogou uma
tela de camuflagem por cima de seu cesto. Os pássaros enxamearam em volta dela, bicando e arranhando as mãos do guerreiro enquanto ele tentava segurar a rede no
alto, mas Clarisse apenas trincou os dentes e continuou guiando. Seus cavalos esqueléticos pareciam imunes à distração. Os pombos bicavam inutilmente as órbitas
vazias e voavam por entre suas costelas, mas os corcéis continuavam correndo. Os espectadores não tiveram tanta sorte. Os pássaros atacavam qualquer pedaço de carne
exposta, levando todos ao pânico. Agora que os pássaros estavam mais perto, ficou claro que não eram pombos normais. Seus olhos eram pequenos, brilhantes e perversos.
Os bicos eram de bronze e, a julgar pelos gritos dos campistas, deviam ser afiados como navalhas. - Pássaros de Estinfália! - gritou Annabeth. Ela reduziu a velocidade
e emparelhou sua biga com a minha.Vão descarnar todo o mundo até os ossos se não os espantarmos! - Tyson - disse eu -, meia-volta! - Pegamos o caminho errado? -
perguntou ele. - Sempre - resmunguei, mas manobrei a biga na direção da arquibancada. Annabeth seguia bem ao meu lado. Ela gritou: - Heróis, às armas! Mas eu não
tinha certeza se alguém poderia ouvi-la, com os guinchos dos pássaros e todo aquele caos. Segurei as rédeas com uma das mãos e consegui empunhar Contracorrente,
enquanto uma onda de pássaros mergulhava sobre meu rosto, os bicos metálicos batendo. Golpeei-os no ar, e eles explodiram em pó e penas, mas ainda restavam milhões
deles. Um me pegou no traseiro, e quase pulei para fora da biga. Annabeth não estava com muito mais sorte. Quanto mais perto chegávamos da arquibancada, mais compacta
ficava a nuvem de pássaros. Alguns dos espectadores tentavam se defender. Os campistas de Atena gritavam por escudos. Os arqueiros do chalé de Apolo carregaram seus
arcos e flechas, prontos para exterminar a ameaça, mas com tantos campistas misturados com os pássaros não era seguro disparar.

- São pássaros demais! - gritei para Annabeth. - Como a gente se livra deles? Ela golpeou um pombo com a faca. - Hércules usou barulho! Címbalos de bronze! Ele os
espantou com o som mais horrível que conseguiu... Os olhos dela se arregalaram. - Percy... A coleção de Quíron! Entendi imediatamente. - Acha que vai funcionar?
Ela entregou as rédeas ao guerreiro e pulou de sua biga para a minha como se fosse a coisa mais fácil do mundo. - Para a Casa Grande! É nossa única chance! Clarisse
acabara de cruzar a linha de chegada, sem adversários, e parecia só então ter notado como era sério o problema dos pássaros. Quando viu que nos afastávamos, gritou:
- Vocês estão fugindo? A luta é aqui, seus covardes! Ela puxou a espada e investiu para a arquibancada. Fiz os cavalos galoparem. A biga passou com barulho pelos
campos de morangos, atravessou a quadra de vôlei e parou bruscamente na frente da Casa Grande. Annabeth e eu corremos para dentro, disparando pelo corredor até o
alojamento de Quíron. O aparelho de som ainda estava na mesa-de-cabeceira, e também seus CDs favoritos. Agarrei o mais repulsivo que pude encontrar, Annabeth agarrou
o aparelho e corremos juntos de volta para fora. Na pista, as carruagens estavam em chamas. Campistas feridos corriam em todas as direções, com pássaros dilacerando-lhes
as roupas e arrancando-lhes os cabelos, enquanto Tântalo perseguia doces do café-da-manhã em volta da arquibancada, gritando de vez em quando: - Está tudo sob controle!
Não se preocupem! Paramos a carruagem na linha de chegada. Annabeth preparou o som. Rezei para as pilhas não estarem fracas. Apertei o PLAY, e o favorito de Quíron
começou a tocar ­ Os maiores sucessos de Dean Martin. De repente o ar se encheu com o som violinos e de um bando de caras resmungando em italiano. Os pombos demoníacos
enlouqueceram. Começaram a voar círculos, colidindo uns com os outros como se quisessem explodir seus miolos. Depois, abandonaram de vez a pista e voaram para o
céu em uma enorme onda escura. - Agora! - bradou Annabeth. - Arqueiros! Sem obstrução, a mira dos arqueiros de Apolo era infalível. A maioria conseguia disparar
cinco ou seis flechas de uma vez. Em minutos, o chão estava coalhado de pombos de bico de bronze mortos, e os sobreviventes eram um distante rasto de fumaça no horizonte.
O acampamento estava a salvo, mas a devastação não era bonita de ver. A maioria das bigas tinha sido completamente destruída. Quase todos estavam feridos, sangrando
com bicadas múltiplas dos pássaros. As meninas do chalé de Afrodite gritavam porque seus penteados tinham sido arruinados e suas roupas estavam sujas de cocô de
pombo.

- Bravo! - disse Tântalo, mas não estava olhando para mim ou para Annabeth. - Temos nossa primeira vencedora! - Ele foi até a linha de chegada e premiou com os louros
dourados uma Clarisse perplexa. Ele então se virou e sorriu para mim. - E, agora, a punição para os desordeiros que tumultuaram a corrida.


SETE - Eu aceito presentes de um estranho
Na visão de Tântalo, os pássaros de Estinfália estavam simplesmente na deles, nos bosques, e não teriam atacado se Annabeth, Tyson e eu não os tivéssemos perturbado
ao conduzirmos mal nossas bigas. Aquilo foi tão completamente injusto que mandei Tântalo ir perseguir um donut, o que não contribuiu para melhorar seu estado de
espírito. Ele nos condenou a prestar serviço na cozinha - lavar panelas e pratos a tarde inteira na cozinha subterrânea com as harpias da limpeza. As harpias lavavam
com lava, em vez de água, para obter aquele brilho extralimpo e matar noventa e nove vírgula nove por cento de todos os germes; portanto, Annabeth e eu tivemos de
usar luvas e aventais de asbesto. Tyson não se importou. Mergulhou as mãos sem proteção e começou a esfregar, mas Annabeth e eu tivemos de sofrer durante horas de
trabalho quente e perigoso, especialmente porque havia toneladas de pratos extras. Tântalo ordenara um banquete especial para celebrar a vitória da carruagem de
Clarisse uma refeição completa, incluindo pássaros-da-morte de Estinfália fritos à moda caipira. A única coisa boa no nosso castigo foi ter proporcionado a Annabeth
e a mim um inimigo comum e muito tempo para conversar. Depois de ouvir novamente meu sonho com Grover, ela pareceu começar a acreditar. Se ele encontrou mesmo aquilo
- murmurou ela -, e se nós pudermos resgatar... - Espere aí - disse eu. - Você age como se aquilo... o que quer que Grover tenha encontrado, fosse a única coisa
do mundo capaz de salvar o acampamento. O que é aquilo? - Vou lhe dar uma dica. O que você consegue quando arrancando pele de um carneiro? - Ficar todo sujo? Ela
suspirou. - Um velocino. A pele do carneiro se chama velocino. E se por acaso o carneiro tem lã de ouro... - O Velocino de Ouro. Você está falando sério? Annabeth
jogou um prato cheio de ossos de pássaro-da-morte na lava. - Percy, está lembrado das Irmãs Cinzentas? Elas disseram que sabiam onde estava aquilo que você procura.
E mencionaram Jasão. Três mil anos atrás, elas disseram a ele como encontrar o Velocino de Ouro. Conhece a história de Jasão e dos argonautas? - Sim - falei. - Aquele
filme antigo com os esqueletos de barro. Annabeth revirou os olhos. - Ah, meus deuses, Percy! Você não tem jeito mesmo. - O quê? - perguntei. - Apenas ouça. A verdadeira
história do Velocino: havia aqueles dois filhos de Zeus, Cadmo e Europa, certo? Eles estavam para ser oferecidos como sacrifício humano quando imploraram a Zeus
que os salvasse. Então Zeus enviou aquele carneiro voador mágico com sua lã de ouro, que os recolheu na Grécia e os transportou até Cólquida, na Ásia Menor. Bem,
na verdade ele transportou Cadmo. Europa caiu e morreu no caminho, mas isso não é importante.

- Provavelmente foi importante para ela. - A questão é que, quando Cadmo chegou a Cólquida, sacrificou o carneiro de ouro aos deuses e pendurou o Velocino em um
árvore no meio do reino. O Velocino levou prosperidade à terra. Os animais pararam de adoecer. As plantas cresceram melhor. Os lavradores tiveram colheitas fartas.
Nunca havia o castigo das pragas. É por isso que Jasão queria o Velocino. Ele é capaz de revitalizar qualquer terra onde for
colocado. Cura doenças, fortalece a
natureza, limpa a poluição... - Poderia curar a árvore de Thalia. Annabeth assentiu. - E deixar as fronteiras do Acampamento Meio-Sangue muito mais fortes. Mas,
Percy, o Velocino está desaparecido há séculos. Toneladas de heróis já buscaram por ele e não tiveram sorte. - Mas Grover o encontrou - falei. - Ele saiu à procura
de Pan e encontrou o Velocino em vez disso, porque ambos irradiam uma natureza mágica. Faz sentido, Annabeth. Podemos salvá-lo e salvar o acampamento ao mesmo tempo.
É perfeito! Annabeth hesitou. - Um pouco perfeito demais, não acha? E se for uma armadilha? Lembrei-me do último verão, quando Cronos manobrou nossa missão. Ele
quase nos enrolou, e íamos ajudá-lo a começar uma guerra que teria destruído a civilização ocidental. - Que escolha temos? - perguntei. - Você vai me ajudar a salvar
Grover ou não? Ela deu uma olhada para Tyson, que perdera o interesse na conversa e estava alegremente fazendo barcos de brinquedo com copos e colheres na lava.
- Percy - disse ela em voz baixa -, vamos ter de lutar contra um ciclope. Polifemo, o pior deles. E só existe um lugar onde pode estar a ilha dele. O Mar de Monstros.
- Onde fica isso? Ela me olhou como se pensasse que eu estava me fazendo de bobo. - O Mar de Monstros. O mesmo mar onde Ulisses navegou, e também Jasão, Eneias e
todos os outros. - Você quer dizer o Mediterrâneo? - Não. Bem, sim... mas não. - Mais uma resposta direta. Obrigado. - Veja, Percy, o Mar de Monstros é o mar que
todos os heróis atravessam em suas aventuras. Costumava ficar no Mediterrâneo,sim. Mas, como tudo mais, muda de lugar quando muda o centro de poder do Ocidente.
- Como o Monte Olimpo no alto do edifício Empire State - disse eu. - E o Hades embaixo de Los Angeles. - Certo. - Mas um mar inteiro de monstros... como você poderia
esconder algo assim? Os mortais não teriam notado coisas estranhas acontecendo... tipo, navios sendo devorados e coisas do gênero?

- É claro que eles notam. Não entendem, mas sabem que algo é estranho naquela parte do oceano. O Mar de Monstros agora fica na Costa Leste dos Estados Unidos, logo
a noroeste da Flórida. Os mortais até têm um nome para ele. - O Triângulo das Bermudas? - Exatamente. Deixei aquilo amadurecer na minha cabeça. Acho que não era
mais estranho do que as outras coisas que tinha aprendido desde que fora para o Acampamento Meio-Sangue. - Certo... então pelo menos sabemos onde procurar. - Ainda
assim, é uma área enorme, Percy. Procurar uma ilha minúscula em águas infestadas por monstros... - Ei, sou filho do deus do mar. É o meu território. Não pode ser
tão difícil. Annabeth juntou as sobrancelhas. - Vamos precisar falar com Tântalo, conseguir aprovação para uma missão. Ele vai dizer não. - Não se contarmos hoje
à noite junto à fogueira, na frente de todo mundo. O acampamento inteiro irá ouvir. Vão pressioná-lo. Ele não vai poder recusar. - Talvez. - Um pouquinho de esperança
surgiu na voz de Annabeth. - É melhor terminarmos com esses pratos. Passe o pulverizador de lava, por favor. ***** Naquela noite, junto à fogueira, o chalé de Apolo
liderou a cantoria. Eles tentaram melhorar o humor de todos, mas não foi fácil depois do ataque dos pássaros naquela tarde. Sentamo-nos em um semicírculo de degraus
de pedra, cantando sem entusiasmo c observando a fogueira arder, enquanto os caras de Apolo tocavam seus violões e tangiam suas liras. Cantamos todas as canções
tradicionais do acampamento: As margens do Egeu, Eu sou meu próprio ta~ta~ta~ta~taravô, Esta terra é a terra de Minos. A fogueira era encantada - assim, quanto mais
alto se cantava, mais alto ela queimava, a cor e o calor variando de acordo com o humor do pessoal. Num dia bom, eu a vira subir a seis metros, tão quente que todos
os marshmallows que estavam mais perto explodiram em chamas. Naquela noite, o fogo chegou a apenas um metro e meio de altura, quase morno, e as chamas tinham a cor
de uma compressa de algodão. Dioniso foi embora cedo. Depois de agüentar algumas canções, resmungou que até mesmo jogar pinoche com Quíron era mais empolgante que
aquilo. Então deu uma olhada desagradável para Tântalo e dirigiu-se de volta à Casa Grande. Quando a última canção acabou, Tântalo disse: - Bem, isso foi adorável!
Ele avançou com um marshmallow assado na ponta de um galho fino e tentou arrancá-lo, com muita naturalidade. Mas, antes que pudesse tocá-lo, o marshmallow saiu voando
do galho. Tântalo tentou apanhá-lo no ar, mas o marshmallow cometeu suicídio, mergulhando nas chamas. Tântalo voltou-se para nós sorrindo friamente. - Agora, então,
alguns avisos sobre a programação de amanhã. - Senhor - disse eu.

O olho de Tântalo contraiu-se num espasmo. - Nosso menino da cozinha tem algo a dizer? Alguns dos campistas de Ares soltaram risadinhas, mas eu não pretendia deixar
que ninguém me deixasse sem graça a ponto de me calar. Fiquei de pé e olhei para Annabeth. Graças aos deuses, ela se levantou comigo. Eu disse: - Temos uma idéia
para salvar o acampamento. Silêncio mortal. Mas pude perceber que ganhara a atenção de todos, porque a fogueira chamejou em amarelo vivo. - É mesmo? - disse Tântalo,
agradavelmente. - Bem, se tiver algo a ver com bigas... - O Velocino de Ouro - disse eu. - Sabemos onde ele está. As chamas arderam em cor laranja. Antes que Tântalo
pudesse me impedir, despejei meu sonho com Grover e a ilha de Polifemo. Annabeth interveio e lembrou a todos o que o Velocino podem fazer. Pareceu mais convincente
vindo dela. - O Velocino pode salvar o acampamento - concluiu. - Tenho certeza disso. - Bobagem, bobagem - disse Tântalo. - Não precisamos ser salvos. Todos o olharam
fixamente, até que ele começou a parecer constrangido. - Além disso - acrescentou depressa -, e o Mar de Monstros? Dificilmente se poderia dizer que esse é um local
exato. Vocês não saberiam nem onde procurar. - Sim, eu saberia - falei. Annabeth se inclinou para mim e sussurrou: - Jura? Assenti, porque Annabeth refrescara algo
na minha memória quando me lembrou da viagem de táxi com as Irmãs Cinzentas. Naquela ocasião, a informação que elas me deram não fez sentido. Mas agora... - Trinta,
31, 75, 12 - disse eu. - Ah, legal! - disse Tântalo. - Obrigado por compartilhar esses números sem sentido. - São coordenadas de navegação. Latitude e longitude.
Eu, ahn, aprendi isso em estudos sociais. Até Annabeth pareceu impressionada. - Trinta graus, 31 minutos Norte, 75 graus, 12 minutos Oeste. Ele está certo! As Irmãs
Cinzentas nos deram essas coordenadas. Deve ser algum lugar do Atlântico, além da costa da Flórida. O Mar de Monstros. Precisamos de uma missão! - Esperem só um
minuto - disse Tântalo. Mas os campistas embarcaram no coro.

- Precisamos de uma missão! Precisamos de uma missão! As chamas se ergueram mais alto. - Isso não é necessário! - insistiu Tântalo. - PRECISAMOS DE UMA MISSÃO! PRECISAMOS
DE UMA MISSÃO! - Ótimo! - gritou Tântalo, os olhos inflamados de raiva. - Vocês, moleques, querem que eu lhes atribua uma missão? - SIM! - Muito bem - concordou.
- Vou autorizar um campeão a empreender essa perigosa jornada, resgatar o Velocino de Ouro e trazê-lo para o acampamento. Ou morrer tentando. Meu coração se encheu
de empolgação. Eu não ia deixar que aquilo me assustasse. Aquilo era o que eu precisava fazer. Iria salvar Grover e o acampamento. Nada iria me deter. - Vou permitir
que nosso campeão consulte o Oráculo! ­ anunciou Tântalo. - E escolha dois companheiros para a jornada. E acho que a escolha do campeão é óbvia. Tântalo olhou para
mim e Annabeth como se quisesse nos esfolar vivos. - O campeão deverá ser alguém que conquistou o respeito do acampamento, alguém que provou ser capaz nas corridas
de bigas, e corajoso na defesa do acampamento. Você deverá liderar a missão... Clarisse! O fogo tremeluziu em mil cores diferentes. O chalé de Ares começou a bater
os pés e a aplaudir: - CLARISSE! CLARISSE! Clarisse levantou-se, parecendo atordoada. Então engoliu em seco, e seu peito se inflou de orgulho. - Eu aceito a missão!
- Espere! - gritei. - Grover é meu amigo. O sonho veio para mim! - Sente-se! - gritou um dos campistas de Ares. - Você teve sua chance no último verão! - Sim, ele
só quer ser o centro das atenções outra vez! - disse outro. Clarisse olhou furiosamente para mim. - Aceito a missão! - repetiu ela. - Eu, Clarisse, filha de Ares,
vou salvar o acampamento! Os campistas de Ares aplaudiram ainda mais. Annabeth protestou, e os outros campistas de Atenas se juntaram a ela. Todos começaram a tomar
partido - gritando e discutindo, e atirando marshmallows. Pensei que aquilo fosse se transformar em uma completa guerra de guloseimas, até que Tântalo gritou: -
Silêncio, moleques! Seu tom impressionou até a mim. - Sentem-se! - ordenou. - E vou lhes contar uma história de fantasma.

Eu não sabia o que ele estava pretendendo, mas todos voltamos, indecisos, aos nossos lugares. A aura malévola que se irradiava de Tântalo era tão forte quanto a
de qualquer monstro que eu já enfrentara. - Era uma vez um rei mortal amado pelos deuses! - Tântalo pôs a mão no peito, e eu tive a sensação de que falava de si
mesmo. - Esse rei - disse - tinha permissão até para se banquetear no Monte Olimpo. Mas, quando tentou levar um pouco de néctar e ambrosia para a Terra, para descobrir
a receita... apenas uma pequena quentinha, vejam só... os deuses o puniram. Eles o baniram de seus salões para sempre! Sua própria gente zombou dele! Seus filhos
o repreenderam! E, ah!, sim, campistas, ele tinha filhos horríveis. Filhos... iguaizinhos... a vocês! Ele apontou um dedo torto para diversas pessoas da platéia,
inclusive eu. - Sabem o que ele fez com os filhos ingratos? ­ perguntou Tântalo suavemente. - Sabem como ele retribuiu aos deuses sua punição cruel? Convidou os
olimpianos para um banquete em seu palácio, só para mostrar que não havia rancor. Ninguém reparou que seus filhos não estavam presentes. E quando ele serviu o jantar
aos deuses, meus caros campistas, vocês podem adivinhar o que havia no cozido? Ninguém ousou responder. A luz do fogo brilhou em azul profundo, refletindo-se de
modo maligno no rosto deformado de Tântalo. - Ah! os deuses o castigaram na vida após a morte - coaxou Tântalo. - Eles fizeram isso, ah!, se fizeram. Mas ele teve
seu momento de satisfação, não teve? Os filhos nunca mais lhe responderam nem questionaram sua autoridade. E vocês sabem o que mais? Diz-se que o espírito do rei
agora reside exatamente neste acampamento, aguardando uma oportunidade de se vingar das crianças ingratas e rebeldes. E agora... mais alguma reclamação antes que
mandemos Clarisse em sua missão? Silêncio. Tântalo acenou com a cabeça para Clarisse. - O Oráculo, querida. Vá em frente. Ela mudou de posição, constrangida, como
se mesmo ela não quisesse a glória ao preço de ser a queridinha de Tântalo. - Senhor... - Vá! - rosnou ele. Ela fez uma reverência desajeitada e correu para a Casa
Grande. - E quanto a você, Percy Jackson? - perguntou Tântalo. - Mais algum comentário do nosso lavador de pratos? Não falei nada. Não ia lhe dar o prazer de me
castigar de novo. - Bom - disse Tântalo. - E deixem-me lembrar a todos: ninguém parte deste acampamento sem minha permissão. Qualquer um que tentar... bem, se sobreviver
à tentativa, será expulso para sempre. Mas as coisas não chegarão a esse ponto. As harpias irão reforçar o toque de recolher de agora em diante, e elas estão sempre
com fome! Boa noite, queridos campistas. Durmam bem. Com um aceno de Tântalo, o fogo se extinguiu, e os campistas seguiram devagar para seus chalés, no escuro. *****

Eu não conseguia explicar a situação a Tyson. Ele sabia que eu estava triste. Sabia que eu queria sair numa viagem e que Tântalo não me deixava. - Você vai de qualquer
jeito? - perguntou ele. - Não sei - admiti. - Seria difícil. Muito difícil. - Eu vou ajudar. - Não. Eu... ahn, não poderia lhe pedir isso, grandão. É perigoso demais.
Tyson baixou os olhos para os pedaços de metal que estava montando no colo - molas e engrenagens, e pequenos arames. Beckendorf lhe dera algumas ferramentas e peças
sobressalentes, e agora Tyson passava todas as noites trabalhando, embora eu não soubesse muito bem como suas mãos enormes conseguiam manejar pecinhas tão delicadas.
- O que está construindo? - perguntei. Tyson não respondeu. Em vez disso, fez um som lamuriento no fundo da garganta. - Annabeth não gosta dos ciclopes. Você...
você não me quer por perto? - Ah! não é isso - falei sem muito entusiasmo. - Annabeth gosta de você. De verdade. Ele tinha lágrimas no canto dos olhos. Lembrei que
Grover, como todos os sátiros, podia ler as emoções humanas. Fiquei pensando se os ciclopes não teriam o mesmo dom. Tyson enrolou seu projeto em um oleado. Deitou-se
na cama e abraçou sua trouxa como se fosse um ursinho de pelúcia. Quando se virou para a parede, pude ver as estranhas cicatrizes em suas costas, como se alguém
tivesse passado um arado por cima dele, com um trator. Me perguntei pela milionésima vez como teria se machucado. Papai sempre se preocupou comigo - fungou ele.
- Agora... acho que ele foi malvado em ter um menino ciclope. Eu não devia ter nascido. - Não fale assim! Poseidon o reclamou, não foi? Então... ele deve se preocupar
com você... muito... Minha voz sumiu quando pensei em todos aqueles anos em que Tyson vivera nas ruas de Nova York, em uma caixa de geladeira de papelão. Como Tyson
podia pensar que Poseidon se preocupava com ele? Que tipo de pai é esse que deixa aquilo acontecer com um filho, mesmo que ele seja um monstro? - Tyson... o acampamento
será um bom lar para você. Os outros vão se acostumar com você. Eu prometo. Tyson suspirou. Esperei que dissesse alguma coisa. Então me dei conta de que ele já estava
dormindo. Deitei-me em minha cama e tentei fechar os olhos, mas não consegui. Estava com medo de ter outro sonho com Grover. Se a conexão empática fosse real...
se algo acontecesse com Grover... será que eu ia acordar? A lua cheia brilhava pela janela. O som das ondas rugia na distância. Eu podia sentir o cheiro morno dos
campos de morangos, e ouvir os risos das dríades perseguindo corujas pela floresta. Mas algo parecia errado naquela noite - a doença da árvore de Thalia, se espalhando
pelo vale.

Será que Clarisse poderia salvar a Colina Meio-Sangue? Pensei que seria mais fácil eu ganhar de Tântalo um prêmio de "Melhor Campista". Levantei-me e me vesti. Peguei
uma toalha de praia e uma embalagem de seis Coca-Colas embaixo da cama. As Cocas eram contra as regras. Não eram permitidos lanches ou bebidas de fora do acampamento,
mas se a gente falasse com o cara certo no chalé de Hermes e lhe pagasse alguns dracmas de ouro, ele podia contrabandear quase tudo da loja de conveniência mais
próxima. Dar uma fugida depois do toque de recolher também era contra as regras. Se fosse pego, estaria numa encrenca enorme, ou seria comido pelas harpias. Mas
eu queria ver o oceano. Sempre me sentia melhor ali. Meus pensamentos ficavam mais claros. Saí do chalé e fui em direção à praia. Estendi a toalha perto do mar e
abri uma Coca. Por alguma razão, o açúcar e a cafeína sempre acalmavam meu cérebro hiperativo. Tentei decidir o que fazer para salvar o acampamento, mas não me ocorreu
nada. Desejei que Poseidon falasse comigo, que me desse um conselho ou o que fosse. O céu estava claro e estrelado. Eu estava conferindo as constelações que Annabeth
me ensinara Sagitário, Hércules, Coroa Boreal - quando alguém disse: - Lindas, não são? Quase cuspi o refrigerante. Em pé, bem ao meu lado, havia um cara de short
de corrida de náilon e camiseta da Maratona de Nova York. Era magro, estava em boa forma, com cabelo grisalho e um sorriso zombeteiro. Parecia meio familiar, mas
não consegui imaginar por quê. Meu primeiro pensamento foi que ele devia estar dando sua corrida da meia-noite na praia e fora parar dentro dos limites do acampamento.
Isso não era para acontecer. Mortais comuns não podiam entrar no vale. Mas, talvez, com o enfraquecimento da magia da árvore, ele tivesse conseguido se infiltrar.
Mas no meio da noite? E ali não havia nada a não ser terras de fazendas e reservas estaduais. De onde aquele cara poderia ter saído? - Posso acompanhá-lo? - perguntou
ele. - Há eras que eu me sento. Bem, eu sei - um cara estranho no meio da noite. Pelo bom senso, eu deveria ter saído correndo e gritando por socorro etc. O cara
agiu de modo tão calmo em relação a tudo que achei difícil ficar com medo. Eu disse: - Ahn, claro. Ele sorriu. - Sua hospitalidade é louvável. Ah, e Coca-Cola! Posso?
Ele se sentou na outra ponta da toalha, abriu um refrigerante e deu um gole. - Ah!... é exatamente o de que eu precisava. Paz e sossego em... Um telefone celular
tocou no bolso dele. O corredor suspirou. Puxou o telefone e meus olhos se arregalaram porque aquilo brilhava com uma luz azulada. Quando ele puxou a antena, duas
criaturas começaram a se contorcer em volta dela - cobras verdes, não maiores do que minhocas.

O corredor pareceu nem notar. Conferiu o visor e praguejou. - Vou ter de atender. Só um segundo... E, então, ao telefone: "Alô?" Ele escutou. As minicobras se contorciam
para cima e para baixo na antena bem ao lado do ouvido dele. "Sim", disse o corredor. "Escute... eu sei, mas... Não me imporia se ele está acorrentado a uma rocha
com abutres bicando seu fígado, se ele não tem um número de protocolo, não podemos localizar seu pacote... Um presente para a humanidade, grande... Tem idéia de
quantos desses nós entregamos... Ah, deixe para lá! Escute, mande-o falar com Éris, no atendimento ao cliente. Preciso desligar." Ele desligou. - Desculpe-me. O
negócio de expresso noturno está em alta. Mas como eu ia dizendo... - Você tem cobras no seu telefone. - O quê? Ah! elas não mordem. Digam olá, George e Martha.
Olá, George e Martha, disse uma voz masculina estridente dentro da minha cabeça. Não seja sarcástico, disse uma voz feminina. Por que não?, perguntou George. Sou
eu que faço todo o trabalho de verdade. - Ora, não vamos começar com isso outra vez! - O corredor enfiou o telefone de volta no bolso. - Agora, onde estávamos...
Ah, sim! Paz e sossego. Ele cruzou os pés e olhou para as estrelas. - Faz tanto tempo desde que consegui relaxar pela última vez! Desde o telégrafo é só... correr,
correr, correr. Você tem uma constelação favorita, Percy? Eu ainda estava meio intrigado com as cobrinhas verdes que ele enfiara no bolso do short, mas disse: -
Ahn, eu gosto de Hércules. - Por quê? - Bem... porque ele tinha um azar desgraçado. Pior ainda que o meu. Faz eu me sentir melhor. O corredor riu. - Não é porque
ele era forte, famoso e tudo isso? - Não. - Você é um jovem interessante. Então, e agora? Entendi imediatamente o que ele estava perguntando. O que eu pretendia
fazer a respeito do Velocino? Antes que pudesse responder, a voz abafada de Martha, a cobra, veio do bolso dele: Estou com Démeter na linha dois. - Agora não - disse
o corredor. - Diga a ela para deixar uma mensagem.

Ela não vai gostar disso. Na última vez em que você a dispensou, todas as flores da divisão de entregas florais murcharam. - Diga-lhe apenas que estou em uma reunião!
- O corredor revirou os olhos. - Desculpe de novo, Percy. Você estava dizendo... - Ahn... quem é você, exatamente? - Ainda não adivinhou, um menino esperto como
você? Mostre a ele!, implorou Martha. Não fico do tamanho normal há meses. Não dê ouvidos a ela!, disse George. Ela só quer se mostrar! O homem pegou o telefone
de novo. - Forma original, por favor. O telefone luziu em azul brilhante. Alongou-se até virar um bastão um metro de comprimento e asas de pombos brotando no topo.
George e Martha, agora cobras verdes de tamanho real, estavam enrolados no meio. Era um caduceu, o símbolo do Chalé 11. Senti um aperto na garganta. Percebi quem
o corredor me lembrava, com suas feições de elfo, o brilho travesso nos olhos... - Você é o pai de Luke - falei. - Hermes. O deus fez um muxoxo. Fincou o caduceu
na areia como se fosse um cabo de guarda-sol. - "Pai de Luke." Normalmente não é esse o modo como as pessoas costumam me apresentar. Deus dos ladrões, sim. Deus
dos mensageiros e dos viajantes, se quiserem ser gentis. Deus dos ladrões funciona, disse George. Ah! não ligue para George, Martha vibrou a língua para mim. Ele
só está azedo porque Hermes gosta mais de mim. Não gosta! Gosta sim! - Comportem-se, vocês dois - advertiu Hermes -, ou vou transformá-los de novo em um telefone
e pôr no vibra-call! Agora, Percy, você ainda não respondeu à minha pergunta. O que pretende fazer com respeito à missão? - Eu... eu não tenho permissão para ir.
- Não, de fato não. Isso vai detê-lo? - Eu quero ir. Preciso salvar Grover. Hermes sorriu. - Certa vez conheci um menino... Ah, de longe mais jovem que você! Apenas
um bebê, na verdade. Lá vamos nós de novo, disse George. Sempre falando de si mesmo.

Quieto!, disparou Martha. Quer ser posto no vibra-call? Hermes os ignorou. - Uma noite, quando a mãe do menino não estava olhando, ele se esgueirou para fora da
caverna e roubou algumas cabeças de gado que pertenciam a Apolo. - Ele foi explodido em pedacinhos? - perguntei. - Humm... não. Na verdade, tudo acabou muito bem.
Para compensar o roubo, o menino deu a Apolo um instrumento que inventara... uma lira. Apolo ficou tão encantado com a música que se esqueceu da raiva. - Então,
qual é a moral? - A moral? - perguntou Hermes. - Céus, você age como se fosse uma fábula. É uma história verdadeira. A verdade tem moral? - Ahn... - Que tal: "Roubar
nem sempre é ruim?" - Não acho que minha mãe fosse gostar disso. Ratos são deliciosos, comentou George. O que isso tem a ver com a história?, perguntou Martha. Nada,
disse George. Mas eu estou com fome. - Já sei - disse Hermes. - Os jovens nem sempre fazem o que lhes mandam, mas se conseguem se dar bem e fazer algo maravilhoso,
às vezes escapam do castigo. Que tal? - Você está dizendo que eu deveria ir de qualquer jeito ­ falei -, mesmo sem permissão. Os olhos de Hermes brilharam. Martha,
quer me passar o primeiro pacote, por favor? Martha abriu a boca... e continuou a abri-la até o vão ficar do tamanho do meu braço. Expeliu um recipiente de inox
- uma garrafa térmica de lancheira à moda antiga, com tampa de plástico preto. Era decorada com cenas da Grécia Antiga em vermelho e amarelo um herói matando um
leão; um herói levantando Cérbero, o cão de três cabeças. - Hércules - disse eu. - Mas como... - Nunca questione um presente - repreendeu Hermes. ­ Isso é um item
de colecionador de Hércules arrebenta cabeças. Primeira temporada. - Hércules arrebenta cabeças? - Uma grande série - suspirou Hermes. - Da época em que a tevê Hefesto
não era só reality shows. É claro que valeria muito mais se eu tivesse a lancheira completa... Ou se ela não tivesse estado na boca de Martha, acrescentou George.
Vou pegá-lo por isso. Martha começou a persegui-lo em volta do caduceu. - Espere um minuto - falei. - Isso é um presente?

- O primeiro de dois presentes - disse Hermes. - Vá e frente, pegue. Quase deixei a garrafa cair, porque estava fria de congelar do um lado e queimando de tão quente
do outro. O mais esquisito era que, quando eu virava a garrafa, o lado que ficava de frente para o oceano - o norte - era sempre o lado frio... - É uma bússola!
- falei. Hermes pareceu surpreso. - Muito engenhoso. Eu nunca tinha pensado nisso. Mas sua utilidade é muito mais radical. Destampe-a e vai libertar os ventos dos
quatro cantos da Terra para despachá-lo mais depressa em seu caminho. Agora não! E, por favor, quando chegar o momento, desenrosque a tampa só um pouquinho. Os ventos
são um pouco como eu - sempre inquietos. Se todos os quatro escaparem de uma vez... ah! mas tenho certeza de que você vai tomar cuidado, E agora, meu segundo presente.
George? Ela está encostando em mim, reclamou George enquanto ele e Martha deslizavam em volta do bastão. - Ela está sempre encostando em você - disse Hermes. - Vocês
estão entrelaçados. E se não pararem com isso vão acabar se dando um nó outra vez! As cobras pararam de brigar. George desconjuntou a mandíbula e tossiu um pequeno
frasco li plástico cheio de pastilhas de vitaminas. - Você está brincando - disse eu. - Têm formato de Minotauro? Hermes pegou o frasco e o chacoalhou. - As de limão,
sim. As de uva são Fúrias, eu acho, Ou seriam índias? De um jeito ou de outro, essas são poderosas. Não tome uma delas a não ser que precise muito, muito mesmo.
- Como vou saber se preciso muito, muito mesmo? - Você saberá, acredite. Nove vitaminas essenciais, minerais, aminoácidos... ah! tudo o de que você precisa para
se sentir você mesmo outra vez. Ele me jogou o frasco. - Ahn, obrigado - disse eu. - Mas Senhor Hermes, porque está me ajudando? Ele me deu um sorriso melancólico.
- Talvez porque eu espere que você possa salvar muitas pessoas nessa missão, Percy. Não apenas seu amigo Grover. Olhei para ele. - Você não quer dizer... Luke? Hermes
não respondeu. - Olhe - falei. - Senhor Hermes, quer dizer, obrigado e tudo mais, mas você pode pegar de volta seus presentes. Luke não pode ser salvo. Mesmo que
eu conseguisse encontrá-lo... Ele me disse que queria destruir o Olimpo pedra por pedra. Traiu todos os que conhecia. Ele... ele odeia você, especialmente. Hermes
olhou de modo contemplativo para as estrelas.

- Meu caro jovem primo, se há algo que aprendi ao longo das eras, é que você não pode desistir da sua família, não importa quanto se sinta tentado a isso. Não importa
que eles o odeiem, o envergonhem ou simplesmente não apreciem seu gênio por ter inventado a Internet... - Você inventou a Internet? Foi idéia minha, disse Martha.
Ratos são deliciosos, disse George. - Foi minha idéia! - falou Hermes. - Quer dizer, a Internet, não os ratos. Mas isso não vem ao caso. Percy, você entende o que
estou dizendo sobre a família? - Eu... eu não tenho certeza. - Um dia entenderá. - Hermes levantou-se e sacudiu a areia das pernas. - Enquanto isso, preciso ir andando.
Você tem sessenta chamadas para retornar, disse Martha. E mil e trinta e oito e-mails, acrescentou George. Sem contar as ofertas para comprar ambrosia on-line com
desconto. - E você, Percy - disse Hermes -, tem um prazo mais curto do que imagina para completar sua missão. Seus amigos devem estar chegando mais ou menos... agora.
Ouvi a voz de Annabeth chamando meu nome das dunas. Tyson, também, estava gritando um pouco mais longe. - Espero ter feito as malas para vocês direito - disse Hermes.
- Tenho certa experiência com viagens. Ele estalou os dedos e três sacos de viagem amarelos apareceram aos meus pés. - A prova d'água, é claro. Se você pedir educadamente,
seu pai é capaz de ajudá-los a chegar até o navio. - Navio? Hermes apontou. É claro: um grande navio de cruzeiro estava atravessando o estreito de Long Island, as
luzes brancas e douradas brilhando na água escura. - Espere - disse eu. - Não estou entendendo nada disso. Eu nem mesmo concordei em ir! - Eu me decidiria nos próximos
cinco minutos, se fosse você aconselhou Hermes. - É quando as harpias chegarão para comê-lo. Agora, boa noite, primo, e... será que ouso dizer? Que os deuses o acompanhem.
Ele abriu a mão e o caduceu voou para ela. Boa sorte, disse Martha. Traga para mim um rato, disse George. O caduceu se transformou no telefone celular e Hermes o
enfiou no bolso.

Ele saiu correndo pela praia. Vinte passos depois, tremeluziu e desapareceu, deixando-me sozinho com uma garrafa térmica, um frasco de vitaminas e cinco minutos
para tomar uma decisão muito difícil.


OITO - Nós embarcamos no princesa Andrômeda
Eu estava olhando para as ondas quando Annabeth e Tyson me acharam. - O que está acontecendo? - perguntou ela. - Ouvi você gritando por socorro! - Eu também! - disse
Tyson. - Ouvi você gritar: "Coisas ruins estão atacando!" - Eu não chamei vocês - falei. - Estou bem. - Mas então quem... - Annabeth notou os três sacos de viagem
amarelos, depois a garrafa térmica e o frasco de vitaminas que eu estava segurando. - Que... - Ouçam bem. Não temos muito tempo. Contei-lhes minha conversa com Hermes.
Quando terminei pude ouvir guinchos a distância - a patrulha de harpias identificando nosso cheiro. - Percy - disse Annabeth. - Temos de partir na missão. - Vamos
ser expulsos, você sabe. Confie em mim, sou especialista em ser expulso. - E daí? Se fracassarmos, não haverá nenhum acampamento para voltar. - Sim, mas você prometeu
a Quíron... Prometi que ia manter você afastado do perigo. Só posso fazer isso indo com você! Tyson pode ficar e contar a eles... - Eu quero ir - disse Tyson. -
Não! - A voz de Annabeth soou quase em pânico. ­ Quer dizer... Vamos lá, Percy. Você sabe que é impossível. Outra vez me perguntei o porquê da antipatia dela pelos
ciclopes. Havia alguma coisa que Annabeth não estava me contando. Ela e Tyson me olharam, esperando uma resposta. Enquanto isso, o navio de cruzeiro se afastava
cada vez mais. A questão era que parte de mim não queria a companhia de Tyson. Eu passara os últimos três dias muito perto do cara, sendo ridicularizado pelos outros
campistas e envergonhado um milhão de vezes por dia, constantemente lembrado de que éramos parentes. Precisava de um pouco de espaço. Alem disso, não sabia quanta
ajuda ele poderia oferecer, ou como eu faria para mantê-lo em segurança. Sem dúvida, ele era forte, mas era uma criancinha em termos de ciclopes, talvez sete ou
oito anos de idade mental. Eu podia imaginá-lo perdendo o controle e começando a chorar enquanto tentávamos passar por algum monstro ou coisa assim. Íamos ser mortos
por causa dele. Por outro lado, o som das harpias estava chegando mais perto... - Não podemos deixá-lo - decidi. - Tântalo vai castigá-lo por termos partido. - Percy
- disse Annabeth, tentando manter a calma -, estamos indo para a ilha de Polifemo! Polifemo é um c-i-c... um c-i-c... - Ela bateu os pés de frustração. Por mais
esperta que fosse, Annabeth também era

disléxica. Poderíamos ficar lá a noite inteira enquanto ela tentava soletrar ciclope. - Você sabe o que eu quero dizer! - Tyson pode vir - insisti -, se ele quiser.
Tyson bateu palmas. - Eu quero! Annabeth me fuzilou com o olhar, mas acho que ela percebeu que eu não ia mudar de idéia. Ou talvez simplesmente soubesse que não
tínhamos tempo para discutir. - Tudo bem - disse ela. - Como chegamos até aquele navio? - Hermes disse que meu pai ajudaria. - E então, Cabeça de Alga? Está esperando
o quê? Eu sempre achei difícil chamar meu pai, ou rezar, ou o que seja, mas avancei para as ondas. - Ahn, pai? - chamei. - Como vão as coisas? - Percy! - sussurrou
Annabeth. - Estamos com pressa! - Precisamos da sua ajuda - falei um pouco mais alto. - Precisamos chegar até aquele navio, tipo antes que sejamos comidos ou coisa
parecida, então... De início, nada aconteceu. As ondas quebravam na praia, como sempre. As harpias pareciam estar logo atrás das dunas. Então, cerca de cem metros
mar adentro, três linhas brancas apareceram na superfície. Moveram-se com velocidade em direção à praia, como garras rasgando o oceano. Quando se aproximaram, as
águas se abriram e as cabeças de três corcéis brancos se ergueram das ondas. Tyson prendeu a respiração. - Peixes-pôneis! Ele estava certo. Quando as criaturas se
arrastaram para a areia, vi que eram cavalos apenas na frente; a metade traseira era de corpos prateados de peixe, com escamas reluzentes e nadadeiras de arco-íris
na cauda. - Cavalos-marinhos! - disse Annabeth. - São lindos. O mais próximo relinchou, agradecendo, e esfregou o focinho cm Annabeth. - Vamos admirá-los depois
- falei. - Vamos! - Ali! - guinchou uma voz atrás de nós. - Crianças más fora dos chalés! Hora do lanche para harpias sortudas! Cinco delas estavam pairando acima
das dunas - pequenas bruxas gorduchas, com a cara chupada, garras e asas de penas, pequenas demais para o corpo. Elas me lembravam um cruzamento de atendente de
lanchonete com passarinho. Não eram muito rápidas, graças aos deuses, mas eram ferozes quando pegavam alguém. - Tyson! - disse eu. - Agarre um saco de viagem!

Ele ainda estava olhando boquiaberto para os cavalos-marinhos. - Tyson! - Ahn? - Venha! Com a ajuda de Annabeth, consegui fazê-lo se mexer. Recolhemos os sacos e
montamos nossos corcéis. Poseidon devia saber que Tyson era um dos passageiros, pois um dos cavalos-marinhos era muito maior que os outros dois - do tamanho certo
para transportar um ciclope. - Eah! - disse eu. Meu cavalo-marinho se virou e mergulhou nas ondas. Annabeth e Tyson seguiram logo atrás. As harpias nos amaldiçoaram,
implorando a seus lanches que voltassem, mas os cavalos-marinhos dispararam sobre a água na velocidade de jet skis. As harpias ficaram para trás, e logo a praia
do Acampamento Meio-Sangue nada mais era senão uma mancha escura. Será que eu voltaria a ver aquele lugar? Naquele momento, porém, eu tinha outros problemas. O navio
de cruzeiro agora crescia diante de nós - nossa carona para a Flórida e o Mar de Monstros. ***** Montar o cavalo-marinho era ainda mais fácil do que montar um pégaso.
Nos deslocamos depressa, com o vento no rosto, disparando nas ondas de modo tão suave e firme que mal precisei me segurar. Quando nos aproximamos do navio, percebi
quanto era enorme. Era como olhar para um edifício em Manhattan. O casco branco tinha pelo menos dez andares, e acima dele havia mais uma dúzia de conveses com balcões
e vigias iluminados. O nome do navio estava pintado logo acima da linha de proa, em letras pretas, iluminadas por um refletor. Levei alguns segundos para decifrá-lo:
PRINCESA ANDRÔMEDA Presa à proa havia uma enorme figura - uma mulher com três andares de altura vestindo uma túnica grega branca, esculpida para parecer que estava
acorrentada à frente do navio. Ela era jovem e linda, com cabelos pretos flutuantes, mas sua expressão era de terror absoluto. Por que alguém iria querer uma princesa
aos gritos na frente do navio de suas férias, eu não tinha idéia. Lembrei-me do mito de Andrômeda e de como ela fora acorrentada a uma rocha pelos próprios pais,
como sacrifício a um monstro marinho. Talvez seu boletim fosse horrível ou coisa assim. De qualquer modo, meu xará Perseu a salvara no último minuto e transformara
o monstro marinho em pedra usando a cabeça da Medusa. Aquele Perseu sempre vencia. É por isso que minha mãe me deu seu nome, muito embora ele fosse um filho de Zeus,
e eu, de Poseidon. O Perseu original foi um dos únicos heróis dos mitos gregos que teve final feliz. Os outros morreram - traídos, espancados, mutilados, envenenados
ou amaldiçoados pelos deuses. Minha mãe esperava que eu herdasse a sorte dele. Do jeito como minha vida ia até ali, eu não estava lá muito otimista. - Como vamos
embarcar? - gritou Annabeth, mais alto que o barulho das ondas. Mas os cavalos-marinhos pareciam saber o que era preciso. Deslizaram ao longo do estibordo do navio,
passando facilmente . Através da enorme esteira, e encostaram-se junto a uma escada de serviço rebitada ao casco.

- Você primeiro - disse a Annabeth. Ela jogou o saco de viagem no ombro e agarrou o primeiro degrau. Depois que ela se içou para a escada, seu cavalo-marinho relinchou
uma despedida e mergulhou na água. Annabeth começou a escalar. Deixeia subir alguns degraus, e então a segui. Por fim restara somente Tyson na água. Seu cavalo-marinho
o estava divertindo com aéreos de trezentos e sessenta graus e saltos para trás, e Tyson ria histericamente, o som reverberando no casco do navio. - Tyson, shhh!
Venha, grandão! - Não podemos levar Arco-íris? - perguntou, o sorriso sumindo. Olhei para ele. - Arco-íris? O cavalo-marinho relinchou, como se tivesse gostado de
seu novo nome. - Ahn, nós temos de ir - disse eu. - Arco-íris... bem, ele não pode subir escadas. Tyson fungou. Ele enterrou a cara na crina do hipocampo. - Vou
sentir saudade, Arco-íris! O cavalo-marinho emitiu um som de relincho que eu podia jurar que era choro. - Quem sabe a gente encontra com ele de novo - sugeri. -
Ah, por favor! - disse Tyson, animando-se imediatamente. - Amanhã! Não fiz nenhuma promessa, mas consegui convencer Tyson a dizer, adeus e a se agarrar à escada.
Com um último relincho triste, Arco-íris, o hipocampo, deu um salto-mortal para trás e mergulhou no mar. ***** A escada levava a um convés de manutenção cheio de
botes salva-vidas amarelos. Havia uma porta dupla trancada, que Annabeth conseguiu arrombar com sua faca e uma boa dose de pragas em grego antigo. Imaginei que teríamos
de nos esgueirar por ali, já que éramos clandestinos e tudo mais, mas depois de examinar alguns corredores e espiar, por cima de um balcão, um enorme corredor central
ladeado por lojas fechadas, comecei a me dar conta de que não havia ninguém de quem nos esconder. Quer dizer, é claro que estávamos no meio da noite, mas andamos
metade da extensão do navio e não encontramos ninguém. Passamos por quarenta ou cinqüenta portas de cabines e não ouvimos ruído algum atrás delas. - É um navio-fantasma
- murmurei. - Não - disse Tyson, manuseando a alça do seu saco de viagem. - Cheiro ruim. Annabeth franziu o cenho. - Não sinto cheiro de nada. - Os ciclopes são
como os sátiros - disse eu. - Eles podem farejar monstros. Não é verdade, Tyson? Ele fez que sim, nervoso. Agora que estávamos longe do Acampamento Meio-Sangue,
a Névoa distorcia seu rosto de novo. A não ser que eu me concentrasse muito, parecia que ele tinha dois olhos, não um.

- Certo - disse Annabeth. - Então está sentindo cheiro de quê, exatamente? - Coisa ruim - respondeu Tyson. - Beleza - resmungou ela. - Isso esclarece tudo. Fomos
para fora, no deque da piscina. Havia fileiras de espreguiçadeiras vazias e um bar fechado com uma cortina de correntes. A água da piscina brilhava de modo fantasmagórico,
ondulando de um lado para o outro com os movimentos do navio. Acima de nós, à frente e atrás, havia mais deques - uma parede de escalada, uma pista de minigolfe,
um restaurante giratório, mas nenhum sinal de vida.

E no entanto... Eu senti algo familiar. Algo perigoso. Tinha a impressão de que, se não estivesse tão cansado e exausto de tanta adrenalina por causa de nossa longa
noite, talvez conseguisse dar um nome ao que estava errado. - Precisamos de um esconderijo - disse eu. - Algum lugar seguro para dormir. - Dormir - concordou Annabeth,
cansada. Exploramos mais alguns corredores até chegarmos a uma suíte vazia no nono deque. A porta estava aberta, o que me pareceu estranho. Havia uma cesta de chocolates
sobre a mesa, uma garrafa gelada de cidra espumante sobre a mesa-de-cabeceira e uma pastilha de hortelã em cima do travesseiro com um bilhete manuscrito que dizia:
Aproveite seu cruzeiro! Abrimos nossos sacos de viagem e descobrimos que Hermes realmente pensara em tudo - roupas, artigos de toalete, rações de acampamento, um
saco ziploc cheio de dinheiro, uma bolsa de couro cheia de dracmas de ouro. Conseguira até mesmo incluir o oleado de Tyson com suas ferramentas e pedaços de metal,
boné de invisibilidade de Annabeth, o que fez os dois se sentirem um pouco melhor. - Vou estar na porta ao lado - disse Annabeth. - Você garotos, não bebam nem comam
nada. - Acha que este lugar é encantado? Ela franziu a testa. - Não sei. Alguma coisa não está certa. De qualquer jeito tenham cuidado. Trancamos nossas portas.
Tyson desabou na cama. Ele mexeu por alguns minutos em um projeto de trabalho em metal - que ainda não me mostrara -, mas logo começou a bocejar. Enrolou seu oleado
e adormeceu. Fiquei deitado na cama, olhando pela vigia. Pensei ter ouvido vozes no corredor, como sussurros. Sabia que não era possível. Andamos pelo navio inteiro
e não vimos ninguém. Mas as vozes me mantiveram acordado. Elas me lembraram a viagem ao Mundo Inferior - os ruídos que os espíritos dos mortos faziam ao passarem.
Por fim meu cansaço levou a melhor. Caí no sono... e tive pior pesadelo até então. ***** Eu estava em uma caverna, à beira de um poço enorme. Conhecia muito bem
o lugar. A entrada para o Tártaro. E reconheci a risada fria que ecoava da escuridão abaixo.

Ora, ora, o jovem herói. A voz era como a lâmina de uma faca raspando pedra. A caminho de outra grande vitória. Eu quis gritar para que Cronos me deixasse em paz.
Quis sacar Contracorrente e derrubá-lo com um golpe. Mas não conseguia mover. E, mesmo que conseguisse, como iria matar alguém que tinha sido destruído - picado
em pedacinhos e lançado nas eternas? Não permita que eu o detenha, disse o titã. Talvez dessa vez, quando fracassar, vá perguntar a si mesmo se vale a pena ser escravo
dos deuses. Como foi mesmo que seu pai demonstrou agradecimento nos últimos tempos? Sua gargalhada encheu a caverna, e subitamente a cena mudou. Era uma caverna
diferente - o quarto-prisão de Grover no covil do ciclope. Grover estava sentado junto ao tear usando seu vestido de noiva encardido, desfazendo em desespero os
fios da cauda inacabada do vestido. - Docinhol - gritou o monstro de trás da rocha. Grover ganiu e começou a tecer os fios de volta. O quarto estremeceu quando a
rocha foi empurrada para o lado. Assomando à porta estava um ciclope tão enorme que fazia Tyson parecer verticalmente desafiado. Tinha dentes amarelos e tortos e
mãos ásperas quase do meu tamanho. Usava uma camiseta desbotada que dizia EXPO MUNDIAL DE CARNEIROS 2001. Devia medir pelo menos cinco metros, porém o mais assustador
era seu enorme olho leitoso, marcado e recoberto por uma teia de catarata não era completamente cego, estava muito perto disso. - O que está fazendo? - perguntou
o monstro. - Nada! - disse Grover em sua voz de falsete. - Só tecendo a cauda do meu vestido de noiva, como pode ver. O ciclope estendeu uma das mãos para dentro
do quarto e tateou até encontrar o tear. Apalpou o tecido. - Não ficou nem um pouco maior! - Ah! ahn, sim, ficou, querido. Está vendo? Acrescentei pelo menos três
centímetros. - Está demorando demais! - urrou o monstro. Então ele farejou o ar. - Você tem um cheiro bom! Como os bodes! - Ah! - Grover forçou uma fraca risadinha.
- Você gosta? É Eau de Chévre. Eu uso só para você. - Mmrnm! - O ciclope mostrou os dentes pontudos. Bom de comer! - Ah, você é tão galanteador! - Chega de atrasos!
- Mas, querido, eu não estou pronta! - Amanhã! - Não, não. Mais dez dias. - Cinco! - Ah! bem, então sete. Se você insiste.

- Sete! Isso é menos que cinco, certo? - Certamente. Ah, sim! O monstro resmungou, não muito satisfeito com sua negociação, mas deixou Grover continuar tecendo e
rolou a rocha de volta a seu lugar. Grover fechou os olhos e respirou fundo, trêmulo, tentando acalmar os nervos. - Depressa, Percy - murmurou ele. - Por favor,
por favor, por favor! ***** Acordei com um apito do navio e uma voz no alto-falante - alguém com um sotaque australiano que parecia alegre demais. - Bom dia, passageiros!
Hoje estaremos no mar o dia inteiro. Tempo excelente para a festa de mambo à beira da piscina! Não esqueçam o bingo de um milhão de dólares no Salão do Kraken à
uma hora, e para os nossos hóspedes especiais, exercícios de estripação no convés principal! Sentei-me na cama. - O que ele disse? Tyson gemeu, ainda meio dormindo.
Estava deitado na cama de barriga para baixo, os pés tão além da beirada que foram parar no banheiro. - O homem alegre disse... exercício com equipamentos? Esperava
que ele estivesse certo, mas então ouvi uma batida insistente na porta interna da suíte. Annabeth enfiou a cabeça para dentro - os cabelos loiros pareciam um ninho
de rato. - Exercício de estripação? Depois de vestidos nos aventuramos a caminhar pelo navio. Ficamos surpresos ao vermos outras pessoas. Uma dúzia de idosos indo
tomar o café-da-manhã. Um pai levando os filhos para um mergulho matinal na piscina. Tripulantes em impecáveis uniformes IM incos tocando os chapéus em saudação
para os passageiros. Ninguém perguntou quem éramos. Ninguém prestou muita atenção em nós. Mas havia algo errado. Quando a família de nadadores passou por nós, o
pai disse aos filhos: - Estamos num cruzeiro. Estamos nos divertindo. - Sim - disseram as três crianças em uníssono, a expressão vazia. - Estamos nos divertindo
à beca. Vamos mergulhar na piscina. Afastaram-se. - Bom-dia! - disse-nos um tripulante, os olhos vidrados. Estamos nos divertindo a bordo do Princesa Andrômeda.
Tenham um bom dia. - Ele se afastou. - Percy, isso é muito estranho - sussurrou Annabeth. - Estão todos em uma espécie de transe.

Depois passamos por uma lanchonete e vimos nosso primeiro monstro. Era um cão do inferno - um mastim preto, na fila do bufê, apoiado nas patas traseiras e com o
focinho enfiado nos ovos mexidos. Devia ser jovem, pois era pequeno em comparação com a maioria - não maior que um urso-escuro. Ainda assim, meu sangue gelou. Eu
quase tinha sido morto por um daqueles antes. O que era mais estranho: um casal de meia-idade estava na fila do bufê logo atrás do cão-demônio, esperando pacientemente
sua vez de se servir dos ovos. Pareciam não estar notando nada de extraordinário. - Perdi a fome - murmurou Tyson. Antes que Annabeth ou eu pudéssemos responder,
uma voz reptiliana veio do corredor: - Maisss ssseisss chegaram ontem. Annabeth fez gestos frenéticos em direção ao esconderijo mais próximo - o banheiro feminino
-, e nós três entramos depressa. Eu estava tão apavorado que nem me ocorreu ficar com vergonha. Alguma coisa, ou melhor, duas coisas passaram deslizando pela porta
do banheiro, fazendo um barulho como o de uma lixa esfregada contra o carpete. - Ssssim - disse uma segunda voz reptiliana. -- Ele osss atrai. Logo essssstaremossss
fortessss. As coisas deslizaram para dentro da lanchonete com um silvo frio que poderia bem ser risada de cobra. Annabeth olhou para mim. - Temos de dar o fora daqui.
- Acha que eu quero ficar no banheiro das meninas? - Do navio, Percy! Temos de dar o fora do navio. - Cheira mal - concordou Tyson. - E os cachorros comem todos
os ovos. Annabeth tem razão. Precisamos dar o fora do banheiro e do navio. Eu estremeci. Se Annabeth e Tyson estavam concordando em alguma coisa, calculei que seria
melhor escutá-los. Então ouvi outra voz do lado de fora - uma voz que me deixou mais gelado que a de qualquer monstro. - ... só uma questão de tempo. Não me pressione,
Agrio! Era Luke, sem dúvida alguma. Jamais esqueceria a voz dele. - Não estou pressionando! - resmungou um outro cara. Sua voz era mais profunda e ainda mais zangada
que a de Luke. Só estou dizendo que se esse jogo não compensar... - Vai compensar - disparou Luke. - Eles vão morder a isca. Agora venha, temos de ir até a suíte
do almirantado e verificar o caixão. As vozes se afastaram pelo corredor. Tyson choramingou. - Saímos agora? Annabeth e eu trocamos olhares e entramos num acordo
silencioso. - Não podemos - disse a Tyson.

- Temos de descobrir o que Luke está aprontando - concordou Annabeth. - E, se possível, vamos lhe dar uma surra, acorrentá-lo e arrastá-lo para o Monte Olimpo.


NOVE - Minha pior reunião de família de todos os tempos
Annabeth se ofereceu para ir sozinha, já que tinha o boné invisibilidade, mas eu a convenci de que era perigoso demais, íamos todos juntos, ou não ia ninguém. -
Ninguém! - votou Tyson. - Por favor. Mas no fim ele foi junto, roendo nervosamente suas unhas enormes. Paramos na cabine só pelo tempo de juntar nossas coisas. Sabíamos
que, independentemente do que acontecesse, não passaríamos outra noite a bordo do navio de zumbis, mesmo que eles tivessem um bingo de um milhão de dólares. Conferi
se Contracorrente estava no meu bolso, e se as vitaminas e a garrafa térmica de Hermes estavam logo na boca do saco de viagem. Não queria que Tyson carregasse tudo,
mas ele insistiu, e Annabeth disse que eu não me preocupasse com isso. Tyson era capaz de carregar no ombro três sacos de viagem cheios com a mesma facilidade co
que eu carregava uma mochila. Nós nos esgueiramos pelos corredores, seguindo as placas VOCÊ ESTÁ AQUI em direção à suíte do almirantado. Annabeth foi na frente,
invisível. Toda vez que passava alguém a gente se escondia, mas a maioria das pessoas que víamos era apenas passageiro zumbis de olhos vidrados. Quando subimos as
escadas para o convés 13, onde deveria est ar a suíte do almirantado, Annabeth sussurrou: - Escondam-se! - e nos empurrou para dentro de um pequeno almoxarifado.
Ouvi dois caras descendo o corredor. - Você viu aquele dragão etíope no porão de carga? - disse im deles. O outro riu. - Sim, é impressionante. Annabeth ainda estava
invisível, mas apertou meu braço com força. Tive a impressão de que conhecia a voz do segundo cara. - Ouvi dizer que vêm vindo mais dois - disse a voz familiar.
- Se continuarem chegando nesse ritmo, rapaz! Não haverá concurso! As vozes foram sumindo no corredor. - Aquele era Chris Rodrigues! - Annabeth tirou o boné e ficou
visível. - Você lembra... do Chalé 11. Eu me lembrava vagamente de Chris, do verão anterior. Era um dos campistas indeterminados que ficaram empacados no chalé de
Hermes porque seu pai olimpiano, ou sua mãe, nunca o reclamaram. Ali, pensando nisso, percebi que não tinha visto Chris no acampamento. - O que um outro meio-sangue
está fazendo aqui? Annabeth sacudiu a cabeça, claramente perturbada. Continuamos seguindo pelo corredor. Eu não precisava mais de mapas para saber que estava chegando
perto de Luke. Sentia algo frio e desagradável - a presença do mal. - Percy. - Annabeth parou de repente. - Olhe.


Ela estava diante de uma parede de vidro que dava para um cânion de vários andares, que atravessava o meio do navio. No fundo estava o convés principal - um centro
comercial cheio de lojas -, mas não foi isso que chamou a atenção de Annabeth. Um grupo de monstros estava reunido na frente da doceria: uma dúzia de gigantes lestrigões,
como os que me atacaram com bolas de queimado, dois cães monstruosos com três cabeças e cauda de dragão e algumas criaturas ainda mais estranhas - fêmeas humanóides
com caudas duplas de serpente, em vez de pernas. - Dracaenae da Cítia -- sussurrou Annabeth. -- Mulheres-dragão. Os monstros estavam em um semicírculo em volta de
um jovem de armadura grega que despedaçava um boneco de palha. Fiquei com um nó na garganta quando percebi que o boneco usava uma camiseta laranja do Acampamento
Meio-Sangue. Enquanto olhávamos, o cara de armadura deu uma estocada na barriga do boneco e rasgou-o de baixo para cima. Voou palha para todos os lados. Os monstros
aplaudiram e gritaram. Annabeth se afastou da janela. Seu rosto estava cinzento. - Vamos - disse-lhe, tentando parecer mais valente do que me sentia. - Quanto antes
acharmos Luke, melhor. No fim do corredor havia uma porta dupla de carvalho que parecia levar a algum lugar importante. Quando estávamos a dez metros, Tyson parou.
- Vozes lá dentro. - Você pode ouvir de tão longe? - perguntei. Tyson fechou os olhos como se estivesse se concentrando ao máximo. Então sua voz mudou, transformando-se
numa imitação rouca da voz de Luke. -... a profecia nós mesmos. Os idiotas não vão saber para que lado virar. Antes que eu pudesse reagir, a voz de Tyson mudou de
novo, agora mais profunda e ríspida, como a do outro cara que ouvimos falando com Luke do lado de fora da lanchonete. - Acha mesmo que o velho homem-cavalo se foi
para sempre? Tyson riu a risada de Luke. - Não podem confiar nele. Não com aqueles esqueletos no armário dele. O envenenamento da árvore foi a última gota. Annabeth
estremeceu. - Pare com isso, Tyson! Como você faz isso? É sinistro! Tyson abriu o olho e pareceu confuso. - Estava só ouvindo. - Continue - disse eu. - O que mais
eles estão dizendo? Tyson fechou o olho de novo. Ele sussurrou na voz do homem zangado: - Silêncio! E, então, na voz de Luke, cochichando:

- Você tem certeza? - Sim - disse Tyson na voz rouca. - Bem aí fora. Era tarde demais quando percebi o que estava acontecendo. - Corram! Foi só o que tive tempo
de dizer, quando as portas do camarote se abriram violentamente e lá estava Luke, ladeado por dois gigantes peludos armados com dardos, as pontas de bronze apontadas
diretamente para os nossos peitos. - Bem - disse Luke, com um sorriso torto. - Ora, ora, são os meus dois primos favoritos. Vão entrando. ***** O camarote era lindo,
e era horrível. A parte linda: enormes janelas curvas ao longo da parede dos fundos, dando para a popa do navio. Mar verde e céu azul se estendiam até o horizonte.
Um tapete persa cobria o chão. Dois sofás de pelúcia ocupavam o meio da sala, uma cama com dossel em um canto e uma mesa de jantar de mogno no outro. A mesa estava
lotada de comida - caixas de pizza, garrafas refrigerante e uma pilha de sanduíches de rosbife em cima de uma bandeja de prata. A parte horrível: sobre uma plataforma
de veludo no fundo sala havia um caixão dourado de três metros. Um sarcófago, decorado com cenas de cidades da Grécia Antiga em chamas e heróis morrendo de modo
pavoroso. Apesar da luz do sol que se filtra pelas janelas, o caixão fazia a sala inteira parecer fria. - Bem - disse Luke, abrindo os braços com orgulho. Um pouco
mais agradável do que o Chalé 11, hein? Ele mudara desde o último verão. Em vez de bermudas camiseta, usava uma camisa toda abotoada, calça caqui e mocassins de
couro. Seu cabelo cor de areia, que era tão rebelde, agora estava aparado curto. Parecia um modelo do mal, mostrando que os vilões fashion de idade universitária
usavam em Harvard naquele verão. Ainda tinha a cicatriz embaixo do olho - uma linha branca irregular, de sua batalha com um dragão. E encostada no sofá estava sua
espada mágica, Mordecostas, brilhando estranhamente com sua lâmina meio-aço, meio-bronze celestial, que podia matar tanto mortais como monstros. - Sentem-se - disse-nos.
Acenou com a mão, e três cadeiras de jantar deslizaram sozinhas para o centro da sala. Nenhum de nós se sentou. Os amigos enormes de Luke ainda apontavam seus dardos
da para nós. Pareciam gêmeos, mas não eram humanos. Mediam cerca de dois metros e meio, para começar, e usavam apenas jeans, provavelmente porque os peitos enormes
já eram recobertos por grossas felpas marrons. Tinham garras no lugar de unhas e os pés eram como patas. Os narizes eram focinhos animalescos e os dentes eram todos
caninos pontudos. - Que falta de cortesia a minha - disse Luke, suavemente. Estes são meus assistentes, Agrios e Oreios. Talvez vocês já tenham ouvido falar deles,
eu não disse nada. Apesar dos dardos apontados para mim, não eram os gêmeos ursos que me assustavam.


Tinha imaginado meu reencontro com Luke muitas vezes desde que ele tentara me matar no último verão. Eu me via corajosamente de pé diante dele, desafiando-o para
um duelo. Mas, agora que estávamos cara a cara, eu mal conseguia impedir que minhas mãos tremessem. - Vocês não conhecem a história de Agrios e Oreios? - perguntou
Luke. - A mãe deles... bem, é triste, de verdade. Afrodite ordenou à jovem mulher que se apaixonasse. Ela se recusou e correu para Ártemis pedindo ajuda. Ártemis
deixou que ela se tornasse uma das suas caçadoras virgens, mas Afrodite teve sua vingança. Enfeitiçou a jovem para que se apaixonasse por um urso. Quando Ártemis
descobriu, ela abandonou a moça, enojada. Típico dos deuses, não acha? Eles brigam entre si e os pobres humanos são apanhados no meio. Os filhos gêmeos da moça,
aqui, Agrios e Oreios, não morrem de amores pelo Olimpo. Mas gostam bastante de meios-sangues, contudo... - Para o almoço - rosnou Agrios. Sua voz rouca era a que
eu tinha ouvido falando com Luke. -Hehe! Hehe! - riu seu irmão, Oreios, lambendo os beiços peludos. Ele continuou rindo como se estivesse tendo uma crise de asma
até que Luke e Agrios o olharam. - Cale a boca, seu idiota! - rosnou Agrios. - Vá se castigar! Oreios choramingou. Arrastou-se até o canto da sala, deixou-se cair
em uma banqueta e bateu a testa contra a mesa de jantar, fazendo tilintar os pratos de prata. Luke agiu como se aquele fosse um comportamento perfeitamente normal.
Acomodou-se no sofá e pôs os pés em cima da mesa de café. - Bem, Percy, deixamos você sobreviver mais um ano. Espero que tenha gostado. Como vai sua mãe? Como vai
a escola? - Você envenenou a árvore de Thalia. Luke suspirou. - Direto ao ponto, não é? Ok., envenenei mesmo a árvore. E daí? - Como pôde fazer isso? - Annabeth
parecia tão zangada que pensei que ela fosse explodir. - Thalia salvou sua vida! Nossas vidas! Como pôde desonrá-la... - Eu não a desonrei! - disparou Luke. - Os
deuses a desonraram, Annabeth! Se Thalia estivesse viva, estaria do meu lado. - Mentiroso! - Se você soubesse o que ia acontecer, entenderia... - Eu entendo que
você quer destruir o acampamento! - gritou ela. - Você é um monstro! Luke sacudiu a cabeça. - Os deuses a cegaram. Você não consegue imaginar uni mundo sem eles,
Annabeth? De que adianta a história antiga que você estuda? Três mil anos de bagagem! O Ocidente está podre até a alma. Precisa ser destruído. Junte-se a mim! Podemos
refazer o mundo do zero. Podemos usar sua inteligência, Annabeth. - Porque você não tem inteligência nenhuma! Os olhos dele se estreitaram.

- Conheço você, Annabeth. Você merece coisa melhor do que ir atrás de uma missão sem chances para salvar o acampamento. A Colina Meio-Sangue será invadida por monstros
em menos de um mês. Os heróis que sobreviverem não terão escolha senão juntar-se a nós ou ser caçados até a extinção. Você realmente quer estar em um time perdedor...
com uma companhia dessa? - Luke apontou para Tyson. - Ei! - disse eu. - Viajando com um ciclope - caçoou Luke. - E falando sobre desonrar a memória de Thalia! Estou
surpreso com você, Annabeth. Você, de todas as pessoas... - Pare com isso! - gritou ela. Não sabia do que Luke estava falando, mas Annabeth enterrou a cabeça nas
mãos como se estivesse a ponto de chorar. - Deixe-a em paz - disse eu. - E deixe Tyson fora disso. Luke riu. - Ah! sim, ouvi dizer. Seu pai o reclamou. Devo ter
parecido surpreso, pois Luke sorriu. - Sim, Percy, eu sei tudo sobre isso. E sobre seu plano de encontrar o Velocino. Quais eram mesmo aquelas coordenadas... 30,
31, 75, 12? Como vê, ainda tenho amigos no acampamento que me mantêm informado. - Espiões, você quer dizer. Ele deu de ombros. - Quantos insultos de seu pai você
pode agüentar, Percy? Acha que ele é grato a você? Acha que Poseidon se importa com você mais do que se importa com esse monstro? Tyson cerrou os punhos e fez um
ruído surdo na garganta. Luke apenas deu uma risadinha. - Os deuses estão usando você Percy. Tem idéia do que está reservado para você se chegar ao décimo sexto
aniversário? Quíron já lhe contou a profecia? Tive vontade de falar umas verdades na cara de Luke, mas, como é de praxe, ele conhecia a maneira de me deixar desconcertado.
Décimo sexto aniversário? Quer dizer, eu sabia que Quíron tinha recebido uma profecia do Oráculo muitos anos atrás. Sabia que, parte, era sobre mim. Mas se eu chegar
ao décimo sexto aniversário? Não gostei muito de ouvir aquilo. - Eu sei o que preciso saber - consegui dizer. - Por exemplo, quem são os meus inimigos. - Então você
é um bobo. Tyson reduziu a cadeira mais próxima a estilhaços. - Percy não é um bobo!

Antes que eu pudesse detê-lo, ele avançou para Luke. Seus punhos desceram na direção da cabeça de Luke - uma pancada dupla que teria aberto um buraco em titânio,
mas os gêmeos ursos a interceptaram. Cada um segurou um dos braços de Tyson e eles o detiveram na hora. Empurraram-no para trás, e Tyson cambaleou. Caiu no tapete
com tanta força que o convés balançou. - Que pena, ciclope - disse Luke. - Parece que os meus amigos pardos juntos são mais do que páreo para a sua força. Talvez
eu devesse deixá-los... - Luke - interrompi. - Escute. Seu pai nos mandou. O rosto dele ficou da cor de pepperoni. - Não se atreva a mencionar o nome dele. - Ele
nos disse para pegar este navio. Achei que fosse só uma carona, mas ele nos mandou aqui para encontrá-lo. Disse que não vai desistir de você, não importa quanto
você esteja zangado. - Zangado? - rugiu Luke. - Desistir de mim? Ele me abandonou, Percy! Quero o Olimpo destruído! Cada trono esmagado até virar entulho! E você
diga a Hermes que isso vai acontecer. A cada vez que um meiosangue se junta a nós, os olimpianos ficam mais fracos e nós ficamos mais fortes. Ele fica mais forte.
Luke apontou para o sarcófago de ouro. O caixão me apavorava, mas eu estava determinado a não demonstrar. - E daí? - perguntei. - O que há de tão especial... E então
caiu a ficha do que poderia estar dentro do sarcófago. A temperatura na sala pareceu baixar vinte graus. - Epa, você não quer dizer... - Ele está se reconstituindo
- disse Luke. - Pouco a pouco estamos resgatando sua força vital para fora do poço. A cada recruta que se junta à nossa causa mais um pedacinho aparece... - Isso
é nojento! - disse Annabeth. Luke a olhou com desprezo. - Sua mãe nasceu do crânio partido de Zeus, Annabeth. Eu não falaria nada. Logo haverá o bastante do senhor
titã para torná-lo inteiro de novo. Vamos montar um corpo novo para ele, um trabalho digno das forjas de Hefesto. - Você é louco - disse Annabeth. - Junte-se a nós
e será recompensada. Temos amigos poderosos, patrocinadores bastante ricos para comprar este navio de cruzeiro e muito mais. Percy, sua mãe nunca mais precisará
trabalhar. Você poderá comprar uma mansão para ela. Você poderá ter poder, fama - tudo o que quiser. Annabeth, você poderá realizar seu sonho de ser arquiteta. Poderá
construir um monumento para durar mil anos. Um templo para os senhores nova era! - Vá para o Tártaro - disse ela. Luke suspirou. - Uma pena.

Ele pegou algo que parecia um controle remoto de tevê e apertou um botão vermelho. Em segundos a porta do camarote se abriu e dois tripulantes uniformizados entraram,
armados com cassetetes. O olhar vidrado era o mesmo dos outros mortais que eu tinha visto, mas tive a impressão de que isso não os tornaria menos perigosos numa
luta. - Ah! bom, seguranças! - disse Luke. - Infelizmente temos aqui alguns clandestinos. - Sim, senhor - disseram eles, com ar sonhador. Luke se virou para Oreios.
- Já é hora de alimentar o dragão etíope. Leve esses tolos para baixo e mostre-lhes como fazemos. Oreios sorriu de modo estúpido. - Hehe! Hehe! - Deixe-me ir também
- resmungou Agrios. - Meu irmão é um inútil Aquele ciclope... - Ele não é uma ameaça - disse Luke. Deu uma olhadela para o caixão dourado, como se alguma coisa o
incomodasse. - Agrios, fique aqui. Temos assuntos importantes a discutir. - Mas... - Oreios, não me desaponte. Fique no porão e certifique-se de que o dragão seja
alimentado como deve. Oreios nos cutucou com seu dardo e nos tocou para fora do camarote, seguido pelos dois seguranças humanos. ***** Enquanto andava pelo corredor
com o dardo de Oreios me cutucando nas costas, pensei no que Luke dissera - que os gêmeos ursos juntos eram páreo para a força de Tyson. Mas quem sabe separados...
Saímos do corredor no meio do navio e caminhamos por um deque aberto ladeado por botes salva-vidas. Eu conhecia bem o navio para perceber que aquela seria nossa
última visão da luz do sol. Uma vez do outro lado, tomaríamos o elevador para descer ao porão, e seria o fim. Olhei para Tyson e disse: - Agora. Graças aos deuses,
ele entendeu. Virou-se e lançou Oreios dez metros para trás, dentro da piscina, bem no meio da família de turistas-zumbis. - Ah! - gritaram as crianças em uníssono.
- Nós não estamos nos divertindo à beca na piscina! Um dos seguranças sacou o cassetete, mas Annabeth o deixou sem fôlego com um pontapé bem dado. O outro segurança
correu para o alarme mais próximo. - Pegue-o! - gritou Annabeth, mas foi tarde demais. Um instante antes que eu o atingisse na cabeça com uma cadeira ele tocou o
alarme. Luzes vermelhas piscaram. Sirenes uivaram. - Bote salva-vidas! - gritei.

Corremos para o mais próximo. Quando conseguimos descobri-lo, monstros e mais seguranças invadiram o convés, empurrando turistas e garçons com bandejas de drinques
tropicais. Um cara de armadura grega sacou a espada e investiu, mas escorregou em uma poça de pina colada. Arqueiros lestrigões se reuniram no convés acima de nós,
alinhando flechas em seus arcos enormes. - Como se lança esta coisa? - gritou Annabeth. Um daqueles cães monstruosos pulou para cima de mim, mas Tyson o atirou para
o lado com um extintor de incêndio. - Entrem! - gritei. Tirei a tampa de Contracorrente e com um golpe desviei uma saraivada de flechas no ar. A qualquer segundo
seríamos vencidos. O bote salva-vidas estava pendurado na lateral do navio, muito acima da água. Annabeth e Tyson não conseguiam manejar a polia de lançamento. Pulei
para dentro ao lado deles. - Segurem-se! - gritei, e cortei as cordas. Uma chuva de flechas assobiou por cima de nossas cabeças enquanto íamos em queda livre na
direção do oceano.


DEZ - Pegamos uma carona com confederados mortos
- A garrafa térmica! - gritei enquanto despencávamos para a água. - O quê? - Annabeth deve ter pensado que eu tinha perdido a cabeca. Estava agarrada às alças do
bote como se sua vida dependesse disso, os cabelos voando para o alto, como uma tocha. Mas Tyson entendeu. Conseguiu abrir meu saco de viagem e tirar de lá a garrafa
mágica sem largar o saco nem o bote. Flechas e dardos passaram por nós assobiando. Agarrei a garrafa térmica e torci para estar fazendo a coisa certa. - Segurem
firme! - Eu estou segurando firme! - gritou Annabeth. - Mais firme! Enganchei o pé embaixo do banco inflável do bote, e enquanto Tyson nos segurava pelas costas
das camisas dei um quarto de volta na tampa da garrafa. No mesmo instante, uma lufada branca de vento escapou e nos arremessou para o lado, transformando o mergulho
vertical em uma aterrissagem de emergência a quarenta e cinco graus. O vento pareceu dar risadas quando escapou da garrafa térmica, como se estivesse contente por
se ver livre. Quando atingimos o oceano, batemos uma, duas vezes, quicando como uma pedra, então disparamos como uma lancha, com água salgada borrifando o rosto
e nada além de mar à nossa frente. Ouvi um grito de indignação vindo do navio atrás de nós, mas já estávamos fora do alcance das armas. O Princesa Andrômeda ia ficando
menor a distância, até parecer um barquinho branco brinquedo, e depois desapareceu. Enquanto disparávamos pelo mar, Annabeth e eu tentamos enviar uma mensagem de
íris para Quíron. Pensamos que seria importante contar a alguém o que Luke estava fazendo, e não sabiam em quem mais confiar. O vento da garrafa agitou um ótimo
borrifo de mar que formou um arco-íris à luz do sol - perfeito para uma mensagem de íris -, mas nossa conexão ainda era fraca. Quando Annabeth atirou um dracma de
ouro na névoa e rezou à deusa do arco-íris para nos mostrar Quíron, o rosto dele apareceu, mas havia algum tipo estranho de luz estroboscópica ao fundo e rock em
volume alto, como se ele estivesse em alguma casa noturna. Contamos a ele sobre a fuga do acampamento e sobre Luke, o Princesa Andrômeda e o caixão dourado para
os restos de Crono, mas com o barulho do lado dele e o ruído do vento e da água do nosso lado, não sabia o que ele tinha ouvido. - Percy - gritou Quíron -, você
precisa tomar cuidado com... Sua voz foi abafada por uma gritaria alta atrás dele - um porção de vozes aos berros, como guerreiros comanches. - O quê? - gritei.
- Malditos parentes! - Quíron desviou-se quando um motor passou voando por cima da sua cabeça e se estilhaçou em algum lugar fora de vista. - Annabeth, você não
devia ter deixado Percy sair do acampamento! Mas se vocês de fato conseguirem pegar o Velocino...

- Yeah, baby! - berrou alguém atrás de Quíron. - Iuuhuuuuu! O volume da música aumentou, os subwoofers ficaram tão altos fizeram o bote vibrar. - ...Miami - gritava
Quíron. - Vou tentar ficar atento... Nossa tela de névoa se despedaçou como se alguém do outro lado tivesse atirado uma garrafa contra ela, e Quíron se foi. *****
Uma hora depois, avistamos terra - uma longa extensão de praia com edifícios altos de hotéis. A água se tornou abarrotada de barcos de pesca e petroleiros. Uma lancha
da guarda costeira passou a estibordo, depois virou como se quisesse dar uma segunda olhada. Acho que não é todos os dias que eles vêem um bote salva-vidas amarelo
sem motor navegando a cem nós por hora, tripulado por três crianças. - Aquela é Virgínia Beach! - disse Annabeth quando nos aproximamos do litoral. - Ah! meus deuses,
como o Princesa Andrômeda chegou tão longe em uma noite? São cerca de... - Quinhentas e trinta milhas náuticas - disse eu. Ela olhou para mim. - Como você sabe?
- Eu... eu não tenho certeza. Annabeth pensou um momento. - Percy, qual é a nossa posição? - Trinta e seis graus e 44 minutos Norte, 76 graus e 2 minutos Oeste -
falei, imediatamente. Então sacudi a cabeça. - Epa! como é que eu soube isso? - Por causa de seu pai - supôs Annabeth. - Quando você está no mar, tem um senso de
orientação perfeito. Isso é muito legal. Eu não estava tão certo daquilo. Não queria ser um GPS humano. Mas, antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Tyson bateu
em meu ombro. - Um outro barco vem vindo. Olhei para trás. O barco da guarda costeira sem dúvida estava agora atrás de nós. As luzes piscavam e ele ganhava velocidade.
- Não podemos deixar que nos peguem - falei. - Vão fazer perguntas demais. - Continue na direção da baía de Chesapeake - disse Annabeth. - Sei de um lugar onde podemos
nos esconder. Não perguntei o que ela queria dizer, ou como conhecia tão bem a área. Arrisquei afrouxar a tampa da garrafa térmica mais um pouco, e uma nova lufada
de vento nos arremessou como um foguete, contornamos a extremidade norte de Virgínia Beach e entramos na baía de Chesapeake. O barco da guarda costeira ficava cada
vez mais para trás. Não reduzimos a velocidade até as margens da baía se estreitarem dos dois lados, e percebi que estavamos adentrando o estuário de um rio.

Pude sentir a passagem da água salgada para a água doce. De repente me senti exausto e irritado, como se tivesse acabado de sair de uma overdose de açúcar. Não sabia
mais onde estava nem para que direção guiar o barco. Felizmente, Annabeth estava me orientando. - Ali - disse ela. - Depois daquele banco de areia. Desviamos para
uma área pantanosa coberta de capim-d'água. Atraquei o barco ao pé de um cipreste gigante. Arvores cobertas de trepadeiras cresciam acima de nós. Insetos faziam
ruídos no mato. O ar estava quente e úmido, e o vapor sub do rio. Em essência, aquilo não era Manhattan, e eu não gostei. - Vamos - disse Annabeth -, é só seguirmos
a margem. - O quê? - Siga-me apenas. - Ela agarrou um saco de viagem. - E é melhor cobrirmos o bote. Não queremos chamar atenção. Depois de esconder o bote salva-vidas
com galhos, Tyson e eu seguimos Annabeth ao longo da margem, os pés afundando na lama vermelha. Uma cobra deslizou perto do meu sapato e desapareceu no meio do capim.
- Não é um bom lugar - disse Tyson. Ele matava os mosquitos que estavam formando uma fila para jantar no seu braço. Depois de mais alguns minutos, Annabeth disse:
- Aqui. Tudo o que vi foi uma moita espinhenta. Então Annabeth empurrou para o lado um círculo de ramos entrelaçados, como uma porta, e percebi que estava olhando
para um abrigo camuflado. O lado de dentro era grande o suficiente para três, mesmo com terceiro sendo Tyson. As paredes eram feitas com partes de plantas, como
uma cabana de nativos, mas pareciam ser bem à prova d'água. Empilhadas em um canto havia todas as coisas que a gente poderia querer em um acampamento - sacos de
dormir, cobertores, uma geladeira portátil e um lampião a querosene. Havia também provisões para semideuses - ponteiras de bronze para dardos, uma aljava cheia de
flechas, uma espada sobressalente e uma caixa de ambrosia. O lugar tinha cheiro de mofo, como se tivesse vazio havia muito tempo. - Um esconderijo de meio-sangue.
- Olhei para Annabeth, pasmado. -Você este lugar? - Thalia e eu - disse ela, baixinho. - E Luke. Aquilo não deveria me incomodar. Quer dizer, eu sabia que Thalia
e Luke tinham cuidado de Annabeth quando ela era pequena. Sabia que os três, juntos, eram fugitivos se escondendo de monstros, sobrevivendo sozinhos antes que Grover
os encontrasse e tentasse levá-los para a Colina Meio-Sangue. Mas, sempre que Annabeth falava do tempo que passara com eles, eu me sentia... não sei. Desconfortável?
Não. Não é esta a palavra. A palavra era enciumado. - Então... - falei. - Não acha que Luke vai nos procurar aqui? Ela sacudiu a cabeça.

- Fizemos uma dúzia de abrigos como este. Duvido que Luke sequer se lembre de onde ficam. Ou que se importe. Ela se jogou em cima dos cobertores e começou a revirar
o saco de viagem. Sua linguagem corporal deixava muito claro que ela não queria conversar. - Hum, Tyson? - falei. - Você se incomodaria em dar um volta de reconhecimento
lá fora? Tipo procurar uma loja de conveniência silvestre ou coisa assim? - Loja de conveniência? - Sim, para comprar lanches. Donuts polvilhados com açúcar ou sei
lá. Só não vá muito longe. - Donuts com açúcar - disse Tyson muito sério. - Vou procurar donuts polvilhados com açúcar no mato. Ele foi saindo e começou a chamar:
- Donuts! Aqui! Depois que ele se foi, sentei-me em frente a Annabeth. - Ei, sinto muito, sabe, por você ter visto Luke. - A culpa não é sua. - Ela desembainhou
sua faca começou a limpá-la com um trapo. - Ele nos deixou partir com muita facilidade - falei. Eu torcia para estar imaginando aquilo, mas Annabeth assentiu. Estava
pensando a mesma coisa. Aquilo que o ouvimos falar, sobre um jogo e que "eles vão morder a isca"... Acho que estava falando de nós. - O Velocino é a isca? Ou Grover?
Ela estudou o fio da faca. - Não sei, Percy. Talvez ele queira o Velocino. Talvez espere que façamos o trabalho para depois roubá-lo de nós. Não consigo acreditar
que ele fosse capaz de envenenar a árvore. - O que ele quis dizer - perguntei - quando falou que Thalia teria ficado do lado dele? - Ele está errado. - Você não
parece segura. Annabeth me olhou com raiva, e comecei a desejar que não tivesse falado aquilo enquanto ela segurava uma faca. - Percy, você sabe quem você me lembra
muito? Thalia. Vocês são tão parecidos que chega a assustar. Quer dizer, ou vocês seriam melhores amigos ou teriam se estrangulado. - Vamos ficar com "melhores amigos".
- Thalia, às vezes, ficava zangada com o pai dela. Como você. Você se voltaria contra o Olimpo por causa disso? Olhei para a aljava cheia de flechas no canto. -
Não.

- Certo. Ela também não. Luke está errado. Annabeth fincou a lâmina da faca na terra. Quis perguntar sobre a profecia que Luke mencionara, e o que aquilo tinha a
ver com meu décimo sexto aniversário. Mas imaginei que ela não fosse me contar. Quíron deixara claro que eu não tinha permissão para ouvi-la até que os deuses decidissem
o contrário. - Então, o que Luke quis dizer a respeito de ciclopes? ­ perguntei. - Ele disse que você, entre todas as pessoas... - Eu sei o que ele disse. Ele...
ele estava falando sobre a verdadeira razão de Thalia ter morrido. Esperei, sem saber muito bem o que dizer. Annabeth respirou fundo, indecisa. - A gente nunca pode
confiar em ciclopes, Percy Há seis anos, na noite em que Grover estava nos levando para a Colina Meio-Sangue... Ela foi interrompida quando a porta da cabana se
abriu com um rangido. Tyson se arrastou para dentro. - Donuts com açúcar! - disse, orgulhoso, mostrando uma caixa de doces. Annabeth olhou para ele espantada. -
Onde conseguiu isso? Estamos no meio do mato. Não há nada num raio de... - Quinze metros - disse Tyson. - Uma loja Donuts Monstro, logo depois da colina. ***** -
Isso é mau - murmurou Annabeth. Estávamos agachados atrás de uma árvore, olhando para a loja de donuts no meio do mato. Parecia nova em folha, com janelas iluminadas,
uma área de estacionamento e uma estradinha conduzindo para dentro da floresta, mas não havia mais nada em volta, nenhum carro estacionado. Conseguimos ver um empregado
que lia uma revista atrás da caixa registradora. E era tudo. Sobre marquise da loja, em enormes letras pretas que até eu consegui ler, estava escrito: DONUTS MONSTRO
Um ogro de desenho animado estava dando uma mordida no O de MONSTRO. O lugar cheirava bem, como donuts de chocolate fresquinhos. - Isso não deveria estar aqui -
sussurrou Annabeth. ­ Está errado. - O que está errado? - perguntei. - É uma loja de donuts. - Psiu! - Por que estamos sussurrando? Tyson entrou e comprou uma dúzia.
Não aconteceu nada com ele. - Ele é um monstro. - Ora, vamos, Annabeth. Donuts Monstro não quer dizer monstros. É uma rede. Nós temos em Nova York.

- Uma rede - concordou. - E não acha estranho que uma loja dessas tenha aparecido imediatamente depois de você mandar Tyson comprar donuts! Bem aqui, no meio do
mato? Pensei naquilo. De fato parecia meio estranho, mas, quer dizer, lojas de donuts realmente não estavam no topo da minha lista de forças sinistras. - Pode ser
um ninho - explicou Annabeth. Tyson choramingou. Duvido que ele tenha entendido o que Annabeth estava dizendo muito melhor do que eu, mas o tom dela o deixava nervoso.
Ele havia avançado em meia dúzia de donuts da caixa e estava com açúcar polvilhado na cara inteira. - Um ninho do quê? - perguntei. - Você já se perguntou como essas
lojas de franquia surgem tão depressa? - perguntou ela. - Um dia não existe nada, e então, no dia seguinte... bum, surge uma nova casa de hambúrgueres ou uma cafeteria,
ou o que for. Primeiro uma única loja, depois duas, depois quatro... réplicas exatas se espalhando por todo o país. - Ahn, não. Nunca pensei nisso. - Percy, algumas
redes se multiplicam tão depressa porque todos os seus pontos estão magicamente ligados à força vital de um monstro. Algumas crianças de Hermes descobriram como
fazer isso já nos anos 1950. Elas procriam... Ela ficou paralisada. - O quê? - perguntei. - Elas criam o quê? - Não... se... mexa - disse Annabeth, como se a vida
dela dependesse disso. - Muito devagar, dê meiavolta. Então eu ouvi: o barulho de algo raspando, como se algo grande se arrastasse de barriga pelas folhas. Virei-me
e vi uma coisa do tamanho de um rinoceronte se movendo pelas sombras das árvores. Estava sibilando, a metade da frente se retorcendo em todas as direções. De início
não consegui entender o que era. Então percebi que a coisa tinha múltiplos pescoços - pelo menos sete, cada um com uma cabeça de réptil, sibilando. A pele era coriácea,
e os pescoços usavam babadores nos quais estava escrito: EU SOU UMA CRIANÇA MONSTER DONUTS! Tirei do bolso minha caneta esferográfica, mas Annabeth fixou os olhos
nos meus - um aviso silencioso. Ainda não. Eu entendi. Muitos monstros têm péssima visão. Era possível que a Hidra passasse por nós sem nos notar. Mas, se eu destampasse
minha espada, o brilho do bronze certamente chamaria sua atenção. Nós esperamos. A Hidra estava a apenas alguns metros. Parecia farejar a terra e as árvores como
se estivesse caçando alguma coisa. Então notei que duas das cabeças estavam dilacerando um pedaço de lona amarela - um dos nossos sacos de viagem. A coisa já estivera
nosso acampamento. Estava seguindo nosso cheiro. Meu coração bateu forte. Eu já tinha visto uma cabeça de Hidra empalhada como troféu no acampamento, mas aquilo
não me preparara para a coisa real. Cada cabeça tinha forma de losango como a de uma cascavel, mas nas bocas havia fileiras irregulares de dentes de tubarão.

Tyson estava tremendo. Ele recuou um passo e sem querer quebrou um graveto. Imediatamente, as sete cabeças se viraram para nós e sibilaram. - Espalhem-se! - gritou
Annabeth. Ela mergulhou para a direita. Eu rolei para a esquerda. Uma das cabeças da Hidra cuspiu um arco de líquido verde que passou rente ao meu ombro e atingiu
o tronco de um olmo. O tronco fumegou e começou a se desintegrar. A árvore inteira tombou na direção de Tyson, que ainda não tinha se movido, petrificado pelo monstro
que agora estava bem na frente dele. - Tyson! - Eu o empurrei com toda a minha força, derrubando-o de lado bem no momento em que a Hidra investia e a árvore desmoronava
em cima de duas de suas cabeças. A Hidra cambaleou para trás, puxando violentamente as duas cabeças e soltando-as, e depois urrando indignada para a árvore caída.
Todas as sete cabeças lançaram ácido, e o olmo se derreteu em uma poça fumegante de imundície. - Mexa-se! - disse a Tyson. Corri para um lado e destampei Contracorrente,
esperando chamar a atenção do monstro. Funcionou. A visão do bronze celestial é odiosa para a maioria dos monstros. Assim que minha lâmina reluzente apareceu, a
Hidra moveu todas as cabeças como chicotes na direção dela, sibilando e mostrando os dentes. A boa notícia: Tyson por enquanto estava fora de perigo. A má notícia:
eu estava prestes a ser derretido em uma poça de líquido pegajoso. Uma das cabeças tentou me abocanhar. Sem pensar, ergui a espada. - Não! - gritou Annabeth. Tarde
demais. Cortei a cabeça da Hidra. Aquilo rolou para longe, no meio do capim, deixando um coto descontrolado se agitando no ar, o qual logo parou de sangrar e começou
a inflai como um balão. Em questão de segundos o pescoço ferido se dividiu em dois, e em cada um brotou uma cabeça completa. Agora eu estava olhando para uma Hidra
de oito cabeças. - Percy! - repreendeu Annabeth. - Você acaba de abrir mais uma loja Donuts Monstro em algum lugar! Desviei-me de um jato de ácido. - Estou prestes
a morrer, e você está preocupada com isso? Como a matamos? - Fogo! - disse Annabeth. - Precisamos de fogo! Assim que ela disse isso lembrei a história. As cabeças
da Hidra só parariam de se multiplicar se queimássemos os cotos antes que crescessem de novo. Bem, foi o que Heracles fez. Mas não tínhamos fogo. Recuei em direção
ao rio. A Hidra me seguiu. Annabeth ficou à minha esquerda e tentou distrair uma das cabeças, duelando com seus dentes com a faca, mas outra cabeça se moveu para
um lado e, como um porrete, derrubou-a na gosma.

- Não pode bater nos meus amigos! -Tyson investiu, interpondo-se entre a Hidra e Annabeth. Quando Annabeth se pôs de pé, Tyson começou a socar as cabeças do monstro
tão depressa que me lembrou um jogo de fliperama. Mas nem mesmo Tyson poderia combater a Hidra para sempre. Continuamos recuando centímetro a centímetro, desviando-nos
dos jatos de ácido e nos esquivando das cabeças que tentavam nos morder sem decepá-las, mas eu sabia que estávamos apenas adiando nossa morte. No final, acabaríamos
cometendo um erro, e a coisa nos mataria. Então ouvi um som estranho - um chug-chug-chug que de início achei que fosse meu coração. Era tão potente que sacudiu a
margem do rio. - Que barulho é esse? - gritou Annabeth, sem tirar os olhos da Hidra. - Máquina a vapor - disse Tyson. - O quê? - Eu me esquivei enquanto a Hidra
cuspia ácido por cima da minha cabeça. Então, do rio atrás de nós, uma voz feminina familiar gritou: - Ali! Preparem o canhão de dez quilos! Não ousei desviar os
olhos da Hidra, mas se quem estava atrás de nós era quem eu pensava, calculei que agora tínhamos inimigos em duas frentes. Uma voz masculina áspera disse: - Eles
estão muito perto, miladyl - Danem-se os heróis! - disse a garota. - Em frente a todo o vapor! - Sim, milady. - Dispare à vontade, capitão! Annabeth entendeu o que
estava acontecendo uma fração de segundo antes de mim. Ela gritou: - Para o chão! E nós mergulhamos quando um BUUUM ensurdecedor ecoou, vindo do rio. Houve um clarão,
uma coluna de fumaça, e a Hidra explodiu bem na nossa frente, fazendo chover um muco verde repugnante que se vaporizou assim que nos atingiu, como costuma acontecer
com as tripas dos monstros. - Que nojo! - gritou Annabeth. - Navio a vapor! - berrou Tyson. Levantei, tossindo por causa da nuvem de fumaça de pólvora que rolava
das margens do rio. Avançando ruidosamente pelo rio em nossa direção estava o navio mais estranho que já vira. Navegava baixo como um submarino, o convés revestido
de ferro. No meio havia uma casamata na forma de trapézio, com aberturas laterais para canhões. Uma bandeira oscilava no topo - um javali selvagem e uma lança em
um campo vermelho-sangue. Enfileirados no convés havia zumbis de uniformes cinzentos soldados mortos com feições tremeluzentes que escondiam o crânio apenas em parte,
como os ghouls que eu tinha visto no Mundo Inferior, guardando o palácio de Hades. O navio era um encouraçado. Um cruzador da Guerra Civil. Mal pude distinguir o
nome na proa em letras cobertas de musgo: Navio Confederado Birmingham.

E plantada junto ao canhão fumegante que quase nos matara, usando uma armadura de batalha grega completa, estava Clarisse. - Perdedores - zombou ela. - Mas acho
que preciso salvá-los. Subam a bordo.


ONZE - Clarisse detona tudo
- Vocês estão muito encrencados - disse Clarisse. Tínhamos acabado de fazer uma excursão que não queríamos pelo navio, por acomodações escuras lotadas de marinheiros
mortos. Vimos o depósito de carvão, as caldeiras e o motor, que bufava e gemia como se fosse explodir a qualquer minuto. Vimos a casa do leme, o paiol de pólvora
e o convés de artilharia (o favorito de Clarisse), com dois canhões Dahlgren de cano liso a bombordo e a estibordo e um canhão Brooke estriado de nove polegadas
na proa e na popa - todos especialmente adaptados para disparar lulas de bronze celestial. Em todos os lugares aonde íamos, marinheiros confederados mortos nos olhavam
fixamente, as caras barbadas fantasmagóricas tremeluzindo nos crânios. Eles aprovaram Annabeth, porque ela lhes disse que era da Virgínia. Também estavam interessados
em mim, porque meu nome era Jackson - como o do general sulista -, mas então estraguei tudo dizendo que era de Nova York. Todos vaiaram e resmungaram pragas contra
os ianques. Tyson ficou aterrorizado com eles. Durante toda a excursão insistiu para que Annabeth segurasse sua mão, o que não a deixou muito feliz. Finalmente,
fomos escoltados para o jantar. O alojamento do capitão do Birmingham era mais ou menos do tamanho de um closet, mas ainda assim muito maior do que qualquer outro
recinto bordo. A mesa estava posta com linho branco e porcelana. Manteiga de amendoim, sanduíches de geléia, batatas fritas e refrigerantes foram servidos por tripulantes
esqueléticos. Eu não queria comer nada que fosse servido por fantasmas, mas minha fome foi maior que o medo. - Tântalo expulsou vocês por toda a eternidade - disse
Clarisse, com ar de superioridade. - O senhor D disse que se mostrarem a cara de novo no acampamento vai transformá-los em esquilos e passar por cima com sua caminhonete.
- Foram eles que deram este navio a você? - perguntei. - Claro que não. Foi meu pai. - Ares? Clarisse sorriu, sarcástica. - Acha que seu pai é o único que tem poderes
no mar? Os espíritos do lado perdedor em todas as guerras devem tributo a Ares. E sua maldição por terem sido derrotados. Pedi a meu pai um transporte naval, e aqui
está ele. Esses caras vão fazer tudo que eu mandar. Não é, capitão? O capitão estava em pé atrás dela, rígido e zangado. Seus olhos verdes e brilhantes me fixaram
com um olhar faminto. - Se isso significa dar fim a essa guerra infernal, madame, finalmente a paz, vamos fazer qualquer coisa. Destruir qualquer um. Clarisse sorriu.
- Destruir qualquer um. Eu gosto disso. Tyson engoliu em seco. - Clarisse - disse Annabeth. - Luke também pode estar atrás do Velocino. Nós o vimos. Ele tem as coordenadas
e está indo em direção ao sul. Tem um navio de cruzeiro cheio de monstros...

- Bom! Vou explodi-lo para fora da água. - Você não está entendendo - disse Annabeth. - Precisamos unir nossas forças. Deixe-nos ajudá-la... - Não! - Clarisse deu
um murro na mesa. - Esta é a minha missão, garota esperta! Finalmente chegou minha vez de ser a heroína, e vocês dois não vão roubar minha chance. - Onde estão seus
colegas de chalé? - perguntei. - Você teve permissão de trazer dois amigos, não teve? - Eles não... Eu os deixei para trás. Para proteger o acampamento. - Você quer
dizer que nem mesmo as pessoas do seu próprio chalé quiseram ajudá-la? - Cale a boca, Percy! Eu não preciso deles! Nem de você! - Clarisse - falei. - Tântalo está
usando você. Ele não importa com o acampamento. Adoraria vê-lo destruído. Está armando para você fracassar. - Não! Não me importa o que o Oráculo... - ela se interrompeu.
- O quê? - disse eu. - O que o Oráculo lhe contou? - Nada. - As orelhas de Clarisse ficaram rosadas. ­ Tudo o que vocês precisam saber é que vou terminar essa missão
e vocês não vão ajudar. Por outro lado, não posso deixá-los ir... - Então somos prisioneiros? - perguntou Annabeth. - Hóspedes. Por enquanto. - Clarisse apoiou os
pés na toalha branca de linho e abriu outro refrigerante. Capitão, leve-os para baixo. Ceda redes para eles no convés-dormitório. Se eles não se comportarem bem,
mostre-lhes como lidamos com espiões inimigos. O sonho veio assim que adormeci. Grover estava sentado ao tear, desmanchando desesperadamente a cauda de seu vestido,
quando a porta de rocha rolou para o lado e o ciclope berrou: - Aha! Grover ganiu. - Querido! Eu não... você entrou tão quieto! - Desmanchando! - rugiu Polifemo.
- Então é esse o problema! - Ah, não! Eu... eu não estava... - Venha! - Polifemo agarrou Grover pela cintura e carregou, em parte arrastou o sátiro pelos túneis
da caverna. Grover lutou para manter os sapatos de salto alto nos cascos. Seu véu balançando na cabeça, ameaçando cair. O ciclope o puxou para dentro de uma caverna
do tamanho de um armazém decorada com bugigangas de carneiros. Havia uma cadeira reclinável e um televisor cobertos de lã, toscas estantes de livros cheias de objetos
colecionáveis sobre carneiros - canecas de café com o formato de cabeça de carneiro, estatuetas de gesso de carneiros, jogos de tabuleiro de carneiros, livros ilustrados
e bonecos. O chão estava atulhado de pilhas de ossos de carneiro e outro não muito parecidos com os de carneiros - ossos de sátiros que tinham ido à ilha à procura
de Pan.

Polifemo pôs Grover no chão apenas por tempo suficiente para mover outra rocha enorme. A luz do dia se infiltrou na caverna e Grover choramingou, saudoso. Ar fresco!
O ciclope o arrastou para fora até o topo de uma colina de onde se avistava a ilha mais bonita que eu já vira. Tinha a forma de uma sela partida ao meio por um machado.
Havia colinas verdes luxuriantes dos dois lados e um largo vale entre elas, cortado por uma ravina atravessada por uma ponte de corda. Lindos riachos corriam até
a beira do cânion e caíam em cascatas nas cores do arco-íris. Papagaios voavam entre as árvores. Flores cor-de-rosa e roxas floresciam nos arbustos. Centenas de
carneiros pastavam nas campinas, a lã brilhando de modo estranho, como moedas de cobre e prata. E no centro da ilha, bem ao lado da ponte de corda, havia um carvalho
enorme e retorcido, com alguma coisa reluzindo em seu galho mais baixo. O Velocino de Ouro. Mesmo em sonho, pude sentir seu poder se irradiando pela ilha, tornando
a grama mais verde, as flores mais bonitas. Era quase possível sentir o cheiro da magia da natureza fazendo seu trabalho. Fiquei imaginando como aquele perfume seria
poderoso para um sátiro. Grover choramingou. - Sim - disse Polifemo com orgulho. - Está vendo ali adiante? O Velocino é o troféu mais valioso da minha coleção! Roubei-o
dos heróis muito tempo atrás, e desde então... comida de graça! Chegam aqui sátiros do mundo inteiro, como traças atraídas pelas chamas. Sátiros são boa comida!
E agora... Polifemo pegou uma tosquiadeira de bronze de aparência ameaçadora. Grover gemeu, mas Polifemo agarrou o carneiro mais próximo como se fosse um animal
empalhado e cortou rente sua lã. Ele entregou a massa fofa para Grover. - Ponha isso na roca! - disse ele, arrogante. - É mágica. Não pode ser desfeita. - Ah!...
bem... - Pobre docinho! - sorriu Polifemo. - Tecedeira ruim. Há-ha! Não se preocupe. Esse fio resolverá o problema. Acabe a cauda do vestido até amanhã! - Muito...
atencioso da sua parte. - Hehe. - Mas... mas, querido - Grover engoliu em seco. - E se alguém quisesse salvar... digo, atacar esta ilha? Grover olhou diretamente
para mim, e eu sabia que estava querendo minha ajuda. - O que os impediria de marchar direto para cá, para a sua caverna? - Esposinha assustada! Que gracinha! Não
se preocupe. Polifemo tem um sistema de segurança de última geração. Eles terão de passar pelos meus bichinhos de estimação. - Bichinhos de estimação? Grover correu
os olhos pela ilha, mas não havia nada para ver, exceto carneiros pastando em paz nas campinas.

- E depois - rosnou Polifemo -, terão de passar por mim! Deu um murro na rocha mais próxima, que rachou e se partiu ao meio. - Agora venha! - bradou ele. - De volta
à caverna. Grover pareceu a ponto de chorar - tão perto da liberdade, mas tão irremediavelmente longe. Lágrimas brotaram de seus olhos enquanto a porta de rocha
se fechava rolando, aprisionando-o de novo na fedorenta caverna iluminada por tochas do ciclope. ***** Acordei com sirenes soando pelo navio. A voz áspera do capitão:
- Todos para o convés superior! Encontrem lady Clarisse! Onde está aquela garota? Então sua cara fantasmagórica apareceu acima de mim. - Levante-se, ianque. Seus
amigos já estão lá em cima. Estamos nos aproximando da entrada. - A entrada do quê? Ele me deu um sorriso esquelético. - Do Mar de Monstros, é claro. Enfiei meus
poucos pertences que haviam sobrevivido à Hidra em um saco de marinheiro de lona e o pendurei no ombro. Tinha a leve suspeita de que, de um jeito ou de outro, não
passaria outra noite a bordo do Birmingham. Eu estava subindo quando alguma coisa me fez congelar. Uma presença próxima - algo familiar e desagradável. Sem nenhuma
razão especial, tive vontade de arrumar uma briga. Queria esmurrar um confederado morto. A última vez que tinha sentido esse tipo de raiva... Em vez de subir, eu
me arrastei até a beira da grade de ventilação e espiei lá embaixo, no convés das caldeiras. Clarisse estava logo abaixo de mim, falando com uma imagem que tremeluzia
no vapor das caldeiras - um homem musculoso, com roupas de motociclista de couro preto, corte de cabelo militar, óculos escuros de lentes vermelhas e uma faca presa
do lado por uma correia. Meus punhos se fecharam. Era meu olimpiano menos favorito: Ares, o deus da guerra. - Não quero saber de desculpas, garotinha! - rosnou ele.
- S... sim, pai - murmurou Clarisse. - Você não quer me ver zangado, quer? - Não, pai. - Não, pai - Ares imitou-a. - Você é patética. Eu devia ter deixado um dos
meus filhos assumir essa missão. - Eu vou conseguir! - prometeu Clarisse, com a voz trêmula. - Vou deixá-lo orgulhoso.

- É melhor mesmo - advertiu ele. - Você me pediu essa missão, garota. Se deixar aquele desprezível do Jackson roubá-la de você... - Mas o Oráculo disse... - NÃO
ME IMPORTA O QUE O ORÁCULO DISSE. - urrou Ares, com tamanha força que sua imagem tremeu. - Você vai conseguir. Se não... Ele ergueu o punho. Muito embora fosse apenas
uma figura no vapor, Clarisse se encolheu. - Estamos entendidos? - rosnou Ares. As sirenes tocaram de novo. Ouvi vozes vindo em minha direção, oficiais gritando
ordens para preparar os canhões. Eu me afastei da grade de ventilação engatinhando e fui encontrar Annabeth e Tyson no convés superior. ***** - Qual é o problema?
- perguntou-me Annabeth. - Outro sonho? Fiz que sim, mas não falei nada. Não sabia o que pensar a respeito do que vira lá embaixo. Aquilo me incomodara quase tanto
quanto o sonho com Grover. Clarisse subiu as escadas logo atrás de mim. Tentei não olhar para ela. Ela agarrou o par de binóculos de um oficial zumbi e olhou na
direção do horizonte. - Até que enfim. Capitão, adiante, a todo o vapor! Olhei na mesma direção que ela, mas não consegui ver muita coisa. O céu estava encoberto.
O ar era nevoento e úmido, como vapor de um ferro de passar. Se eu apertasse os olhos com muita força, podia apenas distinguir um par de manchas escuras indistintas
a distância. Meu senso de orientação náutico dizia que estávamos em algum lugar na costa norte da Flórida; portanto, tínhamos avançado uma longa distância durante
a noite, mais longe do que qualquer navio mortal seria capaz de navegar. O motor gemeu quando aumentamos a velocidade. Tyson murmurou, nervoso: - Pressão demais
nos pistões. O motor não foi feito para águas profundas. Não tinha a menor idéia de como ele sabia disso, mas aquilo me deixou nervoso. Depois de mais alguns minutos,
as manchas escuras à nossa frente entraram em foco. Ao norte, uma enorme massa de rocha se erguia do mar - uma ilha com falésias de pelo menos trinta metros de altura.
Cerca de um quilômetro ao sul, a outra mancha de escuridão era uma tempestade que se formava. O céu e o mar ferviam juntos em uma massa trovejante. - Furacão? -
perguntou Annabeth. - Não - disse Clarisse. - Caríbdis. Annabeth empalideceu.

- Você está louca? - É a única entrada para o Mar de Monstros. Bem entre Caríbdis e sua irmã Squila. Clarisse apontou para o topo das falésias e minha impressão
foi a de que lá em cima vivia algo que eu não tinha vontade de conhecer. - O que você quer dizer com única entrada? - perguntei. - O mar é tão largo! E só contorná-las.
Clarisse revirou os olhos. - Você não sabe nada? Se eu tentar contornar elas vão simplesmente aparecer no meu caminho de novo. Se quer entrar no Mar de Monstros
precisa navegar por entre as duas. - E as Simplégadas, as Rochas Colidentes? - disse Anna-beth. - São outro portal. Jasão o usou. - Eu não consigo explodir rochas
com os meus canhões - disse Clarisse. - Mas monstros, por outro lado... - Você é louca - concluiu Annabeth. - Observe e aprenda, Garota Esperta. - Clarisse voltou-se
para o capitão. - Em curso para Caríbdis! - Sim, milady. O motor gemeu, as chapas de ferro chacoalharam e o navio começou a ganhar velocidade. - Clarisse - falei
-, Caríbdis suga o mar. Não é essa a história? - E o cospe de volta depois, sim. - E Squila? - Ela vive em uma caverna, no alto daquelas falésias. Se chegarmos perto
demais, suas cabeças de serpente vão descer e começar a arrancar marinheiros do navio. - Então escolha Squila - disse. - Todo mundo vai para o convés de baixo e
passamos direto. - Não! - insistiu Clarisse. - Se Squila não conseguir sua comida facilmente, poderá pegar o navio inteiro. Além disso, fica muito no alto para conseguirmos
uma boa mira. Meus canhões não conseguem atirar para cima. Caríbdis fica sentada lá, no centro do seu redemoinho. Vamos avançar diretamente para ela, mirar nossos
canhões e mandá-la para o Tártaro! Ela disse isso com tanto gosto que quase tive vontade de acreditar. O motor zumbia. As caldeiras estavam esquentando tanto que
eu podia sentir o convés se aquecendo embaixo de meus pés, As chaminés vomitavam rolos de fumaça. A bandeira vermelha de Ares tremulava ao vento. À medida que nos
aproximávamos dos monstros, o som de Caríbdis era cada vez mais alto - um horrível rugido molhado, como a descarga do maior vaso sanitário da galáxia. A cada vez
que Caríbdis inspirava, o navio estremecia e era arremessado para a frente. A cada vez que ela expirava, subíamos na água e éramos castigados por ondas de três metros.
Tentei cronometrar o redemoinho. Até onde pude perceber, Caríbdis levava cerca de três minutos para sugar e destruir tudo num raio de um quilômetro. Para evitá-la,
teríamos de passar bem perto das falésias de Squila. E, por pior que Squila pudesse ser, aquelas falésias não estavam me parecendo nada boas.

Os marinheiros mortos vivos realizavam com calma suas tarefas no convés superior. Imagino que já tivessem lutado por uma causa perdida antes, portanto aquilo não
os incomodava. Ou talvez não se preocupassem com a possibilidade de ser destruídos, porque já eram defuntos. Nenhum dos dois pensamentos fez com que me sentisse
melhor. Annabeth estava ao meu lado, agarrando-se à amurada. - Você ainda tem sua garrafa térmica cheia de vento? Fiz que sim. - Mas é perigoso demais usá-la no
meio de um redemoinho como aquele. Liberar mais vento só vai tornar as coisas ainda piores. - E que tal controlar a água? - perguntou ela. - Você é filho de Poseidon.
Já fez isso antes. Annabeth estava certa. Fechei os olhos e tentei acalmar o oceano, mas não conseguia me concentrar. O ruído de Caríbdis era alto e forte demais.
As ondas não me respondiam. - Eu... eu não consigo - falei com tristeza. - Precisamos de um plano B - disse Annabeth. - Isso não vai dar certo. - Annabeth está certa
- disse Tyson. - O motor não está bom. - O que você quer dizer? - perguntou ela. - Pressão. Os pistões precisam de conserto. Antes que ele pudesse explicar, o vaso
sanitário cósmico deu descarga com um possante chuááááâ! O navio se lançou para a frente, e eu fui arremessado no convés. Estávamos no redemoinho. - Retaguarda total!
- gritou Clarisse mais alto que o barulho. O mar se agitava à nossa volta, as ondas arrebentavam no convés. As chapas de ferro agora estavam tão quentes que fumegavam.
- Levem-nos à linha de tiro! Preparem os canhões de estibordo! Os confederados mortos corriam de um lado para o outro. O motor entrou em reverso ruidosamente, tentando
reduzir a marcha do navio, mas continuamos a deslizar em direção ao centro do vórtice. Um marinheiro-zumbi de repente saiu do porão e correu até Clarisse. Seu uniforme
cinzento fumegava. A barba estava em chamas. - A sala da caldeira está superaquecendo, madame! Vai explodir! - Bem, desça até lá e conserte! - Impossível! - gritou
o marinheiro. - Estamos nos vaporizando com o calor. Clarisse deu um murro na lateral da casamata. - Só preciso de mais alguns minutos! Só o bastante para chegar
à linha de tiro! - Estamos indo depressa demais - disse o capitão em tom sinistro. - Preparem-se para morrer.

- Não! - Tyson urrou. - Eu posso consertar. Clarisse olhou para ele, incrédula. - Você? - Ele é um ciclope - disse Annabeth. - É imune ao fogo. E entende de mecânica.
- Vá! - berrou Clarisse. - Tyson, não! - agarrei o braço dele. - É perigoso demais! Ele deu uma palmadinha na minha mão. - E o único jeito, irmão. - Sua expressão
era determinada... confiante, até. Eu nunca o vira daquele jeito. Vou consertar. Volto já. Enquanto o olhava seguindo o marinheiro incandescente pela escotilha,
tive uma sensação terrível. Quis correr atrás dele, mas o navio de novo foi lançado para a frente - e, então, vi Caríbdis. Ela surgiu algumas centenas de metros
adiante, em meio a um turbilhão de névoa, fumaça e água. A primeira coisa que notei foi o recife - um rochedo negro de coral com uma figueira agarrada ao topo, algo
estranhamente tranqüilo no meio da confusão. Por roda a volta, a água girava como num funil, como luz ao redor de um buraco negro. Então vi a coisa horrível ancorada
no recife logo abaixo do nível da água uma enorme boca com lábios vistosos e dentes cobertos de musgo do tamanho de botes a remo. li, pior, os dentes tinham um aparelho,
tiras de metal corroído e infecto com pedaços de peixes, madeira podre e lixo flutuante presos entre eles. Caríbdis era o pesadelo de um ortodontista. Nada mais
que uma enorme boca negra, com dentes estragados e mal alinhados, os caninos e os incisivos exageradamente projetados sobre os dentes de baixo, e que havia séculos
não fazia nada a não ser comer sem escovar os dentes depois das refeições. Enquanto eu olhava, todo o mar à sua volta foi sugado para o vazio - tubarões, cardumes
de peixes, uma lula gigante. E percebi que em poucos segundos o Birmingham seria o próximo. - Lady Clarisse! - bradou o capitão. - Canhões de estibordo e de proa
ao alcance! - Fogo! - ordenou Clarisse. Três projéteis foram disparados para dentro da boca do monstro. Um arrancou um pedaço de um incisivo. Outro desapareceu em
sua garganta. O terceiro atingiu o metal do aparelho e ricocheteou de volta, arrancando do mastro a bandeira de Ares. - De novo! - ordenou ela. Os artilheiros recarregaram
os canhões, mas eu sabia que seria inútil. Teríamos de golpear o monstro cem vezes mais para causai algum dano real, e não tínhamos todo esse tempo. Estávamos sendo
sugados depressa demais. Então as vibrações no convés mudaram. O zumbido do motor ficou mais forte e mais firme. O navio estremeceu e começamos a nos afastar da
boca. - Tyson conseguiu! - disse Annabeth. - Espere! - disse Clarisse. - Precisamos ficar perto! - Vamos morrer! - falei. - Temos de nos afastar. Agarrei-me à amurada
enquanto o navio lutava para não ser sugado. A bandeira arrancada de Ares passou voando por nós e se alojou no aparelho de Caríbdis. Não estávamos fazendo muito
progresso, mas ao

menos mantínhamos a posição. De algum modo, Tyson nos dera força suficiente apenas para impedir que o navio fosse tragado. De repente, a boca se fechou. O mar ficou
absolutamente calmo. A água encobriu Caríbdis. Então, com a mesma rapidez com que se fechara, a boca se abriu numa explosão, cuspindo uma muralha de água, ejetando
tudo o que não era comestível, inclusive nossas balas de canhão, uma das quais atingiu o costado do Birmingham com um plim!, como o da sineta de um brinquedo de
parque de diversões. Fomos lançados para trás em uma onda que devia medir uns doze metros. Usei todo o meu poder para impedir que o navio emborcasse, mas ainda estávamos
rodopiando fora de controle, movendo-nos a toda na direção das falésias no lado oposto do estreito. Outro marinheiro incandescente saiu de repente do porão e foi
de encontro a Clarisse, quase lançando ambos ao mar. - O motor está a ponto de explodir! - Onde está Tyson? - perguntei. - Ainda lá embaixo - disse o marinheiro.
- Segurando as pontas, não sei como, mas acho que não por muito mais tempo. O capitão disse: - Temos de abandonar o navio. - Não! - berrou Clarisse. - Não temos
escolha, milady. O casco já está rachando. Ela não pode... Não chegou a terminar a frase. Rápida como um raio, alguma coisa marrom e verde desceu do céu, agarrou
o capitão e o levou embora. Tudo o que restou foram suas botas de couro. - Squila! - gritou um marinheiro, enquanto outra coluna de carne reptiliana se lançava da
falésia e o arrastava para cima. Aconteceu tão depressa que era como ver um raio laser, e não um monstro. Não pude nem distinguir a cara da coisa, só um relance
de dentes e escamas. Destampei Contracorrente e tentei golpear o monstro quando ele levou mais um tripulante, mas fui lento demais. - Todo o mundo para baixo! -
berrei. - Não podemos! - Clarisse sacou sua espada. - O convés inferior está em chamas. - Botes salva-vidas! - disse Annabeth. - Depressa! - Eles nunca passarão
pelas falésias - disse Clarisse. - Vamos ser todos comidos. - Temos de tentar. Percy, a garrafa térmica. - Não posso abandonar Tyson! - Temos de preparar os botes!


Clarisse aceitou a ordem de Annabeth. Ela e alguns dos seus marinheiros mortos vivos removeram a cobertura de um dos dois botes de emergência enquanto as cabeças
de Squila despencavam do céu como uma chuva de meteoros com dentes, catando um marinheiro confederado após outro. - Pegue o outro barco. - Joguei a garrafa para
Annabeth. - Vou buscar Tyson. - Você não pode! - disse ela. - O calor vai matá-lo! Não dei ouvidos. Corri para a escotilha da sala das caldeiras, mas de repente
meus pés não estavam mais tocando o convés, Eu estava voando para cima, o vento assobiando em meus ouvidos, a parede da falésia a apenas alguns centímetros do rosto.
De algum modo Squila me pegara pelo saco de viagem, e me içava para sua cova. Sem pensar, dei um golpe para trás com a espada e consegui acertar a coisa em seu olho
amarelo e redondo. Ela grunhiu e me soltou. A queda já teria sido bastante ruim, considerando que eu i tava a trinta metros de altura, mas, enquanto eu caía, o Birmingham
explodiu lá embaixo. CA-BUUUUUM! A casa de máquinas foi pelos ares, lançando pedaços de couraça de ferro em todas as direções, como asas flamejantes. - Tyson! -
gritei. Os botes tinham conseguido escapar do navio, mas não para muito longe. Choviam destroços em chamas. Clarisse e Annabeth seriam esmagadas, queimadas ou arrastadas
para o fundo pelo movimento do casco que afundava, e isso sendo otimista - presumindo que escapassem de Squila. Então ouvi um tipo diferente de explosão - o som
da garrafa mágica de Hermes sendo aberta um pouco demais. Um vendaval branco soprou em todas as direções, espalhando os botes, erguendo-me da queda livre e me atirando
pelo oceano. Não consegui ver mais nada. Girei no ar, fui atingido na cabeça por alguma coisa dura e caí na água com um impacto que teria quebrado todos os ossos
do meu corpo se eu não fosse filho do deus do mar. A última coisa de que me lembro foi ter afundado em um mar em chamas, sabendo que Tyson se fora para sempre e
desejando ser capaz de me afogar.


DOZE - Nossa estada no spa e resort da C.C.
Acordei em um bote a remo com uma vela improvisada, costurada com tecido de uniformes cinzentos. Annabeth estava sentada ao meu lado, ajustando a posição da vela
ao vento. Tentei me sentar e imediatamente senti tontura. - Descanse - disse ela. - Você vai precisar. - Tyson...? Ela sacudiu a cabeça. - Percy, sinto muito, mesmo.
Ficamos em silêncio enquanto as ondas nos jogavam para cima e para baixo. - Ele pode ter sobrevivido - disse ela, num tom desanimado. - Quer dizer, o fogo não pode
matá-lo. Assenti, mas não havia motivo para ter esperanças. Tinha visto aquela explosão rasgar o ferro sólido. Se Tyson estava embaixo, na casa de máquinas, não
era possível que tivesse escapado vivo. Ele dera a vida por nós, e tudo em que eu conseguia pensar era nas vezes em que me senti envergonhado por causa dele, em
que tinha negado que éramos irmãos. As ondas batiam suavemente no barco. Annabeth me mostrou algumas coisas que salvara dos destroços - a garrafa de Hermes (então
vazia), um saquinho com ziper cheio de ambrosia, duas camisas de marinheiro e uma garrafa de refrigerante. Ela me tirara da água e achara meu saco de viagem, mordido
no meio pelos dentes de Squila. A maior parte das minhas coisas havia sido levada pela água, mas eu ainda tinha o frasco de multivitaminas de Hermes e, é claro,
tinha Contracorrente. A caneta esferográfica sempre aparecia de volta em meu bolso, não importava onde eu a perdesse. Navegamos por horas. Agora que estávamos no
Mar de Monstros, a água reluzia em um verde mais brilhante, como o ácido da Hidra. O vento tinha um cheiro fresco e salgado, mas trazia também um odor metálico -
como se uma tempestade se aproximasse. Ou algo ainda mais perigoso. Eu sabia em que direção devíamos seguir. Sabia que estávamos a exatamente cento e trinta milhas
náuticas a oés-noroeste do nosso destino. Mas isso não fazia com que me sentisse menos perdido. Não importava para que lado nos virássemos, o sol parecia incidir
bem nos meus olhos. Nós nos revezamos dando goles no refrigerante, tentando, do jeito que dava, ficar à sombra da vela. E conversamos sobre meu último sonho com
Grover. Pela estimativa de Annabeth, tínhamos menos de vinte e quatro horas para encontrar Grover, supondo que meu sonho estivesse correto, e supondo também que
o ciclope Polifemo não tivesse mudado de idéia e tentado se casar com Grover mais cedo. - É - disse com amargura. - Não se pode confiar em um ciclope. Annabeth olhou
fixamente para a água. - Desculpe-me, Percy. Eu estava errada sobre Tyson, o.k.? Queria poder dizer isso a ele. Tentei continuar zangado com ela, mas não era fácil.
Passamos por muita coisa juntos. Ela salvara minha vida uma porção de vezes. Era tolice da minha parte ficar ressentido com ela. Baixei os olhos para os nossos magros
pertences - a garrafa de vento vazia, o frasco de multivitaminas. Pensei na cara de raiva de Luke quando tentei falar com ele sobre seu pai.

- Annabeth, qual é a profecia de Quíron? Ela apertou os lábios. - Percy, eu não devia... - Sei que Quíron prometeu aos deuses que não iria me contar. Mas você não
prometeu, não é? - Saber de uma coisa nem sempre é bom para a gente. - Sua mãe é a deusa da sabedoria! - Eu sei! Mas cada vez que os heróis ficam sabendo o futuro
tentam mudá-lo, e isso nunca dá certo. - Os deuses estão preocupados com alguma coisa que vou fazer quando ficar mais velho - sugeri. - Algo quando eu fizer dezesseis
anos. Annabeth torceu seu boné dos Yankees nas mãos. - Percy, eu não sei da profecia completa, mas ela avisa sobre um filho meio-sangue dos Três Grandes... o próximo
a viver até os dezesseis anos. É a verdadeira razão de Zeus, Poseidon e Hades terem feito o juramento, depois da Segunda Guerra Mundial, de não ter mais filhos.
O próximo filho dos Três Grandes que chegar aos dezesseis anos será uma arma perigosa. - Por quê? - Porque esse herói irá decidir o destino do Olimpo. Ele ou ela,
vai tomar uma decisão que poderá salvar a Era dos Deuses, ou destruí-la. Deixei aquilo amadurecer na minha cabeça. Não costumo ficar mareado, mas de repente senti
enjôo. - Foi por isso que Cronos não me matou no último verão. Ela fez que sim. - Você poderia ser muito útil para ele. Se conseguir você como aliado, os deuses
terão sérios problemas. - Mas se sou eu na profecia... - Só vamos saber se você sobreviver mais três anos. O que pode ser bastante tempo para um meiosangue. Quando
Quíron soube de Thalia, imaginou que a profecia se referisse a ela. É por isso que estava tão desesperado para levá-la ao acampamento em segurança. Então ela morreu
lutando e foi transformada em pinheiro, e nenhum de nós sabia o que pensar. Até você aparecer. A bombordo do nosso barco uma nadadeira dorsal pontiaguda com cerca
de cinco metros de comprimento surgiu na água e desapareceu. - Essa criança na profecia... ele, ou ela, não poderia ser, tipo, um ciclope? - perguntei. - Os Três
Grandes têm uma porção de filhos monstros. Annabeth sacudiu a cabeça. - O Oráculo disse "meio-sangue". Isso sempre significa meio-humano, meio-deus. Na verdade não
existe ninguém vivo que se encaixe na definição a não ser você. - Então, por que os deuses me deixam viver? Seria mais seguro que me matassem.

- Você tem razão. - Muito obrigado. - Percy, eu não sei. Acho que alguns dos deuses gostariam de matá-lo, mas eles provavelmente têm medo de ofender Poseidon. Outros
deuses... talvez o estejam observando, tentando perceber que tipo de herói você vai ser. Você poderia ser uma arma para a sobrevivência deles, afinal. A verdadeira
questão é... o que você vai fazer em três anos? Que decisão vai tomar? - A profecia deu alguma dica? Annabeth hesitou. Talvez ela fosse me contar mais, mas bem nesse
momento uma gaivota mergulhou saindo do nada e pousou no nosso mastro improvisado. Annabeth pareceu perplexa quando a ave deixou cair uma pequena porção de folhas
no colo dela. - Terra - disse ela. - Há terra por perto! Sentei. E havia mesmo uma linha azul e marrom a distância. Mais um minuto e pude distinguir uma ilha com
uma pequena montanha no centro, um ajuntamento de prédios de um branco deslumbrante, uma praia pontilhada de palmeiras e um porto cheio de um estranho agrupamento
de barcos. A corrente estava puxando nosso bote na direção daquilo que parecia ser um paraíso tropical. **** - Bem-vindos! - disse a moça com a prancheta. Ela parecia
uma comissária de bordo - tailleur azul, maquiagem perfeita, cabelo puxado para trás em um rabo-de-cavalo. Apertou nossas mãos quando desembarcamos no cais. Pelo
sorriso deslumbrante que ela nos deu, dava para pensar que acabávamos de descer do Princesa Andrômeda, e não de um bote a remo desconjuntado. Mas, por outro lado,
nosso bote não era a embarcação mais esquisita no porto. Juntamente com um grupo de agradáveis iates, havia um submarino da Marinha dos Estados Unidos, diversas
noas escavadas em troncos e um antiquado veleiro de três mastros. Havia um heliporto com um helicóptero da base aérea de Fort Lauderdale pousado e uma curta pista
de pouso e decolagem com um Learjet e um avião a hélice que parecia um caça da Segunda Guerra Mundial. Talvez fossem réplicas para os turistas verem, ou coisa assim.
- Primeira vez conosco? - perguntou a moça da prancheta. Annabeth e eu trocamos olhares. Annabeth disse: - Ahn... - Primeira vez no spa - disse a moça, escrevendo
na sua prancheta. - Vejamos... Ela nos olhou criteriosamente de cima a baixo. - Humm. Para começar, um emplastro de ervas para a mocinha. E, é claro, uma transformação
completa para o jovem cavalheiro. - O quê? - perguntei.

Ela estava atarefada demais tomando notas para responder. - Certo! - disse ela com um sorriso jovial. - Bem, estou certa de que C. C. vai querer falar com vocês
pessoalmente antes do luau. Venham, por favor. O negócio era o seguinte: Annabeth e eu estávamos acostumados com armadilhas, e usualmente aquelas armadilhas pareciam
coisas boas no começo. Portanto, esperava que a qualquer minuto a prancheta da moça se transformasse em uma serpente, um demônio ou coisa assim. Mas, por outro lado,
tínhamos passado a maior parte do dia flutuando em um bote a remo. Eu estava encalorado, cansado e faminto, e quando a moça mencionou um luau, meu estômago sentou
nas patas traseiras e implorou como um cachorrinho. - Acho que mal não pode fazer - murmurou Annabeth. É claro que podia, mas nós seguimos a moça assim mesmo. Mantive
as mãos nos bolsos onde eu guardava minhas únicas defesas mágicas - as multivitaminas de Hermes e Contracorrente -, mas quanto mais adentrávamos o balneário mais
eu me esquecia delas. O lugar era surpreendente. Havia mármore branco e água azul para onde quer que eu olhasse. Havia terraços na encosta da montanha, com piscinas
em todos os níveis, conectadas por tobogãs de água, e cascatas, e tubos pelos quais dava para nadar. Fontes aspergiam água no ar, tomando formas impossíveis, como
águias voando e cavalos galopando. Tyson adorava cavalos, e eu sabia que ele iria adorar aquelas fontes. Quase me virei para ver a expressão em seu rosto antes de
lembrar que Tyson se fora. - Você está bem? - perguntou Annabeth. - Parece pálido. - Estou bem - menti. - É só... Vamos seguir andando. Passamos por todo tipo de
animal domesticado. Uma tartaruga marinha cochilava em uma pilha de toalhas de praia. Um leopardo dormia esticado no trampolim. Os hóspedes do resort - só mulheres
jovens, até onde eu podia ver - descansavam em espreguiçadeiras, bebendo coquetéis de frutas ou lendo revistas enquanto substâncias pegajosas de ervas secavam em
seus rostos e manicures de uniforme branco faziam suas unhas. Quando subimos uma escadaria em direção ao que parecia ser o edifício principal, ouvi uma mulher cantando.
Sua voz pairava no ar como uma canção de ninar. A letra era em alguma língua que não o grego antigo, mas igualmente velha - minóico, talvez, ou algo assim. Eu conseguia
entender sobre o que era - luar em olivais, as cores da aurora. E mágica. Algo sobre mágica. A voz parecia me erguer dos degraus e me transportar em sua direção.
Entramos em um grande salão cuja parede da frente era toda de janelas. A parede de trás estava coberta de espelhos, assim o salão parecia não acabar nunca. Havia
um conjunto de móveis brancos aparentemente caros, e sobre uma mesa em um canto havia uma grande gaiola de arame. A gaiola parecia deslocada, mas pensei muito nisso,
porque justamente nesse instante vi a moça que estava cantando... e, uau! Estava sentada em frente a um tear do tamanho de uma tevê de tela grande, as mãos tecendo
fios coloridos para cima e para baixo com espantosa habilidade. A tapeçaria cintilava como se fosse tridimensional - o cenário de uma cascata tão real que eu podia
ver a água se movendo e as nuvens pairando em um céu de tecido. Annabeth tomou fôlego. - É lindo.

A mulher se virou. Era ainda mais bonita que seu tecido. Os longos cabelos escuros estavam trançados com fios de ouro. Tinha olhos verdes penetrantes e usava um
vestido preto sedoso com formas que pareciam mover-se no tecido: sombras de animais, preto sobre preto, como cervos correndo por uma floresta à noite. - Você gosta
de tecelagem, minha querida? - perguntou a mulher. - Ah, sim, senhora. - disse Annabeth. - Minha mãe é... Ela se interrompeu. Você não pode simplesmente sair por
aí anunciando que sua mãe é Atena, a deusa que inventou o tear. A maioria das pessoas iria trancá-lo em um quarto de hospício. Nossa anfitriã apenas sorriu. - Tem
bom gosto, minha querida. Estou tão contente por você ter vindo. Meu nome é C. C. Os animais na gaiola do canto começaram a guinchar. Pelo som, deviam ser porquinhos-da-índia.
Nós nos apresentamos a C. C. Ela me examinou com um quê de desaprovação, como se eu não tivesse passado em algum tipo de teste. Eu imediatamente me senti mal. Por
alguma razão, queria muito agradar àquela moça. - Ah! céus - suspirou ela. - Você realmente precisa da minha ajuda. - Senhora? - perguntei. C. C. chamou a moça de
tailleur. - Hylla, quer levar Annabeth para dar uma volta? Mostre a ela o que temos disponível. As roupas precisarão ser trocadas. E o cabelo, céus! Faremos uma
consultoria de imagem completa depois que eu falar com este jovem cavalheiro. - Mas... - O tom de Annabeth pareceu magoado. - O que há de errado com meu cabelo?
C. C. deu um sorriso bondoso. - Minha querida, você é adorável. Sem dúvida! Mas não está mostrando a si mesma ou seus talentos nem um pouco. É muito potencial desperdiçado!
- Desperdiçado? - Bem, você certamente não está feliz do jeito que é! Céus, não existe uma única pessoa que esteja. Mas não se preocupe. Podemos melhorar qualquer
um aqui no spa. Hylla vai lhe mostrar o que quero dizer. Você, minha querida, precisa revelar seu verdadeiro eu! Os olhos de Annabeth brilharam de ansiedade. Eu
nunca a tinha visto tão sem palavras. - Mas... e Percy? - Ah! sem a menor dúvida - disse C. C, lançando-me um olhar triste. - Percy requer minha atenção pessoal.
Ele vai dai muito mais trabalho que você. Normalmente, se alguém me dissesse aquilo eu ficaria zangado, mas quando C. C. falou eu senti tristeza. Eu a desapontara.
Tinha de descobrir como me sair melhor. Os porquinhos-da-índia guincharam como se estivessem com fome.

- Bem... - disse Annabeth. - Acho que... - Por aqui, querida - disse Hylla. E Annabeth permitiu que a levassem embora para o jardim com cascatas do spa. C. C. pegou
meu braço e me guiou em direção à parede de espelhos. - Como vê, Percy... para liberar seu potencial você vai precisar de uma grande ajuda. O primeiro passo é admitir
que você não é feliz do jeito que é. Fiquei inquieto na frente do espelho. Odiava pensar na minha aparência - como a primeira espinha que surgira no meu nariz no
começo do ano letivo, ou o fato de que meus dois dentes da frente não eram perfeitamente iguais, ou que meu cabelo nunca assentava direito. A voz de C. C. me trouxe
à lembrança todas essas coisas, como se ela estivesse me observando por um microscópio. E minhas roupas não eram legais, eu sabia disso. Quem se importa? Pensou
uma parte de mim. Mas, de pé diante do espelho de C. C, era difícil ver algo de bom em mim mesmo. - Vamos, vamos... - consolou-me C. C. - Que tal se tentarmos...
isso. Ela estalou os dedos e uma cortina azul-céu desceu diante do espelho. Ela cintilava como o tecido em seu tear. - O que você vê? - perguntou C. C. Olhei para
o pano azul, sem saber muito bem o que ela queria dizer. - Eu não... Então ele mudou de cor. Eu vi a mim mesmo - um reflexo, nus não um reflexo. Ali cintilando no
pano estava uma versão melhorada de Percy Jackson - com as roupas certas, um sorriso confiante no rosto. Meus dentes estavam alinhados. Nenhuma espinha. Um bronzeado
perfeito. Mais atlético. Talvez alguns centímetros mais alto. Era eu, sem os defeitos. - Uau - consegui dizer. - Você quer assim? - perguntou C. C. - Ou devo tentar
um diferente... - Não - falei. - Isso é... isso é incrível. Você pode realmente... - Posso lhe proporcionar uma transformação completa - prometeu C. C. - Qual é
o truque? Eu preciso, tipo... entrar numa dieta especial? - Ah! é muito fácil - disse C. C. - Muitas frutas frescas, um leve programa de exercícios e é claro...
isso. Ela foi até seu bar e encheu um copo com água. Depois rasgou um envelope de mistura para refresco e despejou um pouco de pó vermelho. A mistura começou a brilhar.
Depois que o brilho se extinguiu, a bebida parecia exatamente um milk-shake de morango. - Um desses no lugar de uma refeição normal - disse C. C. - Garanto que vai
ver os efeitos imediatamente. - Como é possível?

Ela riu. - Por que questionar? Quer dizer, você não quer o seu perfeito agora mesmo? Alguma coisa lá no fundo me incomodava. - Por que não há nenhum homem neste
spa? - Ah! mas há, sim - assegurou-me C. C. - Logo você encontrará. Apenas experimente a mistura. Você vai ver. Olhei para a tapeçaria azul, para o reflexo que era
eu mas não era eu. - Agora, Percy - repreendeu C. C. - A parte mais difícil do processo de transformação é abrir mão do controle. Você tem de decidir: quer confiar
no seu julgamento sobre o que você deve ser ou no meu julgamento? Senti a garganta seca. Eu me ouvi dizendo: - No seu julgamento. C. C. sorriu e me entregou o copo.
Levei-o aos lábios Tinha o sabor que aparentava - milk-shake de morango. Quase imediatamente uma sensação calorosa se espalhou pelas minhas entranhas: agradável
de início, depois dolorosamente quente, escaldante, como se a mistura estivesse fervendo dentro de mim. Eu me curvei e deixei o copo cair. - O que você... o que
está acontecendo? - Não se preocupe, Percy - disse C. C. - A dor vai passar. Olhe! Como eu prometi. Resultados imediatos. Alguma coisa estava terrivelmente errada.
A cortina caiu, e no espelho eu vi minhas mãos murchando, se encurvando, enquanto cresciam garras compridas e delicadas. Pelos brotaram em meu rosto, embaixo da
camisa, em todos os lugares mais constrangedores que você possa imaginar. Os dentes pareciam muito pesados na minha boca. Minhas roupas estavam ficando grandes demais,
ou C. C. estava ficando alta demais - não, eu estava encolhendo. Num flash medonho, afundei em uma caverna escura de pano. Estava enterrado em minha própria camisa.
Tentei correr, mas mãos me agarraram - mãos do meu tamanho. Tentei gritar por socorro, mas tudo o que saiu da minha boca foi: - Iiik, iiik, iiik! As mãos gigantes
me espremeram pelo tronco, me erguendo no ar. Eu me debati e esperneei com pernas e braços que pareciam muito curtos e grossos, e então eu estava olhando, aterrorizado,
para a enorme cara de C. C. - Perfeito! - retumbou a voz dela. Eu me contorci, alarmado, mas ela apenas me apertou mais em volta da barriga peluda. - Está vendo,
Percy? Você revelou seu verdadeiro eu!

Ela me segurou diante do espelho, e o que vi me fez gritar de terror. - liik, iiik, iiik! Ali estava C. C, linda e sorrindo, segurando uma criatura fofa, dentuça,
de garras pequeninas e pelagem branca e laranja. Quando me torci, a criatura peluda no espelho fez o mesmo. Eu era... eu era... - Um porquinho-da-índia - disse C.
C. - Adorável, não é? Os homens são porcos, Percy Jackson. Eu costumava transformá-los em porcos de verdade, mas eles eram tão fedidos e grandes, e difíceis de manter...
Porquinhos-da-índia são muito mais convenientes! Agora venha, e conheça os outros homens. - Iiik!- protestei, tentando arranhá-la, mas C. C. me apertou com tanta
força que eu quase desmaiei. - Nada disso, pequenino - repreendeu ela -, senão vou oferecê-lo às corujas. Entre na gaiola como um bom animalzinho. Amanhã, se você
se comportar, poderá ir embora. Há sempre uma sala de aula precisando de um novo porquinho-da-índia. Minha cabeça estava tão disparada quanto meu coraçãozinho. Precisava
voltar até as minhas roupas, que estavam amontoadas no chão. Se conseguisse fazer isso, poderia tirar Contracorrente do bolso e... e o quê? Eu não conseguiria destampar
a caneta. E, mesmo que conseguisse, não poderia segurar a espada. Eu me contorci, indefeso, enquanto C. C. me levava para a gaiola de porquinhos-da-índia e abria
a porta de arame. - Conheça os meus problemas de disciplina, Percy - advertiu ela. - Eles nunca serão bons animaizinhos de sala de aula, mas podem lhe ensinar algo
sobre boas maneiras. A maioria já está nessa gaiola há trezentos anos. Se não quiser ficar com eles para sempre, sugiro que você... A voz de Annabeth chamou: - Senhorita
C. C.? C. C. praguejou em grego antigo. Ela me jogou dentro da gaiola e fechou a porta. Guinchei e arranhei as barras, mas não adiantava nada. Fiquei olhando enquanto
C. C. chutava depressa minhas roupas para baixo do tear bem no momento em que Annabeth entrou. Eu quase não a reconheci. Estava usando um vestido de seda sem mangas
como o de C. C, só que branco. O cabelo loiro estava recém-lavado e trançado com ouro. E o pior de tudo era que ela estava maquiada, coisa que eu pensava que Annabeth
nunca seria pega usando. Quer dizer, ela estava bonita. Bonita à beca. Talvez eu ficasse sem fala se fosse capaz de dizer qualquer coisa além de iiik, iiik, iiik.
Mas havia algo de totalmente errado naquilo. Aquilo não era Annabeth. Ela olhou em volta e franziu a testa. - Onde está Percy? Eu guinchei uma tempestade, mas ela
pareceu não me ouvir. C. C. sorriu. - Ele está passando por um dos nossos tratamentos, minha querida. Não se preocupe. Você está maravilhosa! O que achou da sua
excursão? Os olhos de Annabeth brilharam. - Sua biblioteca é impressionante!

- Sim, de fato - disse C. C. - O melhor da sabedoria dos três últimos milênios. Qualquer coisa que você queira estudar, qualquer coisa que queira ser, minha querida.
- Quero ser arquiteta. - Bah! - disse C. C. - Você, minha querida, tem tudo o que é preciso para ser uma feiticeira. Como eu. Annabeth deu um passo atrás. - Uma
feiticeira? - Sim, minha querida. - C. C. ergueu a mão. Uma chama apareceu na palma e dançou entre as pontas dos seus dedos. - Minha mãe é Hécata, a deusa da mágica.
Conheço uma filha de Atena quando a vejo. Não somos tão diferentes, você e eu. Ambas buscamos o conhecimento. Ambas admiramos a grandeza. Nenhuma de nós precisa
ficar à sombra de homens. - Eu... eu não entendo. Outra vez, guinchei o melhor que podia, tentando chamar a atenção de Annabeth, mas ou ela não podia me ouvir ou
não achava que os ruídos fossem importantes. Nesse meio-tempo, os outros porquinhos-daíndia estavam saindo de sua casinha para me examinar. Não imaginava que porquinhos-da-índia
pudessem parecer maus, mas aqueles pareciam. Havia meia dúzia, com o pelo sujo, dentes rachados e olhos redondos e vermelhos. Estavam cobertos de serragem e o cheiro
era de quem realmente estava ali havia trezentos anos, sem que ninguém limpasse a gaiola. - Fique comigo - C. C. estava dizendo a Annabeth. - Estude comigo. Você
pode se juntar à nossa equipe, tornar-se uma feiticeira, aprender a dobrar os outros à sua vontade. Você se tornará imortal! - Mas... - Você é inteligente demais,
minha querida - disse C C - Pode fazer mais do que apostar naquele acampamento bobo de heróis. Quantas grandes mulheres heroínas meio-sangue você pode citar? - Ahn,
Atalanta, Amélia Earhart... - Bah! Os homens ficam com toda a glória. - C. C. fechou o punho e extinguiu a chama mágica. - O único caminho das mulheres para o poder
é a feitiçaria. Medeia, Calipso, essas eram mulheres poderosas! E eu, é claro. A maior de todas. - Você... C. C... Circe! - Sim, minha querida. Annabeth recuou,
e Circe riu. - Não precisa se preocupar. Não lhe farei mal. - O que fez com Percy? - Só o ajudei a concretizar sua verdadeira forma. Annabeth esquadrinhou a sala.
Finalmente, viu a gaiola, e me viu arranhando as barras, com todos os outros porquinhos-da-índia à minha volta. Seus olhos se arregalaram. - Esqueça-o - disse Circe.
- Junte-se a mim e aprenda os caminhos da feitiçaria. - Mas... - Seu amigo será bem cuidado. Ele será despachado para um maravilhoso novo lar no continente. As crianças
do jardim-de-infância vão adorá-lo. Enquanto isso, você será sábia e poderosa. Tera tudo o que

sempre quis. Annabeth ainda olhava fixamente para mim, mas estava com uma expressão sonhadora no rosto. Estava do mesmo jeito que eu quando Circe me enfeitiçou para
beber o milk-shake de porquinho-da-índia. Eu guinchei e arranhei, tentando alertá-la para despertar, mas estava absolutamente impotente. - Deixe-me pensar a respeito
- murmurou Annabeth. - Só... preciso de um minuto sozinha. Para dizer adeus. - É claro, minha querida - arrulhou Circe. - Um minuto. Ah!... e para que você tenha
privacidade absoluta... Ela acenou a mão e barras de ferro desceram nas janelas. Saiu da sala e ouvi as trancas da porta se fecharem atrás dela. O ar sonhador derreteu-se
do rosto de Annabeth. Ela correu até minha gaiola. - Muito bem, qual é você? Eu guinchei, mas todos os outros porquinhos-da-índia também guincharam. Annabeth parecia
desesperada. Esquadrinhou a sala e avistou a barra dos meus jeans aparecendo embaixo do tear. - Sim! Correu para lá e vasculhou os bolsos. Mas, em vez de puxar Contracorrente,
encontrou o frasco de multivitaminas de Hermes e começou a lutar com a tampa. Tive vontade de gritar para ela que aquele não era o momento para tomar suplementos!
Ela tinha de sacar a espada! Ela jogou uma pastilha de limão na boca no momento em que a porta se abriu e Circe voltou, a seu lado duas das assistentes de tailleur.
- Bem - suspirou Circe -, como um minuto passa depressa! Qual é sua resposta, minha querida? - Esta - disse Annabeth, e sacou sua faca de bronze. A feiticeira deu
um passo atrás, mas sua surpresa logo passou Olhou-a com desprezo. - Realmente, menininha, uma faca contra a minha mágica? Será que isso é sensato? Circe olhou para
as assistentes atrás dela, que sorriram. Elas ergueram as mãos como se estivessem se preparando para lançar um feitiço. Corra!, eu quis dizer a Annabeth, mas tudo
o que consegui fazer foram ruídos de roedor. Os outros porquinhos-da-índia guincharam aterrorizados e correram pela gaiola. Meu impulso foi entrar em pânico e me
esconder também, mas tinha de pensar em alguma coisa! Não ia suportar perder Annabeth como perdera Tyson. - Como será a transformação de Annabeth? - refletiu Circe.
- Algo pequeno e mal-humorado. Já sei... um musaranho! Chamas azuis se contorceram saindo de seus dedos e se enrascaram como serpentes em Annabeth. Eu fiquei olhando,
horrorizado, mas nada aconteceu. Annabeth continuou sendo Annabeth, só que mais zangada. Ela saltou para a frente e colocou a ponta da faca no pescoço de Circe.
- Que tal me transformar em uma pantera, em vez disso? Uma pantera que está com as garras na sua garganta!

- Como? - gemeu Circe. Annabeth ergueu meu frasco de vitaminas para a feiticeira ver. Circe uivou de frustração. - Maldito seja Hermes, com suas multivitaminas!
Elas não passam de uma moda passageira! Não podem fazer nada por você. - Faça Percy voltar a ser humano, senão... - disse Annabeth. - Eu não posso! - Então você
vai ter o que pediu. As assistentes de Circe avançaram um passo, mas sua senhora disse: - Recuem! Ela é imune à mágica até que passe o efeito daquela maldita vitamina.
Annabeth arrastou Circe até a gaiola dos porquinhos-da-índia, derrubou a parte de cima e despejou o restante das pastilhas lá dentro. - Não! - gritou Circe. Eu fui
o primeiro a conseguir uma vitamina, mas todos os outros porquinhos-da-índia também correram para experimentar o novo alimento. A primeira mordida, eu me senti pegando
fogo por dentro. Roí a vitamina até que ela não parecesse mais tão enorme. E a gaiola ficou menor. E então, de repente, hum!, a gaiola explodiu. Eu estava sentado
no chão, humano de novo - de algum modo, de volta a minhas roupas normais, graças aos deuses -, com seis outros caras que pareciam todos desorientados, piscando
e sacudindo a serragem dos cabelos. - Não! - gritou Circe. - Você não entende! Aqueles são os piores! Um dos homens se pôs em pé - um cara enorme, com uma barba
comprida e emaranhada, preta como piche, e dentes da mesma cor. Usava roupas que não combinavam, de lã e couro, botas até os joelhos e um chapéu de feltro mole.
Os outros homens estavam vestidos de maneira mais simples - calções amarrados abaixo do joelho e camisas brancas manchadas. Todos estavam descalços. - Argggh! -
urrou o homenzarrão. - O que a bruxa fez comigo! - Não! - gemeu Circe. Annabeth respirou fundo. - Eu conheço você! Edward Teach, filho de Ares? - Sim, garota - rosnou
o homenzarrão. - Mas a maioria me chama de Barba-Negra! E aquela é a feiticeira que nos capturou, rapazes. Acabem com ela, e depois quero arranjar uma grande tigela
de aipo para mim. Arggggh! Circe gritou. Ela e suas assistentes saíram correndo da sala, perseguidas pelos piratas. Annabeth embainhou sua faca e olhou para mim.
- Obrigado... - balbuciei. - Realmente, sinto muito...

Antes que eu pudesse pensar em um jeito de me desculpar por ter sido tão idiota, ela me pegou em um abraço, depois se afastou com igual velocidade. - Estou feliz
por você não ser um porquinho-da-índia. - Eu também. - Esperei que meu rosto não estivesse tão vermelho quanto me parecia. Ela desfez as trancas de ouro em seu cabelo.
- Venha, Cabeça de Alga. Precisamos dar o fora enquanto Circe está ocupada. Corremos colina abaixo pelos terraços, passando por funcionárias do spa aos berros e
piratas saqueando o resort. Os homens do Barba-Negra quebraram as tochas polinésias do luau, jogaram emplastros de ervas na piscina e chutaram mesas com toalhas
de sauna. Eu quase me senti mal por deixar os piratas rebeldes escapar, mas achei que eles mereciam algum divertimento melhor do que a roda de exercícios dos porquinhos-da-índia
depois de ficarem presos em uma gaiola por três séculos. - Qual navio? - disse Annabeth quando chegamos ao cais. Olhei em volta atordoado. Não podíamos pegar nosso
velho bote a remo. Tínhamos de escapar da ilha depressa, mas o que mais poderíamos usar? Um submarino? Um caça a jato? Eu não sabia pilotar nenhuma daquelas coisas.
E então eu vi. - Ali - falei. Annabeth piscou. - Mas... - Posso fazê-lo funcionar. - Como? Não consegui explicar. De algum modo eu sabia que uma velha embarcação
a vela seria a melhor aposta. Agarrei a mão de Annabeth e a puxei para o navio de três mastros. Pintado na proa estava o nome que eu só iria decifrar mais tarde:
Vingança da Rainha Ana. - Argggh! - berrou Barba-Negra em algum lugar atrás de nós. - Aqueles patifes estão tomando meu navio! Peguem-nos, rapazes! - Nunca vamos
conseguir zarpar a tempo! - gritou Annabeth enquanto embarcávamos. Olhei em volta para o impossível emaranhado de velas e cordas. O navio estava em ótimas condições
para seus trezentos anos, mas mesmo uma tripulação de cinqüenta homens levaria várias horas para colocá-lo em movimento. Não tínhamos várias horas. Eu podia ver
os piratas correndo escadas abaixo, agitando tochas e talos de aipo. Fechei os olhos e me concentrei nas ondas que batiam no casco, nas correntes oceânicas, nos
ventos que me cercavam. De repente, a palavra certa apareceu em minha cabeça. - Mastrodamezena! - gritei. Annabeth me olhou como se eu fosse maluco, mas no segundo
seguinte o ar se encheu com o assobio das cordas sendo bruscamente esticadas, o barulho de lonas se desfraldando e polias de madeira rangendo.

Annabeth se esquivou quando um cabo voou por cima da sua cabeça e se enroscou nos gurupés. - Percy, como... Eu não tinha uma resposta, mas podia sentir o navio reagindo
como se fosse parte do meu corpo. Fiz com que as velas se içassem tão facilmente como se estivesse movendo um braço. E fiz o leme virar. O Vingança da Rainha Ana
afastou-se do cais numa guinada, e quando os piratas chegaram perto da água já estávamos navegando o Mar de Monstros.


TREZE - Annabeth tenta ir nadando para casa
Por fim eu encontrara alguma coisa em que era realmente bom. O Vingança da Rainha Ana respondia ao meu comando. Eu sabia que cordas içar, que velas levantar, em
que direção pilotar. Avançamos nas ondas a uma velocidade que estimei em cerca de dez nós. Eu até entendia perfeitamente como aquilo era rápido. Para um navio à
vela, extremamente veloz. Tudo parecia perfeito - o vento no rosto, as ondas quebrando na proa. Mas, agora que estávamos fora de perigo, eu só pensava na falta que
Tyson me fazia, e em como estava preocupado com Grover. Não conseguia me recuperar da tremenda trapalhada que tinha leito na ilha de Circe. Se não fosse por Annabeth,
ainda seria um roedor, escondido em uma casinha com um bando de piratas fofinhos e peludos. Ficava pensando no que Circe dissera: Está vendo, Percy? Você revelou
seu verdadeiro eu! Eu ainda me sentia transformado. Não só porque de repente tinha vontade de comer alface. Estava inquieto, como se o instinto de ser um animalzinho
assustado fosse agora parte de mim. Ou talvez sempre tivesse estado ali. É o que de fato me preocupava. Navegamos noite adentro. Annabeth tentou me ajudar a manter
a vigilância, mas navegar não era para ela. Depois de algumas horas balançando de um lado para outro, seu rosto estava da cor de guacamole e ela foi para baixo,
deitar numa rede. Eu observava o horizonte. Avistei monstros mais de uma vez. Um jorro de água alto como um arranha-céu foi cuspido à luz da lua. Uma fileira de
saliências verdes e pontudas serpenteou nas ondas - algo com talvez trinta metros de comprimento, reptiliano. Eu não queria saber. Uma vez vi nereidas, os espíritos
femininos luminescentes do mar. Tentei acenar, mas elas desapareceram nas profundezas e fiquei sem saber se tinham ou não me visto. Pouco depois da meia-noite Annabeth
subiu para o convés. Estávamos passando por uma ilha vulcânica fumegante. Na costa, o mar borbulhava e o vapor subia. - Uma das forjas de Hefesto - disse Annabeth.
­ Onde ele faz seus monstros de metal. - Como os touros de bronze? Ela fez que sim. - Dê a volta. Passe bem longe. Ela não precisou dizer duas vezes. Navegamos afastados
M ilha, que logo era apenas uma mancha vermelha de neblina atrás de nós. Olhei para Annabeth. - A razão da raiva que tem dos ciclopes... a história sobre como Thalia
realmente morreu. O que aconteceu? Era difícil ver sua expressão no escuro. - Acho que você merece saber - disse ela afinal. - noite em que Grover estava nos escoltando
para o acampamento, ele ficou confuso, errou o caminho algumas vezes. Lembra que ele lhe contou isso?

Eu concordei. - Bem, o pior erro levou à cova de um ciclope no Brooklyn. - Eles têm ciclopes no Brooklyn? - perguntei. - Você não acreditaria quantos, mas não se
trata disso. Esse ciclope, ele nos enganou. Conseguiu nos separar dentro de um labirinto de corredores em uma casa velha em Flatbush. E conseguia falar com a voz
de qualquer um, Percy. Exatamente como Tyson fez a bordo do Princesa Andrômeda. Ele nos atraiu, um de cada vez. Thalia pensou que estava correndo para salvar Luke.
Luke pensou ter me ouvido gritar por socorro. E eu... eu fiquei sozinha no escuro. Tinha sete anos. Não conseguia nem achar a saída. Ela afastou o cabelo do rosto.
- Lembro que encontrei a sala principal. Havia ossos espalhados por todo o piso. E lá estavam Thalia, Luke e Grover, com as mãos amarradas e amordaçados, pendurados
no teto como presunto defumado. O ciclope estava acendendo um fogo bem ali no piso. Puxei minha faca, mas ele me ouviu. Virou-se e sorriu. Ele falou e, de algum
modo, conhecia a voz do meu pui. Acho que simplesmente a extraiu da minha cabeça. Ele disse: "Agora, Annabeth, não se preocupe. Eu amo você. Você pode ficar aqui
comigo. Você pode ficar para sempre." Eu estremeci. O modo como ela contou aquilo - mesmo ali, seis anos depois - me apavorou mais que qualquer história de fantasma
que já ouvira. - O que você fez? - Eu o esfaqueei no pé. Olhei para ela. - Você está brincando? Tinha sete anos e esfaqueou um ciclope adulto no pé? - Ah! ele teria
me matado. Mas eu o surpreendi. Isso só me deu tempo de correr até Thalia e cortar as cordas das mãos dela. Daí em diante, ela assumiu. - Sim, mas ainda assim...
foi muita coragem, Annabeth. Ela sacudiu a cabeça. - Foi por pouco que escapamos. Ainda tenho pesadelos, Percy. O modo como o ciclope falou com a voz do meu pai.
Foi por causa dele que demoramos tanto para chegar ao acampamento. Todos os monstros que estavam nos perseguindo tiveram tempo de nos alcançar. Na verdade, foi por
isso que Thalia morreu. Se não fosse aquele ciclope, ela ainda estaria viva. Nós nos sentamos no convés, observando a constelação de Hércules erguer-se no céu. -
Vá para baixo - disse Annabeth por fim. - Você precisa descansar um pouco. Eu assenti. Meus olhos estavam pesados. Mas quando cheguei embaixo e encontrei uma rede
levei muito tempo para adormecer. Fiquei pensando na história de Annabeth. Se eu fosse ela, pensei, será que teria coragem para partir naquela missão, de navegar
para a cova de outro ciclope? ***** Eu não sonhei com Grover. Em vez disso, estava de volta ao camarote de Luke a bordo do Princesa Andrômeda. As cortinas estavam
abertas. Do lado de fora era noite. Sombras giravam no ar. Vozes sussurravam à minha volta - espíritos dos mortos.

Cuidado, elas sussurravam. Armadilhas. Ardis. O sarcófago de ouro de Cronos brilhava discretamente - a única fonte de luz no recinto. Um riso frio me assustou. Parecia
vir de quilômetros abaixo do navio. Você não tem coragem, jovenzinho. Não pode me deter. Eu sabia o que tinha de fazer. Precisava abrir aquele caixão. Destampei
Contracorrente. Fantasmas esvoaçavam à minha volta como um tornado. Cuidado! Meu coração batia forte. Eu não conseguia obrigar meus pés a se mexer, mas tinha de
deter Cronos. Precisava destruir o que quer que estivesse naquela caixa. Então uma menina falou bem ao meu lado: - E então, Cabeça de Alga? Olhei, esperando ver
Annabeth, mas a menina não era ela. Usava roupas estilo punk com correntes de prata nos pulsos. Tinha cabelo preto espetado, delineador escuro em volta dos olhos
azuis tempestuosos e sardas espalhadas no nariz. Parecia conhecida, mas eu não sabia muito bem por quê. - E então? - perguntou. - Você vai detê-lo ou não? Eu não
conseguia responder. Não conseguia me mexer. A menina revirou os olhos. - Ótimo. Deixe comigo e Aegis. Ela tocou seu pulso e as correntes de prata se transformaram
- achatando-se e se expandindo em um enorme escudo. Era de prata e bronze, com a cara monstruosa da Medusa se projetando do centro. Parecia uma máscara mortuária,
como se a verdadeira cabeça da górgona tivesse sido prensada no metal. Eu não sabia se aquilo era de verdade ou se o escudo podia de fato me transformar em pedra,
mas desviei o olhar. Só o fato de estar perto daquilo me deixava gelado de medo. Tive a sensação de que, numa luta de verdade, derrotar o portador daquele escudo
seria quase impossível. Qualquer inimigo daria meia-volta e sairia correndo. A menina puxou sua espada e avançou para o sarcófago. Os fantasmas escuros se separaram
para deixá-la passar, espalhando-se frente à terrível aura de seu escudo. - Não - tentei adverti-la. Mas ela não me deu ouvidos. Marchou direto para o sarcófago
e empurrou a tampa dourada para o lado. Por um momento ficou ali parada, olhando fixamente para o que havia dentro da caixa. O caixão começou a brilhar. - Não. -
A voz da menina tremia. - Não pode ser. Das profundezas do oceano, Cronos riu tão alto que fez tremer o navio inteiro. - Não! - A menina gritou, e o sarcófago a
engoliu em uma explosão de luz dourada. - Ah! - Sentei na rede em um salto.

Annabeth me sacudia. - Percy, você estava tendo um pesadelo. - Precisa levantar! - O que... o que foi? - esfreguei os olhos. - O que está errado? - Terra - disse
ela num tom soturno. - Estamos nos aproximando da ilha das sereias. ***** Mal pude distinguir a ilha à nossa frente - apenas um ponto escuro na névoa. - Quero que
me faça um favor - disse Annabeth. - sereias... estaremos ao alcance do canto delas em breve. Lembrei-me das histórias sobre as sereias. Elas cantavam modo tão encantador
que sua voz enfeitiçava os marinheiros e os seduzia para a morte. - Sem problemas - assegurei-lhe. - Podemos simplesmente tapar os ouvidos. Há um grande barril de
cera de vela no convés de baixo... - Eu quero ouvi-las. Eu pisquei. - Por quê? - Dizem que as sereias cantam a verdade sobre o que a gente deseja. Contam coisas
a seu respeito que nem você mesmo percebe. É isso que é tão encantador. Se você sobrevive... se torna mais sábio. Eu quero ouvi-las. Quantas vezes terei uma oportunidade
dessas? Vindo da maioria das pessoas, aquilo não teria feito sentido. Mas sendo Annabeth quem era - bem, ela se empenhava em livros de arquitetura grega antiga e
gostava de documentários do History Channel, acho que as sereias também podiam interessar. Ela me contou seu plano. Com relutância, ajudei-a a se preparar. Assim
que avistamos a costa rochosa da ilha, ordenei a uma das cordas que se enrolasse na cintura de Annabeth, amarrando-a ao mastro principal. - Não me desamarre - disse
ela -, não importa o que aconteça nem quanto eu implore. Minha vontade vai ser correr para a amurada e me jogar. - Você está querendo me tentar? - Ha-ha. Prometi
que a manteria segura. Então peguei duas grandes bolas de cera de vela e amassei até que tivessem o formato de tampões, que enfiei nos ouvidos. Annabeth assentiu
com sarcasmo, dando a entender que os tampões de ouvido eram a última moda. Fiz uma careta para ela e fui para o timão. O silêncio era assustador. Eu não conseguia
ouvir nada a não ser o sangue correndo na minha cabeça. Quando nos aproximamos da ilha, rochas pontiagudas assomaram no nevoeiro. Ordenei ao Vingança da

Rainha Ana que as contornasse. Se chegássemos mais perto, aquelas rochas iriam retalhar o casco como lâminas de liquidificador. Dei uma olhada para trás. De início,
Annabeth pareceu totalmente normal. Depois ficou com uma expressão intrigada. Seus olhos se arregalaram. Ela forçou as cordas. Chamou meu nome - eu sabia só de ler
seus lábios. Sua expressão era clara: precisava se soltar. Era questão de vida ou morte. Eu tinha de soltá-la das cordas imediatamente. Parecia tão infeliz que foi
difícil não libertá-la. Forcei-me a desviar os olhos. Encorajei o Vingança da Rainha Ana a ir mais depressa. Eu ainda não conseguia ver a ilha muito bem - apenas
nevoeiro e rochas -, mas flutuando na água havia pedaços de madeira e fibra de vidro, destroços de velhos navios, e até alguns assentos flutuantes de aviões. Como
a música podia desviar tantas vidas de seu curso? Quer dizer, com certeza havia algumas canções entre as mais tocadas que me faziam querer mergulhar nas chamas em
queda livre, mas ainda assim... Sobre o que as sereias deviam cantar? Por um momento perigoso entendi a curiosidade de Annabeth. Fiquei tentado a tirar os tampões
de ouvido, só para ter idéia da canção. Podia sentir as vozes das sereias vibrando no madeirame do navio, pulsando em meus ouvidos junto com o ruído do sangue. Annabeth
implorava. Lágrimas escorriam em seu rosto. Lutava com as cordas como se a estivessem impedindo de alcançar tudo que mais importava para ela. Como pode ser tão cruel?,
parecia me perguntar. Pensei que fosse meu amigo. Olhei fixamente para a ilha enevoada. Tive vontade de destampar minha espada, mas não havia nada contra o que lutar.
Como se luta contra uma canção? Tentei muito não olhar para Annabeth. Consegui fazer isso por cerca de cinco minutos. Foi meu grande erro. Quando não pude agüentar
mais, olhei para trás e encontrei... uma pilha de cordas cortadas. Um mastro vazio. A faca de bronze de Annabeth estava caída no convés. De algum modo, ela conseguira
se contorcer até pegá-la. Tinha me esquecido completamente de desarmá-la. Corri para a amurada do barco e a vi dando braçadas desesperadas em direção à ilha, as
ondas a arrastando direto para as rochas pontiagudas. Gritei seu nome, mas, se ela me ouviu, de nada adiantou. Estava hipnotizada, nadando rumo à morte. Olhei para
o timão atrás de mim e gritei: - Pare! E então pulei da amurada. Caí na água e ordenei que a correnteza contornasse meu corpo, num fluxo que me atirou para a frente.
Cheguei à superfície e avistei Annabeth, mas uma onda a pegou, arrastando-a por entre duas presas de pedra afiadas como navalhas.

Não tive escolha. Lancei-me atrás dela. Mergulhei por baixo do casco destroçado de um iate, trancei por entre uma coleção de bolas flutuantes de metal presas a correntes
que, depois, percebi que eram minas.Tive de usar todo o meu poder sobre as águas para evitar que fosse esmagado contra as rochas ou preso nas redes de arame farpado
esticadas logo abaixo da superfície. Atirei-me entre as duas presas de pedra e me vi em uma baía em forma de meia-lua. A água estava atulhada de mais rochas, destroços
de navios e minas flutuantes. A praia era de areia negra vulcânica. Olhei em volta desesperado, à procura de Annabeth. Ali estava ela. Por sorte ou por azar, era
boa nadadora. Conseguira passar pelas minas e pelas rochas. Estava quase na praia negra. Então o nevoeiro se espalhou e eu as vi - as sereias. Imagine um bando de
abutres do tamanho de pessoas - com plumagem preta enlameada, garras cinzentas e pescoço rosado e enrugado. Agora imagine cabeças humanas em cima desses pescoços,
mas as cabeças humanas ficavam mudando. Eu não conseguia ouvi-las, mas podia ver que estavam cantando. Enquanto as bocas se moviam, os rostos se transformavam nos
de pessoas que eu conhecia - minha mãe, Poseidon, Grover, Tyson, Quíron. Todas as pessoas que eu mais queria ver. Elas sorriam de modo tranqüilizador, convidando-me
a prosseguir. Mas, não importava que forma tomassem, as bocas eram gordurosa. recobertas de restos de antigas refeições. Como abutres, enfiavam a cara na comida,
e tudo levava a crer que não tinham se banqueteado na Donuts Monstro. Annabeth nadava na direção delas. Eu sabia que não podia deixá-la sair da água. O mar era minha
única vantagem. Sempre me protegera, de um jeito ou de outro. Impeli o corpo para a frente e agarrei o tornozelo dela. No momento em que a toquei, um choque atravessou
meu corpo, e vi as sereias do modo como Annabeth devia estar vendo. Três pessoas sentadas sobre uma toalha de piquenique no Central Park. Havia um banquete espalhado
na frente delas. Reconheci o pai de Annabeth pelas fotos que ela me mostrara - um cara de aparência atlética, cabelos cor de areia, com seus quarenta anos. Estava
de mãos dadas com uma linda mulher muito parecida com Annabeth. Ela estava vestida de modo informal - calça jeans, blusa de algodão e botas de caminhada -, mas algo
na mulher irradiava poder. Sabia que estava olhando para a deusa Atena. Ao lado dela sentava-se um rapaz... Luke. Toda a cena estava iluminada por uma luz cálida,
amanteigada. Os três conversavam e riam, e quando viram Annabeth seus rostos se iluminaram de satisfação. A mãe e o pai estenderam as mãos de modo convidativo. Luke
sorriu e fez um gesto para que Annabeth sentasse a seu lado - como se ele nunca a tivesse traído, como se ainda fosse seu amigo. Atrás das árvores do Central Park
erguia-se a silhueta de uma cidade. Perdi o fôlego, porque era Manhattan, mas não era Manhattan. Estava totalmente reconstruída em mármore branco, deslumbrante,
maior e mais grandiosa que nunca - com janelas douradas e jardins suspensos. Era melhor que Nova York. Melhor que o Monte Olimpo. Soube imediatamente que Annabeth
a projetara inteira. Ela era a arquiteta de todo um novo mundo. Ela reunira os pais. Salvara Luke. Tinha feito tudo o que sempre quis.

Pisquei com força. Quando abri os olhos, tudo o que vi ali foram as sereias - abutres horrendos com feições humanas, prontos para devorar mais uma vítima. Puxei
Annabeth de volta para as ondas. Não pude ouvi-la, mas percebi que estava gritando. Ela me chutou no rosto, mas continuei segurando. Ordenei às correntes que nos
arrastassem para dentro da baía. Annabeth me esmurrava e me chutava, dificultando minha concentração. Ela se debateu tanto que quase colidimos com uma mina flutuante.
Eu não sabia o que fazer. Jamais chegaria ao navio, vivo, se ela continuasse lutando. Afundamos, e Annabeth parou de se debater. Sua expressão ficou confusa. Então
nossas cabeças afloraram e ela começou a lutar de novo. A água! O som não se propagava bem embaixo d'água. Se eu conseguisse submergi-la por tempo suficiente, poderia
quebrar o encantamento da música. É claro, Annabeth não ia conseguir respirar, mas naquele momento isso parecia ser um problema menor. Agarrei-a pela cintura e ordenei
às ondas que nos empurrassem para baixo. Mergulhamos nas profundezas - três metros, seis metros. Eu sabia que teria de tomar cuidado, porque era capaz de suportar
muito mais pressão do que Annabeth. Ela lutou e se debateu para respirar enquanto bolhas subiam à nossa volta. Bolhas. Eu estava desesperado. Tinha de manter Annabeth
viva. Imaginei todas as bolhas do mar - sempre se agitando, subindo Imaginei-as se juntando, sendo empurradas até mim. O mar obedeceu. Houve um turbilhão de branco,
uma sensação de cócegas, e quando minha visão clareou Annabeth e eu tínhamos uma enorme bolha de ar ao nosso redor. Apenas as pernas continuavam mergulhadas em água.
Ela engasgou e tossiu. Seu corpo todo estremeceu, mas quando ela me olhou soube que o encantamento tinha sido quebrado. Annabeth começou a soluçar - quer dizer,
soluços horríveis, de partir o coração. Encostou a cabeça em meu ombro e eu a abracei. Os peixes se juntaram para nos olhar - um cardume de barracudas, alguns espadartes
curiosos. Fora!, disse a eles. Eles se afastaram, mas pude perceber que saíram relutantes. Juro que entendi as intenções deles. Estavam prestes a espalhar boatos
pelo mar sobre o filho de Poseidon e uma garota no fundo da baía das sereias. - Vamos voltar ao navio. Está tudo bem. Apenas agüente firme. Annabeth balançou a cabeça
para me dizer que estava melhor, depois murmurou algo que não pude ouvir por causa da cera nos ouvidos. Fiz a corrente manobrar nosso pequeno e estranho submarino
de ar por entre as rochas e o arame farpado, e de volta para o casco do Vingança da Rainha Ana, que mantinha o curso lento e estável, fugindo do alcance da voz das
sereias. Então subi para a superfície e nossa bolha de ar se desfez. Ordenei que uma escada de corda descesse por cima do costado do navio, e subimos a bordo.

Mantive meus tampões de ouvido, só por garantia. Navegamos até a ilha ficar completamente fora de vista. Annabeth ficou sentada, aconchegando-se em um cobertor no
convés dianteiro. Por fim eIa ergueu os olhos, confusa e triste, e murmurou, salvos. Removi os tampões. Nenhuma cantoria. A tarde estava silenciosa, a não ser pelo
som das ondas batendo no casco. O nevoeiro desfizera e o céu estava azul, como se a ilha das sereias nunca tivesse existido. - Você está bem? - perguntei. No momento
em que disse isso, percebi a besteira que tinha falado. É claro que ela não estava bem. - Eu não sabia - murmurou ela. - O quê? Seus olhos estavam da mesma cor que
a névoa sobre a ilha das sereias. - Como a tentação seria poderosa. Não queria admitir que tinha visto o que as sereias haviam prometido a ela. Eu me sentia um intruso.
Mas imaginei que devesse isso a Annabeth. - Eu vi o modo como você reconstruiu Manhattan - contei. - E Luke e os seus pais. Ela corou. - Você viu aquilo? - O que
Luke lhe disse no Princesa Andrômeda, sobre refazer o mundo do zero... aquilo de fato impressionou você, não é? Ela se enrolou no cobertor. - Meu defeito mortal.
Foi isso que as sereias me mostraram. Meu defeito mortal é o húbris. Eu pisquei. - Aquela coisa marrom que passam nos sanduíches vegetarianos? Ela revirou os olhos.
- Não, Cabeça de Alga. Aquilo é homus. Húbris é pior. - O que poderia ser pior do que homus? - Húbris quer dizer orgulho, insolência, Percy. Achar que você pode
fazer as coisas melhor do que qualquer um... inclusive os deuses. Você se sente assim? Ela baixou os olhos. - Nunca teve a impressão de que... que o mundo realmente
está todo errado? E se pudéssemos refazer tudo do começo? Guerras nunca mais. Ninguém sem teto. Nunca mais dever de casa no verão. - Estou ouvindo.

- Quer dizer, o Ocidente representa muitas das melhores coisas que a humanidade já fez... é por isso que a chama ainda arde. E por isso que o Olimpo ainda existe.
Mas, às vezes, a gente só vê o que não presta, entende? E começa a pensar do mesmo jeito que Luke: "Se conseguir destruir tudo isso, posso fazer melhor." Nunca se
sentiu assim? Como se você pudesse fazer um serviço melhor se fosse o dono do mundo? - Humm... não. Eu governando o mundo seria uma espécie de pesadelo. - Então
você tem sorte. O húbris não é seu defeito mortal. - E o que é? - Não sei, Percy, mas todo herói tem um. Se você não descobrir e aprender a controlá-lo... bem, não
é à toa que o chamam de "mortal". Pensei naquilo. E não fiquei lá muito animado. Também notei que Annabeth não falou muito sobre as coisas particulares que ela mudaria
- como conseguir reunir os pais, ou salvar Luke. Eu entendi. Não queria admitir quantas vezes sonhara em reunir meus pais. Imaginei minha mãe, sozinha em nosso pequeno
apartamento no Upper East Side. Tentei me lembrar do cheiro dos seus waffles azuis na cozinha. Parecia tão distante! - E então, valeu a pena? - perguntei a Annabeth.
­ Você se sente... mais sábia? O olhar dela se perdeu na distância. - Não tenho certeza. Mas precisamos salvar o acampamento. Se não pararmos Luke... Ela não precisou
terminar. Se o modo de pensar de Luke podia tentar até Annabeth, não dava para imaginar quantos outros meios-sangues poderiam juntar-se a ele. Pensei no sonho com
a menina e o sarcófago dourado. Não sabia muito bem o que significava, mas tive a sensação de que estava deixando alguma coisa passar. Alguma coisa terrível que
Cronos planejava. O que a menina tinha visto quando abriu a tampa do caixão? De repente os olhos de Annabeth se arregalaram. - Percy. Eu me virei. A frente havia
uma outra mancha de terra - uma ilha em forma de sela com colinas cobertas de florestas, praias de areia branca e campinas verdes -, exatamente como eu tinha visto
em meus sonhos. Meus sentidos náuticos confirmaram. Trinta graus e 31 minutos Norte, 75 graus e 12 minutos Oeste. Tínhamos chegado ao lar do ciclope.


QUATORZE - Nosso encontro com o carneiro da perdição
Quando a gente pensa em "ilha de monstros" imagina penhascos e ossos espalhados pela praia, como na ilha das sereias. A ilha do ciclope não tinha nada a ver com
isso. Quer dizer, tudo bem, havia uma ponte de corda em cima de um precipício, o que não era bom sinal. É quase o mesmo que pendurar um cartaz dizendo: ALGO MALIGNO
VIVE AQUI. Mas, com exceção disso, o lugar parecia um cartão-postal do Caribe. Tinha campos verdejantes, árvores de frutas tropicais e praias de areia branca. Enquanto
navegávamos em direção à costa, Annabeth respirou fundo o ar perfumado. - O Velocino - disse ela. Eu assenti. Ainda não podia ver o Velocino, mas podia sentir sua
força. Era possível acreditar que ele curaria qualquer coisa, até mesmo a árvore envenenada de Thalia. - Se nós o levarmos embora, a ilha vai morrer? Annabeth sacudiu
a cabeça. - Ela vai se esgotar. Voltar ao que seria normalmente, o que quer que fosse. Eu me senti um pouco culpado por arruinar aquele paraíso, mas lembrei a mim
mesmo que não tínhamos escolha. O Acampamento Meio-Sangue estava em dificuldades. E Tyson... Tyson ainda estaria conosco se não fosse por aquela missão. Na campina
na base da ravina várias dúzias de carneiros andavam em círculos. Pareciam bastante pacíficos, mas eram enormes ­ do tamanho de hipopótamos. Logo além deles havia
um caminho que levava às colinas. No topo do caminho, perto da beira do cânion, estava o grandioso carvalho que eu vira em meus sonhos. Algo dourado brilhava em
seus galhos. - Isso está fácil demais ­ disse eu. ­ Podemos simplesmente subir até lá e pegá-lo? Os olhos de Annabeth se estreitaram. - Deveria haver um guardião.
Um dragão ou... Foi quando um cervo emergiu dos arbustos. Ele trotou para a campina, provavelmente em busca de grama para comer, quando os carneiros baliram todos
de uma vez e assustaram o animal. Aconteceu tão depressa que o cervo tropeçou e se perdeu em um mar de lã e cascos batendo. Grama e tufos de pelo voavam pelo ar.
Um segundo depois todos os carneiros se afastaram, de volta às suas pacificas perambulações. Onde estivera o cervo, havia agora uma pilha de ossos limpos e brancos.
Annabeth e eu nos entreolhamos. - Eles são como piranhas ­ disse ela. - Piranhas com lã. Como é que nós... - Percy! ­ arfou Annabeth, agarrando meu braço. ­ Olhe.
Ela apontou para a praia, logo abaixo da campina dos carneiros, onde um pequeno bote fora arrastado para a terra... o outro bote salva-vidas do Birmingham.

***** Concluímos que não havia como passar pelos carneiros comedores de gente. Annabeth queria se esgueirar invisível pelo caminho acima e agarrar o Velocino, mas
no fim eu a convenci de que alguma coisa iria dar errado. Os carneiros poderiam sentir seu cheiro. Outro guardião poderia aparecer. Alguma coisa. E se aquilo acontecesse
eu estaria longe demais para ajudar. Além disso, nossa primeira obrigação era achar Grover e quem quer que tivesse chegado à costa naquele bote ­ supondo que tivesse
conseguido passar pelos carneiros. Eu estava nervoso demais para falar sobre minha esperança secreta... de que Tyson ainda pudesse estar vivo. Ancoramos o Vingança
da Rainha Ana no lado de trás da ilha, onde as falésias subiam em linha reta uns bons sessenta metros. Imaginei que seria menos provável que vissem o navio ali.
Escalar as falésias até parecia possível ­ com um grau de dificuldade mais ou menos igual ao da parede de lava no acampamento. Pelo menos não havia carneiros. Eu
esperava que Polifemo não criasse também cabras montanhesas carnívoras. Remamos num bote salva-vidas até a base das rochas e começamos a subir, muito devagar. Annabeth
foi primeiro porque escalava melhor. Ficamos perto de morrer uma seis ou sete vezes só, o que considerei muito bom. Em certo momento deixei escapar uma das mãos
e me vi pendurado por um braço numa saliência quinze metros acima da arrebentação rochosa. Mas achei outro ponto de apoio e continuei escalando. Um minuto depois
Annabeth pisou em musgos escorregadios e seu pé deslizou. Felizmente, ela encontrou alguma outra coisa em que apoiá-lo. Por azar, tratava-se da minha cara. - Desculpe
­ murmurou ela. - Tudo bem ­ resmunguei, embora na verdade não quisesse saber qual era o sabor do tênis de Annabeth. Finalmente, quando meus dedos já pareciam chumbo
derretido e os músculos do meu braço tremiam de exaustão, nos arrastamos sobre o topo da falésia e desmoronamos. - Ugh - disse eu. - Ai - gemeu Annabeth. - Grrrr!
- Urrou outra voz. Se eu não estivesse tão cansado teria pulado mais uns sessenta metros. Girei o corpo, mas não pude ver quem rosnara. Annabeth tampou minha boca
com a mão. Ela apontou. A saliência sobre a qual estávamos sentados era mais estreita do que eu pensava. O lado oposto era um desfiladeiro, e era de lá que vinha
a voz - logo abaixo de nós. - Você é bem agressiva! - rugiu a voz profunda. - Enfrente-me! - Era a voz de Clarisse, sem dúvida. - Devolva minha espada e lutarei
com você! O monstro riu estrondosamente. Annabeth e eu nos arrastamos até a beirada. Estávamos logo acima da entrada da caverna do ciclope. Abaixo, estavam Polifemo
e Grover, ainda de vestido de noiva. Clarisse estava amarrada, pendurada de cabeça para baixo acima de um caldeirão de água fervente. De certa forma, torcia para
que Tyson

também estivesse lá embaixo. Mesmo que ele estivesse em perigo, ao menos eu saberia que estava vivo. Mas não havia sinal dele. - Hummm - ponderou Polifemo. - Comer
a menina fanfarrona ou esperar o banquete de casamento? O que acha minha noiva? Ele se voltou para Grover, que recuou e quase tropeçou cauda de seu vestido, terminada.
- Ah!, ahn, eu não estou com fome agora, querido. Talvez... - Você disse noiva - perguntou Clarisse. - Quem... Grover? Ao meu lado Annabeth murmurou: - Cale a boca.
Ela tem de calar a boca. Polifemo olhou enfurecido. - Que "Grover"? - O sátiro! - berrou Clarisse. - Ah! - ganiu Grover. - Os miolos da pobrezinha estão fervendo
por causa daquela água quente. Puxe-a para baixo, querido! Os cílios de Polifemo se estreitaram sobre o maligno olho leitoso, como se ele tentasse enxergar Clarisse
mais claramente. O ciclope era uma visão ainda mais horrível do que nos meus sonhos. Em parte, porque seu cheiro rançoso agora estava muito próximo. Em parte, porque
ele vestia sua roupa de casamento - um saiote tosco e uma manta nos ombros, feitos de smokings azul-bebê costurados um no outro, como se ele tivesse despido uma
festa de casamento inteira. - Que sátiro? - perguntou Polifemo. - Sátiros são boa comida. Você me trouxe um sátiro? - Não, seu grande idiota! - berrou Clarisse.
- Aquele sátiro! Grover! Aquele de vestido de noiva! Eu quis torcer o pescoço de Clarisse, mas era tarde demais. Tudo o que pude fazer foi olhar enquanto Polifemo
se virava e arrancava o véu de noiva de Grover - revelando seu cabelo encaracolado, a barba desmazelada de adolescente, os pequenos chifres. Polifemo respirou pesadamente,
tentando conter a raiva. - Eu não enxergo muito bem - rosnou. - Desde muitos anos atrás, quando o outro herói me furou o olho. Mas VOCÊ...NÃO É... UMA DAMA... CICLOPE!
O ciclope agarrou o vestido de Grover e o arrancou. Embaixo, o velho Grover reapareceu, com seu jeans e sua camiseta. Ele gemeu e se abaixou quando o monstro desferiu
um golpe que passou acima de sua cabeça. - Pare! - implorou Grover. - Não me coma cru! Eu... eu tenho uma boa receita! Estendi a mão para minha espada, mas Annabeth
sussurrou: - Espere! Polifemo estava hesitando, uma grande pedra na mão, prestes a esmagar sua pretensa noiva.

- Receita? - perguntou a Grover. - Ah, s-sim! Você não pode me comer cru. Vai pegar uma infecção, e botulismo, e toda sorte de coisas horríveis. Vou ficar muito
mais gostoso grelhado em fogo lento. Com chutney de manga! Você pode pegar algumas mangas agora mesmo, lá embaixo no bosque. Ficarei esperando aqui. O monstro pensou
naquilo. Meu coração martelava contra as costelas. Calculei que morreria se atacasse. Mas não poderia deixar que o monstro matasse Grover. - Sátiro grelhado com
chutney de manga - pensou Polifemo. Ele olhou de novo para Clarisse, ainda pendurada acima do caldeirão de água fervente. - Você também é um sátiro? - Não, seu grande
monte de estéreo! - berrou ela. - Eu sou uma menina! Filha de Ares! Agora me desamarre para que eu possa arrancar seus braços! - Arrancar os meus braços - repetiu
Polifemo. - E enfiá-los garganta abaixo! - Você tem coragem. - Ponha-me no chão! Polifemo ergueu Grover como se ele fosse um cachorrinho desobediente. - Agora tenho
de pastorear carneiros. Casamento adiado para de noite. Então comeremos sátiro como prato principal! - Mas... você ainda vai se casar? - Grover pareceu ofendido.
- Quem é a noiva? Polifemo olhou na direção do caldeirão fervente. Clarisse soltou um som estrangulado. - Ah, não! Você não pode estar falando sério. Eu não sou...
Antes que Annabeth ou eu pudéssemos fazer alguma coisa, Polifemo a arrancou da corda como se ela fosse uma maçã madura e a jogou junto com Grover no fundo da caverna.
- Fiquem à vontade! Voltarei ao pôr-do-sol para o grande evento! Então o ciclope assobiou e um rebanho misto de bodes e carneiros - menores que os comedores de gente
- saiu da caverna, passando por seu amo. Enquanto eles seguiam para o pasto, Polifemo dava palmadinhas nas costas de alguns e os chamava pelo nome - Beltbuster,
Tammany, Lockhart etc. Quando o último carneiro se afastou bamboleando, Polifemo rolou uma rocha na frente da entrada tão facilmente como se fechasse uma porta de
geladeira, isolando o som dos gritos de Clarisse e Grover lá dentro. - Mangas - resmungou Polifemo consigo mesmo. - O que são mangas? Ele foi caminhando tranqüilamente
montanha abaixo em sua roupa de noivo azul-bebê, deixando-nos sozinhos com um caldeirão de água fervente e uma rocha de seis toneladas. *****

Tentamos pelo que nos pareceram horas, mas não adiantou. A rocha não se movia. Gritamos para dentro de fendas, batemos na pedra, fizemos tudo em que podíamos pensar
para transmitir um sinal a Grover, mas, se ele nos ouviu, não podíamos saber. Mesmo se por algum milagre conseguíssemos matar Polifemo, não adiantaria. Grover e
Clarisse morreriam dentro da caverna fechada. A única maneira de mover a rocha seria conseguir que o ciclope o fizesse. Em total frustração, golpeei Contracorrente
contra a rocha. Voaram fagulhas, mas não aconteceu nada além disso. Uma grande rocha não é o tipo de inimigo que se possa combater com uma espada mágica. Annabeth
e eu nos sentamos no cume, desesperados, e observamos a forma distante em azul-bebê do ciclope enquanto ele se movia entre seus rebanhos. Sabiamente, ele separara
os animais comuns dos carneiros comedores de gente, colocando cada grupo de um lado da enorme fenda que dividia a ilha. O único meio de atravessar era a ponte de
corda, e as tábuas eram separadas demais para cascos de carneiros. Observamos enquanto Polifemo visitava seu rebanho carnívoro, no lado mais distante. Infelizmente,
eles não o comeram. Na verdade, nem ao menos pareciam incomodá-lo. Ele lhes deu pedaços de carne misteriosa de uma grande cesta de vime, o que apenas reforçou a
sensação que eu tinha desde que Circe me transformara em porquinho-da-índia: talvez fosse hora de me juntar a Grover e me tornar vegetariano. - Um truque - concluiu
Annabeth. - Não podemos vencê-lo pela força, portanto teremos de usar um truque. - Certo. Que truque? - Ainda não resolvi essa parte. - Beleza. - Polifemo terá de
mover a rocha para deixar os carneiros entrar. - Ao pôr-do-sol - falei. - Que é quando ele vai se casar com Clarisse e jantar Grover. Ainda não decidi o que é mais
nojento. - Posso ficar invisível e entrar. - E eu? - Os carneiros - ponderou Annabeth. Ela me deu um daqueles olhares travessos que sempre me deixavam desconfiado.
- Você gosta muito de carneiros? ***** - Só não se solte! - disse Annabeth, invisível em algum lugar à minha direita. Para ela, era fácil falar. Ela não estava pendurada
de cabeça para baixo na barriga de um carneiro. Agora, admito que não fora tão difícil quanto eu pensara. Já tinha me arrastado para baixo de um carro antes, para
trocar o óleo para minha mãe, e isso não era tão diferente. O carneiro não se importou. Até mesmo o menor dos carneiros do ciclope era bastante grande para suportar
meu peso, e eles tinham uma lã espessa. Eu simplesmente a torci, formando alças para as minhas mãos, enganchei os pés nos ossos das coxas do carneiro e pronto: eu
me sentia como um pequeno canguru, zanzando acomodado contra o peito do carneiro, tentando manter a lã longe da boca e do nariz. Caso você esteja intrigado, a parte
de baixo de um carneiro não tem um cheiro assim tão bom. Imagine um suéter de inverno que foi arrastado pela lama e deixado no cesto de roupa suja por uma semana.
É algo assim.

O sol estava se pondo. Nem bem fiquei em posição, o ciclope rugiu: - Oi! Bodinhos! Carneirinhos! O rebanho, obediente, começou a caminhar laboriosamente ladeiras
acima, em direção à caverna. - É isso aí! - sussurrou Annabeth. - Vou estar por perto. Não se preocupe. Fiz uma promessa silenciosa aos deuses de que, se sobrevivêssemos
àquilo, diria a Annabeth que ela é um gênio. O assustador era que eu sabia que os deuses iriam me cobrar. Meu táxi-carneiro começou a subir a colina. Depois de uma
centena de metros, minhas mãos e meus pés começaram a doer. Agarrei a lã com mais força, e o animal fez um ruído inarticulado. Não o culpei. Eu mesmo não gostaria
de alguém escalando por meus cabelos. Mas, se eu não me agarrasse, certamente cairia ali mesmo, bem na frente do monstro. - Hasenpfeffer! - disse o ciclope, afagando
um dos carneiros na minha frente. - Einstein! Widget... Ei, Widget! Polifemo deu uns tapinhas no meu carneiro e quase me derrubou no chão. - Ganhando um pouco de
lã extra, hein? Epa, pensei, é agora. Mas Polifemo apenas riu e deu uma palmada no traseiro do carneiro, empurrando-nos para a frente. - Vá andando, gorducho! Logo
Polifemo irá comê-lo no café-da-manhã! E, simples assim, eu estava dentro da caverna. Pude ver o último dos carneiros entrando. Se Annabeth não começasse logo a
distraí-lo... O ciclope estava para rolar a rocha de volta a seu lugar quando de algum canto do lado de fora, Annabeth gritou: - Olá, feioso! Polifemo ficou rígido.
- Quem disse isso? - Ninguém! - gritou Annabeth. Aquilo provocou exatamente a reação que ela esperava. A cara do monstro ficou vermelha de raiva. - Ninguém! - Polifemo
berrou de volta. - Eu me lembro de você! - Você é estúpido demais para se lembrar de alguém - provocou Annabeth. - Muito menos de Ninguém. Pedi aos deuses que ela
já estivesse em movimento quando disse aquilo, porque Polifemo urrou furiosamente, agarrou a rocha mais próxima (que por acaso era sua porta da frente) e a atirou
na direção do som da voz de Annabeth. Ouvi a pedra se despedaçar em mil fragmentos. Por um momento terrível fez-se silêncio. Então Annabeth gritou:

- Você também não aprendeu a atirar pedras melhor! Polifemo uivou. - Venha para cá! Deixe-me matar você, Ninguém! - Você não pode matar Ninguém, seu imbecil estúpido
- provocou ela. - Venha me achar! Polifemo disparou colina abaixo na direção da voz dela. Essa coisa de "Ninguém" poderia não ter feito sentido para outras pessoas,
mas Annabeth me explicara que era esse o nome que Ulisses usara para enganar Polifemo séculos atrás, antes que ele acertasse o olho do ciclope com uma grande estaca
quente. Annabeth calculou que Polifemo ainda guardaria rancor daquele nome, e estava certa. No frenesi para encontrar o velho inimigo, ele se esqueceu de fechar
novamente a entrada da caverna. Parecia nem ter parado para pensar que a voz de Annabeth era feminina, enquanto o primeiro Ninguém era homem. Por outro lado, ele
queria casar com Grover, portanto não era assim tão brilhante nessa questão de masculino/feminino. Eu só esperava que Annabeth pudesse permanecer viva e continuar
distraindo o monstro por tempo suficiente para que eu encontrasse Grover e Clarisse. Desci da minha carona, dei uma palmadinha na cabeça de Widget e pedi desculpas.
Procurei na sala principal, mas não havia sinal de Grover e Clarisse. Forcei passagem por entre a multidão de carneiros e bodes, em direção ao fundo da caverna.
Muito embora tivesse sonhado com aquele lugar, foi difícil encontrar meu caminho pelo labirinto. Desci corredores atulhados de ossos, passei por salas cheias de
tapetes de pele de carneiro e carneiros de cimento em tamanho real, que reconheci como obra da Medusa. Havia coleções de camisetas de carneiro; grandes tonéis de
creme de lanolina; casacos, meias de lã e chapéus de lã com chifres de carneiro. Finalmente, encontrei a sala do tear, onde Grover estava agachado num canto, tentando
cortar as amarras de Clarisse com uma tesoura. - Não adianta - disse Clarisse. - Essa corda parece ferro! - Só mais alguns minutos! - Grover - gritou ela, exasperada.
- Você está trabalhando nisso há horas! E então ela me viu. - Percy? - disse Clarisse. - Você devia ter sido explodido! - Bom ver você também. Agora fique quieta
enquanto eu... - Perrrrrrrcy! - baliu Grover, e se atracou em mim com um abraço de bode. - Você me ouviu! Você veio! - Sim, parceiro - falei. - É claro que eu vim.
- Onde está Annabeth? - Lá fora - respondi. - Mas não temos tempo para conversa. Clarisse, fique parada. Destampei Contracorrente e cortei as cordas. Ela se pôs
em pé, rígida, esfregando os pulsos. Olhou-me com raiva por um momento, depois fitou o chão e murmurou: - Obrigada.

- De nada - falei. - Então, havia mais alguém a bordo do seu bote salva-vidas? Clarisse pareceu surpresa. - Não. Só eu. Todos os outros a bordo do Birmingham...
bem, eu nem sabia que vocês tinham escapado. Uma explosão ecoou pela caverna, seguida por um grito que me fez perceber que poderia ser tarde demais. Era Annabeth
gritando de medo.


QUINZE - Ninguém consegue o velocino
- Eu peguei Ninguém! - exultou Polifemo. Arrastamo-nos para a entrada da caverna e vimos o ciclope com um sorriso perverso segurando ar vazio no alto. O monstro
sacudiu o punho e um boné de beisebol esvoaçou para o chão. Lá estava Annabeth, pendurada pelas pernas, de cabeça para baixo. - Ah! - disse o ciclope. - Menina invisível
detestável! Já tenho a mal-humorada para esposa. Isso quer dizer que você vai ser grelhada com chutney de manga! Annabeth se debateu, mas parecia atordoada. Tinha
um corte feio na testa. Seus olhos estavam vidrados. - Vou pegá-lo - sussurrei para Clarisse. - Nosso navio está na parte de trás da ilha. Você e Grover... - Claro
que não - disseram eles ao mesmo tempo. Clarisse havia se armado com uma lança de chifre de carneiro, verdadeira peça de colecionador da caverna do ciclope. Grover
encontrara um fêmur de carneiro, o que não o deixou muito satisfeito, mas o segurava como um porrete, pronto para atacar. - Vamos pegá-lo juntos - rosnou Clarisse.
- Sim - disse Grover. - Ele então piscou, como se não pudesse acreditar que acabara de concordar com Clarisse. - Tudo bem - disse eu. - Plano de ataque Macedônia.
Eles assentiram. Tínhamos passado pelos mesmos cursos de treinamento no Acampamento MeioSangue. Eles sabiam do que eu estava falando. Iriam dar a volta e se aproximar,
um de cada lado, atacando o ciclope pelos flancos enquanto eu atraía sua atenção na frente. Provavelmente, isso significava que iríamos todos morrer, e não apenas
eu, mas fiquei grato pela ajuda. Ergui minha espada e gritei: - Ei, feioso! O gigante se virou para mim. - Mais um? Quem é você? - Ponha minha amiga no chão. Fui
eu quem o insultou. - Você é Ninguém? - Certo, seu balde fedorento de meleca de nariz! - Aquilo não pareceu tão bom quanto os insultos de Annabeth, mas foi tudo
em que pude pensar. - Eu sou Ninguém e me orgulho disso! Agora, coloque-a no chão e venha até aqui. Quero furar seu olho de novo. - RAAAAR! - urrou ele. A boa notícia:
ele deixou cair Annabeth. A má notícia: ele a deixou cair de cabeça nas pedras, onde ela ficou imóvel como uma boneca de trapos. A outra má notícia: Polifemo investiu
contra mim, meia tonelada de ciclope que eu teria de enfrentar com uma espada muito pequena.

- Por Pan! - Grover atacou pela direita. Arremessou o osso de carneiro, que ricocheteou sem efeito na testa do monstro. Clarisse atacou pela esquerda e apoiou sua
lança no chão bem a tempo de o ciclope pisar em cima dela. Ele uivou de dor, e Clarisse se atirou para fora do caminho, para evitar ser pisoteada. Mas o ciclope
simplesmente puxou a lança como se fosse uma grande farpa e continuou em minha direção. Eu avancei com Contracorrente. O monstro tentou me agarrar. Rolei de lado
e lhe dei uma estocada na coxa. Eu esperava vê-lo se desintegrar, mas o monstro era grande e forte demais. - Pegue Annabeth! - gritei para Grover. Ele correu até
lá, agarrou o boné de invisibilidade e a levantou do chão enquanto Clarisse e eu tentávamos manter Polifemo distraído. Tenho de admitir, Clarisse foi valente. Ela
investiu contra o ciclope vezes seguidas. Ele esmurrou o chão, tentou pisá-la, agarrá-la, mas ela era rápida demais. E, assim que ela atacava, eu a seguia, furando
o monstro no dedão do pé, no tornozelo ou na mão. Mas não poderíamos continuar com aquilo para sempre. Acabaríamos nos cansando, ou o monstro poderia ter seu lance
de sorte. Bastaria uma pancada para nos matar. Com o canto do olho vi Grover carregando Annabeth pela ponte de corda. Essa não teria sido minha primeira escolha,
considerando os carneiros comedores de gente do outro lado, mas, naquele momento, parecia melhor do que o lado do precipício onde estávamos, e isso me deu uma idéia.
- Recue! - disse para Clarisse. Ela rolou enquanto o punho do ciclope esmagava a oliveira ao lado dela. Corremos para a ponte, Polifemo logo atrás de nós. Ele estava
todo cortado e mancava por causa dos muitos ferimentos, mas tudo o que tínhamos feito foi deixá-lo mais lento e enfurecido. - Vou moê-los para fazer comida de carneiro!
- prometeu. - Mil maldições sobre Ninguém! - Mais depressa! - disse eu para Clarisse. Disparamos colina abaixo. A ponte era nossa única chance. Grover acabara de
atravessar para o outro lado e estava deitando Annabeth no chão. Tínhamos de passar antes que o gigante nos pegasse. - Grover! - gritei. - Pegue a faca de Annabeth!
Seus olhos se arregalaram quando ele viu o ciclope atrás de nós, mas balançou a cabeça como se tivesse entendido. Quando Clarisse e eu nos precipitamos pela ponte,
Grover começou a cortar as cordas. O primeiro fio de corda arrebentou com um estalo. Polifemo pulou atrás de nós, fazendo a ponte oscilar loucamente. A corda agora
já estava metade cortada. Clarisse e eu mergulhamos para a terra firme, aterrissando ao lado de Grover. Num golpe, cortei os fios restantes com minha espada. A ponte
despencou no precipício, e o ciclope uivou... de prazer, pois estava em pé bem ao nosso lado. - Fracasso! - berrou, felicíssimo. - Ninguém fracassou!

Clarisse e Grover tentaram atacá-lo, mas o monstro os afastou com um tapa, como se fossem moscas. Minha raiva aumentou. Eu não podia acreditar que tinha chegado
até ali, depois de perder Tyson, de sofrer e passar por tanta coisa, apenas para fracassar - detido por um monstro grande e estúpido de saiote azul-bebê feito de
smokings. Ninguém iria derrubar meus amigos como moscas daquele jeito! Quer dizer... ninguém, não Ninguém. Ah, você sabe o que eu quero dizer! A força percorreu
meu corpo. Ergui a espada e ataquei, esquecendo que estava em irremediável desvantagem. Golpeei o ciclope na barriga. Quando ele se dobrou de dor, eu o atingi no
nariz com o punho da espada. Cortei, chutei e bati até que, quando me dei conta, Polifemo estava estatelado de costas no chão, atordoado e gemendo, e eu estava em
pé em cima dele, com a ponta da espada pairando sobre o seu olho. - Uhhhhhhhhhhhh - gemeu Polifemo. - Percy! - arfou Grover. - Como você... - Por favor, nããããão!
- gemeu o ciclope, olhando com tristeza para mim. Seu nariz sangrava. Uma lágrima se formou no canto do olho meio cego. - M-m-meus carneirinhos precisam de mim.
Estava só tentando proteger meus carneiros! Ele começou a soluçar. Eu vencera. Tudo o que tinha de fazer era fincar a espada - um golpe rápido. - Mate-o! - berrou
Clarisse. - O que está esperando? O ciclope parecia tão desolado, tão parecido com... com Tyson. - Ele é um ciclope! - avisou Grover. - Não confie nele! Eu sabia
que ele estava certo. Sabia que Annabeth teria dito a mesma coisa. Mas Polifemo soluçava... e pela primeira vez entrou na minha cabeça o fato de que ele também era
filho de Poseidon. Como Tyson. Como eu. Como eu poderia simplesmente matá-lo a sangue frio? - Nós só queremos o Velocino - disse ao monstro. ­ Você concorda em nos
deixar levá-lo? - Não! - gritou Clarisse. - Mate-o! O monstro fungou. - Meu lindo Velocino. Orgulho da minha coleção. Leve-o, ser humano cruel. Leve-o, e parta em
paz. - Vou recuar bem devagar - disse eu ao monstro. - Um movimento em falso... Polifemo balançou a cabeça como se entendesse. Dei um passo atrás... e, rápido como
uma cobra, Polifemo me deu uma pancada que me jogou na beira do penhasco. - Mortal insensato! - urrou ele, pondo-se em pé. - Levar o meu Velocino? Rá! Vou comê-lo
primeiro. Ele abriu a boca enorme, e percebi que seus molares podres seriam a última coisa que eu veria na vida. Então algo passou zunindo por cima da minha cabeça
e Bam!

Uma pedra do tamanho de uma bola de basquete foi parar na garganta de Polifemo - um arremesso perfeito, uma linda cesta de três pontos! O ciclope engasgou, tentando
engolir a pílula inesperada. Cambaleou para trás, mas não havia espaço para cambalear. Seu calcanhar escorregou, a beirada do penhasco desmoronou e o grande Polifemo
agitou os braços como uma galinha batendo as asas, o que não o ajudou em nada a voar enquanto despencava no abismo. Eu me virei. A meio caminho da trilha para a
praia, completamente ileso no meio de um rebanho de carneiros assassinos, estava um velho amigo. - Polifemo mau - disse Tyson. - Nem todos os ciclopes são tão bonzinhos
como parecem. ***** Tyson nos deu uma versão resumida: Arco-íris, o cavalo-marinho - que aparentemente vinha nos seguindo desde o estreito de Long Island, esperando
para brincar com Tyson -, encontrara-o afundando sob os destroços do Birmingham e o puxara para um lugar seguro. Ele e Tyson estiveram vasculhando o Mar de Monstros
desde então, tentando nos achar, até que Tyson sentiu o cheiro de carneiros e encontrou esta ilha. Tive vontade de abraçar o grandalhão bobo, só que ele estava no
meio dos carneiros assassinos. - Tyson, graças aos deuses. Annabeth está ferida! - Você agradece aos deuses porque ela está ferida? - perguntou ele, confuso. - Não!
- Ajoelhei-me ao lado de Annabeth e fiquei nauseado de preocupação com o que vi. O talho na testa dela era pior do que eu imaginara. A linha dos seus cabelos estava
empapada de sangue. Sua pele estava pálida, fria e úmida. Grover e eu trocamos olhares nervosos. Então uma idéia me ocorreu. - Tyson, o Velocino. Pode ir buscá-lo
para mim? - Qual deles? - disse Tyson, olhando em volta para as centenas de carneiros. - Na árvore! - disse eu. - O de ouro! - Ah! Bonito. Sim. Tyson caminhou pesadamente
até lá, tomando cuidado para não pisar os carneiros. Se algum de nós tivesse tentado se aproximar do Velocino, teria sido comido vivo, mas acho que Tyson tinha o
mesmo cheiro que Polifemo, porque o rebanho não o incomodou. Apenas se aconchegaram nele e baliram afetuosamente, como se esperassem ganhar guloseimas de carneiro
da grande cesta de vime. Tyson estendeu o braço e ergueu o Velocino do seu galho. No mesmo instante as folhas do carvalho ficaram amarelas. Tyson começou a voltar
lentamente na minha direção, mas eu gritei: - Não dá tempo! Jogue para cá! A pele dourada de carneiro saiu voando pelo ar como um Frisbee de pelúcia brilhante. Agarrei-a
com um gemido. Era mais pesada do que eu esperava - vinte e cinco ou trinta quilos de preciosa lã de ouro. Estendi o Velocino sobre Annabeth, cobrindo tudo, menos
o rosto, e rezei silenciosamente para todos os deuses em que pude pensar, até os de que não gostava.

Por favor. Por favor. As cores voltaram ao rosto dela. Seus cílios tremeram e se abriram. O corte na testa começou a se fechar. Ela viu Grover e disse, fraca: -
Você não... se casou? Grover arreganhou um sorriso. - Não. Meus amigos me convenceram a não fazer isso. - Annabeth - falei -, fique quieta. Mas, a despeito de nossos
protestos, ela sentou, e notei que o corte em seu rosto estava quase completamente cicatrizado. Ela estava com uma aparência muito melhor. Na verdade, reluzia de
saúde, como se alguém lhe tivesse dado uma injeção de brilho. Nesse meio-tempo, Tyson estava começando a ter problemas com os carneiros. - Para baixo! - ele lhes
disse quando tentaram escalá-lo, procurando comida. Alguns estavam farejando o ar em nossa direção. - Não, carneirinhos. Por aqui! Venham para cá! Eles obedeceram,
mas era óbvio que estavam com fome, e começavam a perceber que Tyson não tinha nenhuma guloseima para eles. Não iriam agüentar muito tempo com tanta carne fresca
por perto. - Temos de ir - disse eu. - Nosso navio está... O Vingança da Rainha Ana estava muito, muito longe. O caminho mais curto seria pelo precipício, e tínhamos
acabado de destruir a única ponte. A outra possibilidade era por entre os carneiros. - Tyson - chamei -, você pode levar o rebanho para o mais longe possível? -
Os carneiros querem comida. - Eu sei! Eles querem comida humana! Tente afastá-los do caminho. Dê-nos tempo para chegar até a praia. Depois nos encontre lá. Tyson
pareceu indeciso, mas assobiou. - Venham carneirinhos! Ahn, comida humana por aqui! Ele correu para a campina, os carneiros no seu encalço. - Mantenha-se enrolada
no Velocino - disse a Annabeth. - Só para o caso de você ainda não estar completamente curada. Dá para ficar de pé? Ela tentou, mas seu rosto ficou pálido de novo.
- Ohh. Não completamente curada. Clarisse abaixou-se ao lado dela e apalpou seu tórax, o que fez Annabeth gemer. - Costelas quebradas - disse Clarisse. - Estão se
recompondo, mas com certeza estão quebradas. - Como você sabe? - perguntei. Clarisse me fulminou com o olhar.

- Porque eu já quebrei algumas, nanico! Vou ter de carregá-la. Antes que eu pudesse discutir, Clarisse ergueu Annabeth como um saco de farinha e a carregou até a
praia. Grover e eu fomos atrás. Assim que chegamos à beira d'água, me concentrei no Vingança da Rainha Ana. Ordenei-lhe que levantasse a âncora e se deslocasse até
mim. Depois de alguns minutos ansiosos avistei o navio dobrando a extremidade da ilha. - Chegando! - gritou Tyson. Ele estava aos pulos trilha abaixo para juntar-se
a nós, os carneiros cerca de cinqüenta metros atrás, balindo de frustração porque o amigo ciclope saíra correndo sem alimentá-los. - Eles provavelmente não nos seguirão
dentro d'água - disse eu aos outros. - Tudo o que temos de fazer é nadar até o navio. - Com Annabeth nesse estado? - protestou Clarisse. - Podemos fazer isso - insisti.
Eu estava começando a me sentir confiante de novo. Estava de volta ao meu ambiente, o mar. - Depois que chegarmos ao navio, estaremos em segurança. De novo, nós
quase conseguimos. Tínhamos acabado de atravessar a entrada da ravina quando ouvimos um tremendo rugido e vimos Polifemo, arranhado e esfolado, porém ainda muito
vivo, o traje de casamento azul-bebê em farrapos, andando na nossa direção com uma pedra em cada mão.


DEZESSEIS - Eu afundo com o navio
- E a gente imaginou que o estoque de pedras dele tivesse acabado - resmunguei. - Saiam nadando! - disse Grover. Ele e Clarisse mergulharam nas ondas. Annabeth se
agarrou ao pescoço de Clarisse e tentou remar com uma das mãos, o Velocino molhado pesando sobre ela. Mas a atenção do monstro não estava no Velocino. - Você, jovem
ciclope! - rugiu Polifemo. - Traidor da nossa espécie! Tyson parou. - Não dê ouvidos a ele! - implorei. - Venha. Puxei o braço de Tyson, mas era como se estivesse
puxando uma montanha. Ele se virou e enfrentou o ciclope mais velho. - Não sou um traidor. - Você serve a mortais! - bradou Polifemo. - Seres humanos ladrões! Polifemo
atirou sua primeira pedra. Tyson rebateu-a para o lado com o punho. - Não sou traidor - disse Tyson. - E você não é da minha espécie. - Morte ou vitória! Polifemo
avançou para as ondas, mas seu pé ainda estava ferido. Ele imediatamente tropeçou e caiu de cara. Aquilo teria sido engraçado, só que ele começou a se levantar,
cuspindo água salgada e rosnando. - Percy! - gritou Clarisse. - Venha! Eles já estavam quase no navio com o Velocino. Se eu ao menos pudesse manter o monstro distraído
mais um pouco... - Vá - disse-me Tyson. - Eu seguro o Grandão Feioso. - Não! Ele vai matá-lo. - Eu já havia perdido Tyson uma vez. Não ia perdê-lo dê novo. - Vamos
enfrentá-lo juntos. - Juntos - concordou Tyson. Puxei minha espada. Polifemo avançou cautelosamente, mancando como nunca. Mas não havia nada de errado com seu braço.
Ele atirou a segunda pedra. Mergulhei para um lado, mas ainda teria sido esmagado se Tyson não a tivesse arrebentado, transformando-a em cascalho. Desejei que o
mar subisse. Uma onda de seis metros se ergueu, levantando-me na crista. Peguei um jacaré em direção ao ciclope e chutei-o no olho, pulando por cima da cabeça dele
enquanto a água o atirava na praia. - Vou destruí-lo! - bradou Polifemo. - Ladrão de Velocino!

- Você roubou o Velocino - gritei. - Você o está usando para atrair sátiros para a morte! - E daí? Sátiros são boa comida! - O Velocino deve ser usado para curar!
Ele pertence aos filhos dos deuses! - Eu sou um filho dos deuses! - Polifemo tentou me varrer com um golpe, mas eu me desviei para o lado. Pai Poseidon, amaldiçoe
este ladrão! - Ele piscava muito agora, como se mal pudesse enxergar, e percebi que estava se guiando pelo som da minha voz. - Poseidon não vai me amaldiçoar - falei,
recuando enquanto o ciclope agarrava o ar. - Eu também sou seu filho. Ele não vai escolher um favorito. Polifemo rugiu. Ele arrancou uma oliveira da encosta do penhasco
e golpeou com ela o lugar onde eu estava um momento antes. - Os seres humanos não são mais os mesmos! Maus, trapaceiros, mentirosos! Grover estava ajudando Annabeth
a embarcar no navio. Clarisse acenava freneticamente para mim, me chamando. Tyson deu a volta, tentando ficar atrás de Polifemo. - Jovem ciclope! - chamou o ciclope
mais velho. ­ Onde está você? Ajude-me! Tyson parou. - Você não foi criado como deveria! - lamuriou-se Polifemo, sacudindo seu porrete de oliveira. - Pobre irmão
órfão! Ajude-me! Ninguém se mexeu. Nenhum som além do oceano e das batidas do meu coração. Então Tyson deu um passo à frente, erguendo as mãos na defensiva. - Não
lute, irmão ciclope. Abaixe a... Polifemo girou o corpo na direção da voz dele. - Tyson! - gritei. A árvore atingiu-o com tamanha força que teria me achatado como
uma pizza de Percy com uma porção extra de azeitonas. Tyson voou de costas, cavando uma trincheira na areia. Polifemo avançou atrás dele, mas eu gritei: - Não! -
E me atirei o mais longe que pude com Contra-corrente. Esperava atingir Polifemo na parte de trás da coxa, mas consegui pular um pouquinho mais alto. - Béééééé!
- Polifemo baliu exatamente como seus carneiros, e me golpeou com sua árvore. Eu mergulhei, mas ainda assim uma dúzia de galhos pontudos arranhou minhas costas.
Estava sangrando, contundido e exausto. O porquinho-da-índia dentro de mim quis fugir. Mas eu engoli o medo. Polifemo desferiu outro golpe com a árvore, mas dessa
vez eu estava preparado. Agarrei um galho quando ela passou, ignorando a dor nas mãos ao ser jogado para o céu, e deixei o ciclope me erguer no ar. No topo do arco
eu me soltei e caí diretamente na cara do gigante - aterrissando com os dois pés no seu olho já machucado.

Polifemo ululou de dor. Tyson se atracou com ele, puxando-o para baixo. Eu caí ao lado deles - espada na mão, à distância de uma estocada no coração do monstro.
Mas meus olhos cruzaram os de Tyson e vi que não poderia fazer aquilo. Simplesmente não era certo. - Largue-o - disse a Tyson. - Corra. Com um último e enorme esforço,
Tyson empurrou o ciclope mais velho, que praguejava, para longe, e nós corremos para as ondas. - Eu vou esmagá-lo! - berrou Polifemo, dobrando-se de dor. Ele pôs
as mãos enormes em concha sobre o olho. Tyson e eu mergulhamos nas ondas. - Onde está você? - berrou Polifemo. Ele pegou o porrete de árvore e lançou-o para a água.
Aquilo caiu à nossa direita. Ordenei a uma corrente que nos carregasse, e começamos a ganhar velocidade. Eu estava começando a pensar que conseguiríamos chegar ao
navio quando Clarisse gritou do convés: - Aí, Jackson. Se ferrou, ciclope! Cale a boca, eu quis gritar. - Rarrrr! - Polifemo pegou uma pedra. Ele a atirou na direção
da voz de Clarisse, mas ela não chegou até lá, e por pouco não acertou Tyson e eu. - Aí, aí! - provocou Clarisse. - Você joga pedras como um fracote! Vou ensiná-lo
a tentar se casar comigo, seu idiota! - Clarisse! - berrei, incapaz de agüentar aquilo. - Cale a boca! Tarde demais. Polifemo atirou outra pedra, e dessa vez fiquei
olhando impotente enquanto ela voava por cima da minha cabeça e acertava o casco do Vingança da Rainha Ana. Você não acreditaria em como um navio pode afundar depressa.
O Vingança da Rainha Ana rangeu, gemeu e se inclinou para a frente como se fosse descer por um escorrega de parque de diversões. Eu praguejei, desejando que o mar
nos empurrasse mais depressa, mas os mastros do navio já estavam submergindo. - Mergulhe! - disse a Tyson. E enquanto outra pedra voava por cima de nossas cabeças,
submergimos. ***** Meus amigos estavam afundando depressa, tentando nadar, mas sem sorte, na esteira borbulhante dos destroços do navio. Nem todo o mundo sabe que
quando um navio afunda funciona como um ralo de pia, puxando tudo o que está em volta dele para baixo. Clarisse era uma nadadora vigorosa, mas nem ela conseguiu
fazer qualquer progresso. Grover agitava freneticamente seus cascos. Annabeth se agarrava ao Velocino, que brilhava na água como uma onda de moedinhas novas.

Eu nadei até eles, sabendo que poderia não ter força para puxar meus amigos para fora. Pior ainda, pedaços de madeira redemoinhavam em volta deles; nenhum dos meus
poderes com a água iria ajudar se uma viga acertasse minha cabeça. Precisamos de ajuda, pensei. Sim. A voz de Tyson, alta e clara na minha cabeça. Olhei para ele,
perplexo. Já tinha ouvido nereidas e outros espíritos da água falando comigo embaixo d'água, mas nunca me ocorrera... Tyson era filho de Poseidon. Podíamos nos comunicar.
Arco-íris, disse Tyson. Fiz que sim, e então fechei os olhos e me concentrei, somando minha voz à de Tyson: ARCO-ÍRIS! Precisamos de você! Formas tremeluziram na
escuridão embaixo de nós imediatamente - três cavalos com cauda de peixe, galopando para cima mais rápido que golfinhos. Arco-íris e seus amigos olharam em nossa
direção e pareceram ler nossos pensamentos. Eles se moveram com velocidade para o meio dos destroços e, um momento depois, explodiram para o alto numa nuvem de bolhas
- Grover, Annabeth e Clarisse, cada qual agarrado ao pescoço de um cavalo-marinho. Arco-íris, o maior, estava com Clarisse. Correu até nós e permitiu que Tyson se
agarrasse à sua crina. Seu amigo que trazia Annabeth fez o mesmo comigo. Chegamos à superfície e nos afastamos depressa da ilha de Polifemo. Atrás de nós, pude ouvir
o ciclope rugindo triunfante: - Consegui! Finalmente afundei Ninguém! Esperei que ele jamais descobrisse que estava errado. Deslizamos pelo mar enquanto a ilha ia
encolhendo, até se transformar em um ponto e depois desaparecer. - Conseguimos - murmurou Annabeth, exausta. - Nós... Ela tombou no pescoço do cavalo-marinho e adormeceu
instantaneamente. Eu não sabia até onde os cavalos-marinhos poderiam nos levar. Não sabia aonde estávamos indo. Apenas apoiei Annabeth para que ela não caísse, cobri-a
com o Velocino de Ouro que tanto trabalho nos custara e fiz uma oração silenciosa em . O que me lembrou... Eu ainda tinha uma dívida com os deuses.
- Você é um gênio - disse a Annabeth baixinho. Então encostei a cabeça no Velocino e, antes que percebesse, também estava dormindo.


DEZESSETE - Uma surpresa nos aguarda em Miami Beach
- Percy, acorde. Pingos de água salgada em meu rosto. Annabeth estava sacudindo meu ombro. A distância, o sol se punha atrás da silhueta de uma cidade. Pude ver
uma rodovia litorânea ladeada por palmeiras, fachadas de lojas brilhando em neon vermelho e azul, um porto cheio de veleiros e navios de cruzeiro. - Miami, eu acho
- disse Annabeth. - Mas os cavalos-marinhos estão agindo de um jeito engraçado. Certamente, nossos amigos aquáticos tinham reduzido a velocidade e estavam relinchando
e nadando em círculos, farejando a água. Não pareciam felizes. Um deles espirrou. Pude entender o que estavam pensando. - Aqui é o mais longe que eles podem nos
levar - disse eu. - Seres humanos demais. Poluição demais. Teremos de nadar até praia sozinhos. Nenhum de nós ficou muito entusiasmado com aquilo, mas agradecemos
a Arco-íris e seus amigos pela carona. Tyson chorou um pouco. Soltou o alforje improvisado que tinha feito, contendo seu conjunto de ferramentas e um par de outras
coisas salvas dos destroços do Birmingham. Depois abraçou o pescoço de Arco-íris, deu-lhe uma manga encharcada que colhera na ilha e disse adeus. Depois que as crinas
brancas dos cavalos-marinhos desapareceram no mar, nadamos para a praia. As ondas nos empurraram para a frente e num piscar de olhos estávamos de volta ao mundo
mortal. Perambulamos pelos cais dos navios de cruzeiro, abrindo passagem por entre uma multidão que chegava para viagens de férias. Carregadores se ocupavam com
carrinhos de bagagem. Taxistas gritavam um para o outro em espanhol e tentavam furar a fila para pegar passageiros. Se alguém reparou em nós - cinco crianças encharcadas
e com aparência de quem acaba de lutar com um monstro -, não deixou transparecer. Agora que estávamos de volta entre mortais, o olho único de Tyson estava velado
pela Névoa. Grover enfiara seu boné e os tênis. Até o Velocino se transformara, de uma pele de carneiro em uma jaqueta colegial de couro vermelha e dourada com um
grande ômega reluzente no bolso. Annabeth correu para a banca de jornais mais próxima e conferiu a data no Miami Herald. Ela praguejou. - Dezoito de junho! Estivemos
longe do acampamento por dez dias! - É impossível! - disse Clarisse. Mas eu sabia que não era. O tempo passava de um jeito diferente em lugares monstruosos. - A
árvore de Thalia já deve estar quase morta - lamentou-se Grover. - Temos de levar o Velocino para lá esta noite! Clarisse desmoronou na calçada. - Como vamos fazer
isso? - A voz dela tremeu. ­ Estamos a centenas de quilômetros de distância. Sem dinheiro. Sem transporte. Exatamente como disse o Oráculo. A culpa é sua, Jackson!
Se você não tivesse se metido... - Culpa de Percy? - explodiu Annabeth. - Clarisse, como pode dizer isso? Você é a maior... - Parem com isso! - falei.

Clarisse enfiou a cabeça nas mãos. Annabeth bateu o pé de frustração. O fato era: eu quase esquecera que aquela missão deveria ser de Clarisse. Por um momento assustador,
vi as coisas do ponto de vista dela. Como me sentiria se um bando de outros heróis tivesse se metido e me deixado mal? Pensei no que tinha ouvido na sala das caldeiras
do Birmingham - Ares gritando com Clarisse, avisando que era melhor ela não fracassar. Ares pouco se importava com o acampamento, mas se Clarisse manchasse sua reputação...
- Clarisse - disse eu -, o que foi exatamente que o Oráculo lhe disse? Ela ergueu os olhos. Pensei que fosse gritar comigo, mas em vez disso ela respirou fundo e
recitou a profecia: Navegarás com guerreiros de osso em navio de ferro, O que procuras, hás de encontrar, e teu o tomaras, Mas sem esperança dirás, minha vida em
pedra enterro, Sem amigos falharás e, voando só, retornarás. - Ui! - murmurou Grover. - Não - disse eu. - Não... espere um minuto. Eu entendi. Vasculhei meus bolsos
procurando dinheiro, e não encontrei nada a não ser um dracma de ouro. - Alguém tem algum dinheiro? Annabeth e Grover sacudiram a cabeça devagar. Clarisse puxou
do bolso um dólar da época da Guerra Civil encharcado e suspirou. - Dinheiro? - perguntou Tyson, hesitante. - Tipo... papel verde? Eu olhei para ele. - É. - Como
o que veio nos sacos de viagem? - E, mas nós perdemos aqueles sacos dias a-t-t... Gaguejei até parar enquanto Tyson vasculhava seu alforje e tirava de lá um saco
ziploc cheio de dinheiro que Hermes incluíra nos nossos suprimentos. - Tyson! - disse eu. - Como você... - Pensei que fosse um saco de ração para Arco-íris - disse
ele. - Achei flutuando no mar, mas só tinha papel dentro. Pena. Ele me entregou a grana. Notas de cinco e dez, pelo menos trezentos dólares. Corri para o meio-fio
e peguei um táxi que acabava de desembarcar uma família de passageiros de um cruzeiro. - Clarisse - gritei. - Venha. Você vai para o aeroporto. Annabeth, entregue
o Velocino a ela.

Não sei muito bem qual das duas pareceu mais perplexa quando tirei a jaqueta-Velocino de Annabeth, enfiei o dinheiro no bolso dela e a coloquei nos braços de Clarisse.
Clarisse disse: - Você vai me deixar... - E sua missão - disse eu. - Nós só temos dinheiro suficiente para um voo. Além disso, eu não posso viajar pelo ar. Zeus
me explodiria em um milhão de pedaços. é isso o que queria dizer a profecia: você falharia sem amigos, o que significa que precisava de nossa ajuda, mas teria de
voar para casa sozinha. Você precisa levar o Velocino em segurança. Eu podia ver a cabeça dela trabalhando - desconfiada de início, imaginando que truque eu estaria
armando, depois, finalmente, concluindo que eu queria mesmo dizer o que tinha dito. Ela pulou para dentro do táxi. - Pode contar comigo. Não vou falhar. - Não falhar
seria bom... O táxi arrancou em uma nuvem de fumaça do escapamento. O Velocino estava a caminho. - Percy - disse Annabeth -, aquilo foi tão... - Generoso? - sugeriu
Grover. - Maluco - corrigiu Annabeth. - Você está apostando a vida de todos no acampamento que Clarisse levará o Velocino em segurança para lá esta noite? - É a
missão dela - disse eu. - Ela merece uma chance. - Percy é legal - disse Tyson. - Percy é legal demais - resmungou Annabeth. Mas eu não pude deixar de pensar que
talvez, apenas talvez, ela estivesse um pouco impressionada. De qualquer modo, eu a surpreendera. E isso não era coisa fácil de fazer. - Vamos - disse aos meus amigos.
- Vamos encontrar outro jeito de ir para casa. Foi então que me virei e encontrei uma ponta de espada na minha garganta. - Oi, primo - disse Luke. - Bem-vindo de
volta aos Estados Unidos. Seus homens-urso brutamontes surgiram pelos dois lados. Um agarrou Annabeth e Grover pela gola das camisetas. O outro tentou agarrar Tyson,
mas Tyson o derrubou em uma pilha de malas e rugiu para Luke. - Percy - disse Luke calmamente -, diga ao seu gigante para recuar ou mandarei Oreios esmagar as cabeças
dos seus amigos uma contra a outra. Oreios arreganhou um sorriso e ergueu Annabeth e Grover do chão, os dois esperneando e gritando. - O que você quer, Luke? - rosnei.
Ele sorriu, fazendo ondular a cicatriz no seu rosto.

Fez um gesto em direção à extremidade do cais, e notei o que deveria ter sido óbvio. A maior embarcação no porto era o Princesa Andrômeda. - Ora, Percy - disse Luke.
- Eu quero estender minha hospitalidade, é claro. ***** Os gêmeos ursos nos tocaram para dentro do Princesa Andrômeda. Jogaram-nos no convés dianteiro, na frente
de uma piscina com fontes borbulhantes que formavam um repuxo no ar. Uma dúzia dos variados capangas de Luke - homens-cobra, lestrigões, semi-deuses de armadura
de batalha - tinha se reunido para nos ver receber um pouco de "hospitalidade". - E então, o Velocino, onde está? - perguntou Luke Ele nos examinou, espetando minha
camisa com a ponta da espada, cutucando os jeans de Grover. - Ei! - gritou Grover. - Há uma pele de bode de verdade aí embaixo! - Desculpe, velho amigo. - Luke sorriu.
- Entregue o Velocino e deixarei você partir de volta à sua, ahn, pequena missão natural. - Blaa-ha-ha! - protestou Grover. - Raio de velho amigo! - Talvez vocês
não tenham me ouvido. - A voz de Luke era perigosamente calma. - Onde... está... o... Velocino? - Não está aqui - falei. Provavelmente, eu não devia ter contado
nada a ele, mas era uma boa sensação jogar-lhe a verdade na cara. - Nós o despachamos na nossa frente. Você se deu mal. Os olhos de Luke se estreitaram. - Você está
mentindo. Você não pode ter... - Seu rosto se avermelhou quando uma horrível possibilidade lhe ocorreu. - Clarisse? Fiz que sim. - Você confiou... você deu... -
É. - Agrio! O gigante urso se encolheu. - S-sim? - Vá lá embaixo e prepare meu corcel. Traga-o para o convés. Preciso voar para o aeroporto de Miami, depressa! -
Mas, patrão... - Faça isso! - berrou Luke. - Ou você vai virar comida de dragão!

O homem-urso engoliu em seco e disparou escada abaixo. Luke ficou andando de um lado para o outro na frente da piscina, praguejando em grego antigo, agarrado em
sua espada com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. O restante da tripulação de Luke parecia inquieta. Talvez nunca tivessem visto o patrão tão enlouquecido.
Comecei a pensar... Se eu pudesse usar a raiva de Luke, fazê-lo falar de modo que todos pudessem ouvir como seus planos eram insanos... Olhei para a piscina, para
as fontes borrifando água no ar, criando um arco-íris ao pôr-do-sol. E de repente tive uma idéia. - Você estava nos usando o tempo todo - disse. - Queria que trouxéssemos
o Velocino para você e o poupássemos do esforço de pegá-lo. Luke fez uma careta. - É claro, seu idiota! E você estragou tudo! - Traidor! - Tirei meu último dracma
de ouro do bolso e o joguei em Luke. Como eu esperava, ele se esquivou facilmente. A moeda voou para dentro do repuxo de água com as cores do arco-íris. Esperei
que minha prece silenciosa fosse aceita. Pensei de todo o coração: O deusa, aceite minha oferenda. - Você enganou todos nós! - gritei para Luke. - Até DIONISO NO
ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE! Atrás de Luke, a fonte começou a tremeluzir, mas eu precisava que a atenção de todos estivesse em mim, então destampei Contracorrente. Luke
apenas deu um sorriso sarcástico. - Não é hora para heroísmos, Percy. Largue sua espadinha insignificante ou vou mandar matá-lo mais cedo, e não mais tarde. - Quem
envenenou a árvore de Thalia, Luke? - Fui eu, é claro - rosnou ele. - Eu já lhe disse isso. Usei peçonha da velha Píton, diretamente das profundezas do Tártaro.
- Quíron não tem nada a ver com isso? - Ah! Você sabe que ele nunca faria isso. O velho idiota não teria coragem. - Chama isso de coragem? Trair seus amigos? Pôr
em risco o acampamento inteiro? Luke ergueu a espada. - Você não entende nem a metade. Eu ia deixar você levar o Velocino... depois que eu tivesse terminado com
ele. Aquilo me fez hesitar. Por que ele permitiria que eu levasse o Velocino? Devia estar mentindo. Mas eu não podia me permitir perder a atenção dele. - Você ia
curar Cronos - disse eu.

- Sim! A mágica do Velocino teria acelerado dez vezes o processo de recuperação dele. Mas você não vai nos deter, Percy. Você só nos atrasou um pouco. - Então você
envenenou a árvore, traiu Thalia e nos preparou uma armadilha... tudo para ajudar Cronos a destruir os deuses. Luke rangeu os dentes. - Você sabe disso! Por que
fica me perguntando? - Porque eu quero que todo o público o ouça. - Que público? Então seus olhos se estreitaram. Ele olhou para trás, e seus facínoras fizeram o
mesmo. Eles engasgaram e recuaram, cambaleando. Acima da piscina, tremeluzindo na névoa do arco-íris, estava uma visão em mensagem de íris de Dioniso, Tântalo e
o acampamento inteiro no pavilhão-refeitório. Estavam sentados num silêncio perplexo nos assistindo. - Bem - disse Dioniso ironicamente -, um entretenimento inesperado
no jantar. - Senhor D, você ouviu - falei. - Vocês todos ouviram Luke. O envenenamento da árvore não foi culpa de Quíron. O senhor D suspirou. - Acho que não. -
A mensagem de íris pode ser um truque - sugeriu Tântalo, mas sua atenção estava dirigida principalmente ao seu cheeseburger, que ele tentava encurralar com as duas
mãos. - Infelizmente, não -- disse o senhor D, olhando com nojo para Tântalo. - Parece que terei de reintegrar Quíron como diretor de atividades. Acho mesmo que
sinto falta dos jogos de pinoche do velho cavalo. Tântalo agarrou o cheeseburger. Que não escapuliu para longe. Tântalo o ergueu do prato e olhou para aquilo estupefato,
como se fosse o maior diamante do mundo. - Peguei! - cacarejou ele. - Não precisamos mais dos seus serviços, Tântalo - anunciou o senhor D. Tântalo pareceu perplexo.
- O quê? Mas... - Você pode voltar ao Mundo Inferior. Está despedido. - Não! Mas... Nããããããããããããão! Enquanto se dissolvia em névoa, seus dedos apertaram o cheeseburger,
tentando levá-lo à boca. Mas era tarde demais. Tântalo desapareceu e o cheeseburger caiu de volta no prato. Os campistas explodiram em vivas. Luke urrou de raiva.
Golpeou a fonte com a espada e a mensagem de Íris se dissolveu, mas estava feito.

Eu estava me sentindo muito bem comigo mesmo, até que Luki-se virou e me lançou um olhar sanguinário. - Cronos tinha razão, Percy. Você é uma arma pouco confiável.
Precisa ser substituído. Não entendi muito bem o que ele queria dizer, mas não tive tempo de pensar a respeito. Um de seus homens soprou um apito de bronze, e as
portas do convés se abriram violentamente. Mais uma dúzia de guerreiros foi despejada, formando um círculo à nossa volta, as pontas de bronze das lanças na nossa
direção. Luke sorriu para mim. - Vocês não sairão vivos deste navio.


DEZOITO ­ A invasão dos pôneis de festa
- Mano a mano - desafiei Luke. - Do que você tem medo? Luke franziu o lábio. Os soldados que estavam prestes a nos matar hesitaram, aguardando as ordens dele. Antes
que ele pudesse dizer alguma coisa, Agrio, o homem-urso, irrompeu no convés levando um cavalo voador. Era o primeiro pégaso preto puro que eu já vira, com as asas
de um corvo gigante. A égua pégaso empinou e relinchou. Pude entender seus pensamentos. Ela estava chamando Agrio e Luke de nomes tão feios que Quíron teria lavado
seu focinho com sabão para selas. - Senhor. - bradou Agrio, esquivando-se dos cascos do pégaso. - Seu corcel está pronto! Luke manteve os olhos fixos em mim. - Eu
lhe disse no último verão, Percy - disse ele. - Você não pode me atrair para uma luta. - E você continua evitando uma - reparei. - Com medo de que seus guerreiros
o vejam ser derrotado? Luke lançou um olhar para seus homens, e viu que eu o tinha pego numa armadilha. Se ele recuasse, pareceria fraco. Se me enfrentasse, perderia
um tempo precioso em sua caçada a Clarisse. De minha parte, o melhor que podia esperar era distraí-lo, dando aos meus amigos oportunidade de escapar. Se alguém pudesse
pensar em um plano para tirá-los dali, seria Annabeth. O lado negativo era que eu sabia o quanto Luke era bom em esgrima. - Vou matá-lo rapidamente - decidiu ele,
e ergueu sua arma. Mordecostas era meio metro mais longa que a minha espada Sua lâmina reluzia com uma luz maligna cinza e ouro, onde o aço humano fora fundido com
o bronze celestial. Eu quase pude senti a lâmina lutando contra si mesma, como ímãs de pólos oposto amarrados juntos. Não sabia como a lâmina tinha sido feita, mas
senti algo trágico. Alguém morrera no processo. Luke assobiou para um dos seus homens, que lhe jogou um escudo redondo de couro e bronze. Ele me lançou um sorriso
maligno. - Luke - disse Annabeth -, pelo menos dê a ele um escudo. - Sinto muito, Annabeth - disse ele. - Nesta festa, a gente traz o próprio equipamento. O escudo
era um problema. Lutar com as duas mãos segurando apenas uma espada nos dá mais força, mas lutar com uma das mãos e um escudo nos dá melhor defesa e versatilidade.
Há mais movimentos, mais opões, mais maneiras de matar. Pensei em Quíron, que me dissera para ficar no acampamento não importasse a que preço, e aprendesse a lutar.
Agora ia pagar por não lhe ter dado ouvidos. Luke quase me matou na primeira investida. Sua espada passou embaixo do meu braço, rasgando minha camisa e roçando minhas
costelas. Pulei para trás, contra-ataquei com Contracorrente, mas Luke desviou minha lâmina com o escudo. - Ora, Percy - caçoou -, você está fora de forma. Ele avançou
de novo com um golpe na altura da minha cabeça. Eu me defendi e devolvi com uma estocada. Ele desviou facilmente para o lado.


O corte nas minhas costelas doía. Meu coração estava disparado. Quando Luke investiu de novo, pulei para trás, para dentro da piscina, e senti uma explosão de força.
Girei embaixo d'água, criando um turbilhão que emergiu da parte mais funda, explodindo diretamente na cara de Luke. A força da água o derrubou, o fez cuspir, sem
enxergar. Mas, antes que eu pudesse atacar, ele rolou de lado e se pôs de pé novamente. Ataquei e cortei fora a beira de seu escudo, mas aquilo não o intimidou.
Ele se agachou e investiu contra as minhas pernas. De repente minha coxa ficou em fogo, com uma dor tão intensa que desabei. Meus jeans estavam rasgados acima do
joelho. Eu estava ferido. Não sabia com que gravidade. Luke deu um golpe para baixo e eu rolei para trás de uma espreguiçadeira. Tentei me levantar, mas minha perna
não suportava o peso. - Perrrrrrcy! - baliu Grover. Rolei de novo quando a espada de Luke partiu a espreguiçadeira ao meio, com os tubos de metal e tudo. Arrastei-me
em direção à piscina, tentando desesperadamente não desmaiar. Eu nunca conseguiria. Luke sabia disso. Ele avançou devagar, sorrindo. O fio de sua espada estava tingido
de vermelho. - Uma coisa que eu quero que você veja antes de morrer, Percy. - Ele olhou para o homem-urso Oreios, que ainda estava segurando Annabeth e Grover pelo
pescoço. - Você pode comer o seu jantar agora, Oreios. Bon appetit. - He-he! He-he! - O homem-urso ergueu meus amigos e mostrou os dentes. Foi quando o Hades inteiro
foi libertado. Zummm! Uma flecha com penas vermelhas brotou na boca de Oreios. Com uma expressão surpresa na cara peluda, ele desmoronou no convés. - Irmão! - gemeu
Agrio. Ele afrouxou as rédeas do pégaso apenas por tempo suficiente para o corcel negro escoiceá-lo na cabeça e escapar voando, livre, sobre a baía de Miami. Por
uma fração de segundo os guardas de Luke ficaram atordoados demais para fazer qualquer coisa a não ser olhar para os corpos dos gêmeos ursos se dissolvendo em fumaça.
Então se ouviu um coro selvagem de brados de guerra e um estrépito de cascos contra metal. Uma dúzia de centauros irrompeu da escadaria principal. - Pôneis! - exclamou
Tyson, empolgado. Minha cabeça teve dificuldade de processar tudo o que vi. Quíron estava no meio da multidão, mas seus parentes não pareciam quase nada com ele.
Eram centauros com corpo de garanhões árabes, outros com pelo dourado de palomino, outros com manchas laranja e brancas como paint horses. Alguns usavam camisetas
de cores vivas com letras fosforescentes que diziam PÔNEIS DE FESTA: DIVISÃO DO SUL DA FLORIDA. Alguns estavam armados com arcos, alguns com bastões de beisebol,
alguns com pistolas de paintball Um tinha a cara pintada como um guerreiro comanche e agitava uma enorme mão de isopor mostrando um grande Número 1. Outro estava
de peito nu e inteiramente pintado de verde. Um terceiro usava óculos com olhos vesgos presos a molas, balançando para cima e para baixo, e um daqueles bonés de
beisebol que têm latas de refrigerante com canudinhos penduradas dos dois lados.

Eles estouraram no convés com tamanha ferocidade e tanto colorido que por um momento até Luke ficou atordoado. Eu não sabia dizer se eles tinham chegado para comemorar
ou atacar. Tudo levava a crer que as duas coisas. Enquanto Luke erguia sua espada para convocar as tropas, um centauro disparou uma flecha diferenciada, com uma
luva de boxe na ponta. Ela atingiu Luke na cara e o mandou para dentro da piscina. Seus guerreiros se espalharam por todos os lados. Eu não podia culpá-los. Enfrentar
os cascos de um garanhão empinado já é bastante assustador, mas sendo ele um centauro, armado com um arco e aos gritos, usando um chapéu com latas de refrigerante,
até o mais bravo dos guerreiros bateria em retirada. - Venham, acertem alguns! - gritou um dos pôneis de festa. Eles mandaram ver com suas pistolas de paintball.
Uma onda de azul e amarelo explodiu contra os guerreiros de Luke, cegando-os e emporcalhando-os da cabeça aos pés. Eles tentaram correr, apenas para escorregar e
cair. Quíron galopou até Annabeth e Grover, pegou-os com facilidade do convés e os colocou nas costas. Tentei me levantar, mas minha perna ferida ainda parecia estar
em fogo. Luke se arrastava para fora da piscina. - Ataquem, seus idiotas! - ordenou às suas tropas. Em algum lugar sob o convés um grande sino bateu. Eu sabia que
a qualquer segundo seríamos esmagados pelos reforços de Luke. Seus guerreiros já estavam se recuperando da surpresa, avançando para os centauros com espadas e lanças
erguidas. Tyson jogou meia dúzia de lado com um tabefe, derrubando-os por cima da amurada na baía de Miami. Porém mais guerreiros vinham subindo pelas escadas. -
Irmãos, retirar! - disse Quíron. - Você não vai escapar dessa impune, homem-cavalo! - berrou Luke. Ele ergueu a espada, mas levou um murro na cara em outra flechada
de luva de boxe, e caiu sentado numa espreguiçadeira. Um centauro palomino me içou para seu lombo. - Cara, chame seu amigo grandalhão! - Tyson! - gritei. - Venha!
Tyson largou os dois guerreiros que estava prestes a amarrar em um nó e correu atrás de nós. Ele pulou para o lombo do centauro. - Cara! - gemeu o centauro, quase
cedendo sob o peso de Tyson. - As palavras "dieta de baixo carboidrato" significam alguma coisa para você? Os guerreiros de Luke estavam se organizando em uma falange.
Mas quando estavam prontos para avançar os centauros já tinham galopado para a beirada do convés e pulado sem medo por cima da amurada, como se aquilo fosse uma
corrida de obstáculos e não dez andares acima do chão. Tive certeza de que íamos morrer. Despencamos para o cais, mas os centauros atingiram o asfalto praticamente
sem

um solavanco sequer e saíram galopando, bradando entusiasmados e gritando provocações para o Princesa Andrômeda enquanto galopávamos para as ruas do centro de Miami.
Não tenho idéia do que os moradores de Miami pensaram quando passamos galopando. Ruas e edifícios começaram a se tornar indistintos enquanto os centauros ganhavam
velocidade. A sensação era de que o espaço estava se compactando - como se cada passo de centauro nos levasse por quilômetros e quilômetros. Num piscar de olhos,
deixamos a cidade para trás. Disparamos por campos pantanosos, capim alto, lagos e árvores anãs. Finalmente, estávamos em um acampamento de trailers à beira de um
lago. Os trailers eram todos puxados por cavalos, incrementados com televisores, minigeladeiras e mosquiteiros. Era um acampamento de centauros. - Cara! - disse
um pônei de festa enquanto descarregava seu equipamento. - Você viu aquele sujeito urso? Parecia que estava dizendo: "Epa! Tem uma flecha na minha boca!" O centauro
com os óculos de olhos vesgos riu. - Aquilo foi fantástico! Trombada de cabeça! Os dois centauros investiram um contra o outro com força total e bateram as cabeças,
depois saíram cambaleando um para cada lado, com sorrisos bobos na cara. Quíron suspirou. Pôs Annabeth e Grover sobre uma toalha de piquenique ao meu lado. - Preferiria
que meus primos não batessem as cabeças. Eles não têm neurônios sobrando. - Quíron - disse eu, ainda surpreso com o fato de ele estar ali. - Você nos salvou. Ele
me deu um sorriso seco. - Bem, eu não poderia deixar que morressem, especialmente por terem limpado meu nome. - Mas como sabia onde estávamos? - perguntou Annabeth.
- Planejamento avançado, minha querida. Eu calculei que vocês seriam trazidos pelas águas para perto de Miami, se conseguissem sair do Mar de Monstros vivos. Quase
tudo o que é esquisito trazido para Miami pelas águas. - Puxa, obrigado - murmurou Grover. - Não, não - disse Quíron. - Eu não quis dizer... Ah, não importa! Eu
estou contente em vê-lo, meu jovem sátiro. A questão é que consegui bisbilhotar a mensagem de íris de Percy e rastrear o sinal. íris e eu somos amigos há séculos.
Pedia a ela que me alertasse sobre quaisquer comunicações importantes nesta área. Então não foi preciso grande esforço para convencer meus primos a vir em sua ajuda.
Como vêem, nós, centauros, somos capazes de nos deslocar bem depressa quando queremos. Nossa noção de distância é diferente da dos seres humanos. Olhei para a fogueira,
onde três pôneis de festa ensinavam Tyson a usar uma pistola de paintball. Torci para que soubessem no que estavam se metendo. - Então, e agora? - perguntei a Quíron.
- Simplesmente deixamos Luke ir embora? Ele está com Cronos a bordo daquele navio. Ou partes dele, de qualquer modo. Quíron se ajoelhou, dobrando cuidadosamente
as pernas dianteiras embaixo de si. Abriu a bolsa de remédios em seu cinto e começou a tratar meus ferimentos.

- Infelizmente, Percy, aconteceu hoje uma espécie de empate. Nós não tínhamos vantagem numérica para tomar aquele navio. E Luke não estava suficientemente organizado
para nos perseguir. Ninguém venceu. - Mas nós temos o Velocino! - disse Annabeth. - Clarisse está agora mesmo voltando com ele para o acampamento. Quíron assentiu,
embora ainda parecesse inquieto. - Vocês todos são heróis de verdade. E assim que deixarmos Percy em condições, vocês devem voltar ao Acampamento Meio Sangue. Os
centauros poderão levá-los. - Você também vem? - perguntei. - Ah, sim, Percy! Ficarei aliviado em ir para casa. Os meus irmãos aqui simplesmente não apreciam a música
de Dean Martin. Além disso, preciso trocar algumas palavras com o senhor D. Temos o restante do verão para planejar. Muito treinamento para fazer. E eu quero ver...
estou curioso a respeito do Velocino. Eu não sabia exatamente o que ele queria dizer, mas aquilo me deixou preocupado com o que Luke dissera: Eu ia deixar você levar
o Velocino... depois que eu tivesse terminado com ele. Ele estaria simplesmente mentindo? Eu aprendera com Cronos que sempre há um plano dentro de um plano. O senhor
titã não era chamado de O Tortuoso à toa. Tinha meios de conseguir que as pessoas fizessem o que ele queria sem sequer se darem conta das verdadeiras intenções dele.
Junto à fogueira, Tyson estava à vontade com sua pistola de paíntball. Um projétil azul explodiu contra um dos centauros, arremessando-o de costas para dentro do
lago. O centauro saiu sorrindo, coberto de lama do pântano e tinta azul, e com as duas mãos fez sinal de positivo para Tyson. - Annabeth - disse Quíron -, quem sabe
você e Grover poderiam ir tomar conta de Tyson e dos meus primos antes que eles, ahn, ensinem maus hábitos demais um ao outro? Annabeth olhou-o nos olhos. Houve
algum tipo de entendimento entre eles. - Claro, Quíron - disse Annabeth. - Venha, garoto-bode. - Mas eu não gosto de paintball - Sim, você gosta. - Ela pôs Grover
sobre seus cascos e o levou em direção à fogueira. Quíron acabou de enfaixar minha perna. - Percy, tive uma conversa com Annabeth a caminho daqui. Uma conversa sobre
a profecia. O-oh, pensei. - Não foi culpa dela - disse eu. - Eu a fiz contar. Seus olhos pestanejaram com irritação. Tinha certeza de que ele iria me dar uma bronca,
mas então seu olhar demonstrou cansaço. - Acho que não poderia mantê-la em segredo para sempre. - Então sou mesmo eu na profecia? Quíron enfiou as ataduras de volta
na bolsa.

- Eu gostaria de saber, Percy. Você ainda não tem dezesseis anos. Por ora, devemos simplesmente treiná-lo o melhor possível, e deixar o futuro para as Parcas. As
Parcas. Eu não pensava naquelas velhas senhoras fazia um bom tempo, mas assim que Quíron as mencionou, a ficha caiu em minha cabeça. - É isso que aquilo significava.
Quíron franziu o cenho. - É isso que o quê significava? - No último verão. O agouro das Parcas quando as vi arrebentar a linha da vida de alguém. Pensei que significasse
que eu ia morrer imediatamente, mas é pior que isso. Tem algo a ver com sua profecia. A morte que elas previram... vai acontecer quando eu tiver dezesseis anos.
A cauda de Quíron varreu nervosamente a grama. - Meu menino, você não pode ter certeza disso. Nós nem sabemos se a profecia é sobre você. - Mas não existe nenhum
outro filho meio-sangue dos Três Grandes! - Que nós saibamos. - E Cronos está retornando. Ele vai destruir o Monte Olimpo! - Ele vai tentar - concordou Quíron. -
E a civilização ocidental junto, se não o detivermos. Mas nós vamos detê-lo. Você não estará sozinho nessa luta. Eu sabia que ele estava tentando me fazer sentir
melhor, mas me lembrei do que Annabeth contara. Caberia a um só herói. Uma decisão que iria salvar ou destruir o Ocidente. E eu tinha certeza de que as Parcas me
deram algum tipo de aviso sobre isso. Algo terrível iria acontecer, ou para mim ou para alguém próximo de mim. - Eu sou apenas uma criança, Quíron - disse eu, sem
forças. - De que adianta um heroizinho de nada contra uma coisa como Cronos? Quíron conseguiu sorrir. - De que adianta um heroizinho de nada?, Joshua Lawrence Chamberlain
me disse algo parecido certa vez, pouco antes de, sozinho, mudar o curso da Guerra Civil. Ele puxou uma flecha de sua aljava e girou a ponta afiada como navalha
de um jeito que a fez brilhar à luz da fogueira. - Bronze celestial, Percy. Uma arma imortal. O que aconteceria se você disparasse isto contra um ser humano? - Nada
- disse eu. - Passaria através dele. - Certo - disse ele. - Os seres humanos não existem no mesmo nível que os imortais. Eles não podem nem mesmo ser feridos pelas
nossas armas. Mas você, Percy... você é parte deus, parte humano. Vive em ambos os mundos. Pode ser ferido por ambos, e pode influenciar ambos. É isso que torna
os heróis tão especiais. Você transporta as esperanças da humanidade para a esfera do eterno. Os monstros nunca morrem. Eles renascem do caos e do barbarismo que
sempre fermentam embaixo da civilização, o próprio material que torna Cronos mais forte. Precisam ser derrotados de novo, e de novo, mantidos encurralados. Os heróis
personificam essa luta. Você enfrenta as batalhas que a humanidade precisa vencer, a cada geração, a fim de continuar sendo humana. Entende?

- Eu... eu não sei. - Você precisa tentar, Percy. Porque, seja você ou não a criança da profecia, Cronos acha que você pode ser. E, depois de hoje, ele finalmente
desistirá de levá-lo para o lado dele. Essa é a única razão de ele ainda não tê-lo matado, você sabe. Assim que ele tiver certeza de que não poderá usá-lo, irá destruí-lo.
- Você fala como se o conhecesse. Quíron franziu os lábios. - Mas eu o conheço. Olhei para ele. Eu às vezes me esquecia de como Quíron era velho. - É por isso que
o senhor D culpou você quando a árvore foi envenenada? Por isso disse que algumas pessoas não confiam em você? - Sem dúvida. - Mas, Quíron... Quer dizer, ora vamos!
Por que eles haveriam de pensar que você iria trair o acampamento por Cronos? Os olhos de Quíron eram de um castanho profundo, cheios de milhares de anos de tristeza.
- Percy, lembre-se de seu treinamento. Lembre-se dos estudos de mitologia. Qual é a minha conexão com o senhor titã? Tentei pensar, mas minha mitologia sempre foi
toda confusa Mesmo ali, quando ela era tão real, tão importante para minha vida, eu tinha problemas em guardar direito todos os nomes e os fatos. Sacudi a cabeça.
- Você, ahn, deve a Cronos algum favor ou coisa assim? Ele poupou sua vida? - Percy - disse Quíron, a voz inimaginavelmente suave. - O titã Cronos é meu pai.


DEZENOVE - A corrida de carruagens termina com uma explosão.
Chegamos a Long Island logo depois de Clarisse, graças à capacidade de deslocamento dos centauros. Cavalguei no lombo de Quíron, mas não conversamos muito, especialmente
sobre Cronos. Eu sabia que tinha sido difícil para ele me contar. Não queria pressioná-lo com mais perguntas. Quer dizer, eu conheci uma grande quantidade de parentes
embaraçosos, mas, Cronos, o maligno senhor titã que queria destruir a civilização ocidental? Não era o tipo de pai que a gente convida para a escola no "dia da profissão".
Quando chegamos ao acampamento, os centauros estavam ansiosos por conhecer Dioniso. Tinham ouvido falar que ele promovia festas insanas, mas ficaram desapontados.
O deus do vinho não estava com disposição para celebrar quando o acampamento inteiro se reuniu no topo da Colina Meio-Sangue. O acampamento acabara de passar por
duas semanas difíceis. O chalé de artes e ofícios fora totalmente queimado no ataque de um Draco Aionius (que, até onde pude imaginar, é um nome latino para "enorme
lagarto que faz as coisas irem pelos ares"). Os quartos da Casa Grande estavam transbordando de feridos. As crianças do chalé de Apoio, que eram os melhores curandeiros,
estiveram trabalhando horas a fio nos primeiros socorros. Todos pareciam exaustos e maltratados quando nos amontoamos em volta da árvore de Thalia. No momento em
que Clarisse pendurou o Velocino de Ouro no galho mais baixo, o luar pareceu clarear, passando de cinzento para um prata-claro. Uma brisa fresca sussurrou entre
os galhos e fez o capim ondular até o vale. Tudo entrou em um foco mais nítido - a luz dos vaga-lumes nos bosques, o aroma dos campos de morangos, o som das ondas
na praia. Aos poucos, as agulhas do pinheiro começaram a esverdear, perdendo o tom marrom. Todos vibraram. Estava acontecendo devagar, mas não havia dúvida - a mágica
do Velocino penetrava na árvore, enchendo-a com uma força nova e expelindo o veneno. Quíron ordenou vigia vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, no
topo da colina, pelo menos até que pudesse arranjar um monstro apropriado para proteger o Velocino. Disse que publicaria um anúncio no Semanário do Olimpo imediatamente.
Nesse meio-tempo, Clarisse foi carregada nos ombros por seus companheiros de chalé até o anfiteatro, onde foi homenageada com uma coroa de louros e muita comemoração
em volta da fogueira. Ninguém deu a menor atenção a Annabeth ou a mim. Era como se nunca tivéssemos partido. Acho que era o melhor agradecimento que poderíamos receber,
porque, se admitissem que tínhamos escapulido furtivamente do acampamento para realizar a missão, teriam de nos expulsar. E, na verdade, eu não queria mesmo mais
nenhuma atenção. Era boa a sensação de ser apenas um dos campistas, para variar. Mais tarde, naquela noite, quando estávamos assando guloseimas e ouvindo os irmãos
Stoll nos contarem uma história de fantasmas sobre um rei perverso que fora comido vivo por doces demoníacos no café-damanhã, Clarisse me empurrou por trás e sussurrou
ao meu ouvido: - Não é porque você foi legal uma vez, Jackson, que está fora de perigo com Ares. Ainda estou esperando a oportunidade certa para transformá-lo em
pó. Dei-lhe um sorriso de má vontade. - O quê? - perguntou ela. - Nada - disse eu. - É bom estar em casa. *****

Na manhã seguinte, depois que os pôneis de festa partiram de volta para a Flórida, Quíron fez um aviso de surpresa: as corridas de bigas seriam realizadas conforme
programado. Todos tínhamos imaginado que elas ficariam para trás, já que Tântalo se fora, mas completá-las parecia ser a coisa certa a fazer, especialmente agora
que Quíron estava de volta e o acampamento estava seguro. Tyson não ficou muito entusiasmado com a idéia de entrar novamente numa biga depois da nossa primeira experiência,
e ficou feliz em deixar que eu formasse uma equipe com Annabeth. Eu conduziria, Annabeth defenderia e Tyson atuaria como nosso mecânico de pit-stop. Enquanto eu
trabalhava com os cavalos, Tyson consertou a carruagem de Atena e acrescentou todo um pacote de modificações especiais. Passamos os dois dias seguintes treinando
como loucos. Annabeth e eu concordamos que, caso vencêssemos, o prêmio de nenhum trabalho na cozinha durante um mês inteiro seria dividido entre nossos dois chalés.
Como Atena tinha mais campistas, teria a maior parte da folga, o que, por mim, estava o.k. Eu não me importava com o prêmio. Só queria vencer. Na noite anterior
à corrida, fiquei acordado até tarde nos estábulos. Estava conversando com nossos cavalos, dando-lhes as instruções finais, quando alguém bem atrás de mim disse:
- Belos animais, os cavalos. Gostaria de ter pensado neles. Um cara de meia-idade em uniforme dos correios estava encostado na porta do estábulo. Era magro, com
cabelo preto encaracolado embaixo do elmo branco, e carregava um malote postal pendurado no ombro. - Hermes? - gaguejei. - Olá, Percy. Não me reconheceu sem as roupas
de corrida? - Ahn... - Eu não sabia muito bem se deveria me ajoelhar, comprar selos ou o quê. Então me ocorreu por que ele devia estar ali. - Ah!, escute, senhor
Hermes, quanto a Luke... O deus arqueou as sobrancelhas. - Ahn, nós o vimos, tudo bem - disse eu -, mas... - Vocês não conseguiram fazê-lo ouvir a voz da razão?
- Bem, nós tentamos nos trucidar mutuamente em um duelo até a morte. - Entendo. Você tentou a aproximação diplomática. - Sinto muito mesmo. Quer dizer, você nos
deu aqueles presentes impressionantes e tudo. E eu sei que você queria que Luke voltasse. Mas... ele se tornou mau. Mau mesmo, pra valer. Ele disse que tem a sensação
de que você o abandonou. Esperei Hermes ficar furioso. Imaginei que ele me transformaria em um hamster ou coisa assim, e eu não tinha a menor vontade ser de novo
um roedor. Em vez disso, ele apenas suspirou. - Você já teve a impressão de que seu pai o abandonou, Percy? Ai, ai, ai. Tive vontade de dizer: "Só algumas centenas
de vezes por dia. Eu não falava com Poseidon desde o último verão. Nunca estivera sequer em seu palácio submarino. E também havia toda aquela coisa com Tyson - nenhum
aviso, nenhuma explicação. Simplesmente, buml Você tem um irmão. É de se imaginar que uma pessoa mereça uma ligadinha para avisar, ou coisa assim.

Quanto mais eu pensava nisso, mais zangado ficava. Percebi que realmente queria reconhecimento pela missão que completara, mas não dos outros campistas. Queria que
meu pai dissesse alguma coisa. Que reparasse em mim. Hermes acomodou melhor o malote no ombro. - Percy, a parte mais difícil de ser um deus é que você, muitas vezes,
precisa agir indiretamente, em especial quando se trata dos próprios filhos. Se fôssemos interferir todas as vezes em que os nossos filhos têm um problema... bem,
isso só iria criar mais problemas e mais ressentimento. Mas eu acredito que se você pensar um pouco nisso verá que Poseidon tem prestado atenção em você. Ele respondeu
às suas preces. Posso apenas esperar que algum dia Luke também perceba isso em relação a mim. Quer você ache que teve sucesso, quer não, lembrou a Luke quem era
ele. Você falou com ele. - Eu tentei matá-lo. Hermes encolheu os ombros. - Famílias são complicadas. Famílias imortais são eternamente complicadas. Ás vezes, o melhor
que podemos fazer é lembrar um ao outro que somos aparentados, aconteça o que acontecer... e tentar limitar ao mínimo as mortes e mutilações. Aquilo não pareceu
exatamente uma receita para a família perfeita. Mas, por outro lado, pensando na minha missão, percebi que talvez Hermes estivesse certo. Poseidon enviara os cavalos-marinhos
para nos ajudar. Ele me dera poderes sobre o mar de que nunca ouvira falar antes. E havia Tyson. Será que Poseidon nos pusera juntos de propósito? Quantas vezes
Tyson salvara minha vida naquele verão? A distância, soou a trombeta de concha, anunciando a hora de recolher. - Você precisa ir para a cama - disse Hermes. - Eu
já o ajudei a se meter em encrencas suficientes este verão. Na verdade, só vim para fazer esta entrega. - Uma entrega? - Eu sou o mensageiro dos deuses, Percy. -
Ele tirou um aparelho de protocolo eletrônico de sua mala postal e entregou para mim. - Assine aqui, por favor. Peguei a caneta do aparelho antes de perceber que
nela havia um par de minúsculas serpentes verdes entrelaçadas. - Ah! - Deixei a caneta cair. Ai!, disse George. Realmente, Percy, ralhou Martha. Você gostaria de
ser derrubado no chão de um estábulo? - Ah!, ahn, desculpe. Eu não gostava muito de tocar em serpentes, mas peguei de novo o aparelho e a caneta. Martha e George
se retorceram embaixo dos meus dedos formando uma espécie de apoio para lápis, como os que meu professor de educação especial me fazia usar na segunda série. Você
me trouxe um rato?, perguntou George. - Não... - disse eu. - Nós, ahn, não encontramos nenhum. E um porquinho-da-índia?

George!, repreendeu Martha. Não provoque o menino. Assinei e devolvi o aparelho para Hermes. Em troca, ele me entregou um envelope azul-mar. Meus dedos tremeram.
Mesmo antes de abrir, percebi que era do meu pai. Pude sentir seu poder no papel azul frio, como se o próprio envelope tivesse sido dobrado com uma onda do oceano.
- Boa sorte amanhã - disse Hermes. - É uma bela parelha de cavalos que você tem ali, mas vai ter de me desculpar se eu torcer pelo chalé de Hermes. E não fique desanimado
demais depois de ler isto, meu querido, disse Martha. Ele de fato se preocupa com você. - O que você quer dizer? - perguntei. Não ligue para ela, disse George. E
da próxima vez, lembre-se, as serpentes trabalham por gorjetas. - Já basta, vocês dois - disse Hermes. - Adeus, Percy. Por enquanto. Pequenas asas brancas brotaram
em seu elmo. Ele começou a brilhar, e eu sabia o bastante sobre os deuses para desviar os olhos antes que ele revelasse sua verdadeira forma divina. Com um brilhante
clarão branco, ele se foi, e fiquei sozinho com os cavalos. Olhei para o envelope azul em minhas mãos. Estava endereçado em uma caligrafia forte, mas elegante, que
eu já vira uma vez, em um pacote que Poseidon me enviara no último verão. Percy Jackson a/c Acampamento Meio-Sangue Fram Road, 3.141 Long Island, Nova York, 11954
Uma carta de verdade do meu pai. Talvez ele dissesse que eu tinha feito um bom trabalho ao conseguir o Velocino. Explicasse a respeito de Tyson, ou pedisse desculpas
por não ter falado comigo antes. Havia tantas coisas que eu gostaria que estivessem naquela carta. Abri o envelope e desdobrei o papel. Era simples o que estava
escrito no meio da página: Prepare-se Na manhã seguinte, estava todo mundo aos cochichos sobre a corrida de bigas, embora ficassem olhando nervosamente para o céu
como se esperassem ver pássaros de Estinfália se reunindo. Não apareceu nenhum. Era um lindo dia de verão, com céu azul e muito sol. O acampamento começava a ter
a aparência que deveria: as campinas estavam verdes e luxuriantes; as colunas brancas reluziam nos edifícios gregos; dríades brincavam alegres nos bosques. E eu
me sentia infeliz. Ficara acordado a noite inteira, pensando no aviso de Poseidon. Prepare-se. Quer dizer, ele se dá ao trabalho de escrever uma carta e escreve
apenas aquilo? Martha, a serpente, me dissera para não ficar desapontado. Talvez Poseidon tivesse uma razão para ser tão vago. Talvez não soubesse exatamente sobre
o que estava me advertindo, mas sentisse que algo

grandioso estava prestes a acontecer - algo que poderia me deixar completamente arrasado, a não ser que estivesse preparado. Foi difícil, mas tentei voltar meus
pensamentos para a corrida. Enquanto Annabeth e eu nos encaminhávamos para a pista não pude deixar de admirar o trabalho que Tyson fizera na biga de Atena. A carruagem
reluzia com seus reforços de bronze. As rodas tinham sido realinhadas com uma suspensão mágica deslizávamos sem um solavanco sequer. O arreamento dos cavalos estava
tão perfeitamente equilibrado que a parelha virava ao mais leve puxão nas rédeas. Tyson fizera dois dardos para nós, cada qual com três botões no cabo. O primeiro
botão preparava o dardo para explodir com o impacto, liberando um arame farpado que se embaraçaria nas rodas de um oponente e as despedaçaria. O segundo botão produzia
uma ponta de bronze rombuda (mas ainda assim muito dolorosa) projetada para derrubar o auriga. O terceiro botão produziria um arpéu que poderia ser usado para travar
a carruagem do inimigo ou empurrá-la para longe. Calculei que estávamos em excelente condição para a corrida, mas Tyson assim mesmo me advertiu para ser cuidadoso.
As equipes das outras carruagens tinham truques à beca para puxar dos seus mantos. - Aqui - disse ele pouco antes de começar a corrida. Ele me entregou um relógio
de pulso. Não havia nele nada de especial - apenas um mostrador branco e prata e uma pulseira de couro preto -, mas assim que o vi percebi que era naquilo que eu
o vira trabalhar durante todo o verão. Normalmente não uso relógio. Que importância tem saber as horas? Mas não podia dizer não a Tyson. - Obrigado, parceiro. -
Coloquei-o no pulso e descobri que era surpreendentemente leve e confortável. Eu mal sentia que o estava usando. - Não consegui terminá-lo em tempo para a viagem
- murmurou Tyson. - Desculpe, desculpe. - Ei, cara. Não é importante. - Se precisar de proteção na corrida - aconselhou ele -, aperte o botão. - Ah, legal! - Não
vi como a hora certa poderia ajudar grande coisa, mas fiquei comovido por Tyson ter se preocupado. Prometi i ele que me lembraria do relógio. - E... ei, ahn, Tyson...
Ele olhou para mim. - Eu queria dizer, bem... Tentei imaginar como me desculpar por ter sentido vergonha dele antes da missão, por ter dito a todos que ele não era
meu irmão de verdade. Não foi fácil encontrar as palavras. - Eu sei o que você vai me dizer - disse Tyson, parecendo encabulado. - Poseidon, no fim das contas, se
preocupava comigo. - Ahn, bem... - Ele mandou você para me ajudar. Exatamente o que eu pedi. Eu pisquei. - Você pediu... a mim para Poseidon? - Pedi um amigo ­ disse
Tyson, torcendo a camisa nas mãos. - Os jovens ciclopes crescem sozinhos nas ruas, aprendem a fazer coisas com sucata. Aprendem a sobreviver.

- Mas isso é tão cruel! Ele sacudiu a cabeça com decisão. - Isso nos faz apreciar nossas bênçãos, não ser gananciosos, maus e gordos como Polifemo. Mas eu ficava
com medo. Os monstros me perseguiram tanto, às vezes me machucavam com suas garras... - As cicatrizes nas suas costas? Uma lágrima surgiu no olho dele. - A esfinge
da rua Setenta e Dois. Grande encrenqueira. Pedi ajuda ao papai. Logo o pessoal de Meriwether me encontrou. Conheci você. A maior bênção de todas. Sinto por ter
dito que Poseidon era mau. Ele me mandou um irmão. Olhei para o relógio que Tyson me dera. - Percy! - chamou Annabeth. ­ Vamos! Quíron estava junto à linha de partida,
pronto para soprar a concha. - Tyson... - falei. - Vá - disse Tyson. - Vocês vão vencer! - Eu... sim, certo, grandão. Vamos vencer esta por você. - Subi na biga
e fiquei em posição bem na hora em que Quíron deu a largada. Os cavalos sabiam o que fazer. Disparamos pela pista tão depressa que eu teria caído da carruagem se
meus braços não tivessem enrolado nas rédeas de couro. Annabeth se segurou firme no parapeito. As rodas deslizavam lindamente. Entramos na primeira curva com uma
biga inteira de vantagem sobre Clarisse, que estava ocupada tentando se defender de um ataque de dardo dos irmãos Stoll na biga de Hermes. - Nós os pegamos. - gritei,
mas foi cedo demais. - Chegando! - gritou Annabeth. Ela lançou seu primeiro dardo no modo arpéu, jogando longe uma rede com pesos de chumbo que teria envolvido nós
dois. A carruagem de Apolo chegara ao nosso lado. Antes que Annabeth pudesse se armar de novo, o guerreiro de Apoio lançou um dardo contra nossa roda direita. O
dardo se despedaçou, mas não sem antes arrebentar um dos raios. Nossa biga deu uma guinada brusca e oscilou. Tive certeza de que a roda iria se desintegrar de vez,
mas de algum modo continuamos em frente. Instiguei os cavalos a manter a velocidade. Estávamos agora pescoço com pescoço com Apoio. Hefesto vinha logo depois. Ares
e Hermes estavam ficando para trás, lado a lado enquanto Clarisse enfrentava Connor Stoll de espada contra dardo. Se fôssemos atingidos mais uma vez na roda, sabia
que iríamos capotar. - Você é meu! - gritou o auriga de Apolo. Era um campista de primeiro ano. Não me lembro do seu nome, mas certamente tinha autoconfiança. -
Ah, tá! - Annabeth gritou de volta. Ela pegou o segundo dardo - um grande risco, considerando que ainda tínhamos uma volta completa pela frente - e o lançou contra
o auriga de Apolo.

A pontaria foi perfeita. A ponta rombuda surgiu bem no momento em que o dardo atingiu o auriga no peito, derrubando-o sobre o parceiro e fazendo os dois tombarem
da carruagem num salto-mortal para trás. Os cavalos sentiram as rédeas afrouxarem e enlouqueceram, galopando direto para a multidão. Campistas correram procurando
proteção enquanto os cavalos passaram no canto das arquibancadas e a biga dourada virou. Os animais galoparam de volta para o estábulo, arrastando a carruagem emborcada
atrás deles. Consegui manter nossa biga inteira ao longo da segunda curva, a despeito dos gemidos da roda direita. Passamos pela linha de partida e entramos trovejando
na volta final. O eixo rangia e chiava. A roda instável estava nos fazendo perder velocidade, muito embora os cavalos respondessem a todos os meus comandos, correndo
como uma máquina bem lubrificada. A equipe de Hefesto continuava avançando. Beckendorf sorriu ao pressionar um botão no seu painel de controle. Cabos de aço foram
lançados da frente de seus cavalos mecânicos e se enroscaram na traseira de nossa biga. A carruagem estremeceu quando o sistema de guincho de Beckendorf começou
a funcionar - arrastando-nos para trás enquanto Beckendorf era puxado para a frente. Annabeth praguejou e puxou sua faca. Ela golpeou os cabos, mas eram grossos
demais. - Não consigo cortá-los! - gritou. A carruagem de Hefesto estava agora perigosamente próxima, os cavalos a ponto de nos esmagar com os cascos. - Troque comigo!
- disse a Annabeth. - Pegue as rédeas! - Mas... - Confie em mim! Ela passou para a frente e agarrou as rédeas. Eu me virei, num esforço para manter o equilíbrio,
e destampei Contracorrente. Dei um golpe para baixo e os cabos arrebentaram como linha de pipa. Fomos lançados para a frente, mas o auriga de Beckendorf simplesmente
deu uma guinada para a esquerda e encostou a biga ao nosso lado. Beckendorf puxou sua espada. Ele desferiu um golpe contra Annabeth, e eu o desviei. Estávamos entrando
na última curva. Jamais conseguiríamos. Eu precisava desestabilizar a carruagem de Hefesto e tirá-la do caminho, mas também tinha de proteger Annabeth. Beckendorf
era um cara legal mas isso não significava que ele não iria mandar nós dois para a enfermaria se baixássemos a guarda. Estávamos agora pescoço com pescoço, Clarisse
se aproximando atrás, recuperando o tempo perdido. - Até mais, Percy! - gritou Beckendorf. - Aí vai um presentinho de despedida! Ele atirou uma bolsa de couro em
nossa biga. Aquilo grudou imediatamente no piso e começou a soltar uma fumaça verde. - Fogo grego! - gritou Annabeth. Eu praguejei. Tinha ouvido histórias sobre
o que o fogo grego era capaz de fazer. Calculei que teríamos talvez dez segundos antes que aquilo explodisse.

- Livre-se dele! - gritou Annabeth. Mas eu não podia. A carruagem de Hefesto ainda estava ao lado, aguardando até o último segundo para se certificar de que seu
presentinho explodiria. Beckendorf me mantinha ocupado com sua espada. Se eu baixasse a guarda por tempo suficiente para lidar com o fogo grego, Annabeth seria fatiada,
e nós nos arrebentaríamos de um jeito ou de outro. Tentei chutar a bolsa de couro para longe, mas não consegui. Ela estava bem grudada. Então me lembrei do relógio.
Não sabia como aquilo poderia ajudar, mas consegui apertar o botão do cronômetro. No mesmo instante o relógio se transformou. Expandiu-se, o aro de metal girando
para fora como um obturador de máquina fotográfica antiga, e uma correia de couro se enrolou em torno do meu antebraço até que me vi segurando um escudo de guerra
redondo com um metro e meio de diâmetro, o lado de dentro de couro macio, o lado de fora de bronze polido, com desenhos gravados que não tive tempo de examinar.
Tudo o que sabia era que Tyson se saíra bem. Ergui o escudo e a espada de Beckendorf retiniu contra ele. Sua lâmina se estilhaçou. - O quê? - gritou ele. - Como...
Ele não teve tempo de dizer mais nada porque eu o atingi no peito com meu novo escudo e o fiz voar da carruagem e rolar pela poeira. Eu estava prestes a usar Contracorrente
para golpear o auriga quando Annabeth gritou: - Percy! O fogo grego estava soltando fagulhas. Enfiei a ponta da minha espada embaixo da bolsa de couro e a usei como
espátula. A bomba incendiaria saiu do lugar e voou para dentro da carruagem de Hefesto, caindo nos pés do auriga. Ele soltou um ganido. Em uma fração de segundo
o auriga fez a escolha certa: mergulhou da carruagem, que seguiu em diagonal e explodiu labaredas verdes. Os cavalos de metal pareciam estar em curto-circuito. Contornaram
e arrastaram os destroços em chamas na direção de Clarisse e dos irmãos Stoll, que tiveram de se desviar para evitá-los. Annabeth puxou as rédeas para a última curva.
Eu me segurei, certo de que iríamos capotar, mas de algum modo ela conseguiu continuar e tocou os cavalos pela linha de chegada. Um clamor se ergueu da multidão.
Depois que a carruagem parou, nossos amigos se aglomeraram ao nosso redor. Começaram a entoar nossos nomes, mas Annabeth gritou, por cima do barulho: - Esperem!
Escutem! Não fomos apenas nós! A multidão não queria silenciar, mas Annabeth se fez ouvir: - Não teríamos conseguido sem outra pessoa! Não poderíamos ter ganhado
esta corrida, nem conseguido o Velocino, nem salvado Grover, nem nada! Devemos nossas vidas a Tyson... - Meu irmão! - disse eu, bem alto para todos ouvirem. - Tyson,
meu irmãozinho mais novo.


Tyson corou. A multidão delirou. Annabeth me tascou um beijo na bochecha. Os gritos ficaram ainda muito mais altos depois disso. Todo o chalé de Atena nos ergueu
nos ombros - Annabeth, Tyson e eu - e nos carregou em direção ao pódio dos vencedores, onde Quíron aguardava para entregar as coroas de louros.


VINTE ­ A magia do velocino é boa até demais
Aquela tarde foi uma das mais felizes que eu já passara no acampamento, o que talvez sirva para demonstrar que a gente nunca sabe quando nosso mundo está prestes
a ser despedaçado. Grover anunciou que poderia passar o resto do verão conosco antes de retomar sua missão à procura de Pan. Seus superiores no Conselho dos Anciãos
de Casco Fendido ficaram tão impressionados por ele não ter se deixado matar e ter aberto o caminho para futuros buscadores que lhe concederam uma licença de dois
meses e um novo conjunto de flautas de bambu. A única má notícia: Grover insistiu em tocar aquelas flautas a tarde inteira, e seus dons musicais não haviam melhorado
muito. Ele tocou YMCA, e os morangueiros começaram a enlouquecer, enroscando-se em nossos pés como se estivessem tentando nos estrangular. Acho que não poderia culpá-los.
Grover me contou que poderia desfazer a conexão empática entre nós, agora que estávamos frente a frente, mas eu lhe disse que simplesmente aceitava continuar com
ela, se estivesse tudo bem com ele. Ele pôs de lado suas flautas de junco e me olhou. - Mas, se eu me meter em encrenca de novo, você estará cm perigo, Percy! Você
pode morrer! Se você se meter em encrenca de novo, eu quero saber a respeito. E vou ajudá-lo de novo, homem-bode. Não faria de outro jeito. No fim ele concordou
em não romper a conexão. Voltou a tocar YMCA para os morangueiros. Eu não precisava de uma conexão empática com as plantas para saber como elas se sentiam com aquilo.
***** Mais tarde, durante a aula de arco-e-flecha, Quíron me chamou de lado e contou que havia resolvido meus problemas com o colégio Meriwether. O colégio não me
culpava mais por destruir o ginásio. A polícia não estava mais me procurando. - Como conseguiu isso? - perguntei. Os olhos de Quíron cintilaram. - Apenas sugeri
que os mortais tinham visto algo diferente naquele dia... a explosão de um forno, que não foi sua culpa. - Você disse isso e eles aceitaram? - Eu manipulei a Névoa.
Algum dia, quando você estiver pronto, vou lhe mostrar como isso é feito. - Você quer dizer que eu posso voltar para Meriwether no ano que vem? Quíron ergueu as
sobrancelhas. - Ah, não, eles expulsaram você assim mesmo. O diretor, senhor Bonsai, disse que seu... como foi mesmo que ele disse? Que seu carma não era bom, que
perturbava a aura educacional da escola. Mas você não está com nenhum problema com a lei, o que foi um alívio para sua mãe. Ah!, e por falar na sua mãe... Ele desprendeu
seu telefone celular da aljava e o entregou a mim. - Está mais do que na hora de você ligar para ela.


A pior parte foi o começo - a parte do "Percy Jackson, o que você está pensando, você tem idéia de como eu fiquei preocupada por você ter fugido do acampamento,
partindo para missões perigosas e me deixando morrendo de pavor?". Mas, finalmente, ela fez uma pausa para tomar fôlego. - Ah, eu só estou contente por você estar
em segurança! Isso é o mais legal em minha mãe. Ela não é muito boa em ficar zangada. Ela tenta, mas simplesmente não é da natureza dela. - Desculpe, mamãe - disse
a ela. - Não vou assustá-la de novo. - Não me prometa isso, Percy. Você sabe muito bem que tudo só vai piorar. - Ela tentou parecer despreocupada quanto a isso,
mas pude perceber que estava bastante abalada. Eu quis dizer alguma coisa para fazê-la se sentir melhor, mas sabia que ela estava certa. Sendo um meiosangue, eu
estaria sempre fazendo coisas que a assustavam. E, à medida que fosse ficando mais velho, os perigos simplesmente ficariam maiores. - Eu poderia ir para casa por
algum tempo - sugeri. - Não, não. Fique no acampamento. Treine. Faça o que tem de fazer. Mas você virá para casa para o próximo ano escolar? - Sim, é claro. Ahn,
se houver alguma escola que vá me aceitar. - Ah, nós encontraremos alguma coisa, querido - suspirou minha mãe. - Algum lugar onde ainda não nos conheçam. ***** Quanto
a Tyson, os campistas o trataram como herói. Eu teria ficado feliz em tê-lo como companheiro de chalé para sempre, mas naquela noite, quando estávamos sentados em
uma duna de areia com vista para o estreito de Long Island, ele fez uma comunicação que me pegou totalmente de surpresa. - Papai se comunicou comigo em sonho na
noite passada - disse ele. - Ele quer que eu o visite. Perguntei-me se ele estava brincando, mas Tyson não sabia como brincar. - Poseidon mandou uma mensagem em
sonho para você? Tyson assentiu. - Quer que eu vá para baixo d'água pelo resto do verão. Aprender a trabalhar nas forjas dos ciclopes. Ele chamou isso de es... es...
- Estágio? - Sim. Deixei aquilo calar na minha mente. Admito que senti um pouco de ciúme. Poseidon nunca me convidara para baixo d'água. Mas então, pensei, Tyson
estava indo? Simples assim? - Quando você parte? - perguntei. - Agora.

- Agora. Tipo... agora, agora? - Agora. Olhei para as ondas no estreito de Long Island. A água brilhava em vermelho ao pôr-do-sol. - Estou feliz por você, grandão
- consegui dizer. - Sério mesmo. - Difícil deixar meu novo irmão - disse ele com um tremor na voz. - Mas eu quero fazer coisas. Armas para o acampamento. Vocês vão
precisar delas. Infelizmente, eu sabia que ele tinha razão. O Velocino não tinha resolvido todos os problemas do acampamento. Luke ainda estava lá fora, reunindo
um exército a bordo do Princesa Andrômeda. Cronos ainda estava se reconstituindo em seu caixão de ouro. No fim, acabaríamos tendo de enfrentá-lo. - Você vai fazer
as melhores armas que já existiram - disse a Tyson. Ergui meu relógio com orgulho. Aposto que elas também vão mostrar a hora certa. Tyson deu uma fungada. - Irmãos
ajudam um ao outro. - Você é meu irmão - disse eu. - Não há dúvidas a respeito disso. Ele me deu uma palmadinha nas costas tão forte que quase me derrubou na duna
de areia. Então enxugou uma lágrima da bochecha e se levantou para partir. - Use bem o escudo. - Farei isso, grandão. - Vai salvar sua vida algum dia. O modo como
ele disse isso, tão prático, me fez pensar se aquele seu olho de ciclope podia enxergar o futuro. Ele desceu para a praia e assobiou. Arco-íris, o cavalo-marinho,
saltou das ondas. Observei os dois partindo juntos para os domínios de Poseidon. Depois que eles se foram, baixei os olhos para meu novo relógio. Apertei o botão
e o escudo se expandiu em espiral até seu tamanho pleno. Marteladas no bronze, havia figuras em estilo grego antigo, cenas das nossas aventuras naquele verão. Lá
estávamos Annabeth exterminando um lestrigão jogador de queimado, eu lutando contra os touros de bronze na Colina Meio-Sangue Tyson cavalgando Arco-íris rumo ao
Princesa Andrômeda, o Birmingham disparando seus canhões contra Caríbdis. Passei a mão sobre uma figura de Tyson, lutando com a Hidra enquanto segurava alto uma
caixa de donuts Monstro. Não pude deixar de sentir tristeza. Sabia que Tyson se divertiria um bocado embaixo do oceano. Mas eu sentiria saudades de tudo em relação
a ele - seu fascínio por cavalos, o modo como conseguia consertar carruagens de guerra ou amarrotar metal com as mãos nuas, ou dar nós em caras malvados. Sentiria
saudades até dos seus roncos de terremoto na cama ao lado a noite inteira. - Ei, Percy. Virei-me.

Annabeth e Grover estavam em pé no topo da duna. Acho que talvez eu tivesse um pouco de areia nos olhos, porque estava piscando muito. - Tyson... - falei. - Ele
teve de... - Nós sabemos - disse Annabeth suavemente. - Quíron nos contou. - Forjas dos ciclopes. - Grover estremeceu. - Ouvi dizer que a comida da cantina de lá
é horrível! Tipo, enchilada, nem pensar! Annabeth estendeu a mão. - Venha, Cabeça de Alga. Hora do jantar. Caminhamos de volta para o pavilhão do refeitório juntos,
só nós três, como nos velhos tempos. ***** Houve uma tempestade naquela noite, mas ela se dividiu em volta do Acampamento Meio-Sangue como as tempestades costumam
fazer. Raios relampejavam no horizonte, ondas golpeavam a praia, mas nem uma gota caía no nosso vale. Estávamos protegidos de novo, graças ao Velocino, encerrados
em nossas fronteiras mágicas. Ainda assim, meus sonhos foram agitados. Ouvi Cronos me provocando, das profundezas do Tártaro: Polifemo está sentado cego em sua caverna,
jovem herói, acreditando que obteve uma grande vitória. Será que você está menos iludido? O riso frio do titã encheu as trevas. Então meu sonho mudou. Eu estava
seguindo Tyson para o fundo do mar, entrando na corte de Poseidon. Era um salão radiante, cheio de luz azul, o piso pavimentado com pérolas. E lá, em um trono de
coral, sentava-se meu pai, vestido como um simples pescador, de short caqui e uma camiseta alvejada de sol. Ergui os olhos para seu rosto curtido pelas intempéries,
seus olhos verdes profundos, e ele disse apenas: Prepare-se. Acordei assustado. - Alguém batia com força na porta. Grover irrompeu sem esperar permissão. - Percy!
- ele gaguejou. - Annabeth... na colina... ela... O olhar dele me dizia que alguma coisa estava terrivelmente errada. Annabeth estivera de guarda naquela noite,
protegendo o Velocino. Se algo tivesse acontecido... Arranquei as cobertas, o sangue como gelo nas minhas veias. Enfiei algumas roupas enquanto Grover tentava formar
uma frase completa, mas ele estava atordoado demais, sem fôlego demais. - Ela está lá caída... simplesmente lá caída... Corri para fora e disparei pelo pátio central,
Grover logo atrás de mim. Rompia a aurora, mas o acampamento inteiro parecia agitado. A notícia estava se espalhando. Algo gigantesco acontecera. Alguns campistas
já estavam rumando para a colina, sátiros, ninfas e heróis em uma estranha mistura de armaduras e pijamas. Ouvi o tropel de cascos de cavalo, e Quíron chegou galopando
atrás de nós, com uma expressão terrível. - É verdade? - perguntou a Grover. Grover só conseguiu balançar a cabeça, a expressão confusa.

Tentei perguntar to que estava acontecendo, mas Quíron me agarrou pelo braço e, sem esforço, me ergueu para suas costas. Juntos, subimos a Colina Meio-Sangue, onde
uma pequena multidão começara a se reunir. Esperei não encontrar o Velocino no pinheiro, mas ele ainda estava lá, brilhando à primeira luz da madrugada. A tempestade
havia se interrompido e o céu estava vermelho-sangue. - Maldito seja o senhor titã - disse Quíron. - Ele nos enganou outra vez, deu a si mesmo uma nova chance de
controlar a profecia. O que você quer dizer? - perguntei. - O Velocino - disse ele. - O Velocino fez seu trabalho bem demais. Galopamos em frente, todo o mundo abrindo
caminho para nós. Ali, na base da árvore, uma menina jazia inconsciente. Outra menina, de armadura grega, estava ajoelhada ao lado dela. O sangue retumbava em meus
ouvidos. Eu não conseguia pensar direito. Annabeth tinha sido atacada? Mas por que o Velocino ainda estava lá? A própria árvore parecia perfeitamente bem, íntegra
e saudável, permeada pela essência do Velocino de Ouro. - Ele curou a árvore - disse Quíron, com a voz áspera. - E o veneno não foi a única coisa expurgada. Então
percebi que Annabeth não era a menina caída no chão. Era a de armadura, ajoelhada ao lado da menina inconsciente. Quando Annabeth nos viu, correu para Quíron. -
Ela... ela... assim, de repente lá... Lágrimas corriam de seus olhos, mas eu ainda não entendia. Estava apavorado demais para ver sentido naquilo tudo. Pulei das
costas de Quíron e corri na direção da menina inconsciente. - Percy, esperei - disse Quíron. Ajoelhei-me ao lado dela. Tinha cabelo preto curto e sardas no nariz.
Tinha a constituição de uma corredora de longa distância, flexível e forte, e usava umas roupas que eram algo entre o punk e o gótico camiseta preta, jeans pretos
esfarrapados e uma jaqueta de couro com buttons de uma porção de bandas de que eu nunca ouvira falar. Não era uma campista. Não a reconheci de nenhum dos chalés.
E, no entanto, estava com a mais estranha sensação de que já a tinha visto antes... - É verdade - disse Grover, esbaforido por causa da corrida colina acima. - Não
posso acreditar... Ninguém mais se aproximou da menina. Pus a mão na testa dela. Sua pele estava fria, mas as pontas dos meus dedos formigaram como se estivessem
queimando. - Ela precisa de néctar e ambrosia - disse eu. Era claramente uma meio-sangue, fosse ou não uma campista. Pude sentir isso só de tocá-la. Não entendia
por que todos pareciam tão apavorados. Peguei-a pelos ombros e a coloquei sentada, com a cabeça apoiada em meu ombro.

- Venham! - gritei para os outros. - O que há de errado com vocês? Vamos levá-la para a Casa Grande. Ninguém se mexeu, nem mesmo Quíron. Estavam todos atordoados
demais. Então a menina tomou fôlego, vacilante. Ela tossiu e abriu os olhos. Suas íris eram surpreendentemente azuis - um azul elétrico. A menina olhou para mim
perplexa, tremendo e de olhos arregalados. - Quem... - Eu sou Percy - disse eu. - Você está em segurança agora. - O sonho mais estranho... - Está tudo bem. - Morrendo.
- Não - assegurei-lhe. - Você está bem. Qual é seu nome? Foi quando eu soube. Antes mesmo de ela dizer. Os olhos azuis da menina se fixaram nos meus, e entendi o
porquê da missão do Velocino de Ouro. O envenenamento da árvore. Tudo. Cronos fizera aquilo para colocar mais uma peça de xadrez em jogo mais uma chance de controlar
a profecia. Até Quíron, Annabeth e Grover, que deveriam estar celebrando aquele momento, estavam chocados demais, pensando no que aquilo poderia significar para
o futuro. E eu amparava uma pessoa destinada a ser minha melhor amiga ou, possivelmente, minha pior inimiga. - Eu sou Thalia - disse a menina. - Filha de Zeus.


AGRADECIMENTOS
Muito obrigado aos meus jovens testadores betas, Geoffry Cole e Travis Stoll, por terem lido o manuscrito e feito boas sugestões; a Egbert Bakker, da Universidade
de Yale, por sua ajuda com o grego antigo; a Nancy Gallt, por sua competente representação; à minha editora Jennifer Besser, por sua orientação e perseverança; aos
alunos de muitas escolas que visitei, por seu apoio entusiásmatico, e, é claro, a Becky, Haley e Patrick Riordan, que tornaram possíveis as minhas viagens ao Acampamento
Meio-Sangue.

Digitalizado por: Comunidades: Traduções & Digitalizações

Percy Jackson e os Olimpianos

De: Valeria Ventura 


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